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Autores
Adélia Juracy Zuse
Ana Rosa Zurlo Dellazzana
Célia Helena Pelegrini Della Méa
Claudemir de Quadros
Eleni Bisognin
Elisabeth Weber Medeiros
Flávia Obino Corrêa Werle
Geórgia Maria Ferro Benetti
Guacira de Azambuja
Inara de Oliveira Rodrigues
Iraní Rupolo
José Iran Ribeiro
José Otão
Laurindo Dalpian
Lenir Casel Agostini
Maria Antonia Ramos de Azevedo
Maria Helena Camara Bastos
Maria Joanete Martins da Silveira
Marion dos Santos Lemes
Marta Lia Genro Appel
Nilsa Teresinha Reichert Barin
Patrícia do Amaral Comarú
Rosane Bald
Silvia Helena Niederauer Xavier
Solange de Moraes
Vanilde Bisognin
Zelma Santos Borges
CDU 371.13
Direitos reservados ao
Centro Universitário Franciscano de Santa Maria
Rua dos Andradas, 1614
97010-032 Santa Maria Rio Grande do Sul
www.unifra.br
Sumário
Prefácio ................................................................................................................................ 9
Flávia Obino Corrêa Werle
Geografia: ciência para descrever a Terra e assinalar sua diversidade ......... 184
Elsbeth Leia Spode Becker e Lia Margot Dornelles Viero
Prefácio
Flávia Obino Corrêa Werle1
Introdução
Dupla vitória da inteligência registra a cidade coração
do Rio Grande, no corrente ano de 1955; é a instalação de
duas escolas superiores, a Faculdade de Ciências Políticas e
Econômicas, a 22 de março último, e a Faculdade de Filoso-
fia, Ciências e Letras Imaculada Conceição, no dia de hoje.
Ambas têm um significado próprio e singular e, ao mes-
mo tempo, um sentido coletivo e global. Assim, a primeira
representa a jornada gloriosa em prol de estudos sérios e po-
sitivos em torno da nossa economia, tão desfigurada e tão
desmantelada nos dias em que vivemos. Jornada que será longa
e trabalhosa, que vai exigir devotamento, estudo, pesquisa,
concentração ao trabalho e sacrifício de lazeres e descansos.
A segunda, que hoje se inaugura, pelo número dos cur-
sos e pela extensão do campo cultural atingido, é uma verda-
deira universidade, exigindo dos organizadores e mantene-
dores fibra de gigantes, reclamando acentuado devotamento,
1 bem como constância, pertinácia no trabalho, pois, por de-
Aula inaugural da
Faculdade de mandar a seara da ciência pura, levará tempo para frutificar
Filosofia, Ciências e plenamente e trazer a recompensa da atividade despendida.
Letras Imaculada
Conceição, proferida Uma e outra aparecem em hora oportuníssima e, em-
pelo irmão José Otão,
reitor da Pontifícia
bora representando características divergentes, não se opõem,
Universidade Católica mas se complementam.
do Rio Grande do Sul,
no dia 27 de abril
A faculdade de economia ocupar-se-á da riqueza mate-
de 1955. rial, de sua produção, distribuição e consumo; a de filosofia,
14
Bibliografia
BEBER, Cirilo C. Santa Maria 200 anos: história econômica
do município. Santa Maria: Pallotti, 1998.
BELÉM, João. História do município de Santa Maria: 1797-1933.
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de Santa Maria entre 1980-2000. Santa Maria. Monografia
(Especialização em História). Curso de Pós-Graduação em
História, Universidade Federal de Santa Maria, 2002.
34
Introdução
Neste texto pretende-se analisar como, historicamente,
estruturou-se a formação de professores no Brasil e o papel
das faculdades de Filosofia nesse processo de construção da
profissão docente, com ênfase na ação do Centro Universitá-
rio Franciscano de Santa Maria. Essa perspectiva embasa-se
tanto na idéia de que a construção da educação brasileira
deve ser feita considerando-se as diversidades/singularida- 1
des regionais e as diversidades/singularidades sociais que as Professora no
Programa de Pós-
atravessam e as transformam historicamente (Louro, 1989, Graduação em
Educação da PUCRS,
p. 36), como na necessidade de melhor compreender as tradu- doutora em História e
ções dos processos de modernização nacional e a regionalização Filosofia da Educação,
pesquisadora do
dessa modernidade. CNPq.
A desvalorização e desprofissionalização docente são
resultados de uma política compensatória em educação, que 2
Professor no Centro
preconiza custo e tempo menor para a formação dos profes- Universitário
sores que atuam na faixa etária de zero até 14 anos, conside- Franciscano de Santa
Maria, mestre em
rado o ensino básico obrigatório. Dos 2,2 milhões de profes- Educação.
35
Horizontes
Pensar a formação de professores no Brasil, a partir da
história da constituição desse campo profissional, remete à
necessidade de projetar seu presente-futuro.
