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Vinicius de Moraes (Brasil)

Poemas para todas as mulheres


No teu branco seio eu choro. Minhas lgrimas descem pelo teu ventre E se embebedam do perfume do teu sexo. Mulher, que mquina s, que s me tens desesperado Confuso, criana para te conter! Oh, no feches os teus braos sobre a minha tristeza no! Ah, no abandones a tua boca minha inocncia, no! Homem sou belo Macho sou forte, poeta sou altssimo E s a pureza me ama e ela em mim uma cidade e tem mil e uma portas. Ai! Teus cabelos recendem flor da murta Melhor seria morrer ou ver-te morta E nunca, nunca poder te tocar! Mas, fauno, sinto o vento do mar roar-me os braos Anjo, sinto o calor do vento nas espumas Passarinho, sinto o ninho nos teus plos... Correi, correi, lgrimas saudosas Afogai-me, tirai-me deste tempo Levai-me para o campo das estrelas Entregai-me depressa lua cheia Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminao das odes, daime o cntico dos cnticos Que eu no posso mais, ai! Que esta mulher me devora! Que eu quero fugir, quero a minha mezinha quero o colo de Nossa Senhora!
Rio de Janeiro, 1938 in Novos Poemas in Antologia Potica in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"

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