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- VALLADARES, A. C. A.

O vínculo da arteterapia e da reforma psiquiátrica no


Brasil. Anais do 6º Congresso Brasileiro de Arteterapia. Vitória/ES:
UFES/Espaço Fênix, 3 p.CD-ROM, 2004.

O VÍNCULO DA ARTETERAPIA A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO


BRASIL
Ana Cláudia Afonso Valladares1

O Brasil a partir da década de 70 tem passado por transformações


significativas na área da saúde mental, transformações estas que nortearam a
Reforma Psiquiátrica brasileira.
A Reforma Psiquiátrica caracteriza-se pela desinstitucionalização, no qual
proporciona transformações de saberes e de práticas em lidar com a loucura e
reinventa modos de lidar com a realidade (Kantorski & Silva, 2001). Não
significando, portanto, a retirada da pessoa em sofrimento psíquico dos hospitais
psiquiátricos, mas uma atuação diferenciada a esta clientela, a sua família e toda
a sociedade.
A Reabilitação Psicossocial, uma prática dentro da Reforma Psiquiátrica, é
uma atividade que favorece aumentar as possibilidades de recuperação dos
doentes mentais e diminuir os efeitos desabilitantes da cronificação dos indivíduos
com ações envolvendo o indivíduo, a família e a comunidade em cuidados
complexos e delicados (Pitta, 2001).
Em relação aos objetivos da nova prática, podemos afirmar que a
Reabilitação Psicossocial não preocupa apenas com a ocupação ou ao
entretenimento da pessoa em sofrimento mental, ela visa, sobretudo, ampliar
habilidades e aumentar a autonomia e o poder contratual desses usuários.
Em relação às características da nova prática, podemos citar que a
Reabilitação Psicossocial trouxe a valorização da singularidade e desenvolvimento
do potencial criativo do doente mental, com um trabalho com (cooperativas) e
sem remuneração (oficinas terapêuticas) e não mais um fazer repetitivo e
monótono. Tendo em vista que o objetivo é a reabilitação do indivíduo, o trabalho
remunerado (cooperativas) também vai proporcionar autonomia para esta
clientela. E a mesma poderá também continuar experimentando atividades não
remuneradas que conduzem ao fortalecimento da auto-estima e auto-conceito,
dando possibilidades da pessoa retornar a seu equilíbrio psíquico.
Em relação aos resultados almejados a partir de atividades
reabilitantes da nova prática, podemos dizer que não há a preocupação ostensiva
com a canalização da agressividade, a penalização, ou, ainda, a canalização dos
impulsos sexuais dos usuários; mas objetiva o rompimento com isolamento e

1
Arteterapeuta, Docente da Universidade Federal de Goiás, Presidente da Associação Brasil
Central de Arteterapia, Mestranda pela USP.
inserção no mundo social, a efetuação do desejo na vida e especialmente a
reinvenção da vida em seus aspectos mais cotidianos.
Dentro desta nova prática, a nomenclatura em relação as modalidades
também sofreu alterações, de terapias: ocupacional, recreativa ou educacional,
agora os usuários experimentam atividades em espaços: de criação, de atividades
manuais ou de promoção de integração. Essas atividades serão oferecidas por
diversificados profissionais das áreas de arte, educação e saúde (entre outros)
numa visão inter e transdisciplinar.
De salas dentro dos hospitais psiquiátricos, as oficinas criativas ganham
novos espaços em settings terapêuticos isomórficos em relação à realidade
externa (vida social e produtiva), como salas nos Hospitais-Dia, nos Núcleos de
Assistência Psicossociais (NAPS, CAPS entre outros), na próprio comunidade,
nas suas residências, com atividades que envolvem os indivíduos, seus familiares
e a própria comunidade.
Cabe ressaltar que a arteterapia por lidar com o ser complexo e permitir
maior subjetividade e singularidade no atendimento às pessoas em sofrimento
psíquico, ajuda a compartilhar com os objetivos da Reabilitação Psicossocial
desta clientela (Reforma Psiquiátrica) e se insere como trabalho nas oficinas
terapêuticas (trabalho não remunerado).
Qualquer usuário por ter sua capacidade expressiva preservada,
independentemente de seu grau de sofrimento mental (Maluf, 1999) é capaz de
ser criativo e de poder participar das sessões de arteterapia, sem a preocupação
estética ou formal.
Nas sessões de arteterapia preocupasse em resgatar o poder expressivo
e imaginativo dos indivíduos, algo que jamais adoece no ser humano (Tavares,
2000).
Construir-se de uma rede de serviços diversificados, integrados e
criativos, marcados pelo vínculo de acolhimento, inclusão e prontidão
humanizados (Lopes, 1999) também podem ser estabelecidos durante as
intervenções arteterapêuticas.
O trabalho em arteterapia pode ser realizado individualmente ou em
grupo, o trabalho em grupo favorece a socialização, o lidar e respeitar o outro a
partir das potencialidades de cada um.
Os grupos favorecem o encontro do usuário e/ou familiares à expressão
de sentimentos, além de fomentar o treino para a socialização (Kantorski et al,
2000). Ele pode ser formado por grupos de familiares, por pessoas da mesma
idade, por grupos de mulheres, por grupos mistos ou do mesmo desenvolvimento
social entre outros.
Para tanto, podemos concluir que a arteterapia permite que seja
valorizado o potencial existente em cada ser humano, destacando as pessoas em
sofrimento mental, seus familiares e a comunidade, objetivando melhorar a
qualidade de vida e a melhoria da saúde, e na reintegração familiar e social desta
clientela, atuando junto com as mudanças proporcionadas com a Reforma
Psiquiátrica e Reabilitação Psicossocial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
KANTORSKI, L.; MACHADO, AT.; OLIVEIRA, CA. Centro de atenção psicossocial.
Reinventando o cuidado em saúde mental. R. Texto Contexto Enfermagem,
Florianópolis, Santa Catarina, v.9, n.1, p.233-243, jan/abr. 2000.
KANTORSKI, LP; SILVA ,GB. Ensino de enfermagem e reforma psiquiátrica.
Pelotas: Universitária/UFPel, 2001.
LOPES, I.C. Centros de convivência e cooperativas: Reinventando com arte
agenciamentos de vida. In: FERNANDES, MIA et al. Fim de século. Ainda
manicômios? São Paulo: IPUSP, 1999. pág. 139-169.
MALUF, J.C.G. Produção artística e cidadania. A experiência do coral cênico de
saúde mental cidadãos cantantes. In: FERNANDES, MIA et al. Fim de século.
Ainda manicômios? São Paulo: IPUSP, 1999. p.163-169.
PITTA, A et al. Reabilitação psicossocial no Brasil. 2. ed. São Paulo: Hucitec,
2001.
TAVARES, CM. A poética do cuidar na reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro, UFRJ,
2000.

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