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ucação e Pssicologia

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O  desafio prroposto no tema Uniccidade do C  Conhecime ento veio aao encontro o dos 


objettivos  propostos  pelo  grupo  de  pesquisa,  do 
d qual  as  autoras  faazem  partee,  que 
tem  como  tem mática  geral  o  estuudo  da  immagem  do o  professo or  no  disccurso 
matográficco e sua inflluência na fformação d
cinem de professo
ores. 

Esste  artigo  é  o  resulltado  da  busca 


b de  elementos  que  conttribuam  paara  a 
comppreensão  das 
d influên ncias  da  naarrativa  cin
nematográáfica  nas  reelações  entre  o 
temp
po e o conh hecimento. 

 Univ
1
versidade Ibirapuera (UNIB –– Brasil). ana.q
queluz@ibirap
puera.br 
 Univ
2
versidade Prebisteriana Mackkenzie. vascon ncelos.pos@m
mackenzie.br
GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 
 
 
O texto foi tecido basicamente com três fios: tempo, conhecimento e narrativa e 
organizado  em  quatro  momentos:  a  temporalidade,  o  tempo  e  o  conhecimento, 
tempo, conhecimento e narrativa cinematográfica. 

O  ato  de  tecer  seguiu  os  seguintes  passos:  no  primeiro,  um  fio  referente  ao 
tempo,  foi  selecionado  entre  tantos  do  mesmo  nome  e  a  escolha  recaiu  sobre 
aquele que contém a obra de Minkowski, que é um marco nos estudos sobre esse 
tema.  Aspectos  da  temporalidade  foram  revisitados  e  selecionados  por  serem 
fundamentais à compreensão desse elemento essencial na tecitura do texto. 

O segundo passo foi dado pela incorporação de um novo fio, o conhecimento, 
que aparece muitas vezes sozinho e em outros, entrelaçado ao primeiro fio. Os fios 
referentes  ao  tempo  e  ao  conhecimento,  que  foram  entrelaçados  para  compor  o 
texto, forneceram os primeiros elementos resultantes da articulação entre eles.   

O terceiro passo trata da integração de um novo fio aos anteriores ⎯ o cinema, 
especialmente no que se refere à narrativa cinematográfica. Cada fio foi objeto de 
muita  atenção  em  relação,  especialmente,  à  sua  especificidade,  quanto  ao 
conhecimento  que  contém,  para  que  no  momento  de  juntar‐se  aos  outros 
componha um desenho novo, harmônico e articulado. 

As  considerações  finais  ao  encerrarem  o  artigo  apresentam  uma  forma  de 
compreensão preliminar da influência da narrativa cinematográfica sobre o tempo 
e  o  conhecimento.  Ao  ser  integrado  ao  devir  o  texto  será  exposto  aos  leitores,  e 
embora não se tenha como saber sua repercussão fica a certeza que comporá com 
os demais, juntamente com aqueles que estão guardados nas dobras do passado e 
com aqueles outros que virão do futuro, a força que faz girar eternamente a roda 
do conhecimento.  

A TEMPORALIDADE
Os fundamentos que serviram de base para nortear a busca de respostas sobre 
as  inquietações  relacionadas  ao  tempo  vivido  e  ao  conhecimento  foram 
encontrados na obra de Eugène Minkowski. 

Minkowski  afirma  que  entre  o  devir  e  o  ser,  entre  o  tempo  e  o  espaço  se 
escalonam em nossa vida, fenômenos de ordem espaço‐temporal que nos indicam 
porquê  e  como,  o  pensamento  chega  a  assimilar  o  tempo  ao  espaço.  Esses 
fenômenos  formam  dois  escalões:  a  duração  e  a  sucessão  vividas  de  um  lado  e  a 
continuidade  vivida  de  outro.  O  laço  que  une  estes  dois  escalões  representa  um 
princípio  especial  denominado  princípio  de  desdobramento,  cujo  sentido  é  o 
passar do tempo.  

Quando refletimos sobre o passar do tempo, o presente, o passado e futuro são 
evocados.  Minkowski refere‐se  a Pierre  Janet  para  enriquecer  essa  reflexão,  pois, 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 

este,  apresenta  também  dois  escalões  do  tempo,  mas  sobre  outro  aspecto. 
Descreve  o  tempo  em  dois  níveis:  a  forma  inconsistente  e  a  forma  consistente  e 
utiliza‐se  da  memória  para  explicá‐los  por  considerá‐la  como  algo  próprio  do 
homem e que consiste em uma conduta particular intimamente ligada à função da 
linguagem, ou seja, do discurso. 

