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CONFIGURANDO UM KIT MINIMALISTA DE TICS PARA O ENSINO DE FÍSICA

Sérgio Ferreira de Lima a [sergio@sergioflima.pro.br]


a
Colégio Pedro II - Mestre em Ensino de Física - PPGECM - CEFET-RJ

RESUMO
Neste trabalho apresenta-se uma abordagem para a inserção das Tecnologias de
Comunicação e Informação (TICs) na Escola e, em particular, no cotidiano do
professor de Física. Descreve-se o uso das TICS como ferramentas de apoio e
fomento de redes colaborativas de aprendizagem numa concepção conectivista. No
desenvolvimento desta proposta, opta-se pelo uso de Softwares Livres ou de
Código Aberto (FOSS) como um dos paradigmas tecnológicos facilitadores da
inserção destas tecnologias informacionais nas práticas docentes. Defende-se a
pertinência desta escolha, tanto em termos de políticas públicas, como em termos
de contribuição teórica e prática para a construção de uma Escola Pública mais
adequada à formação de cidadãos numa sociedade cada vez mais conectada.
Apresenta-se ainda, a discussão de um segundo paradigma tecnológico facilitador
da adoção das TICs no ensino de física, quando esta inserção se dá, a partir do
professor e independente da existência de uma equipe de TI na Escola. Descreve-se
as ferramentas escolhidas e o seu papel na construção e fomento de uma rede
colaborativa para a realização de um projeto de aprendizagem em física numa
escola pública de ensino médio no Rio de Janeiro. Por fim, faz-se uma descrição
analítica da implementação desta abordagem e as dificuldades inerentes à
construção de uma cultura escolar de compartilhamento e colaboração.

INTRODUÇÃO

Neste trabalho apresentamos uma abordagem para a inserção das TICs


(Tecnologias de Informação e Comunicação) no ensino de física numa Escola Pública
do Rio de Janeiro (LIMA, 2008). Descrevemos os pressupostos teóricos e os
paradigmas tecnológicos adotados no desenvolvimento da mesma e apresentamos uma
descrição analítica de como sua implementação foi desenvolvida. Buscamos construir
uma proposta de trabalho que se adequasse ao ambiente informacional (SILVA, 2002)
em que a Escola Brasileira e os nossos alunos estão inseridos e que pudesse ser
viabilizada, sem muito esforço, no contexto das nossas Escolas Públicas atuais.

Com isto em mente, adotamos o uso de redes colaborativas de aprendizagem


(ALMEIDA, 2003) como aposta de construção de pequenas contra-hegemonias locais
e, desta forma, produzir pequenas contribuições para a reinvenção do cotidiano da
Escola atual. Tais contra-hegemonias locais devem ser entendidas como toda opção ou
ação possível realizada pelo professor, no seu cotidiano, que se distancie das práticas
usuais de simples transmissão de conteúdos escolares, assim como, das formas mais
freqüentes de como a Escola se estrutura e se organiza.

POR QUE COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM?

Em cada um dos últimos três séculos, a sociedade ocidental pode ser


caracterizada por uma tecnologia hegemônica dos meios de produção. Em meados do
século XX e início de nosso século, com o desenvolvimento em larga escala das tecnologias
computacionais e de telecomunicações iniciou-se a chamada Era Pós-Industrial ou Era da
Informação:

“Essas transformações ocorreram a partir da década de 50, que


assistiu a mais uma significativa ruptura no campo da ciência. É o início
da chamada era pós- industrial, quando predominam os esforços
(científicos, tecnológicos e políticos) no sentido de informatizar a
sociedade”.(CARVALHO, 2000)

Dentro deste cenário, interpretamos que o contexto sócio-histórico onde os


educadores e aprendizes atualmente se encontram, pode ser caracterizado por: saberes
em constante mudança, tecnologias de comunicação e informação estando cada vez
mais presentes em vários segmentos da sociedade.

No aspecto tecnológico, temos cada vez mais tecnologias informacionais e


computacionais acessíveis e em migração (ELIOT, 2008) de sistemas centrados em
patentes e fechados para sistemas abertos - os chamados sistemas livres ou abertos
(Open Source), propiciando o desenvolvimento de formas mais colaborativas de
aprendizagens. Deste modo, julgamos que a opção por comunidades de aprendizagem
vem, também, ao encontro deste ambiente informacional.

Comunidades de Aprendizagem e Conectivismo

Embora o sócio-interacionismo de Vygotsky venha sendo utilizado como um


dos principais referenciais nas pesquisas em ensino de fisica, como por exemplo em
Werner (WERNER, 2007), sabemos que essa teoria foi desenvolvida numa época em
que as tecnologias informacionais não desempenhavam tanto impacto nas atividades de
aprendizagem-ensino como nos dias de hoje:

“No momento atual em que vivemos, Era da Informação, a tecnologia


molda até mesmo o nosso modo de pensar, agir (e aprender), portanto,
uma teoria que leve em conta as especificidades dos tempos atuais deve
ser tomada, também, como referência para uma perspectiva mais
contemporânea das estratégias de aprendizagem-ensino.” (SIEMENS,
2005)

Assim, um grupo de pessoas com interesses comuns que se conectam,


interagem entre si, compartilham aprendizagens, descobertas, insights e conhecimentos
determinam o que chamaremos neste trabalho de redes colaborativas de aprendizagem
ou somente de comunidades de aprendizagem. Estas, determinam então, uma estratégia
que julgamos adequada para que a Escola se organize como espaço privilegiado de
aprendizagens na Era da Informação.

Também, como referencial teórico ao uso de redes telemáticas no fomento


destas comunidades de aprendizagem, nos apoiamos na perspectiva conectivista de
comunidades de aprendizagem (SIEMENS, 2007), fundamentalmente, por julgarmos
que esta incorpora reflexões de como a tecnologia impacta na forma como pensamos ou
aprendemos, conforme Siemens:
“A aprendizagem é um processo que ocorre dentro de ambientes
nebulosos onde os elementos centrais estão em mudança, não
inteiramente sob o controle das pessoas. A aprendizagem (definida como
conhecimento acionável) pode residir fora de nós mesmos (dentro de
uma organização ou base de dados) é focada em conectar conjuntos de
informações especializados e as conexões que nos capacitam a aprender
mais são mais importantes que nosso estado atual de conhecimento. ”
(SIEMENS, 2005):

DEFININDO PARADIGMAS TECNOLÓGICOS

Como pretendemos que nossa proposta possa ser reproduzida numa Escola
Pública, independente do perfil tecnológico da mesma ou da existência de uma equipe
de TI (Tecnologia e Informação), descreveremos a seguir os paradigmas adotados que
julgamos facilitar a construção e animação destas comunidades de aprendizagens
apoiadas pelo uso das TICS.

Por que Software Livre ?

Software Livre é o software que é distribuídos seguindo as 4 liberdades básicas:

● Liberdade 0: Liberdade de executar um programa para qualquer intento.

● Liberdade 1: Liberdade de estudar um programa e adaptá-lo às suas


necessidades.

● Liberdade 2: Liberdade de redistribuir cópias e assim ajudar o seu vizinho.

● Liberdade 3: Liberdade de melhorar o programa e entregar tais melhorias para a


comunidade.

Embora não sejam essencialmente a mesma coisa, os softwares que junto com os
executáveis distribuem também seus códigos fontes (Open Source) são as vezes
tratados como livres e os denominaremos como Software Livres ou de Código Aberto.

A opção pelo uso de ferramentas livres - aqui entendidas como ferramentas


baseadas na filosofia dos Softwares Livres ou de Código Aberto - em detrimento de
ferramentas ou softwares proprietários1 se deve a redução de custos com licenciamento
de software (SILVEIRA, 2004), assim como, pela maior liberdade para personalizações
e regionalizações das aplicações, característica muito desejável em grandes sistemas de
ensino, pois é improvável que exista uma homogeneidade de hardware. Soma-se a isso a
maior facilidade de adoção de um software, independente de existir uma equipe TI na
instituição, uma vez que o suporte comunitário em soluções livres é, na maior parte das
vezes, mais disponível do que o de soluções fechadas ou pagas.

1 Software que não é livre. Seu uso está restrito as licenças mais restritivas do que aquelas utilizadas pelos Softwares Livres ou de
Código Aberto.
Os princípios da liberdade de uso do software para qualquer fim, assim como a
colaboração e a solidariedade, contidos na filosofia do Software Livre, utilizados em
contextos educacionais, colocam a questão da tecnologia não como um simples
produto, mas também, como a aplicação de um princípio preconizado pela LDB:

“Art. 2◦ A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos


princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (LDB,
1996):

Por fim, a possibilidade da Escola incorporar as novas tecnologias de


comunicação e informação, utilizá-las de modo a inovar as práticas docentes
(VALENTE, 1997) assim como, de fazê-lo com qualidade e com o melhor custo-
efetividade, coloca o paradigma do Software Livre ou de Código Aberto como uma
opção de paradigma tecnológico a ser utilizado na Escola Pública Brasileira.

