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CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO

JORNALISMO COLABORATIVO:
Uma análise dos critérios de noticiabilidade adotados pelos
cidadãos-repórteres do Brasil Wiki durante as eleições de 2008

YURI DE GÓES NOVAES BESERRA DE ALMEIDA

SALVADOR
2009
YURI DE GÓES NOVAES BESERRA DE ALMEIDA

JORNALISMO COLABORATIVO:
Uma análise dos critérios de noticiabilidade adotados pelos
cidadãos-repórteres do Brasil Wiki durante as eleições de 2008

Trabalho de Conclusão de Curso de


Pós-graduação para obtenção do titulo de
pós-graduado em Jornalismo Contemporâneo
do Centro Universitário Jorge Amado

Professora Orientadora: Jan Alyne Barbosa

Salvador
2009

YURI DE GÓES NOVAES BESERRA DE ALMEIDA


JORNALISMO COLABORATIVO:
Uma análise dos critérios de noticiabilidade adotados pelos
cidadãos-repórteres do Brasil Wiki durante as eleições de 2008

Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do título de pós-


graduado em Jornalismo Contemporâneo do Centro Universitário Jorge Amado,
submetida à aprovação da banca examinadora composta pelos seguintes
membros:

______________________________________________________
Prof.a Orientadora: Jan Alyne Barbosa

Salvador, 27 de janeiro de 2009.


À Samantha
Tudo que é sólido desmancha no ar
- Karl Marx
RESUMO

Esta monografia aborda dois aspectos. A reconfiguração do jornalismo a partir da


liberação do pólo emissor e os critérios de noticiabilidade no jornalismo colaborativo.
O objeto de análise é o site colaborativo Brasil Wiki, durante o período eleitoral de
2008, na editoria política, para isso foi utilizada a análise do conteúdo como suporte
metodológico para a análise dos artigos selecionados, quanto à seleção e construção das
notícias. A pesquisa aponta que os cidadãos-repórteres adotaram os critérios clássicos
do jornalismo, como a atualidade e a notoriedade das personalidades envolvidas nos
fatos e os artigos exploram o caráter opinativo. Durante o período selecionado,
observar-se que a agenda colaborativa é pautada pela a agenda do mainstream
midiático.

Palavras-chave: Ciberjornalismo, jornalismo colaborativo, noticiabilidade, Brasil Wiki

ABSTRACT
This paper addresses two aspects. The reconfiguration of journalism from the release of
the pole and the criterions for issuing news in collaborative journalism. The object of
analysis is the site collaborative Brazil Wiki, during the election period of 2008, the
editorial politic it was used for the analysis of media content and methodology for the
analysis of the selected articles, about the selection and construction of stories. The
research indicates that people-reporters have adopted the traditional criterions of
journalism, as the current reputation of the personalities involved and the facts and
articles exploring the character poll. During the period selected, noted that the
collaborative agenda is guided by the agenda of mainstream media.

Keywords: Ciberjornalismo, collaborative journalism, news, Brazil Wiki

LISTA DE FIGURAS
1. Diagrama da mediação jornalística na sociedade contemporânea 31
2. Home do Brasil Wiki 35
3. Espaço para publicação do Brasil Wiki 35
4. Lista de notícias do Brasil Wiki 36

SUMÁRIO
Introdução ..................................................................................................................... 10
Metodologia .................................................................................................................. 13
1. Liberação do pólo emissor e o jornalismo ............................................................ 15
1.2 Características do ciberjornalismo ......................................................................... 21
1.3 A notícia no ciberespaço ........................................................................................ 23
2. Conceito jornalismo colaborativo ......................................................................... 26
2.1 Impactos sobre o jornalismo .................................................................................. 32
2.2 Do gatekeeping ao gatewatching ........................................................................... 37
2.3 Brasil Wiki ............................................................................................................. 40
3. Noticiabilidade ....................................................................................................... 45
3.1 Valores-notícia ...................................................................................................... 49
4. A Pesquisa .............................................................................................................. 52
4.1 Valores-notícia de seleção .................................................................................... 55
4.2 Valores-notícia de construção .............................................................................. 56
5. Conclusão .............................................................................................................. 68
6. Referências Bibliográficas ................................................................................... 70

INTRODUÇÃO
A rede mundial de computadores alterou de forma radical as práticas sociais. O
desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação na década de 70
proporcionaram avanços na pluralidade das visões, novos tipos de interação entre os
indivíduos e o meio sócio-cultural, além de novos formatos e suporte comunicacionais.

Entre essas alterações está a relação entre os mass media e o público. A própria
característica interativa da Web se estende para além do modelo comunicacional um-
todos, passando para uma estrutura todos-todos (Pierre Lévy, 1999), através de blogs,
lista de discussão e códigos abertos, possibilitando ainda a interação entre os usuários e
os media e oferecem ferramentas para a participação dos sujeitos na produção de
notícias.

Os estudos sobre as reconfigurações midiáticas, após a internet, concentram-se na


análise de desafios e oportunidades para os media, bem como na análise dos produtos na
web, interatividade, infografia, blogs, redes sociais entre outros. No que tange a
pesquisa específica sobre o jornalismo colaborativo, discute-se como a cibercultura e as
novas tecnologias influenciaram a produção do ciberjornalismo e/ ou como os veículos
de comunicação se relacionam com o público, uma vez que a liberação do pólo de
emissão aliada aos novos dispositivos tecnológicos de registro (mp3, máquina
fotográficas digitais, aparelhos celulares, entre outros) potencializaram a
multivocalidade na produção de conteúdo na Web transformando os leitores em co-
autores na produção de conteúdo jornalístico. Entretanto analisar “o quê” e “como” os
cidadãos-repórteres estão a produzir é um aspecto recente a ser analisado pelos estudos
da comunicação na sociedade contemporânea.

Deste hiato de temas a serem estudados, analisar os critérios de noticiabilidade adotados


pelos cidadãos-repórteres será o foco do presente trabalho. Isso porque, investigar a
tipologia da noticiabilidade no jornalismo colaborativo permitirá compreender se a
inserção de novas vozes e novos olhares na produção de conteúdo jornalístico
reconfigurou a esfera de visibilidade pública. O presente trabalho pretende contribuir
para atualização das pesquisas em jornalismo, seja na revisão dos clássicos conceitos
comunicacionais, seja na abordagem desta nova temática na pesquisa comunicacional.
Para realizar tal investigação, realizar-se-á a análise do conteúdo publicado no sítio
Brasil Wiki 1, na seção Política, durante o processo eleitoral de 2008 2, tendo em vista o
amplo acesso da sociedade às informações relacionadas ao pleito, bem como pelo fato
de o tema em si ser de interesse público. O Brasil Wiki é um portal colaborativo, ou
seja, a possibilidade de publicar informações é aberta a qualquer indivíduo, desde que
cadastrado no site. A idealização e gestão do Brasil Wiki cabe à Editora MM
Comunicação Integrada Ltda, que é regida pelo

“princípio básico de que qualquer pessoa pode contar uma


história, propagar uma informação de interesse público,
servir de ferramenta de mudança da sociedade. E isto pode
ser feito em texto, foto, vídeo ou áudio 3”.

No que tange a estrutura organizacional, o Brasil Wiki conta com um corpo editorial,
responsável pela avaliação do conteúdo cadastrado no site, organizá-lo nas seções
temáticas, elaboradas pelo Brasil Wiki, bem como garantir

“que o site não seja usado para a divulgação de conteúdo


criminoso: material racista, homofóbico, de pedofilia, de
apoio ao tráfico de armas, de incitação à violência, de
intolerância religiosa, de incentivo à prostituição infantil,
de apologia ao tráfico e uso de drogas, ou com intuito
difamatório ou calunioso 4”.

O período selecionado compreende o início do Horário Gratuito Eleitoral até o dia da


votação, de 19 de agosto a 5 de outubro de 2008. A eleição municipal é um evento
caráter nacional, por isso, a escolha do Brasil Wiki como objeto de estudo seguiu a
mesma linha, uma vez que a proposta editorial do jornal colaborativo é abrir espaço
para a participação dos cidadãos-repórteres em todo o território. Desta forma, a escolha
de um portal colaborativo regional ofereceria elementos para uma análise localizada e
menos representativa.

A notícia é a síntese do jornalismo. Ao analisá-la, espera-se desvendar os discursos, as


ideologias e o modus operandi da produção jornalística. A noticiabilidade dos mass

1
<http://www.brasilwiki.com.br/ acessado em 27/12/2008>
2
De 19 de agosto a 5 de outubro, período que compreende o início da campanha eleitoral gratuita no
rádio e TV e término da eleição.
3
< http://www.brasilwiki.com.br/sobre.php > acessado em 27/12/2008
4
< http://www.brasilwiki.com.br/sobre.php > acessado em 27/12/2008
media já fora tema de diversas pesquisas acadêmicas, o que contribuiram para a
compreensão do “fazer” jornalismo e o papel que este desempenha na sociedade. A
nova realidade da comunicação é um enorme quebra-cabeça e o jornalismo
colaborativo, apenas uma das pequenas peças deste vasto mosaico, em contínua
mutação. Sendo assim, a análise dos critérios utilizados pelos cidadãos-repórteres, para
definir o que é notícia auxiliará nas respostas sobre “o quê” e “como” os usuários estão
a produzir conteúdos noticiosos, após a apropriação das novas tecnologias de
informação e comunicação, bem como a utilização dos canais emissores,
potencializados com a internet. Para isso, iremos analisar os critérios de seleção e
construção das notícias no período eleitoral de 2008, publicada na seção “Política” do
sítio colaborativo Brasil Wiki, a luz da análise do conteúdo.

METODOLOGIA
Para realizar a análise da noticiabilidade no jornalismo colaborativo, foi selecionado
como objeto de estudo, as matérias publicadas no site colaborativo Brasil Wiki durante
o período eleitoral brasileiro de 2008, e, mais especificamente, a desenvolvida na seção
Política.

A análise de conteúdo, desenvolvida na Escola de Jornalismo da Columbia (Estados


Unidos) na década de 40, será o suporte metodológico adotado neste trabalho
monografia, tendo em vista que os estudos da análise de conteúdo baseiam-se na
investigação dos processos/conhecimentos relativos aos conteúdos. Como conceitua
BARDIN (1977) “análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das
comunicações. (...) o interesse não reside na descrição dos conteúdos, mas sim no que
estes poderão ensinar após serem tratados (...). (BARDIN, 1997, p. 31)

Analisar as condições de produção é um dos caminhos para entender a definição dos


critérios de noticiabilidade no jornalismo colaborativo. Para tanto, serão efetuadas
análises quantitativas e qualitativas, buscando-se revelar os processos estruturantes da
utilização de parâmetros pelos cidadãos-repórteres para decidirem o que será notícia ou
não na produção colaborativa de conteúdo para o Brasil Wiki.

“Na análise quantitativa, o que serve de informação é a


freqüência com que surgem certas características do
conteúdo. Na análise qualitativa é a presença ou a ausência
de uma dada característica de conteúdo ou de um conjunto
de característica num determinado fragmento de mensagem
que é tomado em consideração”. (BARDIN, apud
GEORGE, 1977, p. 21)

Durante a pesquisa será observado a categorização das matérias quanto aos elementos
informativos e o sua presença em determinado contextos. Serão adotados os critérios de
noticiabilidade definidos por Traquina (1993), que divide os valores-notícia em dois
gêneros: seleção, que diz respeito aos critérios adotados na seleção de um determinado
fato em produto jornalístico. Os valores-notícia de seleção subdivide-se em: a) critérios
substantivos (o acontecimento em si) e b) condições de produção, entretanto, o estudo
da análise das condições de produção não se aplicam a proposta deste estudo, que
concentra-se nas matérias produzidas e não na observação participante do ambiente de
produção, o que é inviável devido a ausência de uma redação física e da continuidade
produtiva dos cidadãos-repórteres. O segundo gênero, aponta o pesquisador, está
relacionado à construção narrativa de um fato como notícia.

Na opinião de Bardin (1977), a comunicação é um processo e não um dado “(...) uma


produção da palavra é um processo. A análise da enunciação considera que na altura da
produção da palavra é feito um trabalho, é elaborado um sentido e são operadas
transformações (...)” (BARDIN, 1997, p. 170)

Portanto, ao se identificar os critérios de seleção e a construção operados no processo


comunicativo será possível ter ciência da reconfiguração ou não que a colaboração dos
cidadãos-repórteres causou nos critérios de noticiabilidade do campo informativo
contemporâneo. Ao se analisar a notícia, entendida como produto final do jornalismo,
pode-se verificar as estruturas estruturantes BOURDIEU (1992) da esfera
comunicacional, seja do mainstream midiático ou das mídias colaborativas.

A monografia está divida em quatro capítulos. O primeiro tem como objetivo discutir a
relação da internet e o jornalismo, em particular, analisar como a liberação do pólo
emissor, aliada aos novos dispositivos tecnológicos de registro (mp3, máquina
fotográficas digitais, aparelhos celulares, entre outros), modificaram o ambiente
comunicacional na Web.

A prática do jornalismo colaborativo, seu histórico, suas características, filosofias, seus


desafios, oportunidades e experiências serão abordados no segundo capítulo, bem como
a definição conceitual que o jornalismo colaborativo assumirá neste trabalho.

No terceiro capítulo, procuraremos sistematizar a noticiabilidade, através de uma


revisão dos conceitos adotados pelos estudos de comunicação, a noticiabilidade na
internet, bem como a definição que esta terá na presente pesquisa.

Por fim, no último capítulo, faremos a análise do conteúdo selecionado, com a


apresentação e discussão dos resultados.
1. A LIBERAÇÃO DO PÓLO EMISSOR E O JORNALISMO
Este capítulo tem como objetivo discutir a relação da internet e o jornalismo, em
particular, analisar como a liberação do pólo emissor, aliada aos novos dispositivos
tecnológicos de registro (mp3, máquina fotográficas digitais, aparelhos celulares, entre
outros), modificaram o ambiente comunicacional na Web. Identifica-se também as
principais característica do ciberjornalismo, seu conceito e mudanças ocorridas a partir
do suporte da Web.
A configuração da cultura contemporânea é resultante da relação entre as tecnologias
informacionais de comunicação e a sociabilidade, desenvolvidas em um novo terreno: o
ciberespaço. Esta relação é a gênese da cibercultura, uma vez que o encontro entre
tecnologia e sociedade modificou as dinâmicas sociais. (LEMOS, 2005)

Para LEMOS (2005),

“as novas tecnologias de informação e comunicação


alteram os processos de comunicação, de produção, de
criação e de circulação de bens e serviços nesse início de
século XXI trazendo uma nova configuração cultural”.
(LEMOS, 2005, p. 1)

Lemos (2005) estabelece três “leis” fundadoras da cibercultura:

1- Liberação do pólo de emissão – devido a novas ferramentas digitais, novas vozes e


discursos ganharam espaço no ambiente comunicacional.

2- Princípio de conexão em rede - “tudo comunica e tudo está em rede” ou “a rede está
em todos os lugares” e o computador é a própria rede, na concepção de Lemos.

3- Reconfiguração – o “novo” não significar aniquilar o “velho”, mas reconfigurar as


dinâmicas e práticas sociais.

Dentre as três “leis” fundadoras da cibercultura propostas por Lemos, a liberação do


pólo de emissão foi a que causou um grande impacto no jornalismo. Isso porque o fluxo
de comunicação na sociedade de massa que ocorria em um processo “um/todos”,
baseado em mensagens impessoais, e fortemente homogêneas, guiadas por índices de
audiência ou a ideologia das empresas de comunicação, possibilita, em paralelo, um
modelo “todos-todos”.

Para CASTILHO (2008),


“ao longo de sua história, nunca o jornalismo sofreu
mudanças tão radicais e tão aceleradas quanto as que estão
acontecendo agora por conta da Internet. Na verdade,
podemos ressuscitar uma expressão já meio gasta, mas que
cai como uma luva no processo em curso: uma reinvenção
do jornalismo”. (CASTILHO, 2008, Introdução)
ENZENSBERGER (1978) aponta que

“a diferenciação técnica entre emissor e receptor reflete a


divisão social do trabalho entre produtores e consumidores,
divisão esta que adquire uma significação política especial
no campo da indústria da consciência. Em última análise,
ela está baseada na contradição essencial entre as classes
dominantes e as dominadas (isto é, entre o capital e a
burocracia monopolista de um lado, e as massas
dependentes do outro)”. ( ENZENSBERGER, 1978, p. 45)

A centralidade da informação resulta na predominância dos meios de comunicação


como formadores da esfera de visibilidade pública. A mediação entre realidade e
público fica a critério dos veículos de comunicação, que através das informações
divulgadas em suas páginas acaba por influenciar a agenda pública.

Segundo WOLF (2003) “a mídia apresenta ao público uma lista de fatos a respeito dos
quais se pode ter uma opinião e discutir [...] a asserção fundamental da agenda-setting é
que a compreensão das pessoas em relação a grande parte da realidade social é
modificada pelos meios de comunicação de massa”. (WOLF, apud SHAW, p. 143).

A influência que os media exercem sobre a sociedade, segundo esta hipótese,

“depende efetivamente, do grau de exposição a que o receptor


esteja exposto, mas, mais que isso, do tipo de mídia, do grau de
relevância e interesse que este receptor venha a emprestar ao tema,
a saliência que lhe reconhecer, sua necessidade de orientação ou
sua falta de informação, ou, ainda, seu grau de incerteza, além dos
diferentes níveis de comunicação interpessoal que desenvolver”
(HOHLFELDT, 2001, p. 75).

Porém, em seu livro Ética na Comunicação, FILHO (2003) argumenta que os mass
media não só formam a agenda do público, como também criam o clima no qual será
recebida a informação, isso porque em um discurso, que é um processo de apropriação
de linguagem pelo emissor, ator ativo nessa ação social, que organiza e significa o
mundo mostrado, persuade, convence o locutor da pertinência de seu modo de ordenar
esse mundo, construindo assim, um entendimento do mundo mostrado.

FILHO (2003) explica que existem diversos tipos de agendas. A primeira diz respeito à
agenda individual que corresponde ao repertório de preocupações sobre questões
públicas que interioriza cada indivíduo. Agenda interpessoal manifestada é conceituada
pelo autor como temas percebidos por sujeitos individuais e discutidos nas suas
relações. Sendo estas mais ligadas aos estudos sobre a recepção das informações.
Já a agenda da mídia designa-se pelo elenco temático selecionado pelos meios de
difusão.

O quarto item e a mais importante, a agenda pública, define-se pelo conjunto de temas
que a sociedade como um todo estima como relevantes e por isso atribui-lhes atenção.
E, por fim, temos a agenda institucional que são prioridades temáticas eleitas no seio
desta ou daquela instituição. Segundo o autor, todos esses tipos de agenda integraram a
agenda pública, entretanto os meios de comunicação são os grandes responsáveis pela
formação desta agenda.

A hipótese da agenda-setting, por ser desenvolvida anteriormente da internet,


compreendia emissor e receptor, como pólos opostos no processo comunicativo. Com a
internet houve “a integração do emissor e receptor na figura do interagente que permite
que cada pessoa seja um nó simultâneo de criação, assimilação e reconstrução da
mensagem midiática, desenhando um movimento de relações e trocas que assemelha-se
a uma espiral” (BRAMBILLA, online, 2005). Ou seja, o receptor não precisa mais
sugerir uma pauta ou criar demandas, ações e movimentos que seduzam os media,
gerando a cobertura das suas atitudes, necessidades ou problemas, ele mesmo pode
publicar uma informação. Desse modo, uma nova correlação de força, durante a
formação da agenda midiática, é instaurada, uma vez que o público torna-se co-autor
dos processos produtivos.

Se na sociedade de massa há a separação entre a esfera pública midiática e esferas


públicas periféricas, o processo de debates é fortemente hierarquizado e unidirecional, a
sociedade em rede potencializa a comunicação entre as esferas pública (midiática x
periférica) e os meios de comunicação são formatados em rede, o que possibilita a
descentralização do debate público.

LEMOS (2005) explica que:

“o princípio que rege a cibercultura é a “re-mixagem”,


conjunto de práticas sociais e comunicacionais de
combinações, colagens, cut-up de informação a partir das
tecnologias digitais”

Tal princípio, aplicado ao jornalismo, provocou o fenômeno da plurivocalidade da rede,


devido a abertura de novos espaços para a veiculação de mensagens por vozes antes
reprimidas pelos mass media.

A arquitetura aberta, a dimensão mundial e o caráter multidirecional da comunicação,


assim como outros fatores como a abertura do código HTML e WWW, explicam o
surgimento de um novo modelo de comunicação e uma nova audiência resultante deste
novo modelo integrado. As mutações nos mass media mais são: a multimidialidade,
hipertextualidade, memória, personalização e interatividade. Tais mudanças
reconfiguraram o ecossistema midiático, e o modelo tradicional de comunicação precisa
conviver com as mídias colaborativas, novas agendas públicas e novos debates oriundos
desse novo fluxo comunicacional.

Muito além de um universo de bits e pixels, a internet gerou um novo espaço


antropológico. “Trata-se de um novo tipo de organização sociotécnica que facilita a
mobilidade no e do conhecimento, as trocas de saberes, a construção coletiva do
sentido” (SILVA, 2005, p. 153). De certa forma, a internet potencializou o pensamento
habermasiano sobre a constituição dos saberes, que segundo Jürgen Habermas é
alcançado pela racionalidade centrada na comunicação. Isso indica o caráter mutável de
um saber até que novos de argumentos e contra-argumentos sejam adicionados ao
debate, resultando um novo consenso - que, hipoteticamente, também é provisório. A
base é o diálogo. (HABERMAS, 1981)
A liberação do pólo emissor alargou o campo jornalístico. A noção de campo é tomada

de empréstimo do sociólogo francês, Pierre Bourdieu (1970) que compreende campo

como o funcionamento das sociedades complexas, ou seja, suas regras, estruturas

hierárquicas, funções e posições. O campo também é o palco de luta entre os atores do

microcosmo visando se apropriar de um capital (seja ele simbólico, financeiro) do

campo. Cada campo corresponde a um habitus e estabelece os valores e formas de

acesso (o diploma para ingressar na atividade jornalística, por exemplo) ao campo. Com

isso, há a subversão do lugar de emissão e o questionamento de quem tem direito a

publicar uma informação, bem como a possibilidade de se alterar os critérios de

noticiabilidade.

Como argumenta Castilho (2008)

“o jornalismo como conversa entre profissionais e o


público é um conceito absolutamente novo e que provoca
muita polêmica. Ele ainda gera alergias entre os mais
velhos e ainda não foi assimilado pelas gerações mais
jovens fascinadas pela sucessão infindável de novidades
tecnológicas”. (CASTILHO, online, 2008)

O jornalismo colaborativo, como aponta GILLMOR (20006), possibilita uma


oportunidade de fazer um jornalismo ainda melhor, a partir do momento que contar com
a participação do público em seus processos produtivos. O grande impacto diz respeito
ao relacionamento dos jornalistas com o seu público, que não são meros leitores, mas
interagentes (PRIMO, 2007).

O leitor não apenas está no controle e decide a forma que irá consumir as informações,
como também anseia em participar da produção de conteúdo. A cultura do “faça você
mesmo!”, potencializada pela Internet e a liberação do pólo emissor reconfigura o papel
do jornalista como mediador/tradutor da sociedade e suas complexidades. A mediação
jornalística, que se baseava em recortar fragmentos da “realidade” e apresentá-los aos
receptores, em um sentido puramente conectivo (realidade – público), precisa evoluir
para uma mediação dialógica, premissa essencial para o ciberjornalismo.
“(...) várias experiências como a Wikipedia, OhmyNews, Slashdot e NewsTrust
sinalizam que o futuro do jornalismo passa por este diálogo, cuja origem está na
chamada lógica da inclusão digital, ou seja, quanto mais pessoas participarem desta
troca de dados, fatos e informações, maior poderá ser o ganho em conhecimentos e,
portanto, maior o potencial econômico”. (CASTILHO, 2008, p.7)

1.2 CARACTERÍSTICAS DO CIBERJORNALISMO

Os debates sobre o conceito do jornalismo na internet é amplo e sem resolução.


Webjornalismo, jornalismo eletrônico, jornalismo digital, jornalismo online e tantos
outros visam identificar, cada qual com a sua especificidade, a utilização das novas
tecnologias de informação e comunicação aliadas as rotinas tradicionais jornalísticas
para a produção de conteúdo para as plataformas comunicacionais.

Por uma questão metodológica e etimológica, ao cunhar “ciberjornalismo” busca-se


reafirmar o campo e práticas da produção do jornalismo no ciberespaço, seja com a
apropriação das leis da cibercultura ou reconfigurações nas rotinas produtivas dos meios
de comunicação. O prefixo ciber não indica apenas o jornalismo feito com a utilização
de sistemas computadorizados, mas o computador passa a ser constitutivo da prática e é
parte do processo de produção jornalística (MACHADO, 2004).

Para Manovich (2001), a nova mídia não deve ser compreendida através em uma lógica
de transposição de uma forma cultural existente, ou no sentido da metáfora - projetar
um novo modelo remetendo-o a modelos anteriores. Pelo contrário, deve operar no
sentido de migração ou de deslocamento, como forma de ampliação dos atuais modelos
narrativos.

Desta forma, a multimidialidade, interatividade, memória, atualização contínua,


personalização e a hipertextualidade são as principais características do ciberjornalismo.
A Web é um suporte para a produção de informação, as rotinas produtivas, a seleção de
notícia, a apuração dos fatos, edição e escrita ganham novas configurações, mas não
perdem os critérios ou padrões essenciais do jornalismo.
CANAVILHAS (2001) apresenta quatro fatores estruturantes da diferença entre
jornalismo tradicional e jornalismo digital: distribuição (o acesso), personalização (o
papel ativo do utilizador), periodicidade (fim da lógica de “uma edição, um produto”) e
informação útil (prática e objetiva). Estes elementos se inserem na reconfiguração que
a Internet faz do espaço mediático.

PALACIOS (1999) sistematiza seis características do webjornalismo:

a) Multimidialidade/Convergência, responsável pela convergência dos formatos


midiáticos, sejam em áudio, texto e som e a sua incorporação às narrativas jornalisticas,
e a convergência é fruto dos avanços tecnológicos que possibilitam distribuir e circular
informações em novos formatos;

b) Interatividade – possui a característica de interagir e estimular a participação do


usuário no conteúdo;

c) Hipertextualidade – permite incluir novos elementos, através dos links, nas matérias
do webjornalismo;

d) Customização – opção em que os produtos jornalísticos oferecem aos seus usuários


em configurar as notícias de acordo com as suas necessidades e interesses;

e) Memória – por possuir um espaço ilimitado, os sites otimizam o arquivamento e


armazenamento de conteúdos que podem ser utilizados como bancos de dados ou
material de pesquisa;

f) Instantaneidade – proporciona atualizações dos conteúdos em tempo real.

Em relação ao ambiente de produção do ciberjornalismo, SCHWINGEL (2005) define o


seguinte processo: apuração, a circulação e a produção dos conteúdos, sendo que esta
estaria subdividida em composição, edição e disponibilização. Ainda sobre os
ambientes de produção, Schwingel a liberação do pólo emissor, resultou na
“descentralização do jornalismo”, onde

“surgiram não somente modalidades de uso do jornalismo digital


de fonte aberta como também tentativas de compreensão da
natureza jornalística em processos digitalizados distribuídos no
ciberespaço. O diferencial dessa prática ocorreu principalmente em
função das características (1) da interatividade, que possibilita a
incorporação do usuário em todas as etapas do processo produtivo
de forma potencializada e quase instantânea; (2) da
multimidialidade, que representa o gerenciamento de produtos
característicos de outras mídias; e (3) da supressão dos limites de
tempo e espaço, que levam os jornalistas a criarem segundo uma
outra lógica com estruturas narrativas próprias para o ciberespaço”
(SCHWINGEL, 2005, online)

1.3 A NOTÍCIA NO CIBERESPAÇO

A ruptura do espaço e do tempo potencializou um dos critérios de noticiabilidade mais


importante para o jornalismo: a noção de tempo real. Se para manter a instantaneidade
de uma notícia, os jornais impresso narravam as histórias no presente, por mais antigo
que seja o fato, na web os jornais têm a possibilidade de apresentarem o que está
acontecendo agora.

É neste quadro temporal que a notícia ganha status de atual e continuidade, tendo em
vista que os desdobramentos dos fatos podem ser atualizado com celeridade, sem
esperar a edição do dia seguinte para atualizar o noticiário.

“A noção de presente proposta pelo jornalismo passa a ser


operacionalizada pelo sentido de instantaneidade, o que
reflete o desejo de ausência de um lapso de tempo entre a
ocorrência de um fato, sua coleta, transmissão e recepção.
Tem-se, daí, que a velocidade e a aceleração apresentam-se
como variáveis temporais decorrentes de novas concepções
técnicas, especialmente no jornalismo” (FRANCISCATO,
2005, p.114)

EDO (2005) sinaliza que a atualidade contínua e a busca de noticiar em tempo real
mudou a forma de se apresentar as notícias, bem como os seus critérios de
noticiabilidade. Em razão das hard news, é preciso escrever textos curtos, objetivos,
mas sem perder a qualidade ou construir histórias multimídias, de estrutura simples que
possam ser consumidas em pouco tempo. Para Edo “a capacidade de síntese, tão
necessária para qualquer jornalista, se converte em requisito básico para o
ciberjornalismo, que requer narrativas curtas, porém completas e atrativas” (2005,
online, p. 7)

Além da dimensão temporal, outra transformação propiciada pela internet diz respeito à
arquitetura da notícia, à longevidade e à estrutura de apresentação. CANAVILHAS
(2004) ressalta que no webjornalismo a notícia deve encarada como o princípio de algo
e não um fim em si própria.

“(a notícia) deve funcionar apenas como o “tiro de partida”para


uma discussão com os leitores. Para além da introdução de
diferentes pontos de vista enriquecer a notícia, um maior número
de comentários corresponde a um maior número de visitas, o que é
apreciado pelos leitores (CANAVILHAS, 2004, online)

Brambilla (2006) sustenta que o diferencial da notícia no ciberespaço está na estrutura


hipertextual e rizomática da rede, que reconfigura o habitus jornalístico. “A alteração
mais visível fica por conta da perda da linearidade contida na informação veiculada nos
media tradicionais. Para se ler um jornal não linearmente corre-se o risco de se perder o
sentido da notícia. No ambiente digital, a notícia é naturalmente alinear por atender à
estrutura do hipertexto” ( p. 37)

Canavillhas (2004) critica a técnica da pirâmide invertida, pois a sua utilização cerceia
as potencialidades do ciberjornalismo, a saber: arquitetura noticioso aberta e de livre
navegação. O pesquisador propõe que a estrutura noticiosa deve seguir a lógica da
pirâmide deitada, que possuiu quatro níveis de leitura:

1- Unidade base – o lead – responderá ao essencial: O quê, Quando, Quem e Onde.


2- O nível de explicação responde ao Por quê e ao Como, completando a
informação essencial sobre o acontecimento
3- No nível de contextualização é oferecida mais informação – em formato textual,
vídeo, som ou infografia animada – sobre cada um dos W’s 5.

5
Quem, como, onde, quando e porquê?, as cinco regras básicas para o texto jornalístico
4- Por fim, no nível de exploração, o último, liga a notícia ao arquivo da publicação
ou a arquivos externos. (CANAVILHAS, 2004, p. 23)

Edo (2002) destaca que esta nova estrutura exige um novo tipo de jornalista um
profissional que tem neste tipo de trabalho uma alta percentagem de documentalista,
que seja capaz de expor com eficácia o relato dos acontecimentos e os comentários
produzidos nos distintos suportes possibilitados pelo ecrã do computador (p.70)
2. CONCEITO JORNALISMO COLABORATIVO

A prática do jornalismo colaborativo, seu histórico, suas características, conceitos e


impactos sobre a atividade jornalística é objetivo deste capítulo. Além disso, analisa-se
as mudanças na prática da filtragem no jornalismo, sinalizando a reconfiguração do
gatekeeping ao gatewatching, bem como contextualiza-se a colaboração como um dos
paradigmas da sociedade contemporânea. Por fim, apresentamos o Brasil Wiki, objeto
de estudo, quanto ao seu funcionamento, características e organização.
A base filosófica do jornalismo colaborativo é movimento do software livre iniciado em
1984, por Richard Stallman, como contraponto ao software proprietário, que
“aprisionava” e “restringia a liberdade” dos usuários. A proposta do software livre era
de abrir o código-fonte para a análise e modificação por parte de qualquer utilizador,
aprimorando desta forma, a usabilidade do programa. Além dos aspectos tecnicistas, o
movimento trouxe consigo a luta pela liberdade, compartilhamento de conteúdo e a
colaboração como processo produtivo, em substituição ao individualismo 6.

O requisito essencial para liberdade do software é a disponibilização do código-fonte


para o estudo, cópia, modificação e distribuição da “versão” atualizada, sem restrições,
o que torna a atualização um movimento constante nas comunidades de
desenvolvedores do software livre.

No jornalismo, metaforicamente, disponibilizar o código-fonte significa conceder


espaços para veiculação do conteúdo produzido pelo público, ampliar os mecanismos de
colaboração entre jornais e leitores, seja na elaboração da pauta, na utilização de
imagens produzidas por cidadãos-repórteres 7na composição de matérias, bem como
desenvolver uma estrutura de produção e divisão da receita gerada por produtos
baseados em paradigmas colaborativos.

“O jornalismo open source tende à descentralização do


trabalho – geográfica e mesmo local, não se restringindo
mais às redações – e à personalização tanto dos processos
quanto dos produtos informativos. A descentralização e a
personalização do trabalho, característica herdadas da
engenharia de código aberto, não implicam
necessariamente em melhorias para o jornalismo que é feito
sob o modelo open source. Detecta-se, somente, a mudança
registrada em uma reorganização do processo de produção
e publicação do noticiário, sem atribuir-lhe juízo de valor”
(BRAMBILLA, 2006, p. 74)

6
Editorial da revista Comciência - http://www.comciencia.br/reportagens/softliv/softliv5.htm
7
Neste trabalho, o termo cidadão-repórter refere-se aos colaboradores dos jornais open source, portanto
não está associado à profissionalização dos colaboradores ou significa dizer que estes integram o campo
jornalístico. Por cidadão-repórter entendemos os atores sociais que reportam informação sobre
acontecimentos locais e globais. Cidadão-repórter diz respeito a uma prática: reportar informações.
O jornal sul-coreano OhmyNews foi uma das primeiras experiências de jornalismo
colaborativo do mundo. Fundado em 2000 por Oh Yeon Ho, a filosofia é “todo cidadão
é um repórter”, qualquer pessoa poderia enviar suas notícias e em troca recebiam uma
pequena quantia em dinheiro. As notícias são editadas e publicadas pela equipe editorial
do jornal sul-coreano.

Existem dois níveis de colaboração no jornalismo open source: parcial ou total. O


beatblogging 8, por exemplo, é uma experiência onde o jornalista informa à determinada
comunidade a pauta que irá desenvolver e solicita sugestões de fontes, enquadramentos
9
e/ou críticas da pauta em curso. O Yoosk propõe uma rede de entrevistadores
colaborativos. Os utilizadores do sistema elaboram questionamentos para figuras de
relevância social ou política, a própria rede decide qual personagem deve ser
entrevistado. A equipe de jornalistas do Yoosk se encarrega de entrar em contato com as
personalidades públicas e realizar a entrevista, com base nas perguntas elaboradas pela
rede cidadã, ou seja, nestes dois exemplos há possibilidade real de colaboração, mas ela
é parcial, ou limitada a uma determinada etapa da construção das matérias.

Já no nível total, como no Brasil Wiki, WikiNews, Boca do Povo (para citar algumas
experiências nem tão famosas) o cidadão-repórter tem a liberdade/acesso pleno ao
“código-fonte”. Ele pensa a pauta, colhe os dados, embasa suas opiniões, escolhe suas
fontes, escreve o conteúdo e sobe para a home da mídia colaborativa. Na maioria destas
é necessário um cadastro para publicar os textos.

Durante as eleições nos Estados Unidos, a NBC News, MSNBC y MySpace fizeram um
concurso para a escolha de seus colaboradores. O processo seletivo consistiu em
produzir um vídeo de dois minutos para mostrar suas habilidades no que tange a
produção/edição/apresentação de conteúdo. Um júri técnico escolheu cinco finalistas,
depois esses cinco candidatos foram escolhidos em votação na comunidade do MySpace
para eleger os dois “repórteres-colaborativos”, que cobriram as convenções (democrata
e republicanos) e seus matérias foram publicados no Decision08 e na página principal
do MSNBC.

8
<http://beatblogging.org/> acessado em 28/12/2008
9
<http://www.yoosk.com/> acessado em 28/12/2008
Entretanto, não só a filosofia do movimento do software livre influenciou a “abertura”
do código-fonte no jornalismo. Há que se notar três aspectos essências para a
potencialidade da colaboração na produção de conteúdo:

1- A migração dos mass media para Internet, onde a mídia teve que adaptar-se ao novo
meio, essencialmente aberto (a começar pelo HTML), participativo e com, o perfil
“ativo” dos leitores.

Neste sentido, a sociedade em rede (CASTELLS, 2007) promove um fluxo


pluridirecional de mensagens pela Web. Neste contexto surge um novo sistema
eletrônico de comunicação e interatividade em potência. MOHERDAUI (2006) revela
que a função do interagente com as notícias na internet não está restrita a apenas ler,
mas também, enviar e-mail com críticas, sugestões, comentários, sugerir pautas e
participar da produção do conteúdo.

Castells (2007) denomina este processo como a capacidade auto-reguladora de


comunicação, onde os indivíduos possuem voz própria e podem contribuir com a rede.

2- Liberação do pólo emissor o que possibilitou multivocalidade na teia mundial, tendo


em vista que os cidadãos passaram a ter em suas mãos as ferramentas/tecnologias para
produção e veiculação de conteúdo;

Primo (2002) argumenta que quando emissores e receptores coexistem, origina a figura
do interagente, que age na estrutura informacional, mediante a negociação,
modificando-a e imprimindo características pessoais nesta relação. Para Brambilla

“ao invés de conduzir ao caos, esta transformação


corresponde a uma reorganização do processo
comunicacional. E para que chegasse a este novo modelo,
foi necessário que um elemento de desequilíbrio
desordenasse o esquema tradicional. Este elemento de
desequilíbrio cristaliza-se na figura do interagente, ou seja,
na união de funções entre emissor e receptor”
(BRAMBILLA, 2006, p. 22)
3- Nova fase tecnológica caracterizada pela ubiqüidade, que tem como grande destaque
a ultrapassagem dos limites temporais e geográficos e, consequentemente, a mudança na
concepção e relação com o mundo.

A metáfora desta fase é a rede. O conhecimento valoriza a sabedoria das multidões e a


produção coletiva de conteúdo, transformando o público em co-autor das mensagens e
significados culturais e fortalecendo a interação entre os media e os co-autores.
Há também o resgate da autoria anônima, de assinaturas coletivas e licenças livres como
o Creative Commons e o copyleft, em contraponto aos direitos autorais e o status da
propriedade intelectual.

LÉVY (1999, p. 203) argumenta que a tecnologia reconfigura a mediação nas


sociedades contemporâneas

“o ciberespaço é justamente uma alternativa para as mídias de


massa clássicas. De fato, permite que os indivíduos e os grupos
encontrem informações que lhes interessam e também que
difundam sua versão dos fatos (inclusive com imagens) sem passar
pela intermediação dos jornalistas. O ciberespaço encoraja uma
troca recíproca e comunitária, enquanto as mídias clássicas
praticam uma comunicação unidirecional na qual os receptores
estão isolados uns dos outros”

10
Ladislau Dowbor (2008) sustenta que o padrão de produção e consumo do
capitalismo está em crise e em seu lugar nascem processos colaborativos. Isso porque o
modos operandi “global rat race” leva ao mundo a entraves intransponíveis, visto que
existe uma guerra de todos contra todos.

“A realidade é que a economia está mudando, em geral mais


rapidamente do que a nossa ciência. As atividades hoje se
tornaram muito mais amplas, complexas e interativas, fazendo
com que as economias de colaboração, materializadas no
capital social, sejam cada vez mais importantes” (DOWBOR,
2008, online)

O paradigma da colaboração, argumenta Dowbor, é estruturado em quatro aspectos:

10
<http://diplo.uol.com.br/2007-10,a1935> acessado em 25/10/2008.
a) o conhecimento é principal fator de produtividade;
b) a conectividade permite o estabelecimento de redes de
trabalho/produção/conhecimento;
c) a organização demográfica, ou seja o modelo das cidades interligadas, em
contraponto aos feudos da Idade Média;
d) existe uma interdisciplinaridade dos processos/setores produtivos que visa o
desenvolvimento social e não apenas o lucro.

Dowbor aposta também no compartilhamento do conhecimento, calcado em redes de


afinidades/interesses/necessidades:

“o conhecimento compartilhado não tira conhecimento de


ninguém, pelo contrário tende a multiplicar-se, a evolução
natural não é a de nos trancarmos numa floresta de patentes
e proibições, mas sim de criar ambientes colaborativos
abertos, como vemos por exemplo no caso do Linux, da
Wikipedia, ou nas formas colaborativas da Pastoral da
Criança”. (DOWBOR, 2008, online)

E na “redenção” e dimensão ética da colaboração, que garantiria o interesse coletivo, o


bem comum: o paradigma da colaboração, além de constituir uma visão ética, e de
materializar valores das pessoas que querem gozar uma vida agradável, trabalhar de
maneira inteligente e útil, em vez de ter de matar um leão por dia, – constitui hoje bom
senso econômico em termos de resultados para o conjunto da sociedade. (DOWBOR,
2008, online)
2.1 IMPACTOS SOB O JORNALISMO

Brambilla (2006) destaca que o jornalismo colaborativo, num modelo de abertura à


publicação de notícias questiona a própria função do profissional de imprensa. Palacios
(2008, online) identifica alguns questionamentos provocados pelo alargamento do
campo jornalístico:

1- Subversão do lugar de emissão (quem pode publicar?)


2- Questionamento dos habitus (quem é jornalista, quem tem direito a publicar uma
informação? Essa rotina é ideal? Os padrões ainda são úteis?)
3- Critérios de noticiabilidade (o que deve ser noticiado?)
4- Vigilância da mídia tradicionais (ombudsman populares/especializados)
5- Ampliação do debate (esfera pública) via comentários dos usuários
6- Blogs como potencialização do Public Journalism.

11
Em entrevista, o professor Antonio Hohlfeldt diz que do ponto de vista da circulação
da informação, o open source journalism é positivo. Para ele, o jornalista deve ser
treinado para mediar a circulação de tais informações, o que significa inclusive avaliá-
las e saber como redigi-las.

"Não se pode ser ingênuo imaginando que o open source


elimina a manipulação ideológica ou qualquer outra. Aliás,
é mais fácil controlar eticamente uma categoria
profissional, com seu código de ética, do que diferentes
fontes que não tenham quaisquer responsabilidades,
promovendo boatos, por exemplo, que podem ter
conseqüências desastrosas para a sociedade, inclusive
produzindo resultados artificiais extremamente negativos
12
".

A questão fundamental é optar por incorporar o conteúdo produzido pelos cidadãos-


repórteres e ganhar colaboradores ou não absorver a participação e ganhar concorrentes.
No jornalismo colaborativo, afirma Brambilla (2006) “quebra-se, portanto, o monopólio
absoluto do controle sobre os meios de publicação, ao que cabe um paralelo à produção

11
<http://herdeirodocaos.wordpress.com/2007/09/29/pesquisadores-comentam-jornalismo-open-source/>
acessado em 29/09/2007
12
Ibidem
colaborativa de software por comunidades que partilham os mesmos interesses e
habilidades” (BRAMBILLA, 2006, p. 73)

Na nova era das comunicações digitais, sinaliza Gillmor (2005), o “público pode tornar-
se parte integral do processo – e começa a tornar-se evidente que tem de sê-lo”. Estas
transformações darão uma conotação mais dialógica ao jornalismo nas mais distintas
fases da produção da notícia. “O crescimento do jornalismo participativo nos ajudará a
ouvir. A possibilidade de qualquer pessoa fazer notícia dará voz as pessoas que se
sentiam sem poder de fala” (GILLMOR, 2005, Introdução).

13
HILER (2008) elaborou o diagrama abaixo para sinalizar a reestruturação midiática
contemporânea, marcada pela simbiose entre a atividade jornalística e a interação com o
público e a produção colaborativa de conteúdo.

13
< http://www.microcontentnews.com/articles/blogosphere.htm> acessado em 28/12/2008
Apesar de todas as mudanças provocadas pelas novas tecnologias de informação e
comunicação, os jornalistas mantêm o mesmo modus operandi de produção, cultivando
fontes, apurando fatos e produzindo conteúdo, como pode ser visto no centro do
diagrama.

A nova estrutura midiática é demonstrada na base do diagrama. As mídias sociais e


colaborativas dialogam com os jornalistas, tanto como opinião especializada e/ou
testemunhas de determinados fatos constituindo um novo canal de difusão de conteúdo
na web.

Essa relação jornalista e público origina novas pautas e matérias, que retornam às
comunidades, seja por redes de relacionamentos (Orkut, Facebook, Msn), comentadas
em mídias colaborativas (Blogs, Twitter) e trocas p2p. Retroalimentação é a palavra-
chave para o ecossistema midiático no ciberespaço.

“O jornalista da Web passa a ter como tarefa central juntar idéias e


lhes dar um formato agradável à audiência. A integração de público
e profissionais de imprensa desmitificaria o jornalista como um
propagador de pontos de vista soberanos, instituindo-o como
alguém que consolida uma informação que vem do público, a que
se acrescenta a importância que o jornalista assume ao estímulo à
discussão pública de pautas com diferentes enfoques. Assim se
reconfigura o conceito tradicional de mediação a fim de adequá-lo
às novas posições ocupadas pelo profissional de imprensa no
jornalismo open source” (BRAMBILLA, 2006, p. 53)

Moherdaui (2006) baseada na tese de Boczkowski propõe três novos modelos de


intermediação entre jornais e público:

- a informação deixa de ser centralizada no jornalista e passa a ser cada vez mais
centralizada no leitor;
- passam a pluralidade de vozes sobre um mesmo fato; e
-foco microlocal, conteúdo baseado no interesse de pequenas comunidades, definindo
por interesses comuns e localidade geográfica.

Gillmor (2005) afirma que “a internet é o primeiro meio de informação de que o público
é o proprietário, o primeiro meio que deu voz ao público”. Prova desta tese fora o
desenvolvimento dos weblogs, em 1999 pela Userland Software. “Winer (fundador da
Userland Software) e os pioneiros dos blogs conseguiram uma verdadeira revolução.
Afirmaram que a Web precisava ser escrita, não apenas lida, e estavam dispostos a
conseguir esse objetivo da forma mais simples” (GILLMOR, 2005, p. 41).

Ao assumir o controle das narrativas nos discursos, os cidadãos-repórteres investem-se


do poder simbólico, antes hegemônico aos mass media tradicionais. Segundo John
Thompson (1998), o poder simbólico nasce na atividade de produção, transmissão e
recepção do significado das formas simbólicas. Outra ruptura ocorre no que tange as
interações entre público e mídia. Se antes as relações sociais que eram mediadas pelos
meios de difusão de informação para massa se davam pelo sentido único do fluxo da
comunicação, atualmente, esta interação ocorre também de forma plural e
interdependente, na qual os usuários superam a verticalidade e estrutura monológicas
dos oligopólios da informação.

