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OPORTUNIDADES RECREATIVAS
ESTUDO DE CASO: PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA
RESUMO:
O presente trabalho, apresentado como monografia para conclusão do Curso de
Turismo, consiste na identificação das oportunidades recreativas dos atrativos que
localizam-se na zona de uso intensivo da parte baixa do Parque Nacional do Itatiaia,
RJ, bem como o perfil, a motivação, o comportamento e as necessidades de seus
visitantes, a fim de propor a dinamização recreativa nestas áreas para melhorar a
satisfação do visitante. De acordo com os resultados e as análises realizadas percebe-
se que as oportunidades recreativas oferecidas pelas Unidades de Conservação, bem
como pelo Parque Nacional do Itatiaia influenciam positivamente na satisfação do
visitante durante a visita. No entanto, os visitantes do Parque Nacional do Itatiaia
demandam outras atividades recreativas, bem como uma infra-estrutura necessária
para realização destas e outras fundamentais para a recepção do visitante.
INTRODUÇÃO
Nadar, correr, voar. Desfrutar o vazio em uma corda, dormir sob as estrelas, ou
mesmo, saudar um dourado amanhecer em novas paragens. Nada se compara ao
prazer de certas experiências ao ar livre.
Infelizmente, a demanda de visitantes às áreas naturais é bem maior que a infra-
estrutura necessária para recebê-la. Também, pouco se fala em educação sócio-
ambiental de base em nosso país, capaz de educar o cidadão quanto à importância de
preservar seus recursos naturais. A triste conseqüência disso? Enormes danos
causados ao ambientes naturais diariamente, muitos irremediáveis e que afetam
diretamente nosso bem estar. A popularização das atividades ao ar livre e o grande
aumento do número de pessoas que visitam ambientes naturais causam significativos
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Graduanda em Turismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail:
edilainerumos@yahoo.com.br, telefone: (32)8801-1661.
Eixo Temático: O turismo e a recreação em áreas naturais.
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OBJETIVOS
METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo proposto foi realizada uma revisão bibliográfica que inclui
literaturas sobre o tema, bases legais e documentos principais de gestão de UCs,
como o Plano de Manejo e o Plano de Uso Público do PNI. Também realizou-se
pesquisa de campo, através dos instrumentos metodológicos: formulário, entrevista
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RESULTADOS/DISCUSSÃO
Portanto, o CV deve ser um local em que o visitante sinta grande satisfação em utilizar
seus serviços, para isso o “ambiente deve ser planejado em função de diversos fatores
como iluminação, cores, temperatura, adaptações para portadores de deficiência
física, sinalização interna, paisagismo, entre outras” (IBAMA, 2001).
Os apontamentos descritos acima se tornam proeminentes para a satisfação do
visitante. A pesquisa apontou que o Museu e o CV como um todo, foram considerado
os aspectos mais satisfatórios durante a visita, mesmo que em uma pequena
porcentagem, isso mostra a valorização do atrativo pelo visitante.
Segundo avaliações realizadas em 1998 e 1999 por Magro (et al., 1999), o CV foi o
atrativo da PB classificado em segundo lugar, depois da Cachoeira Véu da Noiva
quanto ao fluxo de visitantes, onde as atividades mais realizadas foram: visita às salas
de exposição (permanecendo pouco tempo em cada uma); lazer (jogos, brincadeiras)
e alimentação nos gramados; contemplação e observação de fauna (sobretudo
caxinguelê). O maior problema decorrente destas atividades foi a deposição
inadequada de lixo ao redor da edificação.
Os visitantes têm a oportunidade de visualizar com freqüência os caxinguelês ao redor
do CV, oferecendo alimentos como meio de aproximá-los. Esta atitude deve ser
melhor orientada por parte da administração, pois relatos de moradores indicam que
os caxinguelês têm se habituado a roubar alimentos das casas, influenciados por
estas iniciativas que descaracterizam o comportamento da fauna local.
Grande parte das informações é fornecida pelo IBAMA, através do Núcleo de
Educação Ambiental. Os demais grupos são orientados por agências de turismo,
funcionários dos hotéis ou ainda visitam o CV por conta própria. A falta de informações
apontada como fator negativo pelos entrevistados está diretamente relacionada a
diversas características do uso público no PNI, entre elas o fluxo de visitantes
observado em cada um dos atrativos.
Segundo os dados apresentados, os Três Picos possui a menor taxa de visitação,
cerca de 13%, podendo ser justificada pela falta de informação da existência deste
atrativo e sua localização, e também por ser atrelado à parte alta (PA) do PNI. O início
da trilha para os Três Picos se dá no Hotel Simon e a placa de indicação se encontra
em péssimas condições de visualização pela má conservação e falta de manutenção
com muitos arbustos que impossibilitam ver a placa. A placa só tem escrito o nome da
trilha “Três Picos”, apresentando deficiência nas informações referentes às condições
em que a mesma se encontra, distância a ser percorrida e os cuidados a serem
tomados, sendo consideradas fundamentais para o visitante. A trilha dos Três Picos
não se encontra em condições de receber um tráfego intenso de visitantes pela sua
má condição de acesso, apesar de estar inserida na zona de uso intensivo.
