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Equações Da Bio
Equações Da Bio
Como se observa, o facto de saber o que é uma conjectura, ou até uma esfera
(embora não seja óbvio que esfera é que se trata) não implica que se possa fazer
alguma apreciação qualitativa ao conteúdo da conjectura de Poincaré.
A Importância das definições rigorosas
Poderíamos alguma vez comentar sequer uma das perguntas, sem sabermos
a definição precisa de cada um dos termos?! Suponhamos que dizemos sim á
primeira. Desde logo se levanta uma questão sintáctica de primeira ordem,
nomeadamente a definição de Eutanásia. Partamos da origem etimológica e
aceitemos por momentos a definição “Boa morte”.
Não é difícil de imaginar os problemas que se poderiam levantar a aceitar tal
definição, desde assassínios médicos até programas como o do holocausto
germânico de limpeza racial. Bastava que para isso os responsáveis pelo emprego
da suposta “Boa morte”, achassem “Boa” a morte de alguém ou de “alguéns”…
Além disso, não haveria restrições ao método empregue, uma vez que isso não
estaria contemplado na suposta lei. Tudo seria permitido desde que a morte fosse
“Boa”.
Quanto à segunda questão, levantar-se-ia o problema da autorização e a
multiplicidade de estados possíveis para um doente terminal, tal como a definição
de “medicamente assistida” (partindo-se do principio que “terminação da vida =
morte”).
No terceiro e no quarto casos, apesar da sua aparente conformidade com a
questão que estamos a analisar, note-se que não se está no terceiro a supor que
Eutanásia seja medicamente assistida à partida, e mesmo assumindo isto no último
caso, deparamo-nos com dois problemas já não de ordem sintáctica, mas de ordem
semântica, a saber: o consentimento dum doente terminal nos limites dos cuidados
paliativos. Sendo, por definição, a prestação de cuidados médicos de forma a
humanizar a dor e de cuidados pessoais destinados a dignificar a vida que resta (ao
afirmarmos “restar”, estamos a impor que podemos de alguma maneira quantificar
a vida e não parece aceitável a definição temporal. Caso contrário estaríamos a
atribuir a “medições” de vidas de tetraplégicos ou de doentes com doenças
neuromotoras degenerativas, valores passíveis de serem desenquadrados e
questionáveis) ao doente terminal (assuma-se que “terminal” designa o estado que
alguma doença fatalmente irreversível impõe a um ser humano), como poderá ser
levado ao limite algo que já lida com situações limite?! Alguém que se queira
remeter a uma interpretação meramente racional não deverá ser tido como culpado
por achar a pergunta algo recursiva, para não dizer absurdamente sem sentido. Se
os cuidados paliativos só acabam na morte e com a morte, então a interrogação
vista à luz do rigor dos conceitos usados, seria “Concorda com a Eutanásia
medicamente assistida, com o consentimento do doente, desde que este esteja
clinicamente morto?”.
O aparente exagero na interpretação drástica da última asserção, bem como
a análise das anteriores, alerta-nos para a importância capital de saber as
definições dos conceitos que se pretende tratar ou interpretar. Afinal o que nos
adianta comentar a conjectura de Poincaré, se não sabemos o que é uma 3-
variedade diferenciável?!
Lógica…
Definição:
Exemplo:” Se hoje está a chover, então a rua a céu aberto está molhada.”
Repare-se que não é necessariamente verdade que se a rua está molhada então
choveu, mas é verdade que se não está molhada então é porque não está a chover.
Infelizmente não são poucos os casos de pessoas que não morreram, mas
para quem a vida parece ter terminado. O facto de “1+1=2” ser uma proposição
decorre da estrutura que estamos a considerar, a saber o conjunto dos números
naturais munido da operação soma (“+”) como estamos habituados. Há entidades
matemáticas onde isto não é verdade.
No domínio estritamente biológico, é consensual que “morte = terminação
da vida”. È claro que reduzir uma questão de tamanha complexidade ao argumento
biológico torna-se inexoravelmente redutor e perigoso para uma correcta avaliação
do cerne do problema, uma vez que ao se falar em qualquer tipo de cuidados
direccionados a doentes terminais, já se está a conferir dimensão espiritual (o
simples deixar de sentir dor e ter a capacidade de o manifestar já nos diferencia do
puramente biológico, celular e, se usarmos “sofrimento” em vez de “dor”, essa
diferença já irá ser infinita á partida) ao doente em questão. Como isto acontece,
decorre que morte não é “equivalente” a “terminação da vida”.
Procuremos agora algo que nos permita concluir não apenas a relação lógica
entre dois conjuntos ou proposições, mas como se pode passar de um conjunto para
outro…
Transformações…
Definição: Diz-se que dois conjuntos A e B são homemorfos se for possível
transformar um no outro de forma suave (sem rasgões nem cortes). A uma tal
transformação chamamos homeomorfismo.
Repare-se que qualquer questão que envolva a vida (Como tudo o que está
envolvido na bioética), está obrigatoriamente a envolver a morte. Por exemplo, a
questão da clonagem humana pode ser resumida simplesmente a “acabar com a
vida como valor único, inerente a um código genético que determina as estruturas
que se acredita que vão conferir a unicidade a cada ser humano”. Lembramos que
tudo o que foi apresentado não pretende constituir uma abordagem final ou
definitiva a este campo, mas ao invés, uma chamada de atenção ao facto de que
sem se apresentar definições concretas e as relações exactas entre os diversos
elementos constituintes de uma possível “Teoria da Bioética”, se pode cair em
relativizações perigosas e interpretações falaciosas de muitas questões relevantes,
pelo simples facto de nos tornarmos míopes se não sabemos exactamente o que
está em questão.
Não obstante este reparo poder-se ia finalizar propondo uma definição
rigorosa de Bioética como:
A impossibilidade de, hoje em dia, definirmos que valores devem ser tidos,
universal e irrestritamente, como inquestionáveis e inalienáveis, sugere que antes
de se debater a questão das relações entre alguns conceitos bem definidos, é
imperioso analisar se os valores são entidades estáticas e inamovíveis ao longo do
tempo, ou, pelo contrário, objectos com vida própria que se adaptam às sociedades
que inquestionavelmente evoluem. Mais ainda, deverá ser esclarecido se os valores
podem ser hierarquizados entre si, ou antes se não há nenhuma possibilidade de
escolha de uma ordenação possível, um “axioma da escolha ou lema de Zorn dos
valores”.
Tanto esta questão de ordenação como a questão da evolução de valores
caberia no ramo denominado “Sistemas Dinâmicos e Teoria do Caos”. Mas a simples
sugestão de evolução de valores, já implicaria que a própria Bioética fosse passível
de modificações ao longo dos tempos e já seria aconselhável, no aniversário da
Teoria da evolução, entregar estes esclarecimentos não aos domínios matemáticos
dos “Sistemas Dinâmicos” ou “Teoria do Caos”, mas antes a Darwin e à sua Biologia
Evolutiva…