Uma experiência concreta foram as manifestações em Mianmar, contra o autoritarismo


do governo. Segundo organizações internacionais, Mianmar é um dos países onde se
tem menos liberdade de imprensa no mundo. Em 1988 ocorreu o mesmo protesto, de
força e objetivos semelhante (derrubar o governo), entretanto a censura estatal abafou os
protestos. Contudo, em setembro de 2007, com o uso das novas tecnologias de
informação e comunicação os jovens conseguiram furar o bloqueio midiático da ilha e
divulgaram a condição do país para a comunidade internacional. Posts em blogs, vídeos
no You Tube e fotos no Flick denunciaram a repressão governamental contra os
protestantes e moradores. Contudo, os mass media não deixaram de ser o pólo central
do preenchimento da esfera pública e fonte para a produção de conteúdo das mídias
sociais.

Brambilla (apud Browman e Wills, 2005), aponta quatro modos de se fazer jornalismo
colaborativo que variam de acordo com as tecnologias que estão por trás dos sites e com
as propostas de participação.

“A primeira categoria é “aberta comunal”, onde os


integrantes da comunidade são responsáveis pela
administração do ambiente, ainda que haja um moderador
dedicado à edição e ao gerenciamento dos membros. Os
noticiários onde a participação é “aberta exclusiva” delegam
a um grupo de integrantes – usualmente os donos dos site – o
privilégio de criar o conteúdo principal enquanto os demais
membros trabalham sobre conteúdo secundário ou somente
atuariam através de comentários. Já os sites “fechados” são
aqueles que limitam a leitura, a publicação e a edição das
notícias a um grupo previamente definido. Este tipo de
participação é habitualmente praticado em blogs protegidos
por senha. Há ainda o modo “parcialmente fechado” de
interagir com as notícias do ciberespaço, onde algumas
informações criadas por uma comunidade fechada são
expostas a todo ciberespaço” (BRAMBILLA apud
BROWMAN E WILLS, 2005 p. 8)
Todavia, mesmo dentre os mais “libertários”, existem as regras e normas para a
participação do público. Há espaço para a participação, porém há que se respeitar os
limites. “Em toda sociedade, a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada,
selecionada, organizada e redistribuída por certo números de procedimentos que têm
por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório”
(FOUCAULT, 2004, p. 8-9). Porém, a existência de um mediador no processo
produtivo revela-se como necessário visto que, por tratar-se de uma atividade
jornalística, há que se observar e respeitar os códigos de ética e/ou deontológicos, bem
como os trâmites jurídicos.

“Os modos de filtragem nos projetos de jornalismo open


source podem se apresentar de diversas maneiras – desde
uma moderação automática onde interagentes são
escolhidos como moderadores através de um sistema
informático até a preservação do jornalista profissional na
condição de gatekeeper” (BRAMBILLA, 2006, p. 75)

A presença de um mediador ou equipe mediadora no jornalismo open source minimiza


a imagem de falta de credibilidade dos conteúdos produzidos pelos cidadãos.

“A credibilidade é importante. O público precisa de fontes


credíveis, exige-as – e tais fontes têm sido, na maioria dos
casos, os jornalistas sérios. Em vez de organizações
jornalísticas com massa crítica suficiente para poderem
travar os combates necessários, poderemos ficar reduzidos
a uma imensidade improvável, é um mundo de informação
amordaçada” (GILLMOR, 2005, p. 18).

2.2 DO GATEKEEPING AO GATEWATCHING

Com a liberação do pólo emissor, novas vozes puderam se somar ao coro midiático.
Entretanto essa mudança ocorre não apenas na publicação de novos conteúdos a partir
das novas tecnologias de informação e comunicação, mas observa-se a reconfiguração
das zonas de filtragem do fluxo comunicacional. BRUNS (2005, p.13) revela que o
alargamento entre os limites para publicação na Web gerou um novo fenômeno em
paralelo ao gatekeeping: o gatewatching.
“Uma crítica contundente ao webjornalismo participativo é o fato
de muitas vezes os colaboradores usarem informações publicadas
em veículos da imprensa profissional para a redação de seu
material jornalístico, limitando-se a “filtrar” a web. Porém,
acredita-se aqui que essa filtragem tem um valor informativo em si
mesma, dado as características específicas da internet geram uma
profusão de informação que exige algum tipo de mediação para
fazer sentido” (Trasel, 2008, p. 84)

Para BURNS (2005), as mídias colaborativas cumprem o papel de “bibliotecárias”, pois


reúnem informações publicadas em outros sites com vistas a usar essas informações
como fontes em matérias. A filtragem no jornalismo colaborativo não possui o mesmo
caráter racional do gatekeeping nos mass media: o gatewatching contribui para o debate
interno de determinada comunidade ou, geralmente, a mensagem publicada, mesmo que
citada na grande mídia, é recontextualizada e ganha um novo sentido no debate público.
O gatewatching não está relacionada ao habitus jornalístico, mas à uma etapa a
discussão.

“(...) as críticas a respeito da “reciclagem” de material da mídia


tradicional, embora em alguns casos possam ser acertadas, estão
frequentementes mal dirigidas, porque partem da idéia do texto
jornalístico completo e fechado em si mesmo, o que tornaria as
contribuições nos espaços para debate e comentário meros
acessórios para conquistar uma audiência ávida por se engajar em
discussões inúteis e boataria” (TRASEL, 2008, p. 87)

Desta forma, com a “reciclagem”, o co-autor torna-se também mediador, além de


divulgar e/ou produzir as informações. A filtragem atende a critérios pessoais e aos
interesses de uma comunidade para qual é reverberizada. O recorte de determinada
informação dos mass media reforça o valor-notícia do referido fato e amplia o seu
debate na agenda pública, bem como potencializa a distribuição de conteúdo na Web.

Alguns jornais já “oficializaram” o gatewatching. Os sítios noticiosos Público.Pt 14, de


15
Portugal e o La Vanguardia.es, da Espanha criaram um sistema de trackback, que
indica os links que foram feitos dos jornais para outros espaços, sejam blogs, redes
sociais e mídias colaborativas. A lista dos trackbacks fica disponível no site, o que
14
< http://www.publico.clix.pt/> acessado em 29/12/2008
15
< http://www.lavanguardia.es/> acessado em 29/12/2008
permite observar a ramificação do debate provocado, a partir de uma notícia publicada
nos jornais citados.

A experiência revela dois aspectos: a potencialização da interação entre público e


media, uma vez que os links geram feedback tanto para os jornais como para os co-
autores. Por exemplo, determinada matéria provoca uma série de questionamentos sobre
o enquadramento da reportagem ou aponta alguma falha, e então um novo texto é
produzido, agregando a informação oriunda da blogosfera.

“O deslocamento do conceito de “transmissão”, desprovido de


contextos sociais quaisquer, para o de “mediações”, nos quais os
agentes comunicativos dentro de uma sociedade são partes
integrantes e complementares de uma estrutura desigual de
distribuição de competência gerativas da compreensão, do circuito
de produção cultural – dito de outra forma, compartilham de um
“conhecimento social” mantido pelos meios de comunicação”
(BARROS FILHO, 2003, p. 225)

Por outro lado, as “reações” mostrarão também a influência do jornal na promoção dos
debates e o perfil dos usuários que comentaram determinada reportagem, bem como o
caminho que ela percorre e os debates que foram iniciados a partir de uma informação.
Na Agência Brasil 16existe um sistema que indica as notícias “mais blogadas” ou seja, as
matérias que foram mais linkadas por blogueiros e cidadãos- repórteres. Para a agência
é extremamente útil, tendo em vista é possível acompanhar, dentre as notícias
publicadas, quais as mais relevantes para um grupo de leitores.

16
< http://www.agenciabrasil.gov.br/> acessado em 29/12/2008
2.3 BRASIL WIKI

O Brasil Wiki, objeto de estudo deste trabalho, pode ser classificado na categoria
“aberta comunal”. Após um cadastro no site é possível publicar as informações, nas
editorias Folhetim, Cotidiano, Contos, Poesias, Histórias Eróticas, Humor, Cultura,
Economia, Esportes, Deu no papel, Perfis, Política, Fotos e Vídeos. Existe ainda a seção
das matérias bloqueadas, por descumprirem as normas do Brasil Wiki. Geralmente são
matérias em tom ofensivo, releases de assessorias de comunicação e matérias irreais.
Por fim, Enquete e “Recados do Editor” compõem a arquitetura informativa do site.

Após acessar o sistema de publicação de conteúdo, o wiki-repórter (como é intitulado o


colaborador) poderá publicar uma notícia, que é publicada instantaneamente na seção de
“Pendentes” e só mediante aprovação dos editores, a informação segue para editoria
selecionada pelo wiki-repórter. As notícias são apresentadas em uma lista cronologia de
“últimas”. Os comentários não são moderados, desde que o indivíduo esteja cadastrado
no Brasil Wiki, já os demais visitantes têm os seus comentários analisado pelos editores.
Não há sistema de votação da comunidade nas matérias publicadas, como o
Overmundo, onde as mais votadas sobem para a home do site. No Brasil Wiki figura
apenas o número de acesso de cada colaboração. O site permite ainda acompanhar os
feed 17 de cada editoria ou de cada wiki-repórter.

Os colaboradores não são remunerados, apesar do Brasil Wiki possuir anúncios em


suas páginas. Tal modelo encontra a sua definição “tudo é meu”em Malini (2008), que
argumenta que “os usuários são mobilizados a publicar conteúdo sem salvaguarda da
17
Feeds são usados para que o usuário possa acompanhar os novos artigos na internet sem que precise
visitar o site em si. O usuário recebe alertas de que novas atualizações efetuados no sítio selacionado.
propriedade desses conteúdos, que passam a pertencer exclusivamente a esses portais”
(MALINI, 2008, p. 11).

“O sul-coreano OhmyNews Internacional, por exemplo, paga cerca


de US$ 20 por matéria enviada por seus repórteres-cidadãos, valor
que, se talvez compense o dinheiro gasto em telefonemas e
transporte para a cobertura após o pagamento de impostos e taxas
bancárias de transferência internacional, dificilmente incentiva
qualquer um a largar seu emprego para dedicar semanas de
investigação a um caso de corrupção no governo, por exemplo. E
muito menos paga os honorários de advogados em um eventual
processo por calúnia ou difamação devido aos fatos expostos na
reportagem” (TRASEL, 2008, p. 79)

No Brasil, não há data exata do primeiro jornal baseado na colaboração, mas sem
dúvida, a influência ou modismo do “faça parte você também do nosso site”
potencializou a “abertura do código” entre os media brasileiros. Para Malini (2008), os
grandes jornais online decidiram se abrir à participação dos usuários criando canais de
jornalismo cidadão, como “forma de trazer os conteúdos circunscritos a blogs e sites
independentes, que, com frequência, gera audiência e complementa as informações dos
jornais online. Além disso, dá mais capilaridade a estes, tornando-os ainda mais local, à
medida que boa parte do noticiário se concentra em notícias locais e opiniões sobre
temas de forte apelo público.” (MALINI, 2008, p. 11)

Assim como em outros países, são duas as modalidades do jornalismo colaborativo no


Brasil:

a) espaços colaborativos hospedados em grandes veículos ou sob a coordenação


destes 18;

b) espaços colaborativos criados por grupos ou empresas de comunicação de


pequeno porte, sem associação à uma grande marca 19.

Nos grandes portais e jornais, a lógica de colaboração segue a agenda midiática. O


público é convidado a participar quase sempre em caso de fait divers, como terremotos,
enchentes, acidentes, festas e outros fatos onde a onipresença midiática não pode ser
18
Vc repórter (Terra), VC no G1 (G1/Globo), Minha Notícia (IG), VC no Correio (Correio)
19
WikiNews (Google), Boca do Povo, O Pensador Selvagem, Overmundo
realizada. Apesar do “código” estar sempre aberto para a colaboração, observarmos que
a apropriação dos veículos de comunicação do conteúdo elaborado pelos cidadãos-
repórteres objetiva a complementação do seu próprio noticiário, o que acaba por gerar
um ciclo vicioso homogêneo entre mídia e co-autores.