A interdependência planetária e a globalização são fe-
nômenos maiores do nosso tempo, que marcarão o século
XXI de maneira muito forte. Dentro desse quadro prospectivo
dominado pela mundialização, a tendência será a superação
das tensões entre o global e o local, entre a tradição e a
modernidade, entre o extraordinário desenvolvimento dos
conhecimentos e as capacidades de assimilação pelo homem,
entre o espiritual e o material, entre o longo e o curto prazo.
A análise dessas questões mais amplas e o delineamento de
algumas orientações válidas tanto em nível nacional quanto
em escala mundial são as metas que permitem pensar em
construir um futuro comum com a revalorização das dimen-
sões éticas e culturais, dando meios para cada um não só com-
preender o mundo dentro de sua marcha caótica na direção
de uma certa unidade (Bastos, 1999).
55
Bibliografia
BASTOS, Maria Helena Camara. Memoriais de professoras:
reflexões sobre uma proposta. In: MIGNOT, Ana Cristina
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la elementar no século XIX: o método monitorial/mútuo. Passo
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no Brasil: o curso normal para professores de primeiras letras
do Barão de Gérando (1839). In: BASTOS, Maria Helena
Camara; FARIA FILHO, Luciano Mendes de (Org.). A Esco-
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Fundo: Ediupf, 1999.
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BULHÕES, M. G.; ABREU, Mariza. A luta dos professores gaú-
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57
Matemática
Pedagogia
Geografia
Filosofia
Estudos
História
Letras28
Ano Sociais
1957 20 0 0 0 6 0 0
1958 15 0 0 0 15 0 0
1959 37 1 0 3 22 0 0
1960 12 9 0 16 31 0 0
1961 32 11 4 24 37 4 0
1962 18 2 3 10 22 2 0
1963 14 13 0 12 23 6 0
1964 14 16 7 16 36 6 0
1965 12 13 8 8 31 8 0
1966 15 19 23 9 32 6 0
1967 23 7 10 22 26 7 0
1968 31 30 0 0 8 0 0
1969 5 5 0 0 14 3 0
1970 0 29 0 0 35 0 0
28
Refere-se a diversas
1971 19 0 0 0 41 0 33
habilitações do curso 1972 19 2 0 0 70 0 27
de Letras: Letras 1973 48 0 0 0 100 0 36
Neolatinas, Letras
Anglo-Germânicas, 1974 65 0 0 26 104 7 36
Letras: Inglês, Letras: 1975 73 0 0 31 114 11 42
Francês, Letras:
Português. 1976 60 0 0 28 60 19 37
68
1977 63 0 0 28 60 23 44
1978 102 0 0 30 80 21 41
1979 68 0 0 0 55 43 50
1980 71 0 0 0 60 28 63
1981 77 0 0 0 70 25 58
1982 74 0 21 25 65 19 49
1983 69 0 22 39 57 36 63
1984 56 0 22 30 65 25 43
1985 73 23 20 27 85 24 74
1986 80 30 32 26 81 35 75
1987 3 15 20 26 68 41 18
1988 36 21 23 23 73 32 50
1989 107 22 30 12 73 29 44
1990 92 1 5 2 9 0 11
1991 6 15 20 17 64 10 43
1992 63 24 5 13 59 13 23
1993 49 19 9 13 106 7 0
1994 50 5 15 12 45 14 6
1995 28 6 7 9 32 18 3
1996 49 11 7 15 59 16 2
1997 69 12 8 8 80 14 0
1998 48 5 12 16 68 12 0
1999 45 15 10 16 47 12 0
2000 51 0 11 16 36 1 0
2001 38 13 9 14 40 12 0
29
2002 47 5 21 0 16 27 0 Incluem a conclusão
2003 23929 4 4 14 4 5 0 de cinco turmas
2004 159 21 11 10 23 12 0 relativas a convênio
com municípios da
Total 2.205 424 399 646 2.407 633 971 região para formação
de professores
Fonte: Derca. municipais.
70
6º Currículos e Programas II 60
Supervisão da Escola de 1° Grau 30
Legislação do Ensino II 60
Inspeção da Escola de 1° Grau 30
Estudo de Problemas Brasileiros II 30
Estágio Supervisionado em Supervisão
Escolar 120
Estágio Supervisionado em Inspeção
Escolar 120
3º Sociologia Educacional 60
Psicologia Educacional 60
História da Educação 60
Filosofia da Educação 60
Didática 75
Elementos de Administração Escolar 30
Problemas Brasileiros 30
4º Sociologia Educacional 60
Psicologia Educacional 75
História da Educação 60
Filosofia da Educação 60
Elementos de Administração Escolar 30
Problemas Brasileiros 45
Audiovisuais 30
4º Psicologia da Educação IV 60
Sociologia da Educação III 60
História da Educação II 60
Cultura Religiosa II 60
Metodologia das Ciências II 30
Estudos Sociopolíticos II 30
Metodologia da Língua Portuguesa II 30
5º Psicologia da Educação V 60
História da Educação III 60
Metodologia da Matemática I 30
Metodologia de Estudos Sociais II 30
Didática I 60
6º Psicologia da Educação VI 60
História da Educação IV 60
Metodologia da Matemática II 30
Metodologia de Estudos Sociais II 30
Didática II 60
Filosofia da Educação I 60
7º Didática III 60
Prática de Ensino I (Estágio Supervisionado) 60
Introdução à Filosofia I 30
Estrutura e Funcionamento Ensino de
1o e 2o Graus I 90
Estatística Aplicada à Educação I 60
Cosmovisão Franciscana I 60
Filosofia da Educação II 60
8º Didática IV 60
Trabalho de Conclusão 60
Introdução à Filosofia II 30
Estatística Aplicada à Educação II 60
Prática Ensino II (Estágio Supervisionado) 60
Estrutura e Funcionamento Ensino
de 1o e 2o Graus II 90
Cosmovisão Franciscana II 60
Considerações finais
O currículo do curso de Pedagogia sofreu profundas
alterações desde 1955, data da criação do curso na Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras Imaculada Conceição. Em
1955, o currículo era centrado em generalidades, não habili-
tando o aluno a ser um professor, embora os formandos no
curso recebessem o registro para lecionar em Filosofia, Soci-
ologia, História e Matemática, no primário e ginásio, atual
ensino fundamental.
Com a lei n. 4.024/61 e os pareceres do Conselho Fe-
deral de Educação, o currículo do curso de Pedagogia, embo-
ra bastante genérico, possibilitava a formação de um profes-
sor para atuar no Curso Normal.
Com a resolução de 31 de março de 1964, o ensino
superior foi todo reformulado e o currículo do curso de Pe-
dagogia passou a formar professores para o ensino normal e
especialistas para as atividades de administração, supervisão,
orientação e inspeção, para atuarem nas escolas e sistemas
escolares, o que resultou na formação de um licenciado com
modalidades diferentes de habilitações.
O currículo era constituído de uma parte comum a to-
das as habilitações e de outra diversificada, em função de cada
habilitação específica.
A Comissão de Especialistas do Ensino de Pedagogia,
em 2001, enfatizou que a docência na educação infantil e nos
anos iniciais do ensino fundamental era a base da organiza-
ção curricular e da identidade profissional do pedagogo.
123
Bibliografia
BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, pedagogos e formação de professores:
busca e movimento. Campinas: Papirus, 1996.
BRASIL. Poder Executivo. Decreto-lei n. 1.190, de 4/4/1939.
Dá organização à Faculdade Nacional de Filosofia. In:
Nobrega, V. Enciclopédia da legislação do ensino. São Paulo: Em-
presa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1952, p. 562-570.
CHAGAS, Valnir. Parecer 251/62. Documenta. Rio de Janeiro:
MEC/Inep, 1962.
________. Parecer 292/62 . Documenta. Rio de Janeiro:
MEC/Inep, 1962.
LEITE, Denise. Pedagogia universitária: conhecimento, ética e
política no ensino superior. Porto Alegre: Ufrgs, 1999.
UNIFRA. Plano de desenvolvimento institucional: 2003-
2007. Santa Maria: Unifra, 2002.
126
Introdução
Para se conhecer as trajetórias e o contexto de forma-
ção dos professores do curso de Pedagogia da Faculdade
Imaculada Conceição - FIC, hoje Centro Universitário Francis-
cano de Santa Maria, foram entrevistadas algumas professo-
ras que realizaram o seu curso de Pedagogia nesta instituição,
entre 1960 e 2000.
Num primeiro momento, foram delineados os focos de
interesse a desvendar na investigação, considerando o objeti-
vo de apresentar a trajetória e o contexto de formação dos
professores no período referido. À medida em que o contex-
to toma forma, outros indicadores se apresentam, como o
delineamento transformativo do próprio processo formativo
ao longo da história.
Partindo desses objetivos, elaborou-se um roteiro de
entrevistas e logo realizaram-se as mesmas com as professo-
ras. Os dados coletados apontaram-nos o caminho teórico a
1
ser utilizado, resultando no texto que segue. Doutoranda em
Educação na
Universidade Federal
História de vida escolar: revisitando a formação de Santa Catarina.
por meio da memória
Contar a história e o contexto de formação dos professo- 2
Professora no Centro
res de Pedagogia ao longo de cinqüenta anos, requer o retorno a Universitário
Franciscano, mestre
um tempo e a um espaço que fizeram parte da vida pessoal e em Educação.
127
Bibliografia
CATANI, Denice Barbara. Lembrar, narrar, escrever: memória
e autobiografia em história da educação e em processos de
formação. In: BARBOSA, Raquel Lazzari Leite. Formação de
educadores: desafios e perspectivas. São Paulo: Unesp, 2003.
FRAGO, Antonio Vinão; ESCOLANO, Agustín. Currículo,
espaço e subjetividade: a arquitetura como programa. Rio de Janeiro:
DP&A, 2001.
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NUNES, Clarice. Memória e história da educação: entre prá-
ticas e representações. In: BARBOSA, Raquel Lazzari Leite.
Formação de educadores: desafios e perspectivas. São Paulo: Unesp,
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TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional.
Petrópolis: Vozes, 2002.
136
5
Para o levantamento
dos dados e a
organização dos
gráficos colaborou o
aluno bolsista Fabiano
Silveira Machado.
143
Bibliografia
SILVA, Maria Virgínia dos Santos. FIC: 1955-1995: 40 anos de
história. Santa Maria: Pallotti, 1997.
VERISSIMO, Erico. Solo de clarineta I. Porto Alegre: Globo,
1978. p. ii.
Depoimentos
A apresentamos aqui alguns depoimentos de professo-
res egressos dos cursos de Letras da FIC.
Cecília Meireles
Introdução
1953: a vida literária e cultural brasileira sofria com as
mortes do grande romancista Graciliano Ramos e do poeta
místico Jorge de Lima. Mas, como uma espécie de luz para
confortar tão obscuro e triste momento, Cecília Meireles pu- 1
blica, nesse mesmo ano, o que é considerado um dos mais Professora no Centro
Universitário
belos textos em defesa da Liberdade, o Romanceiro da Inconfi- Franciscano de Santa
dência. Maria, doutora em
Letras.
O Brasil dos anos 1950 via-se às voltas com a política
de Vargas, o mesmo governo que, quatorze anos antes, fora o 2
Professora no Centro
responsável pela prisão do autor de Memórias do cárcere. Agora, Universitário
sob a via democrática, instaurava-se, revigorado, o naciona- Franciscano de Santa
Maria, mestre em
lismo getulista: 1953 foi o ano de criação da Petrobrás. Letras.
Ao comemorar-se os 50 anos do Centro Universitário
3
Franciscano de Santa Maria, o curso de Letras, por intermé- Professora no Centro
dio da equipe responsável pela docência e pesquisa no campo Universitário
Franciscano de Santa
da Literatura pretende, retomando alguns fios deste vasto te- Maria, doutoranda em
cido que compõe o passado de nossa realidade histórico-cul- Letras.
161
O reinado do Estruturalismo
Os anos 1960 assistiram à afirmação das propostas teó-
ricas do Estruturalismo de Jakobson a Barthes, a moda es-
truturalista ditava o caminho da análise literária. No Brasil,
no entanto, somente a partir de 1970 iniciava-se com mais
força esse direcionamento teórico. Afonso Romano de
SantAnna, em 1973, no seu livro Análise estrutural de romances
brasileiros, assim identificou a situação:
quando em 1970 iniciei os cursos de pós-graduação
em Literatura Brasileira na PUCRJ, foi impossível
localizar material que exemplificasse a aplicação do
método estruturalista em narrativas brasileiras. Tudo
eram discussões teóricas rebarbativas em revistas de
divulgação (1984, p. 11).
Bibliografia
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momen-
tos decisivos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.
CULLER, Jonathan. Teoria literária: uma introdução. São Pau-
lo: Becca, 1999.
SANTANNA, Affonso Romano de. Análise estrutural de ro-
mances brasileiros. Petrópolis: Vozes, 1984.
167
Bibliografia
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais: História. Brasília: MEC/SEF, 1998.
_____. Diretrizes curriculares para cursos de história. Brasília: MEC. 2001.
_____. Diretrizes curriculares para formação de professores. Brasília:
MEC. 2002.
KARNAL, Leandro. A história na sala de aula: conceitos, práti-
cas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003.
UNIFRA. Projeto pedagógico do curso de História. Santa Maria:
Unifra, 2004.
_____. Livros do arquivo. Números 6/1961, 31/1963, 34/1964,
43/1968 e 44/1969.
184
Carga
Semestre Disciplina horária
1º História do Pensamento Geográfico 60
Cartografia Geral 60
Geografia Física 60
Geografia Humana 60
Psicologia da Educação 60
2º Cartografia Temática 60
Didática Geral 60
Geografia do Brasil I 60
Fundamentos Pedagógicos de Informática 60
Metodologia da Pesquisa em Geografia 60
Antropologia e Cosmovisão Franciscana 30
3º Políticas Educacionais e Gestão Escolar 60
Climatologia Geral 60
Geologia Geral 60
Geografia do Brasil II 60
Estatística 30
Introdução à Educação Especial 60
ACC I 30
4º Geografia e Turismo 30
Hidrologia 30
Climatologia Dinâmica 60
Geomorfologia Geral 60
Geografia Ambiental 30
Fundamentos Históricos e Filosóficos
da Educação 60
Optativa I 45
200
Disciplinas optativas
Disciplina Carga horária
Redação Acadêmica 45h
Mineralogia e Petrografia 45h
História da Formação Territorial do Brasil 45h
Metodologia do Ensino Fundamental 45h
Avaliação da Aprendizagem 45h
Sensoriamento Remoto 45h
Educação e Legislação Ambiental 45h
Pedologia 45h
Considerações finais
A Geografia tem por objeto descrever a Terra, assinalar as
diversidades e demonstrar que as relações dos homens com o
ambiente se modificaram no decorrer dos tempos. O processo
de civilização está em marcha. A Geografia é o saber indispensá-
vel para a leitura da trajetória dessa marcha, pois o espaço geo-
gráfico é formado por essa trama de objetos, pelos fluxos que
neles se apóiam e os transformam e pelo substrato biofísico.
Os cursos de Geografia fornecem assim os instrumen-
tos conceituais para a leitura e interpretação da marcha que a
sociedade e os processos naturais imprimem na superfície
terrestre. Seu objeto é o espaço construído pelas sociedades,
pleno de drama e trama.
No Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, o
curso de Geografia tem por referência o interesse pela cons-
trução de uma sociedade verdadeiramente democrática.
203
Bibliografia
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais: Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1998.
_____. Diretrizes curriculares para cursos de geografia. Brasília: MEC,
2001.
_____. Diretrizes curriculares para formação de professores. Brasília:
MEC, 2002.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Pequena história crítica. São
Paulo: Hucitec/Edusp, 1989.
PONTUSCHKA, Nídia Nacib. Novos caminhos da geografia. São
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UNIFRA. Projeto pedagógico do curso de Geografia. Santa Maria:
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_____. Pró-Reitoria de Graduação: relatório de gestão 1999-2002.
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205
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LIMA, Elon Lages. Matemática e ensino. Rio de Janeiro: SBM,
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VALENTE, Wagner Rodrigues (org.). Euclides Roxo e a moder-
nização do ensino de matemática no Brasil. São Paulo: Sbem, 2003.
218
Introdução
Desde o ano de 2000, o Centro Universitário Franciscano
de Santa Maria desenvolve um projeto de formação de professo-
res para a educação básica em convênio com prefeituras munici-
pais da região Centro do estado do Rio Grande do Sul. Esse pro-
jeto se caracteriza pela oferta dos cursos de graduação em Pedago-
gia, com habilitação para os anos iniciais do ensino fundamental,
História, Letras e Geografia, com calendário de freqüência às aulas
diferenciado e pelo valor reduzido dos encargos educacionais.
Proponho-me a fazer um relato da experiência desenvol-
vida no âmbito do curso de Pedagogia e apresentar alguns re-
sultados obtidos. Isso pode subsidiar as discussões sobre a for-
mação de professores que, porventura, venham a desenrolar-
se no âmbito da instituição. Como a maioria dos relatos, este
também é parcial, tanto em função da seleção que fiz dos as-
pectos considerados relevantes para relatar, quanto em função
das interdições às quais o discurso proposto está submetido.
1
Professor no Centro
Breve histórico Universitário
É consenso que uma adequada formação dos profissi- Franciscano de Santa
Maria, mestre em
onais do magistério constitui-se num dos elementos funda- Educação.
219
A concepção do curso
O projeto educativo proposto para o curso de Pedago-
gia: Magistério dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental foi
estruturado a partir das diretrizes curriculares para os cursos
de formação de professores, na sua versão de 1999, que pos-
teriormente sofreria significativas reformulações, e a partir
do pressuposto de que a docência nos anos iniciais do ensino
fundamental constitui-se na base da identidade profissional
do aluno formado pelo curso.
De acordo com o projeto educativo, o curso tinha como
objetivo geral formar professores em nível superior, para atu-
arem nos anos iniciais do ensino fundamental, e como objeti-
vos específicos:
a) formar professores com conhecimento dos anos ini-
ciais da formação básica, mediante o desenvolvimen-
to da capacidade de aprender, tendo como meios bá-
sicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálcu-
lo; a compreensão do ambiente natural e social, do
sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
em que se fundamenta a sociedade; o desenvolvimen-
to da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a
aquisição de conhecimentos e habilidades, a formação
de atitudes e valores e o fortalecimento dos vínculos
de família, dos laços de solidariedade humana e de to-
lerância recíproca em que se assenta a vida social;
b) formar profissionais com visão global, crítica e
humanística para a inserção em setores profissionais,
aptos a tomar decisões em um mundo diversificado e
interdependente, e para a participação ativa no desen-
volvimento e transformação da sociedade brasileira;
c) incentivar a investigação científica, com vistas ao de-
senvolvimento da ciência e da tecnologia, bem como
à difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o
entendimento do homem e do meio em que vive;
d) estimular o conhecimento dos problemas do mundo
presente, em particular dos regionais, comprometen-
do-se com os mesmos, prestar serviços especializados
à comunidade e estabelecer com esta uma relação de
reciprocidade;
226
d) Estágio supervisionado9
O estágio supervisionado foi desenvolvido em sete pro-
jetos de estágio, ofertados do primeiro ao sétimo semestre
letivo, com um total de 300 horas de atividades pedagógico-
científicas e teórico-práticas. No decorrer do curso, foram
9 realizadas atividades preparatórias de prática de ensino, que
Os comentários sobre
o estágio
buscavam oportunizar o conhecimento de diferentes realida-
supervisionado feitos des e situações de experiências em escolas e instituições.
