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Os alunos do 6ºF, na disciplina de História e Geografia de Portugal,

elaboraram alguns textos subordinados ao tema Vida na cidade no século


XIX. Seguem-se alguns desses mesmos textos.

Porto, 16 de Março de 1887

Olá, amigo Joaquim, como tens passado? Continuas a pastorear as ovelhas, de manhã à
noite? E ainda não vais à escola, continua a ser só para os meninos ricos, filhos dos
lavradores?
Os meus pais tiveram de vir embora, porque ficaram sem trabalho, a ceifeira a vapor
roubou-lhes o emprego. Esperavam encontrar melhores condições de vida aqui e até
pensavam pôr-me na escola, porque tenho 10 anos e eles queriam que eu aprendesse a ler e
a escrever, mas não foi possível, por isso pedi ao meu vizinho, que veio do Brasil, para te
escrever esta carta por mim, agora com os correios é mais fácil comunicarmos com quem
está longe.
A vida na cidade não é melhor do que a do campo.
Os meus pais arranjaram trabalho numa fábrica muito grande chamada “Tecidos a
Vapor” mas os ordenados são muito baixos e eu fui obrigado a vir trabalhar com eles, para os
poder ajudar nas despesas.
O meu trabalho é mover e controlar a alavanca que faz com que as máquinas
trabalhem. Tenho de estar sempre em pé e não me posso distrair, senão todas as máquinas
da fábrica podem parar.
Trabalho muitas horas, entro às 5h da manhã e só saio depois das 19h. Apenas
paramos meia hora para almoçar, comemos pouco, porque não há dinheiro, nem tempo para
mais, habitualmente é pão com azeitonas ou com peixe frito.
O ambiente dentro da fábrica é muito mau, é abafado e muito barulhento. Um senhor
que trabalha ao meu lado a dobrar os tecidos já está surdo, tanto é o barulho!
Hoje posso escrever-te porque não fui trabalhar. Estamos a fazer greve para tentarmos
ter melhores condições de trabalho e por isso estou sentado, com o meu amigo Simão, num
muro à entrada da fábrica. Daqui posso ver as chaminés da fábrica que, cá de baixo, parecem
enormes. Ainda não tinha tido tempo para observar a paisagem: há muito fumo, barulho e
confusão. Não se ouvem os passarinhos nem as cigarras. Não há flores nem árvores para nos
dar sombra. Não se vêem borboletas. A cidade é um lugar muito triste.
Olha, amigo Joaquim, parece que a greve acabou, estão a chamar-nos para voltarmos
ao trabalho.
Não me parece que nos voltemos a ver nos próximos tempos.

Despeço-me, enviando-te um abraço cheio de saudades.

O teu amigo

João
Rafael Neves, nº16

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