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O Commendador Jodo Gabriel A origem do nome Acre SOARES BULCAO — “Foi, entio, que o arrojado aventu- reiro esereveu ao seu correspondente, aviador, uma carta avizando-o da exploragéio, e, a0 mesmo tempo, lhe pedia um earregamento de mereadorias que deviam ser destinadas—caso o vapor podesse até 14 chegar — 4 Bocea do rio Aquiry, Essa carta — como facilmente se deve prever — no era propriamente eseripta — era garatujada! Homem rude, do povo, sem nenhuma instruegdio, ja era muito que podesse guratu- jar uma carta! No eseriptorio de Belem, 0 empregado da correspondencia passou, por certo, um bom quarto de hora a decifrar os hiéroglyphos ¢ misterios orthographicos da missiva commer- cial, Comprehendeu-lhe, afinal, a significa- g8o, destringou-lhe o sentide e communicou ao chefe da cxsa os desejos e pedidos do aviade do Puris — Jo&o Gabriel. Um voeabulo, porom, da carta ficou sem significagdo —~ era o nome do rio. HE como era preciso que seguissem as mercadorias, fi- cou decidido que o tal nome indecifravel fi- caria sendo, condicionalmente, “A Bocea do Rio Acre”, (“O Matute Cearense e 0 Caboclo do Par”) JOSH’ CARVALHO, 26 Revista TRIMENSAL — “Com a attitude desassombrada do Com- mendador Jo&o Gabriel, 0 Commandunte © repa mantinha-se sem trocar palavra, e 20 ser posto em terra o ultimo volume, j “Anajaz” estava ajustado para deseer, de sor- te que foi As pressas que 0 commendador es- ereveu ao Visconde de Santo Hlias, ¢ apezar de ter bon lotra, tacs garatujas imprimiu que @ sua carta, no escriptorio do Para, pasaan- do de mio em mio, para se verifiesr o nome do lugar, fot decifrado — Acre ¢ 0 rio Aquiry passon a ser mosmo Acre. “Q Acre ¢ os seus herocs”” pag.35. NAPOLEAO RIBEIRO José Carvalho, o ilustre folk-lorista conterra- neo, no seu interessante livro “O matuto cearense e 0 caboclo do Para”, que sé agora tive o prazer de ler, reedita 4s pags. 147, com pequenas modificagdes, um seu artigo sob aquella sub-epigrafe, j4 publicado em 1917, no numero 2416 do “Unitario”’, de Joao Brigido, © qual ja eu conhecia, lido naquelle tempo, quando ainda me no preoccupavam os estudos de historia e genealogia, a que me tenho entregue ultimamente. Tradiccionalista emerito como é o illustre au tor do livro, escrevendo folk lore, assumpto que nao demanda documentacio, é natural que se restrinja a reproduzir e divulgar, com a simplicidade e clareza do seu estylo despretencioso, o que lhe trazem a tra- dic&o oral e as informacées, mais ou menos fantasia- das, que lhe sAo transmittidas, com minuncias e epi- sodios interessantes, mas sem a autenticidade das pro- vas, ou a preoccupacio de chronologia, elementos es- senciaes para o estudo da historia. Dahi certas lacunas que se encontram em alguns de seus escriptos, enfeixados naquelle livro, especi- almente neste, a que ora me refiro, e do qual, com a permissio que Ihe peco, desejo tratar com os eclemen- tos historicos de que disponho. vo INSTITUTO DO CEARA 27 © assumpto, especialmente a parte referente 4 pesséa de Joao Gabriel, muito me interessa particu- larmente, por ser elle meu conterraneo, e caber-Ihe a primazia de ter sido o primeiro cearense emigrado para o interior do Amazonas, e 0 iniciador das cor- rentes emigratorias que se succederam, desde as grandes seccas de 1845 e 1877, para aquella provin- cia. Delle, pois, vou tratar com mais minunciosidade, pedindo, desde ja, um pouco de longanimidade aos leitores, visto que o assumpto, sendo de pouco inte- resse para o publico, exige, entretanto, prolixidade e documentacao. Joao Gabriel de Carvalho e Mello, que nasceu em 1820, era filho de José Gabriel de Mello e Roza Maria de Jesus, casados em janeiro de 1816, aquelle filho de Aleixo Celso de Moura e Francisca Antonia da Palma, e esta filha de Joio Vidal de Carvalho e Barbara Maria da Conceicao. Casou elle em 1843 com sua prima Mariana Paz de Avila, nascida em janeiro de 1824, filha de Antonio Paz de Avila e Jacintha Maria de Jesus, casados em janeiro de 1808; elle filho de Lourenco Paz de Avila e Josefa Maria e ella filha daquelles Jofo Vidal e Barbara; portanto, irmé de Roza. Eram, assim, primos legitimos. Familia numerosissima, toda residente na serra de Uruburetama, especialmente na regiao do sitio Mundaht, com fazendas no Aracaty-assu, onde inver- navam e exploravam a pecuaria em pequena escala, mas com certa independencia. Os paes de Joao Gabriel tiveram 12 filhos e os de Mariana Paz, sua mulher, 11; os avés, Aleixo Cel- so de Moura 5, e Joao Vidal de Carvalho 12, todos casados e com geracio. Era, portanto, uma verdadeira tribu, entrelaga- da com muitas familias daquella zona.

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