a seguir integram o
projeto pedagógico do
O projeto educativo do curso pressupunha que o está-
curso e são, portanto, gio curricular constituía-se num componente fundamental
de domínio público.
Foram originalmente para uma adequada formação de professores. Tinha como
publicados por um dos seus principais objetivos proporcionar o conhecimento
BORGES, Zelma
Santos. Estágio da realidade profissional e oportunizar a realização de ativi-
curricular: atividade dades didático-pedagógicas com vistas a estabelecer a relação
teórico-prática. In:
QUADROS, teoria-prática.
Claudemir;
AZAMBUJA, Guacira.
Em vista disso, as atividades desenvolvidas no âmbito
Formação de professores do estágio supervisionado do curso buscavam proporcionar
em serviço: a experiência
da Unifra. Santa
ao educando uma visão concreta da realidade educacional,
Maria: Unifra, 2002. uma associação entre universidade, escola e comunidade, pela
230
Projeto de Estágio I
No decorrer do Projeto de Estágio I buscava-se o co-
nhecimento global da realidade escolar, objeto de estágio,
constituindo-se num instrumento de integração e conheci-
mento do aluno com a realidade sociocultural.
Foram realizadas atividades vinculadas à observação da
escola em seus aspectos:
a) técnico-administrativo, corpo docente, setores e insti-
tuições;
b) técnico-pedagógica, referente à proposta pedagógica,
reuniões, integração família-escola, freqüência escolar,
condições materiais da escola e forma de acompanha-
mento do funcionamento do ensino fundamental;
c) características da clientela do ensino fundamental, em
especial aquelas vinculadas ao número de alunos por
turma, faixa etária, situação econômica, procedência
dos alunos, atividades, habilidades e competências dos
alunos, modalidade para a organização das turmas,
estrutura familiar, problemas mais freqüentes eviden-
ciados pelos alunos e outros aspectos significativos;
d) características da comunidade, focalizando o nível
socioeconômico, atividades comerciais, condições de
higiene e saúde, recursos disponíveis na comunidade
e utilizados pela escola, participação e integração da
comunidade nas atividades da escola.
231
Projeto de Estágio II
O Projeto de Estágio II caracterizava-se pela observa-
ção e análise de aulas ou atividades didáticas de componentes
curriculares, visando aos princípios do planejamento educa-
cional e às etapas para a elaboração de um projeto.
Nesta fase, é importante destacar a iniciação à pesquisa
e ao ensino, sendo o momento de analisar a proposta didáti-
co-pedagógica do professor regente de classe. Como fecha-
mento do projeto, o estagiário apresentava a proposta didáti-
ca referente aos componentes curriculares em nível de sala
de aula e de comunidade escolar.
Projeto de Estágio IV
O Projeto de Estágio IV tinha como objetivo analisar e
refletir sobre a realidade das turmas, objeto de regência de
classe e elaborar o projeto de regência de classe com base nas
prioridades e eixos temáticos definidos pela escola.
Para a elaboração do projeto de regência da classe fo-
ram realizadas atividades como análise da proposta de está-
gio do curso; análise do contexto sociocultural dos alunos e
da comunidade escolar; análise das etapas de um planejamen-
to; seleção e organização dos conteúdos escolares; determi-
232
Projeto de Estágio V
No Projeto de Estágio V a meta era a elaboração de
plano-roteiro de atividades com base na realidade sociocultural
e realidade pedagógica da comunidade escolar.
Após estudo, orientação, análise e reflexão do planeja-
mento, o estagiário, tendo como base o projeto de regência
de classe realizado no Projeto de Estágio IV, organizava o
plano-roteiro de atividades para os anos iniciais do ensino
fundamental.
Projeto de Estágio VI
O Projeto de Estágio VI tinha como finalidade a regên-
cia de classe nos anos iniciais do ensino fundamental. O obje-
tivo deste projeto era integrar o estagiário na atividade do-
cente e no contexto de uma determinada realidade.
