Professional Documents
Culture Documents
Até o inicio de 2008, o mercado de fusões e aquisições estava aquecido, como mostram
dados publicados recentemente. A estabilização da economia, a fragmentação de
algumas indústrias, a aproximação do país do grau de investimento, a liquidez financeira
do mercado internacional, o baixo custo de capital, o desenvolvimento do mercado de
capitais brasileiro e o potencial de crescimento do país, entre outros, impulsionam essas
atividades. Considerando que as fusões e aquisições são uma das principais decisões de
investimento das empresas e que movimentam somas significantes de valores, espera-se
que tais decisões influenciem positivamente os resultados acionários e contábeis das
empresas adquirentes. Entretanto, diversos estudos apontam que, de forma geral, as
aquisições acabam transferindo riqueza dos acionistas das empresas adquirentes para os
acionistas das empresas adquiridas. Em outras palavras, a informação do mercado e do
balanço das empresas é de que o preço pago pelas aquisições está em um patamar que
não viabilizaria retornos financeiros acima do custo de capital dos investidores. Desta
forma, se a busca por resultados financeiros não seria o direcionador das fusões e
aquisições, quais outras motivações poderiam influenciar a decisão dos executivos de
engajar suas empresas em tais atividades? Qual seria a lógica das fusões e aquisições?
A busca por força e posicionamento de mercado seria uma outra motivação para as
fusões e aquisições. Segundo a teoria do monopólio, estas atividades seriam um dos
instrumentos utilizados pelos gestores para melhorar o posicionamento e a força de
mercado ante clientes, fornecedores e funcionários, por exemplo. Esse aumento da força
da empresa e a eventual criação de um monopólio ou oligopólio permitiriam aos
produtores extrair e manter uma maior parte do lucro da cadeia e do setor.
Outra motivação para as aquisições seria a busca por crescimento. As empresas têm a
escolha de alcançar esse objetivo fomentando um crescimento gerado internamente ou
através de fusões e aquisições. O crescimento gerado internamente pode ser um
processo lento e incerto, enquanto que aquele gerado através de aquisições seria mais
rápido mas que carregaria consigo incertezas de outras naturezas. Numa época em que
os gestores estão sob constante pressão para demonstrar potencial de crescimento em
suas empresas, as aquisições seriam o meio mais rápido para se alcançar tal objetivo.
A lógica das fusões e aquisições é de que elas deveriam trazer benefícios que os
acionistas não conseguiriam alcançar por conta própria, e a sinergia decorrente das
aquisições é constantemente utilizada como motivação para estas atividades. Nas
aquisições, a sinergia se refletiria na habilidade da empresa combinada de apresentar
uma lucratividade superior àquela resultante da soma da lucratividade das partes
individuais. Atividades que impactam diretamente na capacidade de crescimento da
empresa e têm na velocidade de execução seu fator crítico de sucesso, como as
atividades de P&D, de entrada em novos mercados geográficos e de lançamento de
produtos, são as que mais se beneficiariam das aquisições.
O alto preço pago pelas aquisições e a crença no alcance de sinergias seriam motivados,
por sua vez, pelo orgulho gerencial, já que haveria evidências suficientes de que
retornos financeiros nas aquisições seriam difíceis de se alcançar. Este orgulho levaria a
uma crença ou a um comportamento irracional por parte do gestor, que justificaria sua
insistência em prosseguir em uma atividade em que tantos outros falharam. As aquisições
seriam motivadas por erros de avaliação dos gestores quanto à possibilidade de ganhos,
principalmente sinérgicos.
Outra linha de pesquisa, entretanto, afirma que as fusões e aquisições seriam utilizadas
como instrumentos ou meios pelos gestores para se alcançar objetivos próprios como o
de aumento de poder através do crescimento organizacional ou o de redução do risco
empresarial e dos fluxos de caixa da empresa. O aumento de poder gerencial, por
exemplo, seria alcançado através da busca pelo crescimento de suas empresas mesmo
que além do tamanho ótimo. O crescimento aumentaria o poder dos gestores através do
aumento dos recursos sob seu controle e estaria relacionado ao aumento da
remuneração. Assim, mesmo que as fusões e aquisições não melhorassem os resultados
financeiros das empresas adquirentes, estas atividades seriam executadas devido a falta
de mecanismos para alinhar os objetivos de gestores e investidores. As práticas de
governança corporativa visam justamente reduzir o conflito de interesse entre gestores e
investidores.
O dinamismo da economia e o desenvolvimento do mercado de capitais fomentam as
fusões e aquisições. Por outro lado, pela magnitude dos valores que movimentam, estas
atividades de investimento são complexas e impactam de forma significativa os resultados
das empresas adquirentes. Os resultados financeiros alcançados por estas empresas,
entretanto, não são visíveis. O entendimento das motivações dos gestores para envolver
suas empresas em aquisições pode auxiliar no processo de tomada de decisão, na
definição e negociação do preço da empresa-alvo, facilitando assim a geração de riqueza
na empresa adquirente, que é um dos principais objetivos dos gestores.