“O noticiário participativo segue a agenda estabelecida pelo


jornalão, que usa da artimanha de convocar seu “esquadrão da
verdade” (os leitores) para reforçar o viés editorial de determinado
fato semanal (“esteve no olho do furacão, comente como cidadão-
repórter!), o que acaba criando um ciclo vicioso: já não se sabe se é
o jornal que estimula o leitor, nesses canais interativos, uma agenda
noticiosa já traçada, ou se é o leitor que, experiente em saber “o
que passa” na filtragem, envia notícias dentro do perfil desejado
pela agenda do jornal” (MALINI, 2008, p.12)

Já nos novos espaços nota-se a pluralidade maior em termos noticiosos. A falta de uma
agenda estabelecida, como ocorre no Brasil Wiki, por exemplo, dá origem a micro-
agendas, uma vez que o estímulo não é “mande seu vídeo sobre o acidente”, mas “você
é o repórter”, que traduzindo seria algo como a nossa agenda será a agenda escrita pelos
colaboradores, a notícia será aquela que você publicar no site.

O modelo do Overmundo 20, baseado em sistema de votação, onde a matéria que ganhar
maior número de indicações sobe para a página principal do site, indica a criação de
uma agenda da maioria, uma agenda eleita, em constante mutação. No Overmundo
também não existe o apelo colaborativo visando o ineditismo e a curiosidade, mas
coberturas, relatos sobre a cultura em todo país.

MORIN (1986) conceita este formato como “auto-eco-organização”, pois “as partes de
um sistema interagem entre si compondo o todo, tornam-se dependentes uma das outras
ao mesmo tempo em que sua coexistência garante-lhes autonomia” (MORIN, 1986, p.
114)

A espontaneidade é palavra essencial neste processo, tendo em vista que a colaboração é


voluntária e ocorre de acordo com a disponibilidade de cada interagente. Brambilla
(2006) diz que o jornalismo open source tende a mostrar resultados a partir do interesse
pessoal dos envolvidos nos projetos. “A aceitação e a execução da pauta, porém, ficará

20
<http://www.overmundo.com.br> acessado em 28/12/2008
a cargo de cada cidadão-repórter. Essa autonomia fala de perto à liberdade de expressão
de idéias” (BRAMBILLA, 2006, p. 75)

3. NOTICIABILIDADE
Procuraremos sistematizar a noticiabilidade, através de uma revisão dos conceitos
adotados pelos estudos de comunicação, a sua relação com o habitus jornalístico e a
classificação dos valores-notícia que serão adotados por este trabalho.

Nas redações dos veículos de comunicação existem dois elementos textuais essenciais
para determinar se um fato será ou não noticiado, a novidade e a potencialidade do fato
reter a atenção dos leitores. Aos critérios de noticiabilidade no Brasil, em particular,
acrescentamos mais três elementos: a possibilidade de personalização do conteúdo, com
o uso de personagens que aproxime a realidade do receptor. O segundo elemento diz
respeito à dramatização (adoção de estados emocionais), onde é enfocado o conflito
entre os atores envolvidos nos fatos e/ou na encenação destes no cotidiano. A
articulação harmônica da personalização e da dramatização dos fatos noticiados gera o
terceiro elemento: a dinamização (desenrolar de um acontecimento), através da qual o
receptor passa a constatar uma ação ou acontecimento.

O ex-editor do jornal norte-americano, New York Sun, Amus Cummings, cunhou o


bordão clássico para definir o que é notícia para o jornalismo. "Se um cachorro morde
um homem, não é notícia. Mas, se um homem morde um cachorro, isto sim é notícia".
Ao proferir tal frase, Cummings revela o valor-notícia para o jornalismo, relacionado à
anormalidade ou excepcionalidade do fato, para um acontecimento virar notícia era
preciso romper com a ordem natural das coisas, como uma tragédia, um escândalo
político ou uma chacina, por exemplo. Entretanto, além da ruptura da ordem, a notícia é
uma construção social, um produto cultural.

Para RODRIGUES (1993), é um acontecimento noticiável tudo aquilo que irrompe na


superfície da história a partir de uma multiplicidade aleatória de fatos virtuais. Pela sua
natureza, quanto menos previsível for um fato, mais probabilidade ele terá de se tornar
notícia e de integrar o discurso midiático. Para ele, o discurso do acontecimento
jornalístico seria algo que nega a racionalidade. Todos os demais acontecimentos,
portanto, regidos por causalidades facilmente determináveis ficam fora do alcance deste
raciocínio.

BOND (1959) define notícia como “a narração de um acontecimento, selecionado


conforme os critérios de oportunidade, proximidade, tamanho e importância. A
possibilidade de despertar interesse no público é essencial. Notícia é uma reportagem
oportuna sobre coisas de interesse para a humanidade e a melhor notícia é a que
interessa ao maior número de leitores”. (p. 68).

Essa engrenagem origina o gatekeeper, mecanismo pelo qual é determinado se um fato


é ou não interessante, o espaço que terá no jornal, como será abordado e outros
elementos do noticiário. Após a definição do que será ou não notícia, as mensagens
adquirem duas características: conteúdos temáticos e a divulgação de eventos (WOLF,
2003). Além dos elementos textuais, as informações veiculadas em um jornal também
sofrem influência da decisão editorial, determinando o que deve entrar ou não nas
páginas do veículo.

Como alerta Wolf (2003), não se pode explicar a seleção apenas como escolha subjetiva
do jornalista (mesmo que motivada profissionalmente), mas é necessário vê-la como um
processo complexo, que se desenvolve ao longo de todo o ciclo de trabalho, realizado
por instâncias diferentes (das fontes a cada redator) e com motivações que não são todas
imediatamente reconduzíveis à necessidade direta de escolher quais notícias difundir.
Wolf pontua ainda que

“A observação vale também para os valores/notícia que, na


realidade, não permeiam apenas o momento da seleção,
mas um pouco de todo o processo de produção, inclusive as
fases de confecção e de apresentação das notícias, nas quais
são enfatizados justamente os elementos da relevância que
determinaram a newsworthiness no momento da seleção”.
(WOLF, 2003, p. 255)

O conceito de gatekeeper foi elaborado por Kurt Lewin em 1947, que revelou a
existência de zonas-filtros na produção jornalística, responsáveis pelas formas de
controle da informação seja sobre “a codificação das mensagens a seleção, a formação
da mensagem, a difusão, a programação, a exclusão de toda a mensagem ou dos seus
componentes. (WOLF, apud DONOHUE-TICHENOR-OLIEN, 2006, p. 186). WOLF
(ver ano) argumenta que as decisões do gatekeeper são realizadas menos numa base de
avaliação individual de noticiabilidade do que em relação a um conjunto de valores que
incluem critérios tanto profissionais quanto organizacionais, como a eficiência, a
produção de notícias, a velocidade.

“A principal fonte de expectativas, orientações e valores profissionais não é o público,


mas o grupo de referência, constituído pelos colegas ou superiores”. (WOLF, 2006,
p.187). Desta forma, os valores-notícia são critérios construídos pela própria atividade
jornalística. Para TRAQUINA (2005), os valores-notícias servem de “óculos” para o
jornalista ver o mundo e para o construir. No jornalismo colaborativo, o grupo de
referência é o constituído pelos próprios jornalistas profissionais, uma vez que nota-se a
reverberização dos conceitos clássicos de noticiabilidade no jornalismo open source,
como a atualidade, notoriedade, personalização entre outros. A atividade colaborativa,
ainda influenciada pelo modos operandi dos mass media, não foi capaz de reconfigurar
a seleção e a construção de matérias sobre outros parâmetros.

Outro elemento que influência a transformação de um fato em notícia é a cultura


profissional, conceituada como newsmaking que representa

“um emaranhado inextricável de retórica de fachada e


astúcia táticas de códigos, estereótipos, símbolos,
padronizações latentes, representações de papéis, rituais e
convenções, relativos às funções da mídia e dos jornalistas
na sociedade, à concepção do produto-notícia e às
modalidades que controlam a sua confecção.
Posteriormente, a ideologia de traduzir numa série de
paradigmas e práticas profissionais adotadas como
naturais” (WOLF apud GARNARINO, 1892, p. 195)

A relevância desses critérios justifica-se pela rapidez inerente ao processo de produção-


circulação-consumo-defasagem do fluxo comunicacional. A instância produtora
necessita ter agilidade na captação, elaboração e distribuição do material. Os jornalistas
não podem decidir a cada vez sobre como selecionar os fatos noticiáveis. Dessa forma, a
rotinização torna essa tarefa mais produtiva e mais facilmente gerenciável (WOLF,
1995, p.176).

Entretanto, os critérios de noticiabilidade não são meras técnicas de seleção e


construção das notícias. Barros Filho (2003) frisa que tais critérios reforçam as
estratégias de conservação da estrutura do campo. Sendo assim, o autor sinaliza que a
produção da notícia está associada a rotinas produtivas do jornalismo e tais rotinas estão
relacionadas ao habitus jornalístico.

“Os condicionamentos associados a uma classe particular de


condições de existência produzem o habitus, sistemas de
disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a
funcionar como estruturas estruturantes, isto é, enquanto princípios
geradores e organizadores de práticas e de representação que
podem ser objetivamente adaptadas a seus fins sem supor o alcance
consciente desses fins e domínio expresso das operações
necessárias para alcançá-los”. (BARROS FILHO apud
BOURDIEU, 2006, p. 44).

Para Bourdieu (1970), o habitus, somando às especificidades de interação de cada


campo, constitui o núcleo gerador do cotidiano. É o habitus que comanda as diversas
partes da ação do sujeito nos diversos campos que está inserido. Em Aristóteles
(online), o habitus ganha o sentido de um saber apreendido, observado e experimentado
sensorialmente.

“O habitus nos permite concluir que atuam, sem que percebamos,


sobre o processo de construção de nossas representações do mundo
disposições interiorizadas em experiências anteriores, ao longo de
nossa trajetória singular. Por isso, toda reconstrução de mensagem
que operamos depende de nossa história, enquanto conjunto de
experiências contrastadas e significadas”. (BARROS FILHO, 2003,
p. 77)

3.1 VALORES-NOTÍCIA

Traquina (1993) divide os valores-notícia em dois gêneros: seleção, que diz respeito aos
critérios adotados na seleção de um determinado fato em produto jornalístico. Os
valores-notícia de seleção subdivide-se em: a) critérios substantivos (o acontecimento
em si) e b) condições de produção. O segundo gênero, aponta o pesquisador, está
relacionado à construção narrativa de um fato como notícia.

A tabela abaixo lista os valores-notícia de seleção proposta por Traquina (1993, p. 67)
que serão adotados por este trabalho:

Morte Notoriedade das pessoas envolvidas


Proximidade geográfica e cultural Relevância para o público
Novidade (ineditismo) Atualidade
Notabilidade Inesperado/Excepcional
Conflito Infração
Escândalos

Por fim, os valores-notícia de construção incluem

Simplificação Amplificação
Apresentação dos fatos de forma objetiva Estratégias para captar a atenção do leitor,
geralmente com frases de efeito
Relevância Personalização
A informação deve ser útil para um Utilização de personagens para aproximar
conjunto de indivíduos o fato do cotidiano
Dramatização Consonância
Explora o conflito entre os atores na Conexão entre o fato noticiado e a
construção da narrativa realidade do público

Na definição de Wolf (2003), os valores-notícia são componentes da noticiabilidade.


Os valores-notícias são, portanto, regras práticas que compreendem um corpus de
conhecimentos profissionais que, implica e muitas vezes explicitamente, explicam e
guiam os procedimentos de trabalho redacional.

