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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEMTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
V,. r"=r&

filo son o

OEUCIÁÓ
60UTCINA

&Í&LJA
MORAL

tire, . .yí^ <*!-nífr 5>T> í j í j,-1 # * -:


f'ifjí.

í/

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Indi ce

Pég.

A MAE DA VIDA 193

Palavra típica:

CONTESTADO : QUE É ?
ONDE SE ENCONTRA HOJE NA IGREJA ? 195

Celeuma dos últimos tempos :

E A "MISSA LEIGA" NO TEATRO ? 209

Cartelra de Identldade ?

IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA BRASILEIRA (ICAB)


É IGREJA DE CRISTO? 218

Mals um surto religioso hoje :

MOVIMENTO PENTECOSTAL ENTRE CATÓLICOS 230

RESENHA DE LIVROS 208


239

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA


A MÁE DA VIDA
A piedade crista sempre devotou especial veneracáo a
Mapa. SS., a Mae do Salvador. Era nossos dias, essa particular
estima nao foi supressa, mas colocada mais plenamente sobre
as suas autenticas bases, que sao as bases bíblicas.
Quem é, pois, María na Biblia ?
Jesús, no Evangelho, designa-a por duas vezes com o título
de «Mulher». Asslm ñas bodas de Cana, quando diz: cHue
temos n6s.com isso, mulheir ?» (Jo 2,4). Aínda pouco antes
de morrer, o Salvador entregou Joáo, o discípulo bem-amado
(representante de toda a humanidade), a María com as pa-
tavras: «Mnlher, eis o teu filho» (Jo 19,26).
O apelativo «mulher> talvez parega estranho nos labios
de um fílho que se dirige á sua mfie. No Evangelho, porém
faz eco aos textos bíblicos de Gen 3,15: «Colocare! inimizade*
entre ti (serpente) e a mnlher, entre tua linhagem e a dela>
e Gen 3,20: «O homem chamou a sua molheír Eva, porque ela
ftn a máe de todos os vivos». María, designada como «Mulher>,
aparece como nova Eva, a máe dos viventes.

María, por conseguinte, vem a ser a Mulher por excelen


cia; é a Dama, a Senhora. Ela reassume o papel da primeira
mulher que a Biblia conhece, e o retifica; por sua matenr-
dade ela dá a luz a Vida, e nao a morte ; concorre para a
Vitoria da Vida sobre a morte, gerando o Salvador e todos
aqueles que, pelo batdsmo, participam da vida do Salvador.

É a maternidade de María que se refere qualquer outra


maternidade; a máe crista, de modo especial, continua o papel
de María, dando á luz novos irmáos de Cristo.

Vé-se, pois, que o título mais característico de María na


Escritura é o de MSe, Máe do Salvador intimamente associada
á restauracáo do género humano. Essa máe foi virginal, con
forme as Escrituras e a Tradigáo crista (cf. Is 7,14; Mt 1,22);
a virgindade física de María significa a sua dedicacño total á
missao que Deus Ihe confiou ; María se conservou toda para
o plano do Pai.

Qual seria entáo a resposta do cristáo á figura de María


tao importante na Biblia e, por conseguinte, na espirftualidade
crista ?

— 193 —
— Observemos que o programa de vida de qualquer cris-
tao e, conforme Sao Paulo, configurar-se ao Cristo Jesús •
«predestinado a ser conforme á imagem do FUho> (cf. Rom
2,29). Nada há de mais básico e essencial do que «deixar que
Cristo viva cada vez mais naqueles que se tornaram seus
pelo batismo: «Vivo eu, nao eu ; é Cristo que vive em mim
Cristo que me amou e se entregou por mim» (Gal 2,20).

A vida do cristáo é, pois, cristocéntrica. Ora Cristo se


gundo o Eyangelho, foi todo «filho do Pai», cuja vontade Ele
veio cumprir com plena dedicacáo (cf. Le 2,49; Jo 4,34; 5,17-
7,16s...); por isto o cristáo é sempre filho do Pai. Mas Cristo
foi também todo «filho de María»; pode-se dizer que, em
relacáo á sua Máe Santíssüna, Jesús foi o melhor de todos os
filhos. Destas verdades, portante, se segué que, quanto mais
o cristáo realiza a sua vida crista, configurando-se a Cristo,
tanto mais também há de conceber venerac&o e estima a
María SS.; reproduzindo em si o que o Cristo Jesús sentía
(cf. Flp 2,5), ele experimentará para com María algo do amor
que Cristo dedicaya a sua Máe. Esse amor está longe de signi
ficar sentimentalismo ou doce afetivldade; é, antes do mais,
urna atitude de espirito que se traduz em reconhecer as prerro
gativas de María (a obra-prima do Criador) e em dedicar-lhe
a confianca espontanea que um bom filho consagra a sua
máe. «Ser para María um outro Jesús», eis o programa do
cristáo em rela;áo á Máe de Deus.

Invocar María, pedir-lhe a intercessáo junto ao Filho


sempre foi usual entre os cristáos, que nisto também seguiam
a orientacáo do Evangelho. Na verdade, Jesús realizou o seu
primeiro prodigio em favor dos homens a pedido de María, a
Mulher e Máe previdente: «Eles nao tém mais vinho», disse
ela ao Salvador ñas bodas de Cana; ao que acrescentou com
grande firmeza, dirigindo-se aos servidores da casa: «Fazei
tudo o que Ele vos disser» (Jo 2, 3.5). Foi também por inter
medio de María que Jesús quis sentíssem os homens pela pri-
meira vez a alegría de sua presenca neste mundo; sim, visi
tando sua parenta Isabel, Maña deu ocasiáo a que Joáo exul-
tasse no seio materno e a velha genitora prorrompesse em
júbilo (cf. Le 2,41-45).

Possa o mes de maio, dedicado a María SS., contribuir


para que estas verdades mais e mais se impregnem na mente
dos cristáos, redundando em auténtica renovacáo da piedade
mariana e da vida crista !
E.B.

— 194 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano Xld — N« 149 — Molo de 1972

PaJavra típica :

contestado: que é?
onde se encontra hoje na igreja?

urna s tuacfio ou urna pessoa em nome das convlccoes intimas daquelo que
protesta. É dar eslemunho de urna filosofía ou concepto de vida de modo
a provocar confino.

h» , iA conf«sta5fio «ntrou últimamente na Igreja. É forte na Europa Oc¡-


dental e na América (do Norte, do Centro e do Sul). Quase nao se verifica
^ÍTSm°c ° "Í!1? nos,países doml"«»09 por reglme soviético (prlnclpal-

testos, declaracoes, protestos, congressos...

Nos países para além da Cortina de Ferro, a necessidade de coeeSo


oüL dS^ni^M8? Permltí^p6rda de lemP° e ener9|a em movimentol
que dlsseminem dlvlsáo e azedume.

a a Ia AÍ!lcaJ t Ia Asla> as Popules sao, por natureza, tranquilas e


dadas á solldariedade; a contestacfio pode ter o sabor de moda estrangelra
— o que nfio atral as populecSes nativas. Ademáis, principalmente na África
estfio multo vivos e vigorosos certos valores humanos, que as grandes cul
turas soflstlcam e deturpam: o respelto ao sagrado, a reverencia á autori-
dade, a ordem natural das coisas...
Num artigo segulnte (próximo número de PR). examlnar-se-á o fenó
meno da contestacío dentro da Igreja, do ponto de vista jurídico e teológico.

Comentario: Desde os acontedmentos de maio 1968 na


Franga, guando se verificou violenta rebeliáo de estudiantes e

195 —
RESPONDI-IREMOS» 149'1972

trabalhadores, está em voga a palavra «contestagáo» Com-


preende-se que equivalha a «protesto, impugnagáo», mas nem
sempre se percebem, á primeira vista, todos os matizes que o
vocabulo incluí e insinúa. Sao efeitos da contestado os combates
de rúa contra forcas da policía, os assaltos a edificios gover-
namentais e a Embaixadas ou Legacóes estrangeiras, os comi
cios e as passeatas de massas, as assembléias tumultuadas, as
graves, as rebelióes de jovens (-as vezes, com menas de vinte
anos de idade).

O fenómeno da contestacáo entrou mesmo na Igreja pro


vocando rebulico e mal-estar, pois que doutrina e disciplina
sao postas em xeque. É o que sugere a conveniencia de se re-
ftetir com lealdade sobre o fato da contestacáo na Igreja con
temporánea, a fim de se compreender o seu significado e se
esbocarem as respostas que ela pede. Eis a tarefa das páginas
que se seguem.

T. Contesta$£o : que é ?

A palavra «contestacáo» vem do vocabulo latino «contes-


taüo», que significa «apelo solene a dar testemunho, afirmacáo,
acáo de conjurar...» Ñas línguas neolatinas, «contestacáo
designa «debate, disputa, discussáo sobre os direitos ou as pre-
tensóes de alguém a alguma coisa». Nos últimos anos, a palavra
tomou sentido mais preciso e técnico, significando a impugnado
das estruturas soc&ais vigentes. As línguas anglo-sax&nicas cos-
tumam exprimir este fenómeno pelos vocábulos «Auflehnung,
Protest» (alemáo) e «protest, rebellion» (inglés). Contudo o
holandés já formou o neologismo «Contestatie» e o mais
recente léxico alemáo de conversa já inclui o verbete «Kontes-
tation» (cf. «Brockaus Enzyklopádie», tomo 10 Wiesbaden
1970).

Vé-se, pois, que «contestacáo» é fenómeno humano táo


antigo quanto «protesto e rebeli&o»; mas nos últimos tempos
tem apresentado matizes próprios, decorrentes das atuais con
junturas sócio-económicas do mundo. Foi mais precisamente
em malo de 1868, por ocasiao da revolta dos estudantes e ope
rarios em Paris, inspirada fortsmente pelas idéias de Herbert
Marcuse, que o vocabulo «contestacáo» comecou a exprimir
algo de típico da vida contemporánea.

Em poucas palavras, pode-se dizer que hoje em dia con


testacáo é a critica ou mesmo o ataque dirigido contra urna

— 196 —
CONTESTACAOJ^ IGREJA 5

situacáo ou uma(s) pessoa(s) em nome das conviccóes íntimas


de quem protesta. Contestar é dar testemunho de urna sentenca
ou de urna filosofía de modo a provocar conflito.

A contestagáo tem-fie verificado tanto sob os regimes libe


ráis (nos EE.UU., na Franca, na Alemanha Federal, na
Italia...) como sob os regimes socialistas e totalitarios (Rússia
Polonia, Iugoslávia, Hungría, Tchecoslováquia...). Ela se volta
contra as instituicoes como tais e apregoa um novo tipo de
sociedade um tanto vago, em que reinem amizade, igualdade
mutua aceitagáo dos homens... O contestatario protesta, nega
mas geralmente nao oferece solugáo precisa.

Neste ponto, a contestagáo se diferencia da revolticao- esta


recorre á violencia das armas e procura tomar o poder; o revo
lucionario se dispóe a instituir outro regime sódo-político, re-
gime antagónico ao que ele quer derrotar. O contestatario ao
menos em teoría, tem horror a tudo que seja instituicáo ou
sistema de poder estabelecido. Marx e Mao-Tse-Tung foram
revolucionarios, e nao apenas contestatarios; Marcuse e seus
discípulos sao contestatarios, mas nao chegam a ser revolu
cionarios (no sentido estrito desta palavra). Nao há dúvida
de que a contestagáo pode vir a ser revolucáo, mediante o
recurso á violencia e ás armas»

Vejamos agora as formas que a contestagáo tem assumido


na Igreja Católica.

A respeito da Marcuse e suas ¡dóias. cf. PR 106/1868, pp 405-416-


114/1969, pp. 229-239.

2. Contesta$ao na Igreja

Tambérn na Igreja se verifica o fenómeno da contestagáo,


que consiste em protesto contra as leis e as autoridades, em
nome de determinada perspectiva teológica ou filosófica. Esse
protesto provém de individuos isolados ou de grupos que se
formam espontáneamente e levam a sua vida própria, mais ou
menos desligada do conjunto eclesial. O fenómeno nao atinge
a Igreja do mesmo modo em todos os continentes : é muito
fraco ou mesmo inexistente ñas regióes submetidas a regime
comunista (ai a coesáo dos cristáos é capital para assegurar
a luta contra o ateísmo); também é praticamente nulo nos
países recem-evangelizados da Asia, da África e da Australia

— 197 —
i «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 149/1972

como tambán nos territorios onde os católicos constituem


nunoria. É na Europa Ocidental e na América (Setentrional,
Central e Meridional) que a contestagáo dentro da Igreja
mais se faz sentir, causando tumulto e mal-estar na opiniáo
publica. *

Percorramos rápidamente o panorama da contestacáo na


Igreja de nossos dias.

2.1. Europa Ocidental

A partir de 1968, existem em quase todos os países da


Europa Ocidental grupos de cristáos que dizem aspirar seria
mente a urna renovacáo radical da Igreja, pois julgam que as
diretrizes lancadas pelo Concilio do Vaticano II vém sendo
aplicadas com demasiada cautela e lentidáo. Esses grupos nao
aceitam o título negativo de «contestatarios»; preferem cha-
mar-se criticamente ativoa ou solidarios (solidarios com todas
as vitímas de forcas deletérias que atuam no mundo). Forma
dos espontáneamente, esses grupos nao tém existencia reco-
nhecida pelas autoridades da Igreja; dirigem-se a estas me
diante dedaracóes, protestos, condenacóes; apenas em um ou
outro caso foram reconhecidos como interlocutores pela hierar-
quia da Igreja. A maioria desses «renovadores» está, de um
modo ou de outro, em contato com a dita «Assembléia Inter
nacional dos Cristáos Solidarios», que tem seu Secretariado
Internacional em Louvain (Bélgica).

Na Franca, criou-se em junho de 1969 o grupo «Échange


et Dialogue» (Intercambio e Diálogo), que tem em vista soli-
dariedade com todos os oprimidos, ou seja, engajamento social
e político. Em 1971, tal grupo já contava cerca de mil membros.
Após intercambio com «Échange et Dialogue», o Secretariado
do episcopado francés dedarou, em coméeos de 1970, que «essa
associacáo nao preenche as condigdes de auténtica procura
eclesial».

