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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
/ visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XV — N? 172
ABRIL DE 1974
índice
pAg-

O DUELO DA VIDA COM A MORTE 133

Para reflexáo individual e comunitaria:


"A EVANGELIZACAO DOS POVOS" 135

OUTRO DOCUMENTO DE AUTORIDADE 154

Um fenómeno dos nossos días :


SEITA E ESPiRITO SECTÁ.RIO : QUE SAO? 155

Mais urna vez no cinema:


"JESÚS CRISTO SUPERSTAR" 166

Iniciacáo crista :
PRIMEIRA CONFISSAO E PRIMEIRA COMUNHAO 174

RESENHA DE LIVROS 176

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

• * •

NO PRÓXIMO NÚMERO :

Intercomunhao eucaristica para católicos, protestantes e orto


doxos. — «O exorcista» : um romance-filme em foco. — Um filme
dinamarqués sobre Jesús Cristo.

X
Aos nossos assinantes pedimos queiram relevar a qualidade do
papel de PR. Deve-se á crise do mercado, que esperamos superar
em breve.
X

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinatura anual Cr$ 40,00


Número avulso do qualquer mes Ci$ 5,00
Volumes encadernados de 1958 e 1959 (prego unitario) ... Cr$ 35,00
Índice Geral de 1957 a 1964 Cr$ 10,00

EDITORA LAUDES S. A.
REDAgAO DE PR ADMINISTRAgAO
Caixa Postal 3.666 Rúa Sao Rafael, 38, ZC-09
ZC-00 20000 Rio de Janeiro (GB)
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Na GB, a Rúa Real Grandeza 108, a Ir. Maria Rosa Porto


tem uní depósito de PR e recebe pedidos de assinatura da
revista. Tcl.: 226-1822.
O DUELO DA VIDA COM Á NORTE
Abril, no calendario cristáo de 1974, é o mes da Páscoa,
festa em que se celebra o duelo da Vida contra a Morte, com a
Vitoria final da Vida.
Essa celebragáo é apta a encontrar eco em todo homem.
Com efeito, nao há aspiragáo mais arraigada e espontánea no
ser humano do que a aspiragáo á vida; esta é o bem fundamen
tal, sem o qual ninguém pode aspirar a putros valores. Obser-
ve-se, por exemplo, quanto é comum a exclamacáo «Viva...!»
Os gregos pré-cristáos tanto estimavam a vida que a julga-
vam prerrogativa dos deuses; estes eram imortais (athánatoi),
ao passo que os homens sao fadados a morrer. O que, segundo
o helenismo, diferenciáva dos homens os deuses, era precisa
mente a imortalidade (athanasía). Sófocles, em belo poema,
canta as grandezas do homem: este domina a Máe-Terra, sem-
pre fecunda, que ele rasga pela lavoura, para arrancar-lhe os
frutos; domina os animáis terrestres, que ele caga; domina os
ares, cujos pássaros ele consegue captar; domina as aguas, em
cujas profundidades ele penetra, arrebatando-lhes os peixes e
coráis. Todavía nao consegue dominar a morte, diante da qual
ele finalmente se prostra, inexoravelmente vencido.
Entre os judeus, eram freqüentes as lamentagóes do justo
que se vía cedo ou tarde entregue á morte; cf. SI 6,6; 87,2-19;
89,9-15; Is 38, 10-15.
Aínda hoje os homens experimentam o incoercível desejo
de viver no pleno sentido da palavra, mas aínda tém que se
dobrar diante do enigma da morte.
Pergunta-se entao: por que tal paradoxo? Por que terá
Deus incutido ao homem o desejo' natural e veemente de viver,
fazendo, porém, que, desde o despertar da razáo, ele se saiba
condenado á morte?
Em resposta, dizemos que a pergünta, intrigante e desa
fiadora como é, está mal formulada, aos olhos de um cristáo.
Ela tem que ser recolocada.
Na verdade, a vida para a qual Deus fez o homem, nao é a
presente vida; esta é insuficiente ou exigua demais para o ho
mem, que tem a sede e a capacidade do Infinito. Segundo as
Escrituras Sagradas, Deus é a Vida, o Deus vivo. Por con-
seguinte, viver, no sentido bíblico, é fruir do consorcio do Se-
nhor Deus, é estar com Ele para sempre.
Acontece, porém, que na existencia presente á adesáo a
Deus ou á Vida é contraditada pelo pecado, que habita no ho-

— 133 —
mem e o incita a se afastar do Supremo Bem, para cair na
morte. A S. Escritura insiste em assodar Deus e vida, pecado
e morte: «Deus nao é o autor da morte, nem se compraz na
perdigáo dos viventes... Deus criou o homem para a imortali-
dade e fé-lo a imagem da sua própria natüreza. Por inveja do
demonio é que a morte entrou no mundo» (Sab 1,13; 2,23s;
cf. Ez 18,32).

Sendo assim, diz a Escritura, Deus se dignou assumir a


vida mortal do homem; o Filho de Deus feito homem, Jesús
Cristo, atravessou a própria morte do homem, com seus pre
cursores (o sofrimento, a agonía, a cruz). Atravessando-os,
porém, em atitude de odio ao pecado e amor ao Pai, Cristo
divinizou-os, dando-lhes o valor de cañáis para a posse defini
tiva da Vida.

O cristáo tem consciéncia disto. Ele sabe também que foi


enxertado em Cristo pelo Batismo e a Eucaristía, de modo que
nele duas vidas se encontram: a vida física, precaria, a qual táo
fácilmente o homem se apega, vida, porém, mortal segundo as
leis da própria biología. A outra vida que o cristáo traz dentro
de si, é a vida eterna, recebida de Cristo; esta nao conhece
ocaso, mas, ao contrario, tende a se abrir cada vez mais, a
fim de chegar á sua estatura definitiva. Por isto nos días de
nossa vida terrestre dá-se um paradoxal processo: «Estando
aínda vivos, somos a toda hora entregues á morte por amor de
Jesús, para que a vida de Jesús se manifesté também em nossa
carne mortal... Aínda que o nosso homem ..exterior seja des
truido, o nosso homem interior se renova de día para dia» (2
Cor 4,11.16).
Eis, pois, a resposta do Senhor Deus aos anseios mais
espontáneos do homem: a Vida-Vida, a vida sem morte, Cristo
no-la trouxe, quando entrou em nossa vida-morte. Agora tra-
ta-se, para o cristáo, de trocar a vida-morte pela Vida-Vida.
Este é um processo que diariamente se vai realizando, na medi
da em que carregamos a nossa morte natural (nossas renuncias,
nossas molestias e fadigas...) em atitude de amor ao Pai, nao
simplesmente em atitude de conformismo cabisbaixo... .Entáo
a nossa cruz se nos torna motivo de mais íntima.configuragáo
Áquele que é o Senhor da Vida (cf. At 3,15).
Sao Paulo amplia ainda o horizonte, quando nos diz que
esse morrer-ressuscitar cotidiano com Cristo tem valor reden-
tivo em favor de nossos irmáos. Cf 2 Cor 4,10.12.15.
Tal é a mensagem que este mes de abril nos comunica. Ele
nos lembra que a festa de Páscoa se prolonga ñas mais come-
zinhas realidades da nossa existencia cotidiana.
E.B.

— 134 —
«PEROUHTE E RESPONDEREMOS»
Ano XV — N* 172 — Abril de 1974

Para reflexáo individual e comunitaria:

"a evangelizado dos povos"


(texto-base para o Sínodo Mundial dos Bispos
Roma, outubro 74)

Em outubro pf., reunir-se-á em Roma mais um Sínodo


Mundial dos Bispos, ou seja, urna assembléia de representantes
do episcopado de todas as partes do mundo. Tais assembléias
tém lugar periódicamente a fim de estudar questóes atinentes
á vida da Igreja de hoje e fomecer subsidios ao governo central
da S. Igreja.

Para o próximo Sinodo foi escolhido o tema «A Evangeliza-


gáo dos Povos», ou seja, os problemas concernentes á comunica-
cáo da Boa-Nova ou do Evangelho aos homens de hoje. Sabe-
-se, com efeito, que motivos filosóficos, como também razóes
práticas decorrentes da mentalidade e da clvilizacáo contem
poráneas, dificultam essa tarefa palmar da S. Igreja, que é a
de anunciar a Boa-Nova de Jesús Cristo; esta foi concebida
para todos os homens e todos os tempos.

A fim de preparar os estudos do Sinodo, a Santa Sé ela-


borou um documento que incita os bispos do mundo inteiro a
refletir desde já sobre o assunto, podendo associar a essa re
flexáo outros membros do Povo de Deus. O documento está
muito bem elaborado, de modo a prestar-se a proveitosos estu
dos do clero, e do laicato católico. Eis por que vai publicado
ñas páginas que se seguem, á guisa de incitamento e subsidio
para a reflexáo em grupos ou em particular sobre a' capital
questáo da comunicacáo da Boa-Nova ao mundo de hoje.

Como se poderá ver, o texto consta de tres partes: 1) To


mada de consciéncia do problema: fatores que hoje em dia favo-

— 135 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

recem e dificultam a evangelizado; 2) O que a Igreja entende


propriamente por evangelizábalo: apresentagáo de linhas teoló
gicas, dissipagáo de mal-entendidos e equívocos; 3) Orientagóes
e sugestóes para atender á problemática proposta.

O documento val aqui transcrito segundo a tradugáo por


tuguesa que veio diretamente de Roma. Apenas nos permitimos
adaptar a grafía de certas palavras ao uso comum no Brasil.

EVANGELIZADO DO MUNDO CONTEMPORÁNEO

INTRODUCTO

1. O mundo moderno encontra-se em plena evolugáo :


as pessoas e as comunidades, de fato, constroem coma sua
própria atividade a vida individual e social. Comeca um novo
modo de viver, em virtude da industrializagáo, da urbanizagáo,
da Independencia alcangada por novas nagóes, etc. Mais ainda:
ñas próprias consciéncias dos homens estáo em mudanga os
criterios de ajuizar e a escala dos valores.

2. Nesta nova configuragáo que o mundo está a assu-


mir, Cristo, com a sua Paixao e com a sua Ressurreigáo, tem
de estar presente: como principio da vida eterna, á qual todos
somos chamados, como sentido da historia, como modelo do
homem novo, isto é, como fundamento da esperanga do
homem todo.

3. Esta presenga salvadora de Cristo realiza-se através


da mediagáo da Igreja: Deus, na verdade, quer que todos
os homens se salvem na unidade do Povo de Deus e pelo
ministerio deste Povo. A mediagáo da Igreja é exercida com
a evangelizagao.

4. Com a palavra "evangelizagao" entendem-se hoje em


dia, comumente, diversas coisas. Este termo pode designar,
em primeiro lugar, toda a atividade por meio da qual o mundo
é transformado, de qualquer modo, em conformidade com a
vontade de Deus criador e redentor. Depois, exprime-se com
a mesma palavra aquela atividade, a um tempo real e pro-
fética, pela qual é edificada a Igreja, segundo a intengáo de
Cristo. Mais freqüentemente, dá-se ao termo urna terceira
acepgáo: aquela com que se significa a atividade mediante

— 136 —
«EVANGELIZACAO DOS POVOS»

a qual o Evangelho é proclamado e explicado, e mediante a


qual a fé viva é suscitada nos náo-cristaos e alimentada nos
cristáos (pregacáo missionária, atividade catequétlca, hcmilé-
tica, etc.). Por fim, o significado da pálavra é restringido, para
indicar apenas o primeiro anuncio do Evangelho feito aos
nSo-cristáos, pelo qual é suscitada a fé (pregacáo rnissioná-
ria - kerigma).

Estes varios sentidos da palavra, no entánto, estáo de


tal maneira conexos entre si, que nao podem distinguir-se
adequadamente as atividade por eles designadas. Assim, ñas
discussóes sucede nascerem muitas vezes ambiguidades, por
isso mesmo que, por "evangelizagao", uns entendem urna
coisa, e outros entendem outra. Por um motivo de clareza,
portante nestas páginas, que sao um "instrumento de traba-
Iho", a palavra "evangelizagáo" é entendida no terceiro sen
tido ácima apontado; ou seja: a atividade com a qual a Igreja
proclama o Evangelho, para que daí nasca, se esclareca e
tome incremento a fé.

5. Dado, porém, que na multiplicidad^ de situagóes em


que se acha a Igreja universal, as varias Igrejas particulares
obtém resultados diferentes e tém de fazer face a falhas e a
necessidades diversas, é sobremaneira útil que se faga a co
mún ¡cagáo das experiencias positivas e negativas entre as
mesmas Igrejas, urnas com as outras e com a Sé Apostólica,
a fim de que a agáo coordenada do Povo de. Deus, a partir
disso, seja orientada com maior eficiencia para a evangeli-
zagáo.

PRIMEIRA PARTE

PANORAMA DA EVANGELIZADO NA HODIERNA


SITUACÁO DO MUNDO

Com o intuito de urna reflexáo teológico-pastoral e para


déla deduzir orientacoes práticas, é preciso descrever as si
tuagóes ñas quais a Igreja se acha a exercer a evangelizagáo.
Desse modo tornar-se-á possível indicar os aspectos comuns
a toda a Igreja, e aqueles que sao característicos de cada
urna das Igrejas.*

i|gre]as e Igrejas partteutares sao express5es que neste Documento


slgnlficam dloceses ou blspados (nota do redator da revista).

— 137 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

FATORES QUE PODEM SER FAVORÁVEIS


A EVANGELIZADO

Antes de mais nada, será útil por em realce aqueles ele


mentos que na situagáo hodierna podem abrir os caminhos á
evangelizado e dispor os homens para a receber. Indicamos
alguns de entre esses. elementos, acerca dos quais se poderá
perguntar se estes precisamente, ou outros, se encontram pre
sentes ñas Igrejas particulares, e se verdadeiramente favore-
cem a evangelizagáo.

A) Os homens buscam um novo estilo de vida, a liber-


tagáo de todas as formas de servidáo e a evolugáo e promo-
gáo do homem todo.

B) Na sociedade humana também os individuos, singu


larmente, procuram o sentido da vida e cada día mais se
véem imersos nesta discussáo.

C) A Insatisfagáo nao nasce apenas devido á falta de


progresso, mas cresce também com o advento do próprio pro-
gresso.

D) A Igreja é cada vez menos identificada com as estru-


turas políticas da sociedade e tem a possibilidade de mani
festar mais claramente a sua natureza religiosa.

E) Observa-se urna certa reagáo contra o conformismo


e contra o imobilismo, que se manifesta na contestacáo das
estruturas impostas do exterior.

F) As novas formas comunitarias, de qualquer género,


que váo surgindo por toda a parte, manifestam a inclinagao
do homem para incrementar a solidariedade mutua.

G) Aumenta o sentido da responsabilidade pessoal.

H) As formas menos nobres de religiosidade sao enca


radas como coisas vas, e sao ou rejeitadas ou entáo corrigi-
das; aumenta, pelo contrario, o aprego em re lacio a urna
experiencia religiosa mais auténtica e esta é mesmo procurada.