Minimalismo Tecnológico

A simples escolha de um paradigma que facilite a inserção das TICs no


cotidiano escolar e reforce práticas colaborativas pode não ser suficiente para a sua
adoção ou uso continuado no contexto escolar, em particular, nas nossas Escolas
Públicas. Neste sentido, adotamos também como um dos paradigmas tecnológicos para
a utilização das TICs, no cotidiano do ensino de física, o Minimalismo Tecnológico,
que pode ser assim definido, conforme Berge :

“Estamos definindo o minimalismo tecnológico como o uso


"despreocupado" de níveis mínimos de tecnologia, cuidadosamente
escolhidos, com especial atenção às suas vantagens e desvantagens, no
apoio de objetivos instrucionais bem definidos.” (BERGE, 2007)

Portanto, além de optarmos pelo uso dos Softwares Livres ou de Código Aberto,
também restringimos as escolhas aquelas que fossem as mais simples e que
contemplassem os nossos objetivos educacionais.

APLICANDO A ABORDAGEM, UM ESTUDO DE CASO

Para aplicarmos as idéias discutidas neste trabalho, numa Escola Pública,


desenvolvemos um projeto de aprendizagem (ARAUJO, 2002) curto e que se
integrasse, sem muito esforço, ao cotidiano da mesma, no caso, o Colégio Pedro II, uma
Escola da Rede Pública Federal situada no Rio de Janeiro. Ainda que o objetivo desse
estudo de caso não tenha sido a análise do impacto do uso destas redes colaborativas, na
aprendizagem dos alunos, fazemos aqui uma descrição analítica de sua realização.

Ferramentas Adotadas

Para o projeto de aprendizagem definimos dois conjuntos de ferramentas. A


primeira seleção, constitui o núcleo básico de ferramentas de documentação e interação
assíncrona: Wikis, Blogues dos Professores e Blogue dos Alunos.
A segunda seleção, se apóia em ferramentas para situações específicas e que
não são imprescindíveis para a infra-estrutura da rede de aprendizagem. Neste caso
específico, utilizamos simulações de fenômenos físicos acessíveis via web (Applets
Java).

Wiki

Constitui o cartão de visita e o repositório do conhecimento (Figura 1)


construído pela rede de aprendizagem. Adotamos o PmWiki2 que é um wiki sob licença
GPL3 que não necessita de banco de dados, o que torna sua instalação, atualização e
manutenção extremamente simples. Útil para se criar documentação, presença na web,
produção coletiva e coordenada de documentação, produção de webfólios e outros
materiais de um modo simples, fácil e rápido. No nosso caso particular, essa ferramenta
está disponível e em plena utilização em http://www.aprendendofisica.pro.br

Toda produção coletiva e de conhecimento gerada por esta rede de


aprendizagem está disponível sob uma licença de distribuição compatível com espaços
colaborativos, isto é, que incentiva a troca e compartilhamento de conhecimento: a
Creative Commons4.

Figura 1 - Wiki do Aprendendo Física

Blogue dos Professores

Essa ferramenta (Figura 2) constitui o espaço privilegiado para a produção


textual dos professores, comunicação e interação destes com os alunos, para publicação
de tarefas, atividades de aprendizagem ou para sistematização de projetos de
aprendizagem. Devido a sua facilidade de uso, publicação e gerenciamento de conteúdo,
comparado com o wiki, é a ferramenta que julgamos mais adequada para introduzir o
uso de TICs como ferramenta docente.

Em virtude das características específicas de uso desse blogue optamos pelo


Wordpress5 como software de gerenciamento do mesmo. Software Livre sob GPL, fácil
de instalar, manter e com uma comunidade de usuários brasileiros enorme, o que facilita
na hora em que é necessário alguma ajuda técnica. O blogue dos professores está
disponível e ativo em: http://www.aprendendofisica.pro.br/blog
2 http://www.pmwiki.org
3 GPL (General Public Licence) é uma licença de Software Livre.
4 Creative Commons é uma licença alternativa o Copyright que, garantido os direitos do autor, flexibilza o uso da obra num
modelo ganha-ganha.
5 http://www.wordpress.org
Toda proposição de atividades para os alunos tem sido feita nesta ferramenta e
tudo de está publicado neste blogue está, também, sob licença Creative Commons.