Para  Janet,  a  memória  não  é  a  faculdade  de  conservar,  reproduzir  e 


reconhecer;  de  nenhum  modo  consiste  nesta  repetição  trivial  e 
automática  que  preside  a  formação  de  tendências  e  hábitos  na  série 
animal.  É  própria  somente  do  homem  e  consiste  em  uma  conduta 
particular intimamente ligada à função da linguagem. (Mimkowski, 1973, 
p. 33­34) 

Assim sendo, a origem da memória está relacionada a uma conduta social que se 
desenvolve  a  partir  do  momento  que  o  ser  humano  descobre  a  vantagem  de 
colocar  sentinelas  não  diretamente  no  campo,  como  fazem  os  animais  que  vivem 
em grupo, mas fora do campo, comportamento que se utiliza da faculdade de avisar 
verbalmente a uma pessoa ausente ou de transmitir‐lhe uma ordem.  

Dessa  forma,  compreende‐se  o  relato  como  o  intermediário  elemental  da 


memória.  Mas,  a  evolução  vai  aumentando  a  complexidade  desse  relato,  dando 
origem  primeiramente  à  descrição,  cujo  papel  é  transmitir  ao  ausente,  não  mais 
uma simples ordem, mas, toda uma situação. 

O  relato  e  a  descrição  relacionam‐se  com  objetos  que  persistem,  pertencendo, 


então,  à  memória  elemental.  Isso  mostra  que  as  primeiras  manifestações  da 
memória não contêm a noção de desaparecimento do passado. A desenvolvimento 
da memória deu origem à narração que se apóia no passado ausente, desaparecido 
e  tem  como  objetivo  fazer  com  que  os  presentes  experimentem  sentimentos  que 
vivenciariam se tivessem participado do fato narrado. Para atingir esse objetivo foi 
preciso  aprender  a  colocar,  na  narração,  os  acontecimentos  em  sua  ordem 
histórica,  o  que  trouxe  consigo  um  fator  primordial:  a  relação  antes  e  depois  que 
gerou um novo e importante desenvolvimento da memória e do tempo. A inclusão 
das relações de antes e depois, assim como a justaposição ordenada e cronológica 
dos  acontecimentos  foi  tão  estimulante,  que  tornou  prazeroso  fazer  relatos 
unicamente pelo prazer de narrar, dando origem à fabulação.  

E  assim  a  memória,  primitivamente  mesclada  com  a  ação,  se  converteu 


pouco a pouco ⎯  porque o relato nem sempre era fácil ⎯  em um jogo, se 
fez inconsistente e nessa inconsistência se tem aperfeiçoado. A fabulação 
é, pois, o estádio da memória desenvolvida por ela mesma. (p.34) 

Para  a  memória  foi  preciso  sair  dessa  inconsistência  encontrando  um  ponto 
absoluto  que  tornasse  possível  ordenar  de  uma  maneira  unívoca  o  passado  e  o 
futuro. Surge assim a noção de presente, que é um relato de uma ação, que fazemos 
enquanto estamos executando, que reúne a narração e a ação. 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 
 
 
Minkowski  define  o  agora  como  sinônimo  de  existência,  pois  existe  apenas  o 
agora,  porque o que não é  agora não existe. Não conseguimos fixar o agora, pois 
ele foge do nosso olhar, permitindo‐nos ver somente como se desdobra na nossa 
frente, dando lugar a outro fenômeno ⎯ o presente. 

O presente não é um não­agora, pois conserva em si algo dele ⎯ é um agora que 
se desdobrou. A característica peculiar desse fenômeno é quanto a sua duração e 
sua extensão, cujos limites são fluidos, flexíveis, sendo tanto o agora, como o hoje 
ou  a  época  e  fazendo  que  todas  essas  formas  pareçam  incrustarem‐se  umas  nas 
outras, mas continuando subordinadas à noção de tempo vivido. 

O presente é referência para a existência do passado e do futuro.  

O  passado  não  é  aquilo  que  desapareceu  para  sempre,  mas  é  o  que  existe  no 
passado ou o que já foi presente. 

A  forma  como  vivemos  o  passado  está  associada  à  memória,  porém,  quando 


recordamos  o  passado  este  não  se  desdobra  diante  de  nós  sob  forma  de  etapas 
sucessivas,  ele  se  dobra  sobre  si  mesmo,  condensando‐se  ao  máximo,  sem, 
entretanto,  perder  a  sua  força.  Temos,  diante  de  nós,  um  passado  concentrado, 
recolhido, do qual brota de novo o nosso impulso para o futuro. Eis aí o papel do 
passado:  abri‐nos  o  futuro.  É  o  impulso  vital  que  contém  de  uma  maneira 
primitiva,  a  noção  de  direção  no  tempo,  que  orienta  nossa  vida  em  direção  ao 
futuro. 

A atividade e a espera, o desejo e a esperança, a prece e a busca da ação ética, são 
os  fenômenos  vitais  suscetíveis  de  dar  resposta  ao  futuro,  na  medida  em  que 
constituem o fundamento e a contextura deste.  

O TEMPO E O CONHECIMENTO
As sucessivas e rápidas mudanças que vêm ocorrendo nos modos de produção 
de  bens  materiais  no  mundo  globalizado  refletem‐se  em  todos  os  setores  da 
cultura e da subjetividade. Assim, o conhecimento e a experiência humana com a 
temporalidade  modificam‐se  mutuamente,  tanto  nas  formas  de  produzir 
conhecimento como no sentido do tempo. 

No tempo da oralidade primária, a linguagem e a memória eram dois aspectos 
do mesmo fenômeno, e a organização temporal da narrativa representava o tempo 
como circular. As histórias eram contadas e recontadas, mantendo a circularidade 
das lembranças. 

A  invenção  da  escrita  rompe  com  essa  circularidade.  Inaugura‐se  um  novo 
tempo, o tempo da escrita, tempo cronológico e linear. O conhecimento sofre uma 
grande mudança, pois é separado do sujeito que o produz. 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 

A invenção do cinema trouxe uma grande mudança na perspectiva do tempo. O 
cinema  (imagem  e  som)  modifica  os  processos  de  transmissão  de  conhecimento 
dessa matriz, tradicionalmente apoiados na leitura e na escrita, a narrativa torna‐
se menos racional e mais sensorial e a organização menos precisa e mais intuitiva.  

O  modelo  de  linguagem,  narrativo  clássico,  marcou  a  história  do  cinema,  pela 
estrutura  linear  e  naturalista.  Mas  a  evolução  em  busca  de  recursos  que 
permitissem  a  expressão  de  várias  possibilidades  de  linguagem,  traçou  um 
caminho que partiu de produções com estruturas narrativas mais simples até o uso 
de tecnologia de ponta, criando efeitos especiais de imagem e novas experiências 
de linguagem. 

O cinema, baseado na simples ação, ao transformar‐se em cinema de idéias cria 
uma outra organização temporal, pois, sendo uma representação indireta depende 
da  organização  de  imagens  e  sons  para  a  expressão  da  temporalidade,  pano  de 
fundo para o desenvolvimento da narrativa.  

As  novas  tecnologias  ofereceram  os  recursos  necessários  para  que  o  tempo 
cinematográfico  rompesse  definitivamente  suas  amarras  com  a  noção  da 
continuidade temporal. 

Assim,  como  a  nossa  mente  é  capaz  de  registrar  simultaneamente 


milhares de imagens e sons e somos capazes de priorizar aquilo que nossa 
atenção seleciona, as novas tecnologias permitem que o cinema proceda 
de  maneira  semelhante,  chegando  (...)  à  materialização  do  pensamento 
em movimento.( Mourão, 2007, p. 4) 

As transformações sociais modificaram as relações do ser humano com o mundo 
e consigo mesmo, o que gerou a necessidade de estabelecimento de novos padrões 
para  a  compreensão  do  conhecimento,  das  relações  do  homem  com  seu  próprio 
mundo e, conseqüentemente, consigo mesmo.  

TEMPO, CONHECIMENTO E NARRATIVA


CINEMATOGRÁFICA
A  escolha  da  narrativa  cinematográfica  como  objeto  de  reflexão  sobre  sua 
relação  com  o  tempo  e  conhecimento  foi  motivada  pela  importância  do  cinema 
como  forma  de  criação  artística,  expressão  da  memória  individual,  coletiva  e 
histórica e “antecipação” do futuro. A estrutura inicial do texto buscou explicitar os 
fundamentos que estão na base dessa reflexão. 

O  cinema  (...)  ritualiza  em  imagens,  visuais  e  sonoras,  os  eventos  locais 
que  o  espectador  fiel  deve  recordar  ao  debruçar­se  sobre  o  passado,  o 
presente e o futuro de sua vida. (Teixeira  & Lopes, 2003, p. 10) 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 
 
 
Com  as  gravações  de  filmes  em  DVD  que  podem  ser  alugados  em  lojas 
especializadas ou adquiridos, o cinema ganhou um grande espaço nas residências, 
acrescido  ainda  pelas  “sessões  de  cinema”  veiculadas  pela  TV,  especialmente  a 
cabo,  com  canais  especializados  em  exibição  por  categorias:  infantil,  nacional, 
drama,  cult,  comédia,  suspense,  ação,  arte,  documentário,  história  e  ficção,  entre 
outras.  Os  filmes  de  longa‐metragem  foram  objeto  deste  estudo  porque  são 
narrativas,  eles  contam  histórias,  sejam  elas  baseadas  em  fatos  reais  ou  apenas 
ficção. 

Traçamos  alguns  caminhos  possíveis  de  interrogação  e  análise  dos  impasses 


contemporâneos  na  temporalidade  humana  especificamente,  pelo  conhecimento 
produzido pelas imagens e sons na narrativa cinematográfica. 

Vive‐se em uma sociedade audiovisual, em que o ser humano, na construção do 
seu  currículo  “cultural”,  conta  com  a  grande  influência  da  narrativa  imagem‐som 
para,  ao  longo  do  tempo  agregar  cotidianamente,  de  forma  mais  ou  menos 
organizada, informações, valores e saberes, propiciados pela exposição freqüente a 
esse tipo de narrativa. 

Como o discurso presente na narrativa cinematográfica faz parte da experiência 
temporal de milhões de pessoas, este influência na forma do ser humano aprender, 
sentir, julgar, pensar, conhecer e na sua relação com o tempo: presente, passado e 
futuro.  

É  importante  destacar  a  diferença  entre  assistir  um  filme  na  tela  grande  e  o 
mesmo na televisão. Ir ao cinema pode ser considerado um “evento”, pois é preciso 
sair de casa, ou do trabalho para adentrar no espaço organizado e preparado para 
a projeção do filme. Na maioria das vezes trata‐se de uma atividade compartilhada 
por  uma  ou  mais  pessoas,  pois  é  bem  menor  o  número  de  pessoas  que  vão  ao 
cinema  sozinhas  em  relação  ao  número  das  que  vão  acompanhadas.  Pode‐se 
perguntar, mas, o que este dado tão banal tem a ver com tempo e conhecimento? 

A resposta aparentemente simples é bastante complexa, portanto, neste artigo 
apresentamos  sinteticamente  alguns  aspectos  importantes  para  a  compreensão 
das relações envolvidas na presente questão.  

A  decisão  de  ir  ao  cinema  implica  na  organização  de  um  tempo  anterior  ao 
evento  que  é  preenchido  por  inúmeras  atividades,  a  partir  da  decisão  de  ir  ao 
cinema para assistir determinado filme, tais como, escolha da roupa, considerando 
o espaço de tempo entre a decisão e o horário da projeção do filme, definição de 
meio  de  transporte  para  chegar  ao  local,  contatos  com  a(s)  companhia(s)  para 
combinarem  o  encontro,  providências  necessárias  para  que  essa  ruptura  na 
organização  cotidiana  do  tempo  não  traga  problemas  de  ordem  pessoal  e/ou 
profissional. 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 

Esse tempo é preenchido por atividades que fazem parte do antes, selecionadas 
e  organizadas  para  que  um  depois  possa  acontecer,  assim,  embora  estejam 
aparentemente dentro do presente constituem parte integrante de futuro vivido, na 
concepção  de  tempo  de  Minkowski.  Compreender  isto  fica  mais  claro  quando 
entendemos  que  nosso  impulso  vital  pessoal  contém  de  uma  maneira  primitiva,  a 
noção de direção no tempo, que orienta a nossa vida em direção ao futuro.  

A  atividade  é  um  fenômeno  essencial  à  vida,  porque  tudo  que  vive  é  ativo  e  o 
que é ativo vive, faz parte do devir e não do ser, portanto trata‐se de um fenômeno 
de natureza temporal. A atividade na medida que não se deixa parar, fixar, limita‐
se ao nosso futuro imediato.  

Tão somente com minha atividade chego a criar algo, ainda que a criação 
não  esteja  ligada  de  uma  maneira  imediata  com  a  atividade.  Por  outro 
lado,  unicamente  a  obra  parece  poder  separar­se  da  atividade,  sem  ser 
absorvida por ela. (Minkowski, 1973,p.80) 

A  afirmação  anterior  ajuda  a  compreender  que  o  conhecimento  se  dá  pela 


atividade, até porque conhecer significa ir para frente, para além do ponto em que 
se encontrava, na sua compreensão, para continuar seguindo 

Entre  a  preparação  para  ir  ao  cinema  e  assistir  o  filme  existe  em  maior  ou 
menor abrangência, o tempo da espera. 

A espera é o fenômeno vital que se opõe à atividade A diferença entre esses dois 
fenômenos  é  que  na  atividade  tendemos  para  o  futuro  e  na  espera  acontece  o 
inverso:  vemos  o  futuro  chegando  té  nós  e  esperamos  que  esse  futuro  se  faça 
presente. 

A espera contém, em si mesma, um fator de brutal detenção que torna o 
indivíduo  ansioso,  como  se  o  devir  concentrado  fora  do  indivíduo  viesse 
caindo sobre ele aniquilando­o, enchendo­o de terror, frente a essa massa 
desconhecida e inesperada, prestes a engoli­lo. (Queluz, 2005,p.91) 

Independentemente  do  tipo  de  espera,  e  da  forma  como  se  espera,  trata‐se 
sempre de deixar passar certo lapso de tempo até que o esperado aconteça.  