233
para outros
o curso teve seus altos e baixos. Pode-se dizer que
contribuiu no que diz respeito aos conhecimentos, à
teoria, abrindo portas para o novo. Já na prática al-
gumas coisas poderiam ter sido trabalhadas de ma-
neira diferente, algo que acrescentasse novidades,
pois, nesse curso, os professores, que são alunos, já
têm uma ampla bagagem com a experiência adquiri-
da durante anos de trabalho na sala de aula (Maria).
10
Nós já tínhamos a prática. Nada era novo; faltou por Todos os nomes são
parte dos orientadores inovar (Gecira). fictícios.
235
Bibliografia
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CNE. Proposta de Diretrizes para a formação Inicial de Professores da
256
Contextualização
Em dezembro de 1999, a Pró-Reitoria de Graduação
do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria criou o
Comitê das Licenciaturas, regulamentado, em 26 de janeiro
de 2000, pela portaria n. 2/2000. Ao longo desse ano, os re-
presentantes, professores das áreas de ensino e da Pró-Reito-
ria de Graduação discutiam, fundamentalmente, formas e
ações para auxiliar a Pró-Reitoria de Graduação na implanta-
ção de políticas específicas para os cursos de licenciatura
mantidos pela Unifra.
Vários foram os objetivos. Entre eles, a idéia de consti-
tuir um fórum permanente de discussão, para assuntos peda-
gógicos, dos cursos de formação de professores, a iniciativa
de propor programas de financiamento às ações relevantes
dos cursos de licenciatura e a atitude de sugerir novas alterna-
tivas a velhos problemas no contexto da realidade dos cursos.
Diante dessa ampla atividade, considerando que as pro-
postas e ações são naturalmente parciais, embora vividas e
apresentadas como globais, o comitê priorizou, no primeiro
semestre de 2000, o levantamento de um diagnóstico dos
1
cursos de licenciatura, em âmbito do Centro Universitário, Professora no Centro
partindo de dados sobre as matrículas, concurso vestibular, Universitário
Franciscano, mestre
corpo docente e avaliação institucional para, em momento em Letras.
259
Palavras finais
Como a sociedade brasileira, dadas as suas dificuldades,
atribui à escola a responsabilidade maior da formação, move-
nos a certeza de que o domínio da cultura letrada abre a cada
um possibilidades de compreensão do real e de exercício da
cidadania. Por essa razão, aqueles que se envolvem com a
educação precisam estar cientes de seu compromisso, porque
só transmitimos um valor quando temos consciência dele,
quando estamos legitimamente convencidos de sua impor-
tância. Assim, no contexto dinâmico desses debates, o Comi-
tê, ao longo do ano 2000, acompanhou as discussões, pro-
moveu encontros sobre o tema formação de professores e
foi cauteloso na tomada de decisões. Desse momento até o
presente, passaram-se quatro anos. No entanto, parece de
consenso geral que é necessário assegurar à formação de pro-
fessores o compromisso com questões pedagógicas, com as
especificidades de cada área, com a formação inicial e conti-
nuada, com o ensino vinculado à pesquisa e à extensão, com
o projeto pedagógico específico para a formação de profes-
sores e seu vínculo com questões universitárias.
Embora o Comitê tenha desenvolvido suas atividades
apenas durante dois anos, o desafio de refletir sobre o papel
das licenciaturas é permanente no Centro Universitário
Franciscano de Santa Maria, com o intuito de integrar os di-
ferentes níveis de ensino universitário e fomentar, no dia-a-
dia, novas e inusitadas reflexões sobre as competências, direi-
tos, deveres e necessidades que referem o universo dos cur-
sos de formação de professores. Pouco a pouco, os lucros da
experiência pessoal vão se estendendo ao social, porque as
pessoas estão inseridas necessariamente em um grupo e com
264
Bibliografia
AGUIAR, Vera Teixeira de (Org.) Era uma vez... na escola: for-
mando educadores para formar leitores. Belo Horizonte: For-
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266
Introdução
A história institucional do Centro Universitário Francis-
cano de Santa Maria destaca-se pela oferta à comunidade santa-
mariense e região de cursos de pós-graduação lato sensu.
O Centro Universitário Franciscano de Santa Maria re-
alizou significativos avanços na construção do conhecimen-
to, que se aprimora e se especializa em diversos cursos de
graduação e especialização. Ao concluir um curso de gradua-
ção, começa-se a desvendar o significado dos conhecimentos
adquiridos e a surgir dúvidas, processo necessário e pedagó- 1
gico. Para Peirce (1972), dúvida é o começo para que se inicie Professora no Centro
Universitário
a investigação, a pesquisa; é, portanto, um processo de novas Franciscano de Santa
Maria, especialista em
descobertas, é o conhecimento que começa a se solidificar Supervisão e
pela escolha de um curso que complemente a investigação Administração
Escolar.
iniciada em nível de graduação.