I) As varias religioes e ideologías do mundo convergem


na procura da paz e da justiga.

— 138 —
tEVANGELIZACAO DOS POVOS»

II

FATORES QUE PODEM CONSTITUIR OBSTÁCULO


PARA A EVANGELIZACÁO

Há outros elementos que parecem ser, prevalentemente,


nocivos para a evangelizado,; será bom examinar também
quais sao eles, e determinar qual é a sua verdadeira funcáo.
Indicam-se aqui alguns exemplos.

A) Alguns obstáculos que se descobrem fora da Igreja

1. A cultura moderna, conforme se manifesta quer ñas


ciencias humanas (psicología, sociología, antropologia, etc.),
quer ñas tendencias filosóficas, económicas, etc., e conforme
também se difunde ñas carnadas populares, apresenta con-
cepcóes do homem e interpretagdes da existencia humana fe
chadas a Deus e ao Evangelho.

Sob que formas, em quais ambientes e com qual eficacia


se observam tais influxos nessa Igreja particular ?1

2. Mu ¡tas vezes afirma-se que o ateísmo progride no


mundo atual. Isso é verdade? Quais as formas que assume
— se porventura existe — o ateísmo nessa Igreja particular ?

3. Em muitos países torna-se cada vez mais extensa a


secularizagáo das ¡nstituigóes (escolas, hospitais, etc.). Julgais
ser um obstáculo para a evangelizacáo urna tal secularizagáo?
E de que maneira ?

4. As condigóes sociais da vida estáo a mudar (urbaniza-


gao, migragóes, etc.). Impedem tais transformacóes a evange-
lizagáo? E até que ponto a impedem ?

5. As re I agoes internacionais exercem urna influencia


cada dia maior na vida dos povos e os acontecimentos sao
prontamente conhecidos no mundo inteiro. Afetam todas estás
coisas, em sentido negativo, a evangelizagáo ?

6. Os valores tradicionais (a familia, a patria, a honra,


etc.) sao mudados; e os preceitos moráis que vigoravam em

JA interrogacüo é dirigida á diocese na qua! o documento esteja sendo,


estudada (nota do redator da revista).

— 139 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

tempos passados sao postos em dúvida. Qual é o alcance de


semelhante transformado nessa regiáo? Está a evangelizagáo
também sujeita aos inconvenientes que comportam tais mu
danzas ?

B) Alguns obstáculos que se observam no seto da Igreja

1. A fé, em muitos cristáos, está exposta a provagóes e


chega mesmo a vacilar. Como se poderá descrever esta fra-
gilidade da fé, como poderá ser explicada e de que maneira
influi ela na evangelizagáo ?

2. Certas tendencias, que encontram a sua expressáo


ñas teorías da "morte de Deus" e do "cristianismo sem reli-
giáo", em parte conscientemente e em parte de forma incons
ciente e implícitamente, váo sendo difundidas. Verifica-se entre
vos a influencia de semelhantes idéías? Impede tal influencia
a evangelizagáo ?

3. Observa-se urna certa inseguranga na fé, que se torna


manifesta mesmo no interpretar a Sagrada Escritura, e algu-
mas vezes vai até ao ponto de atingir os ensinamentos cen
tráis do Evangelho (identidade de Cristo, a sua verdadeira
divindade, a ressurreigao, a índole escatológica do Evangelho,
o significado universal do dom messiánico trazido por Cristo,
a natureza da salvagáo crista, etc.). Como se poderá fazer a
evangelizagáo, quando todas estas coisas sao postas em
causa ?

4. As vezes dá-se a divisáq entre os membros da pró-


pria Igreja, ao interpretar as exigencias moráis do Evangelho
(ética individual, familia, política, etc.). Verifica-se esta divisáo
nessa Igreja particular? Diminuí ela a autoridade moral da
Igreja e a firmeza da consciéncia dos fiéis ?

5. Os cristáos experimentam dificuldade quando se trata


de exprimir a própria fé numa linguagem inteligível para os
nossos .contemporáneos. Seria, acaso, a mesma formulagao
bíblica e tradicional da experiencia crista um obstáculo, pelo
quai se é impedido de comunicar estas experiencias hoje aos
outros ?

6. Nao raro, a Igreja é acusada de ser urna instituígáo


que, em vez de revelar, esconde o Evangelho. Qual será a

— 140 —
«EVANGELIZACAO DOS POVOS>

causa ou a ocasiáo de semelhante acusagáo ? Existern na


realidade, entre vos, aigumas formas de vida eclesiástica que
paregarr ocultar o Evangelho ?

7. A Igreja nao pode manter as su as instituigdes sem


meios materiais; entretanto, o uso de tais meios, aos olhos
de muitos, torna-a suspeita de colaborar com alguns órgáos
do poder económico e político, talvez injustos. Será que se
verifica entre vos está cooperagáo e constituí ela um obstá
culo á evangeiizagáo ?

8. A acentuagáo do pluralismo na Igreja leva a urna di-


versidade nos usos, na disciplina, na liturgia a, quigá, mesmo
na própria formulagáo da fó. Por forga de urna tal variedade
ficará diminuida aquela unidade, que constituí urna "nota" da
Igreja (cfr. Jo 17,23) ?

SEGUNDA PARTE

JUfZO TEOLÓGICO ACERCA DA SITUACAO ATUAL


DA IGREJA RELACIONADA COM A EVANGELIZADO

A descrigáo desta situagáo já demonstra que a crise da


evangeiizagáo, no mundo dos nossos días, de modo nenhum
poderá ser superada simplesmente com urna adaptagio da
igreja ás exigencias da sociología, da psicología, etc.; mas,
mais do que isso, se requer sejam aprofundadas certas nogoes
fundamentáis, implicadas no ministerio da evangeiizagáo, como
por ex. a salvagáo, a fé, a conversáo, a pessoa de Cristo, a
Igreja, etc.; depois, que á luz de tais nogóes sejam repensa
dos os principios teológicos da evangeiizagáo.

Ora tudo isto poderá fazer-se, oportunamente, ñas atuais


circunstancias. Para tanto, será bom que aigumas intuigóes
missionárias, já indicadas pelo II Concilio do Vaticano, sejam
ilustradas no seu sentido genuino, o que propomos na alinea II;
depois, que .certas antinomias, as quais, em basé a solucóes
demasiado unilaterais, determinam posicóes contrastantes, se
jam revistas, em ordem a urna certa sintese, o que propomos
na alinea III. Entretanto, para se poder chegar a fazer isto,
impóe-se recapitular, em primeiro lugar, alguns principios teo
lógicos acerca do ministerio da Palavra, acerca do seu des
tino e da sua eficacia, o que se afigura necessárío, quer para

— 141 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

que as aludiddas intuicdes sejam vistas com maior clareza, quer


para que as tais antinomias possam ser resolvidas; e é o,que
passamos a fazer na alinea I.

ALGUNS PRINCIPIOS DA TEOLOGÍA DA EVANGELIZAQÁO

A) O II Concilio do Vaticano exprime o principio funda


mental da teología;da evangelizagáo da seguinte maneira:
"Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si
mesmo e dar a conhecer o misterio da sua vontade (cfr. Ef
1, 9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo
Encarnado, tém acesso ao Pai, no Espirito Santo, e se tornam
participantes da natureza divina (cfr. Ef 2, 18; 2 Pedr 1,- 4).
Com efeito, em virtude desta revelado, Deus invisível (cfr.
Col 1, 15; 1 Tim 1,17) na riqueza do seu amor fala aos homens
como amigos (cfr. Ex 33, 11; Jo 15, 14-15) e convive com eles
(cfr. Bar 3, 38), para os convidar e admitir á comunhao com
Ele" (Const. Dei Verbum, n. 2). A realidade e o valor, assim
como a necessidade e a eficacia da evangelizagáo, portanto,
nao recebem a sua inteligibilidade última de urna considera-
gáo empírica das realidades criadas, mas sim da revelagáo do
misterio da salvacao, estabelecida ubérrimamente por Deus,
desde toda a eternidade.

B) No centro deste misterio está Cristo. Ele próprio con


suma a obra da salvacáo que Ihe foi confiada pelo Pai, com
a sua encarnagao, com palavras e obras, sinais e milagres, e
sobretudo com a sua morte e ressurreigáo e com a sua perene
presenga no mundo; assim, reconcilia todas as coisas com
Deus e comunica aos homens os bens divinos (cfr. Const. Dei
Verbum,n. 4). Ele é, efetivamente, a luz verdadeira que ilumina
todo o homem (cfr. Jo 1, 9) e o único nome que foi dado aos
homens debaixo do céu, pelo qual eles devem ser salvos
(cfr. At 4, 12). Os homens, por conseguirte, em tanto chegam
a salvagáo em quanto (e isso mesmo de modo inconsciente)
forem .conduzidos pelo Espirito de Cristo a participaren! da ple-
nitude do mesmo Cristo; o que poderá ser obtido com tanta
maior facilidade, com quanta maior perfeigáo eles o conhece-
rem e o seguirem como discípulos fiéis.

C) Cristo glorificado, que permanece presente no mundo,


congrega a Igreja pela proclamagáo da Palavra, vivifica-a pelo

— 142 —
' «EVAÑGELIZACAO DOS POVOS» 11

Espirito Santo é envia-a por todo o mundo, para atiiar a obra


da redengáo.

A Igreja, por sua vez, desempenha esta missáo, nao obs


tante a presenga do misterio da iniqüidade operante no mundo.
Ela, para isso, anuncia o Evangelho, procura com a sua vida
dar dele testemunho, insere os homens em Cristo pelo sacra
mento do katismo, e pelos demais sacramentos, sob'retudo
pela Eucaristía, leva essa insergáo até á sua maturidade. Com
a evangelizagao, a Igreja exerce um seu direito específico e
sagrado, do qual nao pode licitamente ser impedida por
ninguém. Entretanto, ao proclamar o Evangelho, a mesma Igreja
nao pretende estender o próprio dominio sobre os homens e
submeté-los á sua autoridade; mas intenta sobretudo servi-los,
abrir-lhes o caminho da salvagáo e proporcionar a cada um
deles aqueles bens que Ihe sao indispensáveis.

D) A proclamagáo da Paiavra de Deus corresponde a fé,


pela qual o homem se entrega totalmente a Deus, de modo livre,
prestando ao mesmo "Deus que se revela o obsequio pleno da
inteligencia e da vontade e dando voluntariamente o próprio
assentimento á Sua revelacáo" (cfr. Const. Dei Verbum, n. 5);
e essa fé, quando atinge a sua perfeigao, determina a ordena-
gao da vida toda, em ,conformidade com a vontade de Deus.

A personalidade do homem, com a fé, nao só nao fica


diminuida, mas, pelo contrario, é levada á sua plenitude. Efeti-
vamente, pela fé, já nesta vida presente, realiza-se a unidade
e a perfeigao da existencia; a pessoa humana ¡nsere-se orde
nadamente na sociedade humana e no universo criado por
Deus, rsconcilia-se com o mesmo Deus, sem o qual o coragáo
humano nao consegue ter paz, e, sobretudo, sao-lhe ¡conferidos
o penhor e as primicias da vida eterna.

Todas estas coisas háo-de ser consideradas como efeito


e beneficio da evangelizagao. Assim, embora Deus, por cami-
nhos só por Eie conhecidos, possa conduzir os homens que
ignoram o Evangelho sem culpa sua, áquela fé sem a qual é
impossfvel agradar-I he (Hebr 11,6; cfr. Decr. Ad Gentes, n. 7),
este objetivo, todavia, mais difícilmente poderá ser alcangado
sem a evangelizagao.

, E) O Evangelho tem como destinatarios todos os homens,


urna vez que Cristo morreu e ressuscitou por todos e para
todos mereceu a graga da salvagáo. A Igreja, portanto, deve
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

prosseguir sem cessar a obra da evangelizado, a firn de que


aqueles que ainda nao créem cheguem á fé, e aqueles que já
acreditam cresgam na sua fé.

II

EXAME APROFUNDADO DE ALGUMAS INTUIC6ES


APOSTÓLICAS DO II CONCILIO DO VATICANO

O II Concilio do Vaticano propós algumas orientagóes con-


cernentes á evangelizagao. Parece ter chegado a hora de o
Sínodo examinar: aquilo em que os gérmens assim langados.
já frutificaram; aquilo que até agora foi traduzido na prática
de maneira insuficiente ou menos acertadamente; e, enfirn,
aquilo que talvez tenha dado azo a desvíos ou até mesmo a
erros. Para semelhante exame, propóem-se, a seguir, alguns
exemplos á consideragáo de todas e de cada urna das Igrejas.

A) O II Concilio do Vaticano ensinou que Cristo oferece


a salvagio a todos os homens e que o seu influxo salvador
nao se estende somente á unidade visível da Igreja (cfr. Const.
Lumen Gentium, n. 16; Decr. Ad Gentes, n. 7; Const. Gaudium
et Spes, n. 22). Pergunta-se: terá esta afirmacáo felto diminuir
o fervor na evangelizagáo? Como há-de ela ser ratamente
explicada, a fim de nao prejudicar a mesma evangelizagáo,
mas, ao contrario, poder servir-lhe de auxilio? No contexto, o
que se há-de pensar da teoría dos "cristáos anónimos", da "fé
implfcita suficiente para a salvagáo", da "salvagáo sem Evan-
gelho", etc.?

B) O II Concilio do Vaticano ilustrou bem o valor da liber-


dade de consciéncia (Decr. Dfgnitatls Humanae, n. 2) e ao
mesmo tempo ensinou que o Evangelho está ordenado para a
liberdade do homem (Const. Del Verbum, n. 5). Como pode
ser salvaguardada a liberdade de outrem, sem que se ponha
de parte a insistencia em convidar os nossos semelhantes para
que abracem o Evangelho? (Cfr. a problemática acerca do
Batismo das criangas, acerca da instrucáo religiosa, da distin-
gáo entre proselitismo e apostolado, etc.).

C) O II Concilio do Vaticano insiste na necessidade de o


Evangelho penetrar de maneira cada vez mais profunda nos
coragoes, e de ele ser mais seriamente posto em prática (cfr.
por ex. Const. Lumen Gentium, n. 14). Teria, acaso, esta insis-

— 144 —
«EVANGELIZACAO DOS POVOS» 13

téncia num catolicismo "qualitatlvo" feito diminuir o desejo de


trazer o maior número possível de homens á unidade da Igreja?
Como é que um e outro aspecto (o qualitativo e o quantitativo)
do catolicismo podem ser concillados? (Cfr. a eclesiologia do
"pequeño rebanho", do "éxodo", do "deserto", etc.).

D) O II Concilio do Vaticano ensinou que as religióes


náoncristas contém auténticos valores religiosos (Decl. Nostra
Aetate, n. 2) e que elas, constltuem um caminho para o Evan-
Qelho (Const. Lumen Gentfum, n. 16). Alguns afirmam que isto
se pode interpretar neste sentido: que essas religióes tém em
si mesmas um valor de salvacáo (nao somente á maneira de
preparagáo para o Evangelho) e, assim, que o Evangelho é
apenas urna das vías de salvacáo, se bem que privilegiada.
Julgais que semelhante interpretagáo se pode conciliar com a
novidade e absoluta originalidade do Evangelho?

E) No II Concillo do Vaticano Cristo Senhor é apresen-


tado como Aquele em quem o misterio do homem se esclarece
(Decr. Ad Gentes, n. 8; Const. Gaudfum et Spes, n. 22), e em
quem os homens chegam á plena maturidade e liberdade hu
mana (Const. Gaudium et Spes, n. 41). Pergunta-se: como é
que isto se há-dé explicar, de maneira a nao por em causa
quer a transcendencia do Verbo Encarnado, quer a unidade do
fato irrepetível de Cristo?

F) O II Concilio do Vaticano ensina que o Espirito Cria


dor opera continuamente no mundo; e, por isso, considera os
fenómenos humanos em si como sinais dos tempos. Ora isto,
nao raro, é entendido de tal maneira que as tendencias e as
aspiracóes humanas sao tomadas como se constituissem um
"lugar teológico". Dado, porém, que no mundo opera também
conjuntamente o misterio da iniqiiidade, diz-se que os sinais
da verdadeira presenga de Deus háo-de ser interpretados á luz
do Evangelho. Por isso pergunta-se: de que modo háo-de ser
interpretados os sinais dos tempos, de molde a servírem á
causa da evangelizagáo?

G) O II Concilio do Vaticano insiste nisto: que o Evange


lho pode e deve ser adaptado a todas as culturas e iluminá-las
de tal modo que os valores auténticos que nelas se encerram
sejam referidos a Cristo, como á sua fonte (cfr. Decr. Ad
Gentes, n. 22; Const. Gaudium et Spes, n. 62). Pergunta-se,
pois, qual é a relagáo que existe entre a evangelizagáo tomada
como algo que deve iluminar e unificar as culturas, e a evan-

— 145 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

gelizacáo como algo que há-de provocar também a conversao


das mesmas culturas para Cristo? (Problemas do sincretismo).

III
ANTINOMIAS DA EVANGELIZADO QUE HAO-DE
CONGRACAR-SE NUMA SINTESE

A experiencia no.campo da evangelizagao demonstra dar-


-se ás vezes a tendencia para acentuar algumas verdades de
tal maneira que outras verdades complementares paracem ser
virtualmente negadas. A compreensáo teológica da evangeliza-
cáo exige que nao sejam simplesmente afirmadas ao mesmo
tempo aquelas coisas que se opoem; mas, sim, que as ver
dades parciais e que aparentemente se excluem sejam também
coadunadas em ordem a urna síntese, através de urna penetra-
gao mais aprofundada da unidade das mesmas. Apontam-se a
seguir algumas dessas antinomias, com o intuito de as varias
Igrejas poderem examinar se a síntese, porventura entrevista
numa linha teorética, é suscetível de eliminar as unilaterali-
dades e os- exageras, perniciosos para a evangelizagao.

A) Julga-se algumas vezes que o fim da evangelizagao é


a transmissao de urna determinada doutrina objetiva; outras
vezes pensa-se, ao contrario, que toda a evangelizagao há-de
levar a este resultado: tornar presente o misterio de Cristo,
pela experiencia crista. Será que urna coisa exclui a outra?
Como se poderá demonstrar que, na verdade, urna coisa exige
a outra para a sua perfeigáo e plenitude ?

B) Há quem pense que a evangelizagao consiste somente


no fato de dar testemunho, com a existencia crista, da virtude
e da beleza do Evangelho; outros, por sua vez, opinam que^a
evangelizagao consiste meramente na proclamagao do mesmo
Evangelho. Como se poderá demonstrar que a credibilidade
das palavras depende do testemunho, e que a inteligibilidade
do testemunho, por seu turno, se encontra ñas palavras?

C) A finalidade da evangelizagao é a conversao, que é


urna ruptura na vida do homem e urna reconstrugáo da mesma
em torno de um novo centro (que é Cristo). Isso pode ser des
crito quer como urna "morte", quer como o inicio de urna
"vida" mais plena. Pergunta-se: como poderáo estes dois
aspectos ser reduzidos á unidade, na evangelizagao? (Proble
ma do "humanismo cristáo").

— 146 —
«EVANGELIZACÁO DOS POVOS» 15

D) Há alguns que descrevem a evangelizacáo de tal modo


que se flca com a fmpressao de ela se situar num plano mera
mente espiritual e religioso, e dever libertar o homem apenas
dos lacos do pecado. 'Outros, pelo contrario, por descreverem
Cristo como um novo Moisés, consideram que ó Evangelho
— pelo menos na presente fase da historia — se ordena so-
mente para a promocáo humana. Pergunta-se se há-de falar de
duas finalidades da evangelizacáo (intimamente conexas entre
si), ou se um e outro aspecto da evangelizagáo se harmonizam
numa unidade. E, entao, o que se há-de acentuar mais? O que
pensar das maneiras de dizer "a Igreja, ao evangelizar, huma
niza", e "a Igreja, ao humanizar, evangeliza"? (Cfr. os proble
mas da teología política, da teología da libertagáo e da revo-
lucáo).

E) A evangelizacáo constituí a missáo da Igreja no mun


do. Há alguns, no entanto, que, por julgarem a Igreja institu
cional como um impedimento para essa atividade, pensam que
é preciso evangelizar, prescindindo da mesma Igreja institucio
nal. Pergunta-se: de que natureza é a relacáo que existe entre
a ¡nstituicáo eclesiástica e a promocáo das pessosas ou mesmo
das comunidades? De igual modo, para que fim há-de ser pri
mariamente orientada a evangelizacáo — para a edificacáo da
Igreja ou para a salvacáo dos homens?

F) A evangelizacáo, ordinariamente, sem o testemunho


da vida eclesial, com muita dificuldade pode vir a ter bom éxito.
Daí haver quem pense que se deve renunciar á evangelizagáo,
até quando a Igreja se nao reformar interiormente de molde a
aparecer em plenitude como sinal de Deus no mundo. Pergun
ta-se: deverá. a Igreja, efetivamente, renunciar á evangelizagáo
dos náo-cristáos, para primeiro se reformar internamente a si
própria? Ou, por outro lado, háo-de as duas atividades — re
formadora no seu interior e missionária para o exterior
— coexistir simultáneamente? E, mais ainda, nao seráo elas
táo intimamente conexas entre si que nao se poderá atuar uma
sem a outra?

G) Considerada a insistencia do Evangelho no dever de


promover a unidade, e dado por outro lado o fato do alhea-
mento e da separacáo dos outros, o que é considerado por
muitos um mal gravíssimo, parece que a evangelizacáo terá
de ser concebida como o esforco para reunir todos ós homens
nessa unidade. O Evangelho, por outro lado, ensina que os
discípulos sao arrancados do mundo e estao sujeitos ao odio

— 147 —
16 «PERPUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

e á perseguido. Pergunta-se: tratar-se-á de urna alternativa,


ou antes de dois aspectos da mesma realidade? (Problemática
da identidade ou da singularidade da existencia crista).

H) O ecumenísmo intenta realizar a unidade de todos os


cristáos; e, no diálogo, frisa os elementos que existem em
comum entre eles, e evita aqueles que os separam. Pergunta-se:
como podará harmonizar-se esta tendencia para a unidade com
a missáo da Igreja, de proclamar a verdade integral do Evan-
gelho? De que maneira há-de ser julgada a diminuicáo das
conversóes de pessoas de outras profissóes cristas? Dever-se-á
atribuir tal fato, entre outros motivos, a um ecumenismo mal
entendido?

TERCEIRA PARTE

DE QUE MANEIRA HA-DE SER PROMOVIDA EM NOSSOS


DÍAS A EVANGELIZADO

Depois de se ter descrito a situaclo da evangelízacáo e


de se ter formulado um juízo teológico acerca de tal situacao,
surge espontáneamente a pergunta: como há-de entáo ser re
novada a atividade da evangelizacao na Igreja, de molde a que
a mesma Igreja possa desempenhar com maior eficiencia a
própria missáo no mundo dos nossos dias? Em ordem a deli
near urna resposta, passam a ser indicadas agora: num primeiro
momento, algumas orientacoes gerais; e, em seguida, algumas
sugestóes para as aplicagoes práticas.

INDICAQAO DE ALGUMAS 0RIENTA£6ES

Da descrigáo feita ñas páginas precedentes, já vieram á


baila determinadas opcóes fundamentáis, como algo de indis-
pensável para o renovamento da evangelizagáo. Recapitulare
mos algumas dessas opcóes, com o intuito de, por elas, as
Igrejas particulares poderem dar-se conta de quais háo-de ser
os principios por que deve reger-se a planificacáo missionária
e de quais as prioridades a serem observadas na linha opera
tiva, para se seguir urna ordem acertada.

A) Dado que a fé é o fundamento de toda a vida crista,


é necessário que tudo aquilo que se faz na Igreja (pregacao,

— 148 —
«EVANGELIZACAO DOS POVOH» 17

investigagao teológica, organizagáo, culto, Ínstituic5es, etc.)


seja orientado pa/a este objetivo: levar tanto os individuos
como as comunidades a converterem-se para Deus, que se nos
comunica em Cristo, e a continuaren"! a viver sempre, em cons
tante progresso, essa conversao.

B) A vida de fé, sobretudo no seio da sociedade seculari


zada dos nossos días, nao se nutre e nao cresce senáo em
comunidade. Assím aparece clara a necessidade: primeiro, que
surjam e se desenvolvam «comunidades de todos os géneros,
ñas quais os membros possam comunicar uns aos outros, reci
procamente, a fé, comprová-la e fazé-la aumentar; depois, que
as mesmas comunidades difundam para o exterior a fé, a co-
muniquem e a consol Ídem, onde isso Ihes for proporcionado.

C) A Igreja nao pode renunciar ao direito nem declinar o


dever de anunciar o Evangelho, para que, desse modo, suscite
novos discípulos de Cristo. Os cristaos, portanto, nunca devem
envergonhar-se do Evangelho, mesmo quando estáo conscientes
de proclamar urna mensagem que repugna á debilidade humana.

D) A fim de a fé ser anunciada com eficacia, é preciso


a Igreja estar ativamehte presente naqueles centros em que se
elabóram as concepcóes do mundo, do homem e da sua historia
(ou seja, no campo das ciencias naturais, humanas, filosóficas,
e no das diversas artes), de tal maneira que os cristaos cola-
borem para o progresso cultural; isso fará com que as mentali
dades, determinantes em relacáo á vida humana, permanegam
abertas aos problemas religiosos e aos valores transcendentes.

E) Atendendo a que a opiniáo pública hoje em día é for


mada e orientada em larga escala pelos meios de comunicagáo
social (imprensa, cinema, radio, televisao, etc.), a Igreja deve
procurar estar presente neste campo. Um bom uso dos mes-
mos meios normalmente implica:

1. a pré-evangelizagáo, ou seja,' a informacáo exata,


previa á fé, acerca da doutrina crista, da ética crista, da rela
cáo entre a Igreja e o mundo, etc.;

2. urna contribuigao para a evangelizacao, a fim de que


a catequese e a pregacáo sejam ilustradas com os meios audio-
-visuais e, através das imagens, penetrem na consciéncia dos
homens, de modo conforme com a cultura moderna;

— 149 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 172/1974

3. um me ¡o di reto para a evangelizado, para que esta


penetre também naqueles ambientes que, geralmente, estáo
fechados á pregacáo; e isso, aínda, com aquela freqüéncia
que nao é dado á pregacáo ¡mediata alcancar.

F) Quando a Igreja recomenda a cada um dos fiéis que


colabore na promocáo humana (como o fez no II Concilio do
Vaticano, em numerosos documentos e no último Sínodo), de
modo algum esquece que o seu múnus próprio, em tal promo
cáo, consiste em tomar manifestó ao homem qual é o seu fim
último, á luz do qual o mesmo progresso há-de redundar num
verdadeiro bem para o homem.

G) A Igreja, pela sua própria existencia e pela sua vida,


é um sinal da verdade do Evangelho, no mundo; e como tal
há-de aparecer sempre. Nos nossos tempos, porém, algumas
yezes a Igreja parece ser objeto de urna tal ou qual descon
fianza, quer devido á fragilidade dos homens, quer por causa
de urna certa sua ligacáo com as estruturas temporais. É ne-
cessário, pois, que a Igreja se renové profundamente nestas
coisas em que aparece falha, para tornar visfvel Cristo, que
nela está presente.

II

SUGESTÓES PARA ALGUMAS APLICACOES

Passamos agora ás aplicacóes práticas; indicaremos, á


maneira de exemplos, alguns aspectos da evangelizacáo que
há-de ser renovada, mediante os quais seja despertada a ima-
ginacáo criadora, a fim de que em cada urna das Igrejas se
individuem as necessidades mais urgentes e se descubram para
elas os remedios. Faremos isto, seguindo a ordem das "orien-
tacóes" ácima enunciadas.

A) Quanto ao primeiro ponto:

1. Estáo as nossas comunidades (dioceses, paróquias,


etc.) conscientes de serem responsáveis tanto pela evangeliza
cáo dos próprios membros quanto pela dos que nao créem ou
que perderam a fé?

2. Sucede, acaso, que a organizacáo, a administracáo,


etc., ñas comunidades, absorvem tantas energías, que, por isso,

— 150 —
«EVANGELIZACAO DOS POVOS» 19

a evangelizagao propriamente dita (homilía, catequese, etc.)


fique prejudicada?

3. ' Na reforma litúrgica, tem-se em conta a índole didá-


tica e pastoral do culto (cfr. a adaptagáo da Ifngua, as fradu-
cóes da Sagrada Escritura, a preparagao para os sacramentos
da iniciagáo crista, etc.)?

B) Quanto ao segundo ponto:

1. O que é que se faz nessa diocese, para que as fami


lias cristas déem aos próprios filhos a primeira e fundamental
educagao crista? ;

2. As nossas paróquias sao verdadeiras comunidades?


De que maneira contribuem elas para fomentar á vida comu
nitaria? .

3. Existem nessa diocese organismos eclesiásticos de


participagáo e de corresponsabilidade, como o Conselho Pres
biteral e o Conselho Pastoral? é a sua fungáo eficaz?

4. Acham-se as comunidades religiosas (mesmo as con


templativas) orgánicamente inseridas na vida das Igrejas par
ticulares? E de que'maneira contribuem para a promover?

5. Que se deve dizer das pequeñas comunidades, que


surgem por toda a parte (comunidades de base, grupos espon
táneos etc.)?

6. De que maneira se há-de conceber a presenga do


Bispo na sua diocese, para que ele seja o centro da vida
comunitaria?

C) Quanto ao terceiro ponto:

1. Tém os Bispos o cuidado por que se conserve, na


evangelizagao, a integridade do Evangelho, no que se refere
ás verdades dogmáticas e moráis, apesar de algumas vezes
poderem parecer contrarias á mentalidade moderna?