Na Holanda, o movimento contestatario é ardente, con


tando com pensadores de elevada cultura. As reivindicacóes dos
descontentes holandeses fizeram-se ouvir particularmente ñas
seis sessóes do Concilio Pastoral da Holanda (1968-1970) •
cf. PR 102/1968, pp. 250-265.

A inquietacáo nao chegou ao termo. Formou-se na Holanda


o grupo Septuagint (Setenta), assim dito por causa do seu

— 198 —
CONTESTACAO NA IGREJA

'número inicial de membros; hoje conta com mais de 2000


adeptos, entre os quais se acham pastores da Igreja Reformada
(Calvinista) da Holanda.

Na Alemania Federal, constituiu-se o «Kritischer Katholi-


zismus» (catolicismo crítico), que adota posicóes audaciosas.
Alem do que, existe desde maio de 1969 o grupo «Arbeitsge-
meinschaft von Priestergruppen in der Bundesrepubük Deutsch-
]and» (Comumdade de trabalho de grupos sacerdotais na Ale-
manha Federal). Este movimento está subdividido em mais
de 25 secóes locáis, que tém cada qual o nome de Akttonskreis
(Círculo de acáo) ou Solidaiitatsgnippe (grupo solidario) ; o
respectivo número de membros cresce constantemente e' se
reúne regularmente a fím de estudar as relacóes entre a Igreja
o o Estado, problemas de desenvolvimento, casamentes mis
tos, etc.

Na Inglaterra, registram-se o «Catholic Renewal Move-


ment» (Movimento Católico de Renovacáo), o qual conta com
mais de 3000 membros; o movimento mais modesto «One for
Christian Renewal» (Unidos para a renovacáo crista), que data
de 1970 e segué orientagáo ecuménica; e o «Catholic New Left»
(a Nova Esquerda Católica), que se interessa pela política em
sentido marxista.

Os grupos contestatarios europeus realizaram tres Con-


gressos internacionais nos últimos anos, a saber: em Coire
(Sirica), de 5 a 10 de julho de 1969; em Roma, de 10 a 16 de
outubro de 1969; em Amsterdam (Holanda), de 2S de setem-
bro a 3 de outubro de 1970, com a presenca de 350 membros
provenientes de aproximadamente trinta países, nao apenas
da Europa Ocidental. — Essas assembléias decorreram em clima
de protestos, reivindicacóes e criticas; formularam mais inter-
rogacóes e proposigóes negativas do que abriram pistas para
a solucáo de problemas e a auténtica renovacáo da Igreja. Os
congressistas de Roma (outubro 1969) pediram audiencia ao
Santo Padre Paulo VI — o que lhes foi denegado, entre outros
motivos, pelo fato de que a representatividade da.assembléia
nao era nítida. Nao obstante, os congressistas foram encerrar
os seus encontros junto ao altar da confissáo de Sao Pedro,
desejando assim exprimir a sua fidelidade á Igreja.

Passemos agora aos

— 199 —
8 «PERPUNTE E RESPONDEREMOS» 149/1972

2.2. Estados Unidos da América

Nesse ampio país, tres tipos de contestacáo se fazem sentir:


a) Protestos de ordem política contra sftna$5es tidas
como injustas

Grupos de católicos radicáis norte-americanos julgam que


a Igreja deve garantir a paz do mundo e promover transforma-
cóes nos setores corroídos pela injustica social. Em conse-
qüéncia, os Padres Daniel e Fllipe Berrigan levantaram solene
protesto contra a guerra do Vietnam, tencionando abalar a
opiniáo pública norte-americana e a consciéncia dos católicos.
Já em 1965, na cidade de Selma (Alabama), os católicos e
membros de outras confíssoes religiosas se associaram aos
negros do Sul dos Estados Unidos, que reclamavam o direito
ao voto, ocasionando assim um momento crucial na historia da
nacáo; a televisáo e os jomáis dramatizaran! a presenca de
padres e Religiosos postos em marcha, em alguns casos contra
a vontade de seus bispos ou Superiores.

b) Protestos contra o magisterio da Igreja

Foi nos EE.UU. que mais oposicáo se fez a encíclica «Hu-


manae Vitae», a qual condenou a contracepcáo artificial.

Poucos dias após a promulgacáo desse documento, o Prof.


Charles Curran e 19 membros da Universidade Católica de
Washington, com alguns sacerdotes, publicaram na imprensa
urna declaragáo que diferia da doutrina de Paulo VI. O arcc-
bispo de Washington suspendeu os presbiteros implicados no
caso e pediu a demissáo dos professores da Universidade. Muitos
dos contestatarios se retrataram. Ficaram, porém, a marca e
as conseqüendas do protesto no povo católico norte-americano.

c) DissMéncias silenciosas

Nos EE.UU. nota-se a formacáo de pequeñas comunida


des que se reunem para celebrar a sua liturgia e desenvolver
suas sentengas doutrinárias independentemente da legislacáo
eclesiástica vigente. Praticamente vivem á parte da Igreja,
embora nao levantem a voz para protestar e criticar. Consti-
tuem o que se chama a «Underground Church>, a Igreja sub
terránea, isto é, silenciosa ou damdestina, nao, porém, reti
rada as catacumbas. A respeito desses grupos já foi publicado
um artigo em PR 124/1970, pp. 172-182.

— 200 —
CONTESTACAO NA IGREJA

2.3. América Latina

Nos países latino-americanos, o fenómeno da contestacáo


está muito relacionado com as estruturas sociais, económicas
e políticas do continente. Muitos eclesiásticos e leigos, julgando
que a Igreja nao é suficientemente explícita ou enérgica na
denuncia e na impugnacáo de situagóes injustas, insurgem-se
tanto contra tais situagóes como contra as próprias autorida
des eclesiásticas. Para contestar, valem-se — nao raro abusiva
mente — dos documentos promulgados pelo n Congresso Geral
do CELAM em Medellin (Colombia) no ano de 1968.

«Libertagáo» tornou-se a palavra que sintetiza as aspi-


ragóes de numerosos cidadáos e camponeses dos países latino
americanos. Essa libertagáo tem conotagóes políticas: ela signi
fica a rejeigáo do dominio económico, social, político e cultural
vigente. Nessa libertagáo, concebida como realizacáo inicial do
Reino de Deus, váo-se empenhando leigos e sacerdotes do con
tinente, aceitando até o risco de entrar em confuto com as
orientagóes e normas de seus Superiores hierárquicos. Tenha-se
em vista o caso do Padre colombiano Camilo Torres, que dei-
xou o ministerio sacerdotal para participar da «libertado» e
veio a falecer em guerrilha. Tenham-se em vista também os
grupos organizados com os nomes de «Sacerdotes para el Tercer
Mundo» (Argentina), «Movimento Sacerdotal ONIS» (Perú),
«Golconda» (Colombia) e outros similares existentes no Equa-
dor, no Chile, na Guatemala, na Bolívia e em outros países. O
movimento ISAL (Igreja e Sociedade para América Latina)
congrega católicos e outros cristáos engajados decididamente
em prol da libertagáo, principalmente na Bolívia ; em julho
de 1968, o ISAL se declarava «un movimiento antiimperialista
e antioligarquico» (NADOC, 95, outubro 1968).

2.4. África

Na África quase nao se verifica o tumulto da contestagáo:


«A contestagáo nao é moeda corrente ñas Igrejas africanas»
(P. Wanko, em «Église vivante» 21 [1969], p. 444).

Por que se registra essa paz ?

1) Parece que se pode tranquilamente dizer que as co


munidades africanas, vivendo ainda muito em contato com a
natureza e certos valores nativos, nao sao táo sofisticadas

— 201 —
10
rPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 149/1972

quanto as de dvilizacáo ocidental; o respeito e a reverencia


para com a autoridade ainda tém voga entre elas. Dir-se-ia
que, ñas jovens comunidades católicas da África (comunidades
que contam um século ou menos de existencia), há mais can-
dura, simplicidade e naturalidade do que em certos ambientes
artificiáis de outros continentes. Afirmam, alias, os peritos que
tanto os africanos como os asiáticos tém a aspiracáo funda
mental la harmonía, á unidade c á paz.

2) O espirito de tribo e de clá que tanto marca os povos


primitivos, incita-os a solidariedade; urna voz contestataria
entre eles fácilmente é tida como agressáo á própria sociedade.
A contestacáo se origina mais fácilmente onde reina espirito
de individualismo e dessolidarizacáo.

3) Os meios de comunicacáo social — freqüentemente


portadores de idéias novas, revolucionarias, críticas ainda
sao assaz reduzidos quanto ao número e quanto á eficacia, em
térra africana ; o desenvolvimento das idéias e da vida segué,
conseqüentemente, um curso mais normal e homogéneo do
que ñas regióes «bombardeadas» pelo som e a imagem.

4) A extensáo do continente africano, a multiplicidade


de linguas e dialetos, os compartimentos-estanques das diversas
tribos locáis contribuem para reduzir as probabilidades de éxito
de qualquer movimcnto de contcstagáo.

Todavía o que acaba de ser dito se aplica estritamente aos


cristáos nativos da África. Os estrangeiros que lá trabalham
na qualidade de portadores do Evangelho e da civilizacáo, nao
sao igualmente tranquilos; contestam nao raro as situacóes
que lhes é dado observar; as diferencas económicas e sociais,
os resquicios do que lhes parece ser colonialismo, os afetam
profundamente e movem ao protesto.

É digno de nota, porém, o fato de que os bispos católicos


africanos nao se deixam impressionar pelo fenómeno da con
testacáo que da parte dos europeus possa surgir na África: a
contestagáo aparece-lhes como um modelo do figurino europeu,
que eles rejeitam em nome da sua autenticidade. Eis alguns
documentos que ilustram esta afirmacáo.

Em agosto de 1970 o Cardeal Zoungara (Alto Volta), par-


ticipando do n Simposio das Conferencias Episcopais da África
e de Madagascar em Abidjan, falou do «escándalo da contes-

— 202 —
CONTESTAQAO NA IGREJA H

tacáo>... O arcebispo Gantín (Dahomey) repetiu a mesma


expressáo e continuou: «Talvez em outros continentes as pa-
lavras submissao e obediencia soem mal aos ouvidos daqueles
que a todo prego querem a contestacáo, mas nos estamos na
África, nao na Holanda ou na Franca».

Quando em 1970 o S. Padre Paulo VI visitou o territorio


de Uganda, disse-lhe em alocucáo o Cardeal Rugambwa (Tan
zania) : «A atual situacáo de contestagáo no seio da Igreja
parece-nos ultrapassar os limites do diálogo e da procura».
Acrescentou: «Nao esquejamos que a Igreja da África nao é
a Igreja da Europa nem a dos Estados Unidos. Nossos proble
mas nao sao idénticos aos dessas Igrejas. Creio que a iniciativa
de mudanca e adaptagáo para a Igreja da África deve provir
dos africanos». Observou, de outra feita, Monsenhor Nruyahaga
(Burundi) : «A Europa é contagiosa», e Mons. Yungu (Congo
Kinshasha) : «A Igreja da Europa tem seus problemas; ontem
era o diálogo; hoje é a contestacáo... Estamos espantados
diante das perspectivas de reacáo que essa contestacáo pode
provocar (ñas jovens Igrejas)».

Em outra ocasiáo aínda, o Presidente Banda, de Malawi,


insistiu junto aos bispos a fim de que sejam vigilantes frente
as idéias progressistas em materia religiosa; disse: «A ten
dencia atual nos países europeus é de colocar tudo em xeque,
até mesmo a existencia de Deus. Nao permitirei que meu povo
seja precipitado no desconcertó».

Muitos bispos africanos mostram-se mesmo reticentes


diante de inovagóes litúrgicas e pastorais, diante de novas opi-
nióes teológicas e diante dos debates sobre o controle da nata-
lidade e sobre o celibato, diante das críticas á estrutura e a
autoridade da Igreja e ao Papa. Desejam que seus presbíteros
e fiéis se atualizem na própria África, e nao na Europa, pois
nao querem que a África se torne campo de experiencias ino-
vadoras radicáis. Chegam a lamentar um certo «imperialismo
religioso ocidental» !

2.5. Asia

Também na Asia o fermento da contestagáo é raro. Este


fato se compreende a partir dos seguintes dados :
1) Em geral, as comunidades católicas da Asia contam
número relativamente exiguo de membros e acham-se assaz

— 203 —
J5 cFERGUNTE E RESPONDEREMOS> 149/1072

distanciadas urnas das outras. Esforganinse por sobreviver em


meio a populacóes que professam outras crengas religiosas (em
Israel, na Siria, no Iraque, no Irá, na Arabia, na Turquía, na
Jordania, no Afganistáo, no Laos, no Camboja, na Tailandia,
em Macao...) ou estáo subjugadas pelo comunismo (na China,
no Tibe, na Coréia do Norte, no Vietnam do Norte...). Os
fiéis católicos nao aceitam criticar a Igreja em público, visto
que constituem urna minoría, que sempne pareceu ser um bloco
monolítico. A oposicáo ao comunismo e o problema dos refu
giados tornam os católicos de Formosa, de Hong-Kong, do
Vietnam do Sul, da Indonesia, de Singapura, da Malasia unidos
na resistencia ao comunismo e mais leáis ia Igreja.

2) A mentalidade asiática nao é propensa as contesta-


góes, pois tende á docilidade e ao respeito para com a auto-
ridade.

Em conseqüéncia, a contestagáo, em qualquer de suas for


mas entre os católicos da Asia, é fácilmente tida como con-
cessao aos adversarios da Igreja e algo de antipopular.

Entre as excegóes a este fato, pode-se registrar a resisten


cia mais ou menos aberta que a encíclica «Humanae Vitae»
(sobre o controle dos nascimentos) encontrou na India. Apon-
tam-se também as ilhas Filipinas, cuja populagáo é quase to
talmente católica.: certas sacerdotes e estudantes ai levantam
questóes a respeito de relagóes entre Igreja e Estado, justra
social, celibato do clero, controle dos nascimentos... Tal ques-
tionamento tende a tornar-se cada vez mais vultoso e incisivo.

Terminemos este percurso na

2.6. Australia

A Igreja Católica nesse continente conta apenas 150 anos


de idade. Procede de um grupo de cerca de 300 irlandeses e
ingleses imigrantes, que, com a graga de Cristo, lhe deram o
impulso para se constituir hoje numa comunidade de dois
milhces e meio de membros, ou seja, aproximadamente a
quarta parte da populagáo australiana. A idade jovem do cato
licismo na Australia e o fato de constituir urna minoría tornam
o fenómeno da contestacáo pouco interessante e atraente para
os católicos da grande ilha. Assim a encíclica «Humanae Vitae»
e sua.s conseqüéncias nao suscitaram ai a oposigáo que se
registrou nos EE.UU. da América. Nao se verifica desrespeito

— 204 —
CONTESTACAO NA IGREJA 13

á autoridade dos bispos e do Papa. Nao se ouvem inovagóes


aberrantes no setor da teología ou das ciencias sociais. Também
nao ocorreram defecgóes vultosas entre os sacerdotes e os
Religiosos. As instituicóes eclesiásticas sao acatadas; o S Padre
Paulo VI recebeu entusiástica acolhida por parte da comunidade
católica quando esteve na Australia. Em suma, cerca de 62%
dos católicos australianos praticam fiel e fervorosamente a
sua fé, e boa parte dos demais a professa com ánimo tranquilo
e confiante.

O panorama contestatario da Igreja de hoje assim apre-


sentado em poucas linhas suscita naturalmente serias mterro-
gagoes no espirito do leitor: será legitimo comportar-se de
modo violento na S. Igreja de Deus? A contestagáo se concilia
com o genuino espirito cristáo e edesial? Será sempre conde-
nável ou poderá alguma vez ser reconhecida como licita ex-
pressáo da vitalidade do povo de Deus ?

Visto que a resposta a estas perguntas se estenderia lon-


gamente, fica reservada para o próximo fascículo de PR. Por
ora proponemos algumas ponderagóes inspiradas por um texto
recente e altamente significativo.

3. Reflexóo final

O sacerdote francés Jean Rodhain escreveu algo de suas


impressóes sobre o Sínodo Mundial dos Bispos realizado em
Roma nos meses de outubro-novembro 1971. O artigo foi publi
cado em «L'Osservatore Romano», ed. francesa de 3/XH/1971,
p. 8, com o título «Les Apotres aux mains núes» (Os apostólos
de máos desnudas). Apresentava as seguintes consideragóes:

"Nesse Sínodo de Roma, pela primeira vez estavam pre


sentes alguns bispos de certos países de alóm da Cortina de
Ferro.

As suas intervencaes foram milito discretas.

Um deles declarou : 'Na minha patria toda atividade ex


tenor (religiosa) é proibida. Nossos Seminarios estáo fechados
Nao podemos nem editar um livro religioso, nem realizar urna
reuniao de Acio Católica. Apesar disto, a fé jorra de novo em
toda parte, principalmente entre os jovens'.

— 205 —
H ^PlWiGUNTE^ERESPONDEREMOS» 149/1972

Na assembléia, alguns, preocupados com comissoes e


técnicas, tiveram pena dessa Igreja tio pouco confortável Os
outros — a ¡mensa maioria — olharam para esses apostólos
de maos desnudas como para auténticas testemunhas da ver-
dadeira Igreja dos primeiros séculos.

As Igrejas do silencio ' olham para nos. Alguns minutos


de silencio, algumas linhas do Evangelho — e isto já é urna
prece — para obter essa fé. Urna fé viva. Urna fé tranquila.
Urna fé que nao se deixe intoxicar pelo ruido deste mundo,
ao mesmo tempo que ela ama os que compSem este mundo.

Pois é preciso que as Igrejas do silencio — e todos os


pobres silenciosos — possam contar com os seus irmáos".

Em nota acresosnta o autor a seguinte noticia extraída do


livro «Le Synode au tournant>, do P. Jean Lyon :

"Um ponto alto do Sínodo foi, sem dúvida, a intervencáo


de Mons. Aaron Marton, bispo de Alba Julia na Ruménia. Falou
da sua estupefacto e da sua pena por verificar as inquietacSes
e contradigoes das Igrejas do Ocldente. As Igrejas do Leste
julgavam outrora poder contar com as do Ocidente, com a
sua seriedade e solidez. Todos esses debates só contribuir§o
para aumentar a solidáo das Igrejas do silencio".

A propósito de táo breves, mas eloqüentes dizeres, seja


lícito sugerir duas reflexóes :

1) Pode-se em teoría discutir a validade da contestacáo


e chegar á conclusáo de que nem sempre é condenável, pois
pertence ao ritmo de vida de urna sociedade consciente de seus
valores. É provavelmente convictos disto que muitos dos con
testatarios contemporáneos, dentro da Igreja, empreendem e
sustentam os seus protestos e debates: desejam renovar a
face humana da Igreja (embora muitas veziss se inspirem em
concepcóes filosóficas e teológicas ambiguas ou mesmo erróneas).

Na prátiea, porém, a contestacáo tem sido um fenómeno


nocivo para a S. Igreja e, também, para o mundo nao cristáo,
que, indiferente em aparéncia, acompanha a vida da Igreja.

1 A expressfio "Igrejas" (plural) aquí ocorrento significa apenas "comu


nidades ecleslals" dentro da única Igreja de Cristo.

— 20S - ■•
CONTESTACAO NA IGREJA 15

A contestacáo pública e por vézes violenta tem dividido o


povo de Deus, tem solapado a sua coesáo, tem debilitado o
vigor de sua fé e de sua caridade, tem empalidecido o brilho
do testemunho de Cristo e do Evangelho que o mundo espera
dos cnstaos e que estes devem dar ao mundo.

Se alguém ou algum grupo tem algo a observar em materia


de doutrina ou disciplina da Igreja, faca-o em diálogo franco
e direto com as autoridades ou os pastores respectivos; evit*
que sua posicáo se assemelhe á de um partido de oposigáo"
como costuma acontecer ñas lutas da política. Tal atitude des^
figura a face «sem mancha nem ruga» que Cristo adquiriu
para a sua S. Igreja (cf. Ef 5,27).

Mais: quem tem algo a observar sobre as instituicóes da


Igreja, leve em conta, ácima de tudo, o bem comum, o pro-
gresso espiritual do povo de Deus; pondere seriamente o al
cance de seus dizeres (talvez bem intencionados, mas inopor
tunamente expressos), a fim de nao prejudicar ou destruir
em vez de construir.

_ 2) O fato de que nos países de além da Cortina de Ferro


nao há contestacáo, compreende-se bem: a hostilidade do am
biente obriga os eristáos a manter-se coesos entre si, evitando
abrir em seu gremio qualquer brecha causada por suspeita ou
dcsconfianca mutua. Onde o regime governamental é hostil,
os cristáos talvez valorizem de novo modo o imenso dom da fé
e a necessidade de testemunhá-la com toda a lucidez; nao há
tempo a perder com discussóes e debates sutis entre irmáos.
Por isto também a fé renasce e se reafirma ; as vocacóes sa-
cerdotais e religosas se multiplicam de modo surpreendente na
Polonia, na Iugoslávia, na Hungría...

Nos países ocidentais, a liberdade e a paz religiosas seriam


justamente o clima propicio para o florescimento da fé. Se isto
nem sempre se dá, pode-se perguntar se nao estamos intoxi
cando o ambiente cristáo com azedumes e amargores,. se
nao falta no Ocidente um pouco daquilo que por tras da Cor
tina de Ferro se nota: consciéncia do imenso valor da fé, que
em hipótese alguma pode ser posta em perigo por motivos sutis
ou pessoais, .. .consciéncia de que a Igreja é um sacramento
ou urna realidade sobrenatural, que nao pode ser tratada como
qualquer sociedade humana,... consciéncia de que o cristáo
é apostólo, é missionário tanto por suas palavras como pelo
testemunho de sua vida.

— 207 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 149/1972

Possam o sofrimertto e a expectativa das comunidades do


silencio ser entendidos pelos cristáos do Ocidente de tal modo
que estes aproveitem de sua liberdade religiosa para viver mais
plenamente a fé e reconfortar os irmáos sofredores assim como
o mundo que, mesmo quando parece incrédulo, é extremamente
atento á vida da Igreja Católica !

Bibliografía:

Revista "Conclllum" 1971, n? 68 (ed. francesa): Drolt Canonlque.


ConJfr£ncla Nacional dos Blspos do Brasil, "Unldade e Pluralismo na

Andró Tange, "L'Église et la contestaron". París 1971.


ídem, "Analyse psychologlque de 1'Égllse". París 1970.
Josó-Marla Gonzalez-Rulz, "Démocratle, communauté, autorlté dans
lEglIse", em "IDOC Internatlonal", n9 1, 1/V/1969, pp. 67-84.
Cuminetti, "L'affrontement de deux eccléslologles", Ib n? 37
, pp. 50-95. ' '

Em geral, os fascículos de "IDOC Internatlonal" tratam das questfles


discutidas pela contestacfio na Igreja.

Revista "Esprlt", rtov. 1971 : "Rélnventer l'ÉglIse 7"

A onusto hoje. Dos discursos de Paulo VI. Colecáo <Fé e Vida»


n» 2; traducáo das Monjas Beneditinas da Abadía de Santa María
- - EdicSes Paulinas. Sao Paulo 1971, 130 x 180 mm, 226 pp.

A oracáo sempre foi a respiracáo vital do cristáo. «Quem ora bem,


vive bem», diziam os antigos mestres. Hoje em dia a oracüo é menos
praticada, em parte por causa do acumulo de aíazeres que pesam
sobre cada cristáo, em parte talvez porque se vai esquecendo o valor
primordial da oracao. Eis por que nao raro em suas audiencias sema-
nais o S. Padre Paulo VI volta ao assunto. O presente livro aborda a
oracüo como encontró com Dcus, a oragao biblico-litúrgica, a oracüo
dos Religiosos e Religiosas, dos pastores de almas, a necessidade de
orarmos todos em nossos tempos, principalmente em momentos fortes
e propicios. Termlna-se com urna coletanea de preces redigidas por
Paulo VI. — OS. Padre é sempre simples e claro em suas audiencias
públicas; acompanha com realismo a vida de hoje com seus problemas
e questOes procurando responder-lhes com profundo espirito de íé.
Eis o que torna particularmente valiosa a coletanea de textos ácima.

— 208 —
Celeuma dos últimos tempos:

e a "missa leiga" no teatro?1

Em síntese: A peca de teatro "Mlssa Leiga", percorrendo as partes


sucesslvas do rito de celebracfio da S. Mlssa (sem consagracfio nem uso
de pBo e vlnho), é portadora de veemente mensagem : tonta despertar as
consclónclas para os graves perlgos que ameacam a humanldade contem
poránea: guerra, fome, Ignorancia, egoísmo, bomba atómica... sfio perlgos
que devem suscitar nos homens de boa vontade urna resposta inspirada por
amor fraterno e busca de paz. O estilo segundo o qual esta mensagem vem
transmitida, é penetrante e Incisivo. Mais de urna vez, os atores descem do
palco á píatela e Interpelan) diretamente os espectadores — o que os pode
levar a urna reflexfio construtiva. O cenarlo é tosco; os trajes pobres, a
particlpacáo de crianzas que despertam os atores prostrados no palco peta
dor e vflo, a seguir, fazer caricias ao público... sfio notas Importantes do
estilo da peca. O coro que dialogo e canta, é de elevado nivel artístico e
musical. — Em todo o decorrer da peca, nada se encontra que posea ofender
a fé católica ou tenha aspecto de Irreverencia aos sagrados valores do culto.
Apenas se poderla desojar que dols tópicos da peca em que o pecado dos
homens é apresentado, fossem retocados e aliviados. O titulo da peca pode-
ría ser trocado, visto que é ambiguo.

Comentario: Causou celeuma a apresentacáo da pega de


teatro «Missa Leiga» (ou «Oracáo pelo Destino do Mundo
o do Homem»), de Chico de Assis, em Sao Paulo. Destinada
inicialmente a ser exibida na igreja da Consolagáo, por último
encontrou acolhida no saguáo (adaptado em poucos dias) de
urna velha fábrica de chocolate, á Rúa José Antonio Coelho, 276,
onde passou a ser apresentada sob a direcáo de Ademar Guerra,
mima superprodugáo da empresária Ruth Escobar.
O título deriva-se do fato de que a pega procura acom-
panhar a seqüéncia de atos que constituem a celebracáo da

'Ver nota ao pé da p. 216 [24].

— 209 —
18 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 149/1972

S. Missa : Introito, Kyrie, Colecta, Epístola, Aleluia, Evange-


lho, Ofertorio, nada, porém, que corresponda propriamente á
consagracáo; por último, Comunháo precedida do «Pai Nosso».
A peca se encerra com urna paráfrase de trechos do Apocalipse:
o homem está sendo vitima dos flagelos da vida moderna; só
encontrará salvacáo se se entregar mais plenamente ao ge
nuino amor.

O adjetivo «leiga» do titulo da peca deve-se ao fato de


que os atores (que constituem um coro de cantores de elevada
categoría), após entrar com túnicas solenes, se despojam destas,
e realizam o resto da pega em trajes simples e decentes (calca
e camisa ou blusa). O conteúdo dos seus dizeres e cantos ins-
pira-se de textos bíblicos e litúrgicos, fazendo, porém, aplica-
Cáo as circunstancias em que se debate o mundo de hoje: há
os pecados do egoísmo, da falta de amor, da guerra, da corrida
desenfreada ao poder... Estes males ameacam a sobrevivencia
do próprio homem, que assim vai preparando a destruicáo do
género humano. Intercalados nesses quadros, severos e duros,
encontram-se apelos a imitar o Cristo que assumiu sobre si o
pecado do mundo e o expiou,... apelos a que os homens saiam
da inercia e se disponham a combater a fome, o sofrimento, a
ganancia, a guerra...

Abaixo procuraremos salientar um ou outro dos mais


notáveis tópicos da peca, ao que se seguirá urna reflexáo sobre
o conjunto.

1. Tópicos salientes

1. No introito, apresenta-se o fundo de pecado em que


jaz a humanidadc : há falta de amor, há fome, sensualidade
e outros males que ameacam o género humano. «O relógio do
mundo continua marcando as horas... Aínda assim existe o
Templo». Este só deixará de existir quando perecer o último
homem. Desse templo, pois, é preciso aproxirnar-se de máos
limpas e lavadas.

Após o introito, os atores se despojam de seus solones


trajes, o que significa a busca de austeridade e simplicidade,
em contraste com a vaidade e a ostentacáo, que fomentam as
rixas no mundo. Canta entáo o coro: «Quero a paz em toda
a térra, eles querem fazer a guerra. E eu sou pela paz, .sou
pela paz, pela paz e o amor, Senhor!»

— 210 —
«MISSA LEIGA» 19

2. Segue-se a exposicáo da dor da humanidade : «É pos-


sível que o sofrimento esteja nos planos de Deus ?», interroga
o intérprete-mor (que faz as vezes de celebrante). Insinua-se
assim que a dor, a fome, a guerra tém origem nao em Deus,
mas na miseria humana. Em conseqüéncia, o coro atira-se fre
néticamente ao solo e canta repetidamente : «Kyrie eleison...
Senhor, tende piedade de nos» (é este, certamente, um dos pon
tos altos da peca, do ponto de vista artístico).

3. O «Gloria» é introduzido por urna leitura do quarto


cántico do Servidor de Javé (Is 52,13-53,12). Após tal decla-
macáo, os atores descem á platéia, trazendo ñas máos coroas
de espinhos, martelos..., e interrogam insistentemente os es
pectadores : «Alguém está disposto a um sacrificio completo;
por toda a humanidade? Quem está disposto a ser escarnecido
por todo o povo reunido? Alguém quer vestir esta coroa (de
espinhos)? Há algum voluntario para ser furado de langa no
lado?... Para ser crucificado?» E concluem: «Se ninguém
está disposto, só nos resta parar o tempo da historia e cantar
'Gloria a Deus ñas alturas e paz na térra aos homens de boa
vontade' ».

4. A colecta consiste no seguinte : o «celebrante» exorta


a platéia a dar o seu testemunho sincero a respeito de quanto
lhe ofereceu a pega até entáo. Descem entáo alguns atores, mu
nidos de gravador, e pedem a um ou outro dos espectadores que
fale ao microfone; colhem-se assim as primeiras impreasóes
do público, as quais sao comunicadas á assembléia : em media,
algumas sao lacónicas, outras favoráveis.

5. A Epístola c um trecho da Biblia cuja escolha varia


vez por vez.

O Aleláis, vem a ser o canto da vida que há de triunfar da


morte presente, a qual ameaca a humanidade.

6. No Evangefho, ouve-se em tom veemente a exortacáo


de Joáo Batista — voz a clamar no deserto — dirigida aos
hipócritas : «Raga de víboras, quem vos ensinou a fugir da
ira que há de vir? Deus pode suscitar destas podras filbos a
Abraáo!» (cf. Mt 3, 1-12).

7. O Credo é um diálogo entre os atores, em que ressoa o


cstribilho : «É fácil abrir a boca e dizer Creio !» Procura de
nunciar a crenca falsa, incoerente, hipócrita, apontando o

— 211 —
20 -PERGUNT^ERESPONDEREMOSi J49/1972

exemplo dos Templarios, que foram acusados no séc. XIV de


graves faltas, apesar de se dizerem cavaleiros cristáos.

8. No Ofertorio, tem-se a apresentacáo (a Deus) de 10.000


anos de teatro: 10.000 anos de vaidade, de cinismo, de tor
peza, ... de beleza e de amor, juntamente com a oferenda
«destes palhacos da emocáo».

9. No «Orate fratres», o «celebrante» exorta seus compa-


nheiros a orar, o que quer dizer também : trabalhar um pouco
mais e interessar-se pelo destino do mundo.

Há entáo urna longa confissáo de faltas que o celebrante


profere e que o coro confirma : «Eu sou culpado por culpar os
outrcs... Eu sou culpado por ser avaro com o amor que posso
dar... Eu sou culpado por nao receber amor... Eu sou cul
pado por participar da destruigáo... Eu sou culpado por omis-
sáo no combate á destruido... Eu sou culpado pelos suicidios
dos homens».

Vém, a seguir, o Prefacio e o «Sanctus», após as quais


ocnnv diretamenio a

10. Comunhüo. O «Pai Nosso> é rezado em comum por


todo o coro. O sacrificio de Abraáo ó reproduzido, como que
para lembrar o sacrificio da cruz. O coro dispóe-se em forma
de cruz. Há urna exortagáo á comum-uniáo, que corresponde a
ceia da S. Missa (pao e vinho jamáis ocorrem na peca). E o
«celebrante» anuncia o fim da «Missa».

11. Logo depois desta, sem intervalo, a peca apresenta


urna quase paráfrass de trechos do Apocalipse de Sao Joáo.
Os sete selos (Apc 6,1-8,6) dáo ocasiáo a que o coro lembre os
males e flagelos que hoje abalam a humanidade, constituindo
para ela ameaca mortal: o homem é vítima do seu desinte-
ressa pela vida. Os sete selos do Apocalipse sao postos em pa
ralelo com as seguintes calamidades que ameacam nossos tem-
pos : Guerra, Fome, Poluicáo, Kybernos (Automacáo), Solidáo,
Angustia, Estroncio'. Também os sete dias da criagáo de que
fala Gen 1,1-2,4, sao apresentados como sete etapas <fc auto-
destruicáo do mundo e do homem : «No sétimo dia o mundo
descansará sob urna chuva de estroncio.. .» É entáo que sobre-

< é do estroncio 90 que se colhe a energía para fabricar a bomba


atómica.

— 212 —
MISSA LK1GA* 2L

vém urna bela e significativa invocagáo a Maria SS • «Stella


matutina, stella maris, ora pro nobis». Em réplica á civilizacáo
que ameaca desencadear o seu peso mortal sobre a humanidade
o coro canta louvores á natureza (á flor, ao pássaro...) e pede:
«Que eu viva em constante amor, sem nunca saber o que ó
o amor !•* — Desta forma encerra-se o espetáculo.

Resta agora tecer urna

2. Reflexóo sobre «Missa Leiga»

Desenvolveremos nossas consideracóes por etapas.

1. Evidentemente, cMissa Leiga» vem a ser um protesto


contra a chamada csociedade de consumo», em que os valores
da materia e da producáo chegam a avassalar e degradar o
ser humano. Por causa de bens materiais que pretende con
quistar, o homem escraviza e mata seu semelhante, como tam-
bem escraviza e mata a si mesmo. A pega, portante é mais
urna modalidade original e brasileira da contestagáo que grupos
jovens dirigem contra a guerra e a ganancia dos horneas vi
sando a apregoar paz e amor. O protesto de «Missa Leiga* ó
veemente ; o cenário tosco (principalmente o do galpáo da
velna Fabrica), os trajes simples e pobres dos atores, o calor
e a enfase das frases, os saltos e as correrías que os arautos
da peca executam no palco e na platéia, as atitudes trágicas
de prostracáo por torra, subida a urna escada, a interpelacáo
direta (ou também o desafio) ao auditorio por parte dos ato
res... exprimem ardor, pujanca de afetos e sao aptos a im-
pressionar profundamente os espectadores. A representagáo
termina com urna afirmagáo bem clara da tese do teatrólogo :
a civilizagáo cada vez mais requintada que o homem vai criando
(o «Templo de acó») é incapaz de lhe trazer a almejada feli-
cidade; esta so lhe provirá de urna volta aos valores naturais
á espontaneidade e ao amor.

Especialmente digna de nota ó a intervengáo de crianzas


em determinadas fases da pega, principalmente quando em
dado momento os atores se prostram no solo do palco signifi
cando o abatimento <da humanidade vitima de sofrimento e
miserias. As mangas entram entáo do fundo da platéia em
correría e váo despertar os adultos prostrados, reanimando-os
para assumir as tarefas da vida. A seguir, váo ter com o público

— 213 —
22 < PERGUNTE E RESPONDEREMOS ■;__i4gA972

na platéia e o acariciam com abragos e beijos. A crianza vem


a ser assim, ñas horas duras da luta, o símbolo da ternura e
do otimismo do homem.

No canto final da «Missa Leiga», nota-se a oposicáo entre


«viver» o «saber» («viva em constante amor, sam nunca saber
o que é amor»). Aqui transparece o antiintelectualismo dos
movimentos de contestapáo contra a sociedade de consumo.
Esse antiintelectualismo é reagáo contra o racionalismo, o «cal-
culismo» frío e desumano de épocas passadas (e do momento
presente), mas certamente constituí urna falha de tais movi
mentos, pois a inteligencia e o saber deveráo sempre fornecer
a luz necessária para que as paixóas e os sentimentos do homem
nao se tornem cegos ou nao se desvirtuem e anulem as melho-
res intencóes dos heróis (com esta observacáo, porém, nao en
tendemos depreciar diretamente «Missa Leiga»).

2. Sempre que temas religiosos sao abordados no cinema,


no teatro ou no romance, existe o risco de que venham a ser
desfigurados. Nao é este, porém, o caso de «Missa Leiga», onde
nao se pode dizer que haja alguma nota de desrespoito ou
irreverencia á Escritura Sagrada, á fé crista ou ás instituicóes
da Igreja. Se o autor da pega escolheu o cenário de urna Missa
(dita «leiga»), fé-lo para interpelar mais viva e diretamente
os cristáos a respeito das responsabilidades que lhes tocam
no programa de salvar os valores do homem e do Evangelho
na hora atual. Aos cristáos, de modo especial, compete dar
urna nota de espiritualidade e altruismo ás condicóes de vida
da sociedade contemporánea, reerguendo-a assim da corrida
ao materialismo e a autodestruigáo. Parece-nos todavía que
se pode notar o seguinte: visto que a peca se destina ao público
em geral, e nao apenas ao público católico, o teatrólogo nao
foi táo explícito quanto possível na afirmacáo de certos valores
típicamente cristáos: o sentido cristáo da historia, o significado
da Cruz de Cristo, a esperanca que o Evangelho desperta nos
seus adeptos, etc.

Chico de Assis, o escritor da paca, explica o seu propásito,


ñas seguintes linhas, que na verdade nao sao sempre claras,
mas ajudam o leitor a compreender a intencáo do autor :
"Este trabalho é urna oracflo pelo destino do mundo e da humanldade.
Cada parte deste texto segué as partes tradlcionals da Missa católica apos
tólica romana. A secularizado de multas partes sfio mensagens diretas ao
tempo e ao mundo e os textos sagrados fazem parte do tempo do templo...
Conscientes da nossa profunda ignorancia dlante do limite que demarca a

— 214 —
«MISSA LEIGA» 23

morte geral da humanldade que se autodestrói, nossa oracSo tem sentido.


Transportarmos o tempo do mundo para o tempo do templo fol a ligagao
maravilhosa que tentamos. O espanto dlante da absurdldade da socledade
atual é nosso grito perplexo de alerta. Recorrermos ao efemero e ao eterno
com a mesma slmpllcidade é a nossa forma de verdade" (Do Boletlm de
apresentacfio da peca, pp. 1 e 2).

Como se depreende destes dizeres, a peca pretende ser urna


orasáo a Deus e um apelo aos homens nesta hora difícil da
historia.

Aínda um pormenor de lingüística bíblica : seria para


desejar que nao se usasse o apelativo «Jeová», como ocorre
na pega, mas, sim, Javé, ou melhor, o Senhor, o Senhor Deas,
Deas. A fórmula «Jeová» é medieval, tendo-se tornado usua!
ñas edicóes inglesas da Biblia.

Quanto as acusacóes feitas aos templarios, os historiadores


reconhecem que eram, em grande parte, caluniosas, devendo-se
á propaganda cobicosa de Filipe IV o Belo, rei da Franca,
contra tais cavaleiros cristáos. Tais acusacóes sao declamadas
no palco para lembrar que pode haver hipocrisia e íncoeréncia
entre aqueles que professam o Cristo; há dois Cristos e duas
cruzes (o Cristo e a cruz dos auténticos cristáos, ao lado do
Cristo e da cruz dos hipócritas).

3. Do ponto de vista moral, a peca transcorre, de ma-


neira geral, em nivel digno. Em dois breves momentos, porém,
decai, a saber : quando apresenta o pecado do mundo anterior
mente ao despojamento dos trajes da vaidade ; .. .quando
descreve os pecados atribuidos aos templarios.

A varios espectadores poderá impressionar o fato de que


os atores da peca sao os que representaram «Hair» (as cabe-
leiras sao sempre um símbolo ambiguo e suspeito) ; as suas
atitudes e os seus clamores violentos talvez firam a sensibiü-
dade de parte da platéia. A índole obscura, lacónica, mal con
catenada de certas frases e cenas da peca também tem susci
tado reservas da parte do público. Estes sao traeos que earaetr-
rizam o teatro moderno, constituindo mesmo o scu estilo pró-
prio. Verdade é que o teatro moderno, ousado como é, tem
enxovalhado auténticos valores moráis e cristáos. Parece, porém,
que se pode tranquilamente afirmar que isto nao se dá em
«Missa Leiga»; os atores sao respeitosos para com a fé crista
e esmeraram-se, em múltiplos ensaios e reformulacóes, ix»r
produzir um conjunto isento de censura eclesiástica.

— 215 —
24 ^PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 149/1972

Para diminuir o impacto negativo que a peca possa causar,


sugerimos a troca do título «Missa Leiga» por «Oracáo pelo
mundo e a humanidade». A expressáo «Missa Leiga» lembra
talvez secularismo, dessacralizacáo traidora do auténtico sa
grado (coisas que estáo fora da intencáo do teatrólogo).

4. Em suma, a «Missa Leiga», dentro de um quadro que


poderia ser em poucos pontos retocado para melhor, apresenta
umamensagem positiva, merecedora de atencáo por parte de
cristáos e nao cristáos. Nada tem que deva ser necessariamente
tachado de ideológico (mandsta ou socializante) ; as suas
advertencias e exortacóes fazem eco as auténticas exigencias
do Evangelho. A pega desperta as consciéncias para graves
problemas que hoje desafiam a humanidade no plano físico e
no plano moral. O cristao, incitado a refletír sobre a mensa-
gem de «Missa Leiga», saberá assumir tudo que esta pega
tem de valioso e positivo.

Quanto á recusa de que a peca fosse exibida na igreja da


Consolagáo em Sao Paulo, deve-se reconhecer que foi sabia e
oportuna: nao se vé como um templo sagrado poderia, sem
desdouro, tornar-se cenário dos saltos, das corridas e de outros
gestos teatrais que caracterizam o desenrolar da «Missa Leiga».
Esta poderá ser representada em qualquer salió com proveito
para quantos quiserem abrir-se & sua interpelacáo.1

A propósito vejam-se comentarlos de "Missa Leiga" publicados no


Jornal "O Sao Paulo", da cldade de Sio Paulo, aos 6, 10 e 20/11/1972,
12/111/1972, asslm como no "Jornal do Brasil" de 12/111/1972 (cad. B, p. 1).

"SÓ NAO TEM TEMPO QUEM NAO SABE


APROVEITAR BEM O TEMPO"

(P. Gambi)

1 Este artigo já estava no prelo quando, em meados de abril de 1972.


os Jornals notlclaram "perseguicSo contra "Mlssa Leiga'", a qual fol "ex
pulsa" da Fábrica do Paraíso; os motivos, porém, nfio foram publicados.
— Nao estamos em condenes de apreciar este fato recente; as reflexSes
propostas neste fascículo sobre "Mlssa Leiga" supdem as circunstancias
anteriores a tal acontecimento.

— 216 —
...u Debrufado sobre
melhor?
urna materia que
¡he resiste, o trabalhador imprime-lhe o seu
rnnho, enquanto para ai adqnire tenacidade,
pngcnho e espirito de ¡nvencao. Mnis aínda,
vivido em conium, na esperanza, no sofri-
mento, na aspirnfño e na alegría partilha-
</«, o trabalho une as vontades, aproxima os
cspíritos e sóida os coracoes: realizando-o, os
horneas descobrem que sao irmaos."

PAULO VI
(Carta Encíclica Populorum Progreaio)

marco - 1967

DO
OQengefusa
Ética- Seguranca- Pioneirismo
Carteira de identidade ?

igreja católica apostólica brasileira (icab)


é igreja de cristo?

Em símese: A ICAB (Igreja Católica Apostólica Brasileira) é obra do


ex-bispo de Maura, D. Carlos Duarte Costa, que, imbuido de idóias naciona
listas, resolveu fundar urna igreja nacional aos 6 de julho de 1945.
Acontece poróm, qUe a Igreja de Cristo nao tem naclonalldade; ó
católica ou universal. O fato de ser designada como "Romana" se deriva
de que seu chefe vlslvel, o sucessor de Sao Pedro, tem sede em Roma.
Roma designa, pois, o governo central da S. Igreja, nao, porém, a sua
índole intrínseca. De modo semelhante, Jesús, o Salvador de todos os
homens, era dito "Nazareno", porque tinha cidadania humana em Nazaré •
este titulo, porém, nao significa preferencias naclonais ou nacionalismo ra
mensagem de Cristo.

A ICAB faz questao do imitar os atos de culto da Igreja Católica Este


plagio 6. em si. desonesto e Ilegal, pols Induz os fiéis a equívocos o erros
Ademáis os Interesses lucrativos Insplram fortemente a celebracfio tías
"Missas". dos balizados e dos casamentas da ICAB ; o que os mentores
desta desejam, é, multas vezes, promover a si mesmos.
Quanto á validado dos sacramentos (Eucaristía, ordenacSes.. ) admi
nistrados pela ICAB. verlfica-se que os respectivos ministros fazem questao
de reproduzlr o ritual católico; carecem, poróm, da necessárla Intencfio de
fazer o que Cristo faz por melos dos sacramentos: construir e consolidar
urna só Igreja; os ministros da ICAB, mediante os "sacramentos" que con-
ferem, tém em vista constituir urna comunidade cismática. O Credo e a Moral
que eles apregoam, acham-se multo distantes do Credo e da Moral do
Evangetho. Além disto, a ICAB se acha dividida e subdlvidlda em múltiplas
ramilicacóes, algumas das quais sSo hostis á própria ICAB. Pergunta-se -até
que ponto essas comunidades divididas guardam a fidelidade aos ritos sacra
mentáis ? — Em conseqüéncla, Roma n3o reconhece os sacramentos adminis
trados pela ICAB.

O ecumenlsmo em relacáo á ICAB nao pode significar confusáo do


doulrlnas ou mudanca da estrutura da Igreja que Cristo fundou e confiou
aos Apostólos, dos quals Pedro é o Chefe.

Kespasta: Lamentavelmente registra-se hoje em dia


(como em todos os tcmpos) a mulüplicacáo de grupos e comu-

— 218
IGREJA BRAS1LEIRA 27

nidades religiosas que, em vez de unir e edificar os ánimos, con-


tribuem para disseminar perplexidade e -mal-estar tanto no
setor religioso como na própria vida civil.

Compreende-se que, sendo a Religiáo um valor essencial a


todo homem, ela empolgue numerosos adeptos; estes entáo
expriman seu senso religioso através de fórmulas e gestos es
pontáneos, mas por vézes arbitrarios, mal concebidos e de
sordenados. Na verdade, porém, a Religiáo nao é um fenómeno
niaramente subjetivo, mas é também, e necessariamente, urna
rcalidads objetiva ; o único Deus, que toda crenca religiosa
procura áz algum modo cultuar, nao é mera fiecáo ou criacáo
do homem, mas é o Primeiro Ser, a Suprema Verdade e o
Amor Infinito, de modo que a verdadeira religiáo tem que levar
em conta o auténtico conceito de Deus assim como a comuni-
cacáo ou revelacáo que Deus tenha feito de si aos homens.

Estas observacóes tém mais urna vez propósito ao se levar


em conta a acáo da chamada «Igreja Católica Apostólica Brasi-
leira» (ICAB), que em diversos pontos do país se vem ala.*-
trando. A fim de auxiliar os leitores a tomar atitude peranto
o fato, proponemos abaixo alguns dados concernentes á ICAB,
após já haver publicado um artigo sobre o assunto em PR
54/1962, pp. 303-310.

1. Como nasceu a ICAB?

A «Igreja Católica Apostólica Brasiieira» se deve a D. Car


los Duarte Costa. Este nasceu aos 21 de julho de 1888 no Rio
de Janeiro e recebeu a ordenacáo saosrdotal a 1* de abril de
1911. Aos 4 de julho de 1924 foi nomeado bispo de Botucatu
(SP). Pouco feliz decorreu o govemo do novo prelado, que se
viu envolvido em questóes de mística desorientada, embates
políticos e administracáo financeira. Em conseqüéncia, foi des
tituido de sua diocese em 1937 e nomeado bispo titular de
Maura (na Mauritania, África Ocidental), fixando residencia
no Rio de Janeiro. Em breve, porém, D. Carlos viu-se a bracos
com novas lutas: em 1942 apelou publicamente para o Presi
dente da República a fim de que interviesse na Igreja e expul-
sasse bispos e sacerdotes «fascistas, nazistas e falangistas» ;
acusou a Acáo Católica de espionagem em favor do totalita
rismo da direita; prefaciou elogiosamente o livro «O Poder
Soviético» de Hewlet Johnson e atacou por escrito as Forcas
Armadas do Brasil. Em conseqüéncia, foi preso como comunista

— 219 —
28 I'KKGUNTK E RESPONDEREMOS» 149/1972

e enviado para urna cidade de Minas Gerais, onde permaneceu


na qualidade de hospede.

Diante dos escándalos e rumores que se propagavam em


torno da pessoa de D. Carlos, as autoridades eclesiásticas, após
frustrados esforgos para apaziguar o prelado, julgaram opor
tuno suspendé-lo de ordens em 1944. Ficando vá, porém, esta
medida, D. Carlos foi excomungado aos 6 de julho de 1945, dia
em que resolveu fundar a dita «Igreja Católica Apostólica Bra-
sileira»; em vista de tal gesto, o Santo Oficio declarou D. Carlos
excomungado «vitandus» (a ser evitado) aos 3 de julho de 1946.

Um dos primeiros atos públicos da ICAB foi a fundacáo


do «Partido Socialista Cristáo>, sob a orientacáo de D. Carlos.
Este chegou a apresentar um candidato á presidencia da Re
pública, com o qual, porém, se desentendeu em breve, ficando
fracassado o novo partido.

D. Carlos promoveu direta ou indiretamente a ondenacáo


de numerosos «bispos» e «presbíteros», cuja formacáo doutri-
nária e cultural é geralmente precaria. O infeliz prelado veio
a morrer aos 26 de marco de 1961. Um Concilio Nacional da
ICAB aos 6 de julho de 1970 chegou a atribuir-lhe o título de
«Santo» : «S. Carlos Duarte» !

Examinemos agora o significado religioso que possa ter


a ICAB.

2. Igreja. . . Brastleira ou Romana ?

1. Como se vé, a ICAB tem origem no procedimento apai-


xonado de alguém que terminou a vida de maneira desvairada,
exprimindo ressentimentos e injurias no seu jornal «LUTA !*>

Pretendendo fundar a Igreja Brasileira, o ex-bispo de


Maura, muito contrariamente aos seus propósitos de ecume-
nismo, colocou na Igreja de Cristo urna nota de nacionalismo
e particularismo que lhe é absolutamente estranha e contradiz
á sua catolicidade ou universalidade.

Cristo estabeleceu urna Igreja aberta a todos os homens,


animada pelo amor fraterno, de tal sorte que os particularismos
racionáis nela nao tém significado decisivo. Diz, por exemplo,
o apostólo aos Gálatas: «Já nao há judeu, nem grego, nsm
escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vos sois
um em Cristo Jesús» (Gal 3,28).

— 220 —
IGREJA BRASILJEIRA 29

A Igreja de Cristo nao tem nacionalidade, mas é supra-


nacional. Os criterios que a regem, sao derivados da conscién-
cia és que todos os homens sao iguais diante de Deus, objeto
do mesmo amor divino e da mesma vocagáo para a visáo de
Deus face<i-face. — Acontece, porém, que a Igreja Católica
supranacional, devendo exercer sua agáo evangelizadora aquí
na térra entré os homens, necessita de urna sede de governo
geográficamente localizada, sede que seja ponto de referencia
tanto para os católicos como para os nao católicos.

Esse ponto de referencia, indispensável á atuagáo da Igreja,


é a cidade de Roma.

2. Com efeito. Cristo confiou ao Apostólo Pedro um


ministerio próprio e inconfundível, constituindo-o pedra funda
mental da Igreja (cf. Mt 16,18), coma incumbencia de con
firmar seus irmáos na fé (cf. Le 22, 31s) e apascentar as ove-
Ihas do rebanho do Senhor (cf. Jo 21,15-17). Ora Pedro ter-
minou seus dias em Roma, onde está sepultado (noticia esta
confirmada por recentes escavacóes arqueológicas no subsolo
da basílica de Sao Pedro em Roma ; cf. PR 13/1959, pp. 9-20).
A funcáo de Pedro nao pedia perecer com a morte do Apostólo,
pois tem índole perene (edificio sem fundamento nao pode
subsistir). É o que leva a dizer que os sucessores de Pedro em
Roma sao portadores do ministerio confiado por Cristo ao
primeiro Papa ; a eles compete o primado de magisterio e juris-
digáo de toda a S. Igreja. Em conseqüéncia, afirma-se que a
S. Igreja é

católica, universal, aberta a todos os homens, sem distincáo


de raca ou cor ;

apostólica, baseada sobre a agáo missionária dos doze


Apostólos enviados por Cristo ao mundo (Sao Paulo foi chamado
posteriormente, ao passo que Judas se afastou);
romana, governada visivelmente pelo Apostólo primaz c
seus sucessores, que tém sede em Roma (como a poderiam ter
em Jerusalém, Antioquia, Alexandria, París..., se a Provi
dencia Divina tiyesse encaminhado Pedro e as acontecimentos
iniciáis da historia da Igreja em rumo diverso do que realmente
ocorreu).

O titulo de «romana», portanto, nao significa que a Igreja


de Cristo esteja presa aos interesses políticos da cidade de
Roma ou da nacáo italiana; nem implica subordinacao dos
fiéis católicos do Brasil (ou de outra nacáo) a urna potencia

— 221 —
30 -PERGUNTK E RESPONDEREMOS» 149/1972

estrangeira, mas apenas indica que essa S. Igreja tem seu


chefe visível — instituido por Cristo — na cidade de Roma.

O dinheiro de coletas feitas no Brasil e, vez por outra,


enviado a Roma («óbulo de Sao Pedro») destina-se a sustentar
obras da Igreja esparsas pelo mundo inteiro ; principalmente
as missóes exigem o empenho de todos os fiéis católicos e a
solicitude constante do Sumo Pontífice.

Estas consideracóss dáo a ver quáo despropositado é trocar


o titulo de «I. Romana» por «L Brasileira» e atribuir a esta
nova entidade um regime nacional próprio; quebra-se assim
a unidade da Igreja de Cristo e entrega-se a S. Igreja a agáo
dos homens, que passam a fazer déla o joguete de suas arbitra
riedades ou mesmo de suas ambicóes : os responsáveis por
essa Igreja Brasileira tém-se desentendido entre si, suscitando
.divisóes e subdivisóes dentro da ICAB; há mesmo «Fraterni
dades» ou «Ordens» que se originaram da ICAB, mas cujos
membros sao radicalmente avessos a esta sociedade. É triste o
espetáculo que oferecem tais entidades, como se depreende do
noticiario que a imprensa por vezcs ¡divulga (exploragáo da
boa fé do povo, cobranga de elevadas e numerosas taxas, reali-
zagáo de casamentos ilegais tanto do ponto de vista religioso
como do civil, Missas em quaisquer circunstancias, entrega de
responsabilidades e encargos n pessoas destituidas de instrucáo
e de nivel moral...).