Especializar-se é dar um novo significado à dúvida que 2
ficou. Significar, portanto, é descobrir novos conhecimentos, Professora no Centro
Universitário
é entrelaçá-los, interdiscipliná-los e criar, assim, novos pro- Franciscano de Santa
Maria, especialista em
cessos epistemológicos entre teoria e prática. Significar os sig- Administração
nos, para eliminar as dúvidas sintáticas, semânticas e pragmá- Escolar.
267
Considerações finais
O Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, na
sua proposta institucional, destaca a necessidade de atualiza-
ção de professores e alunos, bem como o aprofundamento
do conhecimento, dentro do contexto atual, e a importância
da educação continuada.
Na definição quanto à oferta de cursos de pós-gradua-
ção lato sensu, parte-se de um levantamento das necessidades
evidenciadas no processo educativo nas diferentes organiza-
ções. Assim, procuram propiciar condições que favoreçam a
formação de competências indispensáveis aos profissionais
qualificados.
Escrever sobre os cursos de especialização, ligados à
Pedagogia, isto é, à complementação e enriquecimento do
fazer pedagógico na sua ação-reflexão-ação, deve ser visto
como necessário a todo educador, pois todos devem saber
que a educação é contínua para professores e alunos e que o
fazer pedagógico depende dos currículos que são construídos
nos contextos da comunidade educacional.
Não se pode descrevê-los em suas riquezas significadas
em seus conteúdos, porque todo profissional seleciona e es-
colhe as linhas de pesquisas de acordo com suas habilidades,
porém uma certeza fica, a de que, ao se freqüentar um curso
de especialização no Centro Universitário Franciscano de Santa
Maria, ficar-se-á mais humano, porque levar-se-á a filosofia
franciscana por meio de teias invisíveis que se entrelaçarão
no ato pedagógico e ficará sempre a mensagem de Paz e
Bem, que caminhará continuamente, aperfeiçoando-se nas
ações pedagógicas ou na construção dos conhecimentos.
281
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WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade. 3 ed., São Paulo:
Cultrix, 1972.
283
Introdução
O texto ora apresentado foi suscitado pelo desejo de
sistematizar algumas reflexões sobre a formação de profes-
sores, em especial professores de Filosofia, e pela reformulação
curricular do curso de licenciatura em Filosofia do Centro
Universitário Franciscano de Santa Maria, ocorrida em 2002,
diante da adequação do curso às diretrizes curriculares nacio-
nais para a formação de professores da educação básica.
As reflexões aqui sistematizadas refletem basicamente
uma leitura das diretrizes curriculares para formação de pro-
fessores e das diretrizes curriculares para os cursos de gradu-
ação em Filosofia, e uma análise do parecer CNE/CP n. 9/
2001. Com efeito, esse parecer, que dá sustentação às diretri-
zes para formação de professores, levantou várias questões
a serem enfrentadas na formação de professores e, conse-
qüentemente, na revisão/reformulação curricular dos cursos
de licenciatura, que tiveram que ser adaptados às diretrizes.
Professora no Centro
1 Essas questões, no referido documento, são classificadas em
Universitário dois segmentos, um que diz respeito às questões do campo
Franciscano de Santa
Maria, mestre em
institucional e outro que concerne às questões referentes ao
Filosofia. campo curricular. Entre as questões problemáticas no campo
284
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311
Educação superior:
inquietações e perspectivas
Iraní Rupolo1
Dimensão institucional
O Centro Universitário Franciscano de Santa Maria al-
cança seu cinqüentenário e sua maior atuação situa-se na se-
gunda metade do século XX, período de intensas mudanças
na sociedade brasileira.
A trajetória desses 50 anos, tendo-se em conta as cir-
cunstâncias históricas, resulta em uma experiência conside-
rável, porque cada realidade institucional é singular em seu
processo de proposta educativa, gestão, sustentabilidade e
necessária inovação, a fim de que possa corresponder aos
novos tempos da educação e da sociedade.
Se tomarmos como ponto de análise, comparativamen-
te, o tempo desde o início da colonização da América Latina,
meio milênio não poderá ser contado às instituições educacio-
1 nais deste país, uma vez que a escolaridade da população foi,
Reitora do Centro
Universitário rigorosamente controlada, com vistas à manutenção do domí-
Franciscano de Santa
Maria, mestre em
nio civilizatório, do qual carregamos as conseqüências, como a
Educação. fácil submissão, o pensamento educacional tímido e a depen-
312
Compromisso e perspectivas
São plenas de saber as declarações e documentos da
Unesco para a educação superior. Singularmente a Declara-
ção Mundial sobre a Educação Superior no Século XXI, em
seu preâmbulo, afirma:
A própria educação superior é confrontada, portanto,
com desafios consideráveis e tem de proceder à mais
radical mudança e renovação que porventura lhe te-
nha sido exigido empreender, para que nossa socieda-
de atualmente vivendo uma profunda crise de valores,
possa transcender as meras considerações econômi-
cas e incorporar as dimensões fundamentais da
moralidade e da espiritualidade (Anais, 1999, p. 18).
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