Figura. 2 - Blogue dos Professores

Vale a pena ressaltar que o uso de blogues em contextos educacionais tem sido
objeto de várias comunicações acadêmicas como, por exemplo, em (WILLIAMS,
2004), (GUTIERREZ, 2005), (BARCA, 2007) e (COUTINHO, 2007).

Blogue dos Alunos

Esta ferramenta constitui o espaço de sistematização das aprendizagens dos


alunos e procura incentivar aprendizagens colaborativas, mesmo que isto não esteja,
ainda, incorporado à cultura dos alunos da nossa Escola atual.

Dada a configuração do uso desses blogues (um para cada turma), utilizamos
uma ferramenta que suporte nativamente o multi-blogue, isto é, com uma única
instalação pode ser criado vários blogues (Figura 3) com administração e manutenção
dos mesmos, centralizada e relativamente simples. Para esse fim escolhemos o
excelente b2evolution6, software livre sob GPL, multi-lingual e multi-blogues. O blogue
dos alunos está ativo e disponível em: http://www.aprendendofisica.pro.br/alunos

A produção dos alunos, quer sejam atividades em grupo ou atividades


individuais e colaborativas são registradas ou documentadas nesse blogue. Espera-se
assim, que ele se torne um webfólio7 da comunidade de aprendizagem.

Figura 3 - Blogue dos Alunos

6 http://b2evolution.net
7 Versão web do portfólio
Lista de Discussão

Para o estudo de caso, neste trabalho, nós utilizamos o MailMan8 como


gerenciador de listas de discussão. Pelo seu poder e simplicidade de gerenciamento de
várias listas de discussão, com ótimas ferramentas de combate ao spam9 e não menos
importante, por ser software livre. O uso de listas de discussões para as interações
assíncronas da comunidade de aprendizagem tinha como objetivo estender, para além
do espaço escolar, as situações de aprendizagem e colaboração e, sobretudo, utilizar
uma ferramenta bastante familiar aos alunos, portanto satisfazendo nosso paradigma
tecnológico escolhido: Minimalismo Tecnológico.

Convém destacar que a ausência de custos de licenciamento para uso ou


distribuição, a possibilidade de personalizações (acrescentar novas funcionalidades),
facilidade de instalação, de uso e manutenção das ferramentas descritas acima, nos
permitiram configurar este kit mínimo e funcional de introdução das TICs, no nosso
cotidiano, independente de apoio técnico ou da infra-estrutura tecnológica na nossa
escola.

Isto parece reforçar nossa hipótese de que o uso de softwares livres ou de


código aberto que satisfaçam os critérios do minimalismo tecnológico facilitam a
adoção das TICs, ao menos quando esta adoção é feita a partir da iniciativa do próprio
professor.

PROJETO LEIS DE NEWTON

Entre os objetivos deste projeto, de 4 semanas de duração, pretendíamos criar


uma situação real de aprendizagem para se aplicar os conceitos de aprendizagem
colaborativa, na perspectiva conectivista, além de se introduzir e experimentar as
ferramentas livres de fomento e apoio às comunidades de aprendizagem.

Figura 4 – Projeto Leis de Newton

No projeto, cada grupo de alunos deveria escolher uma simulação (VEIT, 2002)
de experimento sobre Leis de Newton (Figura 5), construir uma montagem real do
experimento e publicar nas ferramentas da comunidade de aprendizagem um “Roteiro
de Replicação do Experimento”.

8 http://www.gnu.org/software/mailman/index.html
9 Mensagens indesejadas e não solicitadas.
Figura 5 – Uma das Simulações do Projeto Leis de Newton

Ainda sobre o experimento, ao contrário das abordagens usuais (LABURÚ,


2003), o nosso objetivo com o mesmo era criar uma situação conectivista de
aprendizagem onde a resolução de um problema real funciona como estratégia para
mobilizar aquilo que o aluno já sabe, o que ele ainda não sabe ou aquilo que ele sabe
nebulosamente (SIEMENS, 2005), em termos de conceitos físicos. Não tínhamos como
objetivo aferir se o alunos aprendem mais ao se organizar a situação de aprendizagem
deste modo.