Se é pelos frutos que se conhece a árvore, como diz o S.


Evangelho (cf. Mt 7,16-20), pode-se afirmar que os amargos
frutos produzidos pela ICAB e suas ramificagóes desabonam
por completo esse empreendimento humano: o tronco da ICAB
tem servido para promover financeira ou socialmente pessoas
que nao conseguiram ou nao conseguiriam realizar-se em outros
ambientes e finalmente encontraram na ICAB a possibilidade
de obter um estatuto mais prestigioso aos olhos do povo; este,
porém, é assim dolorosamente ludibriado e explorado por áitos
«padres» e «bispos».

3. Na verdade, a Igreja c «o sacramento da unidade dos


homens com Deus e entre si» (Conc. do Vaticano II, Const.
<Lumen Gentium» n* 1). A palavra «sacramento» no sentido
católico quer dizer : a Igreja de Cristo tem urna eslrutura into-
cável; é o Cristo prolongado, presente e atuante em cada ge-
ragáo da historia; a Igreja de Cristo tem sua garantía de auten-
ticidade pelo fato de estar em comunháo com Cristo através
de vinte sáculos de existencia, sem sofrer ruptura ou hiato ; é

— 222 —
IGREJA BRASILEIRA 31

ossa continuidade que nos permite dizer que na Igreja Católica


Apostólica Romana se cumpre a promessa do Senhor: «Eu es-
tarei convosco até a consumado dos sáculos» (Mt 28,19s).
Esta assisténcia santa e infalível de Cristo c prometida aos
Apostólos e aos sucessores destes até o fim do mundo. Isto
significa que onde há a sucessáo apostólica sem recomego,
sem reforma, ai — e sonriente ai — se pode ter certeza de que
Cristo age, realizando a santificacáo dos homens mediante a
agáo instrumental da Igreja. ■—■ Em suma, nao é a genialidade
nem a santidade dos homens da Igreja que garante a esta a
sua autenticidade, mas, sim, a assisténcia de Cristo, que se
prende a criterios objetivos (sucessáo apostólica em comunháo
com o Apostólo Pedro).

Passemos agora á reflexáo sobre um ponto assaz delicado


da questáo :

3. Atos de culto da ICAB valem ou nao ?

Proporemos a resposta em tres etapas :

3.1. O falo

A ICAB faz questáo de celebrar Missas, batizados, casa-


montos, procissóes, béncños, imitando em tudo o clássieo ritual
do catolicismo. Qs avisos e as proclámaseos que déla emanam.
fácilmente sugerem ao público que tais atos tém o mesmo
significado e alcance dos da Igreja Católica. Também se pode
registrar que a ICAB usa das mesmas alfaias e da mesma no
menclatura que caracterizan! a liturgia e a hierarquia do cato
licismo; os títulos de seus prelados (revestidos de batinas colo
ridas, cruzes peitorais, mitras...) sao pomposos e imponentes.

Através de todo esse aparato de nomes e atos ou cerimó-


nias, o público é freqüentemente iludido (o que, alias, parece
corresponder as ¡ntencóes dos responsáveis da ICAB). A mul-
tiplicacáo de Missas na mesma igreja (sucedendo-se as vezes
de meia em meia-hora, em dias de semana), a celebragáo de
casamentos ilegais (de pessoas desquitadas ou ineptas) pare-
cem revelar oportunismo ou o desejo de captar o favor do povo
e atrair copiosas somas monetarias para os templos e os minis
tros da ICAB. Há certos «santuarios» dos «católicos brasileiros»
cujos rendimentos financeiros sao avultados gracas á industrio-
sidade dos administradores desses santuarios.

É o que suscita a pergunta :

— 223 —
32 -PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 149/1972

3.2. Procedimento honesto ou nao ?

1. Pode-se dizer que o plagio, sendo fonte de ilusóes para


o público, é evidentemente desonesto; reproduzir «patentes»
sem autorizagáo, até mesmo no intuito de «passar por...» e
confundir os menos cautos, é por todas as consciéncias consi
derado ilícito e traicoeiro. A verdade e a veracidade devem
sempre orientar o comportamento de qualquer homem reto.
De resto, o plagio é sempre sinal de froqueza e inseguranga
da parte daqueles que a ele recorrem.

2. Talvez, porém, argumente alguém : mas nao se deve


reconhecer liberdade religiosa a todos os cidadáos, de modo a
permitir que cada um possa optar, sem constrangimento, pela
atitude religiosa ou atéia que mais consentánea lhe pareca ?

— Em resposta, distinga-se entre liberdade religiosa e liber


dade de culto.

Por «liberdade religiosa> entender-se-á a liberdade de opgáo


entre os diversos credos ou sistemas filosóficos que alguém possa
professar. É para desejar que nao se constranja ninguém a
pensar deste ou daquele modo. Por conseguinte, a liberdade
religiosa há de ser reconhecida irrestritamente a todos os
homens.

O culto significa a manifestagáo da crenga religiosa ,dc


alguém mediante atos e ritos que tencionam louvar a Deus ou
pedir as gragas de que os homens precisam. A liberdade de
culto há de sar relativa em determinada sociedade. Ela será
limitada pelas exigencias da justa ordetn pública. Em conse-
qüéncia, as manifestagóes de culto que contrariem a ordem
pública devem ser proibidas pelas autoridades civis. É esta a
doutrina proposta pelo Concilio do Vaticano II em sua Decla-
ragáo sobre a Liberdade Religiosa :

"No exercício de seus direitos, o homem individualmente


e os grupos sociais estáo obrigados por leí moral a levar em
conta tanto os direitos dos outros quanto os seus deveres para
com os outros, quanto aínda o bem comum de todos. Com
todos deve-se proceder segundo a justica e a humanidade.

Como a sociedade civil, além disso, possui o direito de


proteger-se contra abusos que possam surgir sob pretexto de
liberdade religiosa, pertence sobretudo ao poder civil garantir
tal protecáo" (Decl. "Dignitatis Humanae" n<? 7).

— 224 —
IGREJA BRASILEIRA 33

Aplicando-se tais principios aos problemas criados pela


ICAB no Brasil, verifica-se que esta, imitando e reproduzindo
atos de culto tradicionalmente realizados pela Igreja Católica,
induz o povo a mal-entendidos e equívocos; causa insatisfagáo
e perturbagáo na sociedade. Por conseguinte, parece haver
motivo para que se fagam serias restrigóes ao culto promovido
pela ICAB ; deve-se pleitear perante as autoridades da ICAB
e os magistrados civis que a «Ignsja Brasileira» adote outras
expressóes de seu culto, pois lhe é ilícito continuar a plagiar o
culto católico, abusando assim da boa fé do povo religioso.
Tenham-se em vista a Constituigáo Federal, art. 141 §§ 7 e 10,
assim como o Código Penal Brasileiro n* IV 1943, p. 444:
segundo este, é lícito mandar impedir, interromper ou sus
pender um ato religioso que imite ritual próprio de outra
confissáo religiosa. «

3.3. Validade dos sacramentos da ICAB

Tem-se indagado, entre os teólogos, se os sacramentos, prin


cipalmente as Missas e as ordenagóes sacerdotais, celebrados
pelos ministros da ICAB tém a validade que se atribuí na Igreja
Católica aos sacramentos.

— Em resposta, notem-se os seguintes itens :

a) Um sacramento é um rito mediante o qual Cristo co


munica as gragas da Redencáo «ex opere operato», ou seja,
desde que o ministro respectivo aplique a materia (agua, pao,
vinho, óleo) e a forma devida (as palavras que indicam o efeito
da materia).

b) Os sacramentos nao sao eficazes ou nao conferem a


graca em virtude da santidade ou dos méritos do homem (.sa
cerdote, bispo) que os administra, mas, sim, por agáo do pró
prio Cristo, que se serve do homem como instrumento de sua
obra redentora. Todavia, para a validade do sacramento, re-
quer-se que

— o ministro tenha sido validamente ordenado padre ou


bispo ;

— tenha, ao administrar o sacramento, a intengáo de fazer


o que Cristo quis fosse feito, ou a intengáo de se identificar
com as intengóes de Cristo Jesús, Sumo Sacerdote.

Vejamos agora diante destes dados


34^ «PERGUNJEJS RESPONDEREMOS» 149/1972

3.3.1. A posado da ICAB

Os adeptos da ICAB afirmam que

— seus ministros foram validamente ordenados padres e


bispos, pois receberam a sucessáo apostólica das máos de D.
Carlos Duarte Costa, que foi verdadeiro bispo da Igreja Ca-
tólica, sagrado por D. Sebastiáo Leme1. Embora D. Carlos se
tenha separado da Igreja Católica, ele conservou o caráter
episcopal perenemente impresso em sua alma.

— D. Carlos e os bispos que ele ordenou, sempre fizeram


questáo de transmitir as ordens sacras segundo o ritual exato
adotado pela Igreja Católica (usando mesmo o latim em algu-
mas ocasióes) ;

— as Missas, os balizados e outros ritos ocorrentes ñas


cerimonias de culto da ICAB obedecem estritamente á esséncia
do Ritual sempre vigente na Igreja Católica.

Por conseguinte, concluem os membros da ICAB, a Igreja


Brasileira possui auténticos bispos e presbíteros, e ministra va
lidamente os sacramentos, podendo mesmo perpetuar a sucessáo
apostólica fora do gremio da Igreja Católica.

Pergunta-se agora :

3.3.2. E que diz a Igreja Católica ?

A Igreja Católica, diante das celebracóes sacramentáis da


ICAB, faz as seguintes ponderagóes :

a) Embora os ministros da Igreja Brasileira se empenhem


por aplicar exatamente a materia e a forma de cada sacra
mento, seguindo a praxe tradicional da Igreja, falta-lhes algo
de essencial para que seus sacramentos sejam válidos, isto 6,
a intencáo de fazer o que Cristo quis fosse feito.

Sim. Os ministros da ICAB, mediante os seus ritos, inten-


cionam criar e desenvolver urna «Igreja» separada da única
Igreja fundada por Cristo — igreja essa (ICAB) que já nao
professa as verdades do Credo Apostólico, mas se entrega ao

i D. SebastlSo Leme, por sua vez, foi sagrado bispo pelo Emo. Sr.
Cardeal Joaqulm Arcoverde, arceblspo do Rio de Janeiro, o qual recebeu
a sucessáo apostólica do Cardeal Mariano Rampola; este, enflm, se tornou
bispo por ImposIgSo das máos do Papa Lefio XIII.

-- 226 —
IGREJA BRASIUIRA 35

ccleticismo religioso: protestantes, espiritas, magons e comu


nistas podem ser igualmente membros da ICAB1. Isto signi
fica que a Igreja Brasileira vem a ser urna sociedade filantró
pica, humanitaria (o que é muito louvável, se é vivido com
honestidade e sinceridade), mas já nao tem a mensagem reli
giosa definida que Cristo confiou ao mundo e que o Símbolo
de fé apostólico professa: «Creio em um só Deus, Pai todo-
-poderoso, Criador do céu e da térra, e em Jesús Cristo...
Creio na ressurreigáo da carne, na vida eterna».

A Igreja de Cristo tem por missáo nao somente desenvolver


o humanitarismo, mas também conservar e pregar a doutrina
que Cristo ensinou aos homens — doutrina esta que o protes
tantismo, o espiritismo, a maconaria e o comunismo ou nao
reconhecem ou só reconhecem parcialmente.

Donde se vé que a agáo dos ministros da ICAB carece


daquela intengáo que é essencial para a validada dos sacra
mentos : a intengáo de fazer o que Cristo faz mediante os
sacramentos.

b) Já que a ICAB se ramificou, dando origem a múltiplas


«Igrejas», Ordens e Irmandades independentes da ICAB ou
mesmo hostis a esta, já nao se pode saber até que ponto nessas
ramificagóes da ICAB (ou mesmo na própria ICAB) se con
serva a fidelidade aos ritos sacramentáis. Com o tempo, as arbi
trariedades e os desvíos fácilmente se introduzem na prática
religiosa de pequeñas comunidades separadas que procedam de
um ponto de partida único.

Em conseqüéncia, as autoridades da Igreja em Roma nao


reconhecem, em hipótese alguma, a validade das ordenagóes
diaconais, presbiterais e episcopais da ICAB. Muito menos re
conhecem a autenticidade das Missas e dos sacramentos cele
brados pelos ministros da ICAB.

4. Ecumenismo. . . em que sentido ?

Os adeptos da Igreja Brasileira dizem praticar o ecumo-


nismo pelo fato de se congracarem com os membros de outras

1A revista "A Patena", órgSo oficial da "dlocese da Baixada Flumi


nense" da ICAB, em seu n? 3 de 1971, 4? capa, diz que a Igreja Braslleira
"religiosamente é católica, porque aceita em seu gremio cristSos de qualquer
mentalldade, sem repelir os que sejam ou se dlgam protestantes, espiritas,
macons, católico-romanos, etc.". Tal declaracSo é transcrita do jornal da
ICAB "A Luta", n? 10, de Janeiro de 1950.

— 227 —
SG tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» Í4S/1972

confissóes religiosas ou filosóficas: protestantes, espiritas car-


decistas, umbandistas, candomblecistas, macons... Julgam estar
assim praticando o que os Papas Joáo XXIII e Paulo VT ensi-
naram aos fiéis católicos. Em conseqüéncia, estranham nao
sejam eles reconhecidos pelos católicos romanos como auténti
cos discipulos de Cristo.