2. Sucede, acaso, que na pregagáo s na catequese se


deixam em silencio ou sao atenuados ou, ainda, sao falsamente
interpretados temas fundamentáis, como a divindade de Cristo,
a necessidade da fé, a vida de graga, os novfssimos do
homem, etc. ?

— 151 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

3. O que é que se faz para urna formacáo continuada


do clero em ordem á evangelizado (institutos de pastoral, cur
sos, bibliotecas, etc.)?

4. Orienta-se a formacáo dos candidatos ao sacerdocio


para a sua futura atividade de evangelizado ?

5. Sao os leigos preparados convenientemente para o


apostolado, adotando os recursos adequados para tal fim (es-
piritualidade apostólica, doutrina teológica, técnicas da comu-
nicagáo, meios de sustentacáo) ?

D) Quanto ao quarto ponto:

1. O que se passa com as Universidades Católicas ?

2. O que se passa com as escolas primarias e secun


darias católicas?

3. O que é que se faz pelos jovens que estudam ñas


escolas náo^católicas ?

4. Sao os jovens, que dáo mostras de particular talento


e se demonstram fervorosos, ajudados, de molde a poderem
tornar-se eximios ñas ciencias e ñas artes ?

E) Quanto ao quinto ponto:

1. Tem-se a preocupagáo de a Igreja (dentro das possi-


bilidades) ter influencia nos meios de comunicacao social ?

2. Sao fornecidas ¡nformacdes exatas e interessantes


acerca da vida da Igreja e procura fazer-se a retiflcacáo de
erros nos programas em geral ?

3. Sao cuidados os programas (ou rubricas) de caráter


religioso, com a adaptacSo as varias idades e condlcSes dos
homens ?

4. Sao preparadas pessoas capazes e formadas na fé


crista, que possam utilizar estes meios ? • ¡

5. Procura formar-se no povo cristio o sentido crítico


em relacáo áquilo que é difundido por estes meios ?

— 152 —
«EVANGELIZACAO DOS POVOS> 21

F) Quanto ao sexto ponto :

1. Exerce a tgreja nessa regiao o múnus profetice» numa


crítica construtiva das instituigoes sociais ?

2. Sao apresentados os motivos da fé, para que a par-


ticipacáo na promocao humana se verifique segundo o espi
rito evangélico ?

3. Procura-se evitar a tentagáo de deduzir soluedes téc


nicas dos principios evangélicos?

4. Tem-se a particular preocupacáo de a Igreja estar


presente no "mundo do trabalho" ?

5. Nao se p6e urna aplicacáo táo grande na promocao


humana que seja esquecida a missSo específica da Igreja, de
levar os homens a Cristo ? > /

Q) Quanto ao sétimo ponto :

1. Dá essa Igreja um verdadeiro exemplo da pobreza


de Cristo ?

2. Pelo que se refere á luta de classes, evita-se que a


Igreja dé a impressáo de estar ligada apenas a urna das partes
e que perca desse modo a liberdade apostólica?

3. Tém-se em conta os preconceitos com os quais aque


les que se encontram fora da Igreja a julgam, para evitar que
a vida da mesma Igreja dé ocasiáo ao escándalo, mesmo in
fundado ?

4. Na vida da Igreja dispensa-se um cuidado especial


ao cultivo daquelas virtudes que hoje em dia sao de tal ma-
tieira apreciadas que podem ser tomadas como o sinal de
autenticidade da mesma Igreja, e cuja ausencia oculta o seu
verdadeiro rosto (justica, caridade, solidariedade, equitativa
distribuicáo dos bens, etc.) ?

5. Demonstra a Igreja compartilhar a predilecao de


Cristo para com os pobres ?

Estes sao alguns tópicos a partir dos quais se poderá dis


cutir ñas Igrejas particulares, a fim de que, durante o Sínodo,

— 153 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

os Bispos permutem entre si, uns com os outros e com a Sé


Apostólica, as experiencias feitas e as teorias e programas
elaborados; e, desse modo, a evangelizagáo venha a receber
um novo impulso, em toda a Igreja.

Possa a leitura destas páginas avivar nos fiéis católicos


(clérigos e leigos) a consciéncia do imperioso dever que. a todos
toca, de promover a • difusáo da Boa-Nova de Cristo em todos
os ambientes da vida contemporánea! Cada um dos arautos é
importante; de cada qual Cristo e a Igreja esperam generosa
colaboragáo dentro das respectivas possibilidades. Ninguém é
táo pobre que nada possa dar ou fazer, como também ninguém
é táo rico que nada possa receber ou aprender.

UM DOCUMENTO DE AUTORIDADE

Testemunhar a fé viva em pureza e unidade. Documento da Confe


rencia Nacional dos Bispos do Brasil. — Edicdes Paulinas, Sao Paulo 1973,
124x180mm, 29 pp. Também publicado pela Editora Vozes de Petrópolis.

A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), visando servir


aos fiéis em nossa patria, publicou recentemente um documento sobre a fé.
é o resultado de estudos feitos por ocasiáo da reuniáo da Comissáo Repre
sentativa da CNBB entre 6 e 13 de novembro de 1973. O documento, rela
tivamente breve, compreende tres partes: I) A fé como dom divino; II) A
fé e o ministerio da Palavra; III) A fé na sua pureza e unidade.

O documento foi cuidadosamente redigido em vista da crise de fé


que afeta multos membros do povo de Oeus em nossa patria. Ouvem-se
numerosas teses e hlpóteses que deixam multas pessoas perplexas, a ponto
de já nSo saberém o que pertence ao depósito da fé e o que pode ser
posto em dúvida. Atendendo a tal situacáo, os Bispos lembram, entra
outras coisas:

1) A fé do cristáo depende de urna IntervencSo explícita de Deus na


historia, da humanidade, IntervencSo que tem inicio com a manifestacao ao
Patriarca Abraáo (séc. XIX a. C.) e culmina em Jesús Cristo. Cristo, por
sua vez, se prolonga na Igreja e nos sacramentos (cf. rfi 17-18, pp. 19-21).

2) Todavia a fé tem assento oportuno na próprla natureza do homem,


que Deus fez para a verdade e o amor. Estes anseios á verdade e ao amor
constituem a abertura que todo homem traz em si mesmo, para o misterio
de Deus (cf. rfi 16, pp. 18s).
(Continua na pág. 173)

_ 154 —
Um fenómeno de nossos días:

seita e espirito sectario: que sao?

Em síntese: Por sellas, no Cristianismo, entendem-se grupos dlssiden-


tes da Igreja que se caracterlzam -pela réplica a determinado estado de
coisas, que os membros da seita julgam decadente ou moraimente perdido.
É principalmente a partir da Reforma de Lutero (séc. XVI) que se regls-
tram tais dissiddnclas: elas yém a ser reformas da Reforma. Cada seita
oferece um ambiente fraterno, em que a ajuda mutua é rigorosamente acen
tuada. Distingue-se também pelo exagerado realce dado a tal ou tal pro
posito de fé (a segunda vinda de Cristo ou a acáo do Espirito Santo nos
fiéis...} em detrimento de outras verdades,... pelo uso da Biblia desvin
culado da exegese científica e objetiva, pelo fundamentalismo (profissBo de
proposlgóes tiradas da letra do texto sagrado),... pelo rigorismo moral,...
pelo desinteresse frente ¿s questoes políticas e soclals,... pelo ardor pro-
selitlsta ou missionário (que é, por vezes, agressivo).

O fenómeno das seitas — notavelmente numerosas em nossos días —


nio apresenta apenas as notas negativas do fanatismo e da obsessSo. é
de certo modo, manlfestacáo das asplrac6es religiosas do crlstSo contem
poráneo . Através das seitas se depreende como sao Importantes para o
cristao de hoje a valorizacáo da pessoa dentro da comunidade,... a estima
de grupos em que todos conhecem a todos e se solidariza entre slm,... a
distincáo entre moral crista e Hcenclosldade do mundo sem Cristo,... o
amor á Palavra de Deus.... o zelo missionário... é a necessldade de sé
avivarem e cultivarem tais valores: (típicamente católicos) dentro da Igreia
Católica que a observacáo das seitas contemporáneas sugere eloqüente-
rner.te.
• • •

Comentario: Um dos fenómenos religiosos mais interessan-


tes dos nossos tempos é o surto de grande número de grupos
de crentes designados pelo nome de seitas. No Brasil, elas
aparecem ora como rebentos do protestantismo, ora como re-
bentos do espiritismo ou ainda do ocultismo e do esoterismo.1
Esses agrupamentos sao geralmente muito atuantes e proseli-

1 Por ocultismo entende-se toda doutrina que diz conhecer torcas ocul
tas atuantes no universo e dispor de melos aptos a atrair as torgas boas e
afastar as maléficas. Os adeptos das ciencias ocultas dizem que descobrl-
ram as lels que regem a acáo dessas torcas misteriosas-. Muits vezes as
ciencias ocultas sSo um derivado (um tanto irracional) das auténticas cien
cias. Assim, ao lado da química, surglu a alquimia (que procurava a pedra
filosofal, o elixir da longa vida..;}; ao lado da astronomía, surglu a astrolo-
gia; ao lado da psicología, a metapsfquica, etc. — O ocultismo tem por
vezes af¡nidada com a magia e a bruxarla.
Esoterismo é toda doutrina filosófica ou religiosa que, para manter a
pureza do seu conteúdo, o guarda em segredo; só o revela a candidatos que
sao gradativamente Iniciados á posse dssse segredo.

— 155 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

tistas; tenham-se .em vista, entre outras, certas comunidades


de batistas, mórmons, pentécostais, adventistas, testemunhas
de Jeová...

Em todos os tempos da historia do Cristianismo, registrou-


-se a tendencia á formagáo de seitas, ou seja, de grupos dissi-
dentes que se opunham á Igreja porque queriam professar com
énfase especial tal e tal doutrina. («a materia é má, há pecados
irremissíveis, a Igreja consta de santos apenas...») ou tal e
tal género de vida («nao haja posse pessoal de dinheiro, recuse-
-se o casamento, rejéitem-se certas instituigóes do Estado civil,
etc...»).

Todavía é a partir do séc. XVI, após a Reforma luterana


(1517) e dentro do Protestantismo, que se registra de maneira
mais notável o fenómeno das seitas. Estas até hoje se multi-
plicam a partir das confissóes protestantes, tomando novas e
novas características, a ponto de por vezes nao terem quase
mais nada de comum com o protestantismo do séc. XVI;
tenham-se em vista os mórmons, as testemunhas de Jeová...
Alias, o principio do «livre exame», segundo o qual cada crente
pode interpretar a Biblia sem magisterio algum, guiado única
mente pela «inspiracáo» subjetiva do Espirito Santo, devia lógi
camente contribuir para fracionar o Protestantismo em urna
multidáo de seitas. A proposito dizia o escritor francés Boileau
(t 1711) que «todo protestante é um Papa com a Biblia na
máo» («Salares» XII, v. 224).

Abaixo procuraremos descrever o que seja urna seita com


as suas características de pensamento. A seguir, anaüsaremos
o significado que o fenómeno das seitas possa ter para o Cato
licismo e as confissóes protestantes tradicionais.

1. Seita: que é?

1. A palavra seita vem do substantivo latino secta e do


verbo sequi, que significa seguir. Quer dizer escola ou também
modo de pensar e de viver (segue-se urna escola, segue-se um
modo de vida...). A palavra, em seu sentido original, nao tem
significado pejorativo; o próprio Cristianismo, na tradugáo lati
na da Biblia Vulgata, é chamado secta (cf. At 26,5). Com o
tempo, porém, o vocábulo tomou sentido negativo, que trans-
parece claramente na expressáo «espirito sectario» (= espirito
ferrenho, estreito, agressivo, maquiavélico...).

— 156 —
SEITA E ESPIRITO SECTARIO 25

Dadas as conotagóes pejorativas da palavra «seita», certos


estudiosos contemporáneos, referindo-se as novas e novas con-
fissóes protestantes dissidentes, preferem chamá-las «movimen-
tos religiosos livres». Esta designagáo exprime bem urna das
notas típicas desses agrupamentos, ou seja, a sua escassa insti-
tucionalizagáo e a acentuagáo da liberdade espontánea que
inspira o comportamento de tais comunidades. Alias, no mundo
anglo-saxáo, quándo esses grupos surgiram, receberam por ve-
zes o nome «Free Churches». (Igrejas,livres); foi o que se deu
com o Exército da Salvagáo, certos ramos batistas... É tam-
bém oportuna a designagáo «reavivamento» (correspondente ao
inglés revival), dado que, como veremos, os seitas equivalem a
férvido despertar da consciéncia religiosa.

Na linguagem comum, porém, fala-se de seita, entendendo-


-se por este vocábulo um agrupamento religioso de número res*
trito de fiéis que aderem as revelagóes feitas ao seu fundador
ou, ao menos, aos ensinamentos que este entregou aos seus dis
cípulos; tais revelagóes ou tais ensinamentos sao tidos como
absolutamente necessários para se entender a Escritura Sagra
da, ñas seitas protestantes.

2. Podem-se assinalar algumas notas que caracterizan!


evidentemente as seitas e as distinguem das chamadas «Igrejas
protestantes» (o luteranismo, o calvinismo) e da «Igreja epis
copal ou anglicana».1

Com efeito. As Igrejas protestantes e a anglicana datam


do sáculo XVI; sao animadas por espirito serio e tradicional;
conservam o garbo e a nobreza do tipo anglo-saxáo; seus adep
tos tém contribuido com- estudos valiosos para o progresso da
lingüística e da exegese bíblicas (tenham-se em vista os nomes
de O. Cullmann, Joachim Jeremías, E. Nestlé, E.-Aland,
K.-Black...). Ao contrario, as dissidéncias ou seitas ou movi-
mentos livres apresentam as seguintes notas:

1A palavra Igreja só impropriamente pode ser empregada no plural,


pois só há urna Igreja de Cristo: aqunla que remonta inlnterruptamente até
os Apostólos e o próprlo Cristo. As outras "Igrejas" seo, com mals acertó,
chamadas "Comunidades eclesials".
Costuma-se distinguir entre Protestantismo n Anglicánlsmo. Este, derl-
vando-se do cisma provocado por Henrlque VIII em 1534, teve origem e
IntencSes Iniciáis diversas das do Luteranismo, do Calvinismo e do Zwlnglla-
nlsmo. Acontece, porém, que a teología cultivada pelos anglicanos foi forte-
mente influenciada pelos protestantes. £ o que explica sejam considerados
protestantes. Muitos anglicanos afirman» constituir urna denomlnagao-ponte
entre Catolicismo e Protestantismo.

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26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

1) Originam-se por réplica ou reaclto contra a Igreja ofi


cial (Anglicanismo, por exeníplo) ou contra a denominagáo
religiosa (Metodismo, Congregadonalismo...) a que pertence
originariamente o fundador. Essa denominacso originaria pare
ce ao iniciador de seita estar corrupta ou contaminada. Assim
toda seita é urna «reforma da Reforma (protestante)» ou mes-
mo «reforma de reforma... da Reforma».

2)' Em conseqüéncia, as seitas sao levadas a realcar exa


geradamente a verdade ou as verdades que elas julgam dever
salvar do esquecimento; tais seriam, por exemplo, a segunda
vinda do Senhor Jesús ou os dons do Espirito Santo concedidos
em Pentecostés (entre esses dons, o das linguas e o das curas
ocupam lugar eminente...). Essa énfase excessiva ou unila
teral dada a certas proposicóes quebra o equilibrio que marca a
mensagem crista. Sim; esta-harmoniza instituigáo e carisma,
graga e natureza, vida eterna e vida temporal, tendencia e con-
sumagáo... em síntese tranquila e grandiosa, que as seitas nao
conservam.

3) A persuasáo de que estáo escapando da corrupcáo do


povo de Deus e do mundo, explica que as seitas constituam
grupos de pessoas «puras e salvas», grupos nos quais nao tém
entrada os pecadores, porque pertencem ao mundo ou (o que
ver a ser o mesmo) a outras Igrejas.

Essa mesma convicgáo estimula o senso de solidariedade


e fraternidade entre os membros de urna seita; cada um conhe-
ce a todos os que participam da mesma assembléia e é por todos
conhecido; os problemas da familia e profissáo sao fácilmente
comunicados por cada qual aOs seus companheiros de culto de
domingo ou sábado. Éo que entretem calor humano e cristáo
na assembléia, e proporciona reconforto moral aos membros
das seitas, que assim estimam mais e mais a sua comunidade.

4) A Biblia vem a ser interpretada em sentido estrita-


mente literal. Em geral, os crentes, ñas seitas, rejeitam as re-
gras observadas por católicos e protestantes para penetrar no
sentido do texto sagrado: estudo dos géneros literarios, averi-
guacáo do ambiente social e do contexto histórico em que tal
ou tal livro tenha sido escrito, pesquisa das fontes ou das tradi-
góes oráis e escritas que estejam na origem de determinada
parte da Biblia (fontes J, E, P, D, por exemplo, no Pentateu
co...). Isto redunda em afirmagóes pouco científicas ou pouco
condizentes com a intengáo e a mensagem dos autores sagrados

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SEITA E ESPIRITO SECTARIO 27

(o mundo terá sido feito etn seis días de 24 horas, mais um dia
de repouso; o homem terá sido criado a partir do barro; a mu-
lher saiu de urna costela de Adáo...). O entendimento literal
e pouco esclarecido da Biblia chega mesmo a Criar contradigóes
e desvíos doutrinários em relagáo é. Tradigáo crista mais antiga
(tenha-se em vista, por exemplo, a revalorizagáo do sábado, no
adventismo, em lugar do domingo).

O receio de se perder a fidelidade a. Biblia leva as seitas a


professar o que se chama «Fundamentalismo», ou seja, algumas
poucas doutrinas tidas como fundamentáis e deduzidas da Biblia
mediante interpretagáo estritamente literal. O que, além dessas
doutrinas, se encontré na Tradigáo crista, é rejeitado como
perversáo.

5) Vé-se também assim que o nivel intelectual e cultural


dos fiéis que aderem as seitas, nao costuma ser elevado; poucos
estudam a Biblia em suas línguas origináis (o hebraico, o ara-
maico e o grego), nem se interessam por recorrer a urna tradu-
gáo mais próxima dos origináis do que a que comumente lhes
é oferecida (a de Ferreira de Almeida, no Brasil).

Esse baixo nivel cultural dificulta o diálogo entre católicos


e membros das seitas. Estes geralmente desconfiam das ten
dencias ecuménicas. É mediante o estudo, principalmente, que
alguém compreende o que é o ecumenismo e qual o valor que
tem.

Nota-se também que em varias seitas sao muito evocados


o sentimento, a emogáo, a experiencia pessoal, com tudo o que
esses elementos tém de espontaneo e improvisador. Ao contra
rio, ñas clássicas assembléias do Catolicismo e do Protestantis-'
mo, o comportamento dos fiéis é motivado por normas que
impóem certa ordem e austeridade as cerimónias litúrgicas e ao
comportamento dos seus participantes.

6) No tocante á Moral, os fiéis das seitas protestantes


tendem ao rigorismo: costumam nao beber, nao fumar, nao
dangar; as vezes também nao tomam café; abstém-se de tele-
visáo, rejeitam os jogos de azar, inclusive a Lotería Esportiva.
As mulheres nao se pintam nem vestem caiga comprida, nem
usam cabeleira; recusam como coisa diabólica a mini-saia e o
biquíni. Este rigorismo se explica pela consciéncia que tém, de
que devem ser puros, a fim de escapar á corrupgáo e á ruina
que pesam sobre o mundo; este lhes parece imerso no pecado.

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28 «FERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

— Dai o pessimismo que professam em relagáo a situagáo geral


da sociedade. Dai também o fanatismo com que aderem as suas
arencas; abrir máo-de alguma proposigáo doutrinária ou moral
da seita equivaleria a condenar-se com o- resto da humanidade.

7) Destas premissas decorre certo desinteresse pelos pro


blemas políticos e sociais. Cada crente deve dar o seu teste-
munho cristáo em meio ao mundo (e o faz geralmente com
grande zelo), mas a comunidade dos créntes como tal nao costu-
ma pronunciar-se sobre os mesmos.

8) Ó culto divino ñas seitas costuma ser entusiástico: é,


por isto, pouco estruturado ou assaz flexível; tem por centro a
leitura da Biblia, a pregacáo e cánticos, que levam a pessoa a
urna conversáo pessoal ou confirmam cada vez mais o crente
já convertido. Este aceita renovadamente Jesús como seu único
e suficiente Salvador.

Nao raro, ñas assembléias de culto das chamadas «seitas»,


os fiéis pedem e aguardam fenómenos extraordinarios (curas,
dons de línguas, etc.). Tais manifestagóes estranhas do espi
rito religioso nem sempre sao sadias, mas resultam, antes, de
falsa visáo teológica e desequilibrio nervoso. Tenha-se em vista,
por exemplo, o seguinte caso noticiado pela revista «Timé» (ed.
latino-americana), september 10, 1973, p. 49:

Lawrence Parker, de 34 anos de idade, era um operario


desempregado em Barstow (California), que, com sua familia,
professava o pentecostalismo protestante. Tinha um filho, cha
mado Wesley, de 11 anos, que, havia cinco anos, sofría de dia
bete. Ora recentemente Lawrence e Alice Parker (sua esposa)
resolveram levar o menino á assembléia de Deus para ser tra
tado por um pastor sul-americano que assegurava ter sido cura
do mediante a oracáo. «Cremos que a fé cura», dizia Parker.
Ao sairem da assembléia, pai e máe estavam convictos de que
seu filhó estava sao, como lhes havia dito o pregador do culto;
em conseqüéncia, deixaram de dar insulina ao menino.

Dois dias mais tarde, Wesley entrou em estado de incons


ciencia. O Rev. Gary Nash, pastor que assistia ao casal, foi
fazer oracáo sobre o menino; mas Wesley reagiu apenas com
poucas palavras. Diante do fato, a máe do jovem resolveu ir
comprar insulina; mas seu marido a deteve. Finalmente, Wes
ley morreu. Foi sepultado no cemitério local, sem a presenga
dos pais ou parentes; estes ficáram em casa durante o enterro,

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SEITA E ESPIRITO SKCTARIO 29

afirmando que Wesley réssusdtaria do sepulcro. Dizia o pai


Lawrehce: «Creio que Deus está permitindo que as coisas cor-
ram de modo a ser glorificado ao máximo quando Wesley res-
suscitar». Todavía o pastor Nash, abalado, replicou: «Nao há
razáo para que Jesús ressuscite esse menino. Parece-me que o
casal Parker foi iludido por Sata. Na verdade, Wesley nao
ressuscitou.

Neste episodio, é digna de admiragáo a fé dos genitores.


Todavía poder-se-ia desejar que fosse urna fé mais esclarecida.
O Senhor prometeu atender a toda prece humilde e confiante
(cf. Le 11, 9s); todavía o Pai Celeste nem sempre atende de
acordó com os moldes ou os termos que nos, -ern nosso limi
tado modo de ver, Lhe propomos. Nao temos certeza de que
tal ou tal graga que tanto desejamos, nos será necessariamente
concedida pelo Senhor em troca de nossa fé e de nossas preces,
pois, na verdade, fé e oragáo nao sao elementos mágicos (nao
sao receitas que forcem cegamente os poderes da Divindade).
Nao há dúvida, henhuma oragáo bem feita é perdida ou inútil;
Deus Pai sempre lhe responde; quando nao nos dá aquilo que
Hie sugerimos (por nao convir ao nosso verdadeiro bem), dá-
-nos algo de melhor (que corresponde realmente ao nosso autén
tico bem).

9) É de notar igualmente o acentuado espirito missioná-


rio das seitas, que procuram livrar da perdigáo os pecadores.
Esse espirito, porém, degenera nao raro em proselitismo, que
procura conquistar adeptos para o seu Credo recorréndo mesmo
a polémica contra outros Credos.

Tais sao os principáis tragos característicos das seitas.


Tem-se observado, porém, que estas sao assaz sujeitas a evolu-
gáo ou a mobilidade. As notas marcadamente sectarias com que
comegam a se afirmar, cedem muitas vezes á institucionaliza-
gáo, que torna a seita semelhante a urna comunidade eclesial
tradicional. Tal foi o caso de mais de urna denominagáo batis
ta. Semelhante fenómeno se verifica hoje especialmente entre
os pentecostais. No Chile, duas comunidades pentecostais ja
tém bispos. Vé-se assim quáo complexo é o panorama das sei
tas e quáo necessário é acompanhar as mesmas em sua evolu-
gáo para se poder analisar fielmente a sua configuragáo.

Examinaremos agora o significado que as seitas possam


ter no conjunto das denominagóes cristas ou do Cristianismo.

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30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

2. As seitas: que sígnificam?

Como dito, as palavras «seita» e «sectario» costumam


significar algo de pejorativo, ou seja, espirito ferrenho, fanático
ou mesmo agressivo. Todavía nao se poderia ver nos movimen-
tos religiosos livres que chamamos seitas, apenas algo de nega
tivo; através dos exageros e erros das seitas, exprimem-se cer
tas aspiracóes da alma humana que o estudioso nao pode delxar
de considerar, pois parecem caracterizar o pensamento religio
so de multidóes de gente simples em nossos dias.

Cremos, pois, poder dizer que através das manifestacóes


das seitas vém á baila importantes atitudes e tendencias reli
giosas do Cristianismo do séc. XX. Tais seriam:

1) A necessidade de conversao pessoal (nao apenas cole-


tiva ou social) e de oragao espontánea ,ao Senhor. Tem-se ai
a réplica á demasiada objetivadlo dos valores religiosos e á
rígida institucionalizacáo do culto sagrado.

A acentuacáo do grupo ou da comunidade e dos valores


constantes e universais da Igreja pode, ás vezes, ser táo rígida
que ela nao permita que se explicitem as características pró-
prias das pessoas que constituem tal ou tal grupo (acontece,
sim, que a consciéncia do nos por vezes impede que o eu de
cada um se afirme diretamente em assembléias religiosas).
Ora amigamente os valores e as normas objetivas, impessoais,
eram mais fácilmente aceites e assimilados do que em nossos
dias. As seitas representam, pois, o desejo do homem moderno
de se encontrar como tal, com suas notas e preocupagóes
pessoais, dentro das expressóes do conjunto a que ele pertence.

A propósito, porém, pode-se notar que o individualismo e a


subseqüente espontaneidade sem regulamentagao sao capazes
de levar a improvisacóes e abusos na vida de urna comunidade.
Esta nao pode ser apenas a expansáo do entusiasmo, nem o
culto pode ser «inventado» todos os dias, mas há de ter suas
normas objetivas, para que todos os fiéis possam rezar em toda
parte conforme o mandamento deixado por Cristo e a Tradicáo
da Igreja.

A Igreja Católica, consciente do problema, abrandou as


rubricas extremamente precisas que regravam o seu culto sa
grado, permitindo, dentro dos devidos limites, certa flexibili-
dade das formas de oragáo. Ela procura assim chegar a sadio

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SEITA E ESPIRITO SECTARIO 31

equilibrio entre espontaneidade e instuticionalizacáo ñas assem-


bléias litúrgicas1 e nos ambientes comunitarios católicos. É
claro que sempre poderá haver novas e válidas maneiras de
conjugar o espontaneo e d institucional.

2) As seitas exprimem também o desejo que o homem


moderno tem, de encontrar na sua Igreja um ambiente frater
no, animado pelo amor mutuo de seus membros. Tem-se npta-
dp que as assembléias muito concorridas e as reunióes de mas-
sas tornam impbssível o relacionamento pessoal é fraterno de >
cada pessoa com as demais pessoas da assembléia. Outrora'
este fato nao impressionava muito os homens; hoje, porém, ele
chama a atencáo.

A Igreja Católica sente-se interpelada por tal realidade.


Tem-se empenhado pela formagáo de chamadas «comunidades
de base», ou seja, de núcleos de fiéis que, nao sendo muito nu
merosos, possam realmente viver em espirito comunitario; tais
sao os grupos de casáis do Movimento Familiar Cristáo, de
cursilhistas, de focolarinos... O Concilio do Vaticano H mani-
festou o desejo de que cada celebracáo eucarística concorra
para formar ou para corroborar urna auténtica comunidade de
fé e de amor entre seus participantes. É preciso, porém, to
mar cuidado para que as pequeñas comunidades fraternas nao
degenerem em «panelirrhas» ou «quistos», separando-se da vida
da Igreja em geral.

3) Ñas seitas se manifesta também a consciéncia que os


cristáos tém, de nao poder dizer um Sim irrestrito ao mundo
cada vez mais laicizado, secularizado e permissivo. Embora
estejam no mundo, do qual o Senhor nao os quis separar física
mente, os cristáos nao sao do mundo (cf. Jo 17,14s). Por con-
seguinte, devem exprimir claramente sua opgáo crista sempre
que necessário ou todas as vezes que se virem diante de. um
dilema. " ,.

Esta expressáo peculiar do cristáo, segundo o Catolicismo,


nao há de significar agressáo ao mundo, mas há de consistir
num estilo de vida próprio ou evangélico — estilo de vida que
nao exclui necessariamente cigarros, bebida, cinema... (con
tanto que estes nao violem as leis da temperanga ou da decen
cia) . Todavía é verdade que a abstencáo até das coisas licitas
e a sobriedade pertencem ao estilo de auténtica vida crista.

Ao invés das seitas, a Igreja Católica e as denominacóes


protestantes tradicionais estáo preocupadas com o que se cha-

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32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

ma «presenca no mundo» ou com a missáo confiada por Cristo


aos seus discípulos de ser «fermento na massa, sal da térra e
luz do mundo» (cf. Mt 13,33; 5,13s). Os cristáos tém que levar
á Cidade Secular ou profana o sabor, o estilo e os valores espe
cíficamente cristáos, sem se deixar diluir ou embotar pelo se-
cularismo.

4) Ñas seitas manifesta-se também a fome e sede que o


homem de hoje tem da Palavra de Deus. Esta é lida, relida e,
nao raro, citada de memoria pelos crentes.

Na Igreja Católica, o Concilio do Vaticano n exprimiu


ardentemente o desejo de que as Escrituras Sagradas venham
a ser o Pao da Palavra saborosamente assimilado pelos fiéis, de
tal sorte que a piedade católica seja profundamente inspirada
pela Biblia. A exegese científica, validamente cultivada pelos
estudiosos católicos, deve eompletar-se pela oracáo, benefician
do todo o povo de Deus. Nao há dilema entre exegese cientí
fica e piedade bíblica; esta nada lucra, mas só se prejudioa, caso
rejeite ou condene o estudo científico das Escrituras. Para que
um cristáo seja fervoroso, nao é necessárío que rejeite a ciencia;
mas, ao contrario, tanto mais sólida e convicta será a sua pie
dade quanto mais estiver ancorada ñas conclusóes da sadia
exegese católica.

5) Os membros das seitas modernas dáo também b tes-


temunho de que nao tém respeito humano. Apresentam-se
como arautos do Evangelho ñas pracas públicas, ñas rúas...;
distribuem folhetos e livros nos hospitais, ñas prisóes, ñas casas
particulares, nao se importando com as reacóes de desagrado
das pessoas interpeladas. Esta sua atitude decorre da cons-
ciéncia subjetiva que tém de que o mundo vai mal, caminha
para a sua perdigáo, de sorte que é preciso salvar da ruina espi
ritual o maior número possível de irmáos. Assim fazendo, os
crentes das seitas julgam estar imitando Sao Paulo, que dizia
nao se envergonhar do Evangelho (cf. Rom 1, 16).

Ora o espirito de missáo das seitas incita os fiéis católicos


a refletir: alegando respeito para com as consciéncias alheias,
muitos se interessam apenas pela promocáo humana das classes
desfavorecidas, nao levando em conta que a fome e a sede de
Deus merecem em primeiro lugar (embora nao exclusivamen
te) a atencáo e o zelo dos discípulos de Cristo. Entre as últimas
palavras do Senhor Jesús, está a ordem de ir pregar o Evan
gelho a toda criatura (cf. Me 16,15). A Igreja deverá ser sem-

— 164 —
SETTA E ESPIRITO SECTARIO 33
r

pre missionária, levando o anuncio do Remo e da vocagáo á


santidade á todos os homens, ricos e pobres. Este, há de ser
sempre a sua tarefa palmar.

3. ConclusSo

Em conclusáo, deve-se dizer que o problema das seitas con


temporáneas nao é algo que se possa considerar com indiferen-
ca ou menosprezo. Os diversos erros e exageros dos membros
das seitas provocam o fiel católico a um exame de consciéncia.
Na raíz das aberragóes desses irmáos separados, há cernes de
verdade e de bem, verdade e bem que por si pertencem essen-
cialmente á Igreja de Cristo (ou seja, á Igreja Católica, Apostó
lica, Romana). — É nesta, por excelencia, que o espirito de
fraternidade, a colaboragáo. mutua, o fervor, o entusiasmo, a
pureza de costumes, o amor á Palavra de Deus, o zelo missio-
nário... devem ser cultivados e apresentados ao mundo. Ver
dade é que em toda grande sociedade (como é a Igreja Cató
lica, com seus seiscentos milhdes de fiéis) a tibieza, a mornura
e a infidelidade atingem maior número de membros do que
numa sociedade pequeña. Isto, porém, nao quer dizer que, para
viver o ideal do Evangelho, se devam constituir sempre novos
e novos grupos separados e independentes uns dos outros (como
sao os reavivamentos ou as seitas protestantes): A quebra de
unidade e o esfacelamento seráo sempre contrarios ao Evange
lho. É dentro do grande povo de Deus uno e coeso que cada
cristáo católico deve viver os valores evangélicos. O antidoto
da retina e da tibieza nao é a separagáo ou o cisma, mas a to
mada de consciéncia sempre renovada de que ser cristáo é ser
portador do Reino de Deus, é viver nao mais para si, mas para
Aquele que viveu, morreu e ressuscitou por todos os homens
(cf. Rom 14,7-9; 2 Cor 5,14s). Quem cede á ratina e á indife-
renga, nao é responsável apenas perante á sua consciéncia, mas
perante todos os irmáos que ele assim prejudica.

Sao estas algumas reflexóes que o fenómeno das seitas de


hoje sugere. Urna realidade táo alastrada como essa nao pode
deixar de impressionar e de ter seu significado.
A propósito veja-se
B. Munfz de Souza, "A experiencia da salvacño". Sao Paulo 1969.
Waldo A. César,. "Para urna sociología do Protestantismo brasileiro".
Petrópolis 1973.
H.-Ch. Chéry, "L'offenslve des soctes". París 1954.
J. Mejia, "El problema de las llamadas sectas", em "Criterio" 1673,
9/VIII/73, pp. 416-418.
' Revista "Concllium" n? 89 (1973): "Réveils Splrltuels".

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Mais urna vez no cinema: .

"jesús cristo superstar"

Em stnlese: A peca de teatro "Jesús Cristo Superstar" está sendo apre-


sentada nos cinemas do Brasil, beneflciando-se da variedade de recursos
(cenarlos, artificios...) que a cinematografía oferece. é filmado o seu enre
do na térra de Israel, de modo a apresentar notáveis paisagens.

O conteúdo do filme sSo os últimos días da vida terrestre de Jesús


Cristo: reverenciado pelas multidóes como Messias, Ele é desafiado por
Judas, que o acusa de iludir o povo e ceder a vas pretensóes. Finalmente
é condenado á morte de crucifixáo; após haver expirado, Cristo reaparece
a caminhar em direcSo da cruz atrás da qual se vai levantando o sol —
símbolo de ressurreigSo e nova vida.

O estilo do filme é rock; músicas, cantos e bailados se sucedem com


exuberancia, por vezes estridente e desnecessária, fazendo contraste com
a figura de Jesús Cristo, que no filme fica sendo seria e clássica.

Sao ¡angadas a Cristo, principalmente no final da película, algumas


interrogacSes decisivas como: "Crés que és o que dizem que és?", "Qual
a razáo do teu sacrificio?", "Quiseste morrer assim ou foste engañado?"
Estas e outras perguntas se encontram nos labios de multos dos nossos
contemporáneos. Parecem ser apresentadas no filme com sinceridade. Nor
man Jewison, o produtor, sugere a essas indagacdes urna resposta válida,
pois dá a ver como, através do humano em Jesús, a Divindade transparece:
María Madalena, por exemplo, a prostituta que se chega a Jesús, é por
este transformada. Em suma, "Jesús Cristo-Superstar", com seu estilo
rock e suas cenas fantasistas, é, no mínimo, mais urna forte expressio da
"manía de Jesús", de que nos fala o próprio filme. O homem de hoje
sente-se vivamente atraído por Jesús Cristo, porque descobre nele a resposta
que nem a sociedade de consumo, nem as drogas nem a completa liberdade
sexual podem dar.

Comentario: Está de novo em foco a pega «Jesús Cristo"


Superstar», nao mais no teatro, mas nos nossos cinemas. De-
pois de ter feito relativo ou desigual sucesso nos diversos pal
cos do mundo, o enredo é apresentado na tela, onde naturalmen
te a arte goza de mais recursos e artificios de expressáo. A
transposicáo para o cinema se deve a Norman Jewison, cineasta
canadense,. que foi premiado com o Osear pelo filme «No calor
da Noite». Como se sabe, o script de «Jesús Cristo Superstar»
é de Tim Rice (26 anos) e a música rock de Andrew Lloyd
Webber (23 anos).

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«JESÚS CRISTO SUPERSTAR» 35

Todas as cenas de «Jesús Cristo Superstar» foram filma


das na térra de Israel, da qual mais de trinta locáis serviram
como cenário ao trabalho cinematográfico, que durou quatorze
semanas, mobilizando urna equipe (relativamente pequeña para
um filme bíblico) de duzentas pessoas (incluidos atores e figu
rantes) . O orgamento da produgáo subiu a 3.500.000 dólares.
O conjunto do filme é grandioso e impressionante; pelo que, tem
merecido a. atengáo do público brasileiro. Eis por que também
nao ppderíamos deixar de lhe dedicar algumas reflexóes em
PR, depois de haver abordado a pega de teatro correspondente
em PR 153/1972, pp. 408-415.

1. «Jesús Cristo Superstar»

1. O papel de Jesús tocou a Ted Neeley, de 29 anos de


idade, escolnido por Jewison após longa procura. Ted já fizera
semelhante papel durante a temporada de ópera rock em Los
Angeles.

Maria Madalena foi representada por Yvonne Elliman, de


17 anos, nascida em Honolulú.

Quanto a Judas, foi o ator-cantor negro Cari Anderson,


que os críticos julgam perfeitamente enquadrado em seu papel.

2. O filme comeea focalizando Jesús Cristo prestigiado e


reverenciado pelas multidóes como «Superstar» (Superestrela),
Messias e Deus, mas desafiado por Judas como ilusor do povo
e provocador de violenta intervengáo dos romanos em Israel:
«Tu mentiste. Devias ter ficado no teu lugar de carpinteiro.
Esqueces que teu país está sob ocupagáo». Jesús, porém, nao
se furta a dizer aos seus seguidores (imbuidos de nacionalismo
e aspiragóes políticas) que eles nao compreendem o que sao o
poder e a gloria; os habitantes de Jerusalém enganam-se quan
to aos planos de Jesús.

A fama de que o Mestre goza, junto aos seus discípulos,


irrita igualmente os sacerdotes e maiorais de Israel, máxime
guando assistem la entrada triunfal de Cristo em Jerusalém no
domingo de Ramos. Nesta ocasiáo, como ainda antes e depois
no decorrer do filme, toca papel saliente a Madalena, prostituta,
que se chega a Jesús, acaricia o Mestre, mas senté algo de mis
terioso ao contato com Cristo: parece-lhe ser um homem como
tantos já conheceu; nao obstante, ela se assustaria se Ele lhe

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36 «PERGUNTE K RESPONDEREMOS? 172/1974

dissesse que a ama, e dele se afastaria; a sua vida mudou de-


pois que conheceu Jesús.

O Senhor expulsa os vendilhóes do Templo com grande


aparato — o que desperta aínda mais a sanha de seus adversa
rios. Finalmente é vendido por Judas ao Sinedrio de-Israel. Na
quinta-feira santa, após ter ceado com os seus'Apostólos, é traí
do, preso e levado ao tribunal de Caifas; este o envia a Pilatos,
que aparece em sua majestade romana. Sabedor de que Jesús
é Galileu, Pilatos manda entregar Jesús a Herodes. Este, em
atitude de deboche, cercado de bailarinos e bailarinas, desafia
Jesús a que faca milagres, caminhando, por exemplo, sobre as
aguas do lago em que o monarca se acha instalado, ou multipli
cando páes. Todavía, já que Jesús nao responde, é enxotado e de
volvido a Pilatos. Este o manda agoitar e entrega á crucifixáo.
O Governador romano diz a Jesús: «Nao impedirei tua autodes-
truigáo, equivocado mártir!»

Enquanto Jesús está para morrer, Judas volta a cena inter-


pelando-o aproximadamente nos seguintes termos: «Só quero
saber, Jesús Cristo, quem és tu? Que sacrificaste? Quiseste
morrer assim óu foste engañado? Crés que és o que dizem que
tu és? Dize-me o que pensas: qual é o maior — Buda ou
Maomé?»

Depois de carregar a cruz, Jesús morre no Calvario...


Véem-se finalmente os atores do filme a subir no ónibus que
os havia levado ao deserto de Judá para fazerem a filmagem,
enquanto Jesús fica no local; por detrás da cruz do Calvario,
aparece o sol a despontar e brilhar; Jesús se encaminha na
direcáo desse símbolo de ressurreigáo e vida nova. Assim se
encerra o enredo.

Pergunta-se agora:

2. Que dizer?

Procuraremos resumir algumas ponderacóes em tres ítens:

2.1. De modo geral...

1) Pode-se crer que a intengáo primeira e capital do cine


asta foi a de fazer eco ao interesse ou mesmo á inquietacáo dos
homens de hoje a respéito de Jesús Cristo. O Senhor Jesús está
muito em foco, como se depreende dos diversos meios de comu-

— 168 —
«JESÚS CRISTO SUPERSTAR» 37

nicagáo social. Todavía nem todos os que por Ele se interessam,


penetram até o ámago do misterio de Cristo. Por isto o filme
reproduz as interrogagóes desafiadoras que se poderiam ouvir
nos labios de multas pessoas de nossos dias: «Jesús Cristo, dize-
-me quem és? Por que assim morreste? És superior a Buda e
Maomé? És realmente Deus feito homem, como dizem os teus
discípulos?»

A essas perguntas — que nao parecem irónicas, na inten-


cáo do cineasta — o filme parece insinuar resposta positiva,
embora tenuemente esbocada. Com efeito, Jesús é apresentado
como personagem misterioso, transcendental, que transforma
Madalena, provoca o remorso em Judas, prediz a traigáo de
Pedro e, finalmente, aparece vivo após ter morrido sobre a
cruz..., vivo como um sol que desponta a irradiar luz e calor
por tras da silueta da cruz.

Tem-se a- impressáo de que no filme a afirmacáo de Jesús


Messias e Deus é muito mais clara do que na pega de teatro
«Jesús Cristo Superstar». Assim entendido, o filme pode ser
útil aos espectadores, embora talvez nem todos percebam a
mensagem positiva ou a confissáo de fé que nos parece insi
nuada através dos temas do filme. O fato de que Judas (cujo
papel é extremamente saliente no filme) é o principal portador
das objecóes contra Jesús, nao quer dizer, conforme o cineasta,
que tais invectivas hoje em dia sao precisamente inspiradas pelo
tentador e pelo Maligno?

2) Dito isto, é preciso agora reconhecer que Norman


Jewison estabeleceu um contraste violento entre a pessoa de
Jesús Cristo digna, clássica, vestida de túnica branca, e as figu
ras que aparecem em torno de Cristo. Estas vestem-se como
bailadnos e bailarinas rock, dancando por vezes de.maneira
febril e frenética. Principalmente o rei Heredes e sua comitiva
fazem papel debochado, que destoa da dignidade e da nobreza
da figura de Cristo, que é a figura principal do enredo. Seria
para desejar mais sobriedade de estilo nos personagens que
acompanham o Mestre.

Em particular, merece atencáo

2.2. Á figura de Cristo -

As últimas cenas do filme suseitam algumas questóes na


mente do espectador. Assim, por exemplo,

— 169 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

a) «Tudo está escrito j.-, Deveicumprfause^.i» ÍMt 26;24;54) ¡

■ Estas' palávras 'db^fflme-'Tte'peitidáá^por-1Jesús;é'ptíifiiJüflSs'


sugéfem a muitas pessóksfatálismoe odiosa'prédestiria¿ab' dos"
homens para 'ó pecado e a!c6ñdériá!;ao': '"^ !'!</ ' í: '"" iri"
;.•-. ■. •■ -:ii' -;C> .;¡. •<:!;::! -»r i *»I. ^.'í;ú "•>:íi-ji;¡ ; ■■■' vi V ■í:>.oíh-:

Nao é este, porém, o sentido do «Está • escrito»^'bíblico/


Esta expressáo apenas lembra que os acontecimentos referentes
ao Méssiás já'forámpréVísrtos "é ah^cíaiSfos'hásjtescritürás do.
AntigOfTest^éhtorDetel'^a^qüéní'S'passa'd^
sempré presentes; hoúyé por bem 'íevélár pelos Profetas' 'tís[
principáis tragos da óbra;do;fuituro'Méssíais, para'que os hbniehs',
compreend'essem que a Paixáo fói auténtica' obra salvifica de
Deus. Isto, porém, nao quer dizer que, ao prever e predizer,
Deus haja coagido algum honiem a proceder deste ou daquele
modo.

No filme, Judas diz: «Minha mente está ñas trevas. Nunca


saberei por que me escolheste para o crimefo Estas palávras
nao condizem com os auténticos ensinamentos da teología. Com
efeito; esta, baseando-se ñas Escrituras, diz qué Deus fez p ho
mem livre e nunca lhe retira a liberdade de arbitrio; apenas
se encarrega de fazer que as linhas (as yezes, tortuosas) escri
tas pelos homens concórram para a rédagáo de urna mensagem.
final altamente positiva. Foi o que se deu com Judas: apesar
dos apelos de Cristo, é da agáo da graga (que Deus sempré dá
aos homens para que nao pequem), este apostólo preferiu aten
der a outros interesses; em conseqüencia, traiu o Mestre, abu
sando de sua liberdade —o que, depois, lhe causou tremendos
. remorsos. Note-se, porém, que, embora Judas se tenha entre
gue ao desespero e ao suicidio, nao se pode afirmar que esteja
no inferno; ninguém sabe o que ocorre no íntimo de um mori
bundo, mesmo quando este poe fim violento á sua vida; a graga
de Deus é rica em meios de salvagáo.

Verdade é que se costuma mencionar neste contexto a fa


mosa passagem de Mt 26,24, em que Jesús assim se refere a
Judas: «Ai daquele homem pelo qual o Filho do homem será
traído! Melhor seria para esse homem, se nao tivesse nascido!»

Ora nem mesmo estes dizeres podem servir para se definir


a sorte eterna de Judas. Na verdade, quem considera atenta
mente os pronomes do texto original grego, verifica que se deve
traduzir de modo diferente, á saber:

— 170 —
«JESÚS CRISTO SUPERSTAR» , ...39

«Ai do homem aquele tal (ekeinoói) por quení o Filho do !


homem é entregue I Melhor fóra para este (autooi, o Filhó dó
homem) se nao tivesse násddó aquele (ekeinós)'homem!» v'r . :
•■■•.■• ■•.;■ .■;•. -•■■.. ■-':■'• '■r--:.:: ■'. ■ ■••;• -•', ■: ■■■.:•!>:;■• '•: 'ií<;víí.,. '■';■«

É esta a versad adotáda peía tradúcáo literal de H., Pernot '.: >
iia« 'recentes sinopses "evangélicas' editadas pelos Padres vTtelss ;'
e Benóit-Boísmárd. '-4 Jesús designa Judas: pelo demónstratíyó .■./".:
gfego ekeinos tanto no inicio'«como rio fiift da sua declaradlo; ';;'•
ekeinos é tráduzido por aquele: No'méio, pórém; da segunda; . •
frase, Jesús nao usa ekeinos, mas autos (no dativo, autóoi); '
parece, portante, referir-se a outra péssba que náó Judas, óu ;
seja, ao próprioSenhor Jesús. Cristo, entáo terá intencionado
dizer que mais-feliz teria sido a sorte do próprió' Jesús (e riáó
a de. Judas) se nao tivesse nascido Judas o traidor. Sobre a
sorte eterna de Judas, nada estaría dito no texto do S. Evan-
gelho. ,'

As observacóes de H. Pernot sao procedentes e merecem


consideracáo.
i ■
1 Quanto iá exclamagáo Ai! (ouai, em grego), que inicia a
sentengá de Jesús, equivale a urna interjeicáo hebraica, que nao
exprime maldicáo, mas apenas manifesta tristeza e compaixáo.
Foí o que Jesús experimentou-em sua alma quando se referiu
a Judas; o Senhor nao proferiu imprecagáo sobre o traidor.

b) «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Mt


27,46; cf. SI 21,2) '

Jesús exclama estas palavras pouco antes d& morrer na


cruz. Mais: no horto das Oliveiras, Cristo, em oracáo ao Pai,
profere, segundo o filme, os seguintes dizeres: «Quando come-
cei, sentia-me inspirado; agora estou cansado. Os meus tres
anos de luta parecem-me trinta ou noventa... Vou beber o
cálice... Mata-me antes que eu mude de idéia!»

Tais pronunciamentos de Jesús nao sao compreensíveis á


primeira vista. Para entendé-los, notemos logo o seguinte: na
cena do horto das Oliveiras, os Evangelistas nao nos referem
senáo que Jesús suou sangue ao prever a Paixáoque havia de
sofrer, e pediu ao Pai: «Se ^possível, passe este cálice sem que
eu o beba. Faga-se,' porém, a tua vontade, e nao a minhaí»
(Mt 26,39). Nao insinuou decepgáo diante do plano do Pai nem
perspectiva de defeccáo ou apostasia.

. — 171 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 172/1974

Feita esta observagáo, afirmamos agora que Jesús, tanto


no Getsémani como na cruz, quis identificar-se totalmente cpm
os homens, experimentando aquilo que alfragilidade humana
pode (e costuma) experimentar: assim a dor causada pela pers
pectiva da violencia injusta,' o abandono que os homens Ingrata
mente infligem á seus amigos e benfeitores, a repulsa natural
diante da morte... Jesús, cómo homem, o quis experimentar
para santificar todas estas situacóes, dando-nos a certeza de
que nao há sofrimento em nossa, vida que nao possa ser santi
ficado ou divinizado; prostrado pela dor (que é táo hossa e
que se identifica com o pecado), Jesús disse; «Pai, faga-se a tua
vontade, e nao a minhab Repetindo tais palavras com Cristo,
o cristáo faz de seu sofrimento o caminho de volta ao Pai.

Qúanto á exclamacáo «Meu Deus, por que me abandonas


te?» em especial, note-se que ela nao foi concebida por Jesús,
mas é o versículo inicial do salmo 21, atribuido a Davi, que des-
creve de maneira extremamente vivaz os sofrimentos do Messias
(«traspassaram as minhas máos, e os meus pés..., repartem
entre si as minhas vestes e langaram sortes sobre elas...»).
Já que este salmo prediz fielmente b sofrimento do Messias,
Jesús o deve ter dito por inteiro quando pregado á cruz, excla
mando as suas primeiras palavras em alta Voz. Voluntaria
mente entáo o Senhor, embora inocente, quis sentir o que todo
homem experimenta depois do pecado: a impressáo de estar
afastado de Deus como se Deus o tivesse abandonado. Na ver-
dade, Deus Pai nao abandonou o seu Filho pregado á cruz como
homem, nem abandona algum homem, por mais envolvido que
esteja no lodo; é o homem que abandona a Deus pelo pecado,
mas que sempre encontra o Pai de bracos abertos, desde que a
Ele quéira voltar como o filho pródigo da parábola (cf. Le
15,11-32).

2.3. A «mania de Jesús» •

Por duas yezes esta expressáo ocorre no filme... Ela tra-


duz o interesse' que move hojé em dia os homens a considerar
a figura de Jesús Cristo. Neste misterioso personagem da histo
ria parecem até os mais léñanos estar, encontrando a grande'
resposta para os seus anseios. A mensagem de Jesús permane
ce de pé, perene, mesmo depois que os homens se desiludem da
sociedade de consumo, das drogas, do libertinismo sexual...
Através dos tragos humanos de Jesús, muitos descobrem a sua
Divindade. A este propósito, é típica a imagem de Madalena

— 172 —
«JESÚS CRISTO SUfERSTAR» 41

no filme: acostumada aos prazeres sensuais, ela percebe em


Cristo oütro encanto, outra volúpia, outro tipo de amor...

É para desejar que estas instauagóes de «Jesús Cristo Su-


perstar» t- filme que, se nao tivesse outras benemerencias,
teria ao menos a de exprimir a mania de Jesús — calem pro
fundamente no espirito dos espectadores e os ajudem a descc-
brir cada vez mais as insondáveis e infinitas riquezas da intimi-
dadé com Cristo!

(ContlnuacSo da pág. 154) ■ . ■ . . •

3) O depósito da fé recebldo de Cristo e transmitido na Igreja val


sendo mala e mais compreendido é aprofundadó 'no decorrer dos tempos.
Para tanto, concorrem os santos, os místicos e, também, os teólogos. Estes,
cerno conclusSo de seus estudos, propñem novas é novas formulacoes da
perene e imutável verdade revelada por Deus. Para jülgar tais proposlcoés,
Cristo instltulu o Magisterio da Igreja: "A autorldade do Magisterio é divi
namente garantida na mlssfio de reger o-único rebanhb de Cristo na sua fó,
Idéntica sempre, mas sempre em crescimento ao longo da Historia. A tíuto-
ridade dos teólogos nao se sitúa no mesmo nfvel da autoridade dos Pas
tores e, por isso, nao Ihes faz concorrencla". (rr? 15, pp. 17s).
• - . . * - - .,.--».'•»

4) Entre os Pastores, a quem Cristo cdnflou'a* mlssBo'de Interpretar


auténticamente a verdade revelada, sobres'sal a figura do Sumo Pontífice,
Chafe do Colegio dos Blspos. O Papa goza de Infalibilidad* em materia de
fé e moral, segundo os termos definidos pelo CpncJHo. do Vaticano I (1870). .
Os Blspos gozam outrossim de Infallbllidade quando. ¿enslnam, em comunhao
cómo o Papa, sobré assuritos de fé ó cié moral, de "modo a concordar nümá
deflnlgfio a ser professada por todo ó 'povo de Deus. '■'• "','■','.
-Cada Bispo deve procurar formular a verdade revelada em comunhao
com o Papa e todo'o Colegio Episcopal (cf. n? 9, p. 10)., ■■ -,-:.■_• ¡

5) 6 povo simples, ao contato com a vida e suás duras realidades^


tem por vezes-certas lntu!¿8es de fé válidas a ponto dé Interéssarem áós
próprios teólogos e ao magisterio da Igreja (cf. n<? 14, p. 16)..
.- -■-:■.:..• .■-■-.■■..- .-'■ : ■ ... ■-/: ;r¿ ;;.}.<■.;.»
As8lm "o legado da fó é confiado á Igréja Intelra, guardado na fiel ..
\ Tradlcáo, 'mediante o senso sobrenatural da fé, presente ern1 todo.o poyo'
(LG 12a), garantido pelo Espirito Santo, que. nunca delxará a Igreja aposta
tar de seu Fundador. É a este legado que o,Magisterio,está vinculado e
ao qual se deve referir em suas declsoes, o'que-n8o significa que'estás
recebam seu valor do consentlmento do povo" (n? 4, p. .6}; ,,il« '

Els algumas das grandes llnhas do documento em foco. Afudará. os


fiéis católicos a se orlentarem na sttuacSo' de Jó que atrayessem.r»—r,Ape
nas se deve notar que ó estilo de tais páginas ó elevado e técnico, tor-
■ nando-as pouco acessfvels aos fiéis de modesta formacao teológica ou
cultural. Será, portante, em grupos ou comunidades devldamente orientadas
que tal documento poderá ser estudadó com o máximo provelto.>•c • H•;>'.

Í73 —
•••'■ '•■■■;::>-'■■ 'v-: ■' ■.-;:' : •■■■■■= ■■■■• ■.■:.■■■ • ■.■ w:&$$}*!%&,
,, -Inlclacao Cristi: ccvr^írí'iijá <vri:-i':''::'.<«>::«-■ ^^.¿,¿^£¿4)^$?

'■■>• prímeirá^confissaoje;primeiía^qmunhaii !
^- - £> J?.SÍ!->'U?fíí-».

iúl-Á^ Ás:&U;ih ;sf;íif»i'*aii á '.iir/iv.w.or.t!-: <.ri ¿;.>iu .\0Y •r>!::i^J


V.. Em PR 105/19^8, pp. 367-375, abordamp&afluestáq fe
administrar ás criangas ó- sacramento- da Penitencia antes que
fagani a sua primeira Comunháo Éucarístíca. Embora .a Igrejai
desde o séc. XIH (quando se tomou consdéntíáMá-qüéstóo),
sempre- tenlia ■, procedido assim, . Yári°.s catequistas em nossos
diasipreféreni^adiar.á primeiraCbhfissáo, de modo a'dar apri-
meifa Eucaristía semConfíssáo sacramental; • Alegamjv para

aConfíssáp..

-V;-^ Ñb: Wi'de PB ácima- diado foram ponderadas as :raz5éá <fa-'


vóráyeis e Os1 incorivehlénteS da iiPva praxe. "A condusáoTiéra ,
francamente; em prol do constante uso, da. Igreja: a crianca,
desdeña1 idadé da xazáo, .já>ppde fa2er.,suá,confisslo,de'faltas'
(geralmente leves), com proveito para a sua vida crista e para
a- sua autoeducacáoi É bom que desde cedo o cristáo adquira
o hábito de se examJtoái^v(de;mañbh^ cohse^tánea coma^^^^
idáde) Wás^BS^''&éaa¡B^o^'é^[üSl^i'fi.'gtt^ dó;sacrái-
mentó da Penitencia há de ájúdá-la a se libertar mais e mais
do pecado. De resto, dizia Sao Pió X: «O costume de nao admi
tir á confíssáo bú nadrábsblvéf as criaiicas qué já atingiram o
uso; da. razáo, é/totalmente; reproyáyel» (Decreto ,«Quam sin-
gulaiS» VÉ, em ^¿Actá ^Apositplicae Sedis»j 1910Í, p. 583)^'; ■ ;
Ora há piucos meses a Santa Sé publicou um documento
que:dissipa qualqüer düvida sobre as' intencóes da Igreja a tal
proposito. Trata-se de urna Declaracáo normativa, promulgada
pbr intermedió ;das Sagradas Congrégacóes para a Disciplina
dos "Sacramentos e para1 o Clero. ; , . . ■.,'..., :,, •

Eis o tejctó eni foco: .


PRIMEIRA CONFISSAO E PRIMEIRA COMUNHAO

."Pélo;decreto'Quam.singular!' de 8 de agosto dé;,191Ó


(Á.Á.S:; 1910, pp, 577-583), S§o Pío X, apoiando-se sobre a
prescrigao do canon XXI do Concilio IV do Latráo, decidiu

'■.'■■ -—174 — " • •/.■<••■


: ' : ' PRMEIRA CONFISSAOEPRIMEIRA'COMUNHAO *^<&'

que.as crianzas receberlam os sacramentos da Penitencia


da Eucaristía desdéía^ídádeídá razadnEstá'prescrlgáo. aplica-.'^
da ná Igreja inteira, deu e ainda dá frutos abundantes de vida v-f
—crista; er deíperfeijjSoj espiritual,- .,v,.;,m^ aPí0 Oii
A nota adicional ¿o piretório Catequético Geral promul
gado

■-■■ turne',__.-,_-. -,-.-.. ,..,,..,.,>........ ..... -...-,.. ...„ . ,.. .. .. .....


primeira Coniunnáo. das ¡criañgás:, 'Tudo bem ■ ponderado,? le-
, vando^se em contaque'em principio nao se-pode derrogar a
' üma'prática comum-é-'geral,■ seriSo'cdm'ó coris'entimehtó .da
. Santa; Sé, após corlsulta ás Conferencias Episcopais,, esta mes-
már.Santa Sé julgá quó'-convém conservar-b costüme -vigente
ha igreja; de fazerrqué ia< primeira Confissao 'pfeceda cafpri^-

i'~'%í 'Eise';mesma.dlretóriÓ'jpátequétióo'jtprnpú^emicohsidera<?§o
certas;inovagoes introdüzidas.em algunsl lugares ño< sentido, de -
se permitir'a primeira Comunhao sem a recepgáodo sacramen
to da Penitencia..
:. r1éjfóias;fps'sém \
^ ániferibrménte os ..interessadbsr,se-entehdessemá-com
._. ... , . . ó ir,.

Após madüfá'^bohs'WeraQtó-'e'.lévah'do^
dos Srs. .Bispos, ■assSagr9de£.:Cpngregac5é3i^
>clbs- Sacramentos e para b'Clero..déclarárnápe.lp,7téoc>dp pré^v'
senté documento, com a aproyagáo do Sumo Pontífice Paülb
Vpque;é'hécessárjpipdf termo;8'estas^kpérlértó1iís|(asíiquajs
já se estendem por dois¡i!áhds) cdm o' finíW and''éáóbláf¿;
1972/1973;^ Por conseguinte; todos, em toda'pártele) confqr^P
V maráo ao decreto' 'Quam"singularl'.'

' ~<\k'íB'^<^í ■":;:/'n'l^pádp.em¡'Rpmá;,£


iiá, áos 24,06 malo.de. 1973^}X H?í
nlo,. Card,.;.;Sarno.ré, Prefeno; ■; v^

Esta Declaragáo foi publicada em «Acta

a Santa Sé se" refere á. dbutrina constante" dó'


Igreja e, por conseguinte/iao «senso ,da¿ Igreja>..;,
m ' íA.HPERGUNTEHEv'RESPONPEgtEMOS» :172yi974>TtK>>?■, ^&nfo'?-5
• ,■ ■ ■ .. . ■ ■ i ■ . - ■ ■■•■..- >..-.- ¡ ~A¿ Uv
. '; 'Vi .-. !'■••:>1|'i"\1..' "■■-:'..-' ■,'•'■ - ' :■ ■ (". . ■.: . ■• . •'■, •liv- ■'■,*/•:'?(!'•■••■'{•'•'-"■■'•''
g íiior. ííhoh;/o, <

pbfv :í>b .¿^Miú^Ururdé' eoluií


Bealizar-se no casamento on nA'teilbafo}
— Ed. Segrafa. Rio de Janeiro 1974, 155 x 230 mm, 92 pp. , ..

I ';<"; Já ;éih!RR«iÍ7J)/1974 ,comentanio^ümaT obrandorniésmffi autorintíttt^T"r


ladá <Válella"pena(sSer)fpadre?,>;A-que;se.acha ácima.descrita, faz,;de .
cértó riioffol'etío pbsltiVotá'áhterior. Emítese; o autor mostra oá títulos '
. de ¿piecÓdáWdatmafésta^lorige
¿p're^d^vidU'tmaféstáilloagéaé'implicar
de impr muüc
niutilacab' o
ou'depáupe.
rafaenttf/da?íperao$alidadei> ptoporciófiái a^^Tealizacab da ihesm*
mos>elevadps^péni o,amór:semelhante ao.dos esposos nem oiexercfclo

aós.síicerdotes'é'RellgIosos,'óS qualsrenunclám á patemldade blológiba


para ¡poder-exercer, a paternidade espiritual em rela¿aoao grande nú-
. ' mero de pesabas que predsam deste servlgo. ..Q Pe. jPlp expBg^seus ,
temas, baseado em notável experiencia, qué torna suas óbservacOes
<e cphclusSes muito realistas. ,O cap. m do livro («SublimacSo do
. impulsó1 sexuáih>)'l:cóhstltui o fundamento científico da tese .'dd Pe. ,
Milpácher; que. sabiamente1 recorre a-dados da fisiología éda! pslcc-
lOgÍa,,/n,:¡;. ;.!; .-■;.;;. -;-,.', ;' ; ■:;,..: ■ [■';.:'■ "! ■ ,' •' '. - •' •'; '•ii-?"^ ■'-■'<

— Cplívro" Iiiiéressa de 'pertb'ás/pessoas/que hesitam sobre,o;ji;alor


da vida una oü' indivisa; constituí valiosa contribuic&o para iSe pon-
derar'io significado?dó•'celibato^sacerdotal. Será támbém multo-útil
abs jovens que, procurando sondar as suas. Inclinacdes profundas,
julgam que o sexo é um imperativo inquebrantável; o autor lhes dá
- ayer, as.vantagens físicas e psíquicas da continencia. .;:.;.A
"O público brasilelro podé coñgratular-se vivamente peláredicao
desta nova-obra do* Pe. Milpacher.•• '■'''■'"'■■ ■•';:;'.

-. Vocé conhece os primelroa cristaos?, por Domingos Barbé..—;Ed. ~


' Paulinas, Sap Paulo 1974, 127 x 192 nim, 156 pp. ' . . ,

1 Em Osasco (SP) existe a comunidade de base do Cristo Ressuscl-


, tadó, composta de traballíadores que. procuram viver Intensamente o
espirito de uniao e amor fraternos dos primeiros cristaos; a leitura
. , «ruminada> da Biblia constitui um forte vinculo que estreita esses
' cristaos entre si. Ora, como fruto dos círculos bíblicos assim realiza
dos, atemos hoje o livrp ácima indicado: consta de breves comentarios
sobré25 textos bíblicos'referentes á.vlda dos antigos crlstáos e ao mls-
'/ ferio da. Igréjar os'Evangelhos,. os Atos dos Apostólos e as cartas
paulinas fomecem a trama de tais reflexSes, ás quais se segué sempre
.uní breve questionárlo para estimular o aprofundamento em grupos.

'[.y,''Q'lívro''é'de'.Íeítura;'slmpíesv;rdéstink-se a quem'se val iniciandpvno


coritatórcorií á.Blblia. y'.' ' ''',■; '" ' : •••,''♦'/ó"-' .

'. : o/pobres queci)ens taOa;parA. Gelfil; traducáodb fraricéápelo


" Pe. José Raimundo Vldigal. Colecao «A Palavra Viva». — Ed. Pauli- -
. nas^Sb Pátüo^igTSí^ilO.xiSS mm, 200 pp. . , l --.■
Gelin é dos bons exegetas franceses do Antigo Testamento. O livro
que aqui apresentamos, retoma um assunto que Gelin sempre abordou
com especial carinho. Estuda o sentido da pobreza na Biblia.
Nos primeiros tempos da historia de Israel, o pobre era geralmen-
te tido como o homem punido por Deus por causa de seus pecados, ao
passo que o rico era considerado hornern que Deus quería premiar por
sua fidelidade k leí do Senhor; cf. SI 1,3; 112,1-3. Todavía o livro de
Jó pos em xeque tais concepgóes; Jó tornou-se pobre e enfermo, sem
que tivesse anteriormente ofendido a Deus de maneira grave. Na ver-
aade a experiencia ensina que há muitos ricos arrogantes e impíos, ao
passo que numerosos pobres sao fiéis aos preceitos do Senhor. Final
mente, após o exilio 1587-538 a. C.) o conceito de «pobre» em Israel
atingiu a última etapa de sua evolucáo: os judeus que voltaram da
Babilonia para reconstruir Jerusalém e o Templo de Deus, nao foram
os ricos, pois estes já se haviam acomodado no estrangeiro e, por causa
do seu bemestar material, nao tinham mais a fé e a coragem para
recomecar a vida na Térra Santa, uem voltou para reconstituir o
povo de Deus em Judá, foram os pobres e pequeninos, que, nao tendo
ilusáo ñas riquezas, conservaram viva a consciéncia de qua Javé era
a grande fonte de esperanca e a valiosa riqueza de Israel. De entáo
por diante, o povo de Israel estabelecido em Judá ficou sendo carac
terizado como um povo de pobres — os pobres de Javé, que tinham o
coracáo voltado para o Senhor, com simplicidade, humilaade e amor.

No Novo Testamento, o conceito de «pobre» é identificado com o


de «cliente de Deus, livre das ilusoes que as riquezas suscitam». O
pobre que vive em auténtico espirito de pobreza, conserva a visáo
lúcida ue que a criatura nada tem de valioso que nao lhe tenha sido
dado por Deus; é humilde, despretensioso, vive a verdade. É por isto
que Jesús proclama a bem-aventuranca dos pobres (cf. Le 6,20; Mt
b,3); o próprio Jesús aparece no Evangelho como anaw ou pobre — o
que também pode significar «manso e humilde de coráceo» (cf. Mt
11, 28-30; 21,5j.
Sao estas as idéias que Gelin desenvolve no seu interessante livro,
o qual se termina com urna frase de S. Teresinha de Lisieux: «Nao
tennas medo: quanto mais pobre fores, mais Jesús te amará». Segue-
-se ao último capítulo urna colecáo de treze textos sobre a pobreza
tirados da Biblia, dos escritos cristáos desde o séc. IV até nossos dias,
assim como das antigás literaturas egipcia e hindú.

A obra de Gelin se recomenda vivamente a todos quantos desejem


conhecer melhor a Biblia e sua mensagem altamente construtiva. O
autor sabe usar de estilo assaz comprecnsivel e atraente.

Acontece que quem comeca a se interessar pela Biblia, sem de


mora senté a necessidade de urna introducáo geral á mesma; sem isto,
o leitor só considera facetas e aspectos parciais do Livro de Deus.
Eis por que abaixo apresentamos duas obras acessiveis e de valor
capital para iniciar o estudioso na S. Escritura.

A TradicSo Bíblica, por Georges Auzou. Traducáo de Frei Eliseu


de Lucena Lopes. Colecao «A Palavra de Deus» — 4. Livraria Duas
Cidades, Sao Paulo 1971, 137 x 210 mm, 373 pp.

O autor, já conhecido no Brasil pela sua obra «A Palavra de Deus»,


percorre a historia do povo de Deus desde Abraáo e os Patriarcas até
Jesús Cristo e os apostólos; a presenta os fatos salientes de cada época,
as questoes doutrinárias que foram entáo surgindo, e coloca cada livro
bíblico em seu contexto histórico e geográfico. Assim o leitor adquire
urna visáo panorámica da paulatina formacáo das páginas da Biblia;
comprende que esta se foi originando lentamente, sempre a partir de
fatos concretos e em dependencia das tradigóes oráis que eram trans
mitidas de geracáo em geragáo entre os judeus e os primeiros cristáos.
A leitura do livro de Auzou ajuda o leitor a libertar-se da tentacáo
— táo compreenslvel — de supor que a Biblia tenha sido redigida mais
ou menos á semelhanca de um livro moderno, que em geral depende,
quase que só, das pesquisas, reilex6es e da redacáo direta do respec
tivo autor. Ao contrario, quando se aborda um livro bíblico, deve-
•se guardar viva a consciéncia de que ele tem sua pré-história: pré-
-história pública, ás vezes longa, que coincide com o período em que
os dizeres do livro eram transmitidos de boca em boca, de geragao em
geracáo, recebendo através deste processo as características que os
homens e os quadros históricos lhes podiam imprimir.
O reconhecimento deste fato nao quer dizer que a Palavra de Deus
comunicada a Abraáo, Isaque, Jaco, Moisés, Davi, Salomáo... tenha
sido deturpada pelos homens através dos tempos (como costuma acon
tecer com as tradig5es meramente humanas). O cristáo sabe que a
Biblia é Palavra de Deus, palavra redigida sob a inspiragáo do Espirito
Santo, que assegurou a veracidade dos escritos sagrados; por con-
seguinte, a S. Escritura comunica a verdade que Deus quis transmitir
aos homens em vista da sua salvagao eterna (cí. Const. «Dei Verbum»
n« 11). A critica contemporánea pode comprovar, em numerosos casos,
a veracidade da Biblia tanto no setor da historiografía como nos da
geogralia, arqueología... A historiografía dos israelitas é reconhecida
como única e inconfundivel no Oriente antigo, sobressaindo sobre as
crónicas dos povos de outrora por sua estensáo e pelo esmero dos
respectivos escritores (que naturalmente nao puderam contar cam a
documentacáo de que um historiador moderno disp5e).
Todavía a veracidade da Biblia íoi veiculada e formulada através
de instrumentos humanos, que marcaram vivamente o texto por seu
estilo, seu vocabulario, sua mentalidade. O misterio da Encarnagáo,
pelo qual Deus se quis comunicar aos homens na plenitude dos tem
pos através da humaindade de Cristo, já teve seu precedente análogo
na confecgáo dos livros sagrados, pelos quais a Palavra de Deus entrou
dentro da palavra dos homens, assumindo, sem erro, os condiciona
mentos que esta traz em si.

Introducto & Biblia, por Pedro Grelot, Tradugáo das monjas bene-
ditinas, Abadía de Santa Maria, Sao Paulo. Colecáo Biblica-11. — Ed.
Paulinas, Sao Paulo 1971, 145 x 215 mm, 456 pp.

Este livro, devido a outro grande exegeta francés, também conhe-


cido no Brasil, serve á mesma finalidade que o anteriormente recen-
seado nestas páginas. Diferencia-se, porém, de «A Tradicáo Bíblica» por
ser mais volumoso, mais rico em documentagáo e ilustragóes escritas;
transcreve, sim, 55 textos famosos, antigos e modernos, cristáos e nao
cristáos aptos a ilustrar a mensagem bíblica; apresenta cinco tabelas
cronológicas, assim como bibliografía cuidadosamente indicada para
cada tema. Após cada capítulo, s&o referidos «temas de estudo», ou
seja, sugestóes e questdes que esttmulem o leitor a aprofundar o
cont'eúdo do respectivo capitulo.
Grelot assim oferece um trabalho substancioso, de agradável leitu
ra e altamente compensador para qualquer estudioso de cultura media.
Talvez se possa dizer que Auzou se dirige preponderantemente á
escola e & didática bíblicas, ao passo que Grelot ultrapassa os moldes
da escola, sem deixar de servir também a esta. É, sem dúvida, para
desejar que o nosso público se interesse ávidamente por um ou outro
destes estudos introdutórios na Biblia.
Ej.lS.

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