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Mónica Isabel Fonseca Sequeira Lima 1.º ano de Direito, Turma A, N.

º 101933

CASO NICARÁGUA
1. Partes
Autor: República da Nicarágua
Réu: Estados Unidos da América
2. Objecto do Litígio
Em 9 de Abril de 1984, a Nicarágua instaurou procedimentos no Tribunal Internacional de
Justiça contra os Estados Unidos da América (EUA) sobre um processo relativo à responsabilidade
pela prática de actividades militares e paramilitares na e contra a Nicarágua.

3. Dos Factos
3.1. Factos imputáveis aos Estados Unidos
Ficou estabelecido em Tribunal que foram colocadas minas em portos nicaraguenses, nas águas
interiores e mar territorial da Nicarágua, em 1984, de acordo com instruções (e financiamento) de
organismos governamentais dos EUA, sem qualquer aviso posterior ou prévio à navegação
internacional. A sua explosão causou danos pessoais e materiais, e criou riscos que causaram o
aumento das taxas de seguros marítimos. Os EUA violaram igualmente o espaço aéreo nicaraguense
através de vôos de reconhecimento. Considerou-se igualmente provado que agentes dos EUA ou
financiados por eles levaram a cabo operações contra instalações petrolíferas, uma base naval, etc.
Os EUA financiaram, organizaram, forneceram equipamentos e treinaram a FDN, um
componente de um exército mercenário, tendo essa força contra mantido uma dependência parcial
com os EUA, mas sem se provar que a FDN agisse em nome dos EUA.
3.2. Factos imputáveis à Nicarágua
O Tribunal concluiu que a Nicarágua prestou apoio a grupos armados (contra force) que
operavam em El Salvador, nomeadamente por tráfico de armas, até aos primeiros meses de 1981.
Não se imputou, no entanto, tal ajuda militar às autoridades da Nicarágua. Porém, a Nicarágua foi
considerada imputável no que toca aos seus ataques militares transfronteiriços contra as Honduras e
a Costa Rica.

4. Do Direito
4.1. Princípio da proibição do recurso à força e direito de legítima defesa
Este princípio encontra-se plasmado no n.º 4 do art. 2.º da Carta das Nações Unidas (CNU), e
proíbe o recurso livre à força armada para resolver conflitos, segundo a qual as partes “deverão
abster-se nas suas relações internacionais de recorrer à ameaça ou ao uso da força (…) contra a
integridade territorial ou a independência política de um Estado”, devendo recorrer a uma solução
Mónica Isabel Fonseca Sequeira Lima 1.º ano de Direito, Turma A, N.º 101933

pacífica (artigos 33.º e seguintes da CNU). Tal obrigação é confirmada como obrigatória no direito
costumeiro pela Resolução 2625.
Este princípio admite excepções, como o direito de “legítima defesa individual ou colectiva no
caso de ocorrer um ataque armado”, estabelecido no artigo 51.º da CNU e na Resolução 2625. Mas a
licitude dessa defesa (neste caso, por parte dos EUA) depende da necessidade e proporcionalidade
das medidas tomadas (o que não foi o caso). A assistência a rebeldes (de El Salvador pela Nicarágua,
neste caso), ainda que por tráfico de armas, não foi considerada pelo Tribunal como agressão
armada, pelos que os Estados (EUA) não têm direito de resposta armada colectiva a actos que não
constituam uma agressão armada.
4.2. Princípio da Não Interferência nos Assuntos Internos
O primeiro princípio, plasmado no art. 2º, n.º 7 CNU, significa que qualquer Estado soberano
tem o direito de conduzir os seus assuntos sem ingerência externa, nomeadamente no que diz
respeito a matérias como a escolha do sistema político, económico, social e cultural, e formulação
das relações exteriores, por exemplo. A intervenção em tais assuntos é ilícita, sobretudo se utilizar
métodos de coerção (como a força). Neste caso, os EUA apoiaram as actividades da contra force na
Nicarágua, violando este princípio, ao passo que uma intervenção humanitária já seria lícita.
4.3. Princípio da igualdade soberana
Foi objecto da Resolução 2625 e do n.º1 do art. 2º da CNU. Este princípio significa que os
Estados são iguais juridicamente, independentemente das suas características específicas. Este
conceito aplica-se também ao território do Estado e, consequentemente, ao seu espaço aéreo, águas
interiores e mar territorial. Neste caso, o Tribunal concluiu que houve violação destes três últimos,
por parte dos EUA, em particular quanto à colocação de minas e obstrução no acesso aos portos.
4.4. Tratado (bilateral) de Amizade, Comércio e Navegação de 1956
Foi assinado pelas partes, e ambas discordavam quanto à sua interpretação e aplicação. Foi
decidido pelo Tribunal que os EUA violaram o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, pelos
ataques cometidos aos portos, etc., e pelo embargo geral de comércio contra a Nicarágua, violando
assim a sua obrigação de cumprir o Tratado nos termos em que foi celebrado (pacta sunt servanda).
6. Comentário
A solução pacífica para este conflito baseia-se na cessação da violação dos princípios da não
interferência nos assuntos internos e da proibição do recurso à força, por parte dos EUA. O uso da
força, em particular, agrava conflitos e dificulta a resolução pacífica dos mesmos, pelo que o respeito
por estes princípios de direito internacional serve os interesses da paz na sociedade internacional.

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