Frente a estas idéias, deve-se observar :

Urna coisa é o humanitarismo (ou a benevolencia á pes-


soa humana), outra é o ecumenismo. A Igreja Católica ensina
que o humanitarismo deve ser dispensado a todos os homens :
«odeie-se o pecado, mas ame-se o pecador», eis a norma já esta-
belecida por S. Agostinho. Por conseguinte, o fiel católico quer
bem a todos os seus irmños, qualquer que seja a sua crenca
religiosa.

— Ecumenfcmo, porém, em sentido preciso, é algo dife


rente : vem a ser o movimiento de restauragáo da unidade vio
lada entre os cristáos (católicos, protestantes e ortodoxos).
Este movimento está longe de significar relativismo doutrinário,
retoques no Credo Apostólico ou profissáo de semiverdadcs da
fé. Ele parte do principio de que a verdade revelada por Cristo
se transmitiu intata e integral na tradigáo apostólica, ou seja,
na Igreja apascentada por Pedro e seus legítimos sucessores
(cf. Conc. do Vaticano II, Dedaracáo «Dignitatis Humanae»
n* Ib).
O movimento ecuménico, para os católicos, consiste em
tornar as verdades da fé táo nítidas quanto possivel ou depura
das de formulagóes menos precisas ou corretas; consiste tam-
bém em dar um testemunho de vida crista fiel e coerente;
além do que, exige a contribuigáo da oracjio em prol da restau-
ragáo da unidade. Donde se vé que nao se deve apelar para a
bala palavra «ecumenismo» a fim de sugerir relativismo dou
trinário e esquecimento das grandes verdades da fé que Cristo
comunicou aos Apostólos.

Eis o que, no momento,.parece oportuno recordar para es


clarecer certos mal-entendidos oriundos no público em conse
qüéncia da propagagáo da ICAB. Abstemo-nos de comentarios
sobre a conduta de membros dessa entidade complexa, comen
tarios que as noticias e reportagens de nossa imprensa por
vezes sugerem.

— 228 —
Nem mes mo urna e abastece as máquinas que
Companhia que há 60 anos abrem novas estradas.
vem acompanhando o Mas sua
progrcsso, presente em todo responsabilidade maior é
o país (com cerca de 3500 com gente.
postos de servigo), na Seu pessoal é treinado
industria (com mais de 300 de acordó com as modernas
produtos), no campo técnicas administrativas.
e no lar. A Esso sabe que
A Esso tem urna precisa de gente, porque
tradigáo de pioneirismo. ninguém, nem mesmo urna
Chegou á . grande compa- ;.
Transamazónica com as nhia, pode fazer ^
primeiras frentes de trabalho nada sozinho.
Maís um surto religioso hoje :

movimento pentecostal entre católicos

Em aintese : Desde 1967, propaga-sa entre os católicos dos Estados


Unidos da América uma nova forma de piedade voltada para o Espirito Santo;
os seus cultores dlzem recebar o batlsmo no Espirito Santo por Imposlcfio
da3 máos dos irmaos Já Iniciados no pentecostalismo; em conseqüéncia,
falam llnguas novas, realizam curas, etc.

Esse movimento tem seus aspectos positivos, entre os quais o desper


tar da vida de oracfo, o fervor apostólico, a caridade fraterna, o senso
ecuménico... Todavía nao delxa de apresentar motivos de reserva: a índole
singular ou quase teatral das manlfestacfles pentecostais é estranha. Tam-
bém o fato de que comunidades inteiras sejam "carismáticas" ou agraciadas
de maneira extraordinaria é Insólito no genuino Cristianismo; quando tais
comunidades surglram em séculos passados, mostraram tendencias a cons
tituir seltas e separar-se da Igreja. O pentecostalismo católico dos Estados
Unidos ó mals um dos "reviváis" (reavlvamentos) que periódicamente, desde
o século passado, despertam o senso religioso e a atencfio do público na-
quele país; tais "reviváis" sao geralmente Inspirados por rellgiosldade assaz
subjetiva, sentimental e arbitrarla em suas manifestacOes.

É, pois, para se louvar a estima dos dons do Espirito Santo entre os


católicos norte-americanos; mas deve-se exercer dlante do fenómeno o
dom do discernlmento dos espfritos, a fim de se distinguir o que de válido
e o que de aberrante possa haver no pentecostalismo católico. Este já tem
expressóes de si no Brasil.

Resposta : Tém chegado ao Brasil os ecos e as influencias


de movimentos norte-americanos ditos «reviváis» (reavivamen-
tos), que tencionam despertar o fervor crtetáo para com Jesús
Cristo e o Espirito Santo. Sobre a «Revolucáo por Jesús» já foi
publicado um artigo em PR 142/1971, pp. 434-445. Seguem-se
agora algumas noticias e reflexóes a respsito do pentecostalismo
(ou movimento de Pentecostés) oriundo entre os católicos, que

— 230 —
PETENCOSTAIS CATÓLICOS _ 39

desejam assim restaurar a docilidade ao Espirito Santo, rece-


bendo em troca dons especiáis (inclusive o das línguas novas c
o da cura de enfermos).

1. Origens do pentecostalismo católico

Em fins de 1966 um grupo de professores e estudantes da


Uniyersidade de Duquesne em Pittsburg (U.S.A.) se reunia, ten-
do á frente o jovem Ralph Keifer, a fim de orar e refletir so
bre a sua vida crista; interessavam-se pela renovagáo da Igreja
Desejosos de ser mais férvidos e atuantes no seu apostolado,
puseram-se a orar ao Espirito Santo, sem o qual ninguém pode
dizer nem mesmo «Jesús é o Senhor» (cf. 1 Cor 12,3). No inicio
de Janeiro de 1967, o grupo entrou em contato com o ministro
anglicano William Lewis e a Sta. Florence Dodge, presbiteriana,
que ministravam aulas sobre a acto do Espirito Santo nos fiéis.
Poucas semanas depois, ou seja, em fevereiro de 1967, a pe-
quena comunidade dos católicos julgou receber de Deus a res-
posta aos seus anseios: os seus membros foram «batizados no
Espirito Santo» mediante imposicáo das máos de Ralph, e
passaram a louvar a Deas em linguas novas. A Biblia tomou
novo sentido para eles; a fé se lhes intensificou. — Aos poucos,
novos adeptos se anexaram ao grupo, recebendo também eles
os dons do Espirito Santo de forma visivel, em reunióes geral-
mente realizadas aos sábados.

A «renovácáo pentecostab católica propagou-se para a


Universidade de Notre-Dame e outros centros de estudos supe
riores dos Estados Unidos. A sede mais atuante é atualmente
a Universidade de Michigan em Ann Arbour. Urna das carac
terísticas do movimenlo é ter origem em ambientes universita
rios, embora nao fique confinado a estes: conta com adeptos
entre os sacerdotes, as Religiosas, as máes de familia, os busi-
neusmen e os cristüos que descjam renovar a sua vida espiritual.
Ao contrario do que fizeram grupos semelhantes, os pentecos-
tais católicos procuram observar as normas das autoridades
da Igreja, sem constituir «igrejinhas»; tencionam agir ñas suas
paróquias ou ñas comunidades a que pertencem, em comunháo
com a S. Igreja.

Examinaremos agora algo das expressóes religiosas desses


cristáos carismáticos'.

1 O carisma ó, segundo a teología, um dom do Espirito Santo destinado


a servir á comunidade.

— 231 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 149/1972

2. As reunióes pentecostais

A freqüéncia com que se realizam as reunidas pentecostais,


varia de acordó com as possibilidades e necessidades de cada
comunidade. Geralmente processam-se urna vez por semana,
com participacáo de dez a vinte pessoas (em residencia parti
cular) ou 400/500 fiéis (em saláo paroquial). Um dos anima
dores respectivos — sacerdote ou leigo — costuma abrir a ses-
sáo mediante breve comentario da S. Escritura ou indicagáo
de um canto.

A oracáo em silencio ou em voz baixa constituí como que


a estrutura da reuniáo. A prece se exprime ou se alimenta, as
vezes, mediante cantos (com ou sem violáo), leituras bíblicas
(principalmente dos salmos), testemunhos pessoaís... Pode
haver também «línguas novas» e «profecías» (isto é, mensagens
que estimulam a fé). No decorrer ou no fim da reuniáo (que
dura urna hora e meia aproximadamente), alguns dos mais
experimentados impóem as máos sobre seus irmáos na fé. Ao
que consta, o clima de tais sessóes é tranquilo e relativamente
pouco emotivo; é caracterizado principalmente por simplicidade
e fervor na oragáo.

Os pentecostais católicos dizem estar revivendo em nossos


dias a experiencia do batismo no Espirito Santo de que falam
certas passagens do Novo Testamento : Le 3,16 ; Jo 14,15-19 ;
At 11,15-17. Nao pretendem receber um oitavo sacramento
nem substituir o batismo sacramental. Entendem por «batismo
no Esp:rito» a experiencia seasível dos dons do Espirito Santo,
já recebidos no batismo e na crisma, dons, porém, que por
razóes varias nao se puderam manifestar plenamente Á expe
riencia e a manifestacáo desses dons — d'zem — tornam-se
pois^veis mediante a fé. a expectativa da promessa do Pai em
atitude de ora~áo (cf. At l,4s) o désejo da presenta do Espi
rito e, principalmente, urna disponibilidade absoluta ou urna
entrega total á agáo de Deus no coragáo dos fiéis.

As circunstancias ñas quais o Espirito irrompe sobre al-


guém, sao variadas : isto pode ocorrer por ocasiáo de urna
ora'áo particular, deum retiro ou, mais freqüentemente, quando
outros fiéis «batizados no Espirito» impoem as máos e oram
sobre quem O deseja receber. A conseqüéncia da comunicacáo
do Esprrito é, como dizem todos, alegría e paz profunda ; o
cristáo senté o amor de Deus como se fosse calor íntimo. O
dom das linguas acompanha freqüentemente o batismo no Es-

— 232 —
PETENCOSTAL3 CATÓLICOS 41

pirito; serve para louvar a Deus; é o sinal de que o Espirito ora


nos eeus fiéis (cf. Rom 8,26). Numerosos estudos empreendidos
sobre tal fenómeno levam a reconhecer que de fato linguas
raras sao entáo utilizadas; puderam-se distinguir o hebraico,
o japonés ou mesmo dialetos africanos. As tradugóes de trechos
proferidos revelaram que se tratava de dizeres belos e poéticos
em louvor de Cristo ou de Deus Pai.

Em suma, é certo que urna das características constantes


do novo movimento, segundo dizem os seus adeptos, é a des-
coberta da oracáo, e... da oracáo profunda.

Pergunta-se agora :

3. E que pensar do pentecostalismo católico ?

Sao numerosas as perguntas que o movimento desperta


em quem o observa : Qual o valor e o sentido das «linguas»
e das «profecías»? Como entender a imposicáo das máos ? Os
participantes do pentecostalismo tém saúde psíquica normal ?
Constituiráo um fator de divisáo ou de unidade entre os cris-
táos ? Pretenderáo fundar urna «Igreja de puros» ?

Tentemos lecer algumas rcflexóes a respeito :

3.1. Pontos volidos

A rigor, nada se pode apontar contra as atitudes das pen-


tecostais católicos que permanecam em comunháo com a Igreja
Católica e desejem tornar-se mais fervorosos na celebracáo da
Liturgia e no apostolado junto aos demais homens. Muitos
desses novos carismáticos demonstram especial solicitude para
com os pobres e necessitados. Levam vida simples, coerente,
marcada pela oracáo e o servico ao próximo. Lutam, como
todos os homens lutam, para ganhar o pao cotidiano e ser
fiéis a Cristo.

Todavía nao se podem deixar de aprescntar certas hesi-


tacóes diante do fenómeno pentecostal.

3.2. Inlerrogasóes

Distinguiremos quatro pontos :

— 233 —
42 -PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 149/1972

3.2.1. Fenómenos extraordinarios

Causa especie a índole um tanto teatral que o movimento


assume : imposigáo de máos, uso de linguas estranhas...

A imposicáo das máos é, por certo, um gesto bíblico alta


mente venerável (cf. At 13,3; 19.6; Me 16,18). Significa geral-
mente comunicacáo da graca ou transmissáo de poderes, Tor-
nou-se, na Tradicáo crista, gesto reservado á administracáo
de certos sacramentos e sacramentáis (Crisma, Ordem, bén-
cáos...). Ora o recurso dos pentecostais contemporáneos a
esse sinal em assembléias de oracáo nao tem significado claro;
pode dar a entender que se trata de novo sacramento ou algo
de samelhante. É sinal desnecessário e amziguo: quem nos ga
rante que o Espirito Santo se comunica a um cristáo pelo fato
de outro cristáo (nao delegado pela Igreja) lhe impor as máos?
O Espirito Santo age em qualquer cristáo que se lhe ofereca
em docilidade, sem precisar da imposigáo das máos de um
discípulo nao comissionado para as impor.

Nao seria fora de propósito dizer que a imposicáo das máos


ñas assembléias pentecostais poderia exercer a funcáo de sinal
condicionante,... sinal que dessncadeia reagóes psicológicas
ou eufóricas por parte daqueles que sao assim atingidos.

A glossolalia (uso de linguas estranhas ao sujeito) é


também algo de suspeito. De modo geral, a teología aconselha
prudencia diante de todas as manifestacóes religiosas extraor
dinarias ; podem fácilmente iludir. Julga-se que a acáo de Deas
(ou do Espirito Santo) ñas almas se faz habitualmente por
vias discretas e invisíveis; o próprio Sao Paulo recomendava
aos corintios, inclinados a sobreestimar o dom das línguas,
sobriedade e modestia: «As línguas sao um sinal nao para os
que tém fé, mas para os incrédulos... Na Igreja prefiro dizer
cinco palavras com sentido, para instruir os outros, a dizer
dez mil palavras em linguas (estranhas)» (1 Cor 14,19.22).