“Conforme um ditado jornalístico: as notícias deveriam ser


como as saias de uma mulher: longas o bastante para cobrir
o essencial, mas suficiente curtas para chamar a atenção: a
brevidade, vinculada, de um lado aos valores/notícia
concernentes ao produto, liga-se, de outro, ao mecanismo
da seleção das notícias”. (WOLF, 1993, p. 214 e 215)

Além de selecionar e construir as notícias, é preciso também apresentá-las e este


processo, segundo Wolf (2003), também constitui uma das etapas para a definição do
que será ou notícia em um jornal.
4. A PESQUISA

Neste capítulo será apresentado o resultado da pesquisa, através do suporte


metodológico da análise do conteúdo, em uma análise quantitativa e qualitativa do
período selecionado, bem como o resultado das hipóteses primárias indicadas por este
trabalho.
Para compreender a noticiabilidade no jornalismo colaborativo foi selecionado como
objeto de análise o Brasil Wiki 21, em especial a editoria de política durante o período
eleitoral nos municípios brasileiros. O período selecionado compreende o início do
Horário Gratuito Eleitoral até o dia da votação, de 19 de agosto a 5 de outubro de 2008.

21
www.brasilwiki.com.br - sítio colaborativo que permite aos usuários cadastrados publicar suas
notícias.
As eleições tratam-se de um evento caráter nacional, por isso a escolha do Brasil Wiki
como objeto de estudo seguiu a mesma linha, uma vez que a proposta editorial do jornal
colaborativo é abrir espaço para a participação dos cidadãos-repórteres em todo o
território. Desta forma, a escolha de um portal colaborativo regional ofereceria
elementos para uma análise localizada e menos representativa.

Outro fator que influenciou na escolha do Brasil Wiki foi a quantidade de matérias
publicadas diariamente em sua página principal, o que permitiu um acompanhamento
constante de cada fase do período eleitoral. Experiência como o WikiNews, apesar de
um dos mais famosos no universo do jornalismo open source ainda carece de matérias
suficientes para a análise visada por este trabalho. As experiências colaborativas dos
portais e grandes jornais, como a Minha Notícia (IG) e Vc repórter (Terra) envolve
questões relativas ao relacionamento com os produtos colaborativos e o conteúdo
produzido pelos jornalistas dos veículos, a apropriação comercial e de direitos autorais
da colaboração, edição e política editorial e de incentivo, que demandaria a pesquisa de
outros elementos para a compreensão dos critérios utilizados pelos cidadãos-repórteres
para definirem o que será ou não notícia.

Portanto, optou-se por uma mídia sem grandes marcas financiadoras e ou um grande
jornal como suporte para a atenção. O caráter “novo” do Brasil Wiki permite o diálogo
com uma nova audiência e a construção de cultura diferenciada do mainstream
midiático, por ser uma experiência em construção contínua, o fazer diário no Brasil
Wiki está mais suscetível a mudanças e adequação dos processos colaborativos.

Em relação à escolha da seção Política, ocorreu por uma questão simples, já que as
eleições, impulsionam o debate, a troca de idéias e, consequentemente, a possibilidade
da participação cidadã na elaboração de conteúdo sobre a temática. Já o período
selecionado levou em consideração o Horário Eleitoral Gratuito, entendido aqui como o
input para o conhecimento dos candidatos, suas propostas e conflitos inerentes a
disputa. O Horário Eleitoral Gratuito permitiu também aos cidadãos o contato direto
com as plataformas política em disputa, sem distorção e mediação dos mass media.
Outro aspecto que influenciou na escolha e período foi a possibilidade dos cidadãos
estarem mais próximo dos atores envolvidos na eleições. Comícios, carreatas,
entrevistas, sites e blogs, por exemplo, poderiam ser utilizados pelos cidadãos-
repórteres como pauta para a produção de conteúdo. Julgou-se que o contato dos
colaboradores com as fontes políticas poderia ser realizado de uma forma mais simples
do que em outros momentos.

Por fim, a agenda midiática, que realizou uma ampla cobertura das eleições,
potencializou o número de informações disponíveis sobre os candidatos, as disputas,
bastidores e demais matérias sobre o processo eleitoral.

No total foram publicados 112 matérias22, entre matérias, entrevistas e análises do


processo eleitoral, de 19 de agosto a 5 de outubro de 2008. Para identificar a
noticiabilidade do jornalismo colaborativo, adotou-se os valores-notícia estabelecidos
por Traquina (1993). O autor divide os valores-notícia em dois gêneros: seleção, que diz
respeito aos critérios adotados na seleção de um determinado fato em produto
jornalístico e o segundo, aponta o pesquisador, está relacionado à construção narrativa
de um fato como notícia.

Em relação ao método de investigação foi adotada a análise de conteúdo, objetivando


identificar, a partir dos critérios de noticiabilidade, os elementos predominantes nas
intervenções dos cidadãos-repórteres no Brasil Wiki. Trasel (2008) diz que a análise de
conteúdo não busca compreender os dados em si, mas como a relação entre eles pode
evidenciar um determinado contexto. “Analisando-se aquilo que se manifesta em
determinado material, é possível acessar as causas da manifesta” (p. 128).

BARDIN (1977) afirma que a análise de conteúdo tem duas funções essenciais:
heurística, ao descobrir fenômenos não previstos e validação das hipóteses anteriores ao
estudo. A hipótese adotada por esta monografia é que apesar da liberação do pólo
emissor potencializar a multivocalidade na web, os critérios de noticiabilidade
concebidos pelos mass media orientam as narrativas colaborativas noticiosas.

4.1 VALORES-NOTÍCIA DE SELEÇÃO

22
Uma matéria foi excluída da análise, pois se tratava de uma poesia sem nenhuma relação com a
editoria.
Critérios de seleção

60

50

40

30

20

10

Tragédia Proximidade Novidade Notabilidade Conflito


Escândalos Atualidade Inesperado Infração Notoriedade

Durante o período analisado, nota-se a predominância de critérios de noticiabilidade


relacionados à atualidade e à notoriedade das pessoas e instituições envolvidas em um
acontecimento. Os fatos selecionados de acordo com a “atualidade” estão relacionados a
temática da agenda do mainstream midiático, ou seja, os assuntos pautados pelos mass
media acabaram por pautar também os cidadãos-repórteres. Apesar do agendamento,
cabe ressaltar que os textos produzidos pelos colaboradores exploravam outras nuances
do fato; as matérias comentavam não apenas a decisão do presidente Lula sobre a Força
Aérea Brasileira 23, por exemplo, mas eram compostas por fortes intenções de figurar
como contraponto a exposição jornalística profissional de determinado fato.

O número expressivo de fatos transformados em notícia devido à notoriedade das


pessoas envolvidas justifica-se pela própria lógica da política midiática que foca a
atenção mais no espetáculo promovido pelos agentes políticos do que na fala e proposta
destes. A disputa política na sociedade do espetáculo passa pela imposição da imagem
pública dos atores políticos nos media. A consolidação da imagem pública é resultante
da visibilidade, opacidade e ocultamento que os atores têm nos espelhos midiáticos.
Desta forma, a “imagem” dos candidatos e parlamentares sofre a
intervenção/interferência dos cidadãos-repórteres, uma vez que novos valores e sentidos

23
Pacote de investimentos apresentado pelo governo federal para a reforma e fortalecimento da Força
Aérea Brasileiro, em setembro de 2008.
são atribuídos aos atores políticos, o que demanda dos assessores políticos ampliar o
monitoramento dos seus assessorados para além dos muros da mídia tradicional.

4.2 VALORES-NOTÍCIA DE CONSTRUÇÃO 24

25
Das 112 matérias analisadas, apenas sete usaram a personalização para a construção
26
narrativa, as outras 105 pautaram-se pela simplificação , que segundo Traquina diz
respeito aos fatos sem “complexidade”, capazes de serem expostos de forma objetiva e
de fácil compreensão. Nas matérias que optaram pela personalização, nota-se,
principalmente, a crítica e/ou paródia aos personagens escolhidos. Com isso, os
cidadãos-repórteres adotam um discurso político de raciocínio ético (Charaudeau,
2005), que visa colocar o indivíduo diante de uma escolha moral (em nome do que é
preciso agir, ou seja, restabelecer a ordem social, acabar com a mal encarnado em uma
personalidade), enquanto o raciocínio pragmático visa colocá-lo diante de uma
responsabilidade (quais meios utilizar para chegar a seus fins).

Critérios de Construção

Simplificação
Personalização

105

24
Elementos utilizados pelos produtores de conteúdo para escrever suas narrativas, que dizem respeito,
por exemplo ao gênero (informativo/opinativo), a forma de apresentar o fato (tamanho da matérias,
simplicação/aprofundamento)
25
Utilização de personagens em determinada narrativa, seja para aproximar o fato do leitor, descrever o
fato a partir do olhar de um personagem ou destacar um personagem e mostrar com o acontecimento
afetou a sua vida.
26
Construção da narrativa de forma objetiva, com destaque para o fato em si.
Personalidades

No gráfico abaixo estão listadas as personalidades mais citadas pelos cidadãos-


repórteres, sempre em tom crítico a todos os mencionados.

Personalidades

30

25 Lula
Tarso
20
Dantas
15 Jobim
Chávez
10
Obama
5 Alckmin

0
Personalidades

É natural o presidente Luis Inácio Lula da Silva liderar a lista das personalidades mais
citadas pelos cidadãos-repórteres. Primeiro, pela natureza do seu cargo. Segundo, por
tratar-se de uma editoria de política. Entretanto, a ausência de mediação e uma linha
editorial com base na isenção, potencializa a predominância de ataques as
personalidades mencionadas no gráfico acima. Cabe ressaltar que em nenhuma das
matérias que tiveram como valor-notícia de construção, a utilização de personagens
houve a pluralidade de fontes ou o “tradicional” ouvir os outros lados, premissa clássica
do jornalismo profissional.

Ideologia

Abaixo, a natureza ideológica dos textos que tiveram o governo federal como “ator” da
personalização.
Posicionamento
Neutro 3
Governista 1
Oposição 28

Novas categorias adotadas a partir da análise do material selecionado

Aos valores-notícia propostos por Traquina (1993) foram adicionados mais sete
critérios de noticiabilidade (gênero, espacialização, agenda, colaboração, fontes, uso de
links e direcionamento dos hiperlinks) para otimizar a compreensão da produção
colaborativa de notícias. Esses critérios foram elaborados a partir de análise do período
selecionado e a frequência de determinados fenômenos, bem como alguns elementos
clássicos do jornalismo em suas rotinas de produção.

Gênero
Os debates sobre gênero datam de Platão e permanecem envoltos em polêmica até os
dias atuais. Não é objetivo deste trabalho o aprofundamento sobre os gêneros no
jornalismo colaborativo, porém, a apresentação das notícias implica o enquadramento
da informação relacionado a determinados aspectos discursivos.

GREIMAS (1979, p. 202) aponta que "O gênero designa uma classe de discursos,
reconhecível graças a critérios de natureza socioletal". No jornalismo, analisar os
gêneros é fundamental para compreensão do produto e da produção, bem como revelar
o enquadramento de determinado media.

MELO (1992) propõe a classificação dos gêneros jornalísticos no Brasil baseado em


dois critérios:
1) a reprodução do real (jornalismo informativo)- possui o caráter noticioso, destinado a
narração dos fatos sob a égide jornalística - observar a realidade e descrevê-la.

2) leitura do real (jornalismo opinativo) - é baseada na análise e avaliação. A realidade


não é descrita, mas explicada, por meio de argumentações.

No período analisado, constatou-se a predominância do gênero opinativo nas matérias


elaboradas pelos cidadãos-repórteres. Diferente de informar, por exemplo, a disputa
entre os candidatos, seja com intenção de votos, atividades dos políticos, os principais
desafios para o novo gestor eleito, entre outros, os textos foram construídos em tom
panfletário, repleto de ideologia e parcialidade.

Se por um lado a liberação do pólo emissor possibilita a multivocalidade, por outro


lado, as novas vozes não seguem o caráter racional do qual fala Habermmas, importante
no debate público. Grupos ideológicos apropriaram-se dos espaços colaborativos não
para propor debates públicos, o que se notou foi o caráter publicitário dos candidatos,
partidos e coligações.