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O atrativo Cachoeira Véu de Noiva possui um alto fluxo de visitação que pode ser
explicado por esta representar o atrativo mais conhecido e, portanto, mais divulgado
por canais indiretos como outros visitantes, pois a escassez de informação direta se
dá igualmente aos outros atrativos que compõem este estudo. A Cachoeira é
considerada entre as belezas naturais do PNI de forma expressiva o elemento que
tornou a visita mais satisfatória. A Cachoeira Véu da Noiva tem acesso por uma trilha
que possui cerca de 340 metros de extensão, passando por áreas de floresta, com
muitas bromélias e orquídeas. A Cachoeira encontra-se a 1.150 metros de altitude
com uma queda d’água de aproximadamente 40 metros de altura, sendo considerada
pelos visitantes um dos cartões postais do Parque. O tempo médio de percurso é de
20 minutos, sendo a caminhada considerada de dificuldade.
A trilha de acesso a essa Cachoeira é íngreme, parcialmente cimentada e com
corrimão em parte do seu percurso. Possui uma grande quantidade de raízes expostas
e trechos com pedras lisas e escorregadias. Existe problema de drenagem em
praticamente metade do trajeto, causando muitos problemas de erosão. Há vários
caminhos não oficiais que visam chegar à água. Há placas indicativas no início e na
bifurcação da trilha. O início da trilha está bem mantido, estimulando pessoas de idade
e, ou com pouca aptidão a percorrerem a trilha. No entanto, após cerca de 100 metros
o caminho se torna difícil, podendo causar acidentes com pessoas com pouca
habilidade para caminhar entre pedras. Apresenta riscos de escorregamento em vários
trechos. Ocorrem danos na vegetação, uma vez que os visitantes se apóiam nos
galhos e desviam das áreas com poças, provocando pisoteamento de áreas fora do
leito da trilha. A falta de fiscalização e o grande número de visitantes fazem com que
esta seja a trilha com maior índice de vandalismo, como inscrições em rochas e
árvores.
A Piscina do Maromba foi visitada por 61% dos entrevistados. A área é muito
procurada para a realização de banhos. Junto com o Lago Azul é o local mais
adequado para esta atividade, uma vez que o poço é relativamente protegido da
correnteza do rio Campo Belo. Fica rodeado pela floresta, e por muitas pedras que
formam um paredão coberto de samambaias, begônias e epífitas. A trilha de acesso à
Piscina possui cerca de 120 metros de extensão, podendo ser percorrida em 5 a 10
minutos. O atrativo localiza-se a 1.100 metros de altitude.
Para se chegar à Piscina do Maromba o visitante encontra uma escadaria de cimento
com corrimão, que se apresenta escorregadia em dias úmidos. O espaço entre os
degraus é alto e tem sido motivo de reclamação por parte dos visitantes. O corrimão
de cano metálico é sustentado por postes de cimento, não estando em harmonia com
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Os aspectos de maior relevância que foram avaliados são os preços dos serviços do
Parque (a entrada, alimentação, uso de churrasqueiras e os souvenirs), as trilhas em
relação às condições de acesso e infra-estrutura de apoio, segurança, fiscalização,
limpeza em geral, material informativo, sinalização2, opções de passeio, qualidade
ambiental dos atrativos, atendimento e acesso aos atrativos.
A avaliação dos guias de turismo foi pouco efetuada pelo fato da maioria dos visitantes
não utilizarem guias de turismo ou mesmo condutores locais. Porém, os visitantes que
contrataram esse serviço o avaliaram como bom.
A avaliação do artesanato, do souvenir e da alimentação foi pouco expressiva, com
mais da metade dos entrevistados sem responder esses itens. A falta de informação e
a sinalização implicam neste resultado, pois os visitantes muitas vezes não sabem que
o PNI oferece esse tipo de serviço, provavelmente por isso são tão pouco utilizados.
Por sua vez, os visitantes que compram esses produtos reclamam do preço elevado
pela má qualidade e por não ter variedade dos mesmos.
Tratando-se das atividades recreativas desenvolvidas e as potenciais, verifica-se que
o passeio com veículo do Parque, a interpretação/educação ambiental, os eventos, o
mergulho/banho de cachoeira, a caminha noturna, o bangalô/quiosque, o arvorismo, a
tiroleza e o piquenique/churrasqueira são as atividades de maior relevância para os
visitantes realizarem.
Sendo que, a interpretação e educação ambiental, os eventos, o mergulho/banho de
cachoeira e o piquenique/churrasqueira são atividades de fácil desenvolvimento e
apoio pela equipe de funcionários por já existir uma infra-estrutura suficiente para a
realização das mesmas.
Exposta aos visitantes as propostas de melhoria da visita ao PNI, deixou-se claro que
essa melhoria tem como base as suas motivações e expectativas relatadas na
pesquisa. A partir de então, 99% dos entrevistados responderam que pretendiam
retornar ao PNI, com expectativas de melhoria da qualidade da visita. Este resultado é
bastante positivo para o PNI, tendo como efeito o cumprimento em partes de seus
objetivos.
