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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEIVTTAQÁO
DA EDipÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
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ANO XXXVI MAIO 1995 396

Mae de Deus

O Homem do Ano de 1994

"Os Ladroes de Deus" por María Winowska

"Breve Historia dos Batistas" por J. Reis Pereira

A Renovacao Carismática Católica (RCC)

"O Purgatorio" por Dolindo Ruotolo


PERGUNTE E RESPONDEREMOS M AIO 1995
Publicacao mensal N? 396

Diretor-Responsável
SUMARIO
Estévao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia Mae de Oeus 193
publicada neste periódico
Falaa revista TIME:
Diretor-Administrador: O Homem do Ano de 1994 194
O. Hildebrando P. Martins OSB
A verdade nem sempre é verossímil:
Administracao e distribuicao:
"Os Ladrees de Deus" por María
Winowska 201
Edícoes "Lumen Christi"
Rúa Dom Gerardo, 40 — 5? andar - sala 501 A historia treslida:
Tel.:(021) 291-7122 "Breve Historia dos Batistas" por
Fax (021) 263-5679 J. Reis Pereira 215

Endereco para correspondencia: Esclarecendo...:


Ed. "Lumen Christi" A Renovacao Carismática Católica
Caixa Postal 2666 (RCC) 226
Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Como Conceber...?
ImpresíSo e EncademapSo "O Purgatorio" por Dolindo Ruotolo . . 237

"MARQUES SARAIVA "


GRÁFICOS B EDITORES Ltda.
Tels.: (021) 273-9498 / 273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO

"Parusia ou a Próxima Volta de Cristo" (Leo Persch). - As Setenta Semanas de


Dn 9,24-27. - Apocalipse: interpretacao. - As Principáis Linhas Doutrinárias do
Protestantismo. — Sobreviventes de Incesto Anónimos.

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 18,00).
(NÚMERO AVULSO : R$ 2,00).

.O pagamento poderá ser á sua escolha:.


1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro, cruza
do, anotando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO na conta do favoreci
do" e, onde consta "Cód. da Ag. e o N? da C/C"; anotar: 0229 - 02011469-5.
2. Depósito no BANCO DO BR ASI L, Ag. 0435-9 Rio C/C 0031 -304-1 do Mosteiro de S. Ben
to do Rio de Janeiro, enviando, a seguir, xerox da guia de depósito para nosso controle.
3. VALE POSTAL pagável na Ag. Central 52004 - Cep 20001-970 - Rio.
Sendo novo Assinante, é favor enviar carta com nome e ende regó legfveis. |
Sendo renovacao, anotar no VP nome e endereco em que está recebendo a Revista. J
MÁE DE DEUS

aveup^KK
aos olhos dos cristaos, que assoclaraSi
veio a ser considerada a nova Eva^^ Com
(t 202) observa que Maria resgatou o

explicitar corretamente tal misterio, a fE»f dTlíri'si9 «r?» h«P

o sujeito de tudo aquilo que Jesús dlzla o fazia ¿orno

Assim o Concilio de Éfeso

Podem^a^sS^^^^^
vontade do próprio S?nhor. M3e dos homan?cