Ontem, meu professor de exegese despertou minha curiosidade ao
dizer que, na narrativa do evangelho que trata do diálogo entre Jesus e o ladrão arrependido, há no original grego a palavra amém, que não consta de nossas traduções. Então, resolvi dar uma olhada no texto, e vi que a palavra que foi traduzida por “em verdade”, nas nossas bíblias, é realmente a palavra amém. Mas, qual o sentido dela ali? Leia o texto em Lc. 23:39-43. Jesus foi crucificado entre dois ladrões, e neles estavam representados os diferentes efeitos da cruz de Cristo sobre os filhos dos homens, aos quais ela seria mostrada através da pregação do evangelho. Ambos eram malfeitores, ambos culpados diante de Deus. E a cruz de Cristo se torna para um deles, salvação para a vida, e para o outro, condenação para a morte. “Para os que perecem” ela é loucura, mas para nós que somos salvos “é poder de Deus” (1Co 1:18). Um dos malfeitores, embora estivesse em meio a dores e agonia, atravessando o vale da sombra da morte, não humilha seu orgulhoso espírito; antes, desafia Jesus a salvar-se a si próprio, e também a eles dois. Existem pessoas que têm a ousadia de ofender a Cristo e, contudo, esperam ser salvas por Ele, como se Ele fosse obrigado a isso, para ser reconhecido como o Salvador. E aqui está o outro malfeitor, seu coração maravilhosamente transformado, quando estava já a ponto de cair nas garras de Satanás, transformado em um monumento da divina graça e perdão. Isto, no entanto, não quer dizer que se deve deixar para a hora da morte o momento do arrependimento, ou esperar que Deus tenha misericórdia no último momento, pois embora seja correto que nunca é tarde para o verdadeiro arrependimento, também é certo que o arrependimento tardio raramente é verdadeiro. Ninguém pode estar certo de que terá tempo suficiente para se arrepender antes da morte, embora todos possam estar certos de que não terão as mesmas vantagens que o ladrão arrependido teve, pois o caso dele é também extraordinário. Veremos que seu caso é extraordinário se observarmos as extraordinárias operações da graça de Deus sobre ele, a qual transparece através do que ele disse: Primeiramente, ele reprovou o outro malfeitor (vs. 40, 41) por ter ofendido a Jesus; disse que ele não tinha temor de Deus. Isto quer dizer que foi o temor que ele tinha de Deus que o fez desistir de fazer o mesmo que a multidão estava fazendo com Jesus. Depois, ele reconhece que eles mereciam o castigo que lhes estava sendo imposto, e também reconhece que Jesus tinha sido erroneamente condenado (vs. 41). Os principais sacerdotes podiam tê-lO crucificado entre eles, mas Ele não era um deles.Se este malfeitor tinha ouvido anteriormente sobre Jesus ou não, não está relatado, mas o Espírito de Graça o iluminou com este entendimento, e o capacitou dizer: “mas este nenhum mal fez”. Em segundo lugar, olhe o que ele disse para o Senhor Jesus: “lembra-te de mim quando vieres no teu reino”(vs. 42). Esta é a oração de um pecador moribundo a um Salvador moribundo. Embora Jesus estivesse sobre a cruz, reprovado e desprezado pelos homens, Ele foi honrado com esta oração. Talvez aquele ladrão nunca tivesse orado antes, mas, para sua felicidade, sua oração foi ouvida, e ele foi salvo no último momento. Enquanto há vida, há esperança, e enquanto há esperança, há espaço para a oração. Observe a humildade de sua oração. Ele não pediu “dê-me a preferência” no sentido de “permita que eu me assente à sua direita, ou à sua esquerda” (Mt. 20:21). Tudo o que ele implora do Cristo é “Senhor, lembra-te de mim”, “lembra-te de mim e prepare um lugar para mim; lembra-te de mim na morte, e lembra-te de mim na ressurreição” (veja Jo.14:13). Jesus lhe disse, em resposta à sua oração: “Amém”,( isto é, “Eu, o Amém, a fiel testemunha, eu digo amém a esta oração, digo: ‘assim seja’). Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. A quem isto foi dito? Ao ladrão arrependido, e não ao seu companheiro. Cristo, na cruz é como Cristo no trono; agora é chegado o julgamento deste mundo: um carrega consigo a maldição, o outro, a bênção. Até mesmo grandes pecadores, quando se tornam verdadeiramente arrependidos, obtêm, não apenas o perdão de seus pecados, mas um lugar no paraíso de Deus. Por quem isto foi dito? Por esta palavra nos é dado compreender que Jesus Cristo morreu para abrir o reino dos céus a todos os verdadeiramente arrependidos. Cristo aqui nos deixa entender que ele próprio estava indo para o paraíso. Ele revela a todos os que se arrependem que eles, quando morrerem, estarão com Ele lá. Ele estava ali como sacerdote, adquirindo esta felicidade para eles, e está pronto, como rei, a entregá-la àqueles que estiverem preparados e prontos para ela. No paraíso, aludindo ao jardim do Éden (Ap. 2:7), no qual nossos primeiros pais foram colocados quando eles eram inocentes. No segundo Adão nós somos restaurados em tudo aquilo que tínhamos perdido no primeiro Adão, e mais, a um paraíso celestial, em vez de um terrestre. Esta é a felicidade do céu, ver Cristo, e sentar com ele, e compartilhar de sua glória (Jo. 17:24).