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I Levantamento Sobre Drogas de Rio Branco - Acre
I Levantamento Sobre Drogas de Rio Branco - Acre
Proerd Acre: Primeiro Levantamento sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Coleção: Proerd Acre
© Polícia Militar do Estado do Acre
Idéia Original/Produção/Execução: Diretoria de Ensino e Instrução da PMAC
Pesquisadores Responsáveis:
Sd PM Reginâmio Bonifácio de Lima – Historiador e Mestre em Linguagem e Identidade
Sd PM Antônio Rodrigues de Souza – Letras Português/Espanhol e Especialista em Psicopedagogia
Gestor José Luciano Sousa de Araújo – Sociólogo e Pós-Graduando em Segurança Pública
Auxiliar Técnico:
José Leandro Lima Silva Filho – Pedagogo
Colaboradores:
Irenilza Gomes Cavalcante
Lenilde Oliveira Silva
Regiglenis de Lima Carneiro
Thaylinne Cavalcante de Andrade
Supervisão:
Cel. José Anastácio dos Reis (primeira fase – 2007)
Maj Maria do Perpétuo Socorro F. de Souza (segunda fase – 2008)
Parceria:
Secretaria de Estado de Educação
Secretaria Municipal de Educação
Secretaria de Segurança Pública
1ª Promotoria de Justiça Cível - MPE
Juizado da Infância e da Juventude
Câmara Municipal de Rio Branco
Conselho Tutelar de Rio Branco
Escolas Pesquisadas
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
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Polícia Militar do Estado do Acre
PREFÁCIO
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
aos malefícios causados pelas drogas. Esperando que esses jovens formados sejam multiplicadores
de valores, noções de cidadania, técnicas e conhecimentos capazes de conscientizar outros jovens.
Atualmente, o Proerd é desenvolvido em mais de 56 países e cerca de 35 milhões de
crianças, por ano, têm instrução com policiais proerdianos. O Programa foi incorporado às
atividades da PMAC em 1999. Desde então, nossos valorosos proerdianos já formaram mais de
53.600 alunos. Hoje, o Proerd é, certamente, o principal programa preventivo de que temos notícia
em nosso Estado.
Diante dos fatos, a Coordenação do programa Proerd, através de seu quadro de policiais,
percebendo a necessidade de verificação da eficiência e eficácia do programa, que já existe há quase
10 anos no Acre, resolveu indicar o Policial e Mentor Proerd Reginâmio Bonifácio de Lima e o
policial e Instrutor Proerd Antônio Rodrigues de Sousa para efetuar uma pesquisa sobre os a
importância do Proerd para a sociedade acreana, sua eficiência, eficácia e influência na vida dos
adolescentes.
O resultado da mesma foi satisfatório para esta instituição, não havendo interferência direta
ou indireta nos resultados. Percebemos, para nossa altivez, que o programa é eficiente e estamos, a
partir dos resultados da pesquisa, buscando a nossa eficácia. Descobrimos muitos pontos positivos
em nossa atuação e alguns pontos a crescer.
Queremos convidar a todos vocês para continuarem em nossas páginas e serem bem
vindos em nosso programa, contribuindo, assim, efetivamente para que nossas crianças e
adolescentes estejam realmente de bem com a vida.
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Polícia Militar do Estado do Acre
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 08
PRIMEIRA PARTE
Capítulo I
CONHECENDO O PROGRAMA PROERD DA 4ª SÉRIE ............................... 18
BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS E FORMAÇÃO POLICIAL ................................... 18
As lições do Proerd .......................................................................................................................... 20
Objetivo do Proerd da 4ª série ....................................................................................................... 22
CRITÉRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO CURSO PROERD ................................. 24
Metas e Objetivos ............................................................................................................................ 25
Capítulo II
OS ADOLESCENTES E AS DROGAS ................................................................ 27
ADOLESCÊNCIA E COMPLEXIDADES .................................................................................. 27
A adolescência: uma breve analise bio-sociológica ...................................................................... 27
A Educação e o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA ................................................... 30
Adolescentes, Pais, Educadores e Prevenção às Drogas .............................................................. 33
Noções preliminares sobre drogas ................................................................................................. 38
As drogas mais comumente utilizadas no Brasil .......................................................................... 42
Capítulo III
LITERATURA ESPECIALIZADA SOBRE DROGAS E ADOLESCÊNCIA . 47
ARTIGOS ........................................................................................................................................ 47
SEGUNDA PARTE
Capítulo IV
PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DA PMAC .................................................... 76
POLICIAMENTO ESCOLAR ...................................................................................................... 76
POLÍCIA DA FAMÍLIA ................................................................................................................ 78
PROERD .......................................................................................................................................... 82
Capítulo V
PANORAMAS DO PROERD EM ALGUNS ESTADOS DO BRASIL ............ 83
ESTUDOS SOBRE A EFICIÊNCIA DO PROERD EM ALGUNS ESTADOS ....................... 83
Capítulo VI
O PROERD NO ESTADO DO ACRE .................................................................. 92
FATOS E FEITOS DO PROERD NO ACRE .............................................................................. 92
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
TERCEIRA PARTE
CAPÍTULO VII
ADOLESCENTES E O INFOPOL ....................................................................... 137
ADOLESCENTES E O SISTEMA DE INFORMAÇÕES POLICIAIS – 8ª SÉRIE .............. 138
ADOLESCENTES E O SISTEMA DE INFORMAÇÕES POLICIAIS – ENSINO MÉDIO. 145
CAPÍTULO VIII
ADOLESCENTES E O JUIZADO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE ........ 160
CAPÍTULO IX
REPENSANDO AS PRÁTICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA .............. 176
CONSELHO TUTELAR E O ATENDIMENTO A ADOLESCENTES ................................... 176
A INFLUÊNCIA DE FILMES VIOLENTOS
EM COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES ............. 181
PERFIL DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS DE RIO BRANCO ............................................... 188
COMPARATIVO ENTRE O II LEVANTAMENTO DOMICILIAR SOBRE
O USO DE DROGAS 2005 E O I LEVANTAMENTO EM RIO BRANCO 2008 ................... 209
CAPÍTULO X
PERFIL DOS ALUNOS DE 4ª SÉRIE, 8ª SÉRIE E ENSINO MÉDIO ............ 216
CAPÍTULO XI
SITES COM INFORMAÇÕES ÚTEIS ................................................................ 218
REFERÊNCIAS 220
Anexos: 225
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Polícia Militar do Estado do Acre
APRESENTAÇÃO
A Polícia Militar verificou, nos últimos anos, um grande aumento na violência urbana da
Capital acreana, bem como, a prática do consumo de drogas por parte de crianças e adolescentes.
Essa triste realidade se repete em diversos estados do País, causando e acentuando problemas no
âmbito da sociedade.
Alguns estudos apontam que a eliminação do problema das drogas seria uma missão dada
como impossível. Sabemos que é bem certa a possibilidade de nossos jovens e adolescentes terem
algum tipo de contato com drogas. Por isso, faz-se necessário que desenvolvamos meios, formas e
estratégias para como lidar com essa situação extremamente propícia para a entrada dos jovens no
mundo das drogas e da criminalidade.
Dentre algumas estratégias adotadas pela política de combate às drogas, notamos que as
principais medidas sempre estiveram centradas na repressão. Porém, temos constatado que tais
medidas não têm alcançado tanta eficácia e que são bem mais dispendiosas do que as ações
centradas na prevenção.
Portanto, se faz necessário, mais do que nunca, adotarmos a política da prevenção, atacar
as causas ao invés das conseqüências. Para isso, acreditamos que agir na formação do jovem através
da educação, no momento mais propício e de forma eficaz, é uma das possíveis saídas para esse
problema tão grave e que atinge todas as camadas sociais. Equipar os jovens e adolescentes com os
conhecimentos necessários para que compreendam quais os malefícios que o uso de drogas pode
lhes trazer, e, portanto, tenham uma maior consciência acerca do assunto e de suas escolhas, pode
ser um caminho promissor a ser seguido.
A pesquisa foi realizada tendo como pressuposto inicial a atuação dos policiais Proerd nas
salas de 4ª séries do Ensino Fundamental, ensinando sobre prevenção ao uso de drogas1 e a prática
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Droga é qualquer substância que não seja alimento e que altera o funcionamento do corpo e da mente (Conceito
utilizado pelo Proerd).
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
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1ª, 2ª e 3 ª séries do Ensino Médio na cidade de Rio Branco. Foi colhida uma amostragem de
aproximadamente 5.511 questionários aplicados em sala de aula com as crianças e adolescentes,
além de 224 entrevistas. O critério de seleção seguiu os seguintes parâmetros: a divisão das escolas
escolhidas para participar do levantamento teve como base a divisão por “regional” adotada pelo
sistema de segurança pública estadual; dentro das regionais foram selecionadas no mínimo duas
escolas que geograficamente se localizassem em pontos estratégicos para o atendimento de alunos
do maior numero de bairros possíveis na circunscrição da regional; a aplicação dos questionários foi
feita em todas as 4ª séries e 8ª séries das escolas selecionadas, sem prévio aviso à direção das
escolas, para que não houvesse por eles qualquer influência e direcionamento tendenciosos nas
respostas dos questionários; quanto às escolas de Ensino Médio, sorteamos as salas a serem
pesquisadas, sem interferência da gestão escolar. Foi mantido o anonimato aos alunos, com a
finalidade de evitar constrangimentos posteriores, criando assim um ambiente seguro o suficiente à
coleta de dados mais confiáveis e precisos.
Após a aplicação dos questionários procedemos com a tabulação dos dados obtidos, de
forma a destacar as relações interpessoais dos alunos, verificando as relações estabelecidas por
alunos que estudaram o Proerd e que não estudaram. Além de uma análise excepcional dos alunos
que fizeram o curso PROERD currículo 4ª e 6ª séries.
Ao estudarmos os alunos das escolas de Ensino Médio, fomos em 16 instituições de
Ensino em Rio Branco, e aplicamos questionários a, no mínimo, 10% dos estudantes daquelas
instituições. Em todas as escolas, os questionários, as entrevistas, as análises, as relações sociais, as
idéias e as conjunturas, sempre levaram em consideração prioritariamente os alunos do turno
Vespertino, por acreditarmos que estão na média escolar em relação ao dos turnos matutino e
noturno no que se refere à independência financeira. Eles não são tão independentes quanto os do
turno da noite, nem tão dependentes dos pais quanto os da manhã; suas vivências intra-familiares
são tão complexas quanto as dos outros turnos, todavia, os alunos do vespertino têm mais
“relacionamentos amorosos” de caráter lascivo que os da manhã e menos que os da noite; bem
como sua independência para tomar decisões e assumir riscos pode estar diretamente associada a
sua idade, nem tão jovens e nem tão maduros.
Quanto a verificação de onde estão os ex-alunos Proerd, uma coisa é certa. Não é fácil
encontrar ex-alunos Proerd. Não porque não existam, mas porque muitos dos arquivos do programa
foram perdidos por causa de uma chuva que rompeu o telhado da sala em que estavam, outros não
puderam ser encontrados pelo fato de a Sede da Coordenação do Programa já ter mudado mais de
quatro vezes em menos de dez anos. Por isso, muito do que temos aqui teve que ser “garimpado”
nas diversas instituições parceiras do Proerd, em especial, nas escolas das redes estadual e
municipal de ensino.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Para termos idéia de quem são e onde estão os ex-alunos do Proerd, precisamos ir às
escolas que foram atendidas pelo programa nos anos de 1999, 2000 e 2001. Os alunos atendidos
pelo Proerd nesses anos deveriam estar na Universidade, no terceiro ano do Ensino Médio e no
segundo ano do Ensino Médio, respectivamente3.
Temos consciência de que nem todos os alunos concluíram o Ensino Médio, aliás, pelo
histórico brasileiro, é possível que um quinto dos alunos atendidos pelo Proerd na quarta série não
tenha sequer concluído o Ensino Fundamental. E que, vários tenham deixado o ensino regular para
fazer parte de algum tipo de programa de aceleração do aprendizado.
A pesquisa foi feita por amostragem. Buscamos conhecer melhor a clientela atendida para
uma pretensa busca no sistema de informação da Secretaria de Estado de Educação, com fins a
verificar a possibilidade de esses alunos estarem cursando alguma das séries da rede pública de
ensino. Além da rede pública, a rede privada foi representada pela Fundação Bradesco que foi a
única instituição privada a ser atendida pelo Proerd nos três primeiros anos de implantação do
programa.
Dentre as escolas atendidas, selecionamos duas das três que foram atendidas pelo
programa Proerd no ano de 1999, sendo elas: Ilka Maria de Lima e Raimundo Gomes de Oliveira,
totalizando três turmas com 78 alunos.
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Para essa pesquisa foram considerados apenas os alunos aprovados, haja vista que a possibilidade de análise de
reprovações em quaisquer séries que sejam poderia nos fornecer dados ainda mais complexos e de ampliações de
conjecturas com abrangência de dificuldades que poderiam desviar o foco da pesquisa. Com isso, não estamos dizendo
que esses alunos sejam menos importantes que os outros, antes, estamos afirmando que nesta pesquisa em particular as
conjecturas traçadas, pelo pouco tempo disponível para estudos e reduzido número de pessoal, nos levam a observar as
possibilidades dentro do que seria o padrão nos estudos, embora estejamos conscientes das reais possibilidades de
desvios.
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Polícia Militar do Estado do Acre
Das escolas atendidas pelo Proerd no ano de 2000, selecionamos nove escolas para
realizar a pesquisa, sendo elas: Ilka Maria de Lima, Raimundo Gomes de Oliveira, Áurea Pires,
Maria Raimunda Balbino, Flaviano Batista, Raimundo Hermínio de Melo, Mozart Donizeti, Luíza
Batista de Souza, Mário de Oliveira. Juntas, totalizaram 23 turmas com 652 alunos.
Das escolas atendidas no ano de 2001, pelo Proerd, selecionamos sete escolas para realizar
a pesquisa, sendo elas: Mário de Oliveira, Salgado Filho, Antônia Fernandes de Freitas, Clínio
Brandão, Frei Thiago Maria Matiolli, Fundação Bradesco, Georgete Eluan Kalume. Juntas,
totalizaram 19 turmas com 567 alunos.
Além das escolas atendidas pelo Proerd, pesquisamos outras que também atuam no ensino
para comparar as relações estabelecidas pelos alunos.
As escolas que atendem clientela de 4ª série e participaram da pesquisa foram: A. M. E.,
Alberto Sanches Mubárac, Antônia Fernandes de Freitas, Áurea Pires, Clarice Fecury, Clínio
Brandão, Colégio Alternativo, Colégio Vitória, Djalma Teles Galdino, Francisco de Paula Leite
Oiticica Filho, Francisco Salgado Filho, Frei Thiago Maria Matiolli, Flaviano Flávio Batista,
Georgete Eluan Kalume, Ilka Maria de Lima, Ione Portela, Irmã Maria Gabriela, João Mariano da
Silva, Luiza Batista de Souza, Maria Raimunda Balbino, Mário de Oliveira, Mozart Donizeti,
Neutel Maia, Raimunda Balbino, Raimundo Hermínio de Melo, Raimundo Gomes de Oliveira,
Ramona Mula de Castro, São Francisco de Assis e Theodolina Falcão Macedo.
As escolas que atendem clientela de 8ª série e participaram da pesquisa foram: Alcimar
Nunes Leitão, Antônia Fernandes de Freitas, Áurea Pires, Berta Vieira de Andrade, Humberto
Soares da Costa, Instituto de Educação Lourenço Filho, João Mariano da Silva, Lourival Sombra
Pereira Lima, Luiza Carneiro Dantas, Maria Chalub Leite, Neutel Maia, Raimundo Gomes de
Oliveira, Raimundo Hermínio de Melo, Reinaldo Pereira da Silva, Tancredo de Almeida Neves,
Theodolina Falcão Macedo e Zuleide Pereira de Souza.
As escolas que atendem clientela de Ensino Médio e participaram da pesquisa foram:
Alcimar Nunes Leitão, Armando Nogueira, Berta Vieira de Andrade, Colégio Estadual Barão do
Rio Branco, Escola José Ribamar Batista, Glória Perez, Heloisa Mourão Marques, Henrique Lima,
Humberto Soares da Costa, Instituto de Educação Lourenço Filho, João Aguiar, José Rodrigues
Leite, Leôncio de Carvalho, Lourival Pinho, Lourival Sombra e Luiza Carneiro Dantas.
Para verificar os relacionamentos sociais dos alunos, precisamos traçar uma estratégia que
englobasse o maior número possível de alunos, ao mesmo tempo em que pudesse servir de
referência para outros estudos e análises, por isso optamos por entrevistar os alunos das 4ª séries,
das 8ª séries e do Ensino Médio das escolas da rede pública de ensino. Sabemos que esse método
exclui os alunos que não estão estudando no momento, contudo, seria inviável tentar encontrar um
por um nas diversas residências dos 50 bairros riobranquenses, por isso, nos dispusemos a estudar
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
os alunos que ainda permanecem na escola ou que seus registros constem de sua passagem por ela
em anos anteriores4. É certo que isso vai influenciar diretamente o resultado da pesquisa, tendo em
vista que a clientela não atendida estará sendo momentaneamente deixada de lado, contudo, havia
necessidade de delimitar o “corpus” da pesquisa.
Alguém pode se perguntar o porquê de estarmos atendendo prioritariamente os alunos das
instituições públicas. A resposta é simples, porém, não muito agradável. Dentre as diversas
instituições consultadas, tanto públicas quanto particulares, um policial “a paisana”, devidamente
identificado por sua carteira de militar se apresentava, mostrava cartas de permissão para produção
da pesquisa, e falava da possibilidade de estudar “os relacionamentos sociais dos alunos” da
instituição. Nas escolas públicas bastava conversar com a equipe gestora para logo poder marcar
uma, duas, três ou várias entrevistas com os alunos, e após a pesquisa, “sem interferência direta da
escola”, mostrávamos os resultados parciais. Na maioria das escolas particulares foi um pouco
diferente. Não bastava uma “conversa” com a equipe gestora e apresentação de ofícios, portarias,
recomendações e currículo comprovado dos pesquisadores, queriam ter acesso antecipado a tudo
que seria feito para aprovar ou reprovar previamente itens, o que comprometeria gravemente a
pesquisa e maquiaria os resultados naquelas instituições. Por isso, apenas algumas instituições
particulares participaram da pesquisa.
No presente trabalho, temos como objetivo contribuir para conscientização dos jovens e
adolescentes sobre os malefícios causados pelo consumo de drogas, além de demonstrar
estatisticamente a relação entre o PROERD e os seus ex-alunos, para saber um pouco mais sobre a
influência do programa na vida destes. Sabemos que é na escola que nossas crianças e adolescentes
adquirem uma formação e preparação para o convívio social, sendo que é nos ambientes escolar e
familiar que suas personalidades são formadas. Para tanto, acreditamos ser fundamental uma
atuação junto às instituições escolares como também no âmbito familiar. Nossa ação ocorre,
especialmente, nas escolas e na família, e tal ação requer um conjunto de elementos necessários ao
bom desenvolvimento das atividades no interior das escolas.
Pimenta, Ribeiro e Silva (2005) resumem bem quais as metas do Proerd a longo Prazo:
Para além do papel ostensivo e repressivo da Polícia, o programa está voltado para o papel educativo e
preventivo da mesma Polícia.
As metas principais do Proerd, em longo prazo, são a redução do uso de drogas, da violência e dos atos de
vandalismo. De modo secundário e não explícito, enquanto necessidade peculiar à Polícia Militar do Brasil,
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Quando citamos alunos do Ensino Médio e pesquisa sobre drogas, nos referimos a pesquisa elaborada com os alunos
em sala de aula nos anos de 2007 e 2008. Quando citamos as relações de alunos do Ensino Médio com o Infopol e com
o Juizado da Infância e da Juventude, nos referimos a alunos com quem não tivemos contato, mas tivemos acesso a suas
fichas escolares, o que não inviabiliza a pesquisa, mas mostra as relações estabelecidas por alunos que estiveram na
Escola nos anos de 2000 e 2001, e que, pretensamente dois terços deles ainda permanece estudando.
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Polícia Militar do Estado do Acre
objetiva-se reconstruir positivamente a imagem do policial, resgatando assim a imagem da instituição PM.
Logo, o programa visa angariar a confiança e a credibilidade da comunidade em relação à Polícia.
A PM tem entendimento da exploração pela mídia dos atos negativos praticados por alguns de seus policiais,
mas acredita que a criança na faixa etária atingida pelo programa tem, via de regra, um grande fascínio e
respeito pelo cidadão fardado. O policial PROERD, uma vez em sala de aula, apresenta-se como um
orientador, um amigo próximo. Cria-se, portanto, a possibilidade de redução de outros problemas locais
afetos à segurança, uma vez que ao interagir com a comunidade local, o policial pode conhecer melhor seus
problemas e suas possíveis soluções.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
de substâncias são vistos, incluindo as drogas legais e ilegais. Investigamos também os fatores
sociais que servem para inibir ou estimular o uso de drogas entre os jovens, embora não tenha se
aprofundado nesse item.
Metodologia
Desenho Amostral
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Polícia Militar do Estado do Acre
por sua instituição. Ao Juizado da Infância coube diagnosticar sobre as práticas delituosas
articuladas ou sofridas pelos adolescentes.
A amostra é um subconjunto das escolas de ensino regular (fundamental e médio),
públicas (municipais e estaduais) e privadas, existentes na cidade de Rio Branco.
Na primeira etapa, foram selecionadas as escolas em cada estrato. Na segunda, foram
selecionadas as séries/turmas, onde foram investigados todos os alunos. Para garantir que os
resultados tivessem tanto abrangência quanto capacidade de captar especificidades. A amostra foi
dividida proporcionalmente entre os diversos estratos.
Os estratos foram definidos pela combinação nível de ensino x dependência
administrativa (municipal, estadual ou particular). Desta forma, dentro de cada estrato foram
selecionadas aleatoriamente as escolas que pertenceriam à amostra.
Cada escola não foi tomada como um todo, ou seja, foram selecionados níveis de ensino,
abrangendo todas as 4ª séries do Ensino Fundamental, todas as 8ª séries do Ensino Fundamental e
100% das escolas de Ensino Médio, com atendimento de cerca de 11% dos alunos dessas
instituições, para, por fim, dividirmos a estratificação por turmas.
Em cada escola foram estudadas turmas fechadas de alunos, ou seja, todos os alunos que
estudassem naquela sala eram convidados a responder ao questionário aplicado. Nenhum aluno de
qualquer série foi pressionado ou coagido a participar da pesquisa. Todos os alunos participantes
foram verbalmente informados da parceria entre os órgãos supracitados, bem como de nosso
intuito em verificar suas relações e interações sociais. Foi mantido o anonimato e afirmado aos
alunos que: “a direção da escola não terá acesso a seu questionário individual, nem a coordenação
da escola ou seus pais”. A análise que se segue não está baseada em verdade ou similitudes, mas
nas respostas produzidas pelos alunos que foram reiteradamente orientados a responder com a
verdade ou deixar as questões, quaisquer que fossem, em branco. Assim sendo não temos o sonho
utópico de verificar as projeções do social enquanto verdade absoluta, mas enquanto reflexo
possível do verdadeiro proposto.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
PRIMEIRA
PARTE
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Polícia Militar do Estado do Acre
CAPÍTULO I
O problema das drogas nunca foi tão alarmante para nossa sociedade como tem sido nos
dias de hoje. Diante desse problema, surgiu o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à
Violência (PROERD), desenvolvido pela Policia Militar, a fim de prevenir5 o uso e abuso de drogas
entre crianças e adolescentes no Ensino Fundamental.
Nesse programa educativo, através de 17 lições aplicadas uma vez por semana por um
Policial Militar devidamente credenciado e fardado, são abordados aspectos tais como o reforço da
auto-estima, pressão dos colegas e da mídia para o uso de drogas, as gangues e resolução de
conflitos sem recorrer à violência. A 17ª lição é uma formatura com a participação dos pais e
professores, onde as crianças recebem um certificado de participação. O curso é desenvolvido com
crianças e adolescentes de 4ª série do Ensino Fundamental.
O Proerd também atua na 6ª série do Ensino Fundamental e com um curso de capacitação
com os pais, chamado de “Curso de Pais”. Em ambos se busca atuar para a melhor convivência
familiar, informando sobre atuações consideradas violentas e como o relacionamento com as drogas
pode ser prejudicial não só ao usuário, mas também a todos que estão a seu redor. O Proerd procura
mostrar possibilidades de uma vida saudável sem a necessidade do uso de drogas ou substâncias
5
Este sub-capítulo foi copiado em sua quase totalidade do livro do Instrutor Proerd e dos sites das várias Polícias
Militares espalhadas pelo Brasil. As informações aqui contidas são de direito do Proerd Brasil e podem ser acessadas
pelo público a qualquer tempo.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
psicotrópicas. De mesma forma, o foco de combate são as drogas e não os usuários delas. Estes são
tidos como pessoas que almejamos informar sobre os malefícios que uma vida de dependência pode
trazer, bem como, as possibilidades de se manter longe das drogas e da possível conseqüente
violência.
O programa possui como material didático o “Livro do Estudante” “Livro dos Pais” e o
“Manual do Instrutor” auxiliando os respectivos cursandos e os Policiais Proerd no
desenvolvimento das lições. O Proerd consiste em uma ação conjunta entre o Policial Militar
devidamente capacitado, chamado Policial Proerd, professores, especialistas, estudantes, pais e
comunidade, no sentido de prevenir e reduzir o uso indevido de drogas e a violência entre
estudantes, bem como ajudar os estudantes a reconhecerem as pressões e a influência diária para
usarem drogas e praticarem a violência, e a resistirem a elas.
O Proerd é mais um fator de proteção desenvolvido pela Polícia Militar para a valorização
da vida, contribuindo, assim, para o fortalecimento da cultura da Paz e a construção de uma
sociedade mais saudável, feliz e principalmente, mais segura.
Os Instrutores são Policiais Militares especialmente treinados para tal atividade, diante de
sua conduta profissional, ética e moral que, além de estimular as habilidades das crianças para
resistirem às pressões ao uso de drogas, estreitam o relacionamento policial-comunidade, dentro da
filosofia da Polícia Comunitária, a qual visa a defesa da vida, a integridade física e a dignidade da
pessoa humana. Todos os policiais do Proerd passam por um curso de qualificação rigoroso com a
orientação/supervisão/instrução de policiais militares na função de Masters6, de policiais militares
na função de Mentores, de pedagogos, psicólogos, membros de conselhos anti-drogas, membros da
secretaria de educação, além de palestrantes convidados.
Os Instrutores Proerd são voluntários, cuidadosamente selecionados e exaustivamente
treinados. Cada Instrutor prepara reuniões com professores e pais para orientar sobre os objetivos e
conteúdo do currículo, incluindo como reconhecer sinais de uso de drogas e como melhorar a
comunicação familiar.
O corpo de Instrutores Proerd é composto por policiais fardados, formados pelos Cursos
Especiais de formação de Instrutores Proerd, D.O.T. (DARE Officer Trainning), ministrados pela
Diretoria de Ensino e Instrução da PMAC – através do Proerd Acre – em parceria com os Centros
de Capacitação das Polícias Militares do Brasil.
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O Proerd Brasil tem três níveis de acesso: o primeiro é o de Instrutor, que lida diretamente com as crianças, os
adolescentes e os pais, em sala de aula; após o período mínimo de um ano os Instrutores podem participar do curso de
Mentores, que além de participar em sala de aula, atuam na supervisão e orientação dos Instrutores, os Mentores
formam os Instrutores; os Masters são policiais que organizam e auxiliam na formação de cursos de Instrutores e de
Mentores. Todos os policiais Proerd, independentemente de sua titulação, atuam em sala de aula incentivando as
crianças a ficarem longe das drogas e fazerem escolhas que sejam boas para elas e para os seus semelhantes.
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Polícia Militar do Estado do Acre
Após o período mínimo de um ano de aplicação de lições do currículo Proerd nas escolas,
os Instrutores Proerd possuidores do D.O.T., poderão freqüentar o Curso Especial para Mentores
("Mentor Officer Trainning" - M.O.T.), que habilita esses profissionais a ministrarem aulas nos
Cursos Especiais de formação de Instrutores PROERD (D.O.T.).
A Polícia Militar do Estado de São Paulo7 em acordo firmado com o D.A.R.E.
lnternational, órgão oficial que coordena o programa em nível internacional, recebeu a incumbência
de instalar e operacionalizar o Centro Nacional de Treinamento PROERD do Brasil, dessa forma,
podendo ampliar o programa para todo o território nacional.
Os ensinamentos proporcionados pelo Proerd fortalecem a atitude positiva das crianças em
relação às autoridades e o respeito às leis para um melhor convívio comunitário; desmistificando a
idéia, comumente veiculada pela propaganda, de que para obter sucesso deve-se experimentar
drogas e “vencer” a qualquer custo.
O programa estimula a parceria entre Polícia, comunidade e escolas, sendo a participação
de todos essencial para o bom andamento das atividades desenvolvidas. Estas parcerias são muito
importantes, e somam-se a outros programas de prevenção existentes que objetivam trazer à nossa
gente uma vida útil e saudável.
As lições do Proerd
Os assuntos abordados8 em sala de aula e seus respectivos objetivos nas 17 lições que
compõem o currículo do Proerd na 4ª série do Ensino Fundamental são os seguintes:
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Informações obtidas no site do Proerd de São Paulo.
8
Retirado do site da PMPE.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
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Polícia Militar do Estado do Acre
1. quais idéias, valores e habilidades são mais importantes para os alunos da 4a série
aprenderem;
2. os pressupostos e princípios sobre como eles melhor aprenderão o conteúdo
selecionado;
3. os pressupostos e princípios sobre as práticas que mais provavelmente irão promover
o aprendizado desejado;
4. as razões para usar o “Proerd: Uma Visão de Suas Decisões” como um manual que
contém todo o currículo; e como todo o conteúdo, objetivo e atividades estão “colados”
por este organizador;
5. que este curso tem continuidade no curso para adolescentes, sob o título “Investindo
em Sua Própria Vida”.
Princípios-chave
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Retirado do Manual do Instrutor Proerd da 4ª série.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
• são capazes de compreender as perspectivas dos outros, pois são menos egocêntricos;
• são capazes de integrar diversas variáveis em relações causais;
• são capazes de compreender e usar as regras da lógica;
• são entusiastas, curiosos e têm um desejo de explorar;
• estão começando a aceitar responsabilidades pelo comportamento;
• aprendem a cooperar e gostar de Tomadas de Decisão em grupo;
• gostam de falar e expressar idéias;
• buscam orientação e reforço tanto do seu grupo quanto de adultos importantes.
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Polícia Militar do Estado do Acre
4. Teorias e pesquisas sobre aprendizado ativo e estratégias de ensino que apóiam tal aprendizado
demonstram que:
• a experiência de vida dos alunos e o contexto cultural no qual estão inseridos formam
seu conhecimento e definem a maneira que vêem seu mundo e o sentido que dele fazem;
• novos conhecimentos científicos e habilidades devem estar articulados com o
contexto cultural dos alunos possibilitando o avanço da aprendizagem;
• experiências práticas, tanto concretas quanto abstratas, estimulam o
desenvolvimento e a aprendizagem de novos conceitos;
• mediações com o seu grupo e com adultos importantes estimulam o conhecimento
de novas idéias e a reflexão sobre elas;
• os alunos especiais devem ter acesso às atividades e aos conteúdos de maneira a
garantir que todos sejam respeitados e incluídos;
• a diversidade social e cultural, econômica e política deve ser respeitada, apoiada e
valorizada.
Com base nas pesquisas e teorias resumidas acima, um conjunto de critérios foi formado
para orientar o desenvolvimento e a organização dos aspectos-chave deste programa educacional.
Enquanto o currículo do curso tem a intenção de ser essencialmente o mesmo para todo o país, as
estratégias e os materiais podem ser adaptados para o contexto cultural e social de cada escola
conforme as necessidades específicas. Isto significa que os Instrutores podem precisar, em certas
ocasiões, selecionar material e atividades alternativas, assim como métodos que acreditem ser mais
apropriados para seus alunos, desde que permaneçam coerentes com os propósitos e critérios
deste projeto.
Uma característica central e peculiar deste plano de curso é o Livro do Estudante “Proerd:
uma Visão de Suas Decisões”. As informações, os conhecimentos científicos e as atividades
contidas em suas lições são todas projetadas para construir coletivamente capacidades de resolução
de problemas sociais e pessoais relacionados com o uso e abuso de substâncias, bem como para
garantir que possam agir em nome de seus melhores interesses diante das situações expostas.
Tentamos possibilitar aos alunos acesso a essas capacidades de maneira atraente, usando situações
problemáticas que pareçam reais aos seus olhos. A intenção é que os alunos analisem essas
24
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
situações, busquem e usem as informações disponíveis, discutam com profundidade, uns com os
outros, as alternativas dessas situações e ações que podem escolher com responsabilidade. Além de
extensas discussões, existem amplas oportunidades de “experimentar” maneiras de lidar com as
pressões de amigos e com os sentimentos internos de querer ser aceito como uma pessoa “maneira”.
Coerente com os objetivos deste programa, os seguintes critérios foram estabelecidos para
possibilitar o desenvolvimento das lições, de maneira a permitir o entendimento delas pelos alunos:
Metas e Objetivos
A meta que engloba todo o Proerd é de reduzir/eliminar o uso de álcool, cigarro e outras
drogas pelos jovens, bem como, o seu comportamento violento. O Proerd de 4a série é o primeiro
25
Polícia Militar do Estado do Acre
do currículo Proerd no Brasil; os cursos restantes são o de 6a série e o de pais. O curso da 6a série é
integralmente relacionado com o curso da 4a série. Os objetivos gerais dos programas de 4a e 6a séries
estão voltados ao desenvolvimento das capacidades necessárias aos alunos para que tomem as
rédeas de suas vidas (autonomia), com ênfase especial à resistência ao uso e abuso de substâncias.
26
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
CAPÍTULO II
OS ADOLESCENTES E AS DROGAS
ADOLESCÊNCIA E COMPLEXIDADES
Para a melhor compreensão dos fatores que levam a juventude ao uso e abuso de drogas e
à pratica de atos violentos, como também, desenvolver programas preventivos mais eficientes, é
necessário compreender inicialmente o termo “adolescência” em todos os seus aspectos (físico e
social). Segundo o dicionário Aurélio, o termo se refere ao período da vida humana que sucede à
infância, começa com a puberdade, e se caracteriza por uma série de mudanças corporais e
psicológicas. Há um consenso entre estudiosos em afirmar que o período da adolescência10 é o mais
tumultuado. Schiezaro (2008) expressa bem esse período em seus artigos ao afirmar que:
a criança adaptada à vida familiar é surpreendida por uma seqüência de modificações em seu corpo,
acompanhadas de instabilidade psicológica. Isso tudo vai provocar um desequilíbrio e uma transformação de
todo o seu ser. Percebe-se deixando a cômoda condição infantil e ingressando no mundo adulto, sem ainda
se sentir preparada para isso.
10
Segundo o dicionário etimológico Larousse (Pechon, 1964), o termo adolescência vem do latim adulescens ou
adolescens, particípio passado do verbo adolescere, que significa crescer. Entretanto, nas línguas derivadas do Latim, o
termo apresentou durante um longo tempo um sentido sobretudo depreciativo e satírico, sendo somente por volta de
1850 que a palavra adolescência entrou para os dicionários e adquiriu um sentido mais próximo ao que tem atualmente.
Assim, a adolescência é um conceito construído historicamente na Modernidade, que adquire vários desdobramentos até
o momento atual. (COUTINHO, 2005, p. 17).
27
Polícia Militar do Estado do Acre
forma corporal dos mesmos, além da mudança de voz, crescimento de pêlos pubianos, aparecimento
do ciclo menstrual nas meninas e ereções espontâneas nos meninos. Essas mudanças fazem com
que eles se sintam diferentes, estranhos a si mesmos, desengonçados, e a maneira com que vão
sentir ou aceitar as mudanças em seus corpos dependerá da sua subjetividade. Além disso,
normalmente ficam vulneráveis às questões da aparência e qualquer reação das pessoas próximas
pode ser suficiente para desencadear fortes sentimentos de insegurança.
A modificação do aparente sistema corporal conhecido desde a infância faz com que, às
vezes, tornem-se tímidos ou procurem o isolamento como proteção. Os sentimentos, emoções e
brincadeiras infantis se confundem e se misturam com os desse novo período, que mostra um
mundo mais amplo à sua frente. A inquietação, a rebeldia, a desobediência são elementos de
reafirmação de sua personalidade. O interesse por esportes, rádios, TV, fica latente, como também a
dificuldade de organizar suas coisas. As emoções chegam ao extremo facilmente, passam da euforia
para a melancolia rapidamente. A relação com os pais fica extremamente complicada e frágil:
O amor que o adulto tem pelos pais não é igual ao da criança. O do adolescente, então, está na fase de
transformar o amor infantil que tem por seus pais, em um amor mais consciente e adulto. Por isso a relação
que têm com eles se modifica. Ele oscila entre um apego intenso, acompanhado de beijinhos e abraços, à
rejeição brusca e às vezes até agressiva. Para perder a dependência, ele deprecia os pais. Acontece de se
envergonhar deles, de os achar muito velhos ou mal vestidos, caretas, etc.. É a conhecida fase do “mico”
(Schiezaro, 2008).
Com um “aparente” rompimento com os pais na infância, eles procuram identificar-se com
outros adultos e com outros adolescentes, como: professores, ídolos da música, TV, esportes, entre
outros. Na turma, conseguem o acolhimento necessário que antes era propiciado pela família. Na
turma (ou no grupo) todos têm a mesma idade, as mesmas necessidades, as mesmas dificuldades,
eles vivem num nível de igualdade que gera um aparente estado de segurança.
Atitudes bruscas e gesticulações corporais são comuns entre eles, neste contexto o que de
outra forma classificaríamos como pura agressão à autoridade dos pais e de outros adultos,
simplesmente expressa a necessidade de se comunicar em confronto com a dificuldade de falar. As
regras se apresentam como obstáculos a serem testadas, contudo, sentem a necessidade de encontrá-
las sempre lá firmes, para sentir-se seguros. Eles se preocupam com a justiça, apesar de, ao mesmo
tempo, se divertirem enganando os adultos.
A adolescência, nesses termos, se caracteriza como uma fase do crescimento do indivíduo,
na qual há muitas transformações tanto físicas como psicológicas, possibilita nela o surgimento de
comportamentos irreverentes, desafiantes e o questionamento dos modelos e padrões infantis. Ela é
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
um período da vida que merece atenção, pois a transição pode resultar, ou não, em problemas
futuros para o desenvolvimento do indivíduo.
A passagem pela adolescência pode ser compreendida também por fatores externos ao
individuo, isto é, por fatores sociais. Ao longo da história da humanidade, a adolescência se
apresenta como um processo proveniente de transformações socioculturais. Na Idade Média, por
exemplo, o trabalho estava associado à produção artesanal e ao comércio; não havia separação entre
vida e trabalho, entre socialização familiar e profissional. Nesse período, tão logo as crianças
alcançassem autonomia motora, as brincadeiras se misturavam aos afazeres das oficinas, se
procedendo a transmissão dos ofícios para os mais jovens. Nessa época, o período de transição
social é muito precoce, impossibilitando a verificação da passagem da infância para a vida adulta,
tão pouca a sua transição.
Como o advento da modernidade, caracterizado pela aceleração do desenvolvimento
econômico, social, cientifico e financeiro em todo o mundo, aumentou rapidamente a necessidade
de mão-de-obra especializada, principalmente na área técnico - científica, forçando o aumento das
exigências de preparação de pessoas para a entrada no mundo do trabalho. Neste período é mais
evidente a separação entre o fim da infância e o início da vida adulta, embora ainda não haja uma
definição social precisa para a denominação do intervalo entre esses dois momentos.
Segundo estudos antropológicos realizados no inicio do séc. XX, a puberdade é um
fenômeno natural da espécie humana, de significado que varia culturalmente segundo as práticas
observadas em cada povo. Grande parte de grupos sociais distintos registram a passagem da
infância para a vida adulta por meio de cerimônias que interpretam o amadurecimento físico como
sendo a morte “simbólica” da criança e o nascimento de um novo adulto. Nas sociedades ocidentais
modernas, os ritos foram suprimidos e substituídos pela longa fase intermediária entre a infância e a
vida adulta. Diretamente, Coutinho (2005) expressa bem a fase da adolescência nas sociedades
modernas, contudo, indiretamente evidencia a dificuldade que o adolescente tem quando se depara
com a necessidade de encontrar seu lugar na sociedade.
Os adolescentes são obrigados a suportar um tempo de espera, de adiamento da entrada no mundo público,
justamente porque não há um lugar predeterminado a ser ocupado por cada indivíduo na sociedade, tendo em
vista a complexificação do processo de formação profissional, o declínio da ética do trabalho e da produção,
bem como dos ideais ligados ao casamento e à família. Portanto, o que ocorre com a adolescência é
justamente o oposto daquilo que outras culturas ritualizam coletivamente através dos rituais iniciáticos
(Coutinho apud Calligaris, 2000, p. 17).
29
Polícia Militar do Estado do Acre
Pode-se dizer que a origem da educação12 se confunde com as origens do próprio homem,
quando os processos educativos coincidiam com o próprio ato de viver e sobreviver.
As necessidades surgidas na vida das pessoas, suas experiências e reflexões, ocasionaram
o processo do conhecimento, construído individual ou coletivamente ao longo da história da
humanidade. O processo educacional tem a função de transmitir a cultura e o conhecimento
acumulado, como também de despertar potencialidades, reflexão e criticas acerca da realidade e das
possibilidades de sua modificação. A educação acaba influenciando a constituição de vários
aspectos da subjetividade das pessoas, como valores, crenças, orientações religiosas, sexuais,
morais, sentimentos, escolhas e outros.
Apesar de escola e educação fazerem parte de um processo social amplo, em meio a
relações sociais complexas e, na vida particular das pessoas, há uma grande distinção entre a
educação escolar e aquela que ocorre fora da escola. A diferença está no caráter deliberativo e
intencional da ação da escola. Enquanto a escola cumpre um programa formal de ensino, outras
instituições cumprem seu papel educacional de maneira informal ou não formal.
As características estruturais da escola (horários, organização, conteúdos, diferenciação de
papeis, prêmios e castigos, complexidade de atividades) podem levar ao aprendizado de normas e
de atitudes de independência ou dependência, realização ou adequação, universalismo e outras
especificidades próprias da vida em organização. O processo educativo que circula no interior da
escola deve ser entendido não apenas na dimensão do ensino e das aprendizagens de
conhecimentos, mas também a partir das dimensões política, econômica e cultural.
11
Nas sociedades ocidentais contemporâneas, a assunção de um projeto de vida, a realização de escolhas amorosas e a
conquista da autonomia financeira encontram-se entre os indicadores do fim da adolescência. Entretanto, o maior tempo
necessário à realização dessas conquistas tem contribuído para o alongamento da adolescência.
12
A palavra educar origina-se do latim "educatio" que, além de instrução, também significa ação de criar, de alimentar.
Educação e, portanto, um fenômeno bastante complexo, que se relaciona com todo o processo de formação do sujeito.
Nesse processo, há muitas influências: a família, o trabalho, o clube, os grupos sociais e culturais, e diversas outras
instituições.
30
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Na sociedade, existem diversas tensões, oriundas de interesses divergentes: uns lutam pela
estabilidade ou conservação, outros brigam por evolução e mudança. Na escola não é diferente, é
importante conhecer as formas pelas quais essas dimensões se apresentam para saber como
trabalhá-Ias, pois também a educação é, ao mesmo tempo, um processo de manutenção e
transformação da cultura. São necessárias mediações técnicas, culturais e sociopolíticas que, em vez
de negarem, recriem os ideais em bases mais justas, sustentados por escolhas conscientes.
Na escola, há exemplos de muitas relações sociais: relações amistosas, relações
complementares, relações intimas, relações de dominação, relações de conflito, etc. Em meio a
várias características importantes das relações sociais na escola, em especial na professor-aluno,
chamou atenção a existência ou não de uma “relação de confiança”. Essa relação deve ser entendida
como uma qualidade do relacionamento entre as pessoas, que vai sendo trabalhada e construída para
que elas conquistem um objetivo comum.
Existem inúmeras oportunidades, mediante situações pedagógicas diversas, em que o
professor pode desencadear uma relação de confiança: expressando seu interesse pelas iniciativas e
comportamentos do aluno, atendendo-o de forma atenciosa, reconhecendo e validando seu esforço,
sem desqualificar suas dúvidas, mostrando-se disponível para acolher suas inquietações. Inúmeras
outras ações também podem iniciar esse processo, muitas estão presentes nas ações dos professores.
Mas, geralmente, são de modo intuitivo, sem a devida atenção a forma como torná-las ações
preventivas, planejadas com intencionalidade e reflexão.
A Lei Complementar 8.069, de 13 de julho de 1990, o ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) foi considerado um dos dispositivos legais mais avançados do mundo no tocante ao
atendimento da infância e da juventude. Trata-se de um documento legal que dispõe sobre os
direitos e os deveres de brasileiros com idade entre zero e dezoito anos. Ele acolhe o “principio
da proteção integral”, pois além de assegurar os direitos à vida, à saúde, à alimentação, ao esporte,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária as crianças e adolescentes, ele proíbe práticas prejudiciais ao pleno
desenvolvimento desses “seres em formação”.
Ao considerar as crianças e os adolescentes como seres em formação, o novo estatuto
não tem o enfoque de proteger a sociedade dos “menores infratores” e impor o cumprimento de
deveres, como fazia a legislação anterior - Código do Menor -. Ele ressalta a condição peculiar de
“pessoas em desenvolvimento” à criança e ao adolescente, reconhecendo seus direitos de proteção
especial pela família, sociedade e Estado.
Entre os seus objetivos, destaca-se também, o fim do trabalho infantil, a extinção da
violência e a execução de melhores políticas de saúde e educação. Desta forma o estatuto exige
políticas sociais que tenham por pressupostos a garantia dos direitos a cidadania, a
31
Polícia Militar do Estado do Acre
AVANÇOS DIFICULDADES
1. Os indicadores de saúde e educação, apesar 1. Parte considerável dos conselhos tutelares
das dificuldades econômicas, tiveram uma e de direitos ainda não consegue funcionar
constante melhoria. dentro do que dispõe a legislação.
2. Questões antigas, como o trabalho infantil, 2. Velhas instituições, como as “Febens”,
foram objeto de mobilização social e de heranças do modelo correcional-
novas ações, tanto do Estado, quanto da repressivo do Código do Menor e da
sociedade civil. Política Nacional de Bem-Estar do Menor,
ainda persistem no País, sob novas
roupagens.
3. Ao lado da escola, a família começou a 3. As Defensorias Públicas continuam
emergir nas políticas sociais. Programas de desaparelhadas, sem recursos humanos,
saúde familiar, valorização da participação financeiros e de infra-estrutura.
de pais nos colégios e renda mínima são
exemplos que ilustram essa tendência.
4. Nunca se escreveu, publicou, discutiu e 4. Faltam, em muitos conselhos tutelares e de
capacitou tanta gente para atuar no campo direitos, estrutura e capacidade técnica.
13
Os educadores relatam que hoje t a m b é m vigora o princípio da inclusão das crianças e aos adolescentes
portadores de deficiência. Antes do ECA, esses jovens eram pessoas diferentes que deveriam ser preparadas para
conviver com os iguais. A lei veio mostrar que, na sociedade, todos são diferentes e é essa diversidade que enriquece,
sobretudo o processo educacional.
32
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
O termo “droga” teve origem na palavra droog (holândes antigo) que significa folha seca;
isso porque antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à base de vegetais. A
Organização Mundial da Saúde define droga como toda substância que, introduzida em um
organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções. É entendida também como o nome
genérico de substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que dependendo do seu uso podem
amenizar ou curar enfermos como também causar danos físicos e psicológicos a seu consumidor.
Seu uso constante pode levar à mudança de comportamento e à criação de uma dependência, um
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Polícia Militar do Estado do Acre
desejo compulsivo de uso regular da substância, ao mesmo tempo em que o usuário passa a
apresentar problemas orgânicos decorrentes de sua falta.
À procura de sua identidade e apresentando várias outras fragilidades já citadas
anteriormente, o adolescente torna-se uma presa de fácil manipulação, tanto pela influência dos
companheiros do seu grupo, como pelos meios de comunicação, aos quais sofrem vários estímulos
através de comerciais, programas televisivos, de rádios ou pela ação e opinião de ídolos da música
do esporte e etc. Nestes meios mais comumente a influência é em relação ao uso do álcool e do
tabaco, apresentando-os como sinônimos de status e sucesso.
Os espaços escolares de nossa sociedade são alvos fáceis para os traficantes introduzirem
as drogas. Pesquisas recentes com alunos, pais e integrantes do corpo técnico-pédagógico de
diversas capitais brasileiras apontam a presença nociva destes indivíduos nas imediações dos
recintos. A própria família também influencia o uso de drogas, seja indiretamente, como é o caso do
uso compulsivo de medicamentos, mostrando que existem substâncias que aliviam a dor ou o mal
estar, como também o uso indiscriminado através da automedicação, ensinando inconscientemente
que qualquer um pode administrar seu próprio remédio sem a necessidade de consulta a um
especialista da área da medicina; ou diretamente de forma irresponsável, ao oferecer cigarro,
cerveja ou outro tipo droga aos filhos, como também, fazer uso dessas substâncias na presença dos
mesmos.
Como nesta fase o sentimento de solidão é comum, normalmente o adolescente sai em
busca de algo que preencha o vazio. Este sentimento pode ser originado por vários fatores como
carência afetiva de sua infância, de sua relação com os pais ou de suas próprias vivências.
Sabemos que no grupo é mais fácil de esconder os perigos. O adolescente entra num
território desconhecido, onde naturalmente busca novas experiências em meio aos “seus iguais”. Na
ânsia de ampliar tais experiências, na descoberta de suas forças e possibilidades de atuação, eles
negam a “consideração de risco”, antes desempenhado pelo controle dos pais, presente em toda sua
infância. Considera-se esta postura como mais um sinal da busca pela independência, “o sentir-se
dono de si mesmo”. Ele se expõem a situações de risco da própria vida e de outros, como consumir
bebidas alcoólicas antes de dirigir, fumar cigarro, usar drogas ilegais, pensando que não vai ficar
dependente, fazer sexo indiscriminadamente sem proteção e com vários parceiros, com risco de
contrair doenças sexuais ou gravidez indesejadas, pois ainda existe inconscientemente a idéia
infantil que nada como ele pode acontecer. Fatos como estes podem deixá-lo preso a fatos ou
processos, muitas vezes, autodestrutivos.
Numa sociedade permeada por crises financeiras, estresse, onde o "ter" é mais valorizado
do que o "ser", é fácil encontrarmos uma estrutura familiar totalmente fragilizada, onde os pais,
tentando compensar sua ausência, acabam confundindo liberdade com permissividade.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Mônica Griesi chama atenção à quantidade de tempo que os pais devem dispor aos seus
filhos, deixando claro que não importa a quantidade, mas sim a qualidade desta relação, observando
que os pais procurem equilibrar na medida do possível o tempo dos seus diversos afazeres
cotidianos aos reservados à família. Devido ao atual sistema sociocultural, observa-se que o jovem
adquire sua liberdade precocemente, ficando cada vez mais sozinho grande parte do dia, tendo que
agir sozinho, e muitas vezes, sem limites e parâmetros, tenta atrair a atenção dos pais das mais
diversas maneiras, por se sentir solitário e sem reconhecimento.
Vale ressaltar alguns cuidados que os pais precisam ter em relação a seus filhos neste
frágil mudança na vida que estão passando:
Estar atento a alguns sinais é primordial, antes que seja tarde. Apesar das mudanças de comportamento
serem comuns nesta idade, mudanças radicais de personalidade não o são. É necessário que os pais assumam
sua responsabilidade perante a educação dos filhos, ao invés de apenas delegá-la à escola, à igreja ou outras
instituições sociais. Conferir o ambiente e as amizades sem despertar a desconfiança, valorizar o jovem
conversando sobre diversos assuntos pedindo sua opinião, dar responsabilidades, estipular horários e
ressaltar suas qualidades são atitudes importantes a serem consideradas.
Deve ficar claro que mesmo com esses cuidados, muitos adolescentes ainda procurarão as
drogas como um meio de fuga para seus problemas afetivos, para saciar a curiosidade ou
necessidade de entrar em um grupo. Em todos os casos é necessário reforçar que o maior
prejudicado é sempre ele. Apesar dos fatores constitucionais terem grande influência sobre uma
maior ou menor impulsividade e/ou sensibilidade afetiva, a presença da família é indispensável no
combate e prevenção às drogas.
Normalmente quando pais e educadores descobrem que seus filhos ou alunos estão
envolvidos com drogas, não sabem como agir. Antes de qualquer atitude impensada, é necessário
tomar por base alguns procedimentos, como verificar qual o tipo de droga e qual o nível de
envolvimento que a criança ou adolescente se encontra.
No mundo da prevenção, denominam-se “abstinentes” todos os que nunca usaram drogas.
Muitos educadores, em seus planejamentos, buscam que crianças e adolescentes não usem drogas,
contudo, não deixam claras as situações específicas. Considerarrmos a fase de desenvolvimento
física e emocional dos adolescentes, deve-se esclarecer que algumas drogas quando usadas
moderadamente ou sobre prescrição médica, como o café e medicamentos vem beneficiar a saúde
humana.
Estudos mostram que quanto mais cedo se faz uso de drogas, maiores são as
possibilidades do usuário ter problemas relacionados. Desta forma, retardar a experimentação é um
ganho significativo para evitar um possível consumo abusivo ou até dependência. Mesmo os
35
Polícia Militar do Estado do Acre
Um individuo tímido, por exemplo, pode reagir com medo diante do oferecimento de uma droga e decidir
não usá-la, ao passo que outro, com base na sua timidez, receoso de ser rejeitado pelo grupo, pode aderir ao
uso.
Um adolescente que tem alguém na família que bebe exageradamente pode se espelhar nesse modelo e
começar "naturalmente" a beber muito. Já outro pode ver os problemas que a bebida esta causando e decidir
que não e isso que ele quer para si e para sua família.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
fatores mais relacionados são os de características internas do adolescente, tais como a insegurança,
a insatisfação e a não-realização em suas atividades. Os jovens precisam sentir que são bons em
alguma atividade, pois esse destaque representará sua identidade e sua função dentro do grupo. O
adolescente que não consegue se destacar nos esportes, estudos, relacionamentos sociais, entre
outras ações, busca nas drogas a sua identificação.
Os sintomas depressivos e as crises de angústia que, em muitos casos, fazem parte da
adolescência normal, são também fatores de risco. O jovem que está triste, desanimado ou mesmo
ansioso e angustiado tende a buscar atividades ou coisas que o ajudem a sentir-se melhor. Os efeitos
das drogas, usadas como tentativa de "automedicação", podem proporcionar, de forma imediata,
uma melhora desses sintomas. Quanto mais impulsivo e menos tolerante a frustração for o
adolescente, maior será o risco de usar drogas.
O uso indevido de drogas entre adolescentes de baixa renda envolve um processo
complexo denominado “dupla exclusão”. A demanda de drogas por esses jovens pode representar
uma busca de solução para as dificuldades vividas em sua condição de excluídos. As diversas
carências agravam as angústias naturais em relação ao futuro, as tarefas sociais e as suas
responsabilidades como membros de uma comunidade. Desse modo, e muito difícil para esses
jovens imaginar a construção de um projeto de vida. Nesse sentido, a droga é uma estratégia de
sobrevivência; além de reduzir as sensações de frio e de fome, provoca estados de sonolência que
permitem ficar indiferente a uma realidade deprimente e lhe dá preenchimento de um tempo que é
interminável em razão da falta de atividades. A droga proporciona, assim, uma falta de consciência
da própria condição de vida.
O conflito entre os pais é um dos fatores de risco mais relevantes, pois expõem as crianças
e os adolescentes a hostilidade, a crítica destrutiva e a raiva. Freqüentemente, esses conflitos estão
relacionados a alterações no comportamento, tais como agressão, sentimento de bem-estar
prejudicado e funcionamento social inadequado. Em especial nos adolescentes, isso pode precipitar
sintomas depressivos, delinqüência e problemas com álcool.
De maneira bastante simples, quanto mais rápido for o inicio dos efeitos de uma droga e
quanto menor a duração do efeito dela, maior o seu potencial para causar dependência. Isso se
explica porque o organismo teria pouco tempo para se reequilibrar, no caso do fim dos efeitos, com
sintomas de abstinência que aparecem de forma intensa e rápida. Assim, com o mal-estar físico
causado pela ausência da droga, a pessoa teria "mais vontade" (ou necessidade) de voltar a usá-la.
Como são muitos e variados os fatores que causam os problemas com o abuso de drogas,
uma ação isolada não é suficiente. São necessárias ações conjuntas, em diferentes níveis, realizadas
e dirigidas para os diversos grupos que compõem a comunidade.
Na infância, as intervenções preventivas abordam a promoção de saúde em uma
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Polícia Militar do Estado do Acre
perspectiva ampla e podem ser feitas com orientação adequada a pais e professores, usando a
criatividade e diversas atividades para propiciar a aquisição de habilidades e experiências que
tenham efeito protetor.
A prevenção voltada para os adolescentes ocorre principalmente nas escolas por ser esse o
local que, idealmente, todos os jovens deveriam freqüentar. É mais fácil iniciar um trabalho de
prevenção nas escolas, que têm uma estrutura organizada, voltada para passar informações e dar
orientações aos alunos e que mantêm contato com os pais. Entretanto, não é na escola que a
prevenção atingirá os jovens de maior risco. O jovem com problema de conduta, geralmente,
abandonam a escola e não se envolve com regularidade em atividades nas quais também podem ser
alvo de ações preventivas. Nesse caso, ações desenvolvidas na comunidade seriam mais indicadas.
Para mobilizar um grupo dentro da comunidade, muitas vezes, é preciso iniciar algum trabalho em
uma instituição da região, a partir da qual, com o envolvimento dos alunos, pais, professores e
funcionários, é possivel expandir as ações para a comunidade ao seu redor, envolvendo lideres
comunitários, religiosos e grupos de jovens.
Sendo a família a célula formadora da comunidade, não é possível desenvolver ações
preventivas na comunidade sem que ela participe. Cada comunidade, como cada família ou cada
escola, têm sua história, sua localização, seus valores, seus projetos e seus problemas. Conhecer
todas essas dimensões ajuda a fazer planejamentos realistas e a realizar ações mais eficazes.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Desde a antigüidade se faz uso de drogas, livros como a Bíblia, o Código de Hamurábi, a
Ilíada, a Odisséia, já mencionavam alguns dos tipos de substâncias que causam ações psicotrópicas,
entorpecente e/ou de dependência.
Os sumérios, na região onde atualmente estão situados o Irã e Iraque, há mais de 4.000
anos a.C., faziam uso da “planta da alegria”, como chamavam a papoula e o ópio, para terem uma
tradução do contato com os deuses. Também o povo Cita (habitantes da Europa Oriental, aqueciam
pedras para queimar o cânhamo (maconha) e inalar os vapores produzidos dentro de suas tendas. Na
Grécia, as festas a Dionísio, no Nilo, as festas a Baco, ambos deuses do vinho, eram homenagens a
esses deuses que tinham concedido aos humanos essa bebida que era considerada uma dádiva dos
deuses.
A utilização ou ingestão dessas drogas há muito conhecidas pela humanidade, podem ser
feitas de diversas formas, dentre as quais podemos destacar: a forma oral, nasal, inalável, injetável,
colírio e supositório.
De acordo com as leis brasileiras, as drogas são tipificadas como lícitas ou permitidas,
como é o caso da cafeína, tabaco, álcool, dentre outros; e, ilícitas ou não permitidas, como é o caso
da maconha, cocaína, crack, dentre outros.
As drogas têm origens distintas. Muitas são colhidas diretamente da natureza, outras são
semi-sintéticas e outras, sintéticas. Nos três casos citados, as drogas afetam nosso organismo,
causando alterações. Essas alterações podem ser psicotrópicas, produzidas por: estimulantes
(anorexígenos, cocaína), calmantes (ansiolíticos, opiáceos, inalantes), e perturbadores (mescalina,
THC, psicocibina, lírio, “LSD25-êxtase”, anticolinérgicos). Também existem alterações biológicas
ocasionadas pelos danos à saúde física, afetando os aparelhos cardiovascular, respiratório,
digestivo, sexual, além de afetarem diretamente o sistema nervoso central, o que pode causar sérias
lesões ao corpo, podendo até levar à morte. As alterações psicológicas vão desde a diminuição da
atenção, memória e concentração, passando por alterações bruscas de humor, bem como, perda da
noção do tempo e do espaço, produzindo uma progressiva diminuição da auto-estima pela
insegurança e depressão ocasionadas pela ausência ou abstinência. As alterações sociais são
perceptivas não apenas pelo prejudicado desempenho afetivo, profissional e social, mas também
pelo rompimento dos vínculos sociais com as pessoas que não usam drogas e que para o
dependente, são pessoas que não o compreendem, não conhecem a situação que ele está passando e
que, por isso, não podem ajudá-lo (SENAD, 2006).
As alterações produzidas nos usuários podem ser físicas e psíquicas, causando síndrome
da abstinência, tolerância e sinergismo.
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Polícia Militar do Estado do Acre
• Estima-se que 11,2% da população brasileira seja dependente de álcool e que 9,0% seja
dependente de tabaco;
• 19,4% da população fizeram uso na vida de drogas, diferentes de álcool e tabaco;
• A maconha é a droga ilícita mais utilizada, apontando o fato de 6,9% dos entrevistados já
terem utilizado maconha alguma vez na vida e 1,0% se considerar dependente dela;
• O solvente é a segunda droga ilícita mais utilizada, representando um total de 5,8% dos
entrevistados já terem utilizado maconha alguma vez na vida;
• Os benzodiazepínicos (ansiolíticos) tiveram o uso de 3,3%, ao menos uma vez na vida,
chegando o número de dependentes a 1,1% dos entrevistados;
• 52,2% dos adolescentes do sexo masculino e 44,7% do sexo feminino já utilizaram álcool
alguma vez na vida, sendo que, o número de dependentes é de 6,9% entre os usuários do
sexo masculino e 3,5% do sexo feminino;
• 15,7% dos adolescentes do sexo masculino e 16,2% do sexo feminino já utilizaram tabaco
alguma vez na vida, sendo que, o número de dependentes é de 2,2% entre os usuários de
ambos os sexos;
• 3,4% dos adolescentes do sexo masculino e 3,6% do sexo feminino já utilizaram maconha
alguma vez na vida, sendo que, o número de dependentes é de 0,9% entre os usuários do
sexo masculino e 0,4% do sexo feminino;
40
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
41
Polícia Militar do Estado do Acre
comercialização, uso, abuso e a relação das drogas com crianças e adolescentes. Dentre as muitas
leis, podemos destacar as seguintes:
• Constituição Federal
Art. 5 XLIII e LI Art. 144 *1 II entorpecentes e
Art. 227 *3 VII Art. 243 drogas afins
• Código Penal
Art. 28 II (embriaguez)
• Estatuto da Criança e do adolescente
Art. 10
• Lei 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro)
Art. 77
• Decreto 98.961/90 (Expulsão de est. Cond. por Tráfico de Drogas)
• Lei 8.257/91 (Culturas Ilegais de Psicotrópicos)
• Lei 11.343/06 (institui o SISNAD, prescreve medidas para prevenção às drogas,
reinserção social e repressão ao tráfico)
Gostaríamos de apresentar aqui algumas das drogas mais utilizadas14. Para tanto, em sendo
grande o número de “nomes fantasia”, resolvemos fazer a apresentação a partir das nomenclaturas
produzidas pelas várias instituições que tratam do assunto, tais quais, CEBRID, SENAD, MS,
CONAD, dentre outros.
Álcool
Nome: cerveja, destilados e vinhos; Origem: grão e frutas; Quantidade média ingerida:
350 ml, 45 ml, 90 ml; Forma ingestão: oral; Efeitos a curto prazo (quantidade média):
relaxamento, quebra das inibições, euforia, depressão, diminuição da consciência; Duração: 2-4
horas; Efeitos a curto prazo (grandes quantidades): estupor, náusea, inconsciência, ressaca,
morte; Risco de dependência psicológica: alto; Risco de dependência física: moderado;
14
Informações em domínio público obtidas do Site Antridrogas.
42
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Tolerância: sim; Efeitos a longo prazo: obesidade, impotência, psicose, úlceras, subnutrição,
danos cerebrais e hepáticos, morte; Utilização médica: nenhuma.
Alucinógenos
Anfetaminas
Antidepressivos
Nome: tofranil, ritalina, tryptanol; Origem: sintética; Quantidade média ingerida: 10-
25mg; Forma ingestão: oral, injetável; Efeitos a curto prazo (quantidade média): alívio da
ansiedade e da depressão, impotência temporária; Duração: 12-14 horas; Efeitos a curto prazo
(grandes quantidades): náusea, hipertensão, perda de peso, insônia; Risco de dependência
psicológica: baixo; Risco de dependência física: nenhum; Tolerância: sim; Efeitos a longo
prazo: estupor, coma, convulsões, insuficiência cardíaca congestiva, danos ao fígado e aos glóbulos
43
Polícia Militar do Estado do Acre
Barbitúricos
Cafeína
Nome: café, chá, refrigerantes; Origem: grão de café, folhas de chá, castanha;
Quantidade média ingerida: 1-2 xícaras, 300ml; Forma ingestão: oral; Efeitos a curto prazo
(quantidade média): agitação, irritabilidade, insônia, perturbações estomacais; Duração: 2-4
horas; Efeitos a curto prazo (grandes quantidades): agitação, insônia, enjôo; Risco de
dependência psicológica: alto; Risco de dependência física: alto; Tolerância: não; Efeitos a
longo prazo: agitação, irritabilidade, insônia, perturbações estomacais; Utilização médica: na
supersedação e dor de cabeça.
Cocaína
Nome: cocaína; Origem: folhas de coca; Quantidade média ingerida: variável; Forma
ingestão: nasal, injetável; Efeitos a curto prazo (quantidade média): sensação de auto-confiança,
vigor intenso; Duração: 4 horas; Efeitos a curto prazo (grandes quantidades): irritabilidade,
depressão, psicose; Risco de dependência psicológica: alto; Risco de dependência física: alto;
Tolerância: não; Efeitos a longo prazo: danos ao septo nasal e vasos sanguíneos, psicose;
Utilização médica: anestésico local.
44
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Inalantes
Nome: aerossóis (éter), colas, nitrato de amido, óxido nitroso; Origem: sintética;
Quantidade média ingerida: variável; Forma ingestão: inalável; Efeitos a curto prazo
(quantidade média): relaxamento, euforia, coordenação prejudicada; Duração: 1-3 horas; Efeitos
a curto prazo (grandes quantidades): estupor, morte; Risco de dependência psicológica: alto;
Risco de dependência física: nenhum; Tolerância: possível; Efeitos a longo prazo: alucinações,
danos ao cérebro, aos ossos, rins e fígado, morte; Utilização médica: dilatação dos vasos
sanguíneos, anestésico leve.
Cannabis Sativa
Nome: haxixe, maconha, thc; Origem: cannabis, sintética; Quantidade média ingerida:
variável; Forma ingestão: inalável, oral, injetável; Efeitos a curto prazo (quantidade média):
relaxamento, quebra das inibições, alteração da percepção, euforia, aumento do apetite; Duração:
2-4 horas; Efeitos a curto prazo (grandes quantidades): pânico, estupor; Risco de dependência
psicológica: moderado; Risco de dependência física: moderado; Tolerância: não; Efeitos a longo
prazo: fadiga, psicose; Utilização médica: na tensão, depressão, dor de cabeça, falta de apetite.
Narcóticos
Nome: codeína, demerol, metadona, morfina, ópio, percodan; Origem: papoula de ópio,
papoula de ópio sintética; Quantidade média ingerida: 15-50mg, 50-150mg, 05-15mg, 10mg;
Forma ingestão: oral, injetável, nasal; Efeitos a curto prazo (quantidade média): relaxamento,
alívio da dor e da ansiedade, diminuição da consciência, euforia, alucinações; Duração: 4 horas.
Efeitos a curto prazo (grandes quantidades): estupor, morte; Risco de dependência psicológica:
alto; Risco de dependência física: alto; Tolerância: sim; Efeitos a longo prazo: letargia, prisão de
ventre, perda de peso, esterilidade e impotência temporária, enjôos pela privação; Utilização
médica: na tosse, na diarréia, analgésico, combate à heroína.
Nicotina
Nome: cachimbos, charutos, cigarro, rapé; Origem: folhas de tabaco; Quantidade média
ingerida: variável; Forma ingestão: inalável, oral; Efeitos a curto prazo (quantidade média):
45
Polícia Militar do Estado do Acre
relaxamento, contração dos vasos sanguíneos; Duração: 1/2-4 horas; Efeitos a curto prazo
(grandes quantidades): dor de cabeça, perda de apetite, náusea; Risco de dependência
psicológica: alto; Risco de dependência física: alto; Tolerância: sim; Efeitos a longo prazo:
respiração prejudicada, doença pulmonar e cardiológica, câncer, morte; Utilização médica:
nenhuma (usado em inseticida).
Tranqüilizantes
Nome: dienpax, librium, valium; Origem: sintética; Quantidade média ingerida: 5-30
mg, 5-25 mg, 10-40 mg; Forma ingestão: oral; Efeitos a curto prazo (quantidade média): alívio
da ansiedade e da tensão, supressão das alucinações e da agressão, sono; Duração: 12-24 horas;
Efeitos a curto prazo (grandes quantidades): sonolência, visão perturbada, discurso "borrado",
reação alérgica, estupor; Risco de dependência psicológica: moderado; Risco de dependência
física: moderado; Tolerância: não; Efeitos a longo prazo: destruição de células sanguíneas,
icterícia, coma, morte; Utilização médica: na tensão, ansiedade, psicose, no alcoolismo.
46
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
CAPÍTULO III
LITERATURA ESPECIALIZADA
SOBRE DROGAS E ADOLESCÊNCIA
Fonte: OBID15
47
Polícia Militar do Estado do Acre
aparecem, nesta pesquisa, são o uso de drogas e o envolvimento com o crime, analisados como um
sintoma de toda a família e encarado como uma forma de lidar com os conflitos - mais do que um
problema em si mesmo. A função desses sintomas é conduzir uma mensagem que denuncia falhas
do sistema familiar e social, ao mesmo tempo que indica a necessidade de mudança no seu
funcionamento.
Para os pais, a idéia de que estão perdendo o seu filho, quando este demonstra movimentos
de saída do sistema familiar, gera um estado nomeado de "pânico parental". A possibilidade de
crescimento e independência do filho são vistas como uma ameaça à continuidade familiar, como
ruptura e abandono, pois nessas famílias há a percepção de que os vínculos não evoluem. O uso de
drogas acaba por oferecer uma solução ao dilema, pois a independência do filho é uma ameaça mais
destrutiva para a família do que a dependência química.
Ou seja, os pais, não podendo assumir seu papel e seu lugar de orientação, controle e
tomada de decisões, confiam essa posição ao filho que assume prematuramente uma
responsabilidade emocional considerável. O ambiente social no qual está inserido não lhe oferece
muitas oportunidades diferentes, pois o meio em que vive não o ajuda a produzir os modos de
inclusão dentro de projetos mais integradores na sociedade.
48
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
As autoras concluem que essa dinâmica familiar não é a única que pode estar presente em
famílias de adolescentes que se envolvem em atos infracionais e com drogas. Outras formas de
organização familiar também podem dificultar o processo de construção da identidade de
adolescentes, levando-os ao envolvimento com as drogas e ao crime. Além disso, o fato da pesquisa
centrar-se nas relações familiares, não significa desconsiderar os aspectos sociais, individuais e
políticos que envolvem a relação do homem com as drogas e atos ilícitos.
49
Polícia Militar do Estado do Acre
Fonte: OBID16
A precocidade do início do uso de álcool e outras drogas também tem sido alvo de
preocupação. Vários estudos indicam que crianças e adolescentes estão iniciando cada vez mais
cedo o uso destas substâncias.
Alguns dos fatores fortemente associados ao uso de drogas por adolescentes são: a
facilidade de obtenção e o consumo de drogas pelos amigos. Na adolescência, a necessidade de
fazer parte de um grupo assume grande importância, pois ajuda na afirmação da própria identidade,
aumenta as opções de lazer e reduz a solidão. As atitudes assumidas pelo grupo passam a ser tão ou
mais importantes do que alguns valores familiares, pois dele vem parte do suporte emocional e a
aceitação pelos outros componentes reforça a auto-estima.
Existem inúmeros fatores relacionados ao início do uso de álcool e outras drogas, mas o
aspecto familiar e o relacionamento com amigos têm recebido maior atenção. A presença de
conflitos familiares e a influência dos amigos estão associadas ao aumento do risco para o uso de
drogas.
O presente artigo publicado pela Revista Psicologia: Teoria e Prática investigou quais são
os principais temores de pais de adolescentes e o que eles sentem em relação ao uso de drogas e ao
futuro dos filhos. Avaliou também as reações frente ao problema, de forma que estes resultados
pudessem contribuir para a elaboração de programas preventivos. Para isso foram entrevistados 87
16
Texto resumido pelo OBID, a partir do original publicado pela Revista Psicologia: Teoria e Prática, 2006, vol.8
(Supl. 1): pág. 41-54. Editado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. ISSN 1516-3687.
http://scielo.bvs-psi.org.br/pdf/ptp/v8n1/v8n1a04.pdf
50
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
pais de adolescentes, todos moradores da cidade de São Paulo, com filhos adolescentes estudantes
com idade entre 12 e 19 anos.
Os resultados mostram que a média de idade dos pais foi 42 anos, sendo que, 73% eram do
sexo feminino; 71% estavam casados e 26% separados; 64% moravam em casa própria. Quanto à
religião, 64% eram católicos. Em relação à escolaridade, 73% tinham curso superior; 88% estavam
empregados e 72% tinham renda familiar acima de 8 salários mínimos.
Dos pais entrevistados, 91% afirmaram conversar com os filhos sobre álcool, 78% sobre
cigarro e 61% sobre inalantes. Sobre as drogas ilícitas, 80% dos pais afirmaram conversar sobre
maconha e 68% sobre cocaína. O conteúdo das conversas é meramente informativo ou restringe-se
ao compartilhamento dos temores pelas possíveis conseqüências do uso de drogas. Esse tipo de
comunicação pode não ser uma forma efetiva de prevenção e, ao contrário, pode gerar sobre os
filhos uma certa ansiedade e medo dos pais.
Os pais relataram bastante preocupação com o futuro de seus filhos, no que diz respeito às
drogas. Foram observados dois tipos principais de temor: os relacionados ao mundo externo
(influências de amigos e marginalidade) e os relacionados às conseqüências pessoais do uso
(dependência, overdose, internações).
Diante do uso de drogas lícitas, os pais afirmam que conversariam com os filhos e
encarariam o consumo com maior naturalidade. Já no caso de uso de drogas ilícitas, a maioria
confessou que brigariam verbalmente.
Embora seja senso comum a percepção do temor e da preocupação dos pais em relação à
presença da droga na vida dos filhos, na literatura especializada são escassos os estudos que
abordam esses aspectos. Os trabalhos recentes sobre prevenção ao uso de drogas têm demonstrado a
pouca efetividade dos modelos baseados apenas na divulgação de informações ou no
amedrontamento. É importante que programas de prevenção tenham como meta a promoção do bem
estar e da competência dos adolescentes para lidar com situações de risco, incluir a participação de
pais e educadores no processo.
51
Polícia Militar do Estado do Acre
Fatores de risco ao uso de drogas têm sido muito descritos na literatura, os principais
motivos mencionados são o uso de drogas pelos pais, a falta de integração às atividades escolares,
desestrutura familiar, violência doméstica e a pressão de colegas. Alguns desses fatores são muito
semelhantes àqueles que já fazem parte da própria adolescência como os conflitos psicosociais, a
necessidade de integração social, a busca da auto-estima e de independência familiar.
Essa verificação coloca o adolescente numa posição suscetível ao uso de drogas. Vários
autores compartilham dessa afirmação, quando identificam a faixa etária do início do uso de drogas
dentro da adolescência, ou seja, entre 10 e 19 anos - de acordo com a Organização Mundial de
Saúde - OMS. Entre estudantes brasileiros, o início de consumo ocorre principalmente entre 10 e 12
anos.
O artigo “Razões para o não-uso de drogas ilícitas entre jovens em situação de risco”
publicado pela Revista de Saúde Pública identificou entre adolescentes de baixo poder aquisitivo,
quais os motivos que os impem de experimentar e de fazer uso de drogas psicotrópicas, mesmo
quando submetidos a constante oferta. Responderam ao estudo adolescentes e jovens adultos entre
16 e 24 anos, de ambos os sexos, de classe social baixa, que nunca experimentaram drogas
psicotrópicas e/ou que fizeram apenas uso experimental de cigarro e uso leve de álcool.
Verificou-se que 35% dos estudantes que não fazem uso de drogas largaram os estudos,
contra 70% dos usuários, onde a grande maioria ainda não completou o segundo grau. Os não
usuários desistem do estudo em função de trabalho, tarefas domésticas ou de quaisquer outras
dificuldades inerentes a sua condição financeira. Já os usuários param de estudar, principalmente,
pelo consumo da droga.
A disponibilidade de informações acerca das drogas psicotrópicas foi citada pela maior
parte dos não usuários como motivo relevante no afastamento das drogas e destacam a família, por
meio do estabelecimento de diálogos sobre o tema, como a principal divulgadora. A experiência
17
Texto elaborado pelo OBID, a partir do original publicado pela Revista de Saúde Publica, 2005, n.º 39 (4), pág. 599-
605. Editado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – FSP-USP. ISSN 1516-9332.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102005000400013&lng=pt&nrm=iso
52
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Segundo os não usuários, o afastamento da droga deve-se a fatores como: alerta precoce
dos pais associado à observação direta e clara dos danos físicos e morais resultantes da dependência
na comunidade; impossibilidade da concretização de suas metas de vida; respeito aos pais, em
especial à mãe e medo da morte - decorrente do crime e associado ao tráfico.
O afastamento de jovens das drogas e de suas complicações deve-se aos valores morais e
afetuoso que recebem de seus pais, em especial das mães. Da convivência em um lar harmônico,
esses jovens extraem influências positivas ao não-uso, tomando os pais não-usuários como modelo,
aprendendo com os sofrimentos decorrentes do abuso de drogas por pessoas próximas. Já a
predisposição à droga poderia ser atribuída ao ambiente desarmônico em que vivem, onde a relação
entre pais e filhos é caracterizada pela pouca afetividade. Além de não participarem do
desenvolvimento de seus filhos, acabam prejudicando, despertando o interesse pelo consumo de
drogas lícitas e ilícitas.
53
Polícia Militar do Estado do Acre
Autor: ROCHA, S. M.
Fonte: OBID18
Vários fatores estão associados ao uso, abuso ou dependência de drogas, alguns deles
parecem exercer uma influência mais importante, dentre os quais a influência do grupo social
(amigos e família), aprovação social, ansiedade, depressão, conflitos e problemas familiares e a
atração por correr riscos.
O presente artigo publicado pela revista Interação em Psicologia relatou alguns achados de
um levantamento sobre o uso de drogas feito com 196 adolescentes que cometeram atos infracionais
e registraram ingresso no Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator, Projeto Justiça
Instantânea.
Os dados mostram que o uso de drogas, sobretudo as ilícitas, estava associado a atos
infracionais. É importante ressaltar que a maioria dos adolescentes infratores usuários de drogas que
foram pesquisados não freqüentava a escola, 42%. Este é um fator de risco e contribui no processo
de exclusão social dos adolescentes, levando-os a situações de indigência e a outras estratégias
próprias de sobrevivência.
As ocorrências infracionais mais praticadas foram o porte e tráfico de drogas, seguidas dos
delitos contra o patrimônio, geralmente praticados com maior freqüência no turno da tarde e na
18
Texto resumido pelo OBID, a partir do original publicado pela Revista Interação em Psicologia, 2004, vol.8 (2): pág.
191-198. Editado pela Universidade Federal do Paraná Pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação. ISSN: 1516-1854.
http://www.mp.rn.gov.br/caops/caopij/doutrina/doutrina_ato_infracional_drogas.pdf
54
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
companhia de outros adolescentes. O estudo também revelou que entre os 120 adolescentes usuários
de drogas apenas 22% havia freqüentado algum programa de tratamento relativo ao consumo de
drogas; outros 22% nunca haviam se submetido e para 56% não constava qualquer informação
registrada. Ainda, 52% deles já contavam com registro de outras práticas infracionais.
55
Polícia Militar do Estado do Acre
Autor: CABRAL, L. R.
Fonte: OBID19
Atualmente, o abuso do álcool tem alcançado grandes proporções, e está associado a uma
série de conseqüências adversas, onde o alcoolismo é apenas uma parte, mesmo que seja a de maior
relevância do ponto de vista clínico. O problema do alcoolismo - entendido como a necessidade de
ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, e todas as conseqüências decorrentes - transformou-se
num dos fenômenos sociais mais generalizados nas últimas décadas.
O alcoolismo é duas a três vezes mais freqüente no sexo masculino e em pessoas de pele
branca e atinge todas as classes sociais. Estudos sobre o consumo e atitudes em relação ao álcool
foram, durante muitos anos, efetuados apenas com homens adultos, menosprezando-se o consumo
por jovens. Nas últimas duas décadas este objeto de estudo acabou por se impor, frente ao
reconhecimento de uma preocupante evolução de consumos e de comportamentos de consumo
excessivo de álcool nas novas gerações.
Estudos não combinam com bebida. Um estudante que consome acha que no dia seguinte
estará bem. Está enganado. O cérebro leva mais de uma semana para se recuperar do efeito do
álcool. Isso quer dizer que nos dias seguintes a pessoa vai ter dificuldades de memorizar e
compreender conceitos. O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a venda de bebidas para
menores de 18 anos, mas são poucos os bares que respeitam a Lei.
Os jovens que bebem em excesso correm riscos que variam desde ferimentos acidentais
até a morte, sendo os que mais sofrem com conseqüências permanentes para o resto da vida, como
19
Texto resumido pelo OBID, a partir do original publicado pela Revista Millenium - Revista do ISPV - n.º 30 -
Fevereiro de 2006. Editado pelo Instituto Politécnico de Viseu.
http://www.ipv.pt/millenium/Millenium30/14.pdf
56
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
por exemplo, danos cerebrais - isto porque o cérebro do adolescente, ainda em processo de
desenvolvimento, sofre destruição de células que ajudam a controlar a aprendizagem e a memória.
57
Polícia Militar do Estado do Acre
Fonte: OBID20
Estudo realizado em São Paulo e publicado pela revista americana Alcoholism: Clinical
and Experimental Research em abril de 2006, teve como objetivo avaliar os efeitos da ingestão
concomitante de uma bebida alcoólica, a vodka (37.5% de álcool), e uma bebida energética, Red
Bull (3.57ml/kg), sugerindo que os efeitos do energético potencializam os efeitos excitatórios e/ ou
reduzem os efeitos depressivos do álcool.
Os voluntários foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos que receberam 0.6 e 1.0
g/kg de álcool, respectivamente. Completaram três sessões experimentais – ao acaso – em sete dias
e com combinações diferentes das bebidas: álcool sozinho, bebida energética sozinha, ou álcool e
bebida energética. Foram avaliados a concentração de álcool no hálito dos voluntários, as sensações
subjetivas da intoxicação, os efeitos na coordenação motora objetiva e o tempo de reação visual.
Antes das sessões, que ocorriam no começo da tarde, os voluntários faziam uma refeição de 1.000
calorias e no final faziam um lanche e voltavam para casa de táxi.
20
Texto elaborado pelo OBID a partir do original publicado pela revista Alcoholism: Clinical and Experimental
Research, abr. 2006, vol. 30, n.º 4, p. 598 – 605. ISSN 0145-6008.
58
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
59
Polícia Militar do Estado do Acre
Algumas variáveis têm sido mencionadas como possíveis causas do início precoce do
tabagismo: o hábito de fumar dos pais, irmãos, professores ou colegas mais próximos, ser do sexo
masculino, defasagem nos estudos, pais separados e trabalhar.
21
Texto resumido pelo OBID, a partir do original publicado pelo Jornal de Pediatria, 2006, vol.82 (nº 5). Editado pelo
Instituto Materno Infantil de Pernambuco. ISSN 0021-7557.
http://www.scielo.br/pdf/jped/v82n5/v82n5a10.pdf
60
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Sabendo-se que 90% dos fumantes adultos se tornaram dependentes da nicotina até os 19
anos e que 50% dos experimentadores jovens se tornarão fumantes na idade adulta, qualquer
experimentação é indesejável. Em conjunto, tais dados demonstram que, apesar da implementação
no Brasil de inúmeras ações educativas, legislativas e econômicas, no plano nacional e pelas
Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e de Educação, os jovens ainda se encontram muito
vulneráveis à experimentação de cigarros e aos agravos decorrentes do hábito de fumar.
61
Polícia Militar do Estado do Acre
Fonte: INCA
Introdução
Vários estudos têm mostrado que a adolescência é a fase da vida de maior risco para o
início do consumo de cigarros. A iniciação do tabagismo nos jovens é imensamente influenciada
pela promoção e publicidade da indústria do tabaco. Outros fatores de influência são a pressão do
grupo de colegas e a atitude que os modelos de comportamento incentivam. Além disso, a iniciação
diminui significantemente após os 18 anos, levando à conclusão de que se os adolescentes se
mantiverem longe do tabaco durante esse período a maioria não se tornará fumante. Isto traz vários
desafios e oportunidades para intervenções ao controle do tabaco.
O VIGESCOLA foi desenvolvido no final de 1998 e iniciado em 1999 para auxiliar países
no planejamento, desenvolvimento, implementação e avaliação de amplos programas de controle de
tabaco para proteger os jovens, e funciona com parceiros globais, regionais e nacionais. Os
resultados obtidos nos inquéritos têm o propósito de auxiliar os gestores no planejamento e avaliação
de ações coordenadas para o controle do tabagismo no país.
Metodologia
62
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Em cada capital onde o estudo foi realizado, vinte e cinco escolas, públicas e privadas,
foram selecionadas de forma aleatória. Em cada uma dessas escolas foram selecionadas entre uma e
cinco turmas, dependendo do tamanho da população escolar. A todos os estudantes dessas turmas
que compareceram no dia da pesquisa foram aplicados os questionários.
Resultados
Na grande maioria das capitais, a participação das escolas selecionadas ficou acima de
90%. Em relação à participação dos estudantes, houve uma menor proporção em Fortaleza (70,8%).
Quanto à distribuição da amostra por série, para as capitais de Boa Vista, Fortaleza, João
Pessoa, Natal e São Luis houve predomínio dos estudantes de Ensino Médio. Já para as capitais de
Aracaju, Palmas, Porto Alegre e Vitória foi maior a proporção de escolares da 7ª série do Ensino
Fundamental.
Quanto à distribuição de estudantes por idade, em Aracaju, Fortaleza, João Pessoa, Natal e
Palmas observaram-se maiores proporções de escolares com idade igual ou superior a 17 anos. O
fato pode ser atribuído à inclusão de turmas do período noturno na pesquisa, o que aconteceu nessas
cinco capitais.
Prevalência de Tabagismo
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), para a população adulta, são fumantes
regulares aquelas pessoas que fumaram 100 ou mais cigarros na vida e que fumam atualmente.
63
Polícia Militar do Estado do Acre
Observou-se que entre escolares fumantes atuais, as capitais com maior proporção de fumantes
regulares foram Porto Alegre (35,3%), Goiânia (31,2%), Campo Grande (26,7%) e Palmas (26,5%).
As proporções de escolares, com idade entre 12 e 16 anos, que não foram impedidos de
comprar cigarros em lojas foram muito mais elevadas, ultrapassando 70% dos casos em todas as
capitais, com exceção de Vitória que, mesmo assim, apresentou uma percentagem alta (60,2%).
Mídia e propaganda
A percentagem de escolares que viram anúncios pró-tabaco nos últimos 30 dias foi
acentuadamente elevada, variando de 70,5% em Palmas a 87,3% em Porto Alegre.
O uso de produtos com logomarca das indústrias de tabaco, segundo relato dos estudantes
foi baixo, variando de 4,4% a 11,9% em Fortaleza e Boa Vista, respectivamente.
Em todas as capitais, a percentagem de escolares fumantes que têm pelo menos um dos
pais fumantes excedeu a percentagem de escolares não fumantes na mesma condição, com destaque
para a capital de Porto Alegre (66,4 x 44,7).
Discussão
Foi observado que o fator preponderante para que o jovem se tornasse fumante foi a
experimentação, tanto do ponto de vista de sua magnitude quanto da precocidade. Nesta faixa etária
os indivíduos são o principal alvo de intervenções que visam interromper um processo de
experimentação de cigarros para a instalação do tabagismo regular. Nesta linha de ação, a escola
representa um espaço privilegiado para a prevenção.
64
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Outro dado discutido foi a alta proporção encontrada de fumantes de 100 cigarros ou mais
na vida entre os fumantes atuais. Este é o grupo de jovens que passou da fase de experimentação e já
fuma regularmente. Os jovens fumantes regulares, como possíveis dependentes, devem ser objetos
de medidas direcionadas à cessação.
A idade de experimentação foi muito precoce em quase todas as capitais. Tem-se apontado
que a experimentação ao tabagismo está associada à busca de identidade e de espaço no mundo
adulto, o que ocorre entre jovens na pré-puberdade. Ciente disso, a indústria promove propagandas e
outras estratégias de marketing que associam o fumar ao rito de passagem para o mundo adulto e o
cigarro como um ícone de amadurecimento e ideal de auto-imagem, incentivando a experimentação.
No sentido ainda de estimular a iniciação precoce, a indústria associa estratégias de massa voltadas a
facilitar o acesso através da manutenção de baixos preços dos cigarros, promovendo a venda de
maços com menos cigarros (kid packs), a venda de cigarros em auto-serviços ou em máquinas
automáticas.
Ainda quanto à questão do acesso ao produto no Brasil, além das estratégias da indústria,
coexistem outros fatores de grande impacto na facilitação ao acesso e à iniciação. Este cenário
aponta para a necessidade de implementação de um leque de medidas que visem reverter estas
tendências, tais como: ampliação da restrição à propaganda de cigarros, aumento dos preços dos
produtos do tabaco, proibição da venda em auto-serviços e máquinas automáticas, controle de venda
a menores, e controle do mercado ilegal.
Entre os fatores investigados na pesquisa foi ressaltado ainda o tabagismo entre os pais. O
relato de tabagismo entre os pais foi maior entre jovens fumantes do que entre os não fumantes. Este
achado, observado em outros estudos, mostra a importância dos pais, seja por expor as crianças e
jovens à poluição tabagística ambiental, seja pela maior influência na iniciação ao tabagismo no
grupo de estudo.
Apesar do ainda grave quadro do tabagismo no Brasil, alguns dados vêm mostrando uma
melhora em alguns aspectos. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição realizada em 1989
(PNSN) comparados ao Inquérito Domiciliar Sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida
de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, realizado em 2002 e 2003 pelo Instituto Nacional de
Câncer (dados não publicados), mostraram que em 16 capitais do Brasil, a prevalência de tabagismo
diminuiu. Esta queda é entre outros aspectos, resultado de várias medidas que vêm sendo adotadas
para reduzir a iniciação e promover a cessação de uso de cigarros. Entre as medidas para reduzir a
iniciação incluem-se as leis de amplo espectro comparadas a outros países, de proibição das
propagandas de tabaco na maior parte dos veículos de mídia, a promoção da propaganda contra o
65
Polícia Militar do Estado do Acre
tabaco, entre as quais se destacam as advertências e fotos dos maços de cigarros. Estas últimas
atingem os jovens, indiretamente, e desestimulam a iniciação.
Outras medidas vêm sendo desenvolvidas, como o Programa Saber Saúde de promoção à
saúde nas escolas, realizado pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde em parceria com as
Secretarias Estaduais e Municipais de Educação com orientação do INCA; as inserções de
procedimentos específicos para tratamento do fumante na rede SUS, e a articulação com a Secretaria
da Fazenda para aumento do preço dos cigarros, medida de especial impacto no grupo de jovens e de
pessoas de menor poder aquisitivo.
66
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Das várias substâncias que podem ser experimentadas durante este período da vida, a
cocaína é uma das que gera maiores preocupações dada a rapidez com que pode causar
dependência. A cocaína, estimula o sistema nervoso central, produz euforia e provoca, aumentando
a energia, a excitação sexual, levando a comportamentos sexuais de risco. Causa também
desequilíbrio emocional. Acabando o estoque de cocaína, o paciente fica deprimido e irritável.
Outro fenômeno que chama atenção é o “craving” que é difícil de definir, mas é uma
força que deixa o usuário com muita vontade de usar a droga. Este fenômeno integra o próprio
conceito de dependência. Das pesquisas sobre o assunto, sabe-se que o estresse contribui para o
aparecimento do craving. Tais fenômenos influem sobre a criança e o adolescente por desviar o
aprendizado de comportamentos necessários para o crescimento, direcionando-o para o consumo da
droga.
No adolescente, a história de uso de droga é mais curta do que no adulto, pois a procura
por serviços de saúde é mais relacionada com traumas ou overdoses, mais freqüente neste grupo por
serem mais inexperientes. O tratamento do adolescente deve englobar a situação familiar, escolar,
saúde geral, comportamento sexual de risco, envolvimento em comportamento delinqüente, saúde
22
Texto resumido pelo OBID, a partir do original apresentado pela Associação Brasileira de Psiquiatria, no Simpósio
do Departamento de Dependência Química apresentado no XXIV Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em outubro de
2006. Editado pelo Departamento da Associação Brasileira de Psiquiatria.
http://www.abpbrasil.org.br/departamentos/coordenadores/coordenador/noticias/?not=145&dep=62
67
Polícia Militar do Estado do Acre
Em uma área onde o tratamento do adulto ainda não atingiu, nas pesquisas realizadas, um
nível de consenso, torna-se difícil traçar diretrizes para o tratamento do adolescente. De qualquer
forma, não há discordância quanto ao fato de que a exposição à cocaína na forma de crack durante a
adolescência pode levar a padrões de uso intenso em curto período de tempo, que este uso
interrompe uma etapa importantíssima do desenvolvimento humano e que o tratamento deve ser
compreensivo.
68
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
O artigo publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura - Unesco é uma versão resumida do livro “Drogas na escola”, organizado por Mary Castro e
Miriam Abramovay (2002). A edição foi especialmente preparada para atender às escolas
brasileiras. A pesquisa que deu origem ao livro procurou privilegiar a visão de mundo dos alunos. O
estudo envolveu crianças e jovens do ensino fundamental e médio de 14 capitais brasileiras.
Drogas e violências são temas em foco, sobretudo no que diz respeito à relação que
possuem com os processos sociais, mas ainda prevalece uma perspectiva que colabora para reforçar
preconceitos, o que pode, inclusive, comprometer uma postura preventiva e fortalecer, uma conduta
de repressão. Daí a importância da escola e dos educadores conhecerem cada vez mais a
complexidade da questão das drogas, para que possam tomar medidas de ajuda ao jovem, como
apoio e educação.
Além do álcool e do tabaco, outras drogas lícitas, tais como os medicamentos – calmantes,
anfetaminas, anticolinérgicos e anabolizantes - e os solventes/inalantes têm sido utilizadas de forma
ilegal, e cujo abuso por parte dos jovens parece ser bastante preocupante. São fáceis de serem
adquiridas e com baixo custo.
Quanto ao uso passado (experimentou ou usou e não usa mais), a maconha lidera, com
uma média de quase 3%, e um total de mais de 135,6 mil jovens. Os inalantes e a cocaína em pó
aparecem em seguida, com percentuais semelhantes – de 1,1% e 1% em cada caso. Seguem-se o
23
Texto resumido pelo OBID, a partir do original publicado pela UNESCO 2005, Edição publicada pelo Escritório da
UNESCO no Brasil.
http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001393/139387por.pdf
69
Polícia Militar do Estado do Acre
crack e a merla, com proporções de 0,5% e, em último lugar, as drogas injetáveis, com um
percentual de 0,3% e quase 12 mil usuários.
Os dados de uso regular (todos/ou quase todos os dias e finais de semana), indicam que em
todas as capitais a proporção desse uso é sempre igual ou menor que no passado, para todos os tipos
de drogas ilícitas, o que leva a pensar que muitos alunos experimentaram álcool ano passado, mas
não continuaram o uso no ano seguinte. Apesar deste uso presente ser igual ou menor, não deixa de
ser significativo, pois é um uso regular e contínuo.
Para as 14 capitais pesquisadas, os estudantes informam que, dentre as drogas que mais
viram ser consumidas destaca-se, em primeiro lugar, a maconha, com um percentual médio de
80,5%, seguida de longe pela cocaína em pó e pelos inalantes. A merla, o crack e as drogas
injetáveis parecem ter um uso bem menor e são mais restritas a determinadas capitais.
A escola é vista, pelos alunos, como um meio para a obtenção de um maior capital social e
cultural. Entretanto, para que a escola continue exercendo sua função e seja capaz de propor ações
concretas na resolução dos conflitos que se dão no seu ambiente – os quais refletem problemas
internos e externos a ela, tais como a presença, a venda e o consumo de drogas – é necessário que
ela seja capaz de lidar com novos valores e novas idéias que surgem com as constantes
transformações sociais.
Com esses dados os autores do presente artigo sugerem algumas medidas para auxiliar na
prevenção do uso de drogas, como investir em uma cultura de paz, estimulando a cooperação e a
solidariedade, bem como desenvolvimento de trabalhos integrais nas escolas, como atividades
externas, extracurriculares e esportes.
70
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Os fatores protetores não são sempre opostos aos fatores de risco, e dentre esses, incluem-
se o sucesso no desempenho escolar e os vínculos fortes com instituições pró-sociais, como a
escola.
O segundo estágio é estabelecido diante da evidência de que a criança não está adquirindo
as habilidades escolares. A hipótese é de que o comportamento rude da criança conduz à rejeição
pelo grupo e aos prejuízos escolares. Os fracassos nesta fase limitam as experiências sociais,
24
Texto resumido pelo OBID, a partir do original publicado pela revista Estudos de Psicologia, outubro – dezembro de
2005, Campinas – SP, vol. 22 (4), pág. 395 a 402. Editado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. ISSN
0103-166X.
http://scielo.bvs-psi.org.br/pdf/epc/v22n4/v22n4a07.pdf
71
Polícia Militar do Estado do Acre
fazendo-a procurar um ambiente receptivo, o que pode coloca-la em risco de envolvimento com um
grupo desviante e de aprimoramento de suas habilidades anti-sociais.
Uma pesquisa publicada pela revista Estudos de Psicologia preocupou-se com aspectos do
desenvolvimento escolar de adolescentes que adquiriram comportamento de abuso de substâncias
psicoativas. Para isso foram analisados prontuários de pacientes que foram internados em
instituição para tratamento de dependência de drogas em Curitiba - PR, com idades entre 11 e 21
anos. Detectou-se que 13 moças chegaram para tratamento contra 137 rapazes. Para a análise dos
dados foram utilizadas todas as treze autobiografias femininas; entre as masculinas foram sorteadas
quinze para melhor equilíbrio entre os dois grupos.
72
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
A dependência de drogas não é apenas uma relação de causa e efeito, está ligada a diversas
variáveis que interagem entre si tornando cada caso singular. Com os jovens, a dependência não
pode ser explicada como uma forma de delinqüência nem como um problema restrito a causas
físicas e orgânicas, deve-se considerar todo o contexto, incluindo a família, a escola e os amigos.
Parece difícil oferecer aos jovens uma sociedade sem drogas, mas é possível a construção
de uma família, uma escola e uma sociedade mais preparada para enfrentar os problemas
relacionados ao seu uso. Neste sentido, os educadores devem apostar na prevenção ao uso de drogas
e suas conseqüências e dar apoio aos estudantes.
A proposta deste projeto foi um modelo de educação voltada para a saúde, baseada nas
relações do adolescente com os sistemas onde está inserido como a família e a escola, em três
conceitos fundamentais: saúde integral do adolescente; prevenção e promoção de saúde, e saúde
mental. A proposta pedagógica quer disponibilizar informações fundamentais à comunidade escolar
para diminuir os fatores de risco e reforçar os fatores de proteção relacionados ao uso de drogas.
As várias emoções que invadem o adolescente podem deixá-lo sem condições de lidar com
seus sentimentos e conflitos que mudam constantemente, como o humor instável, ora eufórico, ora
deprimido sem motivo, ora surpreendentemente impulsivo ou agitado, e assim por diante. Devido a
25
Texto resumido pelo OBID, a partir do original apresentado no Simpósio Internacional do Adolescente, 2005.
Editado pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000082005000200083&script=sci_arttext
73
Polícia Militar do Estado do Acre
grande instabilidade, ele precisa de compreensão e apoio. É necessário então observá-lo de perto e
sempre, pois mesmo momentos passageiros de desequilíbrio podem resultar em conseqüências
desastrosas, como tentativa de suicídio, consumo de drogas e práticas de violência.
Para orientar e fornecer material para os educadores, o projeto – que contou com a equipe
do Programa de Estudos e Atenção às Dependências - Prodequi,– promoveu um programa de
prevenção, na forma de ensino à distância. O material pedagógico, que procura reproduzir situações
do cotidiano escolar construído a partir da experiência da equipe de professores autores do projeto,
foi apresentado em 16 vídeos transmitidos pela TV Escola e complementados por dois volumes
impressos contendo dois módulos cada um. Este mesmo material está sendo atualmente utilizado
em oficinas com atividades grupais e comunitárias de formação de multiplicadores envolvendo
outros educadores. Futuramente pretende-se explorá-lo também com os jovens e com os pais.
74
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
SEGUNDA
PARTE
75
Polícia Militar do Estado do Acre
CAPÍTULO IV
A Polícia Militar do Acre tem como estrutura principal o trabalho de prevenção. Embora
atualmente percebamos a real necessidade de atuar repressivamente, muitas das atuações da PMAC
são preventivas.
As Companhias de Patrulhamento Motorizado, Policiamento a Cavalo, Policiamento
Ostensivo a Pé, Policiamento de Bicicleta, Policiamento de Trânsito, Companhia de Policiamento
Escolar, Proerd, Polícia da Família, Diretoria de Ensino, Setor de Inteligência, são alguns dos vários
organismos da PMAC que atuam preventivamente, embora, também o façam em forma de
repressão.
Dentre os policiamentos preventivos executados pela Polícia Militar no Acre, três foram
mais citados pelos alunos, funcionários e professores das escolas existentes em nossa Capital. São
Eles: Proerd, Policiamento Escolar e Polícia da Família. Quanto ao Proerd, por ser objeto principal
dessa pesquisa e estar contido em todos os capítulos, não o citaremos nesse momento, nos ateremos
apenas ao Policiamento Escolar e à Polícia da Família.
POLICIAMENTO ESCOLAR
26
As informações aqui expostas foram gentilmente cedidas pela Coordenação da Companhia Independente de
Policiamento Escolar, sendo essas informações de conhecimento público e direito autoral de seus idealizadores.
Portanto, as apresentamos com a ressalva de que o texto não foi construído pelo Proerd, e sim, pela CIPE.
76
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Escolar atuam não apenas no policiamento ostensivo, mas também efetuando palestras e atividades
lúdicas que atraiam a atenção dos estudantes para os preceitos de bom relacionamento interpessoal,
respeito ao próximo, cidadania e como estar longe das drogas e da violência. O Policiamento
Escolar atua principalmente com o público alvo de adolescentes jovens e adultos no ambiente
escolar.
Em outubro de 2003, devido ao crescimento de violência e do uso de drogas nas escolas,
sensibilizados pelo quadro apresentado, o atual governador, Binho Marques, na época Secretário de
Educação, em conjunto com o Comandante da Polícia Militar, Cel. PM Leandro Rodrigues, Maj.
PM Francimar e o Secretário de Segurança Fernando Melo, chegaram ao consenso em relação à
necessidade de implementação de uma Polícia voltada para atender às necessidades da comunidade
escolar, firmando, assim, a parceria. Criou-se, então, de fato, a Cia. Escolar com um efetivo de
apenas 12 homens, instalados na Polícia Comunitária. Somente no dia 25 de maio de 2005, foi
criada de direito a Companhia Independente de Policiamento Escolar – CIPE. A Companhia
Independente de Policiamento Escolar conta hoje com um efetivo de 37 homens, que foram
capacitados com curso específico para a área, e maioria do efetivo tem nível superior ou está
cursando. Hoje a CIPE tem sede na Secretaria de Estado de Educação.
Aproximar a Polícia Militar da Comunidade é a proposta do trabalho realizado pela
Companhia Independente de Policiamento Escolar (CIPE) nas escolas públicas e particulares de Rio
Branco - Acre. A Companhia escolar utiliza o diálogo e a valorização da harmonia nas relações
humanas, nos Direitos Humanos, bem como dentro de perspectivas da filosofia de Polícia
Comunitária, objetivando a interação entre Polícia – comunidade. A Companhia Independente de
Policiamento Escolar – CIPE conta com um Núcleo na Secretaria de Estado de Educação (SEE), no
qual, além de cumprir com a missão constitucional de realizar o policiamento ostensivo preventivo
e repressivo, também ministra palestras educativas nas escolas sobre prevenção às drogas,
violência, Polícia Comunitária e Civismo.
A Companhia Independente de Policiamento Escolar realiza atividades nos três turnos de
funcionamento das escolas (Manhã, Tarde e Noite), com o policiamento ostensivo e preventivo
visando a segurança da comunidade escolar. A CIPE atende as escolas da rede estadual (rural: 98;
urbana: 90), municipal (rural: 17; urbana: 35) e particular (41), totalizando 281 escolas, além das
unidades de ensino superior: UFAC, FIRB/FAAO, UNOPAR, IESACRE, UNINORTE,
FACINTER, SINAL, entre outras. Atende de acordo com os diagnósticos apresentados e as
demandas das escolas, como também palestras preventivas sobre o uso indevido e abusivo de
drogas, álcool, violência e cidadania, além de prestar apoio às outras companhias na condução de
cidadãos detidos.
77
Polícia Militar do Estado do Acre
POLÍCIA DA FAMÍLIA
Grande parte da atuação da Polícia da Família27 aqui apresentada tem como base o
relatório anual de atividades referentes ao ano de 2006, entregue dia 31 de dezembro de 2006 à
Secretaria de Justiça e Segurança Pública, pela Coordenadora Geral, Delegada de Polícia Civil
Maria Lúcia Barbosa Jaccoud, e, pelo Coordenador, Capitão PM Eudinez Pinheiro Ferreira.
A Polícia da Família atende 41 bairros em suas 03 bases28. O contingente inicial era de
196 policiais, atualmente esse número não passa de 82. As bases foram assim divididas:
A Base do bairro Vitória atende às seguintes localidades: Conj. Edson Cadaxo, São
Francisco, Conj. Oscar Passos I, Conj. Oscar Passos II, Vitória, Jardim Eldorado, Chico Mendes,
Ouricuri, Loteamento Jaguar, Parque dos Sabiás, Loteamento São Jorge, Loteamento Panorama,
Invasão da Embratel, Placas, Residencial Santa Cruz e Apolônio Sales.
A Base do Jorge Lavocat atende às seguintes localidades: Wanderley Dantas, Raimundo
Melo, Xavier Maia, Vila Nova, Loteamento Novo Horizonte, Adalberto Sena, Defesa Civil,
Tancredo Neves, Alto Alegre, Montanhês, Jorge Lavocat, Irineu Serra e Santa Helena.
A Base do Santa Cecília atende os bairros: Albert Sampaio, Dom Moacir, Santa Cecília,
Vila Acre, Vila da Amizade, Belo Jardim I, Belo Jardim II, Mauri Sérgio, Areial, Santa Inês,
Loteamento Santo Afonso e Loteamento Rosa Linda.
27
As informações aqui expostas foram gentilmente cedidas pela Coordenação da Polícia da Família no Bairro Vitória,
sendo essas informações de conhecimento público e direito autoral de seus idealizadores. Portanto, as apresentamos
com a ressalva de que o texto não foi construído pelo Proerd, e sim, pela Polícia da Família.
28
No momento da revisão deste trabalho, dados oficiais apontam para o desativamento da Polícia da Família, bem
como o remanejamento de material e pessoal para outras localidades e estilos de policiamento.
78
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Mesmo com um efetivo reduzido e, ano a ano, sendo cada vez minimizado, a Polícia da
Família mostra números de sua atuação e os atendimentos executados desde que foi implantada até
fins de 2006, haja vista o ano de 2007 ainda não ter se encerrado, não tivemos acesso aos dados do
referido ano.
79
Polícia Militar do Estado do Acre
Inicialmente, o Projeto foi idealizado para funcionar em três bases localizadas nos bairros:
Vitória, Jorge Lavocat, Stª Cecília, estendendo suas atividades aos bairros circunvizinhos, no total
de 35 (trinta e cinco), com possibilidade real de expansão para outras localidades. Entretanto, sem
os investimentos necessários, o projeto parou no piloto das bases, estando, infelizmente, sem
previsão de novos postos de atuação.
A escolha das áreas contempladas para implantação deste projeto foi orientada pelos
índices de criminalidade, priorizando-se bairros considerados críticos na escolha da instalação das
bases.
A Polícia da Família é considerada de baixo custo, uma vez que o policiamento é realizado
a pé, através de visitas domiciliares, possibilitando assim uma parceria bastante frutífera, policial e
comunidade. Os primorosos resultados podem ser comprovados pelas estatísticas, que apontam para
a diminuição da violência nos pontos de sua atuação.
80
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
81
Polícia Militar do Estado do Acre
e mesmo da iniciativa privada, que tem colaborando enormemente para que o trabalho aqui
desempenhado se tornasse referência de bom atendimento e melhor eficácia.
A manutenção deste programa e sua expansão devem se mostrar como preocupação
primeira de todos os seguimentos da Segurança Pública, em demonstração de que estamos
comprometidos com seus novos ideais, com ações voltadas para a prevenção e que temos
consciência desse desafio ético de servir à comunidade, tendo como foco principal o cidadão.
A responsabilidade pelo desempenho e ampliação da Polícia da Família é de todos nós, e,
por isso, precisamos estar dispostos e atentos, a fim de que essa iniciativa, hoje funcionado com
grande êxito, não venha a sofrer qualquer esmaecimento, mas seja aperfeiçoada e ampliada sua
competência, sempre objetivando a promoção da justiça e tornando a Segurança Pública,
efetivamente, direito e responsabilidade de todos conforme preceituado no artigo 144, caput, da
Constituição Federal do Brasil.
Por fim, é necessário informar a necessidade premente de institucionalização da Polícia da
Família, para que a mesma possa existir de direito, facilitando o planejamento e execução das ações.
PROERD
82
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
CAPÍTULO V
PANORAMAS DO PROERD
EM ALGUNS ESTADOS DO BRASIL
O curso de formação de Instrutores do PROERD (80 horas aula) já não fornece mais elementos suficientes
para o desempenho das atividades em sala de aula; [de mesma forma os policiais entrevistados] consideram
a informação teórica importante para a complementação de sua formação; julgam que é importante a
formação continuada; possuem a necessidade em conhecer com profundidade temas de prevenção,
psicologia infantil e do desenvolvimento, didática outros (Proerd Paraná, 2005).
83
Polícia Militar do Estado do Acre
Pelo fato de ter como meta a anulação da prática do uso de drogas, ou pelo menos, a
diminuição substancial do número de usuários de drogas, que são os principais fomentadores da
relação venda/consumo, buscamos obter resultados que jamais foram alcançados por organismos
brasileiros de prevenção ao uso e ao tráfico de drogas. Com a aplicação desse programa, a Polícia
Militar busca também, no menor tempo possível, contribuir efetivamente para a formação de novos
jovens, mais seguros, firmes e decididos em relação aos malefícios causados pelas drogas e,
portanto, conscientes das suas escolhas quanto à utilização ou não de drogas. Em médio e em longo
prazo estimamos, tendo como base as experiências internacionais, que nossos jovens, e não apenas
nossos policiais, serão os multiplicadores de valores, noções de cidadania e de técnicas que
estimulem a não aceitação do convite formulado pelo agente do crime.
De acordo com o Proerd em São Paulo, várias pesquisas já foram elaboradas naquele
estado quanto à prevenção e também à eficiência do Proerd. Em seu site estão contidos alguns
dados que podem nos dar uma noção mais precisa quanto ao Proerd:
A eficiência deste programa é comprovada mundialmente através de pesquisas científicas e no Brasil não é
diferente. A USP – Universidade de São Paulo elaborou uma pesquisa científica em 2004, que foi
coordenada pela Dra. Sueli de Queiroz, pesquisadora do “Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e
outras Drogas” (GREA), e após todos os trabalhos, ficou evidenciado que o PROERD alcançou a média de
95% de aprovação aqui no Brasil. Tal pesquisa só veio confirmar a eficiência do programa aqui no Brasil
como nos diversos países em que é aplicado, mostrando com isto, que a Polícia Militar vem desenvolvendo o
PROERD com extrema seriedade e profissionalismo (Proerd São Paulo, 2007).
84
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
O Proerd (Programa Educacional de Resistência às drogas e a violência) chega para suprir necessidades onde
a ação ostensiva da Polícia Militar não consegue ser eficiente no combate imediato as drogas, em uma
sociedade onde a curiosidade de crianças e adolescentes impera. A PM sentiu a necessidade de inserir-se no
próprio universo do aluno, a sala de aula, e fazer valer uma frase bastante conhecida entre a garotada:
"Drogas? Estou fora".
(...) É uma filosofia pedagógica que se aproxima do objetivo principal da Polícia Comunitária: aproximar o
público alvo dos policiais a fim de trabalhar o policiamento preventivo. "Não se evita a violência e o
consumo de drogas apenas com o policiamento ostensivo nas ruas da cidade e nas portas dos colégios, com
viaturas modernas e armas potentes. Pode também ser realizado preventivamente, com um giz, uma cartilha
e bastante criatividade e senso de humor elevado", garante uma das coordenadoras do projeto, major Dielle
Viana. (...)
Estimativa do Proerd mostra que 80% dos crimes urbanos cometidos no Brasil possuem ligação com o
consumo exagerado de entorpecentes.Em virtude disso, o trabalho preventivo em Sergipe cresce
gradativamente. Em 2003, somente em Aracaju, 2755 alunos dos ensinos público e privado foram
contemplados com as aulas dos policiais militares. No segundo semestre, os Instrutores do Proerd chegaram
em municípios do interior do Estado (...).
Para o desenvolvimento do projeto são necessários apenas quatro pré-requisitos: interesse da rede de ensino,
material didático (cartilhas, crachás, caixinha de perguntas), autorização dos pais e agendamento das aulas.
No caso do Policial Monitor, não pode beber nem fumar, e a conduta moral têm que ser exemplar.
Para a garotada, o Proerd é muito mais que uma instrução em sala de aula, mas um exemplo de vida. "Os
policiais me ensinam a eu não deixar me influenciar pelas pessoas que querem que eu consuma drogas", diz
o estudante da Escola Carvalho Neto, localizada no Bairro América, Manoel Vítor, 14 anos.Quando
perguntado qual a sensação de receber aulas de um policial fardado ele é enfático. "No inicio foi difícil, mas,
hoje me sinto muito bem. Já vi meninos usando drogas, vou tentar passar o que eu aprendi aos meus
amigos", declara Manoel Vítor. Já para Marcela Renilda dos Santos, aluna do colégio Tancredo Neves, há
85
Polícia Militar do Estado do Acre
muito não se divertia tanto em sala de aula. Os policiais desenvolvem atividades como teatro, poesia,
música, dança, jogral, a fim de destacar o grau de envolvimento da criança com o aprendizado.
Os professores do ensino fundamental acreditam que as aulas são providenciais para a formação das
crianças. "O objetivo das escolas é dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelos policiais militares",
disse a professora da 4ª série, Sandra Augusta de Oliveira Lobo, ressaltando que a metodologia usada pelo
monitor é muito eficiente, dinâmica e envolve os alunos de tal maneira que eles não se sentem constrangidos
com a presença do policial fardado. "O engraçado é que cai por terra o estereótipo que nós temos sobre a
atividade policial", garante a professora.
Como se pode notar, a atividade do Proerd está em todo o Brasil, com o intuito primordial
de manter as crianças de bem com a vida. Para isso, são necessárias parcerias como as efetuadas em
Aracaju e em outras cidades de Sergipe.
Uma peculiaridade do Proerd é o fato de sua implementação ser padronizada em todo o
território nacional. Isso não implica o engessamento do programa, haja vista, os regionalismos
serem respeitados. Contudo, percebemos uma interação entre os policiais dos vários estados
brasileiros com conduta ilibada e possibilidade real de aprimoramento para melhoria do serviço e
aperfeiçoamento para que possam chegar cada vez mais perto da meta de manter crianças e
adolescentes longe das drogas.
Estudos realizados por instituições de ensino superior em diversas localidades do Brasil
dão conta da importância do Proerd. Estados como São Paulo, Acre, Paraná, Santa Catarina, dentre
outros, têm estudos que comprovam a importância do programa em âmbitos específicos de
prevenção às drogas e à violência, além de elevar a auto-estima dos alunos.
Como forma de mostrar os estudos realizados sobre o Proerd pelo Brasil, resolvemos
expor, nas linhas abaixo, o resumo de três dissertações de mestrado que enfatizam a atividade do
programa. A primeira foi escrita por Jandicleide Evangelista Lopes30, a segunda por Deise Rateke31,
e a terceira por Dalton Gean Perovano32.
Em estudo realizado por Jandicleide Lopes foram analisadas as representações de
prevenção ao abuso de drogas e a produção dessas representações feitas pelas professoras das salas
de aulas referentes ao treinamento do PROERD, em 2003. Lopes estudou a concepção dos
Instrutores Proerd do Paraná sobre sua formação. No estudo de caso que realizou, ela constatou que
as policiais do Proerd envolvidas na ação de educar de forma social, estavam mais interessadas em
repassar o conteúdo do currículo que, mesmo, interagir e buscar melhorar o tipo de abordagem. Para
30
As representações sociais de prevenção ao abuso de drogas dos professores do ensino fundamental: um estudo de
caso. UFPR, 2003.
31
A Escola Pública e o Proerd: tramas do agir policial na prevenção às drogas e às violências. UFSC, 2006.
32
Concepção dos Instrutores do programa educacional de resistências às drogas e à violência sobre a sua formação.
UFPR, 2006.
86
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
a autora, no discurso do Proerd em Curitiba, as drogas sempre são vistas como algo negativo e a
possibilidade de seu uso é iminentemente estimulada a ser rechaçada.
(...) Como referencial teórico utilizou-se a teoria da Representação Social de MOSCOVICI em articulação
com a perspectiva Histórico-Social de VIGOTSKY sobre a produção de sentido, para poder se apreender o
movimento entre o concebido e o vivido e suas implicações nas práticas cotidianas. Por meio dessa
abordagem foi possível verificar como o professor pensa a prevenção (o conteúdo das representações) e situa
esse conhecimento no cotidiano escolar (a prática advinda das representações e que instituem, ao mesmo
tempo, estas representações) como, também, verificar o movimento de produção dessas representações na
dialética do individual/social. Embora diversos trabalhos abordem o tema da prevenção ao abuso de drogas,
não encontramos trabalhos que explicitassem as representações e sua produção, principalmente na
perspectiva de professores que participam de um programa como esse. A pesquisa desenvolveu-se em uma
escola pública estadual de um bairro da cidade de Curitiba, constituindo-se em um estudo de caso. A
metodologia, numa perspectiva de análise qualitativa, se constituiu de observação direta em sala de aula dos
treinamentos do PROERD, análise documental das apostilas do programa, do projeto político pedagógico da
escola pesquisada, além de entrevistas semi-estruturadas com as cinco professoras, onde se coletaram
informações acerca dos dados pessoais, referentes à formação profissional, experiências profissionais, sobre
a percepção das mesmas a respeito do PROERD, das drogas, e da prevenção na escola. O tratamento dos
dados se deu pela análise de conteúdo proposta por BARDIN. O resultado nos mostra que a prevenção ao
abuso de drogas não se apresenta como foco principal de intervenção dessas professoras [Policiais
Proerd], pois elas estão bastante envolvidas em repassar o conteúdo do currículo básico e não se
consideram competentes para lidar com esta temática [drogas]. No entanto, as imagens associadas às
drogas e a prevenção estão sempre ligadas à concepção sempre negativa. Elas possuem informações sobre a
questão do uso e do abuso de drogas, porém elas desconsideram o tripé sujeito-droga-contexto social.
Tudo isto faz parte da representação que elas possuem do indivíduo usuário de substâncias. A representação
de prevenção ao abuso de drogas das professoras orienta ações voltadas para o combate às drogas, realizadas
ou não por elas. Elas não estão sendo estimuladas a ultrapassarem este tipo de abordagem. Pelo contrário
encontram respaldo no próprio discurso e prática do PROERD. A ausência de um espaço para interlocução a
respeito da temática em questão na escola inviabiliza uma superação deste paradigma. (grifo nosso).
87
Polícia Militar do Estado do Acre
Três anos depois, em 2006, Perovano fez um outro estudo sobre o Proerd Paraná. Ele
buscou explorar o olhar dos policiais Proerd sobre si mesmos, suas concepções de formação e a
necessidade de melhorar a prática pedagógica desse profissional.
O Proerd Paraná aperfeiçoou seus policiais e melhorou a qualidade de seu programa, tanto
que se tornou referência nacional. A partir dos estudos realizados, os Policiais Proerd foram
considerados educadores sociais, o que os qualifica não apenas como Policiais Militares
empenhados em suas funções, mas como cidadãos que atuam em busca de melhores condições
sociais de convívio para todos.
Também foram realizados, em Santa Catarina, estudos sobre o Proerd. Deise Rateke
investigou e buscou compreender o que torna a Polícia Militar responsável por implementar um
Programa de combate às drogas e às violências. Em seu trabalho ela não julgou o Proerd, antes,
achou necessário problematizar seu currículo.
(...) O objetivo que orientou minhas ações nesse período foi compreender o que torna a Polícia Militar
responsável por implementar, nas escolas públicas, um Programa de combate às drogas e às violências. E
ainda, nos espaços escolares, alinhavar os significados expressos nas formas como a comunidade escolar
tecia suas impressões sobre o cotidiano deste Programa. Como um Estudo de Caso, a abordagem se pauta
num recorte etnográfico e qualitativo, onde os meus olhares estiveram atentos ao rigor do trabalho de campo
e da construção dos referenciais que animaram os esforços para construir as sínteses explicativas. Tais
sínteses contemplam as observações implicadas no âmbito do empírico e as trocas dialógicas com os sujeitos
88
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
envolvidos nesse estudo. A partir dessa experiência, assumi como perspectiva para construir as reflexões
desta pesquisa considerar as drogas, e as violências, fenômenos plurais, cujas práticas e manifestações são
tecidas por uma multidimensionalidade de aspectos que são, a um só tempo, visíveis, ambíguos, dispersos,
escondidos, fluídos, de cores e sinuosidades que não permitem uma apreensão conceitual única e universal.
Nesse movimento fui tecendo a minha dimensão pesquisadora, curiosa e em parceria com os fios que
tramaram a pesquisa, mesclando os registros pela interlocução com a minha trajetória e pela convivência
com a comunidade observada: uma comunidade inserida em duas escolas públicas, de Ensino Fundamental,
localizadas no entorno da favela. Mergulhada nesse cenário, organizei as explicações em torno de como, e
porque, o PROERD se consolidou como um Programa de prevenção às drogas e à violência. Nessa trajetória
de ir a campo, estudar o conteúdo das fontes documentais, conversar com os profissionais da escola e da
instituição militar, observar, com olhos implicados, os sem-fins do cotidiano, fui conhecendo, aos poucos, o
enredamento provocado pela ambigüidade das tramas do agir policial. A pesquisa evidenciou, entre outros
aspectos, que há, na proposta do Programa, um interesse pastoral, disciplinador e racional, guiado
por uma crença na sua missão salvacionista para “tirar” os meninos e as meninas do mundo do mal.
Como um Programa preventivo, é atravessado por um agir de controle das crianças e jovens, ordenando
modelos adequados de conduta social. Paradoxalmente, nesse universo muitos policias militares, como
aqueles que foram partícipes dessa pesquisa, evidenciaram o desejo de criar alternativas educacionais para
provocar mudanças na realidade com a qual convivem, e a qual afirmam não tolerar. Mostram-se como
“pastores” ávidos por construir uma afetividade que os faça se sentirem especiais diante da comunidade onde
atuam. Ao invés de julgar o Programa, nessa dissertação assumi como responsabilidade ética
problematizar as dinâmicas entrelaçadas nos sentidos de prevenção que ele anuncia, enfatizando a
crítica aos fundamentos epistemológicos do currículo PROERD. (grifo nosso).
Rateke partiu de um estudo das escolas na favela, atuou diretamente buscando conhecer o
Proerd, e, por fim, tentou mostrar os pontos fortes do programa e os pontos a crescer.
Em vários estados brasileiros se pode ver a eficiência do Proerd e como esse programa tem
se destacado em meio a outras dezenas de programas de prevenção às drogas e à violência.
No vizinho estado de Rondônia, o Proerd também é destaque33. Na 8ª semana nacional
anti-drogas, realizada naquele estado, com o tema: Rondônia pela paz e pela Vida, o Proerd não
apenas se fez presente, mas também foi homenageado.
Na abertura da 8ª Semana Nacional anti-drogas, que teve início hoje, 19, às 8h30 no auditório da OAB em
Porto Velho, Rondônia e prossegue até o dia 26 deste mês, O Proerd – Programa de Combate e Resistência
às Drogas da Polícia Militar de Rondônia, recebeu o diploma “Mérito pela Valorização da Vida”, outorgado
pelo gabinete Institucional da Presidência da República, através da Secretaria Nacional anti-Drogas. A
entrega foi feita ao major PM Cleudemir Holanda de Castro, diretor do programa em Rondônia, pelo
secretário chefe da Casa Civil do governo do estado, major PM Antiógenes Borges Lessa (PMRO, 2007).
33
Informações obtidas do Site da Polícia Militar de Rondônia.
89
Polícia Militar do Estado do Acre
34
Dados obtidos junto à Polícia Militar de Pernambuco.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
91
Polícia Militar do Estado do Acre
CAPÍTULO VI
92
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
menções públicas. O Proerd-Acre foi regulamentado pela Diretriz nº 001/3ª EM/PM/01, conforme
Portaria nº 023/3ª EM/PM/01, tendo como referências legais a Constituição da República
Federativa do Brasil – 1988; a Constituição do Estado do Acre – 1989; o Decreto Lei Federal nº
6.368/76, regulamentado pelo Decreto n.º 78992/76.
No ano de 1998, o então comandante Geral, Coronel Gilvan de Oliveira Vasconcelos,
alinhado à filosofia da Polícia Comunitária, designou ST PM Maria Luiza Gomes da Silva para
participar do Curso de Formação de Policiais Instrutores Proerd, na Polícia Militar do Estado de São
Paulo.
Após aprovação no curso e conseqüente credenciamento a ST Luiza iniciou suas
atividades como instrutora Proerd no ano de 1999, atendendo 274 crianças naquele ano.
No ano de 2000, considerando a demanda por atendimento, (10) dez policiais militares
foram designados para o Curso de Formação de Instrutores Proerd no Estado de Rondônia, que
contou com a coordenação da Polícia Militar de São Paulo, participação de mentores de Brasília e
do Rio de Janeiro. Os alunos-instrutores eram de quatro Estados da Federação: Mato Grosso,
Roraima, Acre e Rondônia. Ao final, 08 dos 10 instrutores foram considerados aptos. Em 2001,
mais um instrutor foi capacitado no Estado de Minas Gerais, Totalizando 09 instrutores para atender
o Estado, sendo 08 em Rio Branco e 01 em Cruzeiro do Sul.
Apesar dos atendimentos realizados pelos instrutores a demanda continuou grande e foi
necessário pensar uma nova estratégia para capacitar novos instrutores. O novo Comandante Geral
Cel. Aberto Camelo de Oliveira, preocupado em dar continuidade e ampliação ao programa, decidiu
capacitar os policiais já formados para torná-los aptos a formar os instrutores em nosso próprio
Estado, foi o que aconteceu quando os nove instrutores foram capacitados no estado de Rondônia a
serem Mentores Proerd.
Após a formação dos mentores, no ano de 2002, em abril, aconteceu a primeira
capacitação no Estado, com vagas oferecidas para a quase totalidade dos municípios acreanos. Ao
todo iniciaram o curso 30 policiais militares, sendo considerados aptos 23 Instrutores.O curso foi
coordenado pela Polícia militar de Brasília que também disponibilizou 02 (dois) mentores para
auxiliar os mentores locais. Nesse mesmo ano o atendimento foi considerado satisfatório e quase
todos os municípios formaram crianças através do programa Proerd.
Em junho de 2002, a PMAC, através do CONEN, foi agraciada pela SENAD, com o
certificado “Valorização da Vida”, com o título de melhor programa, no Estado do Acre, aplicado
na prevenção do uso e abuso de drogas ilícitas – o Proerd.
Quatro meses depois, em outubro de 2002 a Exmª Srª Maria Eunice Abdanur, Secretária
da Embaixada Americana no Brasil, em visita oficial a Rio Branco-AC, agendou compromisso com
o Comandante-Geral da PMAC, Cel. PM Alberto Camelo, com a finalidade de enaltecer o brilhante
93
Polícia Militar do Estado do Acre
trabalho que vinha sendo realizado por profissionais da Polícia Militar no combate ao uso e abuso
de drogas.
Em dezembro de 2002, foi enviada à Polícia Militar, uma Carta de Recomendação pelo
Governador em exercício, Sérgio de Oliveira Cunha (Petecão), parabenizando e agradecendo o
empenho, a dedicação e o incansável trabalho desenvolvido pelos Proerdianos da Polícia Militar do
Estado do Acre.
Em 2003, foi realizada uma segunda capacitação em Rio Branco. Todos os municípios
disponibilizaram policiais para a formação, e, cumprindo determinação do Comando, seis Oficias
participaram do curso, com o objetivo de torná-los divulgadores junto à tropa e auxiliar os policiais
quando necessário. Iniciaram o curso 36 (trinta e seis) policiais, ao final foram formados mais 29
instrutores, esta segunda capacitação foi coordenada pela Polícia Militar de Santa Catarina e contou
com apoio de Mentores da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Ainda em 2003, 04 (quatro)
Policiais Militares do Proerd participam no Estado do Amazonas de uma atualização do Currículo,
do de 17 lições para o de 10 lições, o que obtiveram sucesso e aplicaram um projeto piloto em Rio
Branco no ano de 2004, sendo considerado satisfatório pelas instrutoras e alunos, sendo este o
embrião que certamente irá tornar o currículo de 10 lições oficial no Estado do Acre.
Em 2006, houve necessidade de novamente se formar uma outra turma de instrutores,
considerando que muitos haviam deixado os programas ocasionados por pedido de licenciamento,
outros cursos, problema de saúde, etc. Mais uma vez, a demanda exigia medidas urgentes em
relação a substituir os instrutores que haviam deixado o programa.
Com o apoio do Cmt. Geral Cel. PM Leandro Rodrigues, foi realizado em junho de 2006 a
terceira capacitação Proerd em Rio Branco, que contou com a colaboração da Polícia Militar do Rio
de Janeiro, a qual coordenou o curso e forneceu 02 (dois) mentores para ajudá-lo. Foram formados
28 novos instrutores, número que simplesmente substituiu os que haviam saído do programa.
No mesmo ano, três policiais militares participaram de uma nova atualização do currículo
do Proerd de 17 para 10 lições para 4ª série e um novo currículo para adolescentes de 6ª série. Esta
atualização aconteceu no Estado do Paraná, em seguida foi aplicado um projeto piloto para alunos
de 6ª série e também foi considerado um sucesso. Ainda no ano de 2006, cinco Policiais Militares
do Proerd fizeram atualizações para os novos currículos e também currículo do Proerd pais e curso
de mentores, esta capacitação aconteceu no Estado de Pernambuco.
Em setembro de 2007, a Câmara de Vereadores de Rio Branco homenageou o Proerd com
o uma Moção de Louvor, “pela dedicação voltada a tornar nossas crianças e adolescentes menos
vulneráveis às drogas e à violência, e pela compreensão de que a prevenção através da formação é a
forma mais eficaz de proteger nossa sociedade”. Essa Moção foi apresentada pelo Vereador Pascal
Khalil e assinada por todos os vereadores presentes na Sessão.
94
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
O trabalho educativo realizado pelo Proerd/PMAC tem alcance social fenomenal. Como
resposta aos benefícios advindos desse trabalho, a sociedade acreana vem reconhecendo as ações do
programa e solicitado incessantemente a presença dos Policiais Proerd para proferirem palestras em
diversos locais da cidade. O aumento da demanda de procura pelo programa, muitas vezes, nos
impossibilita em atender aos pedidos, tendo em vista que temos somente 23 policiais Proerd na
Capital.
O reconhecimento de nossa comunidade é refletido através dos inúmeros elogios feitos
pelos pais dos alunos atendidos pelo Programa.
A Policia Militar, juntamente com as parcerias, já diplomou mais de 53.600 crianças e
adolescentes no Proerd no período de 1999 a 2007.
Anualmente, para o início das atividades letivas é realizada uma reunião com os gestores
das escolas das quatro redes de ensino (Federal, Estadual, Municipal e Particular), onde é exposta a
responsabilidade das parcerias. É realizada, ainda, uma reunião com professores/gestores sobre as
atividades desenvolvidas na sala de aula.
As escolas, sejam elas públicas e/ou particulares, podem participar das ações do Proerd,
procurando o Quartel do Comando Geral da Policia Militar, ou entrando em contato com o
Departamento de Ensino e Instrução, pelo telefone (68) 3227 - 1569.
Existem algumas teorias utilizadas pela Polícia Militar do Acre para a aplicação do
programa Proerd. Muitos jovens se envolvem cotidianamente com atos violentos e com o tráfico e
consumo de drogas. A Polícia Militar apresenta-se como principal instituto na punição do crime e
na prevenção, valendo-se das rondas ostensivas. Entretanto, é sabido que a sociedade não gosta da
repressão, tanto por sua ineficiência em grande parte dos casos quanto pela necessidade do uso da
força. Por isso, a saída encontrada pela PMAC foi adotar programas preventivos como o Proerd,
que educam para prevenir, e, como efeito posterior, e em um segundo momento não intencional,
promovem a reaproximação entre sociedade e Polícia.
O fluxograma a seguir, mostra de forma simplificada, a relação que direciona a teoria do
programa.
95
Polícia Militar do Estado do Acre
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Pública têm se empenhado de várias formas, a fim de coibir as ações criminosas, que de uma forma
assustadora destroem nossa sociedade.
Todas essas ações têm apresentado efeitos positivos, porém, não bastam, face à ousadia e
sofisticação do crime organizado em nível internacional e nacional. Além disso, os problemas que
envolvem a questão das drogas não podem ser tratados apenas através da repressão policial, pois
esta só consegue reduzir a oferta. É preciso também, através da prevenção, diminuir a demanda
pelas drogas, para aumentar as chances de sucesso no enfrentamento do problema.
O estado do Acre tem 71,90% de sua extensão territorial composta por áreas de fronteira
com a Bolívia e o Peru, países reconhecidamente exportadores de tóxicos. Essa situação o coloca na
rota do narcotráfico internacional, deixando a juventude acreana ainda mais propensa ao perigo das
drogas. O conhecimento dessa realidade conduz os órgãos responsáveis pela Segurança Pública do
Acre à adoção de medidas de repressão qualificada e metodologias diferenciadas, pautadas na
prevenção, capazes de atrair os jovens para a sociabilidade construtiva e solidária.
Segundo pesquisas realizadas pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informação sobre
Drogas) o contato inicial dos adolescentes com as drogas é cada vez mais precoce, entre 10 e 14
anos de idade, constituindo-se no ponto de partida para o envolvimento de jovens com a
criminalidade.
O Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) consiste em um
esforço cooperativo da Polícia Militar, Escola e Família, para oferecer atividades educacionais em
sala de aula, a fim de prevenir ou reduzir o uso de drogas e a violência entre crianças e
adolescentes. Visa, sobretudo, a difundir uma cultura de paz e de valorização da vida, capacitando
os alunos para promover tais valores em seu ambiente de convívio social.
O programa é pautado numa metodologia lúdico-educativa direcionada a crianças de 9 a
12 anos de idade, a fim de formar no jovem uma personalidade resistente à influência de traficantes,
no momento mais propício e de forma eficaz, antes do contato inicial com as drogas. A metodologia
do PROERD visa à formação de uma personalidade resistente à oferta de drogas e à prática da
violência entre as crianças e adolescentes, mediante um trabalho educativo em conjunto com a
escola, professores e familiares, estreitando a parceria entre a Polícia e a comunidade.
Ao final do semestre letivo, a equipe do Proerd, juntamente com a direção das escolas,
organiza a cerimônia de formatura das turmas concludentes em local definido em comum acordo. O
evento consiste na entrega do certificado de participação Proerd (modelo em anexo) e leitura das
melhores redações elaboradas pelos alunos sobre o que aprenderam com o PROERD e alguns
prêmios aos alunos destaques.
Através de atividades lúdico-educativas, os Instrutores promovem a interatividade entre o
grupo de alunos, fortalecendo a amizade e o companheirismo, além de estimular o bom
97
Polícia Militar do Estado do Acre
relacionamento com os professores e os familiares, com noções de ética e cidadania que orientam
sobre os malefícios do envolvimento com grupos de gangues e atividades ilícitas. Vale ressaltar que
a presença de policiais no estabelecimento escolar, em contato direto com os alunos, professores,
pais de alunos e a comunidade em geral já é um fator que inibe a aproximação de gangues e
traficantes, além de facilitar a resolução de pequenos conflitos no local.
Atualmente, o Proerd vem atuando não só com crianças que estejam matriculados na 4ª
série do Ensino Fundamental, mas também com um novo currículo para adolescentes de 6ª série,
com o intuito de solidificar os conhecimentos anteriormente adquiridos. Um outro foco de atuação
do programa, atualmente, é o currículo para os pais, objetivando fortalecer os laços familiares e
despertar os mesmos para a importância de construirmos uma sociedade mais justa e humana.
Atualmente, são 35 Instrutores (Policiais Militares rigorosamente selecionados e
capacitados para o trabalho), que ministram as lições que compõem o programa para alunos
regularmente matriculados na 4ª série do Ensino Fundamental de Escolas Públicas e particulares em
todo o Estado; e, dentre os 35 Instrutores, apenas 08 estão qualificados a trabalharem com o
currículo para 6ª série e dos pais, número insuficiente para atender a essa nova demanda de pais e
da 6ª série.
A Coordenação do Proerd funciona no Departamento de Ensino e Instrução da Polícia
Militar do Acre, apresentando carência de estrutura, tecnológica, logística e de transporte, para o
desenvolvimento de suas atividades. À medida que o Proerd amplia o número de escolas e alunos
atendidos, cresce a necessidade da formação de um banco de dados informatizado, que possibilite o
controle e acompanhamento das ações do Proerd – especialmente no interior do Estado.
No período de 1999 a 2007, o Proerd atendeu 53.600 alunos participantes no Estado do
Acre. A cada ano, além do interesse pela continuidade do programa, aumenta também o número de
diretores que solicitam a aplicação do Proerd em seus estabelecimentos de ensino, tanto do
currículo de 4ª série como do de 6ª série e dos pais, tendo em vista a melhoria no comportamento
dos alunos participantes do programa, e a melhoria no relacionamento entre pais e filhos, aspecto
observado por professores e familiares.
Esses registros, no entanto, ainda não estão disponíveis como fonte de informação
científica para um estudo oficial acerca da dinâmica da violência antes e após a intervenção do
Proerd nas escolas onde o programa é aplicado. Isso se deve à falta de estrutura apropriada e de
equipamentos de informática específicos para a equipe Proerd.
Desde sua implantação no Estado do Acre, em 1999, a equipe de Instrutores Proerd visita
as escolas da capital e dos municípios do interior do Estado, conscientizando a comunidade escolar
acerca da importância do trabalho preventivo ao consumo de drogas junto às crianças, levando
como alternativa a proposta de ministrar o programa para os alunos pertencentes à 4ª e à 6ª série do
98
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Ensino Fundamental e currículo dos pais. O programa atende especialmente a este grupo devido ao
fato da maioria dos alunos estarem na faixa etária de 9 a 12 anos de idade e no período de
adolescência, época em que muitos jovens usuários tiveram contato inicial com as drogas através de
ofertas de colegas ou traficantes. Esta é uma das estratégias adotadas pelo Proerd em âmbito
nacional no combate ao uso abusivo de entorpecentes.
No período de implantação do programa, apenas um número pequeno de escolas públicas
contavam com Instrutores Proerd. A partir de 2001, as escolas particulares também aderiram ao
programa, ampliando a demanda de escolas e o número de crianças atendidas e a partir de 2007
passamos atender alunos de 6ª série e também os pais com cursos especifico.
Até o ano de 2009, o Proerd espera atender 90% das escolas do Acre, com especial
atenção às escolas localizadas em municípios fronteiriços, apesar das dificuldades de locomoção em
determinadas épocas do ano. Com o objetivo de ampliar o atendimento em todo o estado, foi
realizado, em 2006, o 3º Curso de Formação de Instrutores Proerd. Apesar do acréscimo de novos
Instrutores, ainda necessitamos capacitar no mínimo mais 35 Instrutores e atualizar os demais nos
novos currículos. Vale salientar que um dos fatores que geram esta necessidade é a rotatividade dos
Policiais, que por motivos diversos deixam de atuar no programa Proerd.
99
Polícia Militar do Estado do Acre
interessante nos limitarmos a medidas paliativas ao lidarmos como um problema tão complexo
como este, do qual só temos uma certeza: É preciso haver informação e orientação.
Nessa linha de pensamento é que atua o Proerd da Polícia Militar do Estado do Acre,
tendo por finalidade trabalhar junto à comunidade escolar na prevenção ao uso e abuso de drogas,
bem como evitar o envolvimento dos alunos em situações de violência.
Dos 22 municípios que compõem o Estado do Acre, o Proerd já atendeu a dezenove deles,
não tendo chegado a apenas três municípios – Jordão, Santa Rosa e Marechal Thaumaturgo. O
programa possui em todo o Estado 71 policiais qualificados a trabalhar com crianças que estejam
regularmente matriculadas na 4ª e na 6ª série das escolas, estaduais, municipais, federal e
particulares. Atualmente, 35 Instrutores estão aplicando o currículo do Proerd nas escolas. Além
dos alunos, o Proerd também atua com o “Curso de Pais” e a disciplina “Noções de Prevenção às
Drogas e relacionamentos interpessoais/Proerd”, para Policiais Militares em curso de formação. A
atuação dos Policiais Instrutores ao desenvolverem esse trabalho visa a formar, nos alunos, defesas
para as possíveis abordagens de pessoas envolvidas com drogas e violência. Outro objetivo é
mostrar-lhes alternativas saudáveis que os façam se relacionarem melhor com seus pares e com a
sociedade em geral.
Durante a aplicação do Proerd, nota-se que há realmente dedicação das crianças e
adolescentes em aprender e em conseqüência disso ocorre o envolvimento da família. A
abrangência do programa vai muito além da sala de aula, ele forma valores e atinge a própria
família dos alunos, levando a mensagem esperança e construção de uma vida melhor e mais
saudável.
Todas as informações são levadas às crianças e adolescentes para que possam construir,
juntamente com o policial Instrutor, o conhecimento acerca das temáticas que visam mantê-los de
bem com a vida. E todo esse processo que envolve o programa Proerd é levado aos alunos sem ônus
para família.
O Proerd tem seus objetivos geral e específicos pré-definidos e padronizados em todo o
Brasil, concomitantemente a estes e, em muitos dos casos, indissociados desses, o Proerd do Acre
almeja:
100
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
De acordo com a Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 227, “é dever do Estado,
juntamente com a família e a sociedade em geral, assegurar às crianças e adolescentes os direitos e
as garantias fundamentais do ser humano”. Também a Constituição Estadual, em seu artigo 210,
parágrafo único, prevê que “O direito à proteção especial, conforme a lei, abrangerá, dentre outros
aspectos, à criação de programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao
adolescente dependentes de entorpecentes e drogas”.
Em conformidade com tais dispositivos legais, como também com o objetivo de contribuir
para o alcance da superação do problema das “drogas”, a PMAC, juntamente com as Secretarias de
Educação Estadual e Municipal, e ainda a maioria das escolas particulares de Rio Branco, vêm
desenvolvendo o Proerd.
Esse programa veio em tempo oportuno, tendo em vista o uso abusivo de drogas por
crianças e adolescentes e a relação direta desses fatores com a violência e a criminalidade. Além da
gravidade, a questão das drogas também afeta, infelizmente, todos os setores sociais, raças, credos e
opções filosóficas.
101
Polícia Militar do Estado do Acre
Combater tal problema deve ser prioridade dentro dos planos de segurança pública. Dada a
complexidade e amplitude do problema, acreditamos ser necessária uma ação conjunta de todos os
setores responsáveis pela conjuntura do convívio social.
Várias são as ações que já vêm sendo efetivadas no sentido de atender às pessoas que já
tiveram algum contato com o mundo das drogas. Porém, essas pessoas, basicamente, só têm se
preocupado em realizar um atendimento pós-contato com drogas, esquecendo que evitar tal contato,
talvez, possa ser a atitude mais adequada. Dessa forma, assegurar o atendimento à criança e ao
adolescente bem antes de estabelecerem um contato inicial, pode ser um caminho promissor na luta
contra a dependência química.
Por possuir natureza lúdico-educativa, a execução plena do Proerd requer por parte dos
policiais militares instrutores a utilização de objetos de premiações para serem utilizados nas
diversas atividades e dinâmicas desenvolvidas com os alunos, a fim de que as lições sejam
ministradas de acordo com a metodologia aplicada no programa.
O Proerd-AC atende a todas as redes de ensino em que haja o atendimento a crianças e
adolescentes, e, quando solicitado, atende a outras instituições, sempre prevenindo os cidadãos
sobre envolvimento com as drogas e situações de violência.
Assim, com o apoio das instituições responsáveis, através de estabelecimento de parcerias,
buscamos oferecer à comunidade um trabalho que contribua para a construção de uma convivência
social mais sadia.
De todas as cidades acreanas onde o Proerd atua, Rio Branco é onde o programa tem sido
implementado com maior projeção. Um dos motivos para essa realidade é o fato de a Coordenação
Estadual ter sede na Capital do Acre. Outro fator é a vontade de agir desse pequeno, mas abnegado
grupamento de policiais que aplicam o programa em suas várias formulações. Ainda podemos
destacar o fato de os policiais atuarem exclusivamente no Proerd, não cumprindo escalas em outros
tipos de policiamento – exceto nos casos de atividades que reúnam grande aglomerado de pessoas e
necessite de reforço de efetivo policial, como Carnaval, Expoacre, shows, etc.
102
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
35
O Proerd Acre tem em seus quadros 71 policiais aptos a atuar, contudo, apenas 35 estão atuando, enquanto 36 estão
executando outros serviços para a Polícia Militar. Dos 35 policiais Proerd em atividade, 24 atuam a partir da Capital.
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Polícia Militar do Estado do Acre
2001 07 01 3.685 49
2002 13 16 6.804 105
2003 23 24 10.634 182
2004 23 22 9.533 157
2005 15 14 8.402 120
2006 18** 17 6.569 65
* Várias escolas têm duas ou menos turmas de 4ª série, o que dificulta o deslocamento do
policial para mais de uma escola por período do dia.
** Atuaram apenas no segundo Semestre.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
105
Polícia Militar do Estado do Acre
projeto que só existia no papel, e esses policiais continuavam no projeto porque queriam ficar longe
das ocorrências relacionadas ao serviço operacional executado nas ruas de Rio Branco.
Quando indagados sobre o que pensam do Proerd, atualmente, 73% desses mesmos
policiais afirmaram que o programa é muito importante, enquanto 22% afirmam ser muito bom e
dinâmico, e, 5% afirmam que o programa ajuda com informações sobre o tratamento de
dependentes químicos.
É interessante que os policiais do CFC afirmaram que o Proerd traz benefícios para a
Polícia Militar do Acre. Quando foi pedido para que elencassem quais os benefícios que o programa
traz, quase dois terços desses policiais afirmaram que após o envolvimento com o programa, eles
melhoraram o relacionamento familiar, enquanto um terço afirmou que o programa auxilia no
fortalecimento dos valores morais e éticos concernentes ao bom convívio no relacionamento entre
policiais, ajudando inclusive os policiais que necessitam de tratamento ou que pretendem se manter
longe das drogas.
Quando perguntamos aos policiais em que, especificamente, o programa Proerd lhes
ajudou, para constar nos relatórios com fins a esse conjunto de palestras se tornar uma disciplina do
CFAP, metade desses policiais afirmou que o Proerd é importante porque os ajudou a melhorar o
relacionamento no ambiente de trabalho, enquanto a outra metade afirmou ter melhorado o
relacionamento com a família e com a comunidade, mantendo-os de bem com a vida.
Com isso, podemos perceber que ainda há muito o que se fazer em termos de Proerd em
Rio Branco. Dentro da própria Corporação Policial Militar, muitos ainda são os policiais que não
conhecem o programa e não sabem sobre as atividades por ele realizadas.
Os alunos Cabos do CFC 2007 tiveram uma experiência com o Proerd e aprovaram,
contudo, outros policiais precisam conhecer o programa para aprender mais sobre prevenção às
drogas e à violência, bem como, a valorização da sociedade como um todo, a começar pela família.
No intuito de alcançar a eficácia, bem como medir sua eficiência, a equipe Proerd, através
de sua Coordenação, elaborou e executou uma pesquisa junto às escolas públicas37 das redes
37
As afirmativas aqui produzidas têm como base um estudo realizado com Diretores de escolas públicas estaduais e
municipais de Ensino Fundamental, além de Equipes Gestoras e Professores de 4ª séries que atuaram nas escolas
durante o período de aplicação do Programa Proerd. Esses servidores são provenientes de quinze instituições de ensino
106
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
municipal e estadual de Ensino Fundamental. A pesquisa ficou restrita à área pública por termos
encontrado dificuldades técnicas de atendimento a nossas necessidades em algumas instituições
particulares que não disponibilizaram seus dados ou “dificultaram o acesso”. Não estamos com isso
dizendo que a rede de ensino particular em nossa cidade não quis participar da pesquisa. Temos
excelentes parceiros que atuam conosco há anos e pretendemos continuar com eles por décadas,
todavia, não conseguiríamos o percentual necessário de informações para a pesquisa apenas com
nossos “parceiros incondicionais”. Por isso, optamos atuar apenas na rede pública.
Dito isto, entramos em contato com a Secretaria de Estado de Educação, com as Gerências
de Ensino Fundamental e Médio, com os diretores das escolas, equipes gestoras e professores,
informando o intuito de averiguar as ações do programa, buscando conhecer como as escolas vêem
o Proerd, bem como, sua eficiência e eficácia.
O grau de aceitabilidade da pesquisa superou nossas expectativas, com 100% das escolas
nos atendendo de bom grado. Assim sendo, nessa fase específica da pesquisa foi aplicado um
questionário com 32 perguntas, muitas delas propositadamente parecidas para percebermos as
informações com maior precisão. O universo de escolas pesquisadas representa pouco mais de um
terço das escolas públicas atendidas pelo Proerd em todas as regionais da Capital. O critério para a
escolha foi o fato de ter havido e ainda haver turmas de 4ª série do Ensino Fundamental; ter
recebido o programa pelo menos três vezes, o que mostraria uma continuidade dos trabalhos; e
vontade de colaborar para a melhoria do Proerd em Rio Branco.
Todos os que responderam o questionário semi-aberto atuam ou atuaram quando da
execução do programa Proerd de 4ª série em suas escolas, sendo que, cerca de um terço atuou
indiretamente e dois terços atuaram diretamente. Um terço dos entrevistados faz parte da equipe
gestora da escola e dois terços são professores.
Quando indagados sobre a necessidade de programas de prevenção na localidade e na
escola, quase totalidade dos entrevistados afirmou que seria bom, porque é preciso investir no
futuro dos jovens, embora 2% acreditem que a situação não vai mudar; 98% das escolas acreditam
que o Proerd é muito importante para a comunidade escolar. O Proerd é o único programa de
prevenção às drogas e à violência presente em 92% das escolas; 8% das escolas são atendidas pelo
Proerd e pelo DAE.
Em 70% das escolas, a aceitação do Programa é excelente, o que espelha o empenho de
seus policiais em manter o alto padrão do programa com a comunidade escolar, em 30% das escolas
a aceitação é boa e muito boa, não sendo constatado nenhum índice de desabono ao programa. De
mesma forma, a receptividade da maioria absoluta dos alunos é excelente com relação ao programa.
atendidas pelo Proerd e responderam a um questionário proposto que foi devidamente autorizado pela Secretaria de
Estado de Educação.
107
Polícia Militar do Estado do Acre
Com esses dados e resultados agora comprovados, a comunidade escolar anseia por expandir a ação
do Proerd em suas escolas.
O Proerd prima pelo ideal de uma vida saudável, longe das drogas e da violência. Um
percentual de 86% dos diretores, coordenadores e professores disseram ter notado a diminuição de
atos agressivos no comportamento dos alunos que estudaram o programa. De acordo com a maioria
absoluta dos entrevistados, seria ótimo se esse dado pudesse ser repetido através da aplicação do
programa também nas 6ª séries e com os pais dos alunos, a comunidade escolar e a comunidade em
geral ganhariam mais segurança e menos atos violentos.
Não estamos afirmando que o programa é a solução para os males e mazelas da sociedade,
mas é um alerta, uma conversa franca, uma possibilidade de esclarecimento sobre as diversas
práticas cotidianas que envolvem ou não a atividade de drogas e violência. A partir daí, o aluno
toma sua decisão cotidianamente por fazer ou não uso de drogas, agir ou não violentamente. Mas
esses atos agora serão conscientes de uma possível escolha contrária; o que não ocorre atualmente,
em muitos casos, com crianças e adolescentes que não foram esclarecidos sobre esses fatos.
Antes do Proerd em mais da metade das escolas de Ensino Fundamental havia utilização
esporádica de drogas, principalmente de cigarro, por professores, funcionários e alunos dentro das
escolas. E em dois terços delas havia a utilização constante ou esporádica de drogas, principalmente
cigarro e bebida, por professores, funcionários e alunos nas imediações das mesmas.
Após a implantação do Proerd nas escolas, 58% das escolas não apresentaram utilização
de drogas, principalmente cigarro, por professores, funcionários e alunos dentro das escolas.
Entretanto, em quase um terço delas, constatou-se que os funcionários, professores e alunos saem
da escola para fumar fora dos portões, e em casos extremos, para “tomar uma” antes ou após o
expediente.
Esses dados demonstram que não basta fazer um trabalho com as crianças, é necessário
que a Polícia Militar, através da Polícia da Família, da Companhia Escolar, do Proerd, e de outros
pelotões, atue com palestras, seminários e exposições sobre prevenção também com os funcionários
e professores, além da comunidade em geral. De igual forma, é preciso que a Secretaria de
Educação, a SECIAS e a Secretaria de Saúde atuem no sentido de promover um ambiente saudável
para as crianças. Não basta proibir. Não basta baixar portarias. Existem várias leis sobre o assunto.
É necessário tentar resolver o problema com propostas e discussões, auxiliando e não apenas
determinando.
É fato que o Proerd atua em mais 80% das escolas públicas da Capital, embora seu
objetivo seja atuar em 100%, não temos policiais suficientes para pôr em prática o programa em
todas as escolas, tampouco, o Proerd para a 6ª série e para pais. Temos policiais formados, prontos
108
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
para implementarem todos os programas, mas não adianta pôr em prática o que seria o
complemento e deixar a base, a 4ª série, sem ser atendida.
Percebemos que para os agentes que atuam nas escolas, o fato de ter um parceiro com
quem possam contar aumentou a expectativa quanto a seminários, oficinas, palestras e expressões
de combate ao uso de drogas e prática de violência. Várias escolas que não comemoravam a semana
anti-drogas, atualmente o fazem. É comum ver exposições e cartazes em murais alertando sobre a
problemática. Isso demonstra que as escolas estão despertando para o que é uma tendência nacional,
o fato de informar as crianças sobre os efeitos e as conseqüências de substâncias psicoativas.
A maioria absoluta dos entrevistados informou que o Proerd funciona em seus ideais de
manter as crianças longe das drogas e da violência, seu conteúdo é adequado para as crianças,
embora acreditem que há a necessidade de adequação da metodologia. 44% dos profissionais da
educação que foram entrevistados acreditam que há a necessidade de adequação da metodologia
aplicada. Vale ressaltar que a metodologia atualmente atualizada tem base no construtivismo e foi
formulada especificamente para esse programa no Brasil por volta de 1992, de mesma forma há
uma outra metodologia que está sendo testada em outros estados da nação, o chamado programa
Proerd par 4ª série em 10 lições, baseado na metodologia construtivista-interacionista, formulada
para o programa em 2005. Contudo, essa ainda está em fase de teste em nosso estado.
Por ser um programa padrão das Polícias Militares do Brasil e registrado
internacionalmente, não dá para mesclar o melhor de um com o melhor de outro programa Proerd.
São dois os programas de 4ª série: o de 17 lições, menos dinâmico, porém com um
acompanhamento maior por parte do policial que atua mais tempo nas escolas; e o de 10 lições,
mais interativo, mais dinâmico, porém aplicado em um bimestre letivo. A sociedade precisará
escolher entre ganhar em interação ou em atuação presencial do Policial Proerd nas escolas.
De acordo com as escolas, as aulas do Proerd têm duração média de uma hora e quinze
minutos, o que equivale a quase dois tempos letivos em algumas escolas, e são aplicadas por um
policial devidamente fardado com o “uniforme de passeio e instrução”. O policial, além de atuar nas
salas de aula, interage com os professores, funcionários e alunos das escolas, tanto que para os
entrevistados, 50% dos funcionários que “fumavam seu cigarrinho” dentro das escolas diminuíram
consideravelmente o uso do cigarro, bem como, os alunos ficaram menos violentos.
Para os entrevistados quase todos os policiais são assíduos, pontuais e estão bem
qualificados. Quanto aos que não se encontravam nessa situação, a Coordenação do programa
tomou providências para melhor qualificar seus profissionais e atender melhor a sociedade. Um fato
que vale ressaltar é que, normalmente, ao ler documentos de instituições militares, sempre que um
militar foge ao que foi estabelecido como regra ele é punido. Não é essa a metodologia utilizada
nacionalmente pelo Proerd. A necessidade de boa auto-estima e bem estar das crianças está
109
Polícia Militar do Estado do Acre
concomitantemente ligada à necessidade de boa auto-estima e bem estar do policial, assim sendo, o
policial responde por seus atos e busca voluntariamente melhorar para que todos fiquem bem com
isso. Caso ele persista na atitude de desacordo com o grupo, é convidado a sair, haja vista que o
objetivo primordial é manter “nossas crianças de bem com a vida”, dentro do lema “servir e
proteger”.
A maioria absoluta dos policiais, na opinião das escolas, tem um excelente domínio de
conteúdo ou domínio muito bom. Eles não repetem as instruções “como papagaios”, mas conhecem
o assunto que estão expondo. Isso reflete diretamente no domínio de classe, que não é função do
Policial Proerd, mas dos professores, e que, de acordo com as escolas, a maioria absoluta dos
policiais têm desenvolvido um trabalho muito bom, primando pela excelência.
Todos os Policiais Proerd atuam em várias escolas ao mesmo tempo, com a média de três
escolas para cada policial. De acordo com os entrevistados, a maioria absoluta dos policiais interage
em todos os âmbitos da escola, e quando perguntados sobre que nota dariam para os policiais que
passaram por suas instituições de ensino, 43% das instituições atribuíram nota máxima. Ficando em
9,5 a média da nota dos policiais Proerd. Esse fato é um dado que muito nos orgulha, uma vez que
buscamos a excelência e a cada dia tentamos atuar de forma mais eficiente.
O leitor deve estar se perguntado: “E os pontos negativos do Proerd, não têm?”. Sim, a
pesquisa realizada nas escolas apontou erros e distorções do tipo: atraso de policiais,
desalinhamento de uniforme, dificuldade em repassar a lição, e outros similares, que já foram
corrigidos. Algumas outras dificuldades como necessidade de formação continuada dos policiais e
maior preparo para atuar com novos currículos construtivistas-interacionistas já estão sendo
programadas para implementação em breve. O Comando da Polícia, a Coordenação do programa e
os Policiais Proerd buscam a cada dia melhorar sua eficiência em busca da eficácia. Algumas
escolas reclamaram da baixa qualidade dos livros dos estudantes – esses foram trocados; outras, do
domínio de classe por parte de alguns policiais – já os treinamos novamente e os acompanhamos
nas escolas. Ainda, algumas escolas pediram modificações na metodologia e expansão do currículo
para o 3º ciclo e para a comunidade – já está em fase de teste o currículo de 10 lições 4ª série, o
currículo da 6ª série e o “Currículo de pais”.
Algumas escolas pediram maior interação do policial com a comunidade escolar – esse
pedido já foi aceito e implementado com a readequando a escala e a carga horária diária para que o
policial possa ter mais tempo para atuar na escola. E, por fim, pediram que os resultados fossem
divulgados “sem maquiagem” ou “censura” – aqui os disponibilizamos para toda a sociedade, e por
ser um relatório escrito, logo, conciso, não apareceram as informações individuais38 dos mais de
38
As identidades dos entrevistados foram preservadas. Não há como identificar quem respondeu qual questionário.
110
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
três mil alunos e 100 professores, mas essas podem ser obtidas na base de dados da pesquisa que se
encontra na Diretoria de Ensino e Instrução da Polícia Militar, na Coordenação do Proerd.
Efetuamos uma pesquisa entre os Policiais Proerd que se fizeram voluntários para
conhecer um pouco mais suas redes sociais de atuação. A pesquisa foi realizada no mês de junho de
2007, na Coordenação do Proerd Acre. Após a aplicação de questionário em forma de gráfico,
tivemos a grata surpresa de 60% do efetivo total do Proerd ser voluntário. A porcentagem poderia
até ser maior se alguns policiais não estivessem viajando, em missão ou de férias.
O objetivo desse estudo foi verificar como os policiais constituem seus relacionamentos
nos diferentes aspectos de suas vidas. Para isso, os policiais deveriam pensar nas pessoas que são
importantes para si atualmente, pessoas que fazem parte de suas relações neste momento de suas
vidas.
Partindo dessa premissa, eles deveriam desenhar, no mapa que lhes foi entregue, quais as
pessoas que fazem parte da suas redes, sendo que cada pessoa do sexo feminino seria representada
por um círculo, e cada pessoa do sexo masculino, seria representada por um quadrado. Não era
necessário colocar nomes, só representá-los pelos círculos ou quadrados.
Esse trabalho com círculos e quadrados não foi aleatório. Antes de colocar as pessoas no
mapa, existiam algumas regras que deveriam ser seguidas, para nos ajudar no conhecimento de seus
relacionamentos: o policial deveria predispor seu título de Mentor ou Instrutor no centro do círculo,
conforme tabela anexa, e no primeiro círculo deveria colocar as pessoas que são de suas relações
mais íntimas, em quem ele confia mais, com quem realmente sabe que pode contar, pessoas que são
de sua confiança e de quem mais gosta. No segundo círculo, deveria colocar aquelas pessoas que
considera importantes, mas não sente tão próximas. De mesma forma, no terceiro círculo, deveria
colocar as pessoas que considera que fazem parte de suas relações, mas que não são tão importantes
ou que estão mais distantes neste momento de sua vida.
Os três círculos eram inter-secionados por duas transversais que planejavam os espaços na
horizontal e na vertical, de forma que cada um dos espaços fosse contemplado com parte dos três
círculos. Os espaços foram divididos em: família, amigos, comunidade e escola/trabalho.
Quando da análise dos questionários um dado ficou latente: houve uma diferença muito
grande entre as respostas dos Instrutores e dos Mentores. A análise inicial seria para verificar como
111
Polícia Militar do Estado do Acre
se comportavam os Policiais Proerd em suas redes sociais, mas pela relação díspar encontrada, esse
tema será dividido conforme as respostas, ou seja, analisaremos os Mentores, os Instrutores e, por
fim, uma análise geral, análise essa que havia sido a única planejada anteriormente.
Pelo mapa das redes sociais, percebemos que Instrutores e Mentores trabalhando a mesma
carga horária, nas mesmas atividades, na mesma cidade, diferenciam de forma geral o modo como
se relacionam com a sociedade. Não se intenta aqui afirmar que os Mentores agem de um jeito e os
Instrutores agem de outro, mas simplesmente nominar as atividades mais desenvolvidas por cada
grupo específico.
A relação familiar de Instrutores e Mentores se mostra firmada, com relacionamentos
contínuos, tanto nas relações mais íntimas quanto nas de menor grau de compromisso. A família,
como sendo a base da sociedade, está relativamente bem assistida em ambos os grupos. Mesmo
com uma carga alta de estresse proporcionada pela atividade Policial Militar no exercício de sua
função, esses policiais militares têm demonstrado uma boa interação familiar, tanto com sua família
nuclear (pai, mãe, irmãos, filhos) quanto com seus familiares de convívio mais próximo.
Percebemos, todavia, que as relações ocasionais dos Mentores se dão três vezes mais fortes que
entre os Instrutores, o que se poderia, em tese, representar como os Mentores interagindo mais com
seus parentes mais distantes; ou, pelo fato de os Mentores serem um pouco mais velhos que os
Instrutores e, em geral, estarem há mais tempo na Polícia, terem adquirido “certa estabilidade” e
poderem se relacionar mais com seus parentes distantes.
A relação com os amigos mostra-se díspar logo no início, nas relações mais íntimas e
prossegue por toda a rede social dos grupos. Os Mentores demonstraram relacionar-se mais com
seus amigos que os Instrutores, o que é um dado preocupante. Se produzirmos as somas das
relações entre ambos os grupos e dividirmos pelos graus, ainda assim, perceberemos que os
Mentores têm quase o dobro de convívio em seus relacionamentos com os amigos, o que não prova
que os Instrutores tenham menos amigos, mas sim, que eles estão muito preocupados com outras
atividades, a ponto de deixarem os amigos um pouco mais distantes de si. De forma específica, pela
jovialidade dos Instrutores, que são em média, cinco anos mais jovens que os Mentores, e têm em
seu círculo um número maior de solteiros que no círculo de Mentores, esperávamos que o número
de “amizades estáveis” demonstrada pelos Instrutores fosse maior que a demonstrada pelos
Mentores, fato que não ocorreu. Esse “espelho” produzido no mapa de redes sociais pode ser um
índice de alto nível de estresse vivenciado pelos Instrutores.
A relação com a comunidade demonstra equiparação no que concerne as relações mais
íntimas entre Instrutores/comunidade e Mentores/comunidade. Todavia, nas relações de menor grau
de compromisso e nas relações ocasionais, percebemos que os Mentores têm mais sólida relação
com seus vizinhos. Talvez isso se dê pela estabilidade adquirida no vínculo de vivência na
112
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
localidade e pela não necessidade de “correr tanto” dos Mentores em busca de relações sociais mais
estáveis.
As relações escola/trabalho demonstraram equiparação nas relações mais íntimas, com um
pequeno aumento do número de relações ocasionais por parte dos Mentores. Entretanto, um dado
que surpreende é o fato de nas relações de menor grau de compromisso, os Instrutores
demonstrarem maior interação nas escolas e no trabalho que os Mentores. Isso pode demonstrar um
alto grau de busca por melhor se relacionar, por parte dos Instrutores. O fato de a maioria dos
Instrutores estar há menos de dois anos no Proerd e a maioria dos Mentores estar há mais de cinco
anos deveria, em tese, demonstrar uma maior interação entre os Mentores, as escolas e a Polícia, o
que só ocorreu ligeiramente nas relações ocasionais.
O fato de os Mentores demonstrarem estar, de certa forma, afastados das relações com as
escolas e trabalho não transparece descaso por parte dos mesmos, já que suas relações, de forma
geral, são mais fixas nesse item que nos itens amigos e comunidade. Contudo, há a necessidade de
os Mentores interagirem mais com as escolas e com outros setores da Polícia Militar, haja vista que
eles devem ser o “espelho dos Instrutores”.
Em contrapartida, os Instrutores atuam mais do que deveriam na relação escola/trabalho, o
que é preocupante. As relações escola/trabalho dos Instrutores são maiores que as relações
familiares, de amizades e comunitárias. Esse pode ser o fator que faz os Instrutores não interagirem
tão firmemente nos demais grupos de suas redes sociais. O altíssimo índice de relações sociais na
escola/trabalho pode ser um ponto que culmine no fator de estresse entre os Instrutores Proerd. Fato
que, em se mantendo o quadro, a longo prazo, pode dificultar suas relações sociais de forma geral,
ocasionando “doenças sociais” como estresse, ansiedade e depressão.
Vale ressaltar que as respostas aqui obtidas são um “espelho” do momento vivenciado
pelos policiais. O fato de determinadas respostas serem produzidas em um momento não quer dizer
que será sempre assim, antes, com as interações sociais cotidianamente estabelecidas, essas relações
podem variar conforme as proposições de cada indivíduo para sua vida pessoal.
O Proerd é um programa das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares, por
isso, faz parte dos quadros e funcionalidades dessas instituições. Como muitas instituições públicas
não têm o caráter auto-avaliativo, sua eficiência fica comprometida por uma funcionalidade que
nem sempre é a mais adequada – esse não é o caso do Proerd. Brena Pimenta, Bruno Ribeiro e
Talita Silva (2005), ao avaliar o Proerd do Distrito Federal fizeram algumas considerações válidas
113
Polícia Militar do Estado do Acre
que servem como alerta para as demais instituições e que, no caso do Proerd Rio Branco, veio a
somar e corroborar com nossos anseios de melhorar a eficiência do programa constantemente.
Brena, Bruno e Talita, afirmam que:
Outras
8% Católica
31%
Evangélica
61%
No Proerd da cidade de Rio Branco não existe nenhum Master. A única Master acreana é a
Capitã Socorro, que atua na cidade de Tarauacá. Dois terços dos Policiais Proerd entrevistados em
114
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Rio Branco são Instrutores e atuam diretamente nas salas de aula das escolas executando o
Programa, enquanto os Mentores se dividem entre o trabalho em sala de aula, Coordenação do
programa na cidade, logística, palestras e atendimento de convites para preparar outros policiais.
Quando perguntados sobre as principais motivações que levam o Policial Militar a se
voluntariar ao Proerd, a partir de uma pré-observação de quais seriam as principais motivações,
foram estruturadas as seguintes alternativas:
Bom
Ótimo
Ótimo 18%
64%
71%
Mais da metade dos policiais afirmou que o envolvimento da família dos alunos com o
Proerd é insatisfatório. Esse é possivelmente um dos obstáculos ao alcance dos objetivos principais
do Proerd. Os policiais afirmaram que as famílias interagem no dia da formatura do Proerd, mas que
115
Polícia Militar do Estado do Acre
grande parte delas não faz o acompanhamento dos alunos durante o curso, nem participa das
reuniões de pais que são realizadas pelo programa na escola.
Os policiais afirmaram que apenas às vezes (43%) há uma correspondência entre o
conteúdo do livro do estudante Proerd e o conteúdo trabalhado pelos professores das escolas.
Raramente (36%) os professores dão continuidade na construção de um conhecimento a partir do
conteúdo trabalhado em sala de aula pelo Policial Proerd.
Dentre as dezessete lições (dezesseis em sala e uma formatura), três destacam-se na
opinião dos entrevistados como sendo as que eles consideram aquelas em que há maior apreensão
de conteúdo por parte das crianças.
A opinião dos entrevistados aponta as lições 3, 6, e 10, respectivamente, como as de
melhor absorção por parte dos alunos.
A lição 03 é aplicada buscando construir com os alunos o processo de aprendizagem
iniciado pelas duas lições anteriores. Nessa lição o Instrutor atua como um mediador em sala de
aula, articulando as formulações propostas e interagindo a partir das experiências dos alunos e das
aulas anteriores.
Com a lição 06, os alunos são estimulados a elogiarem seus colegas de sala, há uma
página específica para isso onde vários colegas podem elogiar uns aos outros. No final da aula o
aluno faz um elogio a si mesmo, onde valoriza suas qualidades que considera relevantes. Com isso,
as crianças fortalecem sua auto-estima por observarem que os colegas as vêem de modo elogioso,
havendo um fortalecimento dos laços de amizade na turma.
A lição 10 foi a terceira destacada pelos Policiais Proerd. Nela, os estudantes são
estimulados a desenvolver habilidades necessárias para analisar como os meios de comunicação
podem influenciar o modo como as pessoas pensam, sentem e agem com relação à violência e ao
uso de drogas. Com isso, o policial objetiva que os alunos sejam capazes de reconhecer a influência
dos meios de comunicação quando mostram o cigarro, o álcool e as outras drogas e ainda, as
atitudes de violência.
Os policiais foram convidados a discorrer sobre o que eles consideram ser os maiores
problemas do Proerd. Esse é um dado importante, por ser uma rica fonte de informação. A opinião
desses Instrutores em muito reflete o que já se percebeu em reuniões com a comunidade escolar e
com a sociedade. Foram excluídas as opiniões díspares e registradas as regularidades, os problemas
apontados são tanto de ordem interna (coordenação, estrutura física, carga de trabalho e assistência
aos alunos) quanto de ordem externa (financiamento, parcerias e família). Percebemos em seus
escritos que existem alguns obstáculos que impedem o pleno funcionamento do programa e
diminuem consideravelmente sua eficiência.
116
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
policiais. Todos esses itens tiveram nota inferior à média 5,0 estabelecida como minimamente
regular.
Importância e apoio que têm dispensado para a atuação do Pontuação
programa Proerd no Acre (00 = mínimo // 10 = máximo)
Curso de formação de instrutores 8,78
Livro do estudante 8,00
Coordenação administrativa 7,78
Proerd no Acre 7,64
Comando Geral da Polícia Militar 6,42
Proerd no Brasil 5,99
Atuação do Governo do Estado do Acre 5,42
Atuação do Governo Federal 4,92
Divulgação do Programa 4,61
Embaixada dos Estados Unidos 3,14
Fonte: Questionário para Policiais Proerd.
Em contrapartida, os policiais afirmam que três itens se destacam para o bom desempenho
do programa na cidade de Rio Branco. Esses itens não alcançaram nota de excelência, contudo,
apontam para a possibilidade de melhorias e ajustamento de atividades para uma atuação mais
eficiente. Dentre os pontos citados pelos policiais, destacam-se o livro do estudante Proerd da
quarta série que mesmo necessitando de revisão, é apontado como um forte auxílio para que o
programa tenha uma boa receptividade; a Coordenação do Proerd que em sua forma administrativa
foi cotada como um ponto forte, embora tenha a crescer o fato de necessitar implantar na prática a
parte pedagógica da Coordenação; e o curso de formação de Instrutores, que tem auxiliado na
formação dos policiais que atuam no programa. Esses foram considerados os pontos fortes do
programa em Rio Branco.
Os relatos dos Policiais Proerd estão na mesma direção que o resultado das entrevistas
com alunos, comunidade escolar e sociedade em geral que foram demonstrados em outros capítulos,
pois apontam deficiência nas parcerias e no apoio institucional, bem como uma necessidade de
continuidade do programa para as séries posteriores.
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
119
Polícia Militar do Estado do Acre
7,5 a 9,0 pontos (muito bom): Você é um policial acima da média – há alguns pontos a crescer.
5,0 a 7,4 pontos (bom): Você tem muitos pontos a crescer – continue firme.
Abaixo de 4,9 pontos (insuficiente): Sugiro rever seus conceitos e um pouco mais de atenção.
Essa foi uma forma de incentivar os policiais a participarem e, ao mesmo tempo, de fazer
com que tivessem um parâmetro de como estão com relação aos objetivos do programa.
Após terem respondido o questionário, este foi corrigido por dois professores que
analisaram os objetivos do programa de 4ª série contidos no Livro do Instrutor Proerd e chegaram
às seguintes conclusões:
• Com exceção de um dos entrevistados, todos os policiais alcançaram índices de acerto dos
objetivos do programa e das lições com média igual ou superior a 75%, o que demonstra
uma atuação muito boa em relação ao conhecimento “de cor” dos objetivos do programa.
• Todos os Mentores obtiveram índices de aprovação acima de 80%, o que na média geral
elevou o patamar dos Mentores para 85, 6% do total de questões ou nota média de 8,56, no
total de 10.
• As notas entre os Instrutores variaram de insuficiente a excepcional. Um dos Instrutores
conseguiu definir e processar todos os objetivos do programa e expor uma das lições com
eficiência de 100%, contudo, pela variação das notas, a média dos Instrutores ficou em
84,7% dos objetivos gerais.
120
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
121
Polícia Militar do Estado do Acre
quero concluir aqui, eu conheci durante essa caminhada de estar conversando com muita gente um
trabalho muito interessante que é o trabalho feito pela PM, pelo PROERD – através de um
programa educacional de resistência às drogas e à violência.
Eu estava assistindo o jornal ontem, e vi que no Rio de Janeiro foram presos 52 policiais
militares de um mesmo batalhão por ter envolvimento, por estarem se associando, de alguma forma,
contribuindo com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. E aí, me veio à mente o fato de que o
tráfico, realmente ele entra nas instituições. Ele consegue ganhar aliados dentro das instituições que
têm por função proteger a sociedade, como é o caso da PM. Mas, a PM não é a única instituição que
é cooptada pelo tráfico, temos muitas outras. A própria Justiça, em alguns casos o Ministério
Público, enfim. Todo Poder Público do Estado acaba sendo a tentativa do tráfico de cooptar. É
claro, que a polícia no caso de Poder de Estado, muitas vezes, o elo é mais fraco. É muito mais fácil
a gente prender um policial militar, por estar envolvido em tráfico do que prender um Juiz, não
tenho nenhuma dúvida disso. É muito mais fácil, o que não quer dizer, que nós não tenhamos em
outro segmento do Poder Público a cooptação do tráfico. Mas a PM realiza um trabalho, a gente não
tem dúvida que isso é uma exceção. O tráfico faz isso, mas a PM é composta por homens – a PM do
Acre que é a que eu conheço um pouco – é composta por muitos homens seriamente
comprometidos. E nós temos aqui no Estado um trabalho muito bonito, que foi trazido pro Estado
na gestão do nosso Comandante Gilvan, quando era Comandante da PM aqui no Estado. Trouxe o
programa aqui para o Acre e, na época, o Governador Jorge Viana, em seu primeiro ano de
mandato, compreendeu a importância de a gente trazer esse trabalho de prevenção ao uso indevido
de drogas para dentro das escolas. É um trabalho magnífico, é o melhor trabalho de prevenção que
eu conheço dentro do Estado e a gente precisa fortalecer esse trabalho, universalizar essa ação de
prevenção, porque ela não está em todas as escolas, não está atingindo todos os nossos jovens. E a
gente tem o papel de universalizar. Eu queria aqui já fazer essa campanha de universalização do
PROERD pra dentro das escolas acreanas, porque nós não temos nenhuma experiência até hoje
melhor no sentido da prevenção. A prevenção hoje, sem dúvida nenhuma, é o melhor caminho.
Quem se trata de drogas, sabe o quanto é difícil enfrentar o problema a partir do momento em que
ela ingressou na vida da pessoa. O melhor trabalho, a melhor ação é a ação de prevenção, é fazer
com que as pessoas não tenham o contato com as drogas.
[...] Na verdade não é bem atribuição da Câmara Municipal criar um programa de
tratamento. Na verdade, os programas já existem. Existem entidades, são 05 que trabalham aqui em
nosso município com dependentes. O que falta para essas entidades é apoio. O Vereador Juracy
levantou a questão do financiamento, que é um problema real. Eu visitei todas as entidades, todas.
Conversei com os coordenadores, com os dependentes, eu conheço de perto isso. O que falta é
financiamento e o estado e município têm que participar mais. O estado colabora, o município tem
122
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
que dar sua parcela de contribuição. Mas não é só financiamento é apoio técnico, é disponibilizar
psicólogos, disponibilizar assistentes sociais para tratar essas famílias dos dependentes. Porque não
é só o dependente que está doente, a família está doente, já não consegue aceitar aquele dependente.
Para ele voltar para casa, a família não aceita, não sabe lidar com a situação. A questão do emprego,
da reinserção desse dependente, que está doente, a família está doente, já não consegue aceitar
aquele dependente. Para ele voltar para casa, a família não aceita, não sabe lidar com a situação. A
questão do emprego, da reinserção desse dependente no mercado de trabalho, você torna ele muito
mais vulnerável a retornar para as drogas. E é por isso, inclusive, que a reincidência de ex-
dependentes é enorme. É muito difícil você recuperar um dependente. Tem que ser herói mesmo,
porque a compulsão pelas drogas é muito forte. Ele tem que vencer todo dia aquela batalha,
sozinho. Como é que a Câmara pode dar sua contribuição? Cobrando do Poder Público esse apoio e
estar pensando em projetos, criando conselho, se está criado, fazer com que, realmente, o conselho,
realmente, assuma o seu papel de estar discutindo políticas públicas, exigindo que a Secretaria de
Educação implante programas de prevenção, discutindo políticas públicas, daí, universalizar o
PROERD. Nós precisamos universalizar o PROERD. Nem todos os alunos da nossa rede de ensino
têm acesso a um programa de prevenção. E nós temos um programa extraordinário montado, que
foi implantado lá nos Estados Unidos, já veio para o Brasil, está no Acre. O Acre é referência, um
dos estados que esse programa funciona muito bem. Agora, precisamos usar o programa, fazer com
que ele chegue nas escolas. E não chega em todas, esse é o problema. E, pensar, aí, num
financiamento através de projetos de incentivo fiscal, etc. Programas existem, precisamos fazê-los.
Estado. Algumas pessoas, acho que até já conhecem esse programa – temos feito nas escolas e
temos levado essa mensagem. Porque, como disse o Vice-Prefeito, a droga nada mais é, do que uma
doença, um câncer, uma AIDS social que tem destruído as pessoas, desagregado as famílias, e, com
a principal característica, que é se infiltrar nos órgãos públicos, nas instituições. E, infelizmente, a
coisa mais certa, em breve, que a droga patrocina para a pessoa é a morte. E não só a morte física,
ela patrocina principalmente a morte social. A pessoa, quando se torna um dependente, ele se torna
um mal social, ele passa a roubar, matar, se prostituir. Cada dependente atinge direta ou
indiretamente seis pessoas. Primeiro, a sua família, depois o colega de trabalho, de escola e a
comunidade de um modo geral. Senhores, essa violência gratuita, estúpida e real que nós temos
vivido ultimamente, a causa talvez única, são as drogas. Basta dizer, que oitenta por cento das
pessoas que estão presas nas penitenciárias, cerca de 330 mil no Brasil, lá estão porque, de alguma
forma, se envolveram com drogas. Às vezes, pelo fato de serem dependentes, cometem outros
delitos para manterem os seus vícios; outras vezes, pelo simples desejo de terem pela ganância, eles
se envolvem e passam a traficar.
124
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
parcerias. O Capes e a Casa Resgate, que é uma casa mais nova da Igreja Assembléia de Deus. Eu,
conversando com o Dr. Maia, de manhã, não conseguimos afunilar, verticalizar em cima de uma
especificamente mantida pelo Poder público. Isso é triste, é um alerta para os Vereadores, os
Senhores Deputados, porque ao mesmo tempo em que as famílias sofrem, a sociedade também
sofre, o tecido social é corroído. Porque a maioria dos processos envolvendo atos infracionais, todos
reclamam por internação, internação, internação. Temos três unidades de internação lotadas, é um
triste quadro e quase o conceitual máximo de reincidência é por causa do uso indiscriminado de
substâncias de entorpecentes. Temos que fazer alguma coisa, e este é o momento, é o fórum ideal
para discussão.
125
Polícia Militar do Estado do Acre
existe uma situação dessas. Cruzeiro do Sul tem dois policiais federais. É brincar com o estado, é
brincar com a nação, é brincar de não querer resolver esse problema. E esse problema não será
resolvido se não estancarmos essa fronteira do nosso País. Então eu queria conclamar todos para
que peçamos aos nossos Deputados Federais, nossos Senadores, ao Presidente Lula que estará aqui
inaugurando e nós temos que ter uma Polícia Federal bem equipada, com helicóptero, que ela possa,
inclusive, ter equipamento melhor do que o crime organizado, organizadíssimos que eles são. Nós
precisamos que a Polícia Rodoviária Federal esteja aqui no nosso Estado, porque nós ainda somos
dependentes da Polícia Rodoviária de Rondônia. Para pedir papel higiênico tem que pedir, lê lá.
Isso é um absurdo, isso não é um Estado com autonomia. Então, eu quero dizer para vocês que o
que nós estamos fazendo são medidas paliativas, remédios, remédios bons.
126
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Não abre portas, não se dá um abraço, não se diz bom dia, não se dá emprego, a pessoa fica
perambulando pela cidade a custa de um apoio, de um emprego, procura comida para sua família e
não acha e fica numa depressão tão grande que finda tendo uma recaída. Às vezes, 70% dos que se
curam das drogas recaem por um preconceito social, pelo preconceito da própria sociedade que não
sabe amparar, não sabe receber e temos que trabalhar isso também. No entanto, acho que há algo
mais eficaz, realmente. É aquela que se faz a médio e longo prazo, que é a prevenção. E aqui, eu
louvo o PROERD, que é o único tratamento realmente de prevenção que se faz nas escolas. Eu já
atentei pra isso, fiz um projeto de repressão de drogas nas escolas pra crianças de 3 a 8 anos, mas
infelizmente não passou na Câmara, foi derrubado pelos Vereadores que não eram... – não estou
condenando, nem julgando ninguém aqui – estou apenas lamentando, mas faz parte do nível de
conscientização que tínhamos naquela época e que nós evoluímos a ponto de estarmos fazendo uma
sessão dessa natureza. É preciso invadir essas escolas, trabalhar essas crianças de 3 a 8 anos,
mostrar, mexer sua personalidade, fortalecê-las, para que aos 10, 12 anos ela possa dizer: “Não, não
quero drogas”. Coisa simples, inteligente, eficaz. Mas, aqui, quero chamar a atenção, porque nós
falamos muito no dependente, mas esquecemos dos usuários, que nós não sabemos o percentual. Eu
posso afirmar que hoje temos de 11 a 12% dos nossos acreanos são dependentes do álcool. Tenho
certeza absoluta, porque fiz pesquisa para isso. Quantas pessoas alcoólicas estão afastadas do
convívio social e familiar não trabalhando, prejudicando o produto interno do Estado. Então, nós
temos que ver também que estas pessoas são catalogadas como dependentes, já são catalogadas
como dependentes, são tratadas, rotuladas. Mas aqueles usuários – aqueles que começam a beber
em casa, com o pai, com a mãe, com o irmão mais velho, que começa a beber e vai até 10, 12 anos
bebendo em casa ou não, regular ou não – essas pessoas como também usam drogas com 9, 10, 11
anos já, são os verdadeiros criadores de violência urbana. Não é só o dependente que cria violência,
o usuário cria mais índice de violência na cidade do que realmente os dependentes. E nós aqui
achamos, se pegarmos os dependentes e matarmos, está resolvido o problema. E não está. Os
usuários de drogas são muito maiores e não há nenhum de nós aqui que saiba qual é o número de
usuários que há no País, nem no Acre, principalmente. Eu sei, por exemplo, que 80% usam álcool.
Claro, eu sei disso... E se pegar os jornais nos finais de semana, vão ver que 80% das pessoas que
cometem assassinatos, suicídios, estão relacionadas com o uso de drogas e álcool. Mas, será que é
esse índice mesmo? Nós não sabemos, os usuários, quantos são e o que é que nós fazemos para
minorar o usuário de drogas? Nada! Rigorosamente, nada; nem saber quantificá-lo, nós sabemos.
Talvez precisássemos examinar todos esses alunos, fazer um exame qualquer, para que pudéssemos
identificar quanto o percentual de usuários de drogas e não de dependentes, para que eu pudesse
colocar nessa escola uma atividade preventiva, uma atividade escolar que fosse compatível com o
número e um percentual de abusadores da droga e nós estamos cochilando, não fizemos ainda nada.
127
Polícia Militar do Estado do Acre
Mas, também, quero pedir muito, nós temos que atacar em várias frentes. É muito bom o debate, é
muito boa a preocupação da Câmara, é ótima. Tem que trazer para as comunidades, debater nas
escolas, tem que levar para as pessoas essa preocupação. Afinal, está acabando com nossas famílias,
levando os nossos jovens na sua fase mais importante, na fase do sonho, na fase do caminho da sua
profissão e nós temos que ver realmente isso.
Eu quero dar os parabéns mesmo, a todos, ao PROERD, sobretudo, pelo trabalho
preventivo que faz eficaz, e único, e, efetivamente, faz. Mas que acabe de ser PROERD e passe a
ser o Programa do Estado para prevenção de drogas nas escolas, e nós vamos nos encaixar a ele,
porque, realmente, sem esse projeto nós temos dificuldade de entrar nesse programa. Não sei, talvez
mudar um pouco, mas continuar com o programa. E esse programa aumentar, nós teremos daqui
alguns dias, se Deus quiser, temos as drogas sob controle. E a droga sob controle e a cidade sem
violência. Oitenta por cento das violências urbanas estão ligados às drogas, como já falei. Se tirar as
drogas, teremos uma cidade sem assalto, sem roubo, sem brigas, com famílias estruturadas, alegres.
A felicidade será nossa.
128
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
jovens que consomem drogas, que se prostituem e que a tendência é continuar cada vez mais no
aperfeiçoamento do ilícito cometendo atos infracionais. A gente também está buscando conhecer
para poder aperfeiçoar esse trabalho que nós fazemos.
129
Polícia Militar do Estado do Acre
130
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Uma observação que se pode fazer sobre o Proerd é sua concentração de titulações e
formação continuada apenas na Capital, o que gera uma relação preocupante de distorção ensino-
aprendizagem no ambiente de formação dos próprios Instrutores Proerd e, em última instância, dos
adolescentes alunos. Percebemos que há uma elite de “Super-Instrutores” formados pelo Proerd nos
currículos: 4ª série 17 lições, 4ª série 10 lições, 6ª série, Currículo de Pais, Mentoração de 4ª série,
Mentoração de 6ª série, Mentoração de Currículo de Pais e Instrução de “Disciplina Proerd” nos
Cursos de Formação de Praças da PMAC; enquanto isso, mais de dois terços dos Instrutores Proerd
participou apenas do Currículo de 4ª série 17 lições – que é considerado o Currículo básico do
Proerd.
Com a informação acima não estamos dizendo que o Proerd não deva qualificar seus
policiais. Estamos afirmando que o Proerd Acre conta com alguns policiais extremamente bem
qualificados, a ponto de auxiliarem outros Estados do Brasil a formarem seus próprios policiais
Proerd. Contudo, a grande maioria dos policiais Proerd precisa urgentemente de atualização e de
acompanhamento pedagógico. Se por um lado, o Proerd tem “Policiais de Elite da Prevenção”, por
outro, a grande maioria de seus policiais Instrutores, em se tratando de conhecimentos gerais, extra-
currículo de 17 lições, necessita de aperfeiçoamento e aprimoramento de conhecimentos
concernentes ao objeto de estudo do Proerd.
Muito foi feito pelos policiais do Proerd, mas ainda há muito que se fazer, não apenas por
esses policiais abnegados que atuam veementemente na prevenção ao uso de drogas e à prática de
violência, mas por toda a sociedade. Polícia, escola e família precisam caminhar juntas; precisam
unir as forças para que as crianças sejam mais bem atendidas.
Desde o início, tivemos o intuito de mostrar as principais relações sociais que envolvem o
Proerd e seus parceiros, objetivando verificar na prática o funcionamento do programa e como estão
os adolescentes que por ele passaram.
O Proerd é um programa importante, mas sem as parcerias, pouco ou quase nada pode
fazer. Os ideais de manter as crianças e os adolescentes longe das drogas e de bem com a vida
foram em parte cumpridos. É possível afirmar, veementemente, que vale a pena investir em
prevenção.
Mas ainda existem os que não foram alcançados, e o problema está justamente aí. Dentre
os alunos que fizeram o Proerd, vários têm problemas com as drogas. Para os ex-alunos Proerd
parece não ter ficado claro o que são drogas na prática, uma vez que ao se reportar ao assunto
drogas, quase sempre estão falando das consideradas ilícitas. Quase nunca falaram do cigarro ou da
bebida alcoólica como sendo droga, talvez por que os usem, ou talvez porque não acreditem na
prática que esses sejam drogas de fato. Grande parte dos ex-alunos Proerd se manteve distante das
drogas ilícitas, mas utilizam as lícitas, cigarro e bebida alcoólica, em quantidade superior a que
131
Polícia Militar do Estado do Acre
estimávamos encontrar. Isso demonstra, talvez, a necessidade de o programa Proerd ajustar o foco
para melhor atuar junto às crianças e aos adolescentes.
E aqui vamos relacionar as informações dadas pelos alunos com as coletadas nas escolas
de Ensino Fundamental. Para os gestores, diretores, coordenadores, educadores, professores ou
qualquer outro nome dado às pessoas que estão diretamente envolvidas com a relação aluno-ensino-
aprendizagem no ambiente escolar, que responderam o questionário Proerd, em quase um terço das
escolas havia a utilização constante ou esporádica de drogas, principalmente cigarro e bebida, por
professores, funcionários e alunos nas imediações das mesmas. E, após a implantação do Proerd nas
escolas, 58% das escolas não têm utilização de drogas, principalmente cigarro, por professores,
funcionários e alunos dentro das escolas. Sendo que, em quase um terço delas, constatou-se que os
funcionários, professores e alunos saem da escola para fumar fora dos portões.
Essas são informações coletadas nas escolas, e os dados referentes a elas podem ser
verificados na base de dados Proerd. Então fica uma dúvida: “Se a Polícia, a educação, os gestores,
os coordenadores sabem qual é e onde está o problema, por que não o resolvem? Os temas
transversais sobre cidadania, saúde, drogas, relações interpessoais têm sido postos em prática no
ambiente escolar? Até que ponto escola e família têm caminhado juntas? Ou, em última instância,
que providências têm sido tomadas quanto a esses assuntos?”.
Os Policiais Proerd têm tentado fazer isso. Contudo, pelas muitas adversidades e pelo
próprio percurso pelos quais passam os sujeitos que fazem parte da relação de vivência e
convivência com o Proerd, esses objetivos nem sempre são alcançados.
Verificamos o Programa Proerd, desde como se efetua um curso de formação, passando
pela “visita” às salas de aula, às escolas, às autoridades, à Coordenação do programa e aos policiais
que fazem parte do programa.
A conclusão a que chegamos nos faz perceber que o programa é eficiente, embora tenha
algumas deficiências a serem sanadas. Sua eficiência está principalmente na ideologia e na força de
vontade de seus policiais em contribuir para que as crianças e os adolescentes fortaleçam sua auto-
estima e obtenham conhecimentos básicos para resistir às pressões quando do convite para a
utilização de drogas e à prática de violência.
O programa Proerd em Rio Branco não é eficaz. Alguns pontos foram verificados e
achados em falta, muitas vezes não por ausência, mas por presença em pequena quantidade. A título
de exemplo, podemos citar o programa Proerd da 6ª série, que escolhemos não analisar a fundo, por
causa de sua descontinuidade: a Polícia Militar tem um efetivo de duas dúzias de policiais muito
bem qualificados, as escolas querem o programa, as experiências anteriores lograram êxito, mas
falta material logístico e didático para que o programa seja posto em prática.
132
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
A eficácia de um programa está em sua forma plena, não do que é, mas do que, dentro de
sua realidade, pode ser. O Proerd Rio Branco pode ser muito melhor que a forma atual em que se
apresenta. Para tanto, sugerimos algumas possibilidades que podem tornar o programa mais
eficiente e mais próximo da eficácia.
Sugestões:
Diante do exposto, dividimos nossas sugestões em assuntos pontuais que estão agrupados
nos seguintes tópicos: Serviço Policial Proerd, Curso de formação, Coordenação Proerd, Livro do
Estudante, Divulgação do Programa, Atuação do Governo do Estado e Comando da Polícia Militar.
Verificamos que o programa Proerd é eficiente, e, para ficar ainda mais próximo da tão
almejada eficácia, sugerimos:
Curso de formação
• Que os policiais Proerd sejam qualificados em curso de capacitação e atualização de
currículos Proerd 4ª série, 6ª série e “Curso de Pais”, para atuarem como Educadores Sociais;
• Que seja feito um Curso de Instrutores para aumentar o efetivo do programa em, no
mínimo, 18 policiais para a Capital e, o dobro disso para o interior, para que o programa possa ser
aplicado em todos os municípios acreanos;
• Que o protocolo de intenções, assinado com a Secretaria de Educação, contemple a
formação em nível superior dos policiais Proerd, além de Curso de Especialização voltados
para o ensino/educação, para os policiais que já têm o nível superior.
133
Polícia Militar do Estado do Acre
Coordenação Proerd
• Que a Coordenação Administrativa, determine aos Mentores que auxiliem
diretamente na mentoração das lições que estiverem em andamento, bem como, que assistam aos
Instrutores em suas eventuais dificuldades e efetuem cursos de aperfeiçoamento;
• Que seja apontado um tempo padrão para a aplicação das lições Proerd em cada
currículo;
• Que se coloque em prática a Coordenação Pedagógica do Proerd, já criada, mas
nunca implantada na prática;
• Que a Coordenação planeje o Calendário Semestral de Atividades, seguindo os das
Secretarias Municipal e Estadual de Educação, a saber: atividades escolares do início de março até
julho, e, de agosto a novembro e que possa, no decorrer de todo o ano, agir com planejamentos e
outras atividades relacionadas ao programa.
Livro do estudante
• Que seja confeccionado o livro do estudante de todos os currículos (4ª série, 6ª série
e Curso de Pais), com a devida antecedência para que não prejudique o ano letivo;
• Que o livro do estudante da 4ª série seja reformulado e as “questões confusas”
sejam reelaboradas.
Divulgação do Programa
• Que se dê visibilidade às ações do Proerd;
• Que na página da PMAC, constante na internet, sejam postas as localidades, dias e
horários das formaturas do Proerd;
• Que haja uma formatura única por semestre;
• Que as parcerias sejam postas em prática e convidadas novas instituições para
serem parceiras do Proerd.
Governo do Estado
• Que apóie e destine recursos para que sejam providenciados os cursos de
qualificação/capacitação e atualização dos Instrutores para o novo currículo a ser implantado
até 2010 em todo o Brasil;
• Que providencie, juntamente com o Comando da PMAC, um espaço mais amplo e
adequado para o funcionamento da Coordenação do programa Proerd no Acre;
134
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
O Proerd é um grupamento da PMAC. Não é nem deve ser visto como uma Polícia
diferente. Não existem várias Polícias Militares no Acre, antes, uma única que se desdobra nos
diversos contornos do serviço policial, sempre vislumbrando “Servir e Proteger”.
135
Polícia Militar do Estado do Acre
TERCEIRA
PARTE
136
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
CAPÍTULO VII
ADOLESCENTES E INFOPOL
137
Polícia Militar do Estado do Acre
Em duas salas de aula, alguns alunos não aceitaram participar da pesquisa, o que nos
remeteu ao fato de respeitar sua privacidade e não pesquisá-los. Todos os outros alunos aceitaram
participar do estudo. Após realização de aplicação de questionário em sala de aula e consulta sobre
eventuais alunos que não aceitassem participar da pesquisa, com autorização da Coordenação de
Ensino e Instrução da PMAC, da SEE, da SEMEC, da Delegacia de Apoio à Infância e à Juventude
e da SEJUSP – através do Infopol – começamos a pesquisa no ambiente da rede de segurança.
Os resultados obtidos foram disponibilizados através de tabelas, para que cada interessado
trace seu próprio perfil. As tabelas serão minimamente comentadas, e estão divididas em dois tipos:
na primeira, referentes aos alunos das 8ª séries, contam nas tabelas as tipificações de ocorrências,
regional da escola, quantidade de alunos, idade dos mesmos, sexo, regional em que estudam e
regional onde o fato delituoso ocorreu. Na segunda tabela, nos ativemos a duas divisões distintas:
alunos Proerd e alunos não Proerd. Não mais tipificamos por regional ou localidades dos delitos.
Todos os resultados apresentados foram confirmados. Contudo, fica a perspectiva que esse
resultado seja maior, em âmbito geral, uma vez que o programa Infopol não lê a variante de nomes
ou acentos gráficos. Ao fazer uma análise por amostragem com 500 nomes de alunos, percebemos
que a leitura de variantes inexiste e, ainda, o erro humano de grafia impossibilitou a checagem de
alguns nomes, o que nos remete, em âmbito geral, a uma variável de 3% a 7% para maior do que a
aqui apresentada40.
As tabelas que se seguem dão conta das ocorrências dos alunos registradas no Infopol,
tanto por ocorrências quanto por práticas individuais de cada adolescente citado. Foram 703 alunos
pesquisados das 8ª séries do Ensino Fundamental. As subdivisões apontam as idades atuais dos
adolescentes, os delitos cometidos ou de que foram vítimas, a regional da escola e a regional onde o
fato ocorreu.
40
Os dados estatísticos da variante padrão foram conferidos e reconferidos por dois matemáticos da UFAC, não
cabendo colocá-los neste relatório. Contudo, os mesmos podem ser acessados na base de dados da DEI/Proerd.
138
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
139
Polícia Militar do Estado do Acre
- Ameaça R 02
16 F ----- - Ato Obsceno R 02 R 02
- Lesão Corporal/Agressão R 02
Física
15 F ----- - Calúnia, Injúria, Difamação R 02 R 02
- Ameaça R 02
16 F ----- - Lesão Corporal/Agressão R 02 R 02
Física
Crime, Delito ou Infração Cometido: Crime, Delito ou Infração Vitimado:
Média de 1 por 49 alunos Media de 1 por 09,33 alunos
Porcentagem de infrações cometidas registradas Porcentagem de infrações vitimadas registradas
proporcional ao número de alunos: 02,04% proporcional ao número de alunos: 10,71%
Escolas da Regional 03 Ocorrências do Infopol 8ª série do E. F. 105 alunos pesquisados
Idade Sexo Crime, Delito ou Infração Crime, Delito ou Infração Regional Local
Atual Cometido Vitimado da escola do
fato
14 F ----- - Aliciação de Menor (sexo) R 03 R 03
14 M - Lesão Corporal/Agressão Física ----- R 03 R 03
15 M ----- - Ameaça de Morte R 03 R 03
15 M ----- - Roubo R 03 R 03
15 M ----- - Lesão Corporal/Agressão R 03 R 03
Física
Crime, Delito ou Infração Cometido: Crime, Delito ou Infração Vitimado:
Média de 1 por 105 alunos Media de 1 por 26,25 alunos
Porcentagem de infrações cometidas registradas Porcentagem de infrações vitimadas registradas
proporcional ao número de alunos: 0,95% proporcional ao número de alunos: 03,80%
140
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
----- - Dano/Depredação R 04
----- -Ameaça de Morte R 04
14 F ----- - Extravio R 04 R 01
13 F ----- - Lesão Corporal/Agressão R 04 R 04
Física
16 M ----- - Lesão Corporal/Agressão R 04 R 02
Física
15 F ----- - Aliciação de menor (sexo) R 04 R 01
15 M ----- - Extravio R 04 R 02
15 M ----- - Extravio R 04 R 04
15 F ----- - Extravio R 04 R 01
15 F ----- - Furto R 04 R 04
- Lesão Corporal/Agressão R 04
Física R 01
- Extravio
14 F ----- - Calúnia, Injúria, Difamação R 04 R 04
- Estupro R 04
- Extravio R 01
15 F ----- - Furto R 04 R 04
14 M ----- - Ameaça R 04 R 01
15 F ----- - Extravio R 04 R 05
14 F ----- - Lesão Corporal/Agressão R 04 R 04
Física
15 F ----- - Extravio R 04 R 04
14 M ----- - Furto R 04 R 04
Crime, Delito ou Infração Cometido: Crime, Delito ou Infração Vitimado:
Média de 1 por 149 alunos Média de 1 por 06,47 alunos
Porcentagem de infrações cometidas registradas Porcentagem de infrações vitimadas registradas
proporcional ao número de alunos: 0,67% proporcional ao número de alunos: 15,43%
141
Polícia Militar do Estado do Acre
142
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
8ª séries Ocorrências do
de Rio Branco Infopol 8ª série do E. F. 703 alunos pesquisados
Sexo Crime, Delito ou Infração Crime, Delito ou Infração
Cometido Vitimado
F Lesão Corporal/Agressão Física Lesão Corporal/Agressão Física
(05 ocorrências) (08 ocorrências)
M Lesão Corporal/Agressão Física Lesão Corporal/Agressão Física
(03 ocorrências) (03 ocorrências)
F Ameaça de Morte Ameaça de Morte
(00 ocorrência) (08 ocorrências)
M Ameaça de Morte Ameaça de Morte
(00 ocorrência) (03 ocorrências)
F Extravio (de documentos e pertences Extravio (de documentos e pertences pessoais)
pessoais) (06 ocorrências)
(00 ocorrência)
M Extravio (de documentos e pertences Extravio (de documentos e pertences pessoais)
pessoais) (03 ocorrências)
(00 ocorrência)
F Calúnia, Injúria, Difamação Calúnia, Injúria, Difamação
(00 ocorrência) (05 ocorrências)
M Calúnia, Injúria, Difamação Calúnia, Injúria, Difamação
(00 ocorrência) (01 ocorrência)
F Roubo Roubo
(01 ocorrência) (00 ocorrência)
M Roubo Roubo
(00 ocorrência) (02 ocorrências)
F Furto Furto
(00 ocorrência) (04 ocorrência)
M Furto Furto
(01 ocorrência) (02 ocorrência)
F Atentado violento ao pudor Atentado violento ao pudor
(00 ocorrência) (01 ocorrência)
M Atentado violento ao pudor Atentado violento ao pudor
(01 ocorrência) (00 ocorrência)
F* Estupro Estupro
(00 ocorrência) (05 0corrências)
F* Aliciação de menor Aliciação de menor
(00 ocorrência) (04 ocorrências)
143
Polícia Militar do Estado do Acre
144
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
As tabelas que se seguem dão conta das ocorrências dos alunos registradas no Infopol, tanto
por ocorrências quanto por práticas individuais de cada adolescente citado. Foram 353 alunos que
não estudaram o Proerd e 359 que estudaram, totalizando 712 alunos pretensamente no Ensino
Médio. As subdivisões apontam o sexo dos adolescentes e os crimes, delitos ou infrações cometidos
ou de que foram vítimas.
145
Polícia Militar do Estado do Acre
F ----- - Extravio
- Homicídio Tentado - Maus Tratos
F - Porte de Entorpecentes - Ameaça
- Dano/Depredação - Furto
- Outras Ocorrências contra a Pessoa -----
M ----- - Extravio
M ----- - Roubo
M ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
F ----- - Extravio
M - Porte Ilegal de Armas -----
F - Calúnia, Injúria, Difamação (02) - Lesão Corporal/Agressão Física
- Lesão Corporal/Agressão Física -----
M - Tráfico de Entorpecentes -----
- Porte Ilegal de Armas -----
M ----- - Perturbação da Ordem Pública
M - Dano/Depredação -----
F ----- - Extravio
M - Furto (04) -----
- Ameaça de Morte -----
F ----- - Ameaça (02)
----- - Lesão Corporal/Agressão Física
F ----- - Calúnia, Injúria, Difamação
F ----- - Homicídio Tentado
M ----- - Furto
F ----- - Ameaça
M ----- - Homicídio Tentado
M - Ameaça de Morte -----
- Lesão Corporal -----
M ----- - Calúnia, Injúria, Difamação
F ----- - Roubo
M ----- - Extravio
M ----- - Lesão Corporal
M ----- - Extravio
- Furto
M ----- - Furto
M ----- - Extravio
F ----- - Estupro
146
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
F ----- - Furto
- Ameaça
- Extravio (03)
F ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
M - Furto (03) - Lesão Corporal/Agressão Física
- Lesão Corporal/Agressão Física -----
F ----- - Extravio
M ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
----- - Calúnia, Injúria, Difamação
M ----- - Homicídio
F - Pessoa Desaparecida - Roubo
F ----- - Estupro
F ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
M - Porte Ilegal de Armas -----
- Pessoa Desaparecida -----
M - Roubo -----
M - Roubo -----
F ----- - Calúnia, Injúria, Difamação
M - Furto -----
- Lesão Corporal/Agressão Física (02) -----
- Roubo -----
M ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
F ----- - Estupro
M - Ameaça de Morte -----
M - Furto -----
- Ameaça de Morte -----
F - Ameaça de Morte (02) - Lesão Corporal/Agressão Física
F ----- - Extravio
F ----- - Roubo
M - Ameaça de Morte (02) -----
- Violação de Domicílio -----
F ----- - Extravio
F ----- - Ameaça (02)
----- - Lesão Corporal/Agressão Física
----- - Calúnia, Injúria, Difamação
----- - Perturbação da Ordem Pública
147
Polícia Militar do Estado do Acre
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
149
Polícia Militar do Estado do Acre
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
151
Polícia Militar do Estado do Acre
152
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
M ------ - Furto
F ----- - Roubo
M ----- - Extravio
M ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
F ----- - Calúnia, Injúria, Difamação
M - Lesão Corporal/Agressão Física - Apropriação Indébita
M ----- - Extravio
F ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
- Calúnia, Injúria, Difamação
F ----- - Violação de Domicílio
- Calúnia, Injúria, Difamação
F ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
M Outras Ocorrências contra a Pessoa -----
M ----- - Extravio
M - Furto (02) -----
M - Lesão Corporal/Agressão Física -----
M ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
----- - Furto
M - Outras Ocorrência contra a Pessoa - Homicídio Tentado
- Ameaça de Morte -----
M ----- - Roubo
F - Lesão Corporal/Agressão Física - Ameaça de Morte
F ----- - Furto
F ----- - Extravio
F ----- - Extravio
F - Porte Ilegal de Arma -----
M ----- - Homicídio
F ----- - Furto
----- - Extravio
M ----- - Extravio
M ----- - Furto
F ----- - Acidente de Trânsito
M ----- - Acidente de Trânsito
M ----- - Extravio
F ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
----- - Calúnia, Injúria, Difamação
----- - Furto
153
Polícia Militar do Estado do Acre
----- - Roubo
----- - Ameaça de Morte
F ----- - Lesão Corporal/Agressão Física
F ----- - Extravio
F ----- - Furto
M ----- - Roubo (02)
----- - Furto (03)
----- - Extravio
- Ameaça de Morte
Crime, Delito ou Infração Cometido: Crime, Delito ou Infração Vitimado:
Média de 1 por 11,21 alunos Média de 1 por 03,70 alunos
Porcentagem de infrações cometidas registradas Porcentagem de infrações vitimadas registradas
proporcional ao número de alunos: 08,91% proporcional ao número de alunos: 27,01%
154
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
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Polícia Militar do Estado do Acre
156
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
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Polícia Militar do Estado do Acre
158
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
2,72% 00%
F* Aliciação de Menor Aliciação de Menor
00% 1,20%
F* Ato Obsceno Ato Obsceno
00% 0,60%
F* Estupro Estupro
00% 2,72%
M* Estelionato/Fraude Estelionato/Fraude
0,30% 00%
M* Homicídio Homicídio
00% 0,60%
M* Porte Ilegal de Armas Porte Ilegal de Armas
1,50% 00%
M* Tráfico de Entorpecentes Tráfico de Entorpecentes
0,60% 00%
Crime, Delito ou Infração Cometido: Crime, Delito ou Infração Vitimado:
Média de 1 por 14,00 alunos Média de 1 por 06,12 alunos
Das ocorrências registradas, 77,22% foram Das ocorrências registradas, 60,60% foram sofridas
praticadas por adolescentes do sexo masculino. por adolescentes do sexo feminino.
F* ou M* = não foram registradas ocorrências de Em mais da metade dos casos de Agressão Física e
mesma tipificação com adolescentes do sexo Ameaça de morte sofrido por mulheres o agressor é o
oposto. companheiro ou o ex-companheiro.
159
Polícia Militar do Estado do Acre
CAPÍTULO VIII
ADOLESCENTES E O
JUIZADO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE
A pesquisa Proerd com os adolescentes foi além das atividades em sala de aula, nas escolas,
Conselho Tutelar e ocorrências relatadas no Infopol da Secretaria de Segurança Pública do Acre.
Durante alguns meses do ano de 2008, fizemos um mapa das fichas e dos processos referentes a
1.222 (mil duzentos e vinte e dois) adolescentes, de 38 turmas, de 17 escolas, das 05 Regionais de
Rio Branco, para verificar as passagens e as tipificações das mesmas. Essa amostragem é pequena
se comparada ao grande número de adolescentes que se encontram na sociedade riobranquense,
contudo, intentamos verificar a importância e a eficácia do Programa Proerd em seus
relacionamentos sociais, para saber se as práticas dos adolescentes condizem com a proposta do
programa da PMAC, que prima pela valorização da vida e por manter as crianças e os adolescentes
longe das drogas e da violência.
De igual forma, ao tentar verificar o funcionamento ou não de qualquer que seja o programa,
há a necessidade de estabelecimento de possibilidades e metodologias pertinentes. A escolha dos
alunos a serem pesquisados não foi aleatória. Seguindo a metodologia e os referenciais teóricos já
apresentados na introdução, pesquisamos turmas de alunos de 8ª séries atendidas em 2008 pelo
Proerd e relações com nomes de alunos que foram e que não foram atendidos pelo Proerd em 2000
e 20001. A título de exemplo, vale ressaltar que se uma escola teve alunos atendidos pelo Proerd
apenas em 2000 e não teve em 2001, analisamos as turmas de 2000 e 20001 dessas escolas, fazendo
as devidas considerações. Foram respeitados os aspectos geográficos, sócio-econômicos, religiosos,
dentre outros. A única separação feita foi se estudaram ou não o Proerd. É latente o fato de um
programa de prevenção não “salvar o mundo” ou criar um ambiente idealizador que insira os
160
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
adolescentes em uma “bolha livre dos males da sociedade”. Contudo, o que se pretendeu foi
verificar, ainda que com possibilidades de inferências e postulações múltiplas da dinâmica do
convívio em sociedade, se o programa Proerd de alguma maneira influenciou esses adolescentes.
A pesquisa foi realizava nas dependências da 6ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco,
visando tão somente a verificação de passagens relativas ao Sistema do Juizado da Infância e da
Juventude.
A 6ª vara Cível do Juízo de Direito da Comarca de Rio Branco foi criada pela Lei
Complementar Estadual nº 13, de 08.12.1987, e instalada no dia 04.03.1988. A partir dessa
instalação, passou a funcionar a Vara Cível com atuação inerente ao atual Juizado da Infância e da
Adolescência no Estado do Acre. Dentre as atribuições do Juizado, citamos a de atuar na proteção
dos direitos da criança e do adolescente, bem como sua proteção41 e a aplicação de medidas sócio-
educativas em casos necessários.
A partir dos arquivos do juizado, iniciamos a pesquisa com a listagem de adolescentes a ser
verificada. Dividimos os resultados em dois grupos, 8ª série e Ensino Médio (pretenso), uma vez
que os alunos das 4ª séries em 2000 e 20001 pretensamente estão no Ensino Médio ou concluíram
em 2007 – ano do início do levantamento. Com esses dados em mãos, fizemos uma amostragem por
alunos e outra por infrações para comparações e tipificações.
41
As classes grifadas com dois asteriscos (**), naõ correspondem a prática de atos infracionais (Art 103 ECA), são
referentes a procedimento Cível ou Administrativo.
161
Polícia Militar do Estado do Acre
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
03 ocorrências 00 ocorrência
- Infração de Receptação - Infração de Receptação
- 01 ocorrência - 00 ocorrência
- Remissão (AI) - Remissão (AI)
- 02 ocorrências - 01 ocorrências
- Infração de Ameaça - Infração de Ameaça
01 ocorrência 01 ocorrência
- Arquivamento – Ministério Público – ECA - Arquivamento – Ministério Público – ECA
- 02 ocorrências - 02 ocorrências
Após o levantamento inicial da lista de alunos nas escolas da rede pública de ensino,
constatamos que dos 1.222 alunos pesquisados, 54 passaram por algum tipo de processo por prática
de delito registrado no Juizado da Infância e da Juventude. Na relação direta entre a lista dos alunos
escolhidos para a amostragem e os resultados obtidos, percebemos que 4,41% das crianças e
adolescentes pesquisadas praticaram algum tipo de infração que levou a processos criminais.
Dentre os alunos de 8ª série, apenas 04 dos 554 alunos praticaram algum tipo de delito.
Entorpecente
para Consumo
Pessoal
Estupro 14%
14%
Pertubação de Lesões
Sossego e corporais
Trabalho Alheio 44%
Remissão
14%
Judicial
(Suspensão)
14%
Dentre os alunos que estão no Ensino Médio, percebemos uma grande diferença de
comportamento violento entre os que estudaram e os que não estudaram o Proerd. Pesquisamos 347
ex-alunos Proerd e percebemos que dentre eles, 17 estão envolvidos com atividades delituosas
171
Polícia Militar do Estado do Acre
como agressores. Enquanto que entre os que não estudaram o Proerd, dos 321 alunos pesquisados,
34 estão envolvidos em atividades delituosas, como agressores.
Lesões
corporais
Outros
13%
26%
Remissão
Medida Sócio- Judicial
Educativa (Suspensão)
(Represent.) 26%
9% Roubo
(Assalto)
26%
Remissão
Judicial
(Suspensão)
40%
Lesões
Corporais
60%
Sem o intuito de criminalizar alguma área da cidade ou tachar alguma escola, afirmamos
que as ações do Proerd surtiram efeito. Percebemos que 95,11% dos ex-alunos Proerd não tiveram
infrações relatadas ou tipificadas. Enquanto entre os alunos que não estudaram o Proerd 89,41% dos
adolescentes não tiveram infrações relatadas ou tipificadas.
172
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Outros
Furto
26%
24%
Internação
Provisória Arquivamento –
Lesões 17% Ministério
corporais Público – ECA
17% 17%
Outros
49%
importantes, mas sim, que há a necessidade de tipificar o que foi produzido pelos alunos que agiram
como infratores. Em tempo oportuno, iremos enaltecer a atitude dos alunos que escolheram ficar
longe das drogas e da violência.
Em algumas localidades específicas, o índice de infrações e ocorrências registradas é
maior que em outras. Para não se fazer o reconhecimento das escolas ou das áreas, escolhemos não
citar aqui, nem colocar nos anexos para que preservemos as identidades dos adolescentes, contudo,
as tipificações por Regionais podem ser verificadas no capítulo que trata dos adolescentes e o
Infopol. Dados os fatos mencionados, quatro pontos se destacam e precisam ser mencionados para
que se tenha noção das conjunturas e necessidades percebidas:
• O primeiro ponto é o fato de os ex-alunos Proerd terem se mantido longe das drogas
e da violência, ficando apenas alguns deles a praticar atos infracionais. O número de
adolescentes infratores é quase o mesmo em todas as escolas pesquisadas.
• O segundo ponto destaca o fato de que onde o Poder Público tem menor índice de
atuação concreta, o poder paralelo tenta se estabelecer. Na localidade conhecida como
“Baixada da Sobral” foi constatada a maior necessidade de atuação do Poder Público
através de políticas inclusivas. Essa área em que vive cerca de um sétimo da população
riobranquense não dispõe de agências bancárias, correios. O mercado não funciona,
apenas uma praça está em condições reais de uso, o Centro da Juventude, conhecido
como “SEJA” está à beira da falência, com apenas 05 funcionários, as famílias têm
renda inferior a da média da cidade, e as condições de moradia estão aquém da
necessária. Nesse setor, moram e convivem um quarto dos adolescentes ex-alunos
Proerd que praticaram ocorrências de infração.
• O terceiro ponto tem a ver com quebra de paradigmas. As localidades onde se
encontram as escolas Clínio Brandão (bairro Floresta) e Ilka Maria (bairro Moçinha
Magalhães), conhecidas da imprensa policial não registraram nenhum ex-aluno Proerd
cometendo delito ou qualquer outro ato infracional.
• O quarto é que áreas consideradas nobre como a Regional IV da PM, que envolve
bairros de classe média, foram as que apresentaram um grande número de ocorrências.
Suas ocorrências são maiores que as de áreas como a Baixada, Taquari e Cidade Nova, o
que põe por terra o mito de que são os pobres que praticam a violência e a levam para
onde se deslocam. A grande maioria das ocorrências registradas na Regional VI foi
produzida pelos filhos da classe média riobranquense, e não de “marginais da periferia”
que para lá se deslocaram.
174
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Percebemos que não são apenas os rapazes que cometem infrações, mas também as
garotas. Das infrações, 88,81% foram produzidas por rapazes; e 11,19%, produzidas por garotas. A
diferença básica está na quantidade das infrações.
175
Polícia Militar do Estado do Acre
CAPÍTULO IX
REPENSANDO AS PRÁTICAS
DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA
176
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
assegura prisão especial, em caso de crime comum, até julgamento definitivo, de seus membros (os
conselheiros).
Os conselheiros devem cumprir as atribuições do Conselho Tutelar. Depois de
devidamente escolhidos pela comunidade (nos termos da lei municipal que o cria), nomeados pelo
Prefeito e empossados em seus cargos em Comissão de Conselheiro com mandato de três anos:
a. Atender crianças e adolescentes quando ameaçadas e violadas em seus direitos e aplicar
medidas de proteção;
b. Atender e aconselhar os pais ou responsável, nos casos em que crianças e adolescentes
são ameaçados ou violados em seus direitos e aplicar aos pais medidas pertinentes
previstas no Estatuto;
c. Promover a execução de suas decisões, podendo requisitar serviços públicos e entrar na
justiça quando alguém, injustificadamente, descumprir suas decisões;
d. Levar ao conhecimento do Ministério Público fatos que o Estatuto tenha como infração
administrativa ou penal;
e. Encaminhar á justiça os casos a ela são pertinentes;
f. Tomar providências para que sejam cumpridas as medidas de proteção (excluídas as
sócio-educativas) aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores;
g. Expedir notificações em casos de sua competência;
h. Requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e adolescentes, quando
necessário;
i. Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos
e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
j. Entrar na Justiça, em nome das pessoas e das fmílias, para que estas se defendam de
programas de rádio e televisão que contrariem princípios constitucionais, bem como de
propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio
ambiente.
k. Levar ao Ministério Público casos que demandam ações judiciais de perda ou suspensão
de pátrio poder;
l. Fiscalizar as entidades governamentais e não-governamentais que executem programas
de proteção e sócio-educativos.
Baseado nos itens acima, principalmente nos contidos nas letras b, i e l, o Conselho
Tutelar da Cidade de Rio Branco, em parceria com a Polícia Militar do Acre realizaram um
levantamento sobre as relações sociais estabelecidas pelos adolescentes atendidos pelas redes de
ensino em Rio Branco.
177
Polícia Militar do Estado do Acre
A partir dos documentos que nos foram cedidos pelas diversas instituições de ensino,
enviamos uma relação de 15 escolas de Ensino Fundamental que atendem crianças e adolescentes
no município de Rio Branco. Nessa relação, constava as listas de nomes, data de nascimento e
filiação de 705 adolescentes das 05 Regionais riobranquenses. O intuito era o de verificar quantos
adolescentes haviam sido atendidos em algum momento pelo Conselho Tutelar.
Assim sendo, dentre as 33 escolas públicas que atendem às clientelas do 3º e 4º Ciclos da
Educação Básica (Ensino Fundamental) – especificamente a uma clientela de 8ª série com
aproximadamente 4.000 (quatro mil) alunos42 – fizemos o levantamento de 19 turmas dos turnos
matutino e vespertino de 15 escolas riobranquenses, sempre respeitando a proporcionalidade entre
as regionais e o número de alunos de 8ª série atendidos pelas escolas. Os 705 adolescentes das
escolas selecionadas representam pouco mais de 15% dos adolescentes que estudam nas 8ª séries do
Ensino Fundamental em Rio Branco. Partindo desses dados, enviamos a relação de alunos ao
Conselho Tutelar que, conforme documentação sistematizada, chegou a algumas conclusões sobre o
atendimento a esses adolescentes.
178
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
ocorrências registradas foi a Regional 02 – onde se situam os bairros com pior infra-estrutura
(Cidade Nova, Santa Inês, Taquari, 06 de Agosto, etc.) e população com baixo poder aquisitivo –
com 7,64% de ocorrências.
Como podemos perceber na tabela acima, de todas as ocorrências atendidas pelo Conselho
Tutelar, conforme relação enviada pelas escolas e ratificada pela PMAC, pouco mais de 15% das
ocorrências envolvem adolescentes do sexo masculino e quase 85% envolve adolescentes do sexo
feminino. O que causa surpresa é a tamanha desigualdade entre o número de ocorrências
envolvendo rapazes e moças. São as adolescentes que mais praticam as ocorrências ao mesmo
tempo em que são elas próprias as maiores vítimas que deram entrada no Conselho Tutelar.
Quanto às ocorrências citadas pelo Conselho Tutelar, algo que preocupa é o fato de já na
adolescência, das ocorrências envolvendo agressão física, em 80% são citadas adolescentes do sexo
feminino, enquanto a agressão envolvendo os rapazes representa 20%. Ao mesmo tempo que as
ocorrências envolvendo o desvio de conduta foi sofrida ou praticada por 85% das adolescentes e
15% dos adolescentes.
179
Polícia Militar do Estado do Acre
Dentre os 705 alunos, 323 são do sexo masculino e 392 do sexo feminino, ou seja, 45,81%
de rapazes e 54,19% de moças. Há um maior número de adolescentes do sexo feminino
freqüentando as 8ª séries das escolas pesquisadas.
43
O Proerd da PMAC tem o controle de atendimento de seus alunos e guarda esses relatórios para futuras utilizações
como esta que executamos. Todos os dados são produzidos a partir do “Protocolo de Intenções” firmado entre a PMAC
e as instituições de Ensino. Não se trata de um instrumento de Cerceamentos, como diria Michael Foucault em seu livro
“Vigiar e Punir” (2002), antes, um registro escolar para a Diretoria de Ensino da PMAC, assim como todas as
instituições de ensino o fazem, sendo aberto ao público e a quem interessar possa para estudos e análises.
180
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
contra as meninas recém-nascidas foram encontrados nas regionais 03 e 05, onde a diferença entre o
não registro de meninos e o não registro de meninas é muito grande.
Percebemos que vários desses adolescentes não convivem em uma família nuclear, ou
seja, com pai, mãe e filhos. Em grande medida, esses adolescentes são vítimas do sistema, da
sociedade e da desagregação familiar. Eles apenas refletem no ambiente em que estão inseridos as
práticas que costumeiramente presenciam ou sabem que são estabelecidas. Isso não lhes dá o direito
de praticarem delitos ou atos infracionais, como também não dá a membros da sociedade o direito
de os excluírem do sonho de “um mundo melhor”. Não tratamos aqui se são vítimas ou algozes –
esse trabalho sociológico, esperamos que seja executado por alguém competente para isso – apenas
citamos fatos relativos a adolescentes que em muitos casos são excluídos das práticas sociais de
convívio e reciprocidade, e, dentre eles, quase 10% que foi relegado o direito de “ter uma família”
já no ato do nascimento.
mortalidade, três estão relacionadas à violência: ferimento, homicídio e suicídio, já nos adolescentes
negros, a principal causa de mortalidade é a violência.
Com o objetivo de alertar a sociedade sobre a influência de filmes violentos no
comportamento agressivo de crianças e adolescentes, a American Psychological Association (APA)
publicou um relatório com os principais trabalhos sobre este assunto. Segundo Gomide (2007), a
pesquisa psicológica aponta para três grandes efeitos dos filmes violentos, vejamos:
182
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
as próprias experiências dos jovens, poderá ocorrer um alto processo de interação com o
delinqüente ou o jovem se tornará mais vulnerável à prática de delitos. Com isso, dois processos
podem ser desencadeados: o da desinibição e o da dessensibilização. A desinibição é um fenômeno
que ocorre quando atos violentos em filmes são justificáveis, aumentando comportamento agressivo
de quem os assiste em situação posterior; e a dessensibilização é quando jovens predispostos a
aceitar comportamento delinqüente em outras pessoas, podem aumentar o seu próprio índice de
agressividade até mesmo maior que a de jovens de comportamento agressivo.
Pessoas aprendem a se comportar agressivamente a partir de modelo que é reforçado pelo
seu potencial agressivo. De acordo com os estudiosos, as pessoas depois de assistirem a muitas
horas de programas violentos deixam de considerar aqueles comportamentos agressivos como fora
do padrão e passam aceitá-los como forma apropriada de resolução de problemas. Esse pensamento
é reforçado pelas ações de protagonistas de filmes violentos (Stallone, Van Dame, Bruce Lee, etc.)
que sempre usam a violência e justificam seus comportamentos violentos por estarem em defesa de
valores sociais ligados à família, território, ao governo, etc. Consistentemente, a literatura acerca
desse assunto assevera que os homens imitam mais o comportamento agressivo que mulheres, já
que desde pequenos há uma socialização diferente entre homens e as mulheres. Muito cedo, as
meninas aprendem que a agressão física é um comportamento indesejável para elas, então,
adquirem hábitos mais compatíveis e esperados para seu sexo. Porém, quando garotas são
reforçadas positivamente por imitar comportamentos agressivos elas passam a responder
similarmente aos padrões masculinos. Por outro lado, há uma taxa muito baixa de violência
cometida por mulheres em programas de TV de maneira que as meninas têm encontrado poucos
modelos a imitar. Outra hipótese dessas diferenças entre meninos e meninas, é que meninos desde
cedo tendem a desenvolver um comportamento competitivo, o que facilitaria a conduta agressiva,
enquanto as meninas desenvolvem um comportamento cooperativo mais precocemente.
Reforçando essa tese de aprendizagem por imitação, Windom (1989) analisou os efeitos
do comportamento violento em testemunhas de agressões. Suas conclusões salientam que ser
testemunha de violência dos pais ou assistir à extrema violência na TV pode causar graves
conseqüências às crianças. Na mesma linha de pensamento Straus, Gelles e Steinmetz (1975)
afirmam que a quantidade de violência experenciada na infância por membros da sociedade é um
dos fatores que contribuem para o desenvolvimento e manutenção das normas que suportam o uso
da violência do dia-a-dia. Estes autores afirmam que crianças que são testemunhas de violência no
lar (mães que são espancadas pelos maridos) além de sofrer em conseqüência dessa experiência,
também convivem com o estresse da mãe.
Desde os anos 60 que Bandura e Iñesta (1973/1975) vêm demonstrando em seus estudos
que a aprendizagem se dá em razão dos modelos observados diretamente ou através de filmes. Se
183
Polícia Militar do Estado do Acre
184
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
185
Polícia Militar do Estado do Acre
quando ocorre o estresse pré-natal materno poderia interferir neste padrão causando o
desenvolvimento do hemisfério esquerdo, sendo, possivelmente, o favorecedor de condutas
agressivas.
Os problemas de condutas também podem levar a criança a ter déficits nas habilidades
verbais e na leitura. Moffit (1993) apontou como causa dessas deficiências a vínculo desorganizado
por volta dos 18 meses entre mãe e criança, e por falta de cuidados ou até mesmo por falta de
afetividade.
Muitos autores destacam que o meio ambiente – condições socioeconômicas das famílias
– em quais essas crianças estão inseridas podem ser fatores predominantes para se desenvolver
conduta agressiva, assim revelam vários estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos como
sendo a principal causa da delinqüência infanto-juvenil. Entretanto, se for analisado quase
exclusivamente as condições socioeconômicas, estaríamos tirando do cenário exatamente o
principal objeto de estudo: a personalidade do ser humano delinqüente.
A psicóloga Maria Delfina elaborou um trabalho com jovens de Santos e São Paulo –
dentro dessa linha sócio-político da delinqüência – mostrando alguns fatores de risco que podem
levar o jovem à delinqüência. Segundo a psicóloga, os principais fatores de risco estão nas
interações com a família e com os ambientes sociais mais próximos, como a escola. A pesquisadora
destaca as discórdias conjugais, a existência de psicopatologias (doenças mentais) na família e a
rejeição pelos pares (colegas de escola). Em sua pesquisa, Maria Delfina analisou 40 menores entre
12 e 18 anos das cidades de Santos e São Paulo, sendo que entre os infratores entrevistados, quatro
estavam na faixa de 2 salários mínimos; três tinham renda de 3 a 6 salários e três estavam situados
na faixa de 11 a 13 salários. Isso contraria a tese de que a delinqüência seria proporcional à pobreza.
Ela verificou ainda que dentro os menores não-infratores o rendimento familiar mais alto foi de 20
salários, enquanto que entre os infratores, o maior rendimento foi de 40 salários.
A escolaridade foi o outro fator de risco a ser analisado por Maria Delfina. Dentre os
infratores, dos que tinham idade para concluir o ensino fundamental, 15 não concluíram. Este dado
foi ratificado por outra pesquisa realizada com 4.245 menores infratores em 1997, evidenciando que
96,6% desses jovens não haviam concluído o Ensino Fundamental, o restante (15,4%) eram
analfabetos. Vale ressaltar que cerca de 10% a 20% podem apresentar algum tipo de problema
psicológico passível de intervenção clínica. Somado a todos esses fatores, Paulo Ceccarelli
considera a delinqüência infanto-juvenil relacionada ao aumento do sentimento de desamparo, bem
típico da modernidade cultural, onde prevalece a descrença generalizada nos valores tradicionais,
como a família, igreja, escola, etc.Tal desatino leva à busca do prazer pessoal e do individualismo,
em detrimento dos ideais coletivos.
Em comum acordo com Ceccarelli, Ballone faz a seguinte afirmação:
186
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Além dessa rica opinião de Ballone, ele complementa que em quarto lugar temos o
enfraquecimento do poder do pai sobre o filho, pois seguindo as afirmações de Paulo Ceccarelli
veremos que as mudanças no Código Civil referentes ao Direito Paterno, desde o Direito Romano
até hoje, são mais intensas no final do Séc. XIX e início do XX, advindas com novas leis de
mercado. Cada vez mais em nome do interesse da criança, instituições sociais passaram a substituir
o pai. Assim, sempre que o bem-estar da criança esta em jogo, o pai pode ter seu pátrio poder
limitado ou anulado. Contudo, não se deve tomar sempre por falência da função da autoridade
paterna a omissão voluntária ou por descaso por parte dos pais. Segundo Ceccarelli, não é isso que
ocorre, antes, a perda da batalha travada com um exército muito numeroso que participam boa parte
da mídia que incentiva o consumo e mostra a glória e o sucesso, fama, mas não mostra os meios
lícitos de se atingir essas metas, nem demonstra o que é desnecessário, facultativo. Só exibe o que
interessa aos ditadores do consumo e dos costumes.
Como se isso não fosse suficiente, temos ainda pais com traços anti-sociais da
personalidade, além de não transmitirem uma boa imagem aos seus filhos, não respeitam sua
autonomia e espaço social, além de cometerem excessos de disciplina, ou excesso de
permissividade quando devem ser mais fortes e exageradamente agressivos quando não precisam.
Para Balone, nesse marasmo, entre as relações familiares temos as mães, que em alguns casos são
as principais responsáveis pela falta de dever, responsabilidade e limites de seus filhos, com atitudes
superprotetoras, tão ou mais graves que seu oposto. A negligência materna acaba resultando em
pessoas sem nenhuma tolerância à frustração; e pessoas sem tolerância à frustração acabam em
tomar a força o querem. Talvez essas mães confundam o papel materno com a permissividade em
busca da simpatia dos seus filhos, ou pretendem com absoluta falta de limites serem tidas como
moderninhas e joviais. Segundo Ballone (2001), provavelmente seja por isso que mocinhas
adolescentes grávidas contem prontamente para suas mães seu estado de gestante, porque
187
Polícia Militar do Estado do Acre
Durante toda a pesquisa citamos dados sobre drogas utilizadas e violência cometida por
adolescentes estudantes em ambiente extra-escolar. Ao fazer um estudo sobre a violência intra-
escolar, nos deparamos com alguns trabalhos que apontam para esse sentido, contudo, um deles nos
chamou muito a atenção por fazer um levantamento sistematizado sobre a problemática nas escolas
de Rio Branco, partindo do ambiente escolar, com o envolvimento de alunos e a atuação da polícia,
ou seja, o mesmo tripé no qual se norteiam as ações preventivas do Proerd. Assim sendo,
resolvemos utilizar na íntegra, e sem cortes, o capítulo II da monografia produzida por Fabrício
Costa da Cunha (2008). Uma vez que esta é fruto de dados produzidos mediante a execução de
trabalhos da Companhia Independente de Policiamento Escolar, através de seus Boletins de
Ocorrência nos anos de 2005, 2006 e 2007. Os referidos dados sistematizados por Cunha (2008),
foram apresentados como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Pedagogia
pela UFAC44.
Neste capítulo destaca-se o tratamento analítico que foi realizado a partir dos boletins de
ocorrência - os chamados B.Os - da Ronda Escolar de Rio Branco referentes aos anos de 2005,
2006 e 2007.
Esses B.Os foram solicitados a C.I.P.E (Companhia de Independente de Policiamento
Escolar) que fica sediada na Secretaria Estadual de Educação e se vincula diretamente ao Comando
da Companhia. Assim sendo, é importante destacar a estrutura operacional de atuação da Ronda
Escolar nas escolas de Rio Branco para uma melhor compreensão de como as análises foram feitas
e como foi possível faze-las por zoneamento.
A Ronda Escolar apresenta sua estrutura operacional baseada na distribuição das escolas
por zoneamento e, de acordo, com os horários de funcionamento. São, atualmente, dois policiais
para cada zoneamento e turno, excetos nas atividades excepcionais realizadas fora das escolas (mas
que envolva a participação da comunidade escolar) ou eventos de caráter cultural ou cívico. Ao
atender uma solicitação de uma determinada escola o policial, dependendo do tipo de ocorrência,
deve preencher ou um relatório de atendimento ou um boletim.
44
CUNHA, Fabrício Costa da. Perfil da Violência nas Escolas de Rio Branco. Rio Branco: UFAC, 2008. Monografia
(Graduação em Pedagogia) – Centro de Educação, Letras e Artes, Rio Branco.
188
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Mas o que é o boletim de ocorrência? Segundo as pesquisas feitas sobre o B.O, pois é um
campo pouco explorado na área do direito processual penal, a que me pareceu mais convincente é
afirmação de que, o boletim é o documento lavrado pela autoridade policial que registra a
ocorrência de uma possível infração penal; Devem constar no boletim, a data, a hora e o local em
que foi prestada a informação, a narração do fato e das circunstâncias que indiquem o cometimento
de crime e a tipificação da conduta, com indicação expressa do dispositivo legal penal. O Boletim
de Ocorrência é o instrumento que documenta ou materializa um fato que pode ter conseqüência
jurídica.
Destaca-se ainda que nos permite analisar a incidência criminal determinando o emprego
do policiamento escolar, comunitário, tático ou de motocicletas, dependendo do tipo e magnitude do
crime e mensurar a eficácia das operações realizadas, sob o aspecto da redução da criminalidade.
Justamente por reconhecer a importância deste documento para as ações da policia, a Secretaria
Estadual de Segurança Pública disponibilizou no seu site, o plantão eletrônico onde é possível
registrar o boletim eletrônico. Assim, os cidadãos podem registrar furto de veículos e documentos,
desaparecimento e encontro de pessoas, furto de celular e de placas.
189
Polícia Militar do Estado do Acre
Neste trabalho, foram analisados um total de trezentos e dezoito boletins entre os anos de
2005 e 2007. No ano de 2005 o número de boletins corresponde a um total de noventa boletins, em
2006 esse número aumentou para cento e dezessete e, por fim, em 2007 o número de boletins
totalizou cento e onze.
A análise daquelas ocorrências que foram atendidas pela Ronda Escolar fora de ambientes
escolares, sejam praças, terminais urbanos, ginásios esportivos e etc., com a participação direta
(agentes ou vítimas) de alunos ficarão como sugestão para um trabalho futuro. Pois, neste caso,
estão implicadas algumas questões relevantes e que tomarão uma dimensão maior para o aspecto
social, econômico e cultural do lugar onde cada aluno é proveniente e uma análise do espaço de
encontro (praças, parques, ginásios e etc.) “das tribos” nas palavras de Maffesoli (1987).
Destaca-se ainda que outras ocorrências que são atendidas pela Ronda Escolar, fora da
precedência de atuação, ou seja, o policiamento em escolas, faz parte da rotina dos mesmos tendo
em vista sua formação e missão primeira que é a de enquanto policiais militares serem responsáveis
pelo policiamento ostensivo e preventivo.
No primeiro momento da análise dos dados, o objetivo era o identificar: tipo ou natureza
dos delitos que ocorrem com maior freqüência nos estabelecimentos educacionais de Rio Branco no
período de 2005 a 2007. Eis o gráfico com os seguintes dados:
190
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Ano 2005
10
6
Zon.I
4
0
Furto Vias de Fato Desacato Ameaça
2 Zon.II
0
Vadiagem Vias de Fato 65 Porte de Arm a
14
12
10
8
6 Zon.III
4
2
0
Vias de Fato Ameaça 65 Tentativa
191
Polícia Militar do Estado do Acre
5
4
3
Zon.IV
2
0
Desobediência Vias de Fato Desacato Porte de Arma
10
6
Zon.V
4
0
Vias de Fato Ameaça 65 Desacato
Ano 2006
10
4 Zon.I
0
Vias de Fato Ameaça Desobediência Tentativa
10
6
Zon.II
4
0
Desacato Ameaça Lesão Corporal Vias de Fato
192
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
14
12
10
8
6 Zon.III
4
2
0
Vias de Fato Furto Ameaça 62
15
10
Zon.IV
5
0
Vias de Fato Am eaça Desacato Lesão Corporal
10
8
6
4 Zon.V
2
0
Vias de Fato Desacato Am eaça Furto
ano 2007
20
15
10
Zon I
5
0
Vias de Fato Ameaça Porte de Arma Dano ao
Patrimonio
193
Polícia Militar do Estado do Acre
10
4 Zon.II
0
Vias de Fato Am eaça Furto Tentativa
10
8
6
4 Zon. III
2
0
Vias de Fato Lesão Corporal Porte de Arma Ameaça
10
6
Zon.IV
4
0
Ameaça Usuario Furto Desacato
10
4 Zon.V
0
Vias de Fato Am eaça Porte de Arm a 65
Para uma melhor compreensão e leitura dos gráficos, apresento os dados da seguinte
forma: Os números foram distribuídos para substituir os artigos do código penal vigente na ordem
da quantidade que ocorreram nos zoneamentos. Quanto menor o número menor a freqüência, maior
o número maior a freqüência. Neste primeiro objetivo não procuro destacar a quantidade de vezes
194
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
que determinados delitos ocorrem, mas os que mais ocorrem em um ano num determinado
zoneamento.
O número cinco (5) foi escolhido como referente ao artigo 330/331 do Código Penal
vigente, no que se refere aos delitos de Desobediência e Desacato a funcionário público no
exercício da sua função. No ano de 2005, esse delito ocorreu com maior freqüência (seis vezes) no
zoneamento IV, e também no de 2006 ocorreu com maior freqüência no zoneamento II num total de
cinco vezes. As vitimas deste delito na maioria são os próprios gestores, ou diretor, em segundo os
policiais da Ronda Escolar, e em ultimo lugar os funcionários de apoio (ou porteiros).
No caso específico deste estudo quero destacar o desacato ao gestor da escola, que é
chamado para resolver (dar a ultima sentença) os casos de alunos ditos “problemáticos”. Em
conversas realizadas nas escolas junto a grupos de professores durante a realização das rondas
preventivas em seus relatos, é possível observar que à maioria dos professores decido por relevar os
casos de desacato. Por isso não temos um registro alto de desacato a pessoa do professor.
Já no caso do gestor escolar, que é a “ultima instância” para o aluno dentro da escola, ao
lidar com a violência e percebendo que já não é mais possível negociar com o autor, aciona os
“peritos” da lei que se utilizam da força para conter o movimento da violência. Nas palavras de
Guimarães (1996, p. 97) “há momentos em que o diretor se vê obrigado a chamar reforço policial
para atuar dentro das escolas, mas é preciso ficar atento porque esta atitude provocará um retorno
ainda mais violento daquilo que estava para explodir.”
O número dez (10) faz referência ao artigo 59 descrito como Vadiagem, ou pessoas em
ócio. Em sua grande maioria essas pessoas foram detidas na frente das instituições de ensino em
horários de aula. Anteriormente as escolas eram conhecidas pelas brigas que ocorriam na frente, no
horário da saída, em sua maioria essas pessoas eram oriundas dos bairros próximos à escola e que,
segundo as mesmas, estavam no local esperando um vizinho, ou parente que estuda na escola.
Esses termos são frequentemente utilizados por infratores com a intenção de justificar de
algum modo a sua permanência naquele local. Ora, ao final do turno, essa pessoa se apresentava
não como parente ou vizinho, mas como protetor de um determinado aluno no caso de uma eventual
briga ou rixa marcada anteriormente dentro da escola entre alunos. Identificadas essas práticas, para
realizar a prevenção de que fatos deste tipo não ocorressem (rixa, brigas, gangues), os policiais da
Ronda Escolar detiam essas pessoas em atitudes suspeitas na frente da escola, sendo encaminhados
à delegacia especializada.
O exposto, nos remete a perceber que ocorre é que a escola no bairro se torna:
195
Polícia Militar do Estado do Acre
O que eles querem dessa nossa escola pública não cabe nas exíguas tetas dela, da escola, que, em suas
inusitadas metamorfoses, transformou-se já em refeitório, em creche, em posto de vacinação de gente e de
cães e gatos, local de abrigo às vítimas das enchentes, em centro de lazer nos finais de semana e, agora,
segundo alguns, em posto de distribuição de drogas. (Belintane, 1998, p. 7)
Essas ações dentro da escola justificam, porque muitos se dirigem, a mesma, nos
momentos de ociosidade.
Outro número atribuído é o Quinze (15) para substituir o artigo 155 do Código Penal que
tem em significado o furto simples, pegar algo ou alguma coisa de alheios. Esse tipo de delito
ocorreu com maior freqüência no ano de 2005 no zoneamento I, nas escolas do centro da cidade de
Rio Branco, onde suas maiores vítimas são alunos e o objeto de desejo são os aparelhos celulares e
objetos pessoais (maquiagem, jóias, relógios e bonés). Isso porque nas escolas do centro estão as
pessoas que economicamente vivem melhores. Como nos diz Campbell (2007) a violência dos
alunos é vistas pelos educadores como forma de manifestação de força, como estratégia de
autodefesa pela sobrevivência ou determinismo causado pela pobreza.
O número Vinte (20) é atribuído ao artigo 147 do Código Penal (2007) que trata sobre a
Ameaça. O Art. 147 diz: Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave.
Este tipo de delito ocorreu com maior freqüência no zoneamento IV nos anos de 2006 e
2007, sendo que neste ultimo ano houve redução na quantidade de vezes que este delito foi
cometido dentro dos estabelecimentos de ensino. A ameaça pode ser entendida com uma violência
verbal que atinge os aspectos psicológicos da vida das pessoas; Neste século, de modo geral, a
Ameaça se banalizou num intuito de humilhar o outro fazendo refém das palavras, a violência
verbal deixou mesmo de ter grande significado interindividual, ou seja, tornou-se sem finalidade ou
sentido, uma violência impulsiva e nervosa, dessocializada.
Para tratar da violência física, inicialmente trataremos, para efeito de análise dos dados,
lesão corporal leve ou grave, juntamente com vias de fato, entendendo que a lesão corporal é
resultado de vias de fato diferenciando-se só quando ocorrem fatos como rupturas da epiderme,
corrimento de sangue, hematomas, casos que, sendo configurados, tipificariam o delito de lesões.
Assim sendo, pode-se dizer que vias de Fato é uma contravenção penal que consistente em
infligir ofensas físicas ao adversário. Para a caracterização das vias de fato, é preciso que haja o
ânimo de ofender fisicamente; Constituem vias de fato:
196
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Os empurrões com ânimo agressivo, o arrancamento ou rasgamento de vestes, gravatas, os puxões de cabelo,
os socos, pontapés, golpes de luta (judô, capoeiragem etc.), o arremessamento de objetos, de corpos sólidos
ou líquidos e mesmo o assopramento afrontoso de fumaça na face da vítima. (GONÇALVES, 2007, p.30)
Este tipo de delito é caracterizado pelo número quarenta (40) onde nos anos de 2005
esteve presente com maior freqüência nos zoneamentos III e V; Neste período foram registradas
duas lesões corporais e nenhuma tentativa de homicídio. No ano de 2006 a violência física esteve
presente com maior freqüência, desta vez esteve presente em três zoneamentos I, III e o V, além de
ser registrada a ocorrência de vias de fatos, vale destacar que foram registradas cinco tentativas de
homicídio e dez lesões corporais, mostrando assim um aumento da violência física nas escolas. Já
no ano de 2007 a violência física foi destaque em quase todos os zoneamentos, destaca-se neste ano
que em todos os zoneamentos teve no mínimo um registro de lesão corporal, ao total foram
registradas doze lesões corporais e uma tentativa de homicídio.
Em caráter especial, vale destacar, os adolescentes que se tornam pais e mães na maioria
das vezes ainda não estão com sua formação psicológica e de caráter concluídas, vêem-se obrigados
a cuidar de uma criança oferecendo-lhe uma educação que ainda não dispõe completamente para si.
Ainda, outro aspecto é o modelo que a sociedade brasileira oferece, onde para se dar bem
no Brasil é preciso ser, no mínimo “esperto” isso tudo devido à crise institucional marcada por
escândalos, falta de escrúpulos e impunidade. A certeza da impunidade torna os indivíduos mais
197
Polícia Militar do Estado do Acre
agressivos, pois se sentem à vontade para transgredir normas e leis. Essa inversão de valores atinge
diretamente as famílias.
(a) De idade mínima escolar aos dez anos de idade; (b) De onze aos treze anos de idade;
(c) Dos quatorze aos dezesseis anos de idade; (d) Dos dezessete aos vinte anos de idade e (e) dos
vinte e um aos cinqüenta e quatro anos de idade (idade máxima encontrada atribuída a um infrator).
Ano 2005
20
15
14-16
10
17-20
5 21-45
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2006
20
18
16
14
12 11-13a
10
14-16a
8
6 17-20a
4
2
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
198
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Ano 2007
20
18
16
14
12 11-13a
10
8 14-16a
6
4 17-20a
2
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
A análise nos revelou algo comum para aqueles que continuamente, trabalham na Ronda
Escolar, os adolescentes na faixa de quatorze aos dezesseis anos são os que mais
cometem/cometeram algum tipo de delito dentro do ambiente escolar. A surpresa surgiu quando da
análise dos dados referentes ao zoneamento II, que nos revelaram que aqueles que cometeram um
delito são maiores de vinte e um anos de idade e que geralmente pela idade estão matriculados no
turno da noite.
199
Polícia Militar do Estado do Acre
Ano 2005
25
20
15 Manhã
Tarde
10
Noite
5
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2006
30
25
20
Manhã
15
Tarde
10 Noite
5
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2007
20
18
16
14
12
Manhã
10
8 Tarde
6 Noite
4
2
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
horas, é porque houve um empate em números reais da quantidade de ocorrências tanto no turno da
tarde como no turno da noite.
Ano 2005
10
6 Manhã
4 Tarde
Noite
2
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2006
20
15
Manhã
10
Tarde
Noite
5
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2007
10
9
8
7
6 Manhã
5
Tarde
4
3 Noite
2
1
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
201
Polícia Militar do Estado do Acre
As análises dos dados coletados dos boletins de ocorrência mostram que os infratores em
sua grande maioria têm entre quatorze e dezesseis anos (ver gráfico 02), e isso é notável em todos
os zoneamentos, neste gráfico estão incluídos homens e mulheres. No caso especifico do
zoneamento II, a idade se apresentou superior aos vinte e um anos, porque houve um número maior
de ocorrência com homens e mulheres que estudam no turno da noite.
A delinqüência juvenil vem se desenvolvendo muito em volume e se tornando cada vez
mais violenta. O processo de construção da personalidade que generaliza o culto à juventude
pacifica os adultos, ma endurece os mais jovens que, são inclinados a afirmar cada vez mais cedo e
cada vez mais depressa a sua autonomia, quer seja material ou psicológica, nem que seja pelo uso
da violência.
Dessa forma, várias são as esferas onde são identificados como estilos de vida juvenil na
sociedade e que o contato mais cedo leva à dissolução suave das referências maiores e ao vazio do
individualismo responde um radicalismo sem conteúdo de comportamentos. O contato cada vez
mais cedo com o sexo, à informação que está presente mais facilmente no cotidiano, o contato, mais
cedo, com as drogas (licitas e ilícitas), os sons (a corrida pelos decibéis), a moda que exibe o poder
econômico dos jovens, o ritmo (o Funk), o esporte (febre por músculos).
Tempos difíceis esses em que os adultos se tornam reféns de seus jovens e crianças e, por
conseqüência, precisam ser protegidos pela autoridade judiciária, já que o exercício da sua
autoridade está descomprometido, despotencializado e desacreditado.
Nota-se que vivemos num momento sócio-histórico de banalização da vida, do ser humano
e do outro. As pessoas de hoje viveram e se desgastaram, surgiu um numero tão grande de
mudanças na área da tecnologia e do conhecimento, que repercutiu fortemente, de forma negativa,
nos costumes e no comportamento de forma decisiva.
Como resultado, desse desencontro, nascem pessoas, sem norte, sem objetivos na vida.
Adultos perdidos em seu modo de viver e de educar e, como decorrência, crianças e jovens
perdidos, sem saber as regras do bem viver.
Nossas crianças e jovens quer tenham poder aquisitivo ou não, vivem o que querem e da
forma que querem, denunciando que seus adultos são frágeis e impotentes. Precisamos educar,
organizar nossos jovens e crianças com as normas do bem viver; Indicar os caminhos e caminhar
com eles. Nas palavras de Guimarães (2000, p.3):
Nesse mundo velho, o passado se faz presente e o adulto assume a responsabilidade pelo rumo dos
acontecimentos mesmo querendo que as coisas pudessem ocorrer de forma diferente. Ter autoridade é
assumir essa responsabilidade por esse mundo velho. Porém, como assumi-la se o mundo em que vivemos
não é mantido nem pela autoridade e nem pela tradição?
202
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
No próximo gráfico procuro responde a segunda questão posta nesta pesquisa que é a que
busca caracterizar as escolas em seus níveis de ensino e turno de funcionamento. Assim, temos o
seguinte gráfico sobre o nível de ensino das escolas que mais ocorrem delitos.
25
20
15 Ed.Infantil
Ens.Fund.
10
Ens.Medio
5
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2006
40
35
30
25
Ed.Infantil
20
En.Fund.
15
Es.Médio
10
5
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2007
25
20
15 Ed.Infantil
En.Fund.
10
Es.Médio
5
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
203
Polícia Militar do Estado do Acre
20
15
Manhã
10
Tarde
Noite
5
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2006
30
28
26
24
22
20
18 Manhã
16
14 Tarde
12
10 Noite
8
6
4
2
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
204
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Ano 2007
20
18
16
14
12 Manhã
10
Tarde
8
6 Noite
4
2
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Assim, ao procedermos à análise dos dados pudemos perceber que o turno da tarde é o que
apresenta um maior número de ocorrências registradas pela Ronda Escolar. É importante ressaltar
que é no turno da tarde que estudam a maioria dos alunos entre a faixa etária de quatorze e
dezesseis anos de idade e que freqüentam o nível de Ensino Fundamental.
Por fim, como resposta a última questão posta nesta pesquisa é de onde vêm as
solicitações quando ocorre um delito na escola? E, para tanto, o que pudemos constatar é que na
maioria das ocorrências, a Ronda Escolar é solicitada pela escola para realizar a detenção de um
determinado infrator. Neste caso, sugiro refletirmos sobre a distinção que Charlot (2005) apresenta
para os termos violência, transgressão e incivilidade.
O autor destaca que o termo violência deve ser reservado ao que ataca a lei com o uso da
força ou que ameaça usá-la, como por exemplo: lesões, extorsão, tráfico de drogas na escola,
insultos grave. Ora esses fenômenos não dependem do conselho escolar da escola mais sim da
Polícia e da Justiça. Para o autor transgressão é o comportamento contrário ao regulamento interno
da instituição de ensino, exemplo a não-realização de trabalhos escolares. Esse fato, como qualquer
outro que se caracterize como transgressão, deve ser tratada pelas instâncias do estabelecimento de
ensino.
Enfim, a incivilidade segundo o autor não contradiz nem a lei, nem ao regimento interno
da escola, mas as regras da boa convivência: desordens, empurrões, grosserias, palavras ofensivas.
Essa deve ser tratada com uma intervenção educativa.
205
Polícia Militar do Estado do Acre
Ano 2005
25
20
15 Escola
Vitimas
10
Outros
5
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
Ano 2006
28
24
20
16 Escola
12 Vitima
Outros
8
4
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
206
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Ano 2007
24
20
16
Escola
12
Vitima
8 Outros
0
Zon.I Zon.II Zon.III Zon.IV Zon.V
207
Polícia Militar do Estado do Acre
combiná-la com outras práticas sociais e simbólicas da escola. Trata-se, em outras palavras, de
procurar formas de geri-la enquanto figura da desordem, já que nenhuma sociedade pode ser
purgada de toda desordem. É preciso, então, saber lidar com ela, em vez de tentar eliminá-la.
As soluções devem ser encontradas em cada escola ou em cada sala de aula, para cada
caso. Entretanto, é possível apontar algumas, tendo em vista as questões trabalhadas neste texto e
relatos de experiências que vêm tendo êxito em várias instituições escolares.
O cotidiano das escolas tem gerado, mantido a violência de vários tipos. E os professores
será que estão preparados para lidar com essa situação? Afinal, o trabalho docente exige cada dia
mais dos profissionais, atitudes, valores e habilidades necessários para a criação, no cenário escolar,
de uma nova ordem pautada no prazer de ensinar e de aprender.
Uma medida que parece surtir efeito é a aproximação gradativa da escola com a
comunidade, uma vez que as questões–chave parecem ser as que dizem respeito a um novo modo
de articulação entre a escola e a sociedade e a do sentido da escola induzindo por esse modo, por
intermédio de várias atividades de integração, num sistema de parceria em que a instituição supre de
alguma forma, as carências de espaço e de equipamentos sociais. Assim, a população “cuida” da
escola, desde a vigilância até a realização de pequenos consertos; integram voluntariamente órgãos
colegiados, como o Conselho de Escola e a Associação de Pais e Mestres; provê assistência de toda
ordem às crianças carentes; enfim, passam a participar ativamente da instituição escolar.
Além disso, há outras medidas que podem “reencantar” a escola, tais como: desenvolver
atividades de lazer e de cultura, tais como excursões a museus, parques florestais e zoológicos;
levar os alunos para assistir a espetáculos teatrais, filmes etc.; promover e dar espaço a grupos de
alunos e professores interessados em trabalhar com teatro, música, jornal; realizar exposições de
arte, oficinas de criação, feiras de ciência; “enfeitar” a escola com produções de alunos (pinturas,
redações, trabalhos escolares diversos); encontrar espaços para os alunos trabalharem a terra
(jardim, horta); abrir possibilidades de tempo e espaço para que os alunos possam “jogar conversa
fora”, brincar, “paquerar”, enfim “estar juntos” etc.
Sendo assim, não se pode desprezar, porque desconhecidas (ou não reconhecidas) pelas
instâncias dominantes as pequenas ações de todos os dias, desenvolvidas pelos membros dos
208
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
diversos grupos da escola, dentro ou fora da sala de aula, que, pela carga simbólica e, portanto,
educativa que carregam, contribuem para o desenvolvimento de uma ética grupal, ou seja,
contribuem com o reconhecimento da instituição, quanto a sua cultura e seu imaginário.
Em suma, na modernidade, a violência tem sido considerada como uma das figuras que
pode tomar a forma de uma desordem contagiosa, dificilmente controlável, de uma doença da
sociedade que aprisiona o indivíduo e, por extensão, a coletividade num estado de insegurança que
gera o medo.
Assim sendo, aos docentes, em especial, cabe a decisão de confrontar a realidade com as
exigências e as tarefas, que se impõem ao educador, onde a sociedade espera que ele preencha as
lacunas deixadas pelas famílias, na construção de valores sólidos para a formação de cidadãos
conscientes com objetivo de estabelecer uma sociedade não violenta.
209
Polícia Militar do Estado do Acre
210
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
A partir da tabela anterior, percebemos que em rio Branco, o número de adolescentes que
afirma ter experimentado bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida, ou que tenha feito uso
esporádico é maior que a média nacional, embora os alunos de 4ª série seja a exceção. Contudo,
quando o critério é dependência, percebemos que os alunos de Rio Branco estão abaixo da média da
Região Norte e bem abaixo da média brasileira. Esse dado pode ter sido influenciado pelo grande
número de adolescentes que dizem já ter feito uso na vida, mas ter parado a utilização de bebidas,
cigarros e outras drogas após terem se convertido a uma religião Protestante, conforme pode ser
visto nas tabelas específicas do sub-capítulo anterior.
211
Polícia Militar do Estado do Acre
212
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
Com relação à utilização de maconha e cocaína, a comparação ficou prejudicada pela baixa
precisão dos dados regional e nacional. Contudo, percebemos que o índice de experimentação ao
menos uma vez na vida é grande.
Na relação produzida entre o uso experimental e o uso regular, percebemos que são os
alunos do Ensino Médio os que mais experimentaram drogas e os que fazem maior uso regular.
Destacando-se o uso de maconha e cocaína, como os mais utilizados pelos adolescentes.
213
Polícia Militar do Estado do Acre
Os adolescentes não são seduzidos apenas pelas drogas ilícitas. Foram constatadas ações
de utilização de drogas lícitas e ilícitas desde os entrevistados da 4ª série até o Ensino Médio. Eles
fazem uso de cigarros e bebida alcoólica que servem como porta de entrada para outras drogas em
suas vidas.
214
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
215
Polícia Militar do Estado do Acre
CAPÍTULO X
Durante alguns meses realizamos a aplicação de questionários nas escolas públicas de Rio
Branco. Antes de aplicar o questionário, conversamos com os diretores e/ou coordenadores das
escolas explicando os objetivos da pesquisa e as especificações da amostragem a ser colhida.
Os diretores e coordenadores marcavam o dia da aplicação do questionário e só tomavam
pleno conhecimento de todas as questões e assuntos, alguns minutos antes da aplicação dos
questionários, para que não interferissem no resultado. Para nossa grata surpresa, todos os gestores,
coordenadores e professores acolheram muito bem a iniciativa da Polícia Militar e trataram muito
bem os policiais/professores que estavam na pesquisa.
Um dado interessante que vale ressaltar antes de irmos aos resultados da pesquisa, é o fato
de os pesquisadores sempre se apresentarem como professores45 a serviço de uma parceria entre a
Polícia Militar do Acre e a Secretaria de Estado de Educação. Os adolescentes foram bem
receptivos e responderam os questionários em um tempo médio de 25 minutos. Enquanto nos
apresentávamos, percebemos que os alunos respeitam a Polícia, embora façam chacota de situações
onde os policiais “se dão mal” em ocorrências. Demonstraram respeitar principalmente os policiais
da COE (embora tenham comentado insatisfação em algumas atuações), a Polícia da Família (por
atuar perto da casa de alguns deles), o Proerd (os alunos falaram dos policiais como se fossem
45
Os referidos policiais são professores, devidamente reconhecidos pelo Ministério da Educação, além de atuarem
como Instrutores na PMAC.
216
Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
amigos deles) e a Companhia Escolar (as moças, entre suspiros, se reportavam aos policiais como
“caras legais” e os rapazes, como a concorrentes desleais).
Após vários comentários sobre os professores – e seu descaso com a educação – e sobre a
Polícia - a maioria deles sobre a pretensa falta de honestidade dos policiais –, os alunos
responderam um questionário contendo 38 questões de múltiplas escolhas, onde foram convidados a
responder as questões sem se identificar e tendo liberdade de não responder as questões que não
achassem conveniente, embora todos fossem convidados a responder a todas as questões. No
cabeçalho do questionário estava escrito:
Este questionário destina-se a fornecer dados sobre a importância do Proerd para a sociedade
riobranquense, servindo de base para a elaboração de um programa de esclarecimento aos jovens, portanto,
sua sinceridade é muito importante. Não se preocupe pois você não poderá ser identificado, uma vez que
responderá colocando "X" nos parênteses, sem escrever nenhuma palavra.
Sua contribuição será muito importante.
Os questionários foram aplicados a alunos das 4ª séries que estavam sendo atendidas pelo
Proerd em 2008, a alunos das 8ª séries e do Ensino Médio.
O modelo de cálculo e tabulação foi pensado pelo historiador Reginâmio Bonifácio de
Lima em parceria com o professor de matemática Cleverson Redi do Lago – que, por vários anos,
foi policial do Proerd. Resolvemos pôr em destaque apenas as possibilidades e as projeções que se
apresentassem em maior destaque.
Neste momento, vamos demonstrar os dados referentes aos alunos do Ensino Médio.
Neste trabalho, apresentaremos os dados com algumas considerações. De antemão, informamos aos
críticos de plantão, que estamos afeitos à possibilidade de conjecturas e postulações sobre o que são
ou o que representam esses dados, mas não trataremos sobre o que poderia ter sido ou o que os
alunos que não responderam o questionário poderiam ter dito.
Para concluir este prelúdio, ratificamos que este trabalho é uma amostragem, conforme
exposto na introdução. Os assuntos aqui abordados foram propositadamente postos em forma de
dados tabulados. Não é nosso intuito, neste momento, fazer as análises, uma vez que no
estabelecimento das parcerias foi posto o fato de o tratamento das informações ser realizado “com
muito tato”. Assim sendo, cada instituição fará uso das tabelas que se seguem em anexo e tratará os
dados expostos na pesquisa.
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Polícia Militar do Estado do Acre
CAPÍTULO XI
www.impacto.org/abrafam
www.amorexigente.org.br
• Anti-drogas
www.antidrogas.org.br
www.abaids.org.br
• Alcoólicos Anônimos
www.alcoolicosanonimos.org.br
www.abratecom.org.br
www.saude.gov.br
www.obid.senad.gov.br
www.canalkids.com.br
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
www.uniad.org.br/cuida
• Fumantes Anônimos
http://www.nicotine-anonymous.org/publications_portuguese.asp
www.terrasegentes.net84.net
www.einstein.br/alcooledrogas
www.inca.org.br
www.na.org.br
www.obid.senad.gov.br
http://www.saude.gov.br/saude/área.cfm?id_area=241
www.senad.gov.br
www.uniad.org.br
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Polícia Militar do Estado do Acre
REFERÊNCIAS
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Primeiro Levantamento Sobre Psicotrópicos e Violência Infanto-Juvenil de Rio Branco
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Anexos
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