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JORNALISMO COLABORATIVO:
Uma análise dos critérios de noticiabilidade adotados pelos
cidadãos-repórteres do Brasil Wiki durante as eleições de 2008
SALVADOR
2009
YURI DE GÓES NOVAES BESERRA DE ALMEIDA
JORNALISMO COLABORATIVO:
Uma análise dos critérios de noticiabilidade adotados pelos
cidadãos-repórteres do Brasil Wiki durante as eleições de 2008
Salvador
2009
______________________________________________________
Prof.a Orientadora: Jan Alyne Barbosa
ABSTRACT
This paper addresses two aspects. The reconfiguration of journalism from the release of
the pole and the criterions for issuing news in collaborative journalism. The object of
analysis is the site collaborative Brazil Wiki, during the election period of 2008, the
editorial politic it was used for the analysis of media content and methodology for the
analysis of the selected articles, about the selection and construction of stories. The
research indicates that people-reporters have adopted the traditional criterions of
journalism, as the current reputation of the personalities involved and the facts and
articles exploring the character poll. During the period selected, noted that the
collaborative agenda is guided by the agenda of mainstream media.
LISTA DE FIGURAS
1. Diagrama da mediação jornalística na sociedade contemporânea 31
2. Home do Brasil Wiki 35
3. Espaço para publicação do Brasil Wiki 35
4. Lista de notícias do Brasil Wiki 36
SUMÁRIO
Introdução ..................................................................................................................... 10
Metodologia .................................................................................................................. 13
1. Liberação do pólo emissor e o jornalismo ............................................................ 15
1.2 Características do ciberjornalismo ......................................................................... 21
1.3 A notícia no ciberespaço ........................................................................................ 23
2. Conceito jornalismo colaborativo ......................................................................... 26
2.1 Impactos sobre o jornalismo .................................................................................. 32
2.2 Do gatekeeping ao gatewatching ........................................................................... 37
2.3 Brasil Wiki ............................................................................................................. 40
3. Noticiabilidade ....................................................................................................... 45
3.1 Valores-notícia ...................................................................................................... 49
4. A Pesquisa .............................................................................................................. 52
4.1 Valores-notícia de seleção .................................................................................... 55
4.2 Valores-notícia de construção .............................................................................. 56
5. Conclusão .............................................................................................................. 68
6. Referências Bibliográficas ................................................................................... 70
INTRODUÇÃO
A rede mundial de computadores alterou de forma radical as práticas sociais. O
desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação na década de 70
proporcionaram avanços na pluralidade das visões, novos tipos de interação entre os
indivíduos e o meio sócio-cultural, além de novos formatos e suporte comunicacionais.
Entre essas alterações está a relação entre os mass media e o público. A própria
característica interativa da Web se estende para além do modelo comunicacional um-
todos, passando para uma estrutura todos-todos (Pierre Lévy, 1999), através de blogs,
lista de discussão e códigos abertos, possibilitando ainda a interação entre os usuários e
os media e oferecem ferramentas para a participação dos sujeitos na produção de
notícias.
No que tange a estrutura organizacional, o Brasil Wiki conta com um corpo editorial,
responsável pela avaliação do conteúdo cadastrado no site, organizá-lo nas seções
temáticas, elaboradas pelo Brasil Wiki, bem como garantir
1
<http://www.brasilwiki.com.br/ acessado em 27/12/2008>
2
De 19 de agosto a 5 de outubro, período que compreende o início da campanha eleitoral gratuita no
rádio e TV e término da eleição.
3
< http://www.brasilwiki.com.br/sobre.php > acessado em 27/12/2008
4
< http://www.brasilwiki.com.br/sobre.php > acessado em 27/12/2008
media já fora tema de diversas pesquisas acadêmicas, o que contribuiram para a
compreensão do “fazer” jornalismo e o papel que este desempenha na sociedade. A
nova realidade da comunicação é um enorme quebra-cabeça e o jornalismo
colaborativo, apenas uma das pequenas peças deste vasto mosaico, em contínua
mutação. Sendo assim, a análise dos critérios utilizados pelos cidadãos-repórteres, para
definir o que é notícia auxiliará nas respostas sobre “o quê” e “como” os usuários estão
a produzir conteúdos noticiosos, após a apropriação das novas tecnologias de
informação e comunicação, bem como a utilização dos canais emissores,
potencializados com a internet. Para isso, iremos analisar os critérios de seleção e
construção das notícias no período eleitoral de 2008, publicada na seção “Política” do
sítio colaborativo Brasil Wiki, a luz da análise do conteúdo.
METODOLOGIA
Para realizar a análise da noticiabilidade no jornalismo colaborativo, foi selecionado
como objeto de estudo, as matérias publicadas no site colaborativo Brasil Wiki durante
o período eleitoral brasileiro de 2008, e, mais especificamente, a desenvolvida na seção
Política.
