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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Splendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEISTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacao.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
• v'
Índice
pag

FALA O CAMPEAO '¿7f

Ciencia e consciéncla:
psiquiatría, ideología e antipsiquiatria 279

Planejamento familia*:
E O MÉTODO BILLINGS? .' 294

Medicina e técnica ; -
VOCÉ ESCOLHERÁ O SEXO DOS SEUS FILHOS ? 30i

Na "ordem do día":
A RENOVACAO OARISMÁTICA : SIM OU NAO? 311

LIVROS EM ESTANTE 324

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

• * •

NO PRÓXIMO NÚMERO :

Aínda o surto religioso na U.R.S.S. — Ética sexual e


vida moderna. — Aborto : fatos significativos. — Crsr no
purgatorio hoje ?

AMIGO, NAO SE ESQUECA DE RENOVAR SUA ASSINATURA !


DESEJAMOS CONTINUAR A SERVIR COM O AUXILIO DOS
NOSSOS COLABORADORES.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinatura anual CrS 60,00


Número avulso de qualquer mes Cr$ 6,00
Volume encadernado de 1975 Cr$ 85l0°

K D I T O li A LAUDES S . A .

BEDACAO DE PB ADMINISTRAgAO
Caixa ^Postal 2 666 Kim Sio Rafael, 33, ZC09
ZC-00 20.000 Rio de Janeiro (RJ)
20.000 Rio de Janeiro (RJ) j fin.: 268-0981 « 268-27Ü6
FALA O CAMPEAO
Até hoje nao poucas pessoas perguntam por que os sacer
dotes nao se casam. Julgariam estes que o casamento é peca
minoso ? Seriam eles cidadáos frustrados, decepcionados ou
mesmo doentes ? Teriam nascido insensíveis ou diferentes ?

A resposta que a fé crista dá a quem assim indague, é


muito simples: o sacerdote é um homem igual aos demais,
portador de coragáo, afetividade e raciocinio... O segredo
do seu celibato é simplesmente o desejo de se consagrar intei-
ramente á mais nobre causa: á Boa-Nova, penhor da vida
eterna que Jesús Cristo veio trazer ao mundo, a fim de que
se difunda entre todos os povos. É portante para amar melhor
e servir mais livremente a todos os seus irmáos indistinta
mente que o padre prefere nao se comprometer com determi
nada familia. Nao é porque nao ame, mas, ao contrario, é
porque muito ama que o padre nao se casa. É claro que tal
género de vida só pode ser abracado por dom de Deus após
especial chamado do Senhor Jesús: «Vem e segue-Me»
(Mt 9,9).

Esta explicagáo pode ser ilustrada por um fato recente...


Com efeito, em maio de 1976 veio a lume o n« 1 da revista
«Isto é», da «Encontró Editorial Ltda.» (Sao Paulo). As pp.
103. 150-156, esse periódico apresenta urna entrevista conce
dida por Emerson Fittipaldi. O famoso automobilista, inter
rogado a respeito de assuntos diversos, aceitou falar também
da sua vida particular. Por conseguinte, em determinado mo
mento afirmou :

«Eu procuro normalmente ter a minha última reta$áo


sexual na quinta-feira, se a prova é no domingo» (p. 156).

O repórter chegou mesmo a salientar na mánchete da


entrevista os seguintes dizeres, que se encontravam em realce
ñas bancas de jomáis do Rio de Janeiro:

«Se tem prova domingo, nao ha sexo depois de quinta».

Tal afirmacáo é testemunho de notável coragem e since-


ridade. Fittipaldi é mais heroico automobilista depois de se
abster, por alguns días, de relacionamento sexual... Alias, o
caso de-Emerson nao é único. Muitos grandes homens, dese-
jando dedicar-se mais plenamente a um ideal (científico, artís
tico, esportivo...), praticaram e praticam a abstinencia se
xual. Esta, longe de prejudicar a saúde, favorece n <?mnrpni
f »'UC:-hí3
_ 27r — 1 BIBLIOTECA
tragáo de energías em vista da conquista de determinado
objetivo. Pois bem; sobre este fundo de cena pode-se dizer
que o sacerdote é alguém que, por chamado de Deus, encara
a vida como urna grande e constante corrida automobiüstica
e, conseqüentemente, resolve fazer todos os días o que o auto-
mabilista realiza em seus grandes fins de semana. Assim,
sem recurso a argumentos de origem teológica ou de fé,
pode-se compreender o celibato sacerdotal. Este supóe, no
padre, um elevado ideal (diga-se mesmo: o mais nobre ideal)
e vem a ser a garantía (humana, psico-fisiológica) de reali-
zagáo desse ideal. O padre, levando vida una, procura teste-
munhar ao mundo as suas aspiragóes e tenta dispor-se táo
plenamente quanto possivel a consecugáo dessas aspiragóes.
Evidentemente, tal observagáo nao implica menosprezo da
vida conjugal, pois esta resulta também de urna vocacáo de
Deus e pode ser o caminho de sublime santidade para todos
quantos a ela sao chamados.

A propósito convém aínda salientar que a revista «Le


Supplément (de la Vie Spirituelle)» N» 116, fevereiro 1976,
dedicou seus estudos ao tema «Problémes d'un clergé marié»
(Problemas de um clero casado). A temática é introduzida
pela seguinte observagáo:

«A crise atual de recratamento do clero levará, a Igreja


Católica a ordenar horneóos casados ?... Se esta solacio parece
contribuir para dissipar alguns de nossos problemas ¡mediatos,
ela fará surgir ontros problemas. Desde ja, nao parece inútil
preocuparmo-nos com isso e interrogar nossos irmáos protes
tantes e ortodoxos a rcspeito da sua experiencia de clero-
casado» (p. 1).
No corpo do fascículo encontram-se depoimentos varios
de esposas e fühos de pastores protestantes e presbíteros orto
doxos, que revelam quanto o pastoreio pode dificultar a feli-
cidade da familia de um ministro casado. Ele próprio se senté
dividido entre os sagrados deveres de seu ministerio e as obri-
gagóes contraidas com a familia.
Desta forma, o celibato sacerdotal, que os presbíteros
come?aram a abracar espontáneamente desde os primeiros
sáculos da Igreja, é novamente posto em foco. Se em certos
momentos pode parecer urna instituigáo ultrapassada, veri-
fica-se que ele continua sendo um enorme valor mesmo em
pleno sáculo XX,... valor que aparece nao somente aos olhos
da fé, mas também aos olhos de quem acompanha a vida con
temporánea. .. O que importa, é nao esquecermos o porqué
do celibato sacerdotal!
E.B.
— 278 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XVII — N» 199 — Julho de 1976

Ciencia e consciéncia:

psiquiatría, ideología e contrapsiquiatria


Em srntese: As páginas que se seguem, reproduzem sintéticamente
o conteúdo de um artigo da Dra. Jacquellne Renaud sobre psiquiatría re-
presslva na Rússia Soviética, Expde a maneira como sSo tratados os dlssi-
dentes políticos naquele país: tidos como esquizofrénicos e Irresponsávels,
bSu tais cidadfios Internados em clínicas psiquiátricas, onde passam por
violentos tratamentos, que nfio raro os reduzem á condlcfio de "trapos
humanos".

Porgunta-se: como entender o papel do médico que se preste a tal


maneira de agir em relacSo aos dlssidentes políticos ? — Há quem quelra
justificar o clínico, visto que esquizofrenia significa "alienagáo á realidade";
ora a realidade russa é a marxiste; por conseguinte, contestar o marxismo
na Rússia é o mesmo que se comportar de maneira "anormal". Todavia
essa tentativa de justificar os psiquiatras soviéticos nio é aceita por outros
médicos e pensadores, inclusive na próprla Rússia, os quais constltuem o
movlmento da "antlpslquiatrfa". Com efeito, deve-se lembrar que os criterios
de normalldade e anormalfdade da pessoa humana nSo s8o os que urna
socledade (ou um grupo dominador) momentáneamente queira adotar, mas
86o os que decorrem de linhas congénitas em toda e qualquer pessoa
humana em qualquer época: a asplracfio e o dlrelto á verdade, a asplracfio
e o direlto á liberdade de pensar, a asplracfio e o dlrelto á escolha do
Ideal de vida e á prátlca da fé religiosa... O módico que julgue alguém
anormal porque esse alguém procura viver esses seus direitos já nfio está
a servico da medicina, mas, sim, da Ideología.

Comentario:' De vez em guando, os jomáis nos dáo noti


cias de sabios e dentistas russos que, sendo infensos ao Go-
verno Soviético, tém sido internados em clínicas psiquiátricas,
onde o tratamento é oficialmente «dentífico», mas na reali
dade é suspeito e ambiguo. A opinüío pública recentemente,
por exemplo, tomou conhedmento do caso do jovem matemá
tico Leonid Plioutsch, que foi recomido em hospital psi
quiátrico por motivo de «dissidéncia política»... Varios dos

— 279 —
4 «PERGUNTE E RESP0NDEREMOS> 199/1976

que sao assim internados, passam por tratamentos químicos


ássaz violentos, que transformam a personalidade. Nao poucos
ficam reclusos durante anos sem ter o direito de receber
visita da familia. Pode-se imaginar quáo penoso seja a alguém
ver-se preso e isolado com loucos, embora tal pessoa esteja
mentalmente sadia.

A propósito de tal tipo de «psiquiatría» e da funcáo dos


psiquiatras que exercem a sua profissáo em tais clínicas, a
Dra. Jacqueline Renaud, neuropsiquiatra, escreveu um artigo
na revista «Science et Vie» (Janeiro 1976, n» 700, pp. 88-93)
com o título «Psychiatrie répressive et psychiatrie curative:
la différence est minee» (Psiquiatría repressiva e psiquiatría
curativa: a diférenla é tenue). A autora discorre sobre os
métodos e as finalidades do tratamento psiquiátrico «repres-
sivo», deixando algumas questóes á reflexáo do leitor. Dada
a importancia desse estudo, reproduziremos, a seguir, as suas
linhas essenciais, as quais acrescentaremos breve conclusáo.

1. O problema

Na própria U.R.S.S. circulam jomáis clandestinos que


descrevem a situagáo ñas clínicas psiquiátricas repressivas,
chamando a atencáo para os graves abusos ai cometidos em
nome da medicina e publicando manifestos ou apelos dos inter
nados em clínicas.

No estrangeiro, tanto personalidades ilustres como asso-


ciagóes médicas e psiquiátricas protestaran!. A ONU tém
sido freqüentemente solicitada por pedidos de inquérito.

Os psiquiatras oficiáis soviéticos defendem-se em termos


que poderiam convencer certo público. Alguns peritos visita-
ram clínicas psiquiátricas da U.R.S.S. e prodigalizaram lou-
vores ao tipo de tratamento e aos cuidados oferecidos aos
doentes mentáis na U.R.S.S. Está claro, porém, que nao
foram postos em contato com «doentes» de tipo político ou
contestatario.

Como quer que seja, levanta-se a questáo: como pode


acontecer que médicos e psiquiatras (os quais devem ser ho-
mens de inteligencia culta e erudita e de consciéncia profis-
sional dedicada aos seus pacientes) aceitem compromissos poli-

_ 280 —
psiquiatría e antepsiquiatria

ticos com o Governo do seu país de modo a tornar-se cola


boradores de tuna nova Inquisigáo e carcereiros no século XX?
Aplicando drogas que eventuaímente modificam a personali-
dade humana, a fim de servir aos interesses do Estado, nao
se tornam eles manipuladores (em vez de beafeitores) da
pessoa humana?

Vamos, a seguir, expor algo do que sejam os processos


levantados contra contestatarios políticos e o tratamento des-
tes em clínicas psiquiátricas na Rússia. Depois examinaremos
o papel do médico frente a tais casos.

2. Os Ihospitais psiquiátricos russos

Existem na Rússia tres tipos de hospitais psiquiátricos:


assim ñas clínicas gerais se encontram seccóes psiquiátricas;
além do que, existem clínicas especialmente montadas para
a psiquiatría. Nesses dois casos, os pacientes sao confiados a
pessoal adequado: médicos especialistas, enfermeiros, psicólo
gos, reeducadores... Em terceiro lugar, devem-se mencionar
os estabelecimentos psiquiátricos ditos «de tipo especial» ou
seja, de regime penitenciario. As duas primeiras instituicóes
estáo sob controle médico (Ministerio da Saúde Pública), ao
passo que o terceiro tipo depende diretamente do Ministerio
do Interior.

Os dissidentes políticos que — por «felicidade» — sejam


enviados a estabelecimentos dos dois primeiros tipos, ali ficam
apenas poucos días ou poucos meses, ao passo que os inter
nados em estabelecimentos de tipo especial ali permanecem
durante anos...

Vejamos agora um pouco do desenrolar do processo que


leva á internagáo.

3. O processo

A internagáo é decidida por decreto de um tribunal, ao


cabo de processo realizado a portas fechadas, tendo por base
certificados de doenca mental assinados por tres médicos.
Nem o próprio acusado (ou «doente mental») assiste ao pro»

— 281 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 199/1976

cesso, pois é tido como irresponsável, e, se é irresponsável,


nada do que ele diga ou faca pode esclarecer os membros do
tribunal.

O caráter secreto de tais processos chama a atengáo, pois


o Código de Procedimento Penal na Rússia prevé que o julga-
mento de pessoas declaradas irresponsáveis se deva desenrolar
em público. Diante, porém, de um dissidente político, o presi
dente do tribunal recorre ao «segredo do Estado». *

O certificado de doenca mental e a receita de internagáo


do «paciente» devem apresentar a descrigáo dos sinais patoló
gicos do acusado, sinais que justificam a decisáo dos médicos
e, conseqüentemente, a dos tribunais. — Ora é preciso notar
que existem na Rússia diretrizes e decretos dos Ministerios
que estipulam as características do que se chama «comporta-
mentó social perigoso», em conseqüéncia do qual o paciente
deve ser forgosamente recolhido a um hospital psiquiátrico.

