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Muralhas da Consciência
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Muralhas da Consciência

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E se tudo aquilo em que você acredita fosse baseado em mentiras?
E se o Jesus da bíblia não existisse de verdade?
E se o “Deus” bíblico fosse uma invenção humana para atender às vontades de “profetas” interessados no poder e na riqueza material?
Uma jornada de confrontação e reavaliação de crenças aguarda o leitor nesta obra sem nenhum pudor e sem medo de encarar e questionar o conceito de Deus, sem medir palavras ou esforços para quebrar paradigmas arcaicos e enraizados na coletividade, mostrando que podemos ser mais lúcidos e racionais em nossas atitudes perante a vida.
Através da análise de excertos do novo e velho testamento, o autor expõe as inconsistências e incoerências do livro sagrado do Cristianismo e de como o próprio homem, na busca de poder e de controlar uns aos outros, através dos séculos, inventou deuses e manipulou a história para alcançar esse intento.
Entenda como os textos bíblicos foram redigidos, por quem e por que, através da desmistificação de passagens bíblicas e de explicações científicas de fenômenos conhecidos pela física, astronomia e outras ciências a fim de elucidar o leitor a respeito da ignorância imposta pela religião e seus representantes ao longo de toda a história da humanidade.
Muito do que você acredita pode ser relatos fictícios criados em épocas remotas para nos afastar do pensamento racional e sermos boas “ovelhas”.
Você está pronto para transpor as muralhas que lhe impedem de enxergar o mundo que se descortina além de suas crenças?

LanguagePortuguês
Release dateNov 14, 2014
ISBN9788590662624
Muralhas da Consciência
Author

João Evangelista Romão, Sr

João Evangelista Romão é escritor, editor, historiador, genealogista. Nasceu em 14 de fevereiro de 1967 na Fazenda Pitombeira, Bento Fernandes - RN, Brasil. Cresceu na comunidade Malacacheta, em Jardim de Angicos, município vizinho ao qual chegou em 1974. Ali foi secretário de Agricultura em duas gestões.Escreveu os livros:Além dos Jardins – História e Genealogia de Jardim de Angicos/RN;Uma Ideia para Transformar o Brasil [política];Nós Versus Nós Mesmos – Em Nome de Deus? [religião];Muralhas da Consciência. [história, religião, espiritualidade].Atualmente, reside na cidade de Extremoz, no mesmo Estado. É membro do Instituto Norte-rio-grandense de Genealogia. Dedica-se a diferentes estudos e pesquisas e escreve uma série de livros sobre famílias da microrregião Angicos.Loja: www.livrariajer.comSite: www.rngenealogia.comRede Social: www.facebook.com/evangelistaromao

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    Muralhas da Consciência - João Evangelista Romão, Sr

    Muralhas

    da

    Consciência

    João Evangelista Romão

    Muralhas

    da

    Consciência

    1ª Edição

    Extremoz - RN

    Edição do autor

    2014

    Capa, diagramação e conversão para e-book:

    Marina Avila

    Copy Desk e Sinopse:

    Smaily Prado

    Prefácio:

    Professor Marcelo da Luz

    Revisão:

    Thaty Furtado

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    R766m Romão, João Evangelista

    Muralhas da Consciência / João Evangelista Romão. – Extremoz, RN: Clube de Autores, 2014.

    280 p.

    ISBN: 978-85-906626-1-7

    1. História. 2. Religião. 3. Espiritualidade I. Romão, João Evangelista. II. Título.

    CDD 200

    Agradecimento

    Escrever sobre religião não é tarefa fácil. Isso porque, pela infinidade de segmentos religiosos existentes, os partidários de cada um só esperam elogios, afirmações de existência e amplo poder do que abraçam como seu deus. Enquanto para o do outro, ou seja, para o que os demais imaginam ser um deus, aguardam a negação, a desqualificação e até a zombaria. É assim que as religiões constroem e mantêm seus fiéis rebanhos.

    Quando alguém, mediante fatos, passa a enxergar e apontar as armadilhas usadas por elas para converter [extinguir o que pensa o outro] ao seu ideário, sem dar credibilidade a determinadas crenças ou bajular deuses e santos, exércitos visíveis e invisíveis se voltam contra si. Com isso, sob pressão, poucas pessoas são livres o suficiente ou têm a coragem de se posicionar a favor de quem expõe algum trabalho fora de mesmices religiosas, como é este.