Ademáis nao seria absurdo julgar que muitas das mani-


festagóes de glossolalia e euforia verificadas em cultos religio
sos contemporáneos nao sao prqpriamente gragas do Espirito
Santo, mas, sim, expressóes da sugestáo e do condicionamento
psicológico a que estáo sujeitas as pessoas em foco. Eis por
que se deve recomendar reserva e sobriedade diante dos fenó
menos de glossolalia; é preciso nao os ter como dons sobrena
tural,? do Espirito, enquanto nao se demonstrar que nao sao

— 234 —
PKTENCOSTAIS CATÓLICOS 43

meras reagóes psicológicas ou parapsicológicas. É muito mais


importante e válido louvar a Deus em linguagem compreensível
a toda a assembléia do que em linguagem hermética; esta
pode fomentar vaidade e ostentagáo; aquela é fator de hurpil-
dade e genuína edificacáo.

3.2.2. Comunidades carisnáticas ?

O fato de que comunidades inteiras sejam carismáticas, é


algo de insólito na historia do Cristianismo. Os santos sempre
foram carismáticos, mas sempre foram imprevistamente (muí-
tas vezes, inconscientemente) carismáticos; na historia do Cris
tianismo, ninguém se torna auténticamente carismático pelo
fato de entrar em urna comunidade ou pertencer a ela. Os
grupos ou os movimentos de carismáticos que a historia da
Igreja aponía, apresentaram muitas vezes a tendencia a se
separar da Igreja; com efeito, tendo «recebido o Espirito»,
juígavam que já nao precisavam da Igreja institucional ou de
sujelgáo as leis. O gosto exagerado dos dons espirituais pode
dar origem a tendencias sectarias, pois quem o nutre ás vezes
nao sabe mais tolerar os moldes das instituicóes humanas. As
leis sao algo de transitorio ; sao meios, nao fins (devem levar
a Deus); mas sao meios indispensáveis a todo homcm vian
dante na térra.

3.2.3. O Cristianismo norte-americano: «reviváis»

O movimento pentecostal católico deve ser colocado no


contexto geral das manifestacóes religiosas nos Estados Unidos.
Estas sao marcadas por «reviváis» ou reavivamentos que perió
dicamente surgem naquele país (como também outrora na
Inglaterra), constituindo o que se chama o pietismo (= o culto
de urna piedade um tanto sentimental e original, que constituí
urna réplica á frieza ou ao declínio da fé de determinada cor-
rente religiosa). Esses reavivamentos implicam sempre con-
versño brusca dos seus adeptos e grande euforia. Nos Estados
Unidos da América a variedade das experiencias religiosas é
um fenómeno conhecido e aceito pelos respectivos cidadáos ;
seria para estranhar que deixassem de ocorrer em nossos dias.
Tais reavivamentos nao sao maus se os consideramos como
despertar da fé estagnada, mas apresentam características
muito subjetivas, pessoals, fantasistas ou pouco fundamentabas
em sólida doutrina.

— 2.35 —
44 -PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 149/1972

Eis como o fenómeno é descrito por dois autores norte-


-americanos — Kevin e Dorothy Kanaghan — adeptos do
pentecostalismo católico, na obra «Catholic Pentecostals» (New
York 1969, pp. 254s) :

"O revivalismo americano, com sua énfase dada á con-


versáo pessoal, muitas vezes chamado 'a experiencia da sal-
vacio', foi um dos marcos da vida americana do século XIX...
O evangelista itinerante, com o apoio de ministros locáis, che-
gava a determinada área, estabelecia a sua sede e comecava
a pregar o Evangelho. No fim de cada reuniáo, os pecadores
eram convidados a se aproximar e a aceitar Cristo como seu
Senhor e Salvador pessoal. Esse tipo de evangelismo era acom-
panhado do canto de hinos, de oragdes em alta voz, aclama-
cdes e aplausos. Havia também milagres, curas, expulsdes de
demonios e dom de Ifnguas. Muitas vezes instaurava-se urna
atmosfera de Carnaval, que era terreno fértil para excessos
emocionáis. Por causa do nivel de cultura do clero e do povo,
os reavivamentos eram freqüentemente caracterizados por ca-
tequese e teologia inadequadas e simplistas".

Um dos primeiros tipos de «revivab norte-americano do


século passado é o de Campbell (Campbellismo), que apre-
goava a palavra de Deus entendida segundo o «bom seaso
comum». Teve origem entre cristáos batistas.

Desse «revival» procederam o dos «Discípulos de Cristo»


e o da «Igreja Crista» no norte e no sul dos Estados Unidos.

Numerosos foram os reavivamentos batistas de sorte que


boje existem cerca de vinte seitas batistas: os batistas calvi
nistas, os batistas congregacionalistas, os batistas primitivos,
os batistas do livre pensamento, os batistas dos seis principios
(porque aceitam como único fundamento da fé e da vida cristii
os seis pontos mencionados em Hebr 6,ls : arrependimento, fé,
batismo, imposicáo das máos, ressurreicáo dos mortos, juizo
eterno), os batistas tunkers, os batistas campbellianos, os ba-
tizantes a si mesmos, os batistas abertos, os batistas fechados,
os batistas do 7' dia.. .

Outro tipo de «revival» se deriva dos Metodistas (o próprio


metodismo é um «revival» do anglicanismo destituido de mé
todo na Inglaterra; deve-se a John Wesley, que insistía muito
na santidade pessoal do cristáo). Os reavivamentos de inspi-
ragáo metodista constituem o chamado «Movimento de santi-

_ 236 —
PETENCOSTAIS CATÓLICOS 45

dade»; ensinam que o cristáo tem a experiencia da graca do


Deus nao somente quando se converte, mas também quando
se aperfeicoa no caminho da santidade; nao raro essa expe
riencia da santidade é ai chamada «batismo do Espirito Santo».
Assim a idéia de batismo no Espirito Santo teve surto no fím
do século XIX em grupos de reavivamento. Tais grupos, sepa-
rando-se do metodismo, deram origem a «Igreja do Nazareno»,
á «Igreja de Deus» e a outras congregacóes menores que tinham
a palavra «santidade» em suas denommacóes.

Dessas pequeñas comunidades nasosu o PentecostaUsmo


protestante. Com efeito; em 1900 abriu-se a Escola Bíblica
de Betel em Topeka (Kansas), com nove estudiosos da Biblia;
concentravam sua atencáo no batismo do Espirito Santo, e
convenceram-se de que o único slnal seguro dessa efusáo do
Espirito é a glossolalia. Em iyi/1901, urna mulher do grupo
achava-se em oracáo á tardinha: experimentou paz e alegría,
e pós-se a louvar a Deus em línguas. Poucos dias depois a
comunidade inteira tinha recebido o batismo do Espirito Santo
com línguas, dando origem ao movimento pontecostal protes
tante. Este se propagou com a graca de conversoes, curas, pro
fecías, pelo Texas; tomou grande vulto em Los Angeles (1906);
chegou a Nova Iorque, Chicago, Londres, e em 1915 estava
na Escandinávia. Em 1914 os pentecostais norte-americanos
eram táo numerosos que tiveram de criar urna organizacáo
nacional, que incorporou a si todas as «assembléias de Deus»
(= comunidades pentecostais) do país. Em nossos dias, o pen-
tecostalismo é a denominacáo protestante que mais cresce no
mundo; conta dez milhóes de adeptos csparsos pelos diversos
continentes, sendo que dois milhóes se acham nos Estados
Unidos.

É, até certo ponto, na linha desses «reviváis» que 92 coloca


o movimento pentecostal católico. Até certo ponto..., pois
os católicos pentecostais nao tencionam abdicar da fé católica
e da fidelidade á S. Igreja; procuram integrar o batismo no
Espirito Santo na totalidade da vida da Igreja. — Deve-se,
porém, notar que talvez nem sempre o ronsigam, pois há noticia
de que varios de seus membros tém aderido a «Revohicáo por
Jesús», que é um Movimento eclético, desvinculado de qualquer
compromisso com a S. Igreja; ai prevalece o sentimento místico
um tanto vago e descontrolado.

— 237 —
40 "PERCJUNTE K RESPONDEREMOS - 149/1972

3.2.4. Ecumenismo

O ecumenismo (tendencia á aproximacáo crescente das


diversas denominacóes cristas entre si) constituí urna nota forte
do pentecostalismo católico. A este titulo, o movimento merece
aplausos e apoio. Noticias provenientes dos Estados Unidos
informam que há semelhantes surtos de pentecostalismo entre
os luteranos, os presbiterianos, os anglicanos...; foram estes
que transmitiram as grandes linhas da tradicáo pentecostal
aos católicos. Pode-se crer que o Espirito Santo esteja assim
agindo entre os cristáos; nao deixa de avivar entre eles a eons-
ciéncia dos valores profundos da oracáo, da piedade, da vida
interior, da caridade. Permita Deus, seja tal ecumenismo fiel á
verdadc na caridade, nao traindo a mensagem revelada por
Jesús Cristo !

Em suma, é muito alvissareiro todo despertar do sonso


cristáo e da estima dos carismas do Espirito Santo. Todavía,
já que muitos movimentos congéneres se tém verificado no
decorrer dos sáculos, sem guardar sempre a autenticidade, mas
cedendo ao sentimentalismo, á imaginacáo cega e a expressóes
de mística pouco esclarecida, num clima de seita ou de «igre-
jinha», requer-se da parte do cristáo, diante do fenómeno pen
tecostal, o discemimento dos espíritos (que é também um dom
do Espirito Santo ; cf. 1 Cor 12,10). É pelas manifestagóes teó
ricas e práticas dos pentecostais católicos que se pode e poderá
julgar o seu significado na Igreja e no mundo de hoje.

Bibliografía :

Kevin and Oorothy Kanaghan, "Catholic Pentecostais". New York 1969.

A.-M de Moniéon. "Le renouveau charlsmatlque aux États-Unis. Le


penlecotlsme cathollque amérlcaln", em "La Vle Splrltualle" 579, fev. 1971,
pp. 222-228.

A. B. Langston, "A doutrina do Espirito Santo". Rio de Janeiro (Casa


Publfcadora Batista).

Estéváo Bettencourt O.S.D.

— 238 —
resenha de livros
Teología fundamental para leigos. A palavra de Deus na Sagrada
Escritura, pelo Padre Waldomiro Otávio Piazza S.J. — Editora Vozes,
Petrópolls 1972, 160x230 mm, 236 pp.
O autor é licenciado em Teología Fundamental pela Universidade
Gregoriana de Roma. Tendo elaborado esquemas de aulas ministradas
com proveito, rcsolveu am>pliá-los de modo a publicá-los no livro ácima.
Concentra-se no estudo critico da S. Escritura. Aborda as nocSes de
inspiracSo bíblica, canonicldade, hermenéutica, passando, a seguir, para
os Evangelhos, cuja íidelidade e veracidade estuda. O autor recorre
aos métodos da critica moderna, que ele utiliza de maneira sadia- e
válida. O estudo se recomenda nao somente pela seguranca de suas
conclusOes, mas também pelo íato de informar sintéticamente sobre
as proposicfies da critica antiga e contemporánea. Os apéndices que
completam diversos capítulos do livro, süo de grande utilidadc tanto
para o aluno como para o proíessor, por apresentarem com clareza
esquemática os tópicos de assuntos complexos e dificeis.

Jesús e os revolucionarios do seu tempo, por Osear Cullmann.


— Editora Vozes, Petrópolis 1972, 130 x 180 mm, 55 pp.

Foi Jesús revolucionarlo?, por Martín Hengel. — Editora Vozes,


Petrópolis 1972, 130 x 180 mm, 43 pp.
Els dois livros que tratam do mesmo assunto sob ángulos um
pouco diversos. Propfiem um estudo dos dizeres de Jesús, que certos
pensadores julgam partadores de mensagem violenta ou sanguinolenta.
Mostram que certas dedaracoes de Cristo podern ser entendidas em
sentido revolucionario, enquanto outras podem sugerir a imagem de
um Jesús reacionárlo ou conservador. Donde se vé que qualquer das
duas interpretaeñes, tomada isoladamento, é falsa ou tendenciosa. Na
verdade, Jesús nao foi arauto de revolucSo sangrenta, nem íoi sicario
ou zelote. O que Cristo pregava era, antes do iríais, a renovacáo interior
de todo homem, revolucao ética e pessoal, que por si, naturalmente,
soncorre para a transformacSo da sociedade no melhor sentido da
palavra.
Multo se recomenda a leitura desses dois livrinhos, que vém ao
encontró dos interesses dos estudiosos de teología política. Contrlbuem
corajosamente para evidenciar que nao se deve fazer política utilizando
os valores religiosos como pretexto para promover ideologías.
Historia e doutxina do diaconato até o Concilio de Trento, pelo
P. Frei Irineu Wilges O.F.M. Tese para doutorado em teología na
Pontificia Universidade Antoniana de Roma. — Ed. Vozes, Petrópolis
1971, 160 x 230 mm, 366 pp.
Livro especialmente oportuno depois que o Concilio do Vaticano
II restaurou o diaconato permanente. O autor eomeca por urna pes
quisa bíblica, analisando também o significado de diakonla no mundo
extra-biblico. Passa para a historia do Cristianismo, cujos documentos
rcíerem a ordem do diaconato, suas funcOes, as qualidades do diácono,
os arquiddáconos, as diaconisas. Entre as conclusoes do autor, note-so
a seguinte: se hoje em dia se registra na Igreja a tendencia a confiar
o máximo possivel de funcOes aos leigos, a historia ensina que nunca
se ooncebeu um servico estável na Igreja sem a eolac&o de alguma
ordem, principio e raiz de tal funcao (cf. p. 344).
E. B.

— 239 —
NO PRÓXIMO NÚMERO :

Conteshacao na Igreja (II)

Revolucáo violenta ou evolucao pacífica ?

Náo-vioiéncia : sim ou nao ?

Congelamento de pacientes e ressurreicao de morios

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinatura anual Cr$ 30,00

Número avulso de qualquer mes Cr$ 4,00

Volumes encadernados de 1957, 1958, 1959, 1960, 1963, 1964


o 1967 (preco unitario) Cr$ 35,00

indico Geral de 1957 a 1964 Cr$ 10,00

Índice do qualquer ano Cr$ 3,00

EDITORA LAUDES S. A.

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Calxa Postal 2.666 Búa Sao Rafael, 38, ZOO»

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CREDIBRÁS TURISMO S.A.
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