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LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas
no contexto nacional. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade
do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
estamos a tratar. Sem dúvida que a contra argumentação é conhecida: os
formandos em Ciências Geográficas estudam Estatística, descritiva e inferencial, e
aplicam no quadro das matérias associadas aos Sistemas de Informação Geográfica
e Teledetecção Remota instrumentos que poderíamos classificar de numéricos. Não
contesto esta afirmação. E não contesto porque ela é verdadeira. No entanto, algo
de mais profundo se move no meio desta discussão. A ausência de um domínio
eficaz de técnicas fundamentais de cálculo por parte dos estudantes e licenciados
em Geografia limita, como iremos ver em parte posterior, a compreensão e a
exploração de modelos sofisticados de base espacial.
Por outro lado, o domínio de uma determinada linguagem possibilita uma
abertura quer metodológica, quer teórica a outros campos das Ciências Sociais. A
verdade é que a Matemática constitui, entre outras coisas, uma “linguagem franca”
entre as diferentes ciências. Deste modo, o próprio poder de diálogo com
especialistas de outras matérias, é ampliado pelo simples domínio de uma
linguagem baseada na lógica.
Assim, abrem‐se portas para um debate que consideramos de todo necessário e
urgente. Até que ponto deveremos ignorar os desafios que nos são colocados por
outras ciências sociais, no momento em que estas se interessam, de um modo
crescente, por domínios que suponhamos, até há pouco tempo, serem do exclusivo
estudo dos Geógrafos.
A nossa resposta pode ser pautada por duas atitudes distintas: um aceitar do
actual status quo que, no meu entender é penalizante e limita a nossa participação
no debate de determinadas matérias; um empenho renovado na ampliação das
nossas capacidades de domínio da linguagem da lógica, que nos poderá conduzir a
2
Ver por exemplo Porter, 1990.
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LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas
no contexto nacional. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade
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um reforço da nossa presença no debate científico em áreas que são,
indiscutivelmente, do nosso interesse quer temático, quer metodológico, quer,
ainda, conceptual.
Sem dúvida que é a segunda atitude que deve balizar e orientar a nossa possível
resposta aos desafios da interdisciplinaridade. O espaço, realidade geográfica por
excelência (quanto mais não seja, porque é nele que se inscreve a variável crucial
representada pela distância) é, nos dias de hoje, um campo aberto ao diálogo, que
se pretende profícuo, entre diferentes Ciências: Geografia, Economia, Sociologia,
Antropologia, entre outras.
Do ponto de vista histórico, a Geografia construí o seu corpo fundamental de leis
e modelos, num intervalo temporal relativamente reduzido. Entre 1930 e 1970,
assistiu‐se, sobretudo na corrente a que poderíamos designar de Anglosaxónica,
um esforço continuado e consistente de institucionalização de um corpo teórico
para a Ciência Geográfica, baseado em Modelos, suportados nos princípios do
método lógico‐dedutivo.
Não surpreende, portanto, que, nos dias de hoje, nos países onde aquela
corrente de pensamento mais se afirmou e popularizou, se encontre uma
preocupação concreta com a quantificação e modelização. Estas preocupações são
bem expressas nos currículos de diversos planos de estudo de Geografia. De
alguma forma trata‐se de continuar uma tradição de pensamento e análise que
encontra as suas raízes na Escola Alemã de Localização, iniciada por Von Thunen e
continuada por cientistas sociais como Weber ou Christaler.
É para esta linha de pensamento que o livro aponta. Assim, iremos apresentar e
discutir, recorrendo a exercícios, algumas ferramentas essenciais da Matemática
para as Ciências Sociais, onde se inclui a Geografia.
A presente comunicação encontra‐se dividida em três partes fundamentais: nas
duas primeiras, apresentaremos as causas desta separação entre a Matemática a e
Geografia e discutiremos algumas limitações decorrentes deste distanciamento. Na
terceira eúltima parte, procederemos à apresentação algumas técnicas básicas que,
no nosso entender, poderiam constituir a base para a elaboração de uma disciplina
ou curso livre de Matemática destinado a alunos do 1º Ciclo de Geografia. Assim, a
nossa comunicação encerra uma componente de aplicação muito visível dado
sermos partidários de um ensino que recorra, sempre que possível, ao caso prático,
que ilustre e demonstre o porquê de determinada regra, princípio, modelo ou
teoria.
CAUSAS DO DIVÓRCIO
Para melhor se entender o porquê desta realidade, importa proceder a um
recuo no tempo, nomeadamente, constitui tarefa relevante atentar na evolução pós
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no contexto nacional. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade
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II Guerra Mundial da Ciência Geográfica3. Após décadas em que o pensamento
geográfico foi dominado por uma Escola a que se atribuiu o nome de “Possibilista”4,
verificaram‐se importantes mutações nos “modos de fazer geografia” a partir dos
anos cinquenta. Esta mudança ocorre em primeiro lugar nos países anglo‐
saxónicos e, só mais tarde, se estenderá a até então claramente sob a influência do
Possibilismo Geográfico.
Porquê esta mudança de paradigma? É importante ter em consideração que a
Escola Possibilista, ela própria, havia surgido como forma de contestação aos
exageros grosseiramente deterministas (Orlando Ribeiro) dos discípulos de
Friedrich Ratzel5. A uma escola imbuída de preocupações generalistas (o
Determininsmo Geográfico), opôs‐se uma linha de pensamento radicada no único e
na diferenciação. Assim, para os autores possibilistas, interessava a divisão6, isto é,
buscar as razões da segmentação de espaços vastos em regiões mais ou menos
homogéneas.7
Não surpreende, deste modo, que uma das frases célebres do, talvez, mais
importante autor desta escola seja, “no que toca à actividade humana, tudo é
contingência” (Vidal de la Blache).8 Assim, é na contingência e no aproveitamento
diferenciado do quadro natural oferecido pelo ambiente que envolve as
comunidades que esta escola encontrou o seu principal campo de trabalho.
Publicam‐se sínteses regionais que permitem estruturar uma interpretação dos
fenómenos perenes que caracterizam um determinado território. Aqui
empregamos a palavra “perene” porque, como iremos ver mais adiante, é neste
elemento que se encontrará uma das diferenças importantes entre o Possibilismo e
a designada Nova Geografia.9
Neste contexto, como explicar, então, a crítica e a procura de novos rumos para
a Ciência Geográfica?
3
Ver por exemplo Johnston (1991) e Claval (1995).
4
Onde pontuou o nome de Vidal de la Blache, grande mestre da Escola Francesa de Geografia.
5
Friedrich Ratzel escreveu uma obra crucial para a autonomia da Ciência Geográfica: Antropogeografia. Entre
os seus sucessores talvez os nomes mais conhecidos sejam os de Ellen Semple e Huntington.
6
Ver, por exemplo, a importante obra “Le Tableau de la Géographie de la France” de Paul Vidal de la Blache.
7
Aqui merece destaque sem dúvida o grande mestre da Geografia Portuguesa, Orlando Ribeiro, que conduziu
alguns trabalhos de notável interesse e, até, intrínseco valor literário. Veja‐se, por exemplo, a belíssima
descrição do Portugal dos anos quarenta, contida no clássico “Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico”. Sem
surpresa, esta obra é citada em estudos superiores de literatura portuguesa.
8
Sugerimos a leitura atenta da grande obra “Princípios de Geografia Humana” de Vidal de La Blache. Existe
uma edição portuguesa com tradução de Fernandes Martins.
9
Ver, por exemplo, o ensaio “A Nova Geografia” de Paul Claval (edição da livraria Almedina, Coimbra, 1982)
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onde se procurou introduzir a variável distância (a distância constitui a
“variável geográfica” por excelência). Neste contexto importa mencionar,
por exemplo, os modelos baseados na lei da Gravitação Universal, com
destaque para os estudos de Reilly.
2. A progressiva insatisfação com uma geografia “sem modelos” ou
princípios explicativos gerais. Se a procura da diferença, do único, do que
é irrepetível, representa a busca do Possibilismo, então encontra‐se
comprometida a tarefa de delinear um quadro de leis que pudessem
alcandorar a Geografia a um estatuto de Ciência dotada de um corpo
teórico próprio.
3. Um entusiasmo renovado pela necessidade de “previsão”, isto é, após o
término da Segunda Guerra, foi necessário lançar mãos à enorme tarefa
de reconstruir um continente em ruínas. A programação de base espacial
encontrou aqui um campo fértil para o desenvolvimento e
experimentação.
4. A tomada de consciência de que o tradicional campo de análise da
Geografia Possibilista – os elementos perenes da paisagem, como as
formas de povoamento e de agricultura – já não permitiam captar com
eficácia as novas formas de organização do espaço, onde a indústria e os
serviços marcam presença dominante. É neste sentido, que se pode
afirmar que a Escola Possibilista era, acima de tudo, uma Escola de
Geografia Cultural, no mais amplo sentido da palavra.
Assim, nos anos cinquenta uma “revolução” está em marcha10. A este novo
paradigma dar‐se‐á o nome de Nova Geografia ou Escola Quantitativa. Estes dois
termos traduzem, por um lado, uma ideia de mudança e de novidade e, por outro, a
noção de que é preciso introduzir a linguagem da lógica (leia‐se a Matemática) nos
estudos geográficos.
Deste modo, os quinze anos seguintes assistiram a um triunfo desta escola
quantitativa da Geografia. Duas obras podem considerar‐se como emblemáticas
desta nova abordagem aos problemas espaciais: “Models in Geography” de Richard
Chorley e Peter Haggett e “Locational Analysis in Human Geography” de Peter
Haggett, Andrew Cliff e Allan Frey11. Ambas as obras constituem uma súmula do
progresso efectuado pela Geografia rumo ao estabelecimento de um corpo teórico
autónomo, pautado pela presença de modelos, onde é visível a forte presença da
matemática. Por outro lado, ficam evidentes as ligações entre a Nova Geografia e a
10
Indispensável para compreender este movimento é a leitura de “Exceptionalism in Geography: a
methodological examination” de F. Schaefer, Annals of the Association of American Geographers, 43, 1953. De
interesse é também a compreensão do debate Hartshorne/Schaefer após a publicação deste artigo
fundamental para a Geografia Quantitativa. Ver, por exemplo, o texto de Francis Harvey e Ute Wardenga: “The
Hettner‐Hartshorne connection:reconsidering the process of reception and transformation of a geographic
concept”, revista Finisterra,XXXIII, 65, 1998, pp 131‐140.
11
Esta última referência corresponde à segunda edição (revista e ampliada) da obra, com o mesmo título,
publicada por Peter Haggett em 1965.
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Economia12 e, em particular, é muito apreciável a influência exercida pelos estudos
de Economia Espacial.13
12
Neste contexto, aconselha‐se a leitura atenta da obra “Geography and Economics” de Michael Chisholm.
13
Para uma síntese de modelos de economia espacial ver “Desenvolvimento Regional” de António Simões
Lopes.
14
Ver, por exemplo, “Trás‐os Montes” de Silva Telles, “Cartas Elementares de Portugal” de Barros Gomes e a
“Geografia de Portugal” de Amorim Girão.
15
Chama‐se a atenção para o facto de que a História e a Geografia aparecerem associadas nos currículos
universitários durante parte inicial do Século XX.
16
A obra científica de Orlando Ribeiro é vastíssima, pelo que qualquer lista de obras seria redutora. Aconselha‐
se a visualização do site http://www.orlando‐ribeiro.info/en/bibliografia/1971_1980.htm, com a bibliografia
científica do autor. Por outro lado, poderíamos destacar as seguintes obras: “Portugal, o Mediterrâneo e o
Atlêntico”, “Mediterrâneo, Ambiente e Tradição”, “Geografia de Portugal” (integrada na colecção dirigida por
Manuel de Téran), “Atitude e Explicação em Geografia Humana”, “Iniciação em Geografia Humana”, “Geografia
e Civilização”, “Introdução ao estudo da Geografia Regional”.
17
Entre os discípulos de Orlando Ribeiro merecem destaque os nomes de Raquel Soeiro de Brito (ver, por
exemplo, o notável estudo “Lisboa, esboço geográfico” e Carlos Medeiros (ver trabalho sobre os planaltos de
Huila ‐ Angola). Raquel Soeiro de Brito irá, posteriormente, associar o seu nome à criação da primeira
licenciatura em Portugal orientada, de forma sistemática, para os problemas do ordenamento do território.
Esta geógrafa será a directora do Departamento de Geografia e Planeamento Regional da Universidade Nova
de Lisboa, que se assumiu como uma primeira experiência de ensino superior orientado para o planeamento e
ordenamento do território.
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que, um pouco por toda a parte18, se desenhavam na Geografia Europeia e
Norte‐Americana.19
Face ao que antecede podemos, então afirmar, que a Escola de Geografia
Portuguesa se inseriu num movimento mais vasto, correspondente a uma visão
regional da prática da ciência geográfica Este padrão científico de produção
intelectual ir‐se‐á manter até aos anos setenta. A noção de contra ciclo surgirá
ainda com mais nitidez se pensarmos nos dois seguintes factos:
a) As primeiras críticas à Nova Geografia, surgem logo nos anos sessenta20,
embora as correntes mais estruturadas, que apelavam a uma consciência
das limitações da abordagem quantitativa, apenas ganhassem corpo nos
primeiros anos da década seguinte21. Entre outros aspectos, critica‐se
fortemente a noção de homo oeconomicus, ser dotado de um poder
absoluto de recepção e tratamento de informação e com uma capacidade
perfeita de previsão22. Abre‐se, assim, espaço a novas abordagens às
questões espaciais e à análise do comportamento dos agentes decisores.
b) A primeira obra (que podemos caracterizar como sendo “de fundo”) de
um geógrafo português alicerçada nos princípios da Escola Quantitativa
surge, precisamente, nos princípios dos anos setenta.23 O seu autor (Jorge
Gaspar) é, sem dúvida, o mais influente geógrafo português dos anos
setenta e oitenta. Este estudo apresenta duas características que o
tornam, desde logo, um trabalho de enorme alcance:
b.1.) O tipo de análise: trata‐se claramente de um trabalho que busca
integrar na Escola de Geografia Portuguesa, os princípios analíticos
característicos da Nova Geografia;
b.2.) O autor retoma no seu trabalho um dos modelos mais clássicos da
Geografia, correspondente à Teoria dos Lugares Centrais.24 Assim, o
começo da difusão da Escola Quantitativa em Portugal, iniciou‐se
sob os auspícios de um trabalho que revisita um dos modelos mais
elegantes e elaborados da Ciência Espacial.
18
Aconselha‐se a leitura de dois periódicos de referência, como forma de acompanhar os debates que se
desenrolaram no seio da Ciência Geográfica desde os anos setenta: “Progress in Geography”/”Progress in
Human Geography” (língua inglesa) e “L’Espace Géographique” (língua francesa).
19
Para uma interessante síntese da epistemologia da Geografia ver Pimenta, José Ramiro (1996) “Geografia e
Arqueologia: uma epistemologia comparada”, Livraria Figueirinhas, Porto.
20
Ver texto de Julian Wolpert, ”The decision process in a spatial context”, publicado em 1964.
21
Vejam‐se as denominadas Corrente Marxista e Corrente Humanista da Geografia. Nomes como Yi‐FuTuan e
David Harvey (anteriormente um entusiasta da Nova Geografia), ganham particular relevo enquanto críticos
dos estudos excessivamente quantitativos.
22
Como refere José Pimenta «existe um diferencial entre a optimização e a decisão efectiva, que releva do
ambiente económico e social do agente decisor” (cf. Pimenta, 1996:91)
23
Gaspar, Jorge (1972) “A Área de Influência de Évora”, CEG, Lisboa, 2ª edição, 1981.
24
A teoria de Christaller, tem sido apontada como um dos melhores exemplos de um Modelo especificamente
“geográfico”, no que concerne quer à conceptualização, quer ao tipo de raciocínio explicativo.
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Que podemos concluir destas observações? No essencial julgamos ser
importante tecer duas considerações fundamentais:
• Existe claramente um desfasamento entre o debate na Ciência Geográfica
que era praticado em Portugal e aquele que se desenrolava na Europa e
América do Norte. De certa forma, Portugal “perde um comboio” de
inovação metodológica e conceptual, ao não divulgar e aprofundar as
novas correntes de pensamento que caracterizaram a Geografia a partir
dos anos cinquenta;
• Uma das causas deste desfasamento, ou se se quiser deste desligar das
novas correntes epistemológicas, deriva da ausência de produção
científica de base geográfica, com uma orientação matemática. É também
neste sentido que o trabalho de Jorge Gaspar se afirma pela sua
originalidade e desafio face ao padrão então dominante na Geografia
Portuguesa.
A partir dos anos oitenta, a Escola de Geografia Portuguesa irá orientar‐se para
trabalhos em diferentes áreas, com diferentes abordagens e acompanhando de
perto a produção intelectual que se vai fazendo um pouco por toda a Europa e
América do Norte25. No entanto, irá permanecer em aberto o problema da ausência
de uma produção sistemática de estudos espaciais com uma forte componente de
demonstração quantitativa26.
Existem, assim, determinadas limitações para a ampliação do leque de opções
de investigação e de prática profissional postas à disposição do licenciado em
Geografia.27
Será este o assunto da próxima parte da presente comunicação.
25
Para uma visão aprofundada da evolução da Ciência Geográfica ver o texto clássico de Horácio Capel
“Filosofia y ciência en la Geografia contemporanea” (edições Barcanova, Barcelona, 1981).
26
A difusão do ensino e investigação nas áreas dos Sistemas de Informação Geográfica e de Teledetecção
Remota, representam um bom sinal de alteração neste cenário. No entanto, continua a verificar‐se a ausência
de um ensino com uma componente matemática mais profunda e, em consequência, a manutenção de
determinadas limitações à produção sistemática de conhecimento de base quantitativa.
27
Sobre este assunto ver a Dissertação de Mestrado (escrita em 1996/1997) do autor desta comunicação e que
é, precisamente, dedicada à análise do padrão de inserção profissional do Geógrafo Português.
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a) Ambiente e recursos naturais
b) Planeamento e Ordenamento do Território
c) Sistemas de Informação Geográfica e Teledetecção
d) Desenvolvimento
As quatro áreas acima mencionadas correspondem a campos de especialização
científica e profissional que, quer do ponto de vista histórico (ver Sistemas de
Informação Geográfica e Ordenamento do Território), quer mais recentemente,
têm assumido relevância enquanto mercados para licenciados em Geografia.
Assim, iremos discutir as limitações decorrentes do não domínio de algumas
ferramentas matemáticas essenciais no que concerne à integração científica e
profissional de Geógrafos nas áreas temáticas previamente assinaladas:
• Ambiente e recursos naturais28
Neste caso importa referir a participação potencial em estudos de impacte
ambiental, fazem uso de ferramentas matemáticas como a Análise InputOutput e o
Cálculo Integral. Ver como exemplo o cálculo e manuseamento de Funções como o
Dano Social Marginal, o Dano Marginal Privado.
• Planeamento e Ordenamento do Território
Aqui devemos mencionar que, nos dias de hoje, a perspectiva incide sobre a
denominada “Nova Gestão do Território” que faz apelo, entre outras questões, a
um sólido domínio da denominada Matemática Financeira. Ver como exemplo o
Valor Actualizado Líquido e a Taxa Interna de Retorno. Por outro lado, a
programação de investimentos, questão essencial na Nova Gestão do Território,
também requer o domínio de algumas ferramentas associadas à Matemática
Financeira.
• Sistemas de Informação Geográfica e Teledetecção
Para uma perspectiva global sobre este assunto ver, por exemplo, Field and Field – Environmental
28
Economics: an Introduction.
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Neste ponto a questão essencial prende‐se com a capacidade de elaborar e
interpretar algoritmos, de modo a permitir uma melhor e mais completa
valorização dos conhecimentos dos licenciados em Geografia.
• Desenvolvimento
Não será certamente por acaso que várias obras de introdução ao Cálculo29
abordam, precisamente as cinco questões seguintes:
a) Funções
b) Limites de Funções
c) Cálculo Diferencial – introdução ao estudo das derivadas
d) Derivadas parciais
e) Introdução ao Cálculo Integral
Obras com um desenvolvimento um pouco maior já apresentam uma primeira
abordagem à análise dinâmica – Equações Diferenciais e Equações às Diferenças.30
Note‐se que as obras que estamos a referir como exemplos podem enquadrar‐se
em três grandes categorias:
1. Livros de introdução ao Cálculo
Ver por exemplo Livro de Medeiros et alli.
2. Livros de Cálculo com uma preocupação específica com ferramentas úteis
para as Ciências Sociais
Ver por exemplo Livro de Verónica Orellano, Sérgio Bobik e Márcio Braga
3. Livros de Cálculo orientados especificamente para as aplicações no contexto
das Ciências Sociais
Ver por exemplo Livro de Afrânio Murolo e Giácomo Bonetto, Livro de Teresa
Bradley e Paul Patton e Livro de Ian Jacques.
29
Ver por exemplo os livros de Medeiros et alli Cálculo Básico para Cursos Superiores e de Lilia Veras –
Matemática Aplicada à Economia
30
Ver livro de Paul Patton e Teresa Bradley – “Essential Mathematics for Economics and Business”
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Em todos os casos, os autores mostram preocupações com a aprendizagem e de
ferramentas essenciais de cálculo matemático e com a respectiva aplicação. Neste
contexto poderíamos destacar, pela qualidade pedagógica os livros de Teresa
Bradley e Paul Patton e de Afrânio Murolo e Giácomo Bonetto.
a) Funções
b) Derivadas
c) Limites
d) Integrais
Em todos os quatro assuntos principais abordados existe uma clara
preocupação com as aplicações a problemas de Ciências Sociais.
A obra dos dois professores irlandeses – “Essential Mathematics for Economics
and Business” apresenta uma estrutura mais completa, dado incluir outros
assuntos, como sejam a análise dinâmica – Equações Diferenciais e Equações às
Diferenças – a matemática financeira e a álgebra matricial como ferramenta
essencial de apoio à análise input‐output.
Deste modo, poderemos concluir que uma obra destinada a Geógrafos deverá
incluir duas áreas fundamentais da Matemática, a saber:
• Cálculo, incluindo estudo de funções, derivadas e integrais e respectivas
aplicações;
• Álgebra31, incluindo álgebra matricial e respectivas aplicações.
As duas componentes acima mencionadas, permitirão àqueles que se dedicam à
produção de Conhecimento Geográfico, alargar o quadro de análises efectuadas e,
em simultâneo, reforçar o posicionamento da Geografia Portuguesa, no âmbito de
novas e prometedoras correntes, como seja a denominada Nova Geografia
Económica.
Neste ponto, importa mencionar que o facto de uma das áreas com maior
desenvolvimento recente no quadro da Geografia, exigir um domínio apreciável de
ferramentas de Cálculo – a acima mencionada Nova Geografia Económica – deve
constituir fonte de preocupação mas também de desafio.
Na parte seguinte, desenvolveremos uma pouco mais em pormenor, quais as áreas pertencentes ao Cálculo e
31
à Álgebra que deverão ser abordadas num Curso Introdutório de Matemática para estudantes de Geografia do
Ensino Superior.
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De preocupação, uma vez que consideramos fundamental para a Geografia
Portuguesa não “perder o comboio” da novidade e da inovação metodológica e
temática; de desafio, porque julgamos estar perfeitamente ao nosso alcance a
participação activa nestas novas perspectivas de análise e debate. No ponto
seguinte iremos apresentar, de forma sucinta e em face das considerações
anteriores, o que poderia constituir um programa científico comum de
matemáticas para a geografia. Teremos como ponto de partida, várias obras
disponíveis no mercado livreiro e que são dedicadas à explanação de métodos
matemáticos essenciais para a área vasta das Ciências Sociais.
FERRAMENTAS ESSENCIAIS
Uma leitura cuidada de obras gerais dedicadas à apresentação e análise aplicada
de ferramentas matemáticas para as ciências sociais, permitem‐nos seleccionar o
seguinte grupo de técnicas quantitativas com especial interesse:
I ‐ Funções
a) As operações matemáticas fundamentais
b) Conceito de Função
c) Tipos de funções – breve introdução
d) Função do primeiro grau
e) Função do segundo grau
f) Função Logarítmica
g) Função Exponencial
h) Função Inversa
i) Função Racional
j) Aplicações
II – Introdução ao Cálculo Diferencial
a) O conceito de derivada
b) Regras fundamentais de derivação
c) Derivada da função composta – regra da cadeia
d) Derivadas e limites de funções
e) Aplicações
III – Derivadas Parciais
a) Conceito de derivada parcial
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no contexto nacional. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade
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b) Técnicas de derivação parcial
c) Aplicações
IV – Cálculo Integral
a) O conceito de integral
b) Integral indefinido
c) Integral Definido – Soma de Riemann
d) Regras básicas de integração
e) Integração por substituição
f) Integração por partes
g) Aplicações
V – Análise Dinâmica
a) Introdução às equações diferenciais
b) Introdução às equações às diferenças
c) Aplicações
VI – Álgebra Matricial
a) Conceitos fundamentais
b) Técnicas básicas
c) Determinantes
d) Inversão de Matrizes
e) Aplicação – a análise input‐output
VII – Matemática Financeira
a) Conceitos fundamentais
b) Introdução às principais aplicações
Pretende‐se que o domínio destas técnicas possibilite o estudo aprofundado do
Conceito e, em simultâneo, desenvolva a capacidade de alargar a aplicabilidade
desse mesmo conceito a n casos, ou seja, falamos aqui do elemento crucial
correspondente à construção do Modelo. Pensamos que no actual contexto
mundial GLOBALIZANTE, (citamos aqui as interessantíssimas “Questões de
Partida” do Congresso), a maior afirmação da Geografia Portuguesa dependerá, em
parte não negligenciável, da adopção de métodos de análise com maior
incorporação de matemática. Assim, importa adicionar ao tradicional domínio das
ferramentas de estatística, uma sólida preparação matemática, com particular
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ênfase, no Cálculo e na Álgebra32. Deste modo, o reforço das técnicas de análise
possibilitarão o alargamento do quadro explicativo das grandes tendências de
globalização económica que se observam nos dias de hoje. Não devemos esquecer
que ao conceito de Globalização se encontra acoplado o conceito de Fluxo e que
este último encerra uma forte componente quantitativa. Para a sua interpretação é
imprescindível dominar uma linguagem científica comum, correspondente à
Matemática. Como exemplo de construção de modelos de base geográfica, com
aplicação de instrumentos de cálculo, poderíamos citar os interessantes trabalhos
de Paul Krugman, Anthony Venables e Masahisa Fujita, no quadro da Nova
Geografia Económica.
CONCLUSÕES
Chegados a este ponto da reflexão, cumpre questionar qual será, então, a
perspectiva essencial que defendemos, no que respeita ao interrelacionamento
entre estas duas ciências – Geografia e Matemática. Acima de tudo, e tendo em
consideração as Questões de Partida definidas para este Congresso, julgamos que
o princípio básico radica nas noções de Modelo e de Modelização. De facto, é,
também, na capacidade de produzir quadros interpretativos de uma determinada
realidade que uma Ciência se pode afirmar como tal. E as Ciências Sociais, como a
Geografia e a Economia, não fogem a esta regra. Conforme demonstrámos em parte
anterior da comunicação, o desenvolvimento da Ciência Geográfica em Portugal
sofreu, a partir de certo ponto, com a ausência de capacidade de produzir modelos
lógico‐dedutivos, à semelhança do que se ia fazendo na Europa Anglo‐Saxónica.
O Conhecimento produzido no âmbito de uma Ciência com uma importante
componente corográfica, como é o caso da Geografia, terá sempre de atender ao
concreto, ao específico, ao pormenor local. No entanto, é fundamental não perder
de vista a capacidade de criar hipóteses explicativas generalistas, que se exprimem
32
Veja‐se a este propósito, e como mero exemplo demonstrativo, que grandes referências bibliográficas no
âmbito do Desenvolvimento Regional, como sejam a obra do Professor Simões Lopes ou o Compêndio de
Ciência Regional (editado pela APDR) fazem, precisamente, apelo ao domínio daquelas duas ferramentas
matemáticas. Se pensarmos que o Desenvolvimento Regional constitui uma área de particular interesse para a
Geografia, julgamos que os princípios por nós defendidos ganham maior lógica e relevância.
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no contexto nacional. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade
do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
sob a forma de um Modelo lógico‐dedutivo33. Julgamos, assim, que o reforço das
interligações entre as duas disciplinas trará benefícios para os dois campos de
Conhecimento Científico: do lado da Geografia, temos a possibilidade de
construir/definir princípios explicativos globais, alicerçados numa interpretação
da realidade vivida e analisada ao detalhe. Na perspectiva da Ciência Matemática,
encontramos um novo campo para testar ferramentas e verificar a sua
aplicabilidade mais universal.
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33
Sobre a construção de Modelos ver, por exemplo, a obra de Teresa Bradley e de Paul Patton.
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