O desejo de assistir um filme, fato gerador da ida ao cinema, constitui uma das 
dimensões temporais do futuro vivido, na zona do futuro mediato. 

No  desejo  a  atividade  é  ultrapassada,  porque  olho  mais  longe  em  todos  os 
sentidos. Quando o ser humano lança‐se no futuro movido pelo desejo, este se abre 
com maior amplitude. Como se deseja o que não se tem, deseja‐se mais do que se 
tem, e este é o sentido da vida. 

Brinco  livremente  na  água;  por  isso  traço  ao  meu  redor  uma  espécie  de 
esfera de minha atividade, com limites, que são excessivamente móveis e 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 
 
 
fluidos (para nosso pensamento espacial); ao mesmo tempo aproprio­me 
desta esfera, ao encontrar­me em contato imediato com ela. Mas percebo 
ao longe um objeto que me seduz, agora sei o que está ao meu alcance e o 
que  não  está,  e  meu  desejo,  ultrapassando  a  esfera  de  minha  atividade, 
orienta minhas forças para além dela. E a simples atividade, descuidada e 
alegre, se faz agora mais séria, mais grave, porque é dirigida pelo desejo. 
Minkowski, 1973, p.92) 

O  desejo  de  compreender,  de  aprender,  de  escrever  está  presente  no 
conhecimento. A obra cinematográfica projetada sobre a tela integra um complexo 
muito maior e mais poderoso do que ela, diferente daquele do qual ela se originou, 
enquanto obra pessoal. O complexo no qual a obra se integra, ao ser oferecida ao 
público é o devir, que por sua vez não estático, nem morto. A obra passa a integrar 
algo que é infinitamente vivo e em movimento: o mundo em sua marcha. O mundo 
segue seu caminho com ou sem a obra, entretanto esta obra consegue marca‐lo. 

Este  livro  em  que  trabalho  já  há  alguns  anos  e  que,  como  eu  o  sinto, 
contém uma parte de meu ser, uma vez terminado escapará de mim, por 
assim  dizer,  se  converterá  em  um  volume  assinado  por  Minkowski  e,  se 
tem algum valor, exercerá influência que ignoro e que provavelmente de 
maneira alguma terão estado entre os motivos profundos que me levaram 
a escreve­lo. (p.58) 

Assim  como  foi  do  “escape”  do  livro  citado  que  tirei  os  motivos  para  produzir 
esse  artigo,  que  com  certeza  não  estavam  entre  aqueles  que  geraram  o  livro  em 
questão, o espectador será influenciado na sua maneira de estar no mundo pelos 
conhecimentos  que  absorveu  do  filme,  da  forma  como  os  absorveu  e  os  utilizará 
livremente  como  desejar,  pois  ao  tomá‐los  da  obra  os  organizou  dentro  das 
categorias de tempo, que conduzem o seu caminhar rumo ao futuro. 

O impacto da narrativa cinematográfica atinge o espectador de múltiplas formas 
e em múltiplas direções. O aspecto emocional é constantemente acionado durante 
a  exibição,  causando  reações  de  riso,  choro,  entre  outras,  em  resposta  aos 
sentimentos  que  foram  gerados  no  tempo  vivido  em  que  o  espectador  a 
experimentou  medo,  alegria,  amor,  ódio,  como  se  estivesse  dentro  do  filme.  O 
aspecto cognitivo é mobilizado tanto durante a projeção como posterior a ela, pois 
pode  levar  o  espectador  a  procurar  mais  informações,  a  compartilhar  com  os 
outros  o  apreendido  e  a  construir  argumentos  a  partir  da  sua  experiência  com  o 
filme.  Este  conjunto  de  informações,  emoções,  conhecimentos  e  aprendizagens, 
aliado à experiência estética vivenciada passa e integrar o repertório humano e a 
ser utilizado pela memória, que por ser seletiva desdobrará seu rico conteúdo de 
acordo com os motivos e a busca daquele que a acessou. 

Há  uma  dimensão  temporal  importante  para  compreender  a  relação  tempo, 


conhecimento e narrativa cinematográfica, trata‐se da esperança.  

