You are on page 1of 60
weer HMTDIWACAO MUQLiCn we ” Rei TICAS Socisis Per. Focoerco Pouey G Praiooo oid. (3) 22 TEXT: unidode 1 M@oMnie TH. (1967) Cidadonia , Classe Sociol ¢ Statue , Rio de Sovcivo ZAWAR, Cap Ill caPpfiruLo m CIDADANIA E CLASSE SOCIAL , © convite para pronunciar estas conferéncias’ me foi agra- davel tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional. Mas, enquanto minha resposta pessoal consistiu num reconhecimento sincero e modesto de uma honra que nio tinha o direito de esperar, minha reac3o profissional nio foi absolutamente mo- desta. Parecia-me que a Sociologia tinha todo o direito de reclamar sua participacio nessa comemoragdo anual de Alfred Marshall e considerei um fato auspicioso 0 convite feito por uma Universidade que, embora nao inclua a Sociologia em seus cursos, deveria estar preparada para recebé-la como uma visitante. Pode ser, e isto é um pensamento inquietante, que a Sociologia esteja sendo julgada pela minha pessoa. Se assim 0 fér, estou certo de poder fepeniier de um julgamento escru- puloso e justo da parte desta audiéncia e de que qualquer meérito porventura encontrado nestas conferéncias sera atri- buido ao valor académico da matéria enquanto qualquer coisa que Ihes parega lugar-comum ou fora de propésito seré consi- lerado um produto de minhas caracteristicas peculiares a nio serem achadas em nenhum de meus colegas. Nao defenderei a relevancia da matéria para a ocasiéo alegando que Marshall foi um sociélogo. Pois, uma vez que éle abandonara seus primeiros améres pela Metafisica, Etica Psicologia, dedicou sua vida ao desenvolvimento da Economia como ciéncia independente € ao aperfeigoamento de seus mé- todos préprios de investigagao e andlise. Marshall deliberada- mente escolheu um caminho acentuadamente diferente daquele seguido por Adam Smith e John Stuart Mill, e o espirito que regeu esta escolha é indicado pela aula inaugural que éle pro- 1 The Marshall Lectures, Cambridge, 1949. (Conferéncias dedi- cadas a Alfred Marshall.) 58. CIDADANIA, CLASSE SOCIAL E STATUS uunciou em Cambridge em 1885, Falando sébre a crenca de Comte numa Ciéncia Social unificada, éle disse: “Nao ha divida de que, se tal ciéncia existisse, a Economia encontraria, de bom grado, abrigo sob suas asas. Mas ela nao existe; nem mostra indicios de sua aparigéo, Nao faz sentido esperar por ela; devemos fazer o que podemos com nossos recursos atuais”? Ele, portanto, defendeu a autonomia e a superioridade do mé- todo econémico, superioridade esta devida principalmente ao emprégo da moeda como instrumento de medida a qual “se constitui de tal maneira na melhor medida de motives que nenhuma outra poderia competir com ela”! Marshall foi, como sabemos, um idealista; tao idealista que- Keynes certa vez afirmou que Marshall “estava muito ansioso’ para fazer 0 bem”.* Atribuir-lhe, por esta razAo, o epiteto de socilogo seria a ultima coisa a fazer. E verdade que alguns socidlogos tém sofrido de semelhante benevoléncia, muitas vézes em detrimento de seu desempenho intelectual, mas nao me agrada distinguir 0 economista do socidlogo afirmando que um deveria ser guiado pela razio enquanto o outro ser levado pelo coragao. Pois todo socidlogo honesto, como todo econo- mista sincero, sabe que a escolha de fins ou ideais jaz fora do campo da Ciéncia Social e dentro do campo da Filosofia Social. Mas o idealismo de Marshall’ féz com que éste apaixonada- mente colocasse a Ciéncia da Economia a servigo de politicas a0 emprega-la —- como uma ciéncia pode ser empregada de maneira legitima — para desvendar a natureza e o conteido dos problemas com os quais a politica tem de lidar e para avaliar a eficdcia relativa de altemnativas para a realizagio de determinados objetivos. E Marshall tinha conscigncia de que, mesmo no caso daqueles que seriam naturalmente conside- rados problemas econémicos, a Ciéncia da Economia, por si s6, mio era capaz de prestar éstes dois servigos. Pois éles implicavam a consideragao de férgas sociais que estao imunes ao ataque da fita métrica do economista. Foi, talvez, por éste motivo, que Marshall, em certo sentido, sentiu-se, um tanto sem razio, desapantado com seus feitos ¢ chegou ao ponto de epresar seu arrependimento or ter escolhido a Economia 4 Psicologia, uma Ciéncia que The poderia ter aproximado mais do pulso e da vida da sociedade € Ihe dado uma compreenséo J mais profunda das aspiragdes humanas. 2 Mémorials of Alfred Marshall, edigao de A. C. Pigou, p. 164. 3 ibid, p, 158. 4 bid, p. 37.

You might also like