Uma Descrição Analítica da Realização do Projeto – Resultados Obtidos

Escolhemos três (3) ferramentas livres para mobilizar e animar nossa


comunidade de aprendizagem. Cada uma delas pensadas com uma função bem
específica dentro do projeto. No caso da lista de discussão, a idéia era incentivar a
colaboração e interação assíncrona dos alunos, para além da sala de aula, na resolução
do problema proposto.

Entretanto as interações, via lista de discussão, ficaram muito abaixo do


esperado, mesmo levando-se em conta as aprendizagens vicárias (BATISTA, 2006).
Talvez, em função do hábito cotidiano dos alunos se posicionarem passivamente frente
a situações de "ensino", ainda que estivéssemos, agora, numa situação explícita de
aprendizagem.

Sobre o uso do wiki, que deveria ser utilizado como ferramenta de publicação
dos “relatórios de replicação” e o blogue, que deveria ser utilizado como ferramenta de
interação e publicação das etapas do projeto, verificamos que os alunos preferiram este
último em detrimento do primeiro.

O que se aproximou e o que não se aproximou do esperado no Projeto Leis de


Newton

Tendo em vista que o perfil dos alunos do Colégio Pedro II, Unidade Escolar
Centro, nas três (03) turmas onde o projeto foi realizado, indicava que a maior parte
deles tinham acesso regular a internet e já utilizavam, com regularidade, as ferramentas
necessárias para as interações do projeto (navegador web e cliente de correio eletrônico)
verificou-se que a escolha de ferramentas simples, baseadas no paradigma do
minimalismo tecnológico, foi uma decisão acertada, pois as dificuldades de uso das
ferramentas foram pontuais e isoladas.

O envolvimento e esforço dos alunos em realizar o experimento, cuja tomada de


dados era tecnicamente difícil, principalmente levando-se em conta a infra-estrutura
precária do laboratório de física do Colégio Pedro II, onde se utilizou basicamente
réguas e relógios com acionamento manual, revela que atividades que os tirem de uma
postura passiva, ainda que implique trabalho e "stress" é bastante motivadora para eles,
como podemos notar neste depoimento:

“Com a realização do experimento, mesmo com todos os enganos e


estresses, participamos ativamente do processo de aprendizagem.
Nossos erros interferem diretamente e temos a possibilidade de reavaliar
nossas noções.

Na simulação existem menos erros, mas nos distanciamos demais do


processo. Há mais precisão, mas nos distanciamos do mundo real, do
mundo onde os verdadeiros processos físicos acontecem, onde nós
estamos e onde isso tem alguma importância.” (APRENDENDO
FÍSICA, 2007b)

Por outro lado, o item que mais se distanciou da nossa expectativa no desenho da
realização do projeto foi o nível de interação e cooperação entre os alunos, quer seja
entre os grupos, quer seja entre as turmas, como se pode ver no levantamento abaixo:

• Turma 102 - 77 mensagens sendo que destas, 33 foram do professor.

• Turma 104 - 43 mensagens sendo que destas, 20 foram do professor.

• Turma 106 - 30 mensagens sendo que destas, 20 foram do professor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho apontamos uma estratégia para que a Escola possa romper com a
atual tradição de ensino, apostamos no uso das redes colaborativas de aprendizagem
centradas no referencial conectivista. Pretendemos privilegiar situações de
aprendizagens centradas na colaboração e na conexão de pessoas, recursos e,
eventualmente, de dispositivos educacionais.

Nele, procuramos mostrar que a escolha de Softwares Livres e/ou de Código


Aberto traz consigo a vantagem de se introduzir a filosofia do compartilhamento e uso
socialmente justo dos conhecimentos que são, em termos práticos, construídos
coletivamente pelas redes de aprendizagem. Nesse sentido, usar Softwares Livres e/ou
de Código Aberto em Redes Colaborativas de Aprendizagem é um caminho e uma
estratégia que julgamos mais adequados para a consolidação de uma Escola centrada em
aprendizagens e que, também, prepara os seus alunos para viverem plenamente a Era da
Informação e do Conhecimento.
Evidentemente, como pudemos constatar no nosso estudo de caso, a construção
dessa nova Escola centrada nas aprendizagens exige mudanças não somente em termos
de paradigmas tecnológicos, mas sobretudo, em termos culturais e de práticas
pedagógicas. É necessário criar/desenvolver novos hábitos e práticas escolares, desde a
formação de professores até a constituição de cada vez mais atividades educacionais
colaborativas e voltadas para as aprendizagens, integradas aos programas escolares.

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