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 

A  esperança  tem  um  encanto  especial  porque  ela  abre  amplamente  o 


futuro diante de nós. Na esperança não espero nada nem para o instante 
presente, nem para o que o sucede imediatamente, mas sim para o futuro 
que  se  desdobra  por  detrás.  Liberado  das  ataduras  do  futuro  imediato, 
olho,  na  esperança,  um  futuro  mais  distante,  mais  amplo,  cheio  de 
promessas.  A  riqueza  do  futuro  se  abre  agora  ante  meus  olhos. 
(Minkowski, 1973, p.95) 

Voltando ao nosso espectador frente á tela, assistindo um filme. Ele é, durante o 
tempo  de  projeção,  o  ser  em  cuja  mente  milhares  de  imagens  e  sons  são 
registradas simultaneamente enquanto sua emoção e seus sentimentos o colocam 
nas  diferentes  dimensões  do  tempo  vivido.  Assim,  diante  de  situações  de 
desespero,  presentes  na  narrativa  cinematográfica,  o  espectador  acompanha  o 
desenrolar  da  ação,  preenchido  de  esperança  que  aquilo  que  parece  impossível 
encontre uma solução. 

Esta  experiência  trouxe‐lhe  conhecimento  especialmente  sobre  si  mesmo, 


porque  reagiu  diante  de  algo  que  lhe  pareceu  angustiante  e  que  queria  ver 
resolvido.  Aprenderia  isto  com  a  vida,  mas  a  força  da  imagem  o  colocou  em 
situação de poder ter sobre si mesmo pistas indicativas de suas formas de reação 
como também do juízo de valor que teceu a partir das situações apresentadas no 
filme.  

A  prece  é  a  dimensão  tempo  associada  a  uma  profissão  de  fé.  Caracteriza‐se 


como um mecanismo de defesa de nosso ser contra a ameaça suspensa tanto sobre 
nossa  vida  quanto  sobre  a  vida  em  geral,  e  essa  ameaça  é  tão  grande  que  não 
consegue  fugir  da  vida  senão  de  uma  forma  que  pareça  que  se  a  pode  conservar 
para o futuro. 

A prece tem sua afirmação na vida, e é por isso que quando esta parece 
estar  ameaçada  diante  da  morte,  de  calamidades,  ou  outras  razões  que 
colocam  em  perigo  o  nosso  eu,  e  a  esperança  parece  demasiadamente 
débil, oramos. (Queluz, 2005, p. 93) 

O  cinema  de  catástrofe  ou  a  dor  inerente  ao  cotidiano  age  sobre  o  espectador 
muitas vezes como anúncio do que está por vir, criando a necessidade imperiosa 
de proteger‐se daquilo que pode acontecer. O tempo da prece, não é aquele em que 
se  recita  uma  oração  decorada.  Trata‐se  da  interiorização  total  vivida  porque  na 
prece me afasto do devir, recolho‐me, penetro em mim, enfim, a prece se eleva do 
mais profundo do meu ser. 

O  conhecimento  advindo  desse  tempo,  antecipado  em  imagens,  possibilita  a 


entrada na dimensão sagrada da existência. 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 
 
 
Se  tentarmos  vincular  a  prece  a  um  fenômeno  intelectual,  encontraremos 
apenas um que tem afinidade com ela, por menor que seja: o problema. Na prece 
não afirmamos nada, não fazemos nenhuma pergunta. 

A busca da ação ética é o coroamento do futuro vivido, porque nela afastamos os 
interesses  que  constituem  a  materialidade  da  vida,  penetramos  ato  o  fundo  do 
nosso ser, apagamos os nossos próprios limites, para nos apoderarmos do melhor 
de nós mesmos. Essa tendência para a ação ética escancara o futuro diante de nós, 
sendo  a  ação  ética  um  fenômeno  que  se  impõe  por  grandeza  e  não  por  sua 
freqüência. 

Os  fenômenos  ⎯  existo,  tenho,  pertenço  a  ⎯  referem‐se,  na  mesma  ordem  às 
dimensões do tempo: atividade, desejo e busca da ação ética. 

A atividade, o desejo, a busca da ação ética parecem determinar em torno 
do  eu  vivo  três  esferas  ⎯  concêntricas,  sendo  a  segunda  delas  mais 
distante  que  a  primeira  e  englobando  a  terceira  às  duas  primeiras, 
traçando  em  torno  a  elas  um  horizonte  luminoso.  (Minkowski, 
1973,p.115) 

Na  vida,  a  perspectiva  de  nos  integramos,  por  etapas  sucessivas  a  formas  de 
vida  cada  vez  mais  vastas  e  maiores,  sem  que  por  isso  percamos  nossa 
independência  e  nossa  autonomia,  constitui  o  verdadeiro  elemento  para  o 
desenvolvimento de nossa atividade e de nosso esforço. 

A  vida  vasta  e  ampla  estende­se  agora  frente  aos  nossos  olhos.  Vastos  e 
amplos são também os problemas que ela nos coloca. Mas, também vasto 
e amplo é igualmente nosso ímpeto dirigido para eles. E com isto sentimos 
que nos engrandecemos. (p.122) 

Na  vida  caminhamos  para  o  futuro  e  para  a  morte,  que  são  dois  movimentos 
diferentes: o primeiro é o grande, o infinito e o segundo, o fechado, o limitado. 