Por conseguinte, o psiquiatra que queira cumprír seus


deveres de oficial do Estado, deve aplicar ao preso político
contestatario urna serie de perguntas que tém geralmente o
estilo capcioso de urna armadilha; assim tentará ele p5r em
evidencia no paciente os sintomas de «personalidade social-
mente perigosa»; se o paciente, em suas respostas, foge (por
pouco que seja) a um esquema de «normalidade» rígidamente
pré-estabelecido, torna-se vítima de condenacáo: conforme o
esquema, ele deve amar os genitores, mas nao ser dependente
deles;... deve ter conhecido o despertar sexual nem cedo nem
tarde demais;... deve nao gostar de extravagancias em maté-
ría de arte... Sao ainda, conforme o esquema, aberraqóes
mentáis o desejo de deixar a patria (suficiente motivo para
internagáo psiquiátrica) ou também convicgSes religiosas rela
tivamente «insólitas» (nao habituáis), como as convicgóes ■
budistas...

Tendo feito a experiencia de tais interrogatorios «médi


cos», os pacientes internados em clínicas espalharam, mediante
imprensa clandestina, algumas instrucóes (útels a quem futu
ramente caisse na mesma situagao) que ajudem o paciente a

1 Ao referir este fato, a Ora. Jacquellne Renaud comenta: "Podemos


perguntar como os dizeres de urna pessoa considerada irresponsével podem
fazer parte de um segredo de Estado".

— 282 —
psiquiatría e antipsiquiatria

escapar ileso do interrogatorio. Tais instrugóes resumem-se


na seguinte: durante o periodo de «observagáo», o acusado
deve negar ou renegar qualquer paiavra ou atitude de indocili-
dade, pois, se ele se mostra renitente em sua contestagáo ou
indocilidade, é ¡mediatamente acusado de ser um perigoso
esquizofrénico.

A propósito foi publicado um, exemplo muito claro era


relatório apresentado a urna comissáo judiciária norte-ameri
cana, a saber: no comego de outubro de 1956, um engenheiro
de 40 anos, chamado P. A. Lysak, foi preso por ter pergun-
tado a um conferencista comunista: «Como pode acontecer
que num país pretensamente livre como a U.R.S.S. certas
emissoes radiofónicas estrangeiras sejam perturbadas ou pre-
judicadas?» Lysak foi entáo acusado de haver levantado decla
rares caluniosas contra a U.R.S.S.; ao que Lysak respondeu
que essa acusagáo era ela mesma urna calúnia. Em conse-
qüénda, o engenheiro foi declarado irresponsável por seus
atos e viu-se internado para «observagáo» no hospital psiquiá
trico, de Leningrad; ali, no decurso das discussóes com os
psiquiatras, continuou a sustentar que certas emissoes radio
fónicas estrangeiras eram intencionalmente tumultuadas pelo
Governo Soviético; em conseqüéncia, mais incompatibUizado
ficou com as autoridades médicas do hospital. Essa renitencia
bastou para que Lysak fosse doravante tratado intensivamente
na base de Sulphazil (um neuroléptico1 de efeito violento);
todavía esse remedio nao conseguiu extinguir o confuto; pelo
que, Lysak permaneceu mais de oito anos em tratamento na
clínica psiquiátrica de Leningrad; a seguir, foi transferido para
a «colonia psiquiátrica» de Sytchiovka — colonia para a qual
só se mandam os doentes crónicos ou aqueles que estejam
«reduzidos a estado de deficiencia mental absoluta».

Existem acusados que, ao contrario de Lysak, desde o


inicio do processo resolvem defender-se segundo as normas
recomendadas: respondem com passividade perfeita, evitando
choques com os médicos e oficiáis inquisidores; comportam-se,
em suma, como se tivessem sido passados por molde ou forma,
sem apresentar aresta alguma.

'Por "neuroléptico" entende-se um pslcotróplco ou um preparado


capaz de produzir um estado de Indiferente psíquica, sem narcose. é
geralmente aplicado nos estados de excltacfio e agltacSo, bem como ñas
pslcoses.

— 283 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

Em tais casos de docilidade e passividade do acusado, os


ofíciais de psiquiatría, desejosos de descobrir síntomas de con-
testacáo política nos seus «pacientes», podem recorrer as inje-
g6es intravenosas de Amytral' sódico. Este produto é do
mesmo tipo que o Penthotal, também chamado «soro da ver-
dade»; na Franca o Pentíhotal por volta de 1950 foi contro
vertido, pois os oficiáis de policia indagavam sobre a legitimi-
dade e a conveniencia de aplicá-lo em inquéritos policiais; a
resolucáo final foi contraria ao uso do Penthotal em tais
casos, pois fere os direitos e a indevassabih'dade da pessoa
humana.

Na verdade, o Penthotal e o Amytral sódico nao somente


constituem motivo de desrespeito á dignidade humana. Tam
bém se pode dizer que nao oferecem resultados fidedignos.
Com efeito, a Dra. Jacqueline Renaud experimentou pessoal-
mente o Penthotal sobre um voluntario médico num hospital
de París; observou entáo que, se o paciente toma a respectiva
injegáo tendo o propósito firme de nada revelar a respeito de
sua vida íntima, nenhum meio químico o pode obrigar a
falar. Sim; a Dra. Renaud injetou Penthotal até fazer parar
a respiragáo do seu paciente e, a seguir, tentou extrair dele
tudo que ela pudesse desde o inicio da respectiva recupera-
gáo. Pois bem; o paciente respondeu-lhe mediante mentiras
relativamente habéis, mesmo na fase em que aínda estava
quase inconsciente e mal podia articular as suas palavras.

Sabe-se que o Penthotal pode produzir a exaltacáo das


emogóes e, as vezes, dos afetos, á semelhanga do que ocorre
quatído a pessoa bebe «uns goles a mais»: sente-se entáo
exuberante, liberta de todos os tipos de inibicáo que funcio-
nam automática e inconscientemente no estado normal da
pessoa. Todavía é preciso notar que, se o sujeito toma urna
dose de Penthotal, tendo a firme disposicáo de manter suas
reservas ou suas inibigóes naturais, ele realmente as conserva.
Embora o Penthotal tome a pessoa confiante, propensa a
abertura amiga de si mesma a outrem, tal efeito pode ser
impedido, desde que o paciente resolva firmemente nao abrir
máo de seus habituáis segredos ou de seu foro íntimo. Por
conseguinte, um paciente de vontade forte e tenaz pode resis
tir até o fim >ás insinuagóes de um inquisidor psiquiátrico,
aínda que este lhe aplique preparados do tipo do Penthotal.
Donde se vé que o uso de tais drogas nem sempre é eficaz;

— 284 —
PSIQUIATRÍA E ANTEPSIQUIATRIA ¡9

além do que, é sempre urna violacáo dos direitos da pessoa


humana.

Examinemos agora o que acontece numa clínica psiquiá


trica de tipos repressivo ou penitenciario.

4. Os tratamentos «psiquiátricos»

Os numerosos testemunhos que, procedentes dos hospitais


soviéticos, chegam, por urna ou outra via, ao estrangeiro, dáo
a saber que os «presos psiquiátricos» passam por tratamentos
químicos durante anos a fio, em conseqüéncia dos quais se
tornam semelhantes a «trapos humanos», incapazes de reto
mar as atividades quando conseguem recuperar a liberdade, e
irreconhecíveis por parte da própria familia.

Os meios utilizados sao, de um lado, a insulina e, de


outro lado, os neurolépticos.

4.1. A insulina

O tratamento pela insulina é recurso relativamente antigo,


proposto por Sakel. Funda-se sobre a hipótese de que a
doenca mental esteja relacionada com um disturbio metabó-
lico subtil, disturbio que se prende á utilizagáo do agúcar pelas
células nervosas (das quais o agúcar é combustível indispen-
sável). O tratamento consiste em injetar diariamente no
paciente doses de insulina que intensifiquen! violentamente a
absorcáo do agúcar do sangue por parte das células do orga
nismo; assim sao depauperadas ao máximo as reservas de
agúcar no sangue, de tal modo que as células nervosas em
breve se encontram em estado de carencia aguda de agúcar;
donde resulta o coma insulínico... O remedio entáo consiste
em injetar no organismo a dose de agúcar necessária para
que as células se refagam. Em algumas formas de esquizo
frenia,-o tratamento de Sakel, induzindo o paciente a 40/80
comas insulínicos, produziu efeitos assaz positivos, como dimi-
nuicáo da angustia, da agitagáo, do instinto de autodestruigáo,
das alucinagoes, etc. — Aplicada, porém, a um individuo ñor-'
mal, a insulina terá por efeito atenuar as fungóes superiores
do mesmo; um engenheiro, um artista, um matemático ficam

_ 285 —
^0 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 199/1976

assim reduzidos ás condigóes de vida meramente vegetativa,


isto é, limitam-se a comer, dormir, seguir passivamente toda
incitagáo, tendo perdido qualquer iniciativa como também a
capacidade de colocarem questóes...

4.2. E os neurolépticos?

Os neurolépticos sao produtos químicos cuja agáo anti-


psicótica ou sedativa é muito conhecida. Seus efeitos se veri-
ficam nao somente sobre pacientes psíquicamente atetados,
mas também sobre pessoas sadias. Na base de experiencias
feitas por pesquisadores ócidentais, pode-se dizer que

alguns neurolépticos do tipo «largactil» provocam dimi-


nuigáo da vida afetiva do sujeito, que se torna assim indife
rente ou «ausente»;

— outros neurolépticos atenuam as forcas agressivas da


pessoa. Sao, por vezes, utilizados ñas prisóes da Franga para
«acalmar» presos dificéis;

— outros aínda, de agáo menos drástica, podem concor


rer para «tranquilizar» as pessoas, remodelando de certo modo
as personalidades. Em certos Estados norte-americanos, por
exemplo, acontece por vezes que se déem sistemáticamente aos
alunos certos tranquilizantes, que os tornam bem comportados
ou «dóceis».

Feitas estas averiguag5es, nao resta .dúvida de que os tra-


tamentos «psiquiátricos» infligidos a presos" políticos ñas clí
nicas da Rússia Soviética sao capazes de afetar profunda
mente a personalidade dos respectivos pacientes. Pergunta-se
agora:

5. É destruida a personalidade?

Em outros termos, póe-se a questáo de saber se os meios


químicos e os outros recursos de psiquiatría aplicados aos pri-
sioneiros políticos da U.R.S.S. podem chegar a destruir defi
nitivamente urna personalidade normal.

— 286 —
PSIQUIATRÍA E ANTIPSIQUIATRIA 11

A tal indagagáo é difícil responder de maneira categórica


e universal, pois cada personalidade é algo de próprio e sin
gular. Todavía podem-se propor algunas afirmagóes bem
fundamentadas:

1) Na infancia, os tratamentos citados (principalmente


a aplicagáo de tranquilizantes para tornar a crianga dócil)
modificam definitivamente a personalidade, desviando a evo-
lugáo do psiguismo respectivo e perturbando o amadurecimento
do mesmo.

2) No adulto, o psiquismo já está construido. Enquanto


está sob os efeitos de urna intoxicagáo, funciona mal e a pes-
soa se exprime de maneira anormal. Mas, desde que cesse a
intoxicagáo, o cerebro se recupera e a personalidade reapa
rece, ao menos com seus tragos mais característicos. Dá-se
entáo o que se dá com as notas grafológicas de cada pessoa:
elas reaparecen! ntesmo que o individuo queira colocar a
cañeta na boca ou entre os artelhos a fim de escrever.

3) O que os meios químicos ou (em certas circunstan


cias) cirúrgicos nao efetuam, os recursos psicológicos podem
realizá-lo com maior ou menor facilidade (segundo a resisten
cia do sujeito). Os dolorosos resultados de anos consecutivos
de intemagáo sao, em grande parte, devidos a fatores psicoló
gicos (favorecidos pela falta de resistencia psicológica acar-
retada pela, aplicagáo dos recursos químicos). Pode-se crer
que, mesmo sem recursos químicos, urna agáo psicológica bem
concatenada pode «fabricar» homens gregarios ou qualquer
outro tipo de personalidade desfigurada.

O psiquismo humano tem, em seu favor, a sua riqueza


espiritual, que o torna apto a responder aos mais diversos
estímulos; mas tem contra si o fato de que se pode descarac
terizar ou despersonalizar, caso seja obligado a funcionar, por
muito tempo, de maneira descaracterizada ou despersonali
zada.

Chegando a esta conclusáo, a Dra. Jacqueline Renaud


volta a sua atencáo para o papel do psiquiatra que, como mé
dico, colabora para a desfiguracáo de personalidades humanas
na Rússia Soviética, pelo simples fato de serem contestatarias
em relacáo ao regime político vigente. Que dizer de tal fun-
cáo, desde que exercida conscientemente?

— 287 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

6. Procurando penetrar no íntimo do psiquiatra...

A primeira atitude que a articulista toma diante do caso


proposto, é a de tentar justificar o médico, admitindo nele um
procedimento tranquilo, ditado pela boa fé. — Depois disto,
Jacqueline Renaud se volta para outra faceta do problema.
Percorramos com a autora tal caminhada.

6.1. Frente a esquizofrenia... ■

Um psiquiatra que assine o internamento de um dissidente


político na U.R.S.S., assim procede por ter diagnosticado
esquizo-divergéncia (termo aplicado ao caso de Viktor Fain-
berg, por exemplo). — Procuremos penetrar um pouco den
tro da consciéncia desse psiquiatra.

A esquizofrenia caracteriza-se por diversos síntomas, entre


os quais o de impedir todo contato com a realidade: sentin-
do-se angustiado por essa alienagáo, o paciente pode reagir
por urna procura desesperada de «verdade» (o que geral-
mente é tido como um delirio). Em casos menos graves, o
desajuste em relacáo á realidade pode levar o doente a com-
portamentos que parecem extravagantes (assim, por exemplo,
no tocante ao modo de se vestir e de se apresentar em pú
blico) ; o paciente pode propor as interpretacóes mais estranhas
para os fatos mais corriqueiros. — Ora note-se bem que na
Rússia Soviética a realidade é a estrutura político-social im
posta pelo Governo: nao admitir essa estrutura ou algum de
seus aspectos, é colocar-se em estado de «alienagáo». Por con-
seguinte, quando um cidadáo considera a entrada das tropas
soviéticas na Tchecoslováquia urna agressáo, quando alimenta
«a mania persistente de procurar a verdade», quando parece
sofrer de meticulosidade de pensamento, de percepgáo defi
ciente da realidade, quando se póe a usar barba..., está
apresentando sintomas que na Rússia Soviética podem ser
tidos como de doenca mental ou esquizofrenia. De resto, todas
as. vezes que um cidadáo descobre urna verdade nova e pro
cura elaborá-la, nao dá ele a aparéncia de estar sendo louco
e necessitado de tratamento em clínica psiquiátrica? Se hou-
vesse hospitais psiquiátricos nos tempos de Galileu (séc. XVII),

— 288 —
psiquiatría e antipsiquiatria 13

nao teria sido Galileu internado em algum deles?1 Se o


Presidente da República de um país otídental comparecesse a
uina sessáo do Conselho de Ministros trajando urna larga tú
nica sobre a qual estiyesse bordado um sol de ouro, nao seria
de esperar que os psiquiatras fossem chamados para acudir-
-lhe? Todavía esse traje era o habitual entre os governadores
de provincias chinesas há menos de cem anos...

O psiquiatra deve julgar aquilo que é (normal ou nao.


Ora o normal varia de urna sociedade para outra, e de um
momento da historia para outro! Por conseguinte, para ser
efitíente no seu trabalho, o psiquiatra tem que tomar como
criterios de normalidade os imperativos da sociedade na qual
vive o paciente que o procura2. Nos tempos de Luís XVI
(1643-1715), reí da Franca, os cortesáos defecavam.com toda
a naturalidade do mundo nos recantos sombríos ou debaixo
das escadarias do Palacio de Versailles. Se hoje um turista
fosse encontrado a fazer o mesmo, seria preso e levado ao
Posto de Policía mais próximo para pagar urna multa. Se,
porém, ele se quisesse defender, alegando que o seu gesto se
integrava num ambiente histórico do séc. XVII, ambiente
histórico que lhe aprazia restaurar, esse turista seria levado
ao Posto de Saúde e a instancias médicas. Examinado pelo
psiquiatra, ouviria o diagnóstico de que sofre de «exibicio-
nismo escatológico» 8; o médico procuraría em tal paciente os
sinais de inicio de demencia senil ou de sífilis nervosa... No
contexto do ano de 1976, o médico nao poderia reagir senáo
desse modo; em caso contrario, o público lhe diría: «Entáo
basta que um sujeito qualquer tenha pretensóes a ser histo
riador, para que vocé lhe reconhega o direito de profanar os
nossos mais veneráveis museus!» Nessas circunstancias, como
se vé, o médico faz o papel nao somente de psiquiatra inte-
ressado em atender a um doente mental, mas também o de
defensor da sociedade.

1 Estamos apenas referlndo as considerares da autora do artigo que


aposentarnos. Passaremos a urna tentativa de critica (felta, alias, também
pela próprla autora) após a exposlcáa que vamos propondo.

2 De novo, fazemos notar que estamos apenas acompanhando o desen


rolar das (délas da Dra. Jacquellne Renaud. Felto Isto, passaremos & critica.

3 A palavra "escatológico" em teología significa o que é relativo aos


aconteclmentos fináis ou á consumacfio da historia. — No caso ácima,
porém, ou no vocabulario médico, designa o que se refere ao que é ter
minal ou aos excrementos.

— 289 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

Mais aínda: dizem muitos que afinal de contas todas as


tendencias e todos os gostos estáo radicalmente contidos den
tro da natureza humana. Por que entáo tachar alguém de
doentio pelo simples fato de querer dar ao seu sistema piloso
a exuberancia e a liberdade de que a cabeleira e a barba
gozavam antes da invengáo das laminas e da tesoura? Por
que recusar a alguém, em nome da saúde mental, o direito
de andar de caigas (curtas ou compridas) ou de saias? Por
que reprimir, em nome da medicina, os síntomas psiquiátricos,
mesmo as alucinagóes¡ obrigando os pessoas a ficarem confi
nadas nos moldes convencionalmente tidos como a realidade?

Entendidos a luz deste questionamento, os abusos dos psi


quiatras soviéticos nao seriam mais do que urna faceta de
urna prática que nao é exclusiva da Rússia, mas que se
verifica em todas as sociedades sob o titulo de «psiquiatría
repressiva».

6.2. Frente ó irresponsabilidade...

O dissidente político russo é condenado, como se dizia


atrás, apos um processo do qual ele mesmo nao participa, pois
é tido como irresponsável ou como incapaz de esclarecer os
seus juízes. O julgamento de «irresponsabilidade» do acusado
é da algada do psiquiatra; é este quem deve apreciar o grau
de responsabilidade ou irresponsabilidade da pessoa que lhe é
apresentada como paciente.

Como procede o psiquiatra soviético para declarar a irres


ponsabilidade de alguém ou para aceitar a declaracáo de que
esse alguém é irresponsável?

O julgamento é proferido em fungáo de convicgóes, das


quais decorre lógicamente que algo é normal ou anormal.
Acontece entáo que o psiquiatra soviético se v§, nao raro,
diante de um homem de ciencias ou de letras, por conseguinte
diante de urna pessoa culta, que deu provas de sua inteli
gencia. .. Tal pessoa lhe é apresentada como sendo desa
daptada na sodedade em que vive. E por que desadaptada?
Porque a estrutura ideológica da sodedade soviética proibe
toda critica ao regime; todo dissidente, pelo fato mesmo de
contestar e criticar, comete um crime contra a sodedade sovié-

— 290 —
PSIQUIATRÍA E ANTIPSIQUIATRIA 15

tica. Em conseqüencia, o psiquiatra posto a servico do Go-


verno executa lógicamente o seu oficio: está obligado a assi-
nar a internagáo psiquiátrica da pessoa acusada. Os criterios
que o levam a isto, nao sao propriamente de ordem médica,
mas derivam da adesáo que o médico dá á ideología vigente
no país. E, se o psiquiatra nao assinasse o ato de internagáo
de um dissidente político conforme as exigencias da sociedade
soviética, ele mesmo (o médico) seria, segundo os criterios
psiquiátricos vigentes, um anormal e deveria lógicamente assi-
nar a sua própria internagáo.

Como se vé, Jacqueline Renaud, examinando o problema


do psiquiatra russo frente aos presos políticos, pode tentar
entender o seu procedimento e supor nesse profissional since-
ridade e boa fé.

Todavía esta suposigáo nao é aceita pela própria Jacque


line Renaud nem por muitos dos que analisam o caso, como
veremos abaixo. A contestagáo á psiquiatría soviética se
levanta por parte do que se chama

7. A antipsiquiafrta

A indignagáo contra o comportamento ético dos psiquia


tras russos faz-se ouvir nao somente a partir de homens pre
sos em clínicas, mas também de grupos de jovens psiquiatras,
que constituem o movimento da antipsiqniatria. Estes, médi
cos e estudiosos como os demais, se rebelam contra o abuso
da ciencia que está ocorrendo no seu país e póem-se a con
denar a psiquiatría nao como tal, mas como é aplicada e
manipulada na Rússia Soviética; o psiquiatra soviético a ser-
vigo do Governo já nio é puramente um representante da
ciencia nem um pensador autónomo, mas o agente de urna
filosofía e de urna máquina que preconcebidamente menospre-
zam a pessoa humana, procurando para isto os rótulos da
ciencia. Ora o psiquiatra como tal é, antes do mais, e por
definigáo, um tutor e propugnador da saúde mental de seus
cientes e nao o defensor incondicional de um regime de Go-
vemo cujos criterios nao sao os da medicina.

Comenta muito a propósito Jacqueline Renaud:


"Os fatos, isto é, as condlcSos prátlcas dessas InternacGes já nao
permltem admitir a boa fó dos psiquiatras que sBo responsávels pelo
desenrolar dessas Internacóes. é preciso admitir que eles se tornam Ins-

— 291 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

trunientos da sua Ideología com desprezo do respelto elementar devido á


pessoa humana. Aplicar Intenclonalmente técnicas psiquiátricas em virtude
das quals o ser humano se torna 'carnelro',. com vida meramente vegetativa,
reduzido a ser apenas um sistema de estímulo-resposta, nao se pode jus
tificar por alguma convlccio política: é um crlme contra a humanidade,
que por seu significado vem a ser mais grave do que a tortura ou a
pena capital" (art. cit. p. 93).

■■' .! ''Sá
A tais ponderacóes de J. Renaud, oportunas e pertinentes
como sao, acrescentamos as seguintes, á guisa de

8. Conclusóo

A psiquiatría poderia ser tida como algo de muito rela


tivo, caso fosse entendida como o tratamento ministrado a
pessoas desadaptadas á realidade ou alienadas frente á reali
dade social do seu país. Os criterios adotados pelos psiquia
tras para diagnosticar a esquizofrenia seriam dependentes do
modo de viver da sociedade de sua respectiva época. Ora,
visto que essa realidade social evolui constantemente, o psi
quiatría nao teria criterios objetivos para trabalhar nem
sería passivel de censura emanada de instancias objetivas.
Compare-se, por exemplo, o defecar em público no séc. XVII
e o mesmo ato praticado no séc. XX.

Diante deste relativismo deve-se dizer: é certo que a


sociedade evolui em seus costumes, como a crianca passa da
infantilidade para a maturidade e a sementé se torna árvore.
Esta evolucáo, porém, segué linhas congénitas á própria natu
reza humana; em conseqüéncía, «estar normalmente ajustado
á sua época» significa «estar dentro dos parámetros de pensa-
mento e vida dos homens contemporáneos na medida em que
seguem a natureza humana»; quem nao está dentro desses
parámetros, pode ser um doente. Nao se confunda tal tipo de
adaptacáo (e de correlativo desajuste) com aquele que pode
ocorrer numa sociedade cujos parámetros nao sao a própria
natureza humana e o respeito & pessoa, mas sao os referen-,
ciáis de urna ideología desrespeitadora da pessoa humana. Di
zer que alguém está desajustado ou doente porque nao segué
as regras da higiene e dizer que está desajustado porque nao
se conforma com o desrespeito infligido a pessoa humana (ou
porque quer ouvir noticias de origem estrangeira ou porque
quer viajar para o exterior ou porque quer praticar a sua fé

— 292 —
psiquiatría e antipsiquiatria _n

religiosa) sao dois diagnósticos radicalmente diversos um do


outro; o primeiro tem por referendais o pleno desabrochar
do ser humano (que compreende as regras da higiene) ao
passo que o outro se inspira por urna visáo totalitaria que
tende a sufocar o ser humano e a reduzi-lo a pega de engre-
nagem da máquina estatal.

Os criterios para se julgar se alguém é normal ou anor


mal nao sao os que urna sodedade (ou um grupo dominador)
momentáneamente queira adotar, mas sao os que decorrem
das linhas essendais da natureza humana, idéntica a si mesma
em todos os tempos: a aspiragáo e o direito á verdade, a aspi-
racáo e o direito á liberdade de pensar, a aspiragáo e o
direito a escolher o seu ideal de vida e a praticar a sua fé
religiosa... O médico que julgue alguém anormal porque
esse alguém procura viver esses seus direitos, já nao está a
servigo da medicina, mas, sim, da ideología.

Eis algumas reflexóes que a psiquiatría repressiva da


Rússia Soviética nos sugere. Pode ter sua aparéncia de auten
tica aplicagáo da medicina. Todavía é, na realidade, muito
mais expressáo de filosofía e ideología do que de ciencia mé
dica; é servigo prestado ao Estado Soviético, e nao á huma-
nidade; É difícil — se nao impossível — penetrar ñas cons-
ciéncias de quem presta tal «servico». Pode ser que, educados
desde a infancia segundo os principios do totalitarismo sovié
tico, os médicos russos julguem com naturalidade o procedi-
mento do Estado e as exigencias que este impóe aos seus ser
vidores. Como quer que seja, a conduta dos psiquiatras russos
é, objetivamente falando, digna de toda reprovacáo. Ao tomar
conhecimento desse estado de coisas, o estudioso nao pode
deixar de fazer votos para que se ponha termo, sem demora,
a táo hedionda situacáo.

AMIGO, SE ESTA REVISTA LHE FOI CTIL, NAO

DEIXE DE A PROPAGAR!

— 293 —
Planejamento familiar:

e o método billings ?

Em sfntese: O método Billings ou "da clara de ovo" consiste em


observar o muco uterino que a mulher perde nos días em que pode ser
fecundada ou no periodo da ovula$5o. Tal observagSo pode ser realizada
com relativa facilldade, pols que a secrecSo uterina tem cor, densldade e
elastlcldade tais que se toma bem caracterizada. Nos dias em que a
mulher verifique o derrame de secrecSo uterina por parte do seu orga
nismo, deve abster-se de relacSes conjugáis. Fora destes días, pode tran
quilamente ter sua vida sexual legitima, sem perlgo de conceber. Com
efelto, quando nao há secrecSo uterina (de composicfio química alcalina),
o ambiente da vagina é ácido, de modo que os espermatozoides que lá
penetrem, nSo subslstem senSo mela-hora em vida; nSo chegam, pols, a
penetrar no útero, é a secrecfio uterina que propicia a passagem dos esper
matozoides pelo coló do útero, de modo a poderem encontrar-se com o
óvulo. O método tem sido aplicado com grande éxito, evidenciando ser
seguro. Apenas falta seja divulgado para poder ser aplicado devldamente.

A continencia periódica vem a ser o uso natural de fenómenos natu-


rals — o que é altamente sadio do ponto de vista físico e moral, contri*
bulndo para a formagSo de personalidades nobres, em que o sexo é ex-
pressfio do amor e nSo um Impulso Instintivo.

Comentario: Está sempre em foco a questáo do plañe»


jamento familiar. A consciéncia crista aceita tranquilamente
a limitagáo do número de filhos de acordó com as possibilida-
des de economía ou de saúde de cada casal; apenas rejeita o
recurso a meios artificiáis contraceptivos; apregoa o respeito
as leis da natureza mediante a continencia periódica. Até
hoje, porém, muitos casáis estáo á procura de um método que
permita com seguranga verificar quais os periodos de fecun-
didade (ou esterilidade) da mulher, a fim de que se reduza a
poucos dias o prazo da continencia conjugal.

Ora nos últimos anos vem sendo estudado com afinco o


chamado «Método Billings», que, sendo o mais preciso de todos,
é apto a atender aos interesses de numerosos casáis. O método
tem tal nome porque foi estudado e elaborado com particular

— 294 —
O MÉTODO BILLINGS 19

éxito pelo casal de médicos australianos John e Evelyn Bil-


lings. Estes dentistas foram recebidos aps 12/11/1976 pelo
S. Padre Paulo VI, merecendo vivos elogios da parte de S. San-
tidade e dos dentistas interessados no assunto. A Dra. Cap-
pella, Diretora da Seccáo de Atendimento Familiar da Uni-
versidade do Sagrado Coragáo de Miláo, declarou pela Radio
Vaticano ter tomado conhedmento do método durante os tres
anos que passou no Paquistáo e acrescentou:

"Verifique! a Importancia do método... principalmente em vista da


facilldade com a qual as mulheres de pouca cultura o podem aprender,
como também em vlrtude das bases científicas sobre as quais repbusa
tal método" ("La Documentation Cathollque" n? 1693, 7/111/1976, p. 217).

Vamos, pois, expor abaixo a descoberta e a sistemática


do método Billings, também dito «método da dará de ovo».

1. A descoberta

Até o eomeco do séc. XX os estudiosos que pesquisavam


a fecundidade humana, se voltavam para o fenómeno da ovu-
lagáo. Os dentistas procuravam determinar o momento pre-
tíso do dclo menstrual da mulher em que o fenómeno ocorriá.

No inído do sáculo XX Heape afirmava que a ovulacáo


coincidía com o fluxo menstrual (oestrus femíneos). Somente
em 1930 aproximadamente os estudos de Hartman, Ogino e
Knaus provaram que a ovulasáo é um fenómeno intermens
trual, ocorrente na metade do ddo menstrual ou, mais preci
samente, entre os doze e dezesseis dias que precedem o fluxo
menstrual. Urna vez estabelecida esta conclusáo, puseram-se
os médicos a procurar os sinais específicos da ovulagáo; destas
pesquisas resultou que, no Congresso Mundial de Obstetricia
e Ginecología realizado em Montreal (Canadá) no ano de
1958, o Dr. Arronet pode expor cerca de trinta e oito testes
aptos a detectar o fenómeno da ovulagáo. Desses métodos os
mais famosos ficaram sendo o de Ogino-Knaus ou «da tabela»
(cálculo estatistico) e o de Doyle (método da temperatura,
para o qual existe um termómetro especial).

Enquanto a ciencia ia progredindo nesse sentido, nume


rosos estudiosos se aplicaram á pesquisa de métodos anovula-
tórios ou anticoncepcionais, procurando assim eliminar pela

— 295 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

raíz o fenómeno que dificulta o controle dos nascimentos.


Este outro tipo de pesquisas resultou na confeccáo da pilula
Fincas, que é um esterilizante momentáneo (cujos efeitos sobre
o organismo sao muitas vezes nocivos). A «pilula» encon-
trou larga aceitacáo, como se fosse a expressáo mais esme
rada do progresso científico e técnico.

Os médicos, porém, foram prosseguindo em seus estados,


chegando últimamente a recolocar o problema em termos
novos. Com efeito, um Congresso realizado em 1964, reunindo
grandes expoentes da ciencia médica, chamou a atengáo dos
estudiosos para a importancia de algo que nao merecerá a
devida importancia até entáo, ou seja, para as fungóes bioló
gicas do coló do útero ou aínda para os fatos biológicos que
denundam a fecundidade momentánea da mulher. O coló ou
a embocadura do útero é comparável á porta da casa, que
geralmente permanece fechada para impedir que elementos
estranhos e indesejáveis ai entrem e que só se abre para hos
pedes gratos, proporcionando-lhes a mais favorável acomida.
O coló (ou embocadura ou porta de entrada) do útero está
praticamente fechado logo após a menstruagáo, mas na me-
tade do ciclo menstrual atinge uma largura que pode ser ave
riguada nao somente com lente, mas também com o tato. O
mecanismo de abertura e fechamento do coló está sujeito a
um comando hormonal preciso; há hormónios que o abrem, e
outros que o fecham. Quando o coló do útero é aberto, as
necessárias honras da casa sao prestadas ao hospede (ou a
sementé masculina: o espermatozoide) pela mucosax do útero,
que produz uma secregáo líquida chamada «muco cervical»; o
muco cervical dá origem a um ambiente alcalino, que anula
a acidez natural do ambiente da vagina — acidez que é mor
tal para o espermatozoide; esse muco orienta a sementé viril
para dentro das vías genitais da mulher. O mesmo vem a ser
a condicáo «sine qua non» da fertilidade da mulher, pois sem
ele nao há acesso dos espermatozoides ao óvulo.

Compreende-se a importancia da descoberta destes fatos


biológicos: a existencia ou nao do muco uterino há de ser*
tomada como criterio para se julgar se a mulher está num pe
riodo fértil e em que grau possa estar fértil; assim os fenóme
nos de hiperfertilidade, hipofertilidade e fertilidade normal po-

1 Mucosa = membrana que reveste as cavidades dó organismo e


segrega o muco (== humor viscoso, mucoso).

— 296 —
O MÉTODO BILUNGS 21

dem ser avallados pelo estudo do muco do coló do útero. Em


vez de procurarem caracterizar a ovulagáo (que escapa a inves-
tigagáo direta), os médicos háo de procurar estudar as con-
digóes biológicas de fecundidade da mulher, as quais podem
ser averiguadas de maneira mais concreta e direta. Na ver-
dade, a secregáo do muco do útero é fenómeno de fácil cons-
tatagáo, podendo ser detectado a olho nu, visto que se apre-
senta como urna leucorréia ou um derrame de liquido branco,
semelhante á clara de ovo (dai chamar-se o respectivo mé
todo «m. da clara de ovo»). O período fértil da mulher pode
ser assim averiguado: basta controlar o inicio, a duracáo e o
termo final desse tipo de derrame para delimitar com segu-
ranca os dias nos quais o organismo feminino pode ser fecun
dado. Tal método nao exige cálculo nem complexa aparelha-
gem, mas se baseia em urna simples constatagáo.

2. O fenómeno como tal

2.1. As progresivas pesquisas

Já de remota data conhecem os peritos a perda de urna


secrecáo branca (leucorréia) ocorrente em cada ciclo mens
trual. O fenómeno pode ser táo fácilmente observado que nao
pode deixar de se impor á atengáo da mulher e dos estudiosos.
Todavía foi somente no sáculo passado, com as pesquisas de
Donné (1837) e Smith (1855), que os médicos comegaram a
supor que tal perda fosse dependente do útero; com efeito,
pode-se ver tal secregáo escorrer do coló do útero, especial
mente nos dias em que este se acha mais aberto. Conseqüen-
temente os médicos passaram a procurar a razáo dessa excre-
gáo, analisando-lhe as características físico-químicas.

No inicio do séc. XX os estudos de Seguy e Simmonet


(1933) permitiram a descrigáo clara dos tragos típicos dessa
mucosidade uterina. Chegou-se entáo á conclusáo de que, nos
casos de mulheres adultas cujo ciclo menstrual seja normal,
a leucorréia ocorre entre o 12» e o 16« dias do ciclo mens
trual, sendo o 14< dia aquele em que o fenómeno é mais acen
tuado. Como se compreende, dado que o ciclo da mulher
seja mais longo ou mais breve do que a media normal, a leu
corréia ocorrerá depois ou antes dos termos atrás indicados.
O estudo do fenómeno foi aprofundado a tal ponto que a

— 297 —
22 «PERGUNTE E RESFONDEREMOS> 199/1976

mucosidade uterina hoje em dia pode ser descrita com muitos


pormenores que a distinguen! fácilmente de qualquer outra
forma deexcregáo branca.

Vejamos, pois, algumas das características mais típicas


do fenómeno.

2.2. Tragos distintivos do muco uterino

No que diz respeito a quantidade, verifica-se o seguinte:

A principio, o muco uterino é escasso, mas se torna mais


volumoso ñas 24 ou 48 horas da metade do período fértil,
para ir-se rarefazendo e desaparecer por completo no decor-
rer das 48 horas subseqüentes. Segundo Wierginer e Pom-
merenke, o volume do fluxo branco vai de 160 mg (a prin
cipio) a 700 mg, para descer rápidamente abaixo de 50 mg
e desaparecer.

A transparencia e a cor do muco uterino também variam.


A principio, este é esbranquicado e opaco; vai-se tornando
cada vez mais claro, límpido e transparente — qualidades
estas que chegam ao seu auge nos dias de maior volume do
muco; aos poucos este fica sendo de novo gradativamente
opaco no decorrer de 48 horas.

Por sua vez, a fluidez do muco varia em fungáo do seu


volume, da sua cor e transparencia. O máximo de fluidez é
atingido com o máximo de volume, provocando babea concen-
tracáo das substancias orgánicas e inorgánicas que constituem
a mucosidade uterina. Esta goza outrossim da propriedade de
ser elástica e poder formar fios mais ou menos distendidos: o
mínimo inicia], de alguns centímetros, pode tornar-se um filete
de cerca de 20 centímetros.

Note-se ainda que a secregáo da mucosa uterina é forte-


mente alcalina. Sendo assim, a acentuada acidez do recinto
da vagina é transformada, na metade do ciclo menstrual, em
ambiente alcalino em virtude da presenca e da agáo da muco
sidade uterina.

— 298 —
O MÉTODO BILLINGS

2.3. Fun{óes da secrejáo uterina

Está averiguado que o fenómeno da secregáo mucosa do


coló do útero está estritamente relacionado com o período
ovulatório da mulher, a ponto de ser o síntoma clínico mais
evidente deste. Pergunta-se, pois: por que o organismo pro-
duz tal fluido emtal momento ?

— Podem-se indicar quatro finalidades:

1) A producao do muco do coló, com a sua aloalinidade,


é condigáo indispensável para permitir que os espermatozoides
langados na vagina feminina sobrevivam; os mesmos seriam
destruidos em poucos momentos pela acidez existente na
vagina.

2) Os elementos constitutivos do líquido mucoso servem


de nutrimento e reforco aos espermatozoides.

3) A secregáo uterina faz também as vezes de filtro;


nos dias em que é mais densa, deixa passar apenas os esper
matozoides mais vigorosos (os femininos), ao passo que jnos
momentos de máxima ñuidez deixa passar todos os tipos de
espermatozoides. De modo geral, a presenga do muco ute
rino é indispensável para que haja penetragáo dos espermato
zoides ñas vias internas do aparelho genital feminino.

4) Dado que o muco uterino constituí filetes que váo


do útero á vagina, os espermatozoides sao encaminhados por
eles na diregáo correta através do canal uterino, a fim de
atingirem eventualmente o óvulo contido no útero da mulher.

Por conseguinte, as fungóes da secregáo do coló uterino


consistem em favorecer a fecundagáo; sao fungóes essenciais.

Resta agora a indagagáo:

2.4. Como averiguar o fenómeno?

Os médicos tém proposto mais de urna maneira de pro


ceder para a verifioacSo do fenómeno. Deixando de lado
outras sugestóes, indicaremos a do Dr. Gabriele Bonomi, Dire^
tor do «Centro de Sexologia de Pavia» e um dos mais notá-
veis estudiosos do assunto.

— 299 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 199/1976

A secregáo mucosa uterina, logo que produzida, tende


¡mediatamente a tornar-se visível fora do organismo sob a
forma de um derrame branco típico. Basta, pois, que a mu-
lher aprenda a reconhecer as características dessa leucorréia,
características que, alias, sao típicas e inconíundiveis, como
dito atrás (cf. p. 298). A olho nu, sem instrumentos técnicos,
ou reagentes químicos, a própria pessoa saberá delimitar com.
clareza, dentro de cada ciclo menstrual, os seus días de ferti-
lidade; esses sao assinalados pela perda da mucosidade branca
descrita. Qualquer outro día em que nao se verifique tal
perda, é absolutamente estéril; a presenca da secrecáo uterina
é condicáo indispensável, «sine qua non», para que a mulher
possa ser fecundada. O Dr. Bonomi registra que, na Clínica
S. Margarida de Bostón, a experiencia feita em mais de 2.000
mulheres evidenciou a seguranga total ou 100% do método
Billings (apresentado nestas páginas). O mesmo médico acen
túa que até urna mulher de pouca cultura ou nao iniciada nos
complexos fenómenos da biología está em condigóes de iden
tificar a leucorréia uterina, cujas características sao simples.
Cf. a obra citada na bibliografía deste artigo, pp. 44-48.

Talvez, porém, na mente do leitor aínda surjam dúvidks


a respeito da eficacia do método Billings atrás descrito. Eis,
por que nos voltamos agora para

3. Algumos obje^óes

Consideraremos tres principáis dificuldades levantadas


contra o método:

1) Se os espermatozoides no organismo feminino per-


manecem vivos durante 24 ou 48 horas ou mais aínda, corno-
pode a mulher estar certa de que nao conceberá se teve rela-
cóes sexuais pela última vez logo antes do inicio da secrecáo.
da mucosidade uterina?

— Em resposta, dir-se-á:

Aínda nao há absoluta clareza sobre o tempo de sobrevi


vencia e de capacidade fecundante dos espermatozoides. Os
resultados das pesquisas até agora efetuadas sao diversos,
dependendo do ambiente em que sao examinados e do moda
como o exame é feito.

— 300 —
O MÉTODO BILLINGS 25

No próprio organismo da mulher, os espermatozoides po-


dem ter sortes diferentes. Se sao colocados no ambiente da
vagina durante o período estéril (quando nao há secrecio
uterina), os espermatozoides sao eliminados dentro de meia-
-hora, dada a intensa acidez da vagina. Ao contrario, dentro
do útero, particularmente durante o período fértil, os esper
matozoides podem sobreviver por um certo número de días
aínda nao definido.

Por conseguinte, guando se diz que os espermatozoides


podem durar 24/48 horas ou mais no organismo feminino,
entenda-se isto apenas com referencia aos que penetraram no
útero. — Disto se segué ainda que as relacóes sexuais reali
zadas antes do inicio da secresto do coló uterino sao infe
cundas, pois os espermatozoides entáo laucados no organismo
feminino perecem logo, em conseqüéncia da acidez da vagina.
Falta entáo a mucosidade uterina que, sendo alcalina, anula
a acidez da vagina.

2) As vezes, o organismo feminino tem duas ou mais


oyulacóes durante o mesmo ciclo menstrual; sao ovulacóes
ditas «paraciclicas». Em tais casos, como pode o método Bil-
lings garantir tranqüilidade á mulher ?

— Nao há dúvida, sabe-se que pode explodir mais de


um folículo no mesmo ciclo menstrual; explodem ao mesmo
tempo ou a breves intervalos uns dos outros.

Note-se, porém, que a mulher só tem possibilidade de


conceber quando. nela existan condigóes de fecundidade —
condigóes das quais a primeira é a presenca do muco uterino
em quantidade e qualidade devidas.

Donde se depreende o seguinte: se a segunda ovulacSo


ocorre a breve distancia da primeira quando ainda está pre
sente o muco uterino, pode haver fecundacáo; mas o método
Billings prescreve abstencáo justamente nos dias em que há
secrecáo uterina. Por conseguinte, o método nao falha em
tal caso.

Se a segunda ou as outras ovulagóes ocorrem depois da


perda do muco uterino, quando a progesterona impede haja
essa mucosidade, nao há perigo de fecundidade das relagóes
sexuais, vista que sem a secregáo uterina o organismo é
estérü.

— 301 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 199/1976

Portante as ovulagóes paracíclicas nao inquietam a mu-


lher que deseje seguir fielmente o método Billings.

3) Sabe-se que os traumas psíquicos e as variagóes me


teorológicas ou climáticas, como também certos tratamentos
médicos, perturbam o ciclo menstrual, quebrando-lhe o ritmo
normal.

Diz-se também que a maneira, mais ou menos orgástica,


como o ato conjugal é realizado, pode influir sobre a ovula-
gáo, antecipando^a imprevistamente.

Nao poderla algum destes fatores provocar imprevistos


derrames de muco uterino, e assim decepcionar a mulher
que recorra ao método Billings?

— A primeira parte da dúvida lembra os disturbios que


possam imprevistamente ocorrer no ciclo menstrual. Deve-se
reconhecer a influencia dos fatores citados (variagóes climá
ticas, tratamentos...). Todavía nao prejudicam a aplicagáo
do método Billings, pois este manda que, antes de cada rela-
cionamento conjugal, a mulher se certifique de que nao há
derramamiento da mucose. Caso este ocorra fora da época
prevista, o casal abster-se-á das relacóes conjugáis precisa
mente nos días em que se registrar tal ocorréncia extraordi
naria.

A segunda parte do problema baseia-se ñas possiveis


influencias do organismo e da emotividade dos cónjuges...
— A propósito deve-se dizer que a produgáo do muco uterino
nao depende do sistema neurovegetativo, mas do hormonal.
Com efeito, a secrecáo mucosa do coló uterino é regida exclu
sivamente pela produgáo dos normemos do ovario. Ora estes
nao funcionam de improviso. Se um casal tem relagóes sexuais
em dia no qual comprovadamente nao haja perda de muco
uterino, tais relagóes seráo certamente esteréis, nao podendo
haver causa de fecundidade imprevista. — De resto, nao se
deve confundir a mucosidade uterina com a secregáo líquida
vaginal (urna especie de suor) que acompanha toda relagáo
orgasticamente realizada.

Todavía a objegáo aparentemente mais grave contra o


método Billings e, de modo geral, contra a continencia perió
dica é a que vai considerada sob o título abaixo.

— 302._
O MÉTODO BILUNGS 27

4. Amor e sexo

Há quem diga que a continencia periódica, por mais bem


estruturada que seja, é antinatural, porque priva das relacóes
sexuais, quando multas vezes o amor é mais intenso. Ela
enquadra o amor dentro do calendario.

— Diante desta afirmagáo, deve-se dizer que ela supóe


um conceito de amor que é parcial ou unilateral; esse con-
ceito tende a identificar amor e sexo, ou mesmo a reduzir o
amor ao ato de cópula. Na verdade, o amor, antes de ser
relacionamento sexual, é procura efetiva do bem de outrem e
exprime-se através de varias formas de aténgáo, aprego, deli
cadeza. .. nao diretamente ligadas ao amplexo sexual. A
continencia periódica é precisamente o teste que comprova,
ou nao, a existencia do auténtico amor, que é, ao mesmo
tempo, espiritual e sensivel. Os esposos que sabem abster-se
de relacóes sexuais porque abracam o mesmo ideal ou por
que um quer bem ao outro e nao lhe quer ser molesto ou
importuno, mostram (precisamente pela sua continencia) que
tém o mais profundo e puro amor um ao outro. Quando um
casal ou um dos cónjuges chega a dizer: «Ou tudo ou nada!»,
isto é: «Ou relagóes sexuais ou nenhum relacionamento conju
gal!», evidencia-se que o amor desse casal ou desse cónjuge
é falso em si mesmo e em suas expressóes; é antes instinto
do que valor típicamente humano.

O sexo, no ser humano, vem a ser expressáo ou sinal do


amor; por conseguinte, tem que pairar ácima dos instintos ou
dos impulsos meramente libidinais, numa conduta de dominio
e subordinasáo dos sentidos á razáo e ao ideal. No ser hu
mano o sexo está a servico do amor e transmite o amor que
o homem e a mulher concebem consciente e livremente em
vista da construcáo de uma meta que ultrapassa os particula
rismos de um e outro.

Note-se outrossim que a continencia periódica consiste em


fazer uso natural de fenómenos naturais. £ isto que a torna
especialmente sadia tanto do ponto de vista físico como do
ponto de vista moral. A natureza é sabia, como se diz pro-
verbialmente; respeitá-la e desenvolver as chances que ela por
si mesma oferece ao homem, é certamente penhor de engran
decimiento e nobreza da pessoa humana.

— 303 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

5. Conclusao

O método Billings vem ao encontró de serios anseios de


numerosos casáis e de pensadores cristáos, que desejam con
ciliar a prática da vida sexual com o planejamento familiar e
a limitacjio da prole. O que parece faltar para que se torne
mais usual, é precisamente a divulgacáo do mesmo por parte
de especialistas competentes. Talvez muitos médicos prefíram
resolver o problema da limitacáo da prole pelo recurso á pilula,
que parece proporcionar a solugáo fácil da questáo (embora
abra outros problemas de saúde física e mental); o recurso
aos anticoncepcionais, porém, é menos nobre e nobilizante do
que a continencia periódica praticada segundo as indicacóes
mais modernas e atualizadas da ciencia fisiológica e médica.
Um bom conhecimento das fungóes do organismo e urna per-
sonalidade bem formada e harmonizada dispensam a pilula e
proporciónam tranquilamente a limitacáo da prole sem incon
venientes, antes com vantagens de grandeza humana, para o
casal.

A propósito sejam citados:

Gabriela Bonoml, "II segno del glornl fertlll. Un nuovo método di -on-
trollo delle nascite". Torlno 1975.

E. L. and J. J. Billings, "The Idea of the ovulatlon method". 1973.

J. Billings, "Natural Famlly Plannlng: The ovulatlon Method". Colle-


gevllle (U.S.A.) 1972.

ídem, "Una solución natural". Montevideo 1975.

E, L. a J. J. Billings e M. Catarlnlch, "lAtlas of the Ovulation Method:


The Safe Perlod Based on the Mucus Sympton". Melbourne 1974.

J. A. Lavergne, "La regulación natural de la Fecundidad de la


Mujer". Panamá 1968.

A. Walczky, "Ovulatlon Method: Basle Presentatlon and Special Clr-


cunstances". Tucson, Arlzona 1974.

I. Troblsch, "Understandlng your Wlfe. 1. Her ovarían eyele and


Fertlle Days". Baden-Baden 1974.

P. Thyma, "Fertlle and Infertlle Days in Marrled Ufe". Fall Rlver.


Massachussetts 1973.

— 304 —
Medicina e técnica:

vocé escolherá o sexo dos seus filhos ?

Em símese: A Engenharla Genética prevé a escolha do sexo dos


fllhos por parte dos pais para data assaz próxima. Todavía as tatlcas até
agora propostas para tanto Impllcam em Interferencias Indevldas na ordem
da natureza. Ora o método Blllings oferece oportuna solucSo para o casa
sem desrespeito ás lels naturals do organismo. Com efelto, se o? esposos
Sto Mt n™ebSflw.?íl(í.9aH
™«i probabllIdade d« "°"ueln'cioa
entfi° °senoconceba
"m d0 umPeríodo
menino,¿rt"
mas,daslm,
¿r urna
?^~¿°Te neSfas duas fses a secre5a° "««"na é densa e Impede
' ! entrada ,de 9ametos masculinos (sempre mais fracos) dentro do útero
Ao contrario, as relacOes realizadas no auge do período fértl Z'
TZ^"168
é assaz tenue e,Penelrar "0 .Út°r0'
por conse0uinte, ?isto
?it «>™aosentflo
Út°r0permeável tfl * SSS
gametos masculinos.

Comentario: Os progressos da medicina e da técnica le


vara muitos futurólogos a prever que em breve os genitores
poderao escolher o sexo de seus filhos. Alguns apregoam
para tanto os recursos da selecáo das sementes vitáis. Ó
método Blllings, segundo dizem os seus fautores, permite aos
esposos realizar a escolha do sexo dos filhos sem interferir
nas leis naturais do organismo. Eis por que vamos abaixo
expor esta tese, valendo-nos da dissertacáo publicada pelo
Dr. Gabnele Bonomi e ja citada na bibliografía da p 304
deste fascículo.

1. Como a natureza produz o sexo ?


1. A diferenca sexual entre um homem e urna mulher
nao ocorre apenas no tocante 'ás características somáticas e
genitais, mas também no que diz respeito a cada célula do
respectivo organismo, que é sempre marcada por um traco
sexual bem definido.

Com efeito, no núcleo de cada célula existe o respectivo


conjunto cromossómico. Este é o mesmo em todas as células
do mesmo individuo, mas difere de um individuo para outro,

— 305 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

CÉLULA CÉLULA
MASCULINA FEMININA

GAMETO-
GÉNESE

\ FECUNDACAO

MENINA MENINO
ESCOLHER SEXO DOS FILHOS? 31

principalmente de um sexo para outro. Os cromossomos se-


xuais femininos, presentes em toda e qualquer célula do orga
nismo da mulher, tém a configuracáo XX, ao passo que os
do organismo masculino tém a composicáo XY.

Note-se ainda que as células sexuais oriundas das glán


dulas genitais nao se reproduzem, como as demais células, por
meio de multiplicacáo (as células nao sexuais se reproduzem,
dando outras células iguais as matrizes e portadoras da mesma
quantidade e qualidade de cromossomos que caracterizaran! o
individuo no momento em que foi concebido); as células se
xuais se reproduzem por meio de partigáo. Assim os ovarios
da mulher, nos períodos de fecundidade sexual, produzem
meias-células germináis chamadas «óvulos». Todo óvulo con-
tém um só cromossomo sexual designado pela figura X. De
modo análogo, os testículos produzem meias-células germináis
masculinas ditas «espermatozoides», que tém cada urna o seu
cromossomo sexual, o qual em algumas tem a figura X e em
outras a figura Y. Os dois gametos — o óvulo e o esperma
tozoide — sao tais, porque sao destinados a encontrar-se para
fundir-se, produzindo entáo urna nova célula completa, que
terá a configuracáo XX (individuo feminino) ou XY (indivi
duo masculino). Essa fusáo biológica, realizada no óvulo pela
célula masculina, dá origem a um novo ser dotado de sua
vida própria e de um programa de desenvolvimento pessoal
caracterizado pelo respectivo conjunto cromossómico. Veja o
gráfico á p. 306 deste fascículo.

Sao estes os elementos de genética que no momento inte-


ressam á questáo da escolha do sexo do individuo nascituro.

Vejamos agora mais precisamente como se coloca para os


genitores o problema assim enunciado.

2. Como os país escolheriam o sexo?

1. O problema da programacáo do sexo de urna crianza


que está para nascer, póe-se precisamente nestes termos: dado
que o óvulo a ser fecundado traz sempre o cromossomo X,
quem quer ter um filho do sexo masculino deve fazer chegar
ao óvulo táo somente espermatozoides que contenham o cro
mossomo sexual Y; ao contrario, para ter um individuo de
sexo feminino, é preciso fazer chegar ao óvulo espermatozói-

— 307 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 199/1976

des que tenham o cromossomo X. Vé-se, pois, que a questáo


se reduz a um ato de selegáo de espermatozoides. Esta sele-
gáo, porém, parece dificílima, se nao impraticável, pois que
cada relacionamento conjugal langa no organismo femüiino
urna carga de cerca de 300 milhóes de espermatozoides; esse
contingente, na mais otimista das hipóteses, teria que ser
repartido em duas metades (cada qual com 150 milhóes de
unidades): urna seria portadora do cromossomo sexual X e a
óutra só teria espermatozoides portadores do cromossomo
sexual Y. Todavía, embora muito difícil, o problema tem sido
estudado no decorrer dos tempos, principalmente nos últimos
anos. As diversas tentativas de solugáo até hoje propostas
reduzem-se a duas grandes categorías.

Urna destas procura manipular-o líquido seminal mas


culino, selecionando, mediante métodos físicos, químicos e bio
lógicos cada vez mais aperfeicoados, o tipo de espermatozoides
condizentes com o sexo desejado. Aplicar-se-ia entáo ao ser
humano o que se pensa em aplicar ao gado. Veja, por exem-
plo, «Enciclopedia Bloch», a..l, n' 2, junho 1967, pp. 44s.
— A outra tática consiste em procurar recorrer sabiamente
aos próprios métodos de selegáo natural que a natureza uti
liza para determinar o sexo e que váo sendo aos poucos des-
cobertos pelos dentistas.

2. E quais seriam esses procedimentos seletivos da


natureza?

Antes do mais, observe-se que há urna diferenga entre os


espermatozoides que contém o cromossomo X e os que con-
tém o Y. Ao microscopio eletrónico e com o emprego de espe
cial jogo de luzes e sombras, verifica-se que os espermatozoi
des portadores de cromossomo X tém núcleo ou cabega grande,
ao passo que os outros (Y) tém núcleo ou cabega pequeña.

Mais: os dentistas atribuem a esses diversos espermato


zoides diversa forga vital e diversa mobilidade. Esta verifica-
gáo é de alta importancia, desde que se leve em conta que a
fungáo principal dos espermatozoides é a de penetrar no coló
do útero, a finí de atingir o óvulo e fecundá-lo. Se essa fun-
gáo é desempenhada por espermatozoides de diverso tamanho,
vigor e mobilidade, compreende-se que nem todos realizam
com o mesmo éxito a sua tarefa, mas sao objeto de «selegáo
natural».

— 308 —
ESCOLHER SEXO DOS FILHOS? 33

Essa «selegáo natural» é realmente cfetuada mediante a


mucosidade do coló do útero. Com efeito, sabe-se que tal
mucosidade é produzida por ocasiáo da ovulagáo e assinala os
días fecundos da mulher. A principio, trata-se de um liquido
escasso e denso; aos poucos, este se vai tornando abundante
e fluido; chega aoaugue destas qualidades e, por fim, desapa
rece rápidamente. Sendo assim, entende-se que o liquido ute
rino realize urna selegáo ñsica dos espermatozoides, pois fun
ciona como urna especie de filtro; a principio, sendo denso,
deixa passar apenas os espermatozoides mais fortes e vigoro
sos (os femininos); depois dá entrada (no ponto ótimo de
penetragáo) a toda especie de espermatozoides, mesmo aos
anormais (contanto que dotados de mobilidade).

Sao estes dados científicos que permitem agora compreen-


der como os genitores poderiam programar o sexo de seus
filhos observando o curso da natureza. Com efeito, os geni
tores que desejassem prole feminina, teriam relagóes sexuais
no inicio e no fim do periodo fecundo da mulher, pois entáo
a secregáo uterina é densa e seleciona os espermatozoides mais
fortes e resistentes, que sao os femininos; estes é que normal
mente tém passagem quando comega a aparecer e a desapa
recer a mucosidade do coló do útero.

Ao contrario, os genitores desejosos de prole masculina


só teriam relagóes sexuais no(s) dia(s) de máxima fluidez do
líquido uterino; é entáo que tém mais chance de passar pelo
coló do útero os espermatozoides portadores de cromossomo Y,
sempre mais fracos (embora mais velozes e ágeis) do que os
do sexo feminino (X). Na verdade, o sexo masculino, do ponto
de vista genético, é o sexo mais fraco.

Na base destas ponderacóes, vé-se que o problema da pro-


gramagáo do sexo da prole pode ser resolvido com relativa
facilidade e com certa probabilidade de acertó (nao se fale
de plena certeza!). Requer-se, porém, que a mulher saiba
estabelecer com exatidáo o período da sua própria fertilidade,
assinalando precisamente o inicio e o fim da secregáo da mu
cosidade uterina. Ora esta tarefa é exeqüível no caso de urna
mulher normal, pois a mucosidade uterina pode ser percebida
como um fluxo branco (leucorréia) inconfundível.

É nestes termos que se resume a proposicáo dos fautores


do método Billings no tocante á escolha do sexo da prole.
Resta agora dizer

— 309 —
34 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

3. Urna palovra final

A determinaclo do sexo dos filhos nao é, como tal, algo


de condenado pela consciéncia crista, contanto que seja reali
zada segundo criterios que respeitem a natureza: tais sao os
do método Billings. Assim como é licito a alguém escolher os
alimentos de que necessite para engordar ou emagrecer, assim
também é lícito escolher os días de suas relagóes sexuais para
ter prole masculina ou feminina. Contudo requer-se que as
pessoas que o pratiquem; sejam movidas por intengáo reta e
pura: conservem sempre o mais genuino amor a Deus e ao
próximo, de modo que a preferencia por tal ou tal outro tipo
de prole se concilie sempre com os ideáis mais auténticamente
cristáos. Pode, sim, haver casos .em que o bem da familia
dependa, ao menos em parte, da presenca de um menino ou
de urna menina, como também pode haver circunstancias em
que o egoísmo leve a preferir este ou aquele sexo.

CORAGEM

TER CORAGEM É DOMINAR OS PROPRIOS ERROS,


SOFRER POR CAUSA DELES, SEM SE DEDCAR ABALAR,
E CONTINAR O CAMINHO.

TER CORAGEM É AMAR A VIDA E ENCARAR A


MORTE COM OLHAR TRANQUILO.

É DIRIGIR-SE PARA O IDEAL, COMPREENDENDO


A REALIDADE.

É AGIR E ENTREGAR-SE AS GRANDES CAUSAS,


SEM SABER A RECOMPENSA QUE O UNIVERSO IN-
TEIRO RESERVA PARA ESTE ESFORCO.

TER CORAGEM É PROCURAR A VERDADE E


DIZÉ-LA.

É NAO DEDÍAR QUE A ALMA, OS LABIOS E A MAO


FACAM ECO A APLAUSOS IMBECTS E A CLAMORES
FANÁTICOS. , ,
Jean Janres

— 310 —
Na "ordem do día" :

a renovado carismática: sim ou nao ?

Em atiriese: A Renovado Carismática lem suscitado dúvldaa e


hesitacSes. Para contribuir a dlsslpá-las, o Cardeal Léon-Joseph Suenens.
arceblspo de Mailnes-Bruxelles, houve por bem redlgir um estudo funda
mentado em diuturna experiencia do Movlmento. Essa estudo aponta os
grandes valores da RenovacSo Carismática, que tem levado numerosos
fiáis a conversfio de vida, ¿ descoberta da oracfio e de outros dons de
Oeus no selo da Igreja Católica... Todavía o mesmo prelado lembra os
perlgos de subjetivismo, falso sobrenaturallsmo e fanatismo que podem
ocorrer no» grupos de RenovacSo Carismática. Em sfntese, porém, o aba
lizado parecer do Cardeal Suenens ó favorável ao Movlmento, desde que
seja closamente acompanhado pelos Srs. Bispos e pastores de almas.

O texto do prelado é transcrito quase Integralmente ñas páginas que


se seguem, a partir do "Comunicado Mensal da Conferencia Nacional dos
Bispos do Brasil" (n"> 275, agosto de 1975) com as devldas llcencas

Comentario: Nos últimos tempos ouvem-se freqüentes


mterrogagóes a respeito da chamada «Renovagáo Carismá
tica», que, menos propiciamente, também é dita «Pentecosta-
lismo católico». Há pessoas que se véem perplexas diante do
fato, pois, de um lado, registram frutos positivos da referida
Renovagáo, mas, de outro lado, percebem aberragóes de índole
fanática entre membros do Movimento.

A propósito já foram apresentados tres artigos em PR,


respectivamente 149/1972, pp. 230-238 e 176/1974, pp. 347-364.
Todavía, dada a insistencia com que se vem colocando a ques-
táo, parece oportuno publicar agora as ponderagóes abalizadas
que o Cardeal Léon-Joseph Suenens, arcebispo de Malines-
-Bruxelles, houve por bem redigir sobre o assunto após pro
longadas observagóes do Movimento de Renovagáo Carismá
tica. O texto do prelado destina-se aos Srs. Bispos e as Con
ferencias Episcopais do mundo inteiro; no Brasil foi publicado
no «Comunicado Mensal da Conferencia Nacional dos Bispos
do Brasil» n' 275, de agosto de 1975, pp. 779-789. É desse

— 311 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 199/1976

documentário que, com a devida autorizagáo, transcrevemos


abaixo os números I-VII (pp. 779-788) do estudo do Cardeaí
Suenens, fazendo votos para que sirva ao esclarecimento dos
nossos leitores. Note-se que o original do texto tem a data
de 25/DI/1975 — o que nao lhe diminuí a autoridade.

1. O texto do Cvrclecil Léon-Joseph Suenens

A RENOVADO CARISMÁTICA NA IGREJA CATÓLICA


ORIENTACÓES PASTURÁIS

"Estas orientagóes nao tém a pretensáo de ser definitivas.


Devem ser consideradas como sugestóes visando prestar ser-
vico aos Bispos e ás Conferencias Episcopais, que devem
definir sua atitude pastoral a respeito da renovacáo carismá-
tica em su as Dioceses ou seus países respectivos.

Urna tal tomada de posigao pastoral aparece tanto mais


necessária quanto, no julgamento de observadores competen
tes nao diretamente engajados nesta renovacao, esta se
reveste de importancia nao pequeña para a vida da Igreja.

Como a historia da Igreja o testemunha, toda renovacao


espiritual comporta ao mesmo tempo promessas e riscos.
A renovagáo carismática nao escapa a esta regra. Tal como
se produziu no passado, os perigos de desvio podem ser
sobrepujados, e frutos abundantes podem ser colhidos pela
Igreja, gragas a um discernimento pastoral sabio e aberto.

É para favorecer este discernimento que estas sugestoes


foram redigidas, sob forma voluntariamente esquemática, á
luz de observacóes e reflexóes numerosas e diversas.

I — A RENOVACAO NA IGREJA DE HOJE

1. Um certo número de Conferencias Episcopais, de Bis


pos e de teólogos que tém nomeada, reconheceu na renoya-
gao carismática um acontecimento espiritual de grande signifi-
cagáo ha Igreja e para a Igreja.

— 312 —
RENOVACAO CARISMATICA 37

Como escreveu recentemente o Pe. M.J. Le Guillou,


O.P., membro da Comissao Internacional de Teólogos, 'es
tamos certamente no umbral de urna nova era na historia
da Igreja' (artigo sobre "Cansinas episcopais e carismas
individuáis" na edicáo inglesa do Osservatore Romano, 2-1-75).

2. A Igreja conheceu em sua historia outras renovacSes


espirituais análogas. Algumas dentre elas nao tiveram senáo
urna existencia efémera. Tal nao parece ser o caso da reao-
vagáo carismática, na opiniáo daqueles que, há mais de sete
anos, observam seu desenvolvimento. A taxa de perseveranga
é muito elevada, quer se trate de grupos, quer de particula
res. Existem sólidas razóes para crer que a Renovacao Caris
mática atetará de maneira permanente a vida da Igreja Ca
tólica.

3. Urna das características mais marcantes desta reno-


vacáo espiritual é que nao desvia seus aderentes da estrutura
hierárquica da Igreja. Os católicos que déla participam mani-
festam em geral um apego á Igreja mais profundo do que antes.

4. A Renovacáo Carismática se define a si mesma como


uma renovacáo da Igreja e na Igreja. Embora alguns Bispos
e numerosos Padres estejam engajados nela, a maioria de
seus líderes mais dinámicos sao leigos. Esta é uma de suas
características positivas, mesmo que levante alguns problemas.

5. A ñenovacao nao é entretanto estranha a um real


cuidado pela reflexáo teológica. Alguns de seus aderentes
mais convictos sao teólogos e exegetas de reputacáo inter
nacional.

II — CRITERIOS TEOLÓGICOS POSITIVOS

1. A renovacáo carismática se define a si mesma como


um novo florescimento da graga que todo cristáo recebe pelos
sacramentos da iniclacáo (Batismo, Confirmagáo, Eucaristía).

2. A renovacáo nao constituí um culto exagerado do


Espirito Santo ('pneumatismo'). Situa-se numa perspectiva
francamente trinitaria.

3. Ela se caracteriza por uma revalorizacáo dos caris-


mas na vida eclesial. Os que déla participam estáo todavia

— 313 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 199/1976

conscientes do perigo que comportarla urna atencáo excessiva,


ou exclusiva, aos dons do Espirito. Seus membros sao convi
dados a ser mais dlsponíveis ao Doador dos Dons que pre
ocupados em receber tal ou tal carisma particular.

4. A Renovagao reconhece que a virtude teologal do


amor é mais fundamental na vida crista que os dons do
Espirito.

5. A Renovacáo nao pretende trazer á Igreja algo que


ela nao possuisse até aquí. A Renovacáo tem consciéncia,
ao contrario, de repor em plena luz um dos aspectos funda
mentáis da natureza da Igreja, tal como o expressa a Cons-
tituigáo Lumen Gentlum, cap. II, n"? 12:

'Nao é apenas através dos sacramentos e dos ministerios


que o Espirito Santo santifica e conduz o Povo de Deus e o
orna de virtudes, mas, repartindo seus dons 'a cada um
como Ihe apraz' (1 Cor. 12,11), distribuí entre os fiéis de
qualquer classe mesmo gragas especiáis. Por elas os torna
aptos e prontos a tomare m sobre si os varios trabalhos e
oficios, que contribuem para a renovagáo e maior incremento
da Igreja, segundo estas palavras: 'A cada um é dada a
manlfestagáo do Espirito para a utilidade comum' (1 Cor. 12,7).
Estes carismas, quer eminentes quer mais simples e mais
amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidáo
e consolacáo, pois que s§o perfeitamente acomodados e úteis
¿s necessidades da Igreja'.

III — PRINCIPÁIS FRUTOS ESPIRITUAIS DA RENOVACAO

1. Ela conduz numerosos cristáos a urna relagáo mais


pessoal com Jesús Cristo.

2. Numerosas pessoas fazem nela a experiencia de urna


conversáo radical interior (análoga á 'segunda conversáo' de
que falam os autores espirituals).

3. Constata-se nela, na maioria dos casos, um renasci-


mento da vida sacramental e da devogáo a Nossa Senhora,
Essim como urna redescoberta das riquezas da tradigáo
espiritual da Igreja (especialmente das grandes escolas de
espiritualidade).

— 314 —
RENOVACAO CARISMATICA 39

4. Ela suscita um sentido renovado da comunidade ecle-


slal e da participasáo de todos na sua edificagíSo.

5. Constata-se nela freqüentemente um aprofundamento


das relagdes inter-pessoais, ou o estabelecimento de relacoes
auténticas onde estavam perturbadas.

6. O amor da Sagrada Escritura e o desejo de nutrir-se


déla é, na Renovagáo, mais aparente do que no conjunto dos
católicos.

7. Nota-se na Renovagáo também um amor renovado da


Igreja e de seus pastores. Em particular, é cuidando de afir
mar o apego da Renovagáo á Sede de Pedro que deve ter
lugar em Roma, por ocasiáo da Festa de Pentecostés neste
ano de 1975, o 39 Congresso Internacional da Renovagáo
Carismática Católica.

8. A Renovagáo permite obter-se urna visao pluri-minis-


terial da Igreja, em que cada membro contribuí por sua parte
á edificagao do Corpo.

9. Os grupos e comunidades da Renovagáo concedem


ampio espago ao ensino e á educagáo da fé. Fazem geral-
mente seus membros se beneficiaren! de urna formagáo reli
giosa sistemática, que tem a vantagem de ser bem ligada a
urna experiencia de oragáo comum.

10. A Renovagáo educa seus aderentes a expressar sua


fé e sua oragáo de urna forma mais global, que poe em
jogo toda a pessoa: espirito, afetividade, expressáo corporal;
e compreende todos os registros de oragáo crista: con-
trigáo, confianga, alegría, agáo de gragas, louvor.

11. A enfase sobre a oragáo, e especialmente sobre a


oragáo de louvor, é um dos maiores tragos da Renovagáo.

IV — RISCOS E DESVÍOS POSSiVEIS

1. Urna espiritualídade que coloca fortemente o acento


na experiencia pode conduzir ao subjetivismo e ao iluminismo.

2. Algumas pessoas podem ser tentadas a substituir a


experiencia religiosa em lugar da doutrina.

— 315 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 199/1976 (

3. Por falta de discernimento pastoral válido, a influencia


de certos fatores psicológicos corre o risco de nao ser tomada
em consideracáo (sobrenaturalismo).

4. Certos grupos ou individuos podem ligar importancia


excessiva a tal ou tal carisma (oracáo em línguas, curas,
profecias).

5. A afetividade pode igualmente nao ser situada numa


justa perspectiva.

6. Na medida em que é experimentada como aconteci-


mento espiritual, a Renovacáo é por vezes apresentada em
termos de descontinuidade com o passado, como um aconte-
cimento sem precedente na historia da Igreja. Tais maneiras
de falar, que lembram .a linguagem profética da Biblia, nao
sao admissiveis senáo com referencia ao caráter definitivo da
Nova Alianga e á continuidade do designio de Deus na
historia.

7. É indispensável marcar bem a relacáo desta Renova-


gáo á tradigáo espiritual e sacramental da Igreja.

8. A experiencia que, no seio da Renovagáo, é chamada


de 'batismo no Espirito Santo', 'efusao do Espirito' ou, na
Alemanha, 'Renovagáo da confirmagáo', pode ser tao pro
funda e tao mancante que, em algumas pessoas, a experiencia
religiosa subjetiva pode tornar-se mais importante do que a
vida sacramental. O aspecto experiencial deveria ser, em
conseqüéncia, mais posto em valor na vida sacramental.

9. As manifestacóes do Espirito Santo sao numerosas'


e variadas, e compreendem carismas como a profecía, a cura,
a oracáo em linguas etc. — é possivel que certas pessoas
venham a reduzir a tais carismas toda a acáo do Espirito
Santo na Igreja, ao passo que este se manifesta igualmente
nos ministerios ordinarios da comunidade crista, como o de
servico ou administracáo (cf. 1Cor. 12,28). Convém lembrar
além disso que o Espirito é igualmente ativo ñas outras expe
riencias cristas, como por exemplo na Kénose, na purificagáo
passiva, na 'noite dos sentidos' e na 'desolacáo1.

10. Como urna das características da Renovagáo é a


importancia que ela atribuí á oragáo, em particular á oracáo
de louvor, algumas pessoas expressaram o temor de que ela

— 316 —
RENOVACAO CARL5MATICA 41

desvie seus aderentes das próprias responsabilidades cívicas


e sociais. É atributo próprio á vocagáo desta Renovacáo fazer
aparecer bem que a oracáo e o engajamento cristao se
atraem e se esclarecem mutuamente.

11. É igualmente possfvel que nos grupos em que o


espirito crítico é menos desenvolvido, se constate urna ten
dencia a confundir os planos e as diversas modalidades das
Intervencoes de Deus no mundo. Assim, certas formas de
linguagem religiosa, como a profecia e o falar em línguas,
podem ser consideradas como fatos miraculosos no sentido
estrito — o que nao é geralmente o caso.

V — NORMAS PASTORAIS

1. Todo julgamento teológico a respeito da Renovacáo


deve ter em conta antes de tudo suas expressóes mals válidas
e o comportamento de seus responsáveis mais qualificados.

2. É importante sublinhar que as manifestares caris-


máticas do Espirito pertencem á natureza da Igreja, e que
elas nao esperaran) pela Renovacáo para se revelarem. A
este respeito, convém nos guardarmos de duas posicQes
extremas:

a) A que pretende encerrar num passado acabado — a


Igreja dos tempos apostólicos — carismas* como os milagres,
o dom de cura, a profecia, a glossolalia, a interpretacao, etc.

b) A que consiste em interpretar a Rénovacáo Carismá-


tícá como urna volta á época apostólica, urna especie de novo
comeco da Igreja.

é importante, a esse respeito, distinguir cuidadosamente


carisma profético enquanto constitutivo da Igreja, 'fundada
sobre os apóstoles e os profetas' (Ef. 2,20), e as palavras
'proféticas' que. podem ser pronunciadas hoje, ñas comuni
dades cristas. As profecías do Novo Testamento foram trans-
missoras da revelacáo do Misterio do Cristo e da Igreja
(Ef. 3,5).

Nao é este o caso dos 'profetas' a quem o Espirito dá o


dom de se exprimirem hoje.

— 317 —
42 «PERPUNTE E RESPONDEREMOS» 199/1976

3. É preciso evitar que a Renovacáo se aprésente como


um movímento do tipo "elitista". Ela se considera de fato — e
deveria sempre se apresentar — como urna contribuicao á
renovagáo de toda a Igreja. E de outro lado o exerclcio de
certos carismas nao deve jamáis passar por diploma de matu-
ridade espiritual, embora comporte habitualmente um apelo a
urna vida crista mais auténtica.

4. é teológicamente certo que existe urna grande diver-


sidade de carismas. Mas o exerclcio deles é sempre passfvel
de um sao díscernimento.

5. Conforme o ensino do Concilio, a Renovacáo reco-


nhece o ministerio do bispo em materia de discernimentos.
'O juízo sobre a autenticidade dos dons e seu ordenado exer-
cicio compete aos que governam a Igreja. A eles em especial
cabe nao extinguir o Espirito, mas provar as coisas e ficar
com o que é bom' (cf. 1 Tess. 5, 12 e 19-21) (Lumen Gen-
tium, 12).

6. A imposicao das máos é um rito polivalente, ao qual


se ligam significacóes diversas. Em certas familias, o pai
abencoa desta maneira seus filhos antes do repouso da noite.
Na Renovacáo, este gesto deve ser considerado como urna
forma legitima e tradicional de exprimir a intercessáo da
comunidade em favor de um de seus membros.

VI — DIMENS6ES E QUEST6ES ECLESIOLÓGICAS

1. A renovacáo carismática é ecuménica de fato. A


experiencia espiritual que a caracteriza é comum aos cristáos
de diversas <confiss5es. A este titulo, ela é portadora de um
poderoso dinamismo ecuménico.

2. A experiencia prova que onde se constituí urna comu


nidade carismática, o misterio da Igreja é percebido por seus
membros de urna forma mais concreta e mais profunda do
que antes. Mesmo no Pentecostalismo clássico (representado
essencialmente pelas 'Assembléias de Deus') constata-se,
sobretodo na América Latina, um novo interesse a respeito
da Igreja Católica desde que nesta se manifestou a renovacáo
carismática.

— 318 —
RENOVACAO CARISMATICA 43

3. Pode-se considerar a renovacáo carismática como


urna resposta providencial á atracáo que exerce ho]e um
número crescente de seitas 'proféticas' de todo o género,
em varias partes do mundo. Esta atragáo é particularmente
sentida na África" e na América Latina, onde mu itos batizados
deixam a Igreja, cujas estruturas tradicionais nao parecem
mais responder as suas aspiracóes de urna vida religiosa mais
experiencial e mais participante. Bispos e padres, que nao
se engajaram na Renovacáo, consideram esta um antidoto
contra tais defecgoes.

4. No que concerne á intercomunháo, -todos os anima


dores qualificados da Renovagáo recomendam que a disci
plina da Igreja na materia seja fielmente observada (cf. as
diretivas comunicadas aos participantes do Congresso Inter
nacional a ser realizado em Roma em Pentecostés deste ano).
Se ocorrer que a intercomunháo seja por vezes praticada em
certos grupos ecuménicos, ela é ai provavelmente menos espa-
Ihada do que na massa dos católicos.

5. A renovagáo carismática deve ser cuidadosamente


distinguida da 'Igreja subterránea' (underground church),
onde a oposigáo é córrante entre a 'liberdade de Espirito' e
a estrutura (peso) da Igreja hierárquica. Os católicos engaja
dos na Renovagáo tém urna visáo muito mais positiva da
¡nstituigáo eclesial.

6. Ñas comunidades onde diferentes confissoes cristas


estáo representadas, a profundidade mesma da partilha, em
todos seus aspectos — oragáo, trabalho, habitagáo, financas,
lazer — pode levantar esta questáo: 'Como nossa experien
cia pode ligar-se á Igreja, no sentido católico deste termo?'
A resposta a esta questáo pode trazer urna preciosa contri
bu ¡gao ao ecumenismo, contanto que seja elaborada á luz da
doutrina católica no assunto.

7. Em certas reunides ecuménicas superficiais, o acento


colocado sobre a experiencia vivida pode conduzir os partici
pantes a se desapegarem da comunldade católica, e se liga-
rem a urna estrutura paralela que nSo é nem católica nem
protestante. Falou-se a este respeito de 'super-lgreja' ou de
'Cristianismo nao eclesial'. — Tais slogans sao, até aquí,
estranhos á renovagáo carismática católica.

— 319 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 199/1976

8. é importante levar em consideracao que exlstem


duas tendencias principáis no seio da renovacáo carismática.
Urna délas, reclamada pela maioria dos católicos e de bom
número de protestantes, visa a integracáo da Renovacáo na
vida normal da Igreja, e sublinha a importancia de urna sólida
formagáo doutrinal. Urna outra tendencia, onde se encontrarñ
igualmente cristáos de diversas confissóes, pde o acento
sobre a liberdade indivjdual, a fé subjetiva, e adota urna ati-
tude negativa a respeito da autoridade e das estruturas tradi-
cionais.

9. Em numerosos lugares, tornou-se comum que grupos


católicos convidem ás suas reunióos os pentecostais clássicos
(Assembléias de Deus ou néo-pentecostais protestantes (lu
teranos, presbiterianos, etc.). Devido ao fato de que estes últi
mos possuem geralmente urna longa experiencia da oracao
carismática, freqüentemente figuram como técnicos na mate
ria, o que Ihes confere urna autoridade considerável. O ensino
que eles propoem é, devido a isto, recebido por numerosos
católicos sem o discernlmento desejável. E esse perigo de
confusao subsiste mesmo se o orador nao-católico nao possui
de forma alguma a intencáo de atacar ou negar algum dos
pontos da doutrina da Igreja.

10. De outro lado, quando os animadores católicos da


Renovacáo sao convidados a participar de reuniSes náo-cató-
licas, outros problemas surgem. A presenca de um orador
católico pode conferir aos olhos dos católicos presentes urna
especie de credibilidade global a tais assembléias. Convém
portante que em casos tais o orador católico saiba dar humil
de e claramente um testemunho á fé da Igreja — o que
corresponde a urna atitude auténticamente ecuménica.

11. Católicos cada vez mais numerosos, inclusive padres,


religiosos e religiosas, participam de seminarios, reunióos e
congressos organizados por nao católicos. Eles arriscam assim
assimilar, mésmo sem o perceber, doutrinas ou práticas estra-
nhas á tradigáo da Igreja. A atmosfera de oracáo fervente e
de amor mutuo que reina nessas assembléias carismáticas,
embora benéfica, nao poderla dispensar urna sólida formacáb
doutrinal e espiritual específicamente católica.

— 320 —
RENOVACAO CARISMATICA 45

Vil — RECOMENDACOES

6. Para que os grupos de oragáo sejam auténticamente


católicos, deveriarh inspirar-se desta oragáo por excelencia
que é a Eucaristia da Igreja. Seria necessário fazer de tal
modo que se ertcontrem habitualmente no desenrolar de sua
oracáo os elementos maiores da celebragáo eucarística: lou-
vor, confissáo dos pecados, acáo de gragas, intercessáo. Con-
viria igualmente que ai se exprima, como na Missa, a comu-
nháo da assembléia com María, os apostólos, os anjos e os
santos. O uso da Escritura deveria igualmente inspirar-se nos
textos que a Igreja nos faz ler na liturgia quotidiana. Da
mesma forma, a vida espiritual de um cristáo deve normal
mente estar em harmonía com os períodos do ano litúrgico.
É portanto desejável que a oragáo dos grupos carismáticos
faga eco aos misterios comemorados no decorrer do ano.
Urna devogáo paralitúrgico pode conduzir afinal a um empo-
brecimento espiritual. Tal seria o caso de urna espiritualidade
exclusivamente 'pentecostal' nao integrada no ritmo dos mis
terios celebrados cada ano pela Igreja.

7. O Cenáculo é um local onde a comunidade crista se


reúne na oragáo fervente até o momento em que o Espirito a
convida a sair para comunicar ao mundo o Fogo novo de
Pentecostés. Urna oragáo verdadeiramente crista manifesta
cedo ou tarde sua autenticidade no amor que se póe ao ser-
vigo do próximo. Ela se distingue assim do 'pietismo', isto
é, de um apego inconsiderado á experiencia espiritual como
tal, desapegada de urna relagáo vital á experiencia da Igreja
em todas as suas dimensoes.

9. A fim de garantir a autenticidade espiritual dos gru


pos de oragáo e das comunidades, é indispensável organizar
centros de formagáo ou recorrer á coiaboragáo de centros já
existentes, tais como Reqlna Mundi em Roma, Lumen Vitae
em Bruxelas, ou Escola da Fé em Friburgo (Sulga). É dese
jável igualmente que se multipliquem as 'Casas de Oragáo',
como Convent Station (New Jersey, USA) ou Troussures
(Franga).

10. Nesta obra de formagáo, um papel particular é exer-


cido pelos teólogos, sobretodo por aqueles que se acham
engajados na experiencia da Renovagáo. Assim um Heribert

— 321 _
46 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 199/1976

Mohlen, especialista em pneumatologla e animador dos gru


pos de oragio na Alemanha. Incumbe a eles em particular
situar a Renovagáo na tradigáo eclesíal, e indicar as vias de
sua Integragáo na vida da Igreja, especialmente na su a vida
sacramental.

11. Urna abundante literatura de Inspiracao 'pentecos-


tal' se espalha atualmente nos meios católicos, e sua influen
cia se encentra nos escritos de certos autores católicos. Ao
lado de elementos positivos, esta' literatura contém opiniSes
contestáveis a respeitoda Igreja, de María, do batismo no
Espirito, dos cansinas, etc. É portante urgente que se possa
dispor de escritos de boa vulgarizagáo, que refutam a espiri-
tualidade auténticamente católica da Renovagáo Carismática.

12. É desejável igualmente a criagáo, no seio da Reno


vagáo, de urna revista teológica de nivel elevado. Ela teria
por objetivo estudar as questSes teológicas levantadas pela
experiencia carismática e situá-las na tradigáo espiritual da
Igreja. Ela daría também apreciagóes sobre livros e outras
publicagoes sobre o assunto. Um tal instrumento seria pre
cioso a todos os animadores da Renovagáo Carismática
católica.

13. Conviria enfim formular certas orientacóes pastorais


a respeito das experiencias de vida comunitaria que a Reno
vagáo suscita hoje um pouco por toda a parte. A partir dos
grupos de oragáo, vé-se com efeito que se constituem comu
nidades residenciáis e nao residenciáis, cujos membros estáo
engajados em diferentes estados de vida (matrimonio, celibato,
vida religiosa). Na Renovagáo Carismática, como em toda
parte, se manifesta este fenómeno das comunidades de base,
que se multiplicam atualmente á margem das instituigSes ecle-
slais (cf. La Croix, 28/2/75). Importa que a Igreja hierárquica
se abra a este género de experiencias, que correspondem a
urna necessidade, e que já produziram frutos notáveis no seio
da Renovagáo Carismática. Mas ela deve também oferecer-
-Ihes o sustentáculo pastoral sem o qual essas comunidades
correm o risco de se marginalizarem com relagáo á vida da
Igreja em seu conjunto".

— 322 —
RENOVACAO CARISMATTCA 47

2. ReflexSo fincri

Como se vé, o Cardeal Suenens procede de maneira serena


e objetiva, propondo os grandes méritos da Renovagáo Caris-
mática, mas também os riscos que a podem ameagar.

1. Entre os valores do Movimento, sejam realgados

a) o novo aprego dado pelos cristáos aos sacramentos


da iniciagáo (Batismo, Crisma e Eucaristía);

b) a conversáo interior e a entrega a oragáo ocorrentes


em muitos membros do Movimento;

c) a adesáo a Igreja e aos seus pastores, em oposisáo


¿ formagáo de «igrejinhas»;

d) o desejo de formagáo teológico-bíblica mais aprofun-


dada, em vista de mais sólida estruturagáo da vida crista.

2. Tais valores correm seus riscos, dos quais os princi


páis parecem ser:

a) os perigos do subjetivismo e do falso iluminismo. É


fácil alguém se iludir a respeito dos dons de Deus. Há quem
atribua á especial agáo do Espirito Santo fenómenos mera
mente psicológicos ou mesmo patológicos;

b) o perigo de se valorizarem excessivamente os caris-


mas extraordinarios (oragáo em linguas, curas...) com esque-
cimento do principal dom, que é a caridade;

c) o perigo de se constituirem pequeños grupos fecha


dos, distantes do passado e do presente da Igreja.

Em suma, desde que se tomem as devidas cautelas, prin


cipalmente por parte dos Srs. Bispos e pastores de almas, a
Renovagáo Carismática pode ser de grande valor para a vida
crista, tomando-se mesmo urna expressáo genuina da agáo do
Espirito Santo em nossos dias, propensos ao materialismo e
á descristianizagáo.
Estévao Bettenconrt O.S.B.

— 323 —
48 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 199/1976

livros em estante
A Fé da lgie|a. Vol. I: Fundamentos, por Mlchael Schmaus. Tradu-
580 de Marcal Versianl. — Ed. Vozes, Petrópolls 1976, 160x230 mm,
196 pp. "
Mlchael Schmaus é um dos grandes teólogos sistemáticos da Ale*
manha católica contemporánea: erudito, profundo e eaulllbrado em sua3
posIcCes, de tal modo que constituí um genuino porta-voz da doutrina
da lgpe|a. É o aue confere grande Imoortáncla á obra que a Editora Vozes
comécou a lancar em traducfio brasllelra com o titulo "A Fé da Igrefa",
destinada a se estender cor seis volumes. O con|unto se dirige aos leí-
gos de cultura e, principalmente, ads estudantes de Teología e sacerdotes.
O primelro volume propQe nocSes básicas, que serSo utilizadas nos
tomos sequlntes: "Teoloaia como Palavra de Deus para o homem de
hoje", concelto de Revelacfio Divina, de milagro como slnal. TradlcSo
escrita (Biblia) e Tradicáo oral, o ateísmo contemporáneo (Feuerbach,
Marx...). O esouema é o dos clásslcos e sólidos manuais de Teología
Sistemática (ou Doamática) com as adapfacSes e os enriqueclmentos con-
dlzentes com a realidade do estudioso de nossos días.
Entre outros particulares, é multo Interessanta a Introducido a S.
Escritura nuq o autor aoresnnta da p. 121 á o. 152 : inspiracfio. veracl-
dsde da Biblia, canon das Escrituras, funcfio do Magisterio... s§o abor
dados de maneira concisa e seaura.
Temos, em traducSo brasllelra, outro manual de Teoloala Sistemá
tica : "Mvsterium Salutis" (Ed. Vozes), editado por Johnnnes Felner e
Maonus Loehrer. Todavía a leitura de "Mysterium Salutis" é mais árduá
e seca do aue a dos escritos de Schmaus: além do oua. as te«es dente
auto' sSo semnre claras e unívocamente fiéis ao pensnmento da loreia.
— Fazemos votos para que, sem demora, seiam editados os volumes
subsecuentes, embora o primero da colecáo tenha valor em si mesmo.
Uturqla da lg~e|a doméstica. Historia, Teología, Pastoral, por P.
Dufresne. TraducSo de María Lulza Jardim do Amarante. — Ed. Paulinas,
Sao Paulo 1976. 130x200 mm, 218 pp.
A exoressSo "Iqreja Doméstica" tem sido mais e mals usada nos
últimos temóos: desiaoa o lar como santuario ou como luaar onde se
continua vivancialmente aoullo oue no temólo é realizado hieraticamente.
Tal exoressSo ¿ slnnl da renovaefio da esolrltualldade conluaal e familiar
sup^l'arta pelo Concillo do Vaticano II. Mesmo as tarefas mais comezlnhas
realizadas no lar crlstSo sSo santas, sao vivencia do sacramento, desde
que efotuadas segundo a leí de Deus.
é por Isto que tambérn se pode falar de "Liturgia da Igreja Domés
tica". Esta tem seus momentos de assembléla, ou seja. de reunISo da
familia aue se dispSe a orar comunitariamente. O P. Dufresne dedtcou
a essa Liturgia um precioso estudo: propSe primeramente documentos
da Igreja antiga, que mostram como eram estimadas a santidade do
lar e a ora^So em familia; SSo J0S0 Crlsóstomo (t 407) é o grande arauto
dessa forma de espiritualidad^, como bem atestam os seus dlzeres:
"IrmSos carfssimos, retenhamos Isso tudo e, de volta á casa, pro
paremos duas mesas: urna de alimento terrestre, outra de santa leltura.
Repita o homem o que foi dito, instrua-se a mulher, escutem os fllhos e
nao se afastem dessa leitura os servos. Fazel de vossa casa urna igreja"
(ln Gen, serm. 6,2).

— 324 —
Na segunda parte do livro, o autor desenvolve temas do Concilio do
Vaticano II referentes ao matrimonio, á educac&o dos filhos na fó e ás
expressóes de piedade familiar. A terceira parte da obra ó urna coletánea
de esquemas para se realizar a oracSo em familia.
Eni suma, o livro é de alto valor no seu género, prestartdo-se espe
cialmente ao uso de nossos casáis desejosos de constituir ou conservar
seu lar auténticamente cristáo,... um lar que tenha a santldade de um
templo, sem deixar de ser o "habitat" natural e intimo dos seus
moradores.
Método de educacáo sexual dirigido a Juventude, pelo Pe. José
Gongalves Filho. — Ed. Loyola, Sao Paulo 1976, 140x210 mm, 115 pp.
O autor é pslcanalsta clínico; oferece ao público um compendio
minucioso de formacSo para a vida sexual. Aborda anatomía e fisiología,
assim como propoe os grandes valores que se relacionam com a sexuall-
dade: amor, responsabilidade, opcSo, liberdade... Aprésente especial
mente um capitulo' sobre moral sexual da Igreja, que lamentamos seja
demasiado sucinto. A obra é multo útil do ponto de vista biológico, pols,
além do que se refere aos aparelhos genitals do homem e da mulher,
estuda as doencas venéreas, causas da frleza sexual, etc. — Sempre
que o autor se manifesta sobre ética sexual, fá-lo de acordó com o pen-
samento sadiamente cristáo; sabe fundamentar os principios da ética sobre
os da fisiología e da psicología, de modo que os torna persuasivos nao
n3o somente a quem tem fé, mas também ao leltor que nSo aceite os
criterios da rellgiSo. Tenham-se em vista, entre outros tópicos, o segulnte:
"é preciso esclarecer o que vem a ser castldade, pols esta sofre as
mals diversas deturpacoes. Podemos dizer que a castldade é urna atitude
consciente e llvremente aceita, por um motivo superior, que conduz a
evitar prudentemente toda ocasiSo, ImaglnacSo ou pensamento capazes
de suscitar urna excitacSo sexual... Há que notar que a castidade é urna
reserva de energia. Com a sua preservacao, há no corpo um aumento de
testosterona, que é o elemento virilizante masculino, provocando um ren-
dimento maior de todas as funcóes do ho.Tiem" (p. 70).
A propósito, sejam aqui recordadas as ponderacSes propostas no
editorial deste fascículo, em que o tema "castidade" já foi abordado.
A guisa de complementacáo desta obra, citamos o segulnte volume:
Estn Juventude magnifica e seus namoros nent sempie maravilhosos,
pelo Pe. Zezinho SCJ. Colegio "Compromlsso" 9. — Ed. Paulinas, SSo
Paulo 1976, 110x190 mm, 124 pp.
Em' estilo vivo, adaptado a llnguagem ¡ovem, o autor desfaz dúvidas
e propQe llnhas de conduta para o namoro. O Pe. Zezinho, com a expe
riencias que tem da juventude, faz o leltor reviver episodios da vida de
hoje e os analisa, oferecendo sempre orientacSes de linha seguramente
cristS. Serla para desejar que todos os jovens interessados em casamento
lessem tal livro.
Senllnelas de Deus na cidade, por Rene Volllaume. Tradu^fio de
Lulz JoSo Galo. Colecáo "OracSo e acSo", terceira serie, rfl 12. — Ed.
Paulinas, Sao Paulo 1976, 110x190 mm, 296 pp.
Este livro resulta da compilacSo de escritos do Pe. Rene Volllaume,
Superior Geral da CongregacSo dos IrmSozInhos de Jesús, fundados pelo
Pe. Charles de Foucauld. Consta de tres partes: a prlmeira reúne extratos
de cartas circulares que contém reflexfies provocadas por diversos acon-
teclmentos dos últimos anos. A segunda é urna exposicáo do que seja
a vida religiosa, concebida, antes do mals, para os IrmSos da Congrega
cSo do autor, todavía útil a qualquer Religioso. A terceira parte trata do
delicado assunto "Evangelho e Política"; dlfere, porém, de escritos con
géneres, pois transparece através das páginas em foco o profundo espi
rito de oracSo de quem escreve; o Pe. Volllaume encara o papel espe
cifico do homem (e da mulher) de oracSo frente ás necessldades do
mundo, é um grande místico que disserta, comunicando sempre algo da
sua profunda unISo com Deus.
E.B.
O GRANDE HOMEM

MANTÉM O SEU MODO DE PENSAR INDEPENDENTE-


MENTE DA OPINIÁO PÚBLICA.
É TRANQUILO, CALMO, PACIENTE.
NAO GRITA NEM SE DESESPERA.
PENSA COM CLAREZA, FALA COM INTELIGENCIA,
VIVE COM SIMPLICIDADE.

É DO FUTURO, E NAO DO PASSADO.


SEMPRE TEM TEMPO.

NAO DESPREZA SER HUMANO ALGUM.


CAUSA A IMPRESSÁO DOS VASTOS SILENCIOS DA
NATUREZA TESTEMUNIHADOS PELO CEU.
NAO É VAIDOSO.
COMO NAO ANDA A CATA DE APLAUSOS, JAMÁIS
SE OFENDE.
POSSUI SEMPRE MAIS DO QUE JULGA MERECER.
ESTA SEMPRE DISPOSTO A APRENDER, MESMO DAS
CRIANCAS.
DESPREZA A OPINIÁO PRÓPRIA TAO LOGO VERIFIQUE
O SEU ERRO.
TRAZ DENTRO DE SI AS ANTENAS DA VERDADE, QUE
NAO LHE PERMITEM
DEIXAR-SE INCHAR PELO LOUVOR
OU DEPRIMIR PELA CENSURA.
NAO OBSTANTE ESSA EQÜANIMIDADE, NAO É FRIÓ:
AMA, SOFRE, COMPREENDE, SORRI.
O QUE VOCÉ POSSUI — DINHEIRO OU POSICAO —,
NADA SIGNIFICA PARA ELE.
SÓ LHE IMPORTA O QUE VOCÉ É.
NAO RESPETTA USOS ESTABELECIDOS E VENERADOS
POR ESP1RITOS MESQUINHOS.
RESPETTA SOMENTE A VERDADE.
TEM MENTE DE HOMEM E CORACAO DE MENINO.
CONHECE-SE A SI MESMO TAL QUAL É, E CONHECE
A DEUS.

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