    Apesar de tudo, existem, sim, pessoas aguerridas, firmes em suas convicções, que não se abatem ou se deixam dominar por crendices e superstições. E estas estão sempre de braços abertos, prontas a ajudar qualquer um, mesmo sem conhecê-lo e sem um deus para forçá-las a serem boas. E entre as várias que conheço, menciono e agradeço a:

    Erivaldo Aves de Souza, em Extremoz – RN;

    George Igor de Lima, em Jardim de Angicos – RN;

    Professor Marcelo da Luz, em Foz do Iguaçu – PR;

    Smaily Carrilho, em Campo Grande – MS.

    Prefácio

    QUEBRANDO MURALHAS

    Vivemos em um mundo majoritariamente crédulo. Só no Brasil, segundo o Censo de 2010, cerca de 92% da população se declara religiosa. Esta não é uma notícia necessariamente ruim se levamos em conta a função educacional e moral da religião nas sociedades. Ao aderir a um código de fé, o indivíduo é coagido a obedecer a mandamentos que, frequentemente, ritualizam o respeito e o cuidado ao semelhante em nome de uma vontade superior. Neste planeta-hospital, onde a carência e a patologia são transbordantes, a religião pode significar para muitos uma compulsória iniciativa de pensar e agir em benefício do próximo. Pode também significar lenitivo psicológico para a angústia provocada pela aspereza da vida real.

    Contudo, nem só de assistencialismo vive a fé. Em nome dela, muitos já mataram e já morreram. A religião pode ser inspiração para a paz e também motivo para a guerra. Fonte de bênção e maldição. Os livros sagrados das religiões se apresentam como diferentes versões de uma suposta revelação divina, suprema e infalível. Em nome das certezas codificadas nesses livros, máquinas de morte já foram construídas e sentenças de condenação proferidas. Muito facilmente, os religiosos de tradições distintas se hostilizam e se amaldiçoam reciprocamente.

    As mesmas mãos que abençoam também podem ferir, eis a profunda ambiguidade presente no fenômeno religioso. O caminho destrutivo que vai do anátema à guerra santa é possibilitado pela crença inconteste na mensagem sagrada e absoluta, tomada a sério pelo crente. Parece que a religião carrega em si a semente da violência, pois a pregação da verdade considerada suprema exige sempre o patrulhamento ideológico e a luta pela hegemonia do número de convertidos. Enquanto forem considerados Palavra de Deus, livros como a Bíblia e o Alcorão continuarão a funcionar como bombas-relógio prontas a explodir a partir das mentes sectárias.

    O texto redigido pelo caro colega João Evangelista Romão ressalta e denuncia os perigos do radicalismo religioso, especialmente do fundamentalismo cristão. Este livro é dirigido ao crente fundamentalista, isto é, àquela pessoa convencida a converter os outros para a visão particularista do grupo religioso ao qual pertence. Página após página, o autor mostra as contradições de várias passagens dos textos bíblicos, evidenciando as ilogicidades, os anacronismos e até mesmo as perversões contidas no mais sagrado livro do Ocidente. Quebrar as muralhas da credulidade ingênua e fundamentalista: eis a pretensão desta obra que o leitor tem agora em mãos.

    Contudo, independente do sucesso ou não da empreitada (a informação é oferecida pelo escritor, mas cabe ao leitor ponderar sobre sua mensagem), o grande mérito deste livro é garantir ao autor a instigante reversão da missão contida em seu nome de batismo: João Evangelista Romão. João Evangelista é o nome atribuído ao desconhecido autor do quarto evangelho canônico, a versão da vida de Jesus que mais ressalta sua suposta divindade. Já Romão é sinônimo de Romano, isto é, alguém procedente da antiga capital do Império que concedeu oficialidade ao Cristianismo, e da moderna capital do Catolicismo, para a qual peregrinam milhões de devotos todos os anos em romaria.

    Se a tradição bíblica confere ao nome das pessoas uma missão de vida, nosso caro autor reverteu seu mandato missionário. Chamado, desde o berço, de evangelizador e romeiro, ele se transforma agora, por meio deste livro, em arauto do direito ao questionamento lúcido e à descrença.

    Marcelo da Luz,

    autor do livro Onde a Religião Termina?