Entre esses dois fenômenos existe uma diferença de nível; as duas forças 
não  se  encontram no  mesmo  plano. Na  realidade,  ao invés  de  dizer:  vou 
para o futuro e vou para a morte, seria mais exato dizer: a vida em mim 
vai  para  o  futuro  e  eu  vou  para  a  morte.  Esta  forma  é  mais  apropriada 
porque mostra como nos afirmamos em relação ao devir e o que a morte 
significa para nós. (Queluz, 2005,p.94) 

A  busca  da  ação  ética  permeia  as  narrativas  cinematográficas,  sendo  alvo  de 
reconhecimento,  de  gratidão  e/ou  de  algo  que  incomoda  aqueles  que  se  sentem 
prejudicados por ela. 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 

A  existência  humana  retratada  pelo  cinema  expõe  os  conflitos  entre  esses 
elementos no caminho traçado entre o nascimento e a morte, cenário de um tempo 
vivido. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tempo de duração de um filme é muito pequeno se comparado ao seu efeito 
sobre  as  pessoas.  Esse  curto  espaço  de  tempo  em  que  um  filme  é  visto  está 
duplamente  contaminado,  por  um  lado  pelas  condições  sociais  do  momento  e  do 
outro pela visão de mundo do espectador. Cada experiência originada pelo ato de 
ver  um  filme  afetará  a  maneira  como  o  espectador  verá  o  (s)  próximo(s).  O 
conhecimento resultante da experiência com a narrativa cinematográfica vai sendo 
enriquecido,  vai  definindo  escolhas,  cria  um  novo  arquivo  que  guardará  as 
preferências do espectador por astros e estrelas, gêneros, diretores, entre outras, 
assim  como  as  suas  resistências  em  relação  aos  mesmos  aspectos.  A  riqueza  de 
mistura de sentimentos, emoções, informações, sons, luzes, cores, músicas, efeitos 
especiais, pode, dependendo do significado que teve para a pessoa, acompanhá‐la 
por  toda  a  vida  como  um  marco  relacionado  a  algum  aspecto  importante  da  sua 
existência.  O  conhecimento  gerado  pela  narrativa  cinematográfica  não  pode  ser 
reduzido  ao  entretenimento,  pois  mobiliza  toda  uma  gama  de  elementos  que 
compõem  o  pano  de  fundo  sobre  o  qual  se  desenha  a  vida.  O  resultado  desse 
conhecimento não pode ser generalizado, pois ele se dá na soma de experiências, 
que influência de forma positiva ou negativa o espectador.  

O  filme  é  um  discurso  sobre  o  mundo,  conseqüentemente  ele  fala  para  um 
interlocutor.  

Por lançar mão de vivências de pessoas como conteúdo desse discurso, o 
mundo  aí  retratado  e  do  qual  ele  fala  sinaliza  estar  se  tratando  de 
homens  e coisas situados no tempo e no espaço, no passado e no futuro, 
em  um  lugar  concreto  ou  em  um  lugar  presumível.  E  ao  mesmo  tempo, 
essa comunicação que o filme propõe  ⎯ qualquer que ele seja  ⎯ oferece 
ao  interlocutor  um  testemunho  de  algo  passado  ou  um  desafio  para  o 
futuro.  De  qualquer  modo,  sempre  nos  insere  numa  realidade  que  até 
então estava ausente da vivência do interlocutor. (Rodrigues, 2003, p.44) 

A  possibilidade  comunicativa  de  um  filme  é  enorme  na  medida  em  que  não 
conta  com  apenas  uma  forma  de  linguagem,  mas,  com  várias  possibilidades 
comunicativas uma vez que os objetos óticos e acústicos podem ser transformados 
em signos, logo portadores de significação. 

As  linguagens,  tanto  orais  quanto  a  dos  objetos  e  das  ausências  se 
entrelaçam  de  modo  significativo,  unindo  os  discursos,  as  imagens,  a 
música e o silêncio. No cinema o silêncio é prenhe de significação. Ele não 
indica ausência de sinais, não representas falta. Pelo contrário, no cinema 
o  silêncio  fala,  assim  como  a  música  com  o  qual  compõe  um  ambiente 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 
 
 
discursivo  fazendo  parte  da  gramática  da  linguagem  cinematográfica. 
(46) 

Tal  qual  a  música  o  cinema  também  é  uma  arte  do  tempo,  ou  da  beleza  em 
movimento. Diferente das artes do espaço ou da beleza imóvel, quando assistimos 
um  filme,  após  o  final  da  exibição,  continuamos  ligados  àquela  vivência  da  qual 
participamos,  pois  para  compreendê‐la  desencadeamos  uma  série  de  atos  de 
memória  coordenados,  comparações  instintivas  e  contínuas  e  sucessivos  estados 
de consciência. 

O filme provoca reações no espectador que podem ser classificadas em quatro, 
por  serem  mais  freqüentes:  sensorial  que  se  explica  pelos  efeitos  psicológicos  e 
fisiológicos  intimamente  relacionados  às  imagens‐som,  havendo  associação  entre 
estas e as reações corporais; emocional quando a pessoa projeta seus sentimentos 
no filme, que pode então associar com características humanas particulares, como 
por  exemplo,  alegria,  tristeza,  raiva,  medo,  entre  outras;  imaginária­associativa 
quando  o  filme  leva  a  uma  associação  de  imagens  visuais;  objetiva  quando  o 
espectador  reage  de  forma  intelectual,  fazendo  comentários  técnicos  ou  teóricos 
sobre o filme. 

O  conhecimento  propiciado  pela  narrativa  cinematográfica  pode  ser  explicado 


por um processo que percorre um provável caminho. A pessoa ao assistir um filme 
já possui um repertório de experiências em mutação contínua, que constitui o seu 
mundo privado, do qual ele é o centro. 

Este mundo privado é denominado por Rogers de “campo fenomênico” ou 
“campo experiencial”, e inclui tudo o que é experienciado pelo organismo, 
sejam  estas  experiências  percebida  conscientemente  ou  não.  (Queluz,  A. 
G., 1984, p.11) 

A  pessoa  reage  ao  estímulo  da  forma  como  o  vivencia  e  o  percebe,  assim,  o 
impacto  da  narrativa  cinematográfico  é  pessoal  e  está  relacionado  às 
características do indivíduo. 

O  ato  de  conhecer  pode  ser  explicado  pelo  processo  que  ocorre  quando  a 
narrativa  cinematográfica  traz  para  a  pessoa  um  conjunto  de  imagens‐ação 
inicialmente  sem  significado  para  ela  e  que  no  transcorrer  da  projeção  vai 
tornando‐se familiar e finalmente adquire significado. A narrativa cinematográfica 
ao  produzir  textos  que  representam  o  pensamento  e  o  tempo  que  se  tornaram 
visíveis  e  sonoros,  materializados  em  imagens‐ação,  constitui‐se  em  uma  força 
externa  ao  sujeito  que  torna  significativos  conhecimentos  até  então  não 
percebidos.   

As  imagens  sobre  o  futuro  veiculadas  pelo  cinema  já  fazem  parte  do  nosso 
repertório  do  presente  e  embora  realmente  não  possamos  ter  acesso  a  ele,  já 
penetramos  nele,  nas  suas  múltiplas  dimensões,  conhecemos  os  andróides  e  seu 

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GARCIA, A.; Vasconcelos, M. (2007) Tempo e conhecimento: narrativa cinematográfica. 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento. 
Évora: Universidade de Évora. 

comportamento,  os  anjos  em  suas  passagens  pela  terra,  os  seres  de  outros 
planetas,  o  planeta  destruído  pelas  próxima  guerra,  vivemos  o  último  dia  do 
mundo e também do day after, enfim a magia do cinema que nos seduz e nos tira 
da  mesmice  do  cotidiano,  nos  coloca  em  contato  com  todo  tipo  de  gente, 
comportamento  e  situação.  Fica  tudo  exposto  á  nossa  escolha  e 
independentemente de quem somos traremos para o self aquilo que responde aos 
nossos impulsos, tendências e formas de estar no mundo. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Minkowski, E. (1973). El Tiempo Vivido. México: Fondo de Cultura Economica. 

Mourão,  M.  (2007).  O  Tempo  no  Cinema  e  as  Novas  Tecnologias. 


http:/www.ciênciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v54n2/14810.pdf.  Acesso  em: 
12/04/2007. 

Queluz,  A.  (2007).  A  Questão  da  Temporalidade  na  Educação.  In  Fazenda,  I.  A 
Pesquisa  em  Educação  e  as  Transformações  do  Conhecimento.Campinas: 
Papirus. 

___________  (1984)  A  Pré  Escola  Centrada  na  Criança  –  Uma  Influência  de  Carl  R. 
Rogers. São Paulo: Pioneira. 

Rodrigues,  N.  (2003).  Adeus,  meninos:  um  discurso  contra  o  esquecimento.  In 
Teixeira,  I.  A.  C.  &  Lopes,  J.  S.  M.  (2003)  A  Escola  vai  ao  Cinema.  Belo 
Horizonte: Autêntica. 

Teixeira, I. & Lopes, J. (2003) A Escola vai ao Cinema. Belo Horizonte: Autêntica. 

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