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"Ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro de suas
prisões. Uma nação não deve ser julgada pelo modo como trata seus cidadãos mais
elevados, mas, sim, pelo modo como trata seus cidadãos mais baixos".
NELSON MANDELA
NÚCLEO DE CUSTÓDIA 30 59 29
PENITENCIÁRIA DE MULHERES 24 49 25
I - material;
II - à saúde;
III - jurídica;
IV - educacional;
V - social;
VI - religiosa.
§ 1º (Vetado).
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A partir de reclamações de presos e familiares de presos, bem como da Pastoral Carcerária, somente no
ano de 2007 e neste início de 2008, foram encaminhadas 39 (trinta e nove) recomendações formais do
Ministério Público às diversas instâncias da administração penitenciária, objetivando a garantia de
atendimento à saúde da população carcerária nos casos mais graves.
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Em visita realizada na Casa de Prisão Provisória no dia 17 de abril/2008, constatei pessoalmente a
situação crítica em que se encontra a assistência à saúde da população carcerária. Na ocasião, visitei o
posto de saúde da CPP, onde conversei com diversos presos doentes, dois dos quais (Marcos Correia
Braga e Valtemir Ribeiro da Costa) correm o risco de terem braços amputados por não conseguirem
atendimento adequado. Tudo isto diante de uma única técnica em enfermagem, impotente diante da
situação, talvez tão desamparada nas suas condições de trabalho quanto os presos na assistência à saúde.
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É fato, todavia, que no final de 2007 houve uma rebelião no interior da Penitenciária Odenir Guimarães,
que resultou inclusive na morte de um preso, evento ocorrido logo após a veiculação na imprensa
goianiense de imagens produzidas em vídeo pela ASPEGO (Associação dos Servidores do Sistema
Prisional do Estado de Goiás), documento que mostra com muito realismo a precariedade das instalações
e o quadro de superlotação daquela unidade prisional (doc. 13).
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Afinal, a Constituição veda penas cruéis (art. 5º, XLIII) e assegura aos
presos o respeito à sua integridade física e moral (art. 5º, XLIX), ao passo que o art. 3º
da LEP prevê textualmente que “ao condenado e ao internado serão assegurados todos
os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei”.
(...)
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou
apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
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(...)
(...)
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Sobre o direito ao respeito à dignidade como direito que merece proteção absoluta, a lição de MIREILLE
DELMAS-MARTY: “Quando se pergunta a um cidadão qualquer quais os direitos que ele colocaria no alto
da hierarquia, geralmente ele cita o direito à vida. Ora, o direito à vida, nessa hierarquia implícita dos
direitos humanos, não se encontra no cimo, pois todos os textos admitem o homicídio em caso de guerra
ou de legítima defesa e alguns admitem ainda a pena de morte. Então, que direito absoluto é esse que os
Estados não podem infringir nem sequer em caso de guerra ou de ameaças graves? É um direito que
formulamos pela proibição: a proibição da tortura e dos tratamentos desumanos e degradantes, a proibição
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da escravidão, ou seja, o único direito à proteção absoluta é o direito ao respeito da dignidade, no sentido
mais forte do termo: a dignidade da família humana. Pode-se matar em caso de guerra, mas não se pode
utilizar a tortura. A razão disso talvez seja o fato de que a morte atinge apenas o indivíduo e seus
próximos, é claro, enquanto que a tortura atinge, além das pessoas diretamente implicadas, a humanidade
inteira” (MIREILLE DELMAS-MARTY. Acesso à humanidade em termos jurídicos. In: A religação dos
saberes – o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p. 257-266).
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5
JULIO FABBRINI MIRABETE. Execução Penal, 11. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 177-1778.
6
Idem, p. 225.
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7
Cf. SANTIAGO MIR PUIG, Direito Penal – fundamentos e teoria do delito, p. 99.
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Nunca é demais lembrar, como faz LUIGI FERRAJOLI, que o Estado que
mata, que tortura, que humilha o cidadão, não só perde qualquer legitimidade como
contradiz a sua própria razão de ser, que é servir à tutela dos direitos fundamentais do
homem, colocando-se no mesmo nível dos delinqüentes10. No Brasil temos uma
execução penal jurisdicionalizada, o que faz muito sentido. E nesse espaço em que se
mostra para muitos tão estranha a idéia de direito e legalidade, sobressai a importância
da jurisdicionalização e da atuação garantista do juízo da execução penal, valendo aqui
o registro da memorável lição de ALBERTO SILVA FRANCO: “O juiz e a Constituição
devem ter, em verdade, uma relação de intimidade: direta, imediata, completa. Há um
nível de cumplicidade que os atrai e os enlaça. Na medida em que, de maneira explícita
8
ADAUTO SUANNES, Os fundamentos éticos do devido processo penal, p. 76.
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Merece registro que a interdição parcial em termos próxima da que ora se propõe não é inédita, já tendo
sido decretada – até com maior amplitude – pela Vara da Execução Penal de São Luiz do Maranhão que,
em dezembro de 2005, determinou a INTERDIÇÃO PARCIAL dos estabelecimentos penais integrantes
do complexo penitenciário de Pedrinhas, naquele Estado, sob fundamentos e com objetivos muito
parecidos com os que aqui se apresentam (doc. 14).
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Cf. LUIGI FERRAJOLI, Direito e razão, p. 364.
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11
ALBERTO SILVA FRANCO, Crimes hediondos, p. 70.
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A Lei de Execução Penal fala em integração social (art. 1º) e respeito aos
direitos não atingidos pela sentença ou pela lei (art. 3º). Todavia, o que se tem nas
unidades do semi-aberto (embora não com exclusividade, pois as demais unidades
também apresentam falhas graves no seu funcionamento) é a negação plena da condição
humana daqueles que ali cumprem pena.
espaços onde pessoas são recolhidas naquelas unidades. Algumas pocilgas são espaços
mais dignos do que os alojamentos das unidades do regime semi-aberto12.
12
No dia 22 de abril/2008, realizei inspeção noturna nas dependências da colônia do regime semi-aberto.
Não obstante os muitos anos atuando na execução penal, fiquei estarrecido com a precariedade dos
alojamentos e a condição inominável em que estão recolhidos os condenados daquela unidade prisional.
Presos deitados no chão das celas e até no “boi” (banheiro), lixo por toda parte, agentes penitenciários em
número insuficiente, esgoto a céu aberto no pátio levando o odor fétido para o interior dos alojamentos,
guaritas desguarnecidas de policiais, homens clamando por atendimento médico e jurídico. O que era
ruim ficou pior e pode se deteriorar ainda mais.
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3.b) Como CRITÉRIOS que podem ser aproveitados na triagem dos presos, sugere
o Ministério Público os seguintes: tempo efetivo de cumprimento de pena,
desempenho de trabalho externo, comportamento carcerário;
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3.d) Dentre outras CONDIÇÕES, que sejam fixadas, para os presos autorizados à
apresentação semanal, as seguintes obrigações: exercício de ocupação lícita;
proibição de que se ausentem da região metropolitana de Goiânia sem expressa
autorização judicial; recolhimento à própria residência até às 21 horas nos dias
úteis; permanência no local de residência durante todo o período nos dias de
domingo e feriados; tudo mediante aceitação formal em audiência solene perante
essa VEP;
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Conforme Decreto nº 6.728, de 14 de março de 2008 (doc. 15).
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