    PARTE I

    O Supremo Domínio

    pela Ignorância

    Nota I: Essa obra é sobre religião e está dividida em três partes. Nela o autor entende como religioso todo aquele [homem ou mulher] que participa ativamente de alguma religião, seja qual for o ramo ou sua denominação, como donos de igrejas e seus franqueados, dirigentes, financiadores, pregadores, divulgadores e seus fervorosos defensores. O mercador da fé, o propagador da ignorância, o fanático, o fundamentalista é o foco principal do livro. E não aquele que acredita ou tem fé em algo sem o objetivo de forçar ou obrigar os outros aceitar e seguir o que pensa.

    Interprisão

    Consciencial

    Opior mal do ser humano não é a ignorância, mas sim não querer sair dela.

    A princípio, pode-se afirmar que a ausência de conhecimento é natural, pois é na vivência, entre erros e acertos, seja de si ou de outrem, que se é forçado a progredir, acertar, errar menos. De tanto errar chegará o dia de não mais suportá-lo. E, a partir de então, com a lucidez que o próprio indivíduo adquire através de suas repetitivas experiências, caminhará cada vez melhor.

    Entretanto, existe um tipo de ignorância excessivamente patológica, quase irremediável, que se apresenta na figura de extrema sabedoria [absoluta, inclusive]. Essa é sustentada pela arrogância, pelo medo, pela teimosia, pelo egoísmo, pelo interesse e tem suas raízes na crença, no misticismo, nas superstições, nutrida por dogmas e rituais que erguem verdadeiras e impenetráveis muralhas na mente humana. Só o tempo as suprime, contudo, não é fácil.

    Ela ocorre quando o indivíduo é forçado, pelo medo, a adotar a crença como a maneira mais adequada de enxergar o mundo ao redor e a desprezar o seu próprio senso racional. Logo, temeroso em reagir à sedução imposta pelas crendices, pelas superstições, ele se isola em seu microuniverso ilusório tentando fugir da realidade existente, travando uma luta desesperada consigo mesmo e com os outros na intenção de neutralizar qualquer conhecimento que não venha de seu meio.

    Ao tempo em que se julga conhecedor de tudo, o dono irredutível da razão, tendo por base exclusiva primitivas apreciações dogmáticas da religião que professa. Neste estado, não admitindo o seu próprio desconhecimento de mundo, faz-se prisioneiro, bloqueia-se a novas informações, mesmo que sejam as mais óbvias.

    Hipnotizado, acatando apenas ao que garante e quer seu condutor religioso, chega ao ponto de não mais assistir a um programa televisivo, ouvir o rádio, ler um livro, quando os mesmos não estão de acordo com o que pensa e/ou justifique o que entende como verdade. Antes, porém, faz seu prejulgamento excludente.

    Não procura informações para se esclarecer, e sim para alicerçar mais e mais ao seu fanatismo. Sendo os assuntos escatológicos, conspiratórios e catastróficos, seus alentos preferidos para justificar suas mais absurdas crendices e com isso convencer outros a aceitá-las à força.

    Para estes não existe Deus sem ser o que está cunhado em seus livros dito sagrados: sem os mitos, as lendas, as crendices, os dogmas. Isto é, sem o criacionismo e as carnificinas de outrora; sem a subserviência e a dependência incondicional a ele; sem um concorrente inimigo seu; sem as barganhas e milagres; sem condutores para agenciá-lo, impor, fiscalizar e exigir confissão, pela fé como prova de sua existência, principalmente por meio de ameaças explícitas.

    E quem ousar pensar algo fora do contexto que impõem é agraciado com reações de animais ferozes a defender seus arquétipos do passado, imaginários e limitadores. Será estigmatizado, rechaçado, sofrerá as mais duras retaliações por todos os meios possíveis. E não importa qual seja o ramo da religião, o antagonismo basicamente é o mesmo.

    Recluso em seu mundo, esse tipo de gente desanda no desejo de que todas as outras adotem o seu próprio modo de discernir e aceitar as coisas, incorrendo na fantasia de que, somente pensando e agindo como ela aponta, encontrarão o caminho correto, a salvação, o deus verdadeiro construído pelos dogmas em sua mente. Mergulha no fanatismo, no fundamentalismo, a causar contendas para justificar e impor a todos o que acredita. Tornam-se cega, completamente obnubiladas.

    Pessoas assim são fáceis de serem identificadas, percebidas, encontradas por aí. Elas se acham iluminadas, sábias ao extremo, escolhidas por seu deus, a seu serviço, enquanto as outras que não comungam de suas crenças constituem-se como alguém a serviço do mal, perdidas, endemoniadas.

    Destas, sentem até dó e fazem de tudo para salvá-las, isto é, fazê-las pensar igual a elas. Por conseguinte, não conseguem perceber que são vítimas de lendas e mitos inconcussos, de fantasias concebidas especialmente para dominar, aprisionar, escravizar, extorquir, alienar, idiotizar; histórias edificadas pela ausência de conhecimento de causas, embasadas no terror e firmadas por força da espada, da arrogância, da imposição, do ou aceita ou morre; introduzidas posteriormente como base exclusiva na educação de diversas gerações, levadas como obras de saber divino para, com isso, tolher a capacidade humana de raciocinar, questionar, investigar e desvendar a realidade dos fatos.

    Assim é que, em pleno século XXI, mesmo com o amplo avanço científico e tecnológico, com a gama de informações disponíveis e, sobretudo, pela facilidade de comprovação do que é dito, é lamentável ver tanta gente vegetando hipnotizada por fantasias construídas em um passado tão distante. Pessoas que se satisfazem com respostas vãs, firmadas em engodos e tapeações consolatórias, sem nexo lógico e racional, comum dos mitos e lendas bolados e abraçados pelos humanos para constituir suas religiões e com elas dominar uns aos outros.

    E o pior ainda é vê-las aceitando tudo simplesmente por medo de confrontar o que foi estabelecido em um período da mais tenra inteligência humana. Isso porque seus inventores também determinaram não admitir indeferimentos, ponderações e que tudo fosse aceito coercivamente pela fé.

    E, ao conferir tais proposições, vemos a imposição, o engodo, o suborno, as ameaças sobretudo pela ideia de condenação eterna e extermínios extremamente cruéis a quem não aceitar irrestritamente o que é dito. E, por outro lado, benefícios mil para aqueles que aceitarem tudo. São essas algumas das ferramentas basilares em suas construções, conforme exemplos:

    Quem for inimigo de Deus, de Seus anjos, de seus mensageiros, de Gabriel e de Miguel saiba que Deus é adversário dos incrédulos. Revelamos-te lúcidos versículos e ninguém ousará negá-los, se não os depravados. [2ª Surata. 98,99;];

    Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei. [ Lc. 12:5;];

    Quanto àqueles que negam os Nossos versículos, introduzi-los-emos no fogo infernal. Cada vez que a sua pele se tiver queimado, trocá-lo-emos por outra, para que experimentem mais e mais o suplício. Sabei que Deus é Poderoso, Prudentíssimo. Quanto aos fiéis, que pratiquem o bem, introduzi-lo-emos em jardins, abaixo dos quais correm rios, onde morarão eternamente, onde terão esposas imaculadas, e os faremos desfrutar de uma densa sombra. [4ª Surata. 56,57];

    E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna. [Mt. 19:29];

    Ah, se pudésseis ver a ocasião em que os anjos receberão os incrédulos, esbofeteando-os, açoitando-os e dizendo-lhes: Provai o suplício do fogo infernal! [8ª Surata. 50];

    Ele [deus] é sábio de coração, poderoso em forças; quem se endureceu contra ele e teve paz? [Jo. 9:4];

    Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece. [Jo. 3:36];

    E, quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os diante de mim. [Lc. 19:27].

    As imposições e ameaças são inúmeras, não param por aí. Esta é apenas uma pequena amostra. Enquanto isso, pessoas que vivem entorpecidas por essas intimidações espúrias ficam extremamente ofendidas, furiosas, agressivas quando alguém recusa tais absurdos, porque creem ser tudo fruto da mais alta sabedoria, dita divina, e que toda a humanidade esteja fadada a aceitá-las, conforme apontam seus livros sagrados.

    Quando na realidade estão a defender fábulas construídas com base em divindades cruéis, assassinas, insanas, insolentes, inconsequentes, que autorizavam seus escolhidos a matar, roubar, escravizar, cometer as mais bárbaras atrocidades – das quais se apresentarão outros exemplos – e que ninguém possa falar nada, senão será castigado por seus deuses, morrerá e de quebra ainda queimará eternamente no inferno. Inferno este idealizado pelo próprio homem para assombrar uns aos outros e assim facilitar encurralar os mais fracos.

    As citações anteriormente expostas foram retiradas do Corão e da Bíblia, livros constituídos com base no deus [deuses] idealizado pelos hebreus. Quem tem a bíblia como sua verdade incontestável certamente vai concordar apenas com as que saíram de lá. Vai dizer que estão corretas; que são coisas que o homem comum jamais consegue entender. O mesmo ocorre com os que aceitam o Corão como sendo o absoluto, indiscutível, embora sejam todas essas ideias saídas das mesmas tradições e não existam diferenças de sentidos entre elas.

    Como já citado, portanto, com tantas narrativas idealizadas entre cruéis malefícios aos que não aceitam tal deus e o que é dito, e benefícios mil aos que aceitam tudo, poucas são as pessoas que enxergam nelas o embuste, o logro, a tapeação, porque a maioria, como crianças, ainda não percebe que, onde existe terror e imposição para tudo ser aceito, jamais haverá verdade. Repito: jamais.

    Essas apavorantes reminiscências penetraram profundamente na mente humana, aceitas hoje principalmente pelo terror e pelas ameaças ali presentes, bem como por falta de noções históricas, das circunstâncias e dos reais interesses que permeavam tais ideias no tempo em que foram construídas.

    O pior disso tudo é que muita gente teme enfrentar os fatos e, ao descobrir a verdade, perder a fé no deus que cultua. Isto é, no que é obrigado a acreditar ser realmente o que se poderia chamar de Deus. Preferindo, por medo, ser manipulada e aceitar dogmas como verdades palpáveis, ser induzida a pagar e esperar recompensas, inclusive um salvador; a aceitar tudo e ficar calada, a combater freneticamente quaisquer ideias contrárias, sem aferi-las, em nome do que pensa conhecer.

    Quem a isso se submete não consegue compreender que, se o dogma religioso fosse realmente uma verdade, não haveria quem temesse questionamentos, investigações ou a ciência, inclusive. Como também perceberia a desnecessidade de ficar tão nervosa e até agressiva com os outros para sustentar o que interpreta de suas crendices.

    Ora, hoje em dia tudo se faz necessário esclarecer, desvendar, vir a público, mesmo não tendo a valia aos que lucram ou se deleitam em retrógradas superstições. Somente por meio do estudo, da investigação, sem medo de quem quer que seja, é que poderemos alcançar, por nós mesmos, a clareza necessária do que nos é dito ou imposto há milênios.

    Logo, quem vive aprisionado por religiões, se deixasse o fanatismo e o orgulho de lado por um breve instante e comparasse o que tem como verdade absoluta e o que realmente se sabe atualmente, enxergaria o quão profunda é a sua ignorância e o quanto ilusórias e enganosas são suas crenças.

    Notaria as farsas e trapaças milenares forjadas neste meio e entenderia que, a crença, por seu escopo místico de intimidação, induz o homem a aceitar tanta fantasia como realidade que o deixa ignorante demais para saber que é ignorante.

    Compreenderia que de forma alguma adianta apontar causas, mostrar fatos às que vivem ali encurraladas, porque criam granito detrás da testa, nada mais entra. Lá, jazem manipuladas pela fé, corroídas pelas lavagens cerebrais, fossilizadas contra tudo que possa contrariar o que os antigos proferiram, os quais são, para elas, deuses.

    Ao tempo que julgam a ciência inútil à humanidade, um insulto à sabedoria e ensinamentos do deus que cultuam, justificando que o verdadeiro conhecimento está em seus livros sagrados. Com um detalhe: desde que se aceite tudo irrestritamente.

    E, por fim, não seria assim tão difícil perceber que, quando não estamos abertos ao conhecimento, enveredamos pelo extremismo, pelo fundamentalismo, relutando para cultivar pela força a nossa própria ignorância. Mas essa abertura não quer dizer aceitar tudo, quaisquer informações, e sim poder analisar, ponderar, comprovar. E quando não conseguimos comprovar? Ao menos analisar e ponderar, podemos. Ou não? Pois a fé ou a crença não resolve problemas, nem desvenda fatos, não ensina; apenas ilude, manipula, escraviza.

    Existe sim, e é inegável, um colossal abismo entre o acreditar e o conhecer; jamais aquele substituirá este. E para evitar cair em certas armadilhas e ser manipulado, o melhor caminho a tomar é não aceitar nenhuma ideia de maneira à priori, dogmática, mística, sem reflexão e sem submetê-la a uma análise crítica, desapaixonada e racional.

    Essa é a base do Princípio da Descrença, sem o qual não conseguiremos chegar a respostas plausíveis do que buscamos. Iludimo-nos pelo caminho. E é por isso que grande parte da humanidade ainda não despertou da letargia milenar forçada pelas dilacerantes crendices e, por saldo, vive o homem a se digladiar uns com os outros impondo suas reminiscências conflituosas como realidade indubitável.

    Sorte é existir pessoas que não se satisfazem com apreciações fantasiosas, mitológicas, impositivas, com o disse que alguém disse que não sei quem disse que um deus disse [e ninguém pode contestar], as quais enfrentam deuses e crenças para elucidar fatos.

    Como saldo de sua incessante busca pelo saber, muitas foram condenadas e mortas por intermédio de religiões, hoje são estigmatizadas. Mas de suas bravuras resultou o conhecimento, legado maior a nos auxiliar a entender melhor os fatos e, assim, nos libertar [os que conseguem] dessa ignorância mórbida que, com facilidade, ilude e aprisiona muita gente. E quem ali está encarcerada não consegue enxergar a luz que brilha ao lado, nem admite que outras a enxerguem.

    Isso acontece porque, no mundo religioso, as pessoas que mais teimam contra fatos são as que menos estudam. E, as que estudam, por causa da coação dogmática, a imposição divina, da fiscalização por meio da intimidação de seus pares, com pouquíssimas exceções, não conseguem ir além dos limites de sua fé.

    A fé é fronteira impenetrável, o freio à inteligência, uma barreira que poucas se atrevem a ultrapassar. E, se alguém duvida disso, faça um teste: veja como se sente ou reage ao exposto adiante; observe a sua resistência a certos questionamentos, ponderações e afirmações assinaladas neste livro.

    Inclusive, como você já está se sentindo? Porque é a partir das suas mais íntimas ou explícitas reações que descobrirá a que ponto se encontra sua sujeição a dogmas e crendices, seus travões conscienciais, sua muralha mental.

    Divinização

    da Ignorância

    Ao contrário do que impõem as religiões, em sua maioria, sabemos hoje, principalmente por meio de descobertas arqueológicas, que há pelo menos 2,6 milhões de anos os primeiros proto-humanos ou hominídeos despertavam de sua longa jornada evolutiva para construir e usar as primeiras ferramentas em sílex, um tipo de pedra dura e fácil de moldar, que servia para cortar carnes e objetos. É a Idade da Pedra, a primeira revolução tecnológica humana.

    Em seu lento desenvolvimento intelectivo, mais tarde, por volta de 800 mil anos antes da época presente, ele domina o fogo. Sendo esse o seu mais importante passo, possibilitando, com o melhoramento do alimento, melhor aproveitado, aperfeiçoar inclusive a sua anatomia.

    Seiscentos mil anos mais tarde, o homem moderno toma forma, começa a falar, podendo trocar experiências, estabelecer rudes conceitos sobre o mundo que o cerca. De seu berço na África, nos cem anos seguintes, espalha-se por toda a Terra. Há aproximadamente 50 mil anos já fazia instrumentos musicais com ossos, como a flauta, época em que surge o pensamento simbólico, os desenhos nas pedras, inscrições rupestres, evidências de uma espécie bem mais inteligente do que antes.

    Há 10 mil anos, com o planeta envolvido em gelo, período conhecido como Idade do Gelo, ele resistiu e ampliou suas habilidades.

    Entretanto, há seis mil anos apenas e aproximadamente, tendo por base o século XXI, é que foi possível ao homem inventar a escrita, momento este em que já estavam fixados, por meio de povoações, em pequenas cidades conhecidas como cidades-estados.

    E é a partir destes núcleos habitacionais, formados próximos a grandes rios, que o homem se desenvolveu formando civilizações, consequência da interrupção de seu nomadismo de centenas de milhares de anos, da domesticação de animais e plantas e dominação do comércio nascente.

    No período anterior, nômade, o homem existia em inúmeros clãs familiares, de galho em galho, vivendo nas mais precárias condições. Uma trajetória que não foi de flores. Nela, ele enfrenta a fúria do frio, da água, do fogo, das condições extremas, catastróficas, imprimindo em si o medo dos fenômenos da Natureza, do desconhecido, inventando as superstições para justificar sua absoluta ignorância de tudo. Nascia aí o mito.

    Mitos são narrativas contadas e repassadas oralmente de pessoa a pessoa, sem registro formal, isto é, escritos referentes aos deuses e à natureza, ostentados como revelações divinas, assim, incontestáveis e inquestionáveis. São concebidos sobre três pilares fundamentais e fazem parte, sem exceções, da história de todos os povos antigos. Têm por objetivos iniciais:

    I - determinar pai e mãe

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