Portanto, sugere-se que os atores envolvidos na gestão do PNI, atuem diretamente
em sanar os problemas enfrentados por esta UC. Diante do exposto, fica claro que a
dinamização das oportunidades recreativas adequadas à realidade do PNI influencia
às reais necessidades de seus visitantes.
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No entanto, assim como na maioria dos Parques Nacionais brasileiros, o PNI não possui um
sistema de sinalização eficiente e condizente com as expectativas de seus visitantes
(GOUVEA, 2005:77).
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CONCLUSÃO
A crescente procura pelos Parques Nacionais para fins recreativos tem gerado muitas
discussões a respeito da inserção do homem nessas áreas, delegando à atividade
turística por si só a responsabilidade pela degradação do ambiente natural. No
entanto, o turismo é a única atividade econômica permitida nessas áreas, sendo que a
visitação é o elemento constituinte da própria idéia de criação de um Parque Nacional,
o que justifica a necessidade de um planejamento da atividade e instrumentos de
manejo do uso público que sejam capazes de conciliar a conservação dos recursos
naturais e a satisfação dos seus visitantes.
O PNI dispõe de instrumentos legais para compatibilizar os interesses de conservação
e de visitação, apesar destes já estarem defasados, exceto o Plano de Uso Público
(2001) e não serem utilizados efetivamente. Para tanto, é necessário que tenha
envolvimento de todos os funcionários desta UC na implementação e gestão do
manejo, partindo principalmente de seus gestores. Considerando as necessidades e
percepções dos visitantes entrevistados, as condições de infra-estrutura turística do
PNI se apresentam de uma maneira geral boa, em comparação com a realidade de
outras UCs brasileiras, como Parque Nacional da Serra dos Órgãos e Parque Nacional
da Serra da Canastra. Porém, os visitantes do PNI argumentam que há necessidade
de melhoria da infra-estrutura para maximizar a qualidade da visita.
Então, a partir dos resultados apresentados é colocada a questão: como melhorar a
infra-estrutura de recepção ao visitante, inclusive a dinamização de oportunidades
recreativas? Sendo que as UCs sofrem com orçamentos limitados e recursos
humanos insuficientes, além de ter que enfrentar desafios quanto aos administradores,
que em sua maioria, não possuem treinamento em gestão de turismo (BOO, 2001).
Com relação à visitação em Parques não há, na maior parte dos casos, um programa
efetivo de educação e conscientização ou mesmo envolvimento comunitário. Outro
grande problema enfrentado pelas UCs é o fato dos recursos financeiros por elas
arrecadados, serem depositados em uma conta única do governo, não retornando de
imediato à UC, o que não permite ao visitante identificar os benefícios proporcionados
pelo pagamento de taxas e serviços. Assim, a terceirização de serviços e atividades
nas UCs surge como uma alternativa, no sentido de que uma parcela dos recursos a
serem arrecadados venha a ser diretamente revertida para implantação da infra-
estrutura necessária para que as UCs possam atender aos visitantes
(ROCKTAESCHEL, 2006). Diante dessa realidade e da constatação de que é preciso
conciliar turismo e conservação da natureza, entende-se que as terceirizações de
atividades e serviços passam a ser uma alternativa para a implementação e gestão do
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turismo em UCs. Porém, não se procurou nesse trabalho fazer uma reflexão
aprofundada sobre as vantagens e desvantagens da terceirização de serviços.
Em relação às atividades recreativas supracitadas sugere-se que sejam planejados e
manejados com acompanhamento de guias de turismo, condutores locais e, ou
voluntários devidamente treinados, zelando pela segurança e conduta consciente do
visitante. Mesmo porque, para ser tratada como atividade de recreação, de acordo
com seu conceito já apresentado, a atividade tem que ser dirigida, assim
impulsionando a pessoa a realizá-la. Este fato, faz-se questionar o conceito de Parque
Nacional, bem como vários autores que abordam uso público em UCs. Pois se referem
à recreação como qualquer atividade que o visitante desenvolva na UC, sem
considerar seus preceitos. Assim, concluímos que as atividades consideradas
recreativas em UCs, principalmente em Parques Nacionais, como o PNI são formas de
lazer.
O que diz respeito à falta de informações ao visitante, o PNI tem tomado medidas
eficientes, que não dependem de investimentos elevados, sendo considerado uma
solução, o Programa de Voluntariado. Assim, a participação do voluntário é um
instrumento fundamental de interação com o PNI e de discussão do planejamento e
operação, que são considerados fatores primordiais para o desenvolvimento racional
da atividade (MORAES, et al., 2005).
Enfim, todas as sugestões apresentadas, tendo como base o perfil e a percepção do
visitante, geram benefícios ao PNI, dando visibilidade a suas potencialidades, em
especial com relação à beleza cênica. Mas é importante salientar que diante da
riqueza de dados e possibilidades de cruzamentos e relações entre as questões, fica
difícil colocar um ponto final neste trabalho, porém isto só foi possível considerando-se
que a totalidade dos dados coletados abre novas possibilidades de pesquisa dentro do
mesmo tema.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS