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Silêncio
Silêncio que se vai contar uma história.
Silêncio. Silêncio era a única coisa que se ouvia naquele país. Pensando bem acho que
nem o silêncio se ouvia. Era um lugar estranho aquele, não havia pássaros a cantar, nem o
barulho das campainhas da escola, nem rádios ou televisões, nem sequer se ouviam pessoas a
conversar!
Todas as criaturas carregavam no rosto uma expressão séria, por vezes, triste. Até o sol
tinha decidido não dar o ar da sua graça àquela gente e o céu, dia após dia, mantinha-se
cinzento.
Nunca tinha visto nada assim. Na rua as pessoas seguiam caladas, solitárias e era
constante ouvir: “-Está calado meu filho! Já te disse que não se pode falar.”
De inicio, ainda pensei que eram as pessoas que não simpatizavam muito com
conversas, que gostavam de todo aquele silêncio. Mas só passados alguns dias é que me
apercebi realmente do que se passava naquele país. Sim, é isso, era mesmo proibido fazer
barulho por lá. “Neste país é expressamente proibido a todas as pessoas: falarem, cantarem,
ouvirem rádio ou verem TV em locais como a rua, cafés, hospitais, etc., ou seja é punível por lei
qualquer tipo de ruído em sítios públicos”
Não poder ter uma simples conversa, não ter permissão para ouvir uma música ou
saber o que se passa no mundo a nossa volta. Não entendo como é que aquelas pessoas viviam
assim.
Mas, um dia, o sol brilhou e nesse mesmo dia, tudo mudou. As pessoas saíram à rua a
cantar, todas as vozes se uniram numa só contra a opressão em que viviam. Invadiram a casa
cinzenta, a casa do presidente do país, e cantaram, conversaram e fizeram carpido até o sol se
pôr.
A casa cinzenta não foi a única a ficar na posse destes defensores da liberdade sonora
e, com isto, o estado cedeu.
Eram livres.
Daí em diante passou a ser possível proferir, murmurar, tagarelar, contar, disser,
pronunciar, conversar, cantarolar e, finalmente, podiam sorrir.