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Assunto: Reflexão sobre a operacionalização do Decreto-lei 3/2008, de 7 de Janeiro

Exmos. Srs.,

Não obstante o enquadramento legal ter prevista a avaliação do processo de avaliação,


para o final do ano lectivo, por referência à Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), da OMS, o Departamento de Apoios
Educativos deste agrupamento decidiu fazer, agora que estamos a meio do ano lectivo,
um balanço do processo, tendo em conta os constrangimentos que temos vindo a
observar e que consideramos deverem ser tidos em conta na reformulação do processo.
Esta reflexão parece-nos tanto mais oportuna neste momento em que se iniciaram, por
iniciativa do Ministério da Educação as reuniões do grupo de trabalho que constitui a
Comissão de Acompanhamento do Projecto de Avaliação da Aplicação do Decreto-Lei
n.º 3/2009.

1. A reunião conjunta com todos os intervenientes que participam na avaliação das


crianças e jovens torna-se praticamente impossível, por questões relacionadas
com as exigências dos vários serviços. Deste modo a avaliação é
maioritariamente elaborada pelo docente de educação especial após um conjunto
de diligências, contactos e reunião de documentos. Excepção feita aos alunos
que estão ao abrigo do projecto de cooperação e parceria1 onde, ainda assim,
conseguimos ter um contacto muito próximo com os técnicos que acompanham
as crianças.

2. Como consequência do ponto anterior não é incomum recebermos avaliações, da


mesma criança, realizadas por diferentes técnicos, que chegam a conclusões
díspares e por vezes contraditórias na descrição dos quantificadores, atribuídos
aos qualificadores, das funções e estruturas do corpo. Este motivo prende-se
com o facto de não existirem testes padronizados que garantam que utilizados
por técnicos diferentes, o resultado seja sempre o mesmo, garante do rigor do
trabalho de avaliação efectuado.

3. Continuam a existir serviços de saúde de Desenvolvimento e Pediatria, dos


hospitais públicos, cujos serviços recusam liminarmente o recurso à CIF na
avaliação dos alunos, bem como assunção de que se trata de casos de
necessidades educativas de carácter permanente nas funções do corpo. Não
contando este agrupamento com outros técnicos, para além dos docentes de
educação especial, torna-se impossível ter um perfil de funcionalidade das
deficiências nas funções e estruturas do corpo, de acordo com os qualificadores
e quantificadores da CIF, para o qual os docentes não estão habilitados.

4. Uma franja de alunos que beneficiaram de medidas do regime educativo


especial, durante uma significativa parte do seu percurso escolar, acabaram por
as perder em virtude da alteração introduzida pelo decreto 3/2008, de 7 de
Janeiro. Estes alunos que continuam a evidenciar limitações significativas na
1
n.º 1 da portaria 1102/97 e artigo n.º 30 do Decreto 3/2008, de 7 de Janeiro.
actividade e participação, por não terem alterações nas funções e estruturas do
corpo de carácter permanente estão a ser vítimas de um injusto e preocupante
insucesso escolar.

5. Também no domínio em que os docentes de educação especial devem realizar o


seu trabalho de avaliação encontramos dificuldades em levar a cabo, com rigor,
a avaliação por referência à CIF, uma vez que se desconhece a existência de
instrumentos de avaliação que permitam que os resultados das dificuldades
encontradas sejam transferidos para quantificadores CIF. Os resultados obtidos
serão por isso pouco rigorosos, deixados à arbitrariedade de cada docente.
Sublinhamos que em oito docentes de educação especial, colocados neste
agrupamento, apenas três tiveram alguma formação relacionada com a CIF e que
em nenhum momento de formação foram fornecidas pistas sobre a existência de
instrumentos desta natureza. De resto o documento da OMS é muito claro
quando refere “Para que essa quantificação seja utilizada de maneira universal,
os procedimentos de avaliação devem ser desenvolvidos através de pesquisas.
Estão disponíveis classes amplas de percentagens para aqueles casos em que se
usam instrumentos de medida calibrados ou outras normas para quantificar
deficiência, limitação de capacidade, problema de desempenho ou
barreira”(OMS, p.23)2. Com as condições, sem instrumentos de medida
devidamente calibrados dificilmente poderemos utilizar outro quantificador para
além do 8. (não especificado).

6. Para terminar gostaríamos de partilhar a nossa dúvida face ao que nos parece ser
uma incongruência entre o Decreto-lei 3/2008, que de forma clara atribui sempre
funções ao departamento de educação especial e o Decreto-lei n.º 200/2007, de
22 de Maio, que estrutura os grupos de recrutamento em departamentos
arrumando o grupo 900 (de educação especial) no grande departamento das
Expressões. Consideramos que a exigência e especificidades do trabalho
realizado pela educação especial não é compatível com a sua integração num
mega departamento cuja natureza das funções e preocupações não se coadunam
com as tarefas específicas de promoção de um agrupamento inclusivo.
Acrescentamos ainda que ainda estamos muito longe de contar com uma escola
inclusiva e que o assento em Conselho Pedagógico de um representante do
departamento de educação especial é imprescindível.

É sentimento dos docentes de educação especial contribuir de forma construtiva, com


estas reflexões, para chamar à atenção para alguns aspectos que se prendem com a
necessidade de maior eficácia na operacionalização do processo de referenciação,
avaliação e, consequente, intervenção junto da população com necessidades educativas
especiais de carácter permanente. Consideramos urgente clarificar e formar os docentes
na divulgação e formação sobre os instrumentos calibrados de avaliação por referência à
CIF. É a qualidade da educação para TODOS que nos mobiliza.

Sem outro assunto,

2
OMS (2004). Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde.

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