Durante a pesquisa será observado a categorização das matérias quanto aos elementos
informativos e o sua presença em determinado contextos. Serão adotados os critérios de
noticiabilidade definidos por Traquina (1993), que divide os valores-notícia em dois
gêneros: seleção, que diz respeito aos critérios adotados na seleção de um determinado
fato em produto jornalístico. Os valores-notícia de seleção subdivide-se em: a) critérios
substantivos (o acontecimento em si) e b) condições de produção, entretanto, o estudo
da análise das condições de produção não se aplicam a proposta deste estudo, que
concentra-se nas matérias produzidas e não na observação participante do ambiente de
produção, o que é inviável devido a ausência de uma redação física e da continuidade
produtiva dos cidadãos-repórteres. O segundo gênero, aponta o pesquisador, está
relacionado à construção narrativa de um fato como notícia.
A monografia está divida em quatro capítulos. O primeiro tem como objetivo discutir a
relação da internet e o jornalismo, em particular, analisar como a liberação do pólo
emissor, aliada aos novos dispositivos tecnológicos de registro (mp3, máquina
fotográficas digitais, aparelhos celulares, entre outros), modificaram o ambiente
comunicacional na Web.
2- Princípio de conexão em rede - “tudo comunica e tudo está em rede” ou “a rede está
em todos os lugares” e o computador é a própria rede, na concepção de Lemos.
Segundo WOLF (2003) “a mídia apresenta ao público uma lista de fatos a respeito dos
quais se pode ter uma opinião e discutir [...] a asserção fundamental da agenda-setting é
que a compreensão das pessoas em relação a grande parte da realidade social é
modificada pelos meios de comunicação de massa”. (WOLF, apud SHAW, p. 143).
Porém, em seu livro Ética na Comunicação, FILHO (2003) argumenta que os mass
media não só formam a agenda do público, como também criam o clima no qual será
recebida a informação, isso porque em um discurso, que é um processo de apropriação
de linguagem pelo emissor, ator ativo nessa ação social, que organiza e significa o
mundo mostrado, persuade, convence o locutor da pertinência de seu modo de ordenar
esse mundo, construindo assim, um entendimento do mundo mostrado.
FILHO (2003) explica que existem diversos tipos de agendas. A primeira diz respeito à
agenda individual que corresponde ao repertório de preocupações sobre questões
públicas que interioriza cada indivíduo. Agenda interpessoal manifestada é conceituada
pelo autor como temas percebidos por sujeitos individuais e discutidos nas suas
relações. Sendo estas mais ligadas aos estudos sobre a recepção das informações.
Já a agenda da mídia designa-se pelo elenco temático selecionado pelos meios de
difusão.
O quarto item e a mais importante, a agenda pública, define-se pelo conjunto de temas
que a sociedade como um todo estima como relevantes e por isso atribui-lhes atenção.
E, por fim, temos a agenda institucional que são prioridades temáticas eleitas no seio
desta ou daquela instituição. Segundo o autor, todos esses tipos de agenda integraram a
agenda pública, entretanto os meios de comunicação são os grandes responsáveis pela
formação desta agenda.
acesso (o diploma para ingressar na atividade jornalística, por exemplo) ao campo. Com
noticiabilidade.
O leitor não apenas está no controle e decide a forma que irá consumir as informações,
como também anseia em participar da produção de conteúdo. A cultura do “faça você
mesmo!”, potencializada pela Internet e a liberação do pólo emissor reconfigura o papel
do jornalista como mediador/tradutor da sociedade e suas complexidades. A mediação
jornalística, que se baseava em recortar fragmentos da “realidade” e apresentá-los aos
receptores, em um sentido puramente conectivo (realidade – público), precisa evoluir
para uma mediação dialógica, premissa essencial para o ciberjornalismo.
“(...) várias experiências como a Wikipedia, OhmyNews, Slashdot e NewsTrust
sinalizam que o futuro do jornalismo passa por este diálogo, cuja origem está na
chamada lógica da inclusão digital, ou seja, quanto mais pessoas participarem desta
troca de dados, fatos e informações, maior poderá ser o ganho em conhecimentos e,
portanto, maior o potencial econômico”. (CASTILHO, 2008, p.7)
Para Manovich (2001), a nova mídia não deve ser compreendida através em uma lógica
de transposição de uma forma cultural existente, ou no sentido da metáfora - projetar
um novo modelo remetendo-o a modelos anteriores. Pelo contrário, deve operar no
sentido de migração ou de deslocamento, como forma de ampliação dos atuais modelos
narrativos.
c) Hipertextualidade – permite incluir novos elementos, através dos links, nas matérias
do webjornalismo;
É neste quadro temporal que a notícia ganha status de atual e continuidade, tendo em
vista que os desdobramentos dos fatos podem ser atualizado com celeridade, sem
esperar a edição do dia seguinte para atualizar o noticiário.