Gênero

13

Opinativo
Informativo

99

Espacialização do conteúdo produzido

Apesar de Dan Gillmor (2008, online) defender que o fato de os cidadãos-repórteres


colocarem sentimento em seus textos reinventou a difusão das notícias, existe uma
diferença entre estar afeto 27 a uma realidade e propagandear pontos de vista. Primeiro, a
onipresença e a quebra do monopólio difusor de informação, após a internet, tiveram
mais impacto na difusão das notícias do que os “sentimentos”, apontados por Gillmor.

Estar afeto a uma realidade não significa oferecer uma leitura do real através dos textos,
mas sim pautar outros temas, levantar outros debates sobre determinados aspectos e
principalmente preencher lacunas deixadas pelos mass media, no que tange a cobertura
das cidades/bairros periféricos e quando feita, quase sempre desinteressada

As experiências hiper-locais/comunitárias vêm acumulando poder simbólico na


construção da agenda pública devido à exposição de temas específicos de uma
comunidade e na criação de vínculos afetivos de temas globais a uma determinada
localidade/população.

Entretanto, ao se analisar a espacialização da colaboração nota-se que os cidadãos-


repórteres do Brasil Wiki produziram mais conteúdo global (nacional e internacional)
do que descreveram suas próprias realidades. Os textos sobre a política nacional e
internacional registrou 69% e as informações sobre a esfera política estadual apenas
31%.

O resultado da espacialização pode ser entendido a partir da agenda pública. Os estudos


de comunicação revelam que existem duas formas dos indivíduos tomarem
conhecimento da realidade: através das suas relações interpessoais ou por meio dos
veículos de comunicação, que tornaram-se os grande mediadores e construtores da
realidade, porque até mesmo as agendas pessoais são resultantes do contato e absorção
dos conteúdos simbólicos midiáticos.

A análise das matérias indica que, além da cobertura eleitoral, alguns escândalos
28
também foi o foco dos grandes jornais. A Operação Satiagraha , o julgamento da
demarcação de terras indígenas em Roraima 29, os anúncios de Hugo Chávez sobre a

27
Sentimento de pertencimento, estar ligado à uma localidade e/ou comunidade.
28
Ver maiores detalhes em <http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL639895-
9356,00.html > acessado em 30/12/2008
29
Mais informações disponíveis em< http://www.roraimaemfoco.com/site/content/view/5282/45/>
acessado em 30/12/2008
militarização da Venezuela 30, a descoberta do pré-sal no Rio de Janeiro 31
entre outros
concorreram, no que refere-se a atenção tanto da mídia quanto do público, o que,
consequentemente, resultou em uma colaboração mais preocupada a questões do Brasil
e do mundo.

Como explica Thompson (1998), a importância que as mensagens da mídia têm para os
indivíduos e as maneiras de usar os materiais simbólicos mediados dependem
crucialmente dos contextos de recepção e dos recursos que os receptores têm à
disposição para auxiliar no processo de recepção.

“Eles (leitores, grifo do autor) as recebem seletivamente, é claro, dando mais atenção
aos aspectos que lhes são de maior interesse e ignorando ou filtrando outros. Mas eles
também lutam para dar sentido a fenômenos que desafiam sua compreensão, e se
esforçam para relacioná-los aos contextos e condições de suas próprias vidas”
(THOMPSON, 1998, p. 182).

Espacialização

77

34

Local Global

Agenda colaborativa e o gatewatching.

30
Para saber mais: < http://www.estado.com.br/editorias/2007/10/15/edi-1.93.5.20071015.3.1.xml>
acessado em 30/12/2008
31
Ver em: <http://www.revistabrasileiros.com.br/secoes/especiais/noticias/113/> acessado em 30/12/2008
Boa parte da agenda formada pelos colaboradores focaram sua atenção não na eleição.
Das 112 matérias, 48 tiveram relação direta com a disputa eleitoral. Wolf (2003) diz que
o impacto da agenda depende da atenção e cognição dos sujeitos envolvidos no contexto
comunicativo.

HOHLFELDT (2001) aponta outros elementos sobre os fatores que agendam a mídia.
Em seus estudos sobre o agendamento, o autor observou que existe uma verdadeira
correlação entre a agenda da mídia e do receptor, mas também a agenda do receptor
pode e acaba influenciando a agenda da mídia. Mais do que isso, há um
interagendamento entre os diferentes tipos de mídia, chegando-se mesmo a perceber que
a mídia impressa possui certa hierarquia sobre a mídia eletrônica, tanto no que toca ao
agendamento do receptor em geral (pela sua maior permanência e poder de introjeção
através da leitura) quanto sobre as demais mídias (que, por sua vez, evidenciam maior
dinamicidade e flexibilidade para expandir a informação e complementá-la).

Agenda

Eleitoral Outros

48

64

Contudo, como pontua Wolf (2003) não é suficiente observar se há um aprendizado de


informações e sobre quais temas, mas é necessário analisar também os tipos de
informações difundidas e “passadas” de uma agenda a outra. Por isso julgou-se
necessário analisar a natureza da agenda colaborativa, quanto a sua originalidade ou
filtragem dos mass media, conceituada aqui como gatewatching.
Colaboração

19

Original
Gatewatching

93

As matérias classificadas em “original” têm como característica a produção inédita dos


cidadãos-repórteres ou reflexões de temas, a partir do agendamento do mainstream
midiático. Já “gatewatching” reúne os textos retirados de outras mídias publicados no
Brasil Wiki para fomentar o debate sobre determinado aspecto da agenda pública.

Tomado de empréstimo das ciências biológicas, o conceito do mutualismo consiste na


interação entre duas espécies que se beneficiam reciprocamente da relação. Esta
perspectiva é a que melhor define a relação entre mídias colaborativas e a mídia
tradicional. Apesar do temor dos jornalistas de que a participação do público roube-lhes
os escassos empregos, a competição ou rivalização não justifica a configuração da
comunicação na sociedade contemporânea.

Existem duas modalidades de mutualismo: simbiose ou facultativo 32. A simbiose afirma


que as duas espécies não podem viver separadas. Tal modalidade não se aplica no
convívio entre mídias. Já o facultativo parece-me explicar melhor a relação, uma vez
que protocooperação sinaliza que as duas espécies podem viver independentemente ou
trocar de parceiro.

32
Piotr Kropotkin (1902)
33
Estudo do Brodeur Media Survey acerca do impacto das mídias sociais sobre a
cobertura jornalística nos Estados Unidos, em abril de 2008, com 3.500 jornalistas
profissionais, revelou: as mídias sociais contribuíram positivamente para a diversidade
na cobertura jornalística, segundo os próprios jornalistas.

Alguns dados da pesquisa:

- os repórteres cobrindo jornalismo político e tecnologia são os maiores utilizadores de


mídias sociais, sendo que 65% dos jornalistas políticos lêem blogs com regularidade e
36% blogam como parte de sua atividade jornalística.

O estudo ratifica o conceito mutualismo adotado por este trabalho acerca da relação
mainstream midiático e produção open source. É certo que a realidade dos media norte-
americanos é diferente dos brasileiros, mas os dados evidenciam uma essa relação de
complementarieadade entre as mídias colaborativas e o maninstream midiático.

Tal mudança é essencial também para entender a flexibilização do oficialismo das


fontes autorizadas/especialistas vigente nos jornais para a ampliação de outros discursos
com a liberação do pólo emissor.

Contudo, o alargamento do campo jornalístico, a utilização da mídia social e a validação


de outros fontes na cobertura jornalística traz o seguinte desafio:

67% deles (jornalistas) opinam que tiveram efeito negativo quanto ao rigor no material
divulgado.

A credibilidade é o grande aspecto discutido quando o assunto é o conteúdo


colaborativo. E a “apuração” precisa estar atenta ao apropriar-se da mídia cidadã.
Afinal, o conteúdo open source, neste caso, precisa de uma validação do jornalismo
para configurar-se como notícia.

33
Grupo de estudo norte-americano que análise questões relacionadas à atividade jornalística
<http://brodeurmediasurvey.com/> acessado em 21/12/2008
Uso de fontes

Em relação às fontes, devido ao caráter opinativo, não há equilíbrio na narrativa – a


opinião do autor prevalece e quando são utilizadas as fontes reforçam o seu ponto de
vista. Em apenas uma matéria o cidadão-repórter conversou com uma fonte para
construir a sua matéria. Os outros 46 textos adotaram a própria mídia tradicional como
fonte, ou declaração de personalidades e especialistas a estes veículos.

Em suma, as fontes a que os jornalistas recorrem ou que procuram os jornalistas são


entidades interessadas, quer dizer, estão implicadas e desenvolvem a sua atividade a
partir de estratégias e com tácticas bem determinadas.
Fontes

47

Sim Não
65

Este dado aponta que apesar de novas vozes romperem o silêncio, não há revitalização
na seleção das fontes, o que significa que as mesmas histórias continuaram a ser
contadas, agora por pessoas diferentes.

Hipertextualidade

A hipertextualidade – possibilidade de interconectar textos através de links – não é


utilizada pelos cidadãos-repórteres. O hipertexto, como já mostramos, impactou
profundamente a narrativa jornalística e a navegação dos leitores pela notícia.
Entretanto sua adoção na construção de notícias no Brasil Wiki foi pífia. Palacios
(2002) chama a atenção para a possibilidade, a partir do texto noticioso, apontar outros
textos que possam gerar polêmica em torno do assunto noticiado.
Uso de links

79

33

Links
Sim 33
Não 79

Um detalhamento do direcionamento dos hiperlinks (para onde apontavam) indica uma


que dos 33 links, apenas oito apontaram para sites que auxiliaram na compreensão da
fato abordado. O restante levava o leitor para os blogs mantidos pelos cidadãos-
repórteres do Brasil Wiki.

Hiperlink

Links
Sites 8
Blogs 24

5. CONCLUSÃO
As novas tecnologias da informação e comunicação, aliadas à liberação do pólo emissor
contribuíram para multivocalidade no ciberespaço. A facilidade do manuseio das
ferramentas de publicação, edição e compartilhamento de conteúdo potencializou a
inteligência coletiva, da qual falava LÉVY (2000).

O jornalismo, mais uma vez, passa por um processo de mutação das suas estruturas e
valores, dentre elas o sujeito interagente que surge deste momento de ode à participação
e democratização dos meios informativos. Novos modelos de negócio, difusão de
mensagens, produção de conteúdo e, principalmente, a manutenção do campo
jornalístico e o jornalismo colaborativo integram a lista de desafios e oportunidades
para os mass media.

Entretanto, a possibilidade da participação dos cidadãos na produção de notícias não


implica o fim do jornalismo, mas, como argumenta GILLMOR (2005), uma
oportunidade para potencializar a atividade jornalística ou uma remediação como define
LEMOS (2005). A relação entre mainstream midiático e mídias colaborativas, pode ser
caracterizada, metaforicamente, como o mutualismo, onde ambos buscam manter a sua
existência e os seus proveitos, em uma protocoopereção contínua.

Após o saudosismo dos modelos open source de produção de conteúdo, observar-se que
a “abertura” do código-fonte não garante reconfigurações no fazer jornalístico, no
agendamento ou elaboração de novos critérios de noticiabilidade. A atualidade e a
notoriedade das pessoas ou instituições envolvidas nos acontecimentos são os principais
elementos de seleção para os cidadãos-repórteres, assim como o é para os jornalistas
profissionais.

A onipresença dos cidadãos, por ora, não garantiu o aprofundamento e a pluralidade nos
debates públicos. Apesar de novas vozes, não observarmos novos discursos, tampouco
novas fontes utilizadas para a construção das narrativas colaborativas, que adotaram um
tom panfletário e ideológico-partidário durante o período eleitoral de 2008. A
simplificação dos fatos permanece como o principal item para a construção das
informações, não há o aproveitamento das características básicas da Web no noticiário
colaborativo, com a multimidialidade, diversidades de fontes e o hipertexto.
Por fim, constatou-se que apenas a apropriação técnica das ferramentas para a difusão
de informação não garantiu a pluralidade na agenda pública e o mainstream midiático
permanece como o grande catalisador da agenda midiática.

6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
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