EDO (2005) sinaliza que a atualidade contínua e a busca de noticiar em tempo real
mudou a forma de se apresentar as notícias, bem como os seus critérios de
noticiabilidade. Em razão das hard news, é preciso escrever textos curtos, objetivos,
mas sem perder a qualidade ou construir histórias multimídias, de estrutura simples que
possam ser consumidas em pouco tempo. Para Edo “a capacidade de síntese, tão
necessária para qualquer jornalista, se converte em requisito básico para o
ciberjornalismo, que requer narrativas curtas, porém completas e atrativas” (2005,
online, p. 7)
Além da dimensão temporal, outra transformação propiciada pela internet diz respeito à
arquitetura da notícia, à longevidade e à estrutura de apresentação. CANAVILHAS
(2004) ressalta que no webjornalismo a notícia deve encarada como o princípio de algo
e não um fim em si própria.
Canavillhas (2004) critica a técnica da pirâmide invertida, pois a sua utilização cerceia
as potencialidades do ciberjornalismo, a saber: arquitetura noticioso aberta e de livre
navegação. O pesquisador propõe que a estrutura noticiosa deve seguir a lógica da
pirâmide deitada, que possuiu quatro níveis de leitura:
5
Quem, como, onde, quando e porquê?, as cinco regras básicas para o texto jornalístico
4- Por fim, no nível de exploração, o último, liga a notícia ao arquivo da publicação
ou a arquivos externos. (CANAVILHAS, 2004, p. 23)
Edo (2002) destaca que esta nova estrutura exige um novo tipo de jornalista um
profissional que tem neste tipo de trabalho uma alta percentagem de documentalista,
que seja capaz de expor com eficácia o relato dos acontecimentos e os comentários
produzidos nos distintos suportes possibilitados pelo ecrã do computador (p.70)
2. CONCEITO JORNALISMO COLABORATIVO
6
Editorial da revista Comciência - http://www.comciencia.br/reportagens/softliv/softliv5.htm
7
Neste trabalho, o termo cidadão-repórter refere-se aos colaboradores dos jornais open source, portanto
não está associado à profissionalização dos colaboradores ou significa dizer que estes integram o campo
jornalístico. Por cidadão-repórter entendemos os atores sociais que reportam informação sobre
acontecimentos locais e globais. Cidadão-repórter diz respeito a uma prática: reportar informações.
O jornal sul-coreano OhmyNews foi uma das primeiras experiências de jornalismo
colaborativo do mundo. Fundado em 2000 por Oh Yeon Ho, a filosofia é “todo cidadão
é um repórter”, qualquer pessoa poderia enviar suas notícias e em troca recebiam uma
pequena quantia em dinheiro. As notícias são editadas e publicadas pela equipe editorial
do jornal sul-coreano.
Já no nível total, como no Brasil Wiki, WikiNews, Boca do Povo (para citar algumas
experiências nem tão famosas) o cidadão-repórter tem a liberdade/acesso pleno ao
“código-fonte”. Ele pensa a pauta, colhe os dados, embasa suas opiniões, escolhe suas
fontes, escreve o conteúdo e sobe para a home da mídia colaborativa. Na maioria destas
é necessário um cadastro para publicar os textos.
Durante as eleições nos Estados Unidos, a NBC News, MSNBC y MySpace fizeram um
concurso para a escolha de seus colaboradores. O processo seletivo consistiu em
produzir um vídeo de dois minutos para mostrar suas habilidades no que tange a
produção/edição/apresentação de conteúdo. Um júri técnico escolheu cinco finalistas,
depois esses cinco candidatos foram escolhidos em votação na comunidade do MySpace
para eleger os dois “repórteres-colaborativos”, que cobriram as convenções (democrata
e republicanos) e seus matérias foram publicados no Decision08 e na página principal
do MSNBC.
8
<http://beatblogging.org/> acessado em 28/12/2008
9
<http://www.yoosk.com/> acessado em 28/12/2008
Entretanto, não só a filosofia do movimento do software livre influenciou a “abertura”
do código-fonte no jornalismo. Há que se notar três aspectos essências para a
potencialidade da colaboração na produção de conteúdo:
1- A migração dos mass media para Internet, onde a mídia teve que adaptar-se ao novo
meio, essencialmente aberto (a começar pelo HTML), participativo e com, o perfil
“ativo” dos leitores.
Primo (2002) argumenta que quando emissores e receptores coexistem, origina a figura
do interagente, que age na estrutura informacional, mediante a negociação,
modificando-a e imprimindo características pessoais nesta relação. Para Brambilla
10
Ladislau Dowbor (2008) sustenta que o padrão de produção e consumo do
capitalismo está em crise e em seu lugar nascem processos colaborativos. Isso porque o
modos operandi “global rat race” leva ao mundo a entraves intransponíveis, visto que
existe uma guerra de todos contra todos.
10
<http://diplo.uol.com.br/2007-10,a1935> acessado em 25/10/2008.
a) o conhecimento é principal fator de produtividade;
b) a conectividade permite o estabelecimento de redes de
trabalho/produção/conhecimento;
c) a organização demográfica, ou seja o modelo das cidades interligadas, em
contraponto aos feudos da Idade Média;
d) existe uma interdisciplinaridade dos processos/setores produtivos que visa o
desenvolvimento social e não apenas o lucro.
11
Em entrevista, o professor Antonio Hohlfeldt diz que do ponto de vista da circulação
da informação, o open source journalism é positivo. Para ele, o jornalista deve ser
treinado para mediar a circulação de tais informações, o que significa inclusive avaliá-
las e saber como redigi-las.
11
<http://herdeirodocaos.wordpress.com/2007/09/29/pesquisadores-comentam-jornalismo-open-source/>
acessado em 29/09/2007
12
Ibidem
colaborativa de software por comunidades que partilham os mesmos interesses e
habilidades” (BRAMBILLA, 2006, p. 73)
Na nova era das comunicações digitais, sinaliza Gillmor (2005), o “público pode tornar-
se parte integral do processo – e começa a tornar-se evidente que tem de sê-lo”. Estas
transformações darão uma conotação mais dialógica ao jornalismo nas mais distintas
fases da produção da notícia. “O crescimento do jornalismo participativo nos ajudará a
ouvir. A possibilidade de qualquer pessoa fazer notícia dará voz as pessoas que se
sentiam sem poder de fala” (GILLMOR, 2005, Introdução).
13
HILER (2008) elaborou o diagrama abaixo para sinalizar a reestruturação midiática
contemporânea, marcada pela simbiose entre a atividade jornalística e a interação com o
público e a produção colaborativa de conteúdo.
13
< http://www.microcontentnews.com/articles/blogosphere.htm> acessado em 28/12/2008
Apesar de todas as mudanças provocadas pelas novas tecnologias de informação e
comunicação, os jornalistas mantêm o mesmo modus operandi de produção, cultivando
fontes, apurando fatos e produzindo conteúdo, como pode ser visto no centro do
diagrama.
Essa relação jornalista e público origina novas pautas e matérias, que retornam às
comunidades, seja por redes de relacionamentos (Orkut, Facebook, Msn), comentadas
em mídias colaborativas (Blogs, Twitter) e trocas p2p. Retroalimentação é a palavra-
chave para o ecossistema midiático no ciberespaço.
- a informação deixa de ser centralizada no jornalista e passa a ser cada vez mais
centralizada no leitor;
- passam a pluralidade de vozes sobre um mesmo fato; e
-foco microlocal, conteúdo baseado no interesse de pequenas comunidades, definindo
por interesses comuns e localidade geográfica.
Gillmor (2005) afirma que “a internet é o primeiro meio de informação de que o público
é o proprietário, o primeiro meio que deu voz ao público”. Prova desta tese fora o
desenvolvimento dos weblogs, em 1999 pela Userland Software. “Winer (fundador da
Userland Software) e os pioneiros dos blogs conseguiram uma verdadeira revolução.
Afirmaram que a Web precisava ser escrita, não apenas lida, e estavam dispostos a
conseguir esse objetivo da forma mais simples” (GILLMOR, 2005, p. 41).
Brambilla (apud Browman e Wills, 2005), aponta quatro modos de se fazer jornalismo
colaborativo que variam de acordo com as tecnologias que estão por trás dos sites e com
as propostas de participação.
Com a liberação do pólo emissor, novas vozes puderam se somar ao coro midiático.
Entretanto essa mudança ocorre não apenas na publicação de novos conteúdos a partir
das novas tecnologias de informação e comunicação, mas observa-se a reconfiguração
das zonas de filtragem do fluxo comunicacional. BRUNS (2005, p.13) revela que o
alargamento entre os limites para publicação na Web gerou um novo fenômeno em
paralelo ao gatekeeping: o gatewatching.
“Uma crítica contundente ao webjornalismo participativo é o fato
de muitas vezes os colaboradores usarem informações publicadas
em veículos da imprensa profissional para a redação de seu
material jornalístico, limitando-se a “filtrar” a web. Porém,
acredita-se aqui que essa filtragem tem um valor informativo em si
mesma, dado as características específicas da internet geram uma
profusão de informação que exige algum tipo de mediação para
fazer sentido” (Trasel, 2008, p. 84)
Por outro lado, as “reações” mostrarão também a influência do jornal na promoção dos
debates e o perfil dos usuários que comentaram determinada reportagem, bem como o
caminho que ela percorre e os debates que foram iniciados a partir de uma informação.
Na Agência Brasil 16existe um sistema que indica as notícias “mais blogadas” ou seja, as
matérias que foram mais linkadas por blogueiros e cidadãos- repórteres. Para a agência
é extremamente útil, tendo em vista é possível acompanhar, dentre as notícias
publicadas, quais as mais relevantes para um grupo de leitores.
16
< http://www.agenciabrasil.gov.br/> acessado em 29/12/2008
2.3 BRASIL WIKI
O Brasil Wiki, objeto de estudo deste trabalho, pode ser classificado na categoria
“aberta comunal”. Após um cadastro no site é possível publicar as informações, nas
editorias Folhetim, Cotidiano, Contos, Poesias, Histórias Eróticas, Humor, Cultura,
Economia, Esportes, Deu no papel, Perfis, Política, Fotos e Vídeos. Existe ainda a seção
das matérias bloqueadas, por descumprirem as normas do Brasil Wiki. Geralmente são
matérias em tom ofensivo, releases de assessorias de comunicação e matérias irreais.
Por fim, Enquete e “Recados do Editor” compõem a arquitetura informativa do site.
No Brasil, não há data exata do primeiro jornal baseado na colaboração, mas sem
dúvida, a influência ou modismo do “faça parte você também do nosso site”
potencializou a “abertura do código” entre os media brasileiros. Para Malini (2008), os
grandes jornais online decidiram se abrir à participação dos usuários criando canais de
jornalismo cidadão, como “forma de trazer os conteúdos circunscritos a blogs e sites
independentes, que, com frequência, gera audiência e complementa as informações dos
jornais online. Além disso, dá mais capilaridade a estes, tornando-os ainda mais local, à
medida que boa parte do noticiário se concentra em notícias locais e opiniões sobre
temas de forte apelo público.” (MALINI, 2008, p. 11)
Já nos novos espaços nota-se a pluralidade maior em termos noticiosos. A falta de uma
agenda estabelecida, como ocorre no Brasil Wiki, por exemplo, dá origem a micro-
agendas, uma vez que o estímulo não é “mande seu vídeo sobre o acidente”, mas “você
é o repórter”, que traduzindo seria algo como a nossa agenda será a agenda escrita pelos
colaboradores, a notícia será aquela que você publicar no site.
O modelo do Overmundo 20, baseado em sistema de votação, onde a matéria que ganhar
maior número de indicações sobe para a página principal do site, indica a criação de
uma agenda da maioria, uma agenda eleita, em constante mutação. No Overmundo
também não existe o apelo colaborativo visando o ineditismo e a curiosidade, mas
coberturas, relatos sobre a cultura em todo país.
MORIN (1986) conceita este formato como “auto-eco-organização”, pois “as partes de
um sistema interagem entre si compondo o todo, tornam-se dependentes uma das outras
ao mesmo tempo em que sua coexistência garante-lhes autonomia” (MORIN, 1986, p.
114)
20
<http://www.overmundo.com.br> acessado em 28/12/2008
a cargo de cada cidadão-repórter. Essa autonomia fala de perto à liberdade de expressão
de idéias” (BRAMBILLA, 2006, p. 75)
3. NOTICIABILIDADE
Procuraremos sistematizar a noticiabilidade, através de uma revisão dos conceitos
adotados pelos estudos de comunicação, a sua relação com o habitus jornalístico e a
classificação dos valores-notícia que serão adotados por este trabalho.
Nas redações dos veículos de comunicação existem dois elementos textuais essenciais
para determinar se um fato será ou não noticiado, a novidade e a potencialidade do fato
reter a atenção dos leitores. Aos critérios de noticiabilidade no Brasil, em particular,
acrescentamos mais três elementos: a possibilidade de personalização do conteúdo, com
o uso de personagens que aproxime a realidade do receptor. O segundo elemento diz
respeito à dramatização (adoção de estados emocionais), onde é enfocado o conflito
entre os atores envolvidos nos fatos e/ou na encenação destes no cotidiano. A
articulação harmônica da personalização e da dramatização dos fatos noticiados gera o
terceiro elemento: a dinamização (desenrolar de um acontecimento), através da qual o
receptor passa a constatar uma ação ou acontecimento.
Como alerta Wolf (2003), não se pode explicar a seleção apenas como escolha subjetiva
do jornalista (mesmo que motivada profissionalmente), mas é necessário vê-la como um
processo complexo, que se desenvolve ao longo de todo o ciclo de trabalho, realizado
por instâncias diferentes (das fontes a cada redator) e com motivações que não são todas
imediatamente reconduzíveis à necessidade direta de escolher quais notícias difundir.
Wolf pontua ainda que
O conceito de gatekeeper foi elaborado por Kurt Lewin em 1947, que revelou a
existência de zonas-filtros na produção jornalística, responsáveis pelas formas de
controle da informação seja sobre “a codificação das mensagens a seleção, a formação
da mensagem, a difusão, a programação, a exclusão de toda a mensagem ou dos seus
componentes. (WOLF, apud DONOHUE-TICHENOR-OLIEN, 2006, p. 186). WOLF
(ver ano) argumenta que as decisões do gatekeeper são realizadas menos numa base de
avaliação individual de noticiabilidade do que em relação a um conjunto de valores que
incluem critérios tanto profissionais quanto organizacionais, como a eficiência, a
produção de notícias, a velocidade.
3.1 VALORES-NOTÍCIA
Traquina (1993) divide os valores-notícia em dois gêneros: seleção, que diz respeito aos
critérios adotados na seleção de um determinado fato em produto jornalístico. Os
valores-notícia de seleção subdivide-se em: a) critérios substantivos (o acontecimento
em si) e b) condições de produção. O segundo gênero, aponta o pesquisador, está
relacionado à construção narrativa de um fato como notícia.
A tabela abaixo lista os valores-notícia de seleção proposta por Traquina (1993, p. 67)
que serão adotados por este trabalho:
Simplificação Amplificação
Apresentação dos fatos de forma objetiva Estratégias para captar a atenção do leitor,
geralmente com frases de efeito
Relevância Personalização
A informação deve ser útil para um Utilização de personagens para aproximar
conjunto de indivíduos o fato do cotidiano
Dramatização Consonância
Explora o conflito entre os atores na Conexão entre o fato noticiado e a
construção da narrativa realidade do público
21
www.brasilwiki.com.br - sítio colaborativo que permite aos usuários cadastrados publicar suas
notícias.
As eleições tratam-se de um evento caráter nacional, por isso a escolha do Brasil Wiki
como objeto de estudo seguiu a mesma linha, uma vez que a proposta editorial do jornal
colaborativo é abrir espaço para a participação dos cidadãos-repórteres em todo o
território. Desta forma, a escolha de um portal colaborativo regional ofereceria
elementos para uma análise localizada e menos representativa.
Outro fator que influenciou na escolha do Brasil Wiki foi a quantidade de matérias
publicadas diariamente em sua página principal, o que permitiu um acompanhamento
constante de cada fase do período eleitoral. Experiência como o WikiNews, apesar de
um dos mais famosos no universo do jornalismo open source ainda carece de matérias
suficientes para a análise visada por este trabalho. As experiências colaborativas dos
portais e grandes jornais, como a Minha Notícia (IG) e Vc repórter (Terra) envolve
questões relativas ao relacionamento com os produtos colaborativos e o conteúdo
produzido pelos jornalistas dos veículos, a apropriação comercial e de direitos autorais
da colaboração, edição e política editorial e de incentivo, que demandaria a pesquisa de
outros elementos para a compreensão dos critérios utilizados pelos cidadãos-repórteres
para definirem o que será ou não notícia.
Portanto, optou-se por uma mídia sem grandes marcas financiadoras e ou um grande
jornal como suporte para a atenção. O caráter “novo” do Brasil Wiki permite o diálogo
com uma nova audiência e a construção de cultura diferenciada do mainstream
midiático, por ser uma experiência em construção contínua, o fazer diário no Brasil
Wiki está mais suscetível a mudanças e adequação dos processos colaborativos.
Em relação à escolha da seção Política, ocorreu por uma questão simples, já que as
eleições, impulsionam o debate, a troca de idéias e, consequentemente, a possibilidade
da participação cidadã na elaboração de conteúdo sobre a temática. Já o período
selecionado levou em consideração o Horário Eleitoral Gratuito, entendido aqui como o
input para o conhecimento dos candidatos, suas propostas e conflitos inerentes a
disputa. O Horário Eleitoral Gratuito permitiu também aos cidadãos o contato direto
com as plataformas política em disputa, sem distorção e mediação dos mass media.
Outro aspecto que influenciou na escolha e período foi a possibilidade dos cidadãos
estarem mais próximo dos atores envolvidos na eleições. Comícios, carreatas,
entrevistas, sites e blogs, por exemplo, poderiam ser utilizados pelos cidadãos-
repórteres como pauta para a produção de conteúdo. Julgou-se que o contato dos
colaboradores com as fontes políticas poderia ser realizado de uma forma mais simples
do que em outros momentos.
Por fim, a agenda midiática, que realizou uma ampla cobertura das eleições,
potencializou o número de informações disponíveis sobre os candidatos, as disputas,
bastidores e demais matérias sobre o processo eleitoral.
BARDIN (1977) afirma que a análise de conteúdo tem duas funções essenciais:
heurística, ao descobrir fenômenos não previstos e validação das hipóteses anteriores ao
estudo. A hipótese adotada por esta monografia é que apesar da liberação do pólo
emissor potencializar a multivocalidade na web, os critérios de noticiabilidade
concebidos pelos mass media orientam as narrativas colaborativas noticiosas.
22
Uma matéria foi excluída da análise, pois se tratava de uma poesia sem nenhuma relação com a
editoria.
Critérios de seleção
60
50
40
30
20
10
23
Pacote de investimentos apresentado pelo governo federal para a reforma e fortalecimento da Força
Aérea Brasileiro, em setembro de 2008.
são atribuídos aos atores políticos, o que demanda dos assessores políticos ampliar o
monitoramento dos seus assessorados para além dos muros da mídia tradicional.
25
Das 112 matérias analisadas, apenas sete usaram a personalização para a construção
26
narrativa, as outras 105 pautaram-se pela simplificação , que segundo Traquina diz
respeito aos fatos sem “complexidade”, capazes de serem expostos de forma objetiva e
de fácil compreensão. Nas matérias que optaram pela personalização, nota-se,
principalmente, a crítica e/ou paródia aos personagens escolhidos. Com isso, os
cidadãos-repórteres adotam um discurso político de raciocínio ético (Charaudeau,
2005), que visa colocar o indivíduo diante de uma escolha moral (em nome do que é
preciso agir, ou seja, restabelecer a ordem social, acabar com a mal encarnado em uma
personalidade), enquanto o raciocínio pragmático visa colocá-lo diante de uma
responsabilidade (quais meios utilizar para chegar a seus fins).
Critérios de Construção
Simplificação
Personalização
105
24
Elementos utilizados pelos produtores de conteúdo para escrever suas narrativas, que dizem respeito,
por exemplo ao gênero (informativo/opinativo), a forma de apresentar o fato (tamanho da matérias,
simplicação/aprofundamento)
25
Utilização de personagens em determinada narrativa, seja para aproximar o fato do leitor, descrever o
fato a partir do olhar de um personagem ou destacar um personagem e mostrar com o acontecimento
afetou a sua vida.
26
Construção da narrativa de forma objetiva, com destaque para o fato em si.
Personalidades
Personalidades
30
25 Lula
Tarso
20
Dantas
15 Jobim
Chávez
10
Obama
5 Alckmin
0
Personalidades
É natural o presidente Luis Inácio Lula da Silva liderar a lista das personalidades mais
citadas pelos cidadãos-repórteres. Primeiro, pela natureza do seu cargo. Segundo, por
tratar-se de uma editoria de política. Entretanto, a ausência de mediação e uma linha
editorial com base na isenção, potencializa a predominância de ataques as
personalidades mencionadas no gráfico acima. Cabe ressaltar que em nenhuma das
matérias que tiveram como valor-notícia de construção, a utilização de personagens
houve a pluralidade de fontes ou o “tradicional” ouvir os outros lados, premissa clássica
do jornalismo profissional.
Ideologia
Abaixo, a natureza ideológica dos textos que tiveram o governo federal como “ator” da
personalização.
Posicionamento
Neutro 3
Governista 1
Oposição 28
Aos valores-notícia propostos por Traquina (1993) foram adicionados mais sete
critérios de noticiabilidade (gênero, espacialização, agenda, colaboração, fontes, uso de
links e direcionamento dos hiperlinks) para otimizar a compreensão da produção
colaborativa de notícias. Esses critérios foram elaborados a partir de análise do período
selecionado e a frequência de determinados fenômenos, bem como alguns elementos
clássicos do jornalismo em suas rotinas de produção.
Gênero
Os debates sobre gênero datam de Platão e permanecem envoltos em polêmica até os
dias atuais. Não é objetivo deste trabalho o aprofundamento sobre os gêneros no
jornalismo colaborativo, porém, a apresentação das notícias implica o enquadramento
da informação relacionado a determinados aspectos discursivos.
GREIMAS (1979, p. 202) aponta que "O gênero designa uma classe de discursos,
reconhecível graças a critérios de natureza socioletal". No jornalismo, analisar os
gêneros é fundamental para compreensão do produto e da produção, bem como revelar
o enquadramento de determinado media.
Gênero
13
Opinativo
Informativo
99
Estar afeto a uma realidade não significa oferecer uma leitura do real através dos textos,
mas sim pautar outros temas, levantar outros debates sobre determinados aspectos e
principalmente preencher lacunas deixadas pelos mass media, no que tange a cobertura
das cidades/bairros periféricos e quando feita, quase sempre desinteressada
A análise das matérias indica que, além da cobertura eleitoral, alguns escândalos
28
também foi o foco dos grandes jornais. A Operação Satiagraha , o julgamento da
demarcação de terras indígenas em Roraima 29, os anúncios de Hugo Chávez sobre a
27
Sentimento de pertencimento, estar ligado à uma localidade e/ou comunidade.
28
Ver maiores detalhes em <http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL639895-
9356,00.html > acessado em 30/12/2008
29
Mais informações disponíveis em< http://www.roraimaemfoco.com/site/content/view/5282/45/>
acessado em 30/12/2008
militarização da Venezuela 30, a descoberta do pré-sal no Rio de Janeiro 31
entre outros
concorreram, no que refere-se a atenção tanto da mídia quanto do público, o que,
consequentemente, resultou em uma colaboração mais preocupada a questões do Brasil
e do mundo.
Como explica Thompson (1998), a importância que as mensagens da mídia têm para os
indivíduos e as maneiras de usar os materiais simbólicos mediados dependem
crucialmente dos contextos de recepção e dos recursos que os receptores têm à
disposição para auxiliar no processo de recepção.
“Eles (leitores, grifo do autor) as recebem seletivamente, é claro, dando mais atenção
aos aspectos que lhes são de maior interesse e ignorando ou filtrando outros. Mas eles
também lutam para dar sentido a fenômenos que desafiam sua compreensão, e se
esforçam para relacioná-los aos contextos e condições de suas próprias vidas”
(THOMPSON, 1998, p. 182).
Espacialização
77
34
Local Global
30
Para saber mais: < http://www.estado.com.br/editorias/2007/10/15/edi-1.93.5.20071015.3.1.xml>
acessado em 30/12/2008
31
Ver em: <http://www.revistabrasileiros.com.br/secoes/especiais/noticias/113/> acessado em 30/12/2008
Boa parte da agenda formada pelos colaboradores focaram sua atenção não na eleição.
Das 112 matérias, 48 tiveram relação direta com a disputa eleitoral. Wolf (2003) diz que
o impacto da agenda depende da atenção e cognição dos sujeitos envolvidos no contexto
comunicativo.
HOHLFELDT (2001) aponta outros elementos sobre os fatores que agendam a mídia.
Em seus estudos sobre o agendamento, o autor observou que existe uma verdadeira
correlação entre a agenda da mídia e do receptor, mas também a agenda do receptor
pode e acaba influenciando a agenda da mídia. Mais do que isso, há um
interagendamento entre os diferentes tipos de mídia, chegando-se mesmo a perceber que
a mídia impressa possui certa hierarquia sobre a mídia eletrônica, tanto no que toca ao
agendamento do receptor em geral (pela sua maior permanência e poder de introjeção
através da leitura) quanto sobre as demais mídias (que, por sua vez, evidenciam maior
dinamicidade e flexibilidade para expandir a informação e complementá-la).
Agenda
Eleitoral Outros
48
64
19
Original
Gatewatching
93
32
Piotr Kropotkin (1902)
33
Estudo do Brodeur Media Survey acerca do impacto das mídias sociais sobre a
cobertura jornalística nos Estados Unidos, em abril de 2008, com 3.500 jornalistas
profissionais, revelou: as mídias sociais contribuíram positivamente para a diversidade
na cobertura jornalística, segundo os próprios jornalistas.
O estudo ratifica o conceito mutualismo adotado por este trabalho acerca da relação
mainstream midiático e produção open source. É certo que a realidade dos media norte-
americanos é diferente dos brasileiros, mas os dados evidenciam uma essa relação de
complementarieadade entre as mídias colaborativas e o maninstream midiático.
67% deles (jornalistas) opinam que tiveram efeito negativo quanto ao rigor no material
divulgado.
33
Grupo de estudo norte-americano que análise questões relacionadas à atividade jornalística
<http://brodeurmediasurvey.com/> acessado em 21/12/2008
Uso de fontes
47
Sim Não
65
Este dado aponta que apesar de novas vozes romperem o silêncio, não há revitalização
na seleção das fontes, o que significa que as mesmas histórias continuaram a ser
contadas, agora por pessoas diferentes.
Hipertextualidade
79
33
Links
Sim 33
Não 79
Hiperlink
Links
Sites 8
Blogs 24
5. CONCLUSÃO
As novas tecnologias da informação e comunicação, aliadas à liberação do pólo emissor
contribuíram para multivocalidade no ciberespaço. A facilidade do manuseio das
ferramentas de publicação, edição e compartilhamento de conteúdo potencializou a
inteligência coletiva, da qual falava LÉVY (2000).
O jornalismo, mais uma vez, passa por um processo de mutação das suas estruturas e
valores, dentre elas o sujeito interagente que surge deste momento de ode à participação
e democratização dos meios informativos. Novos modelos de negócio, difusão de
mensagens, produção de conteúdo e, principalmente, a manutenção do campo
jornalístico e o jornalismo colaborativo integram a lista de desafios e oportunidades
para os mass media.
Após o saudosismo dos modelos open source de produção de conteúdo, observar-se que
a “abertura” do código-fonte não garante reconfigurações no fazer jornalístico, no
agendamento ou elaboração de novos critérios de noticiabilidade. A atualidade e a
notoriedade das pessoas ou instituições envolvidas nos acontecimentos são os principais
elementos de seleção para os cidadãos-repórteres, assim como o é para os jornalistas
profissionais.
A onipresença dos cidadãos, por ora, não garantiu o aprofundamento e a pluralidade nos
debates públicos. Apesar de novas vozes, não observarmos novos discursos, tampouco
novas fontes utilizadas para a construção das narrativas colaborativas, que adotaram um
tom panfletário e ideológico-partidário durante o período eleitoral de 2008. A
simplificação dos fatos permanece como o principal item para a construção das
informações, não há o aproveitamento das características básicas da Web no noticiário
colaborativo, com a multimidialidade, diversidades de fontes e o hipertexto.
Por fim, constatou-se que apenas a apropriação técnica das ferramentas para a difusão
de informação não garantiu a pluralidade na agenda pública e o mainstream midiático
permanece como o grande catalisador da agenda midiática.
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Suzana - Modelo JDBD e o ciberjornalismo de quarta geração. http://
www.facom.ufba.br/jol/pdf/2008_Barbosa_RedUCMx.pdf acessado em 25/11/2008
SILVA, Jan Alyne. Dos fanzines aos weblogs : uma análise sobre as semelhanças e
diferenças entre os dois suportes. In: Intercom 2002 - XXV Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação, 2002, Salvador. Anais... Salvador. Disponível em:
http://www.intercom.org.br/papers/2002/np08/NP8SILVA2.pdf. Acessado em:
21/4/2007.
WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa . São Paulo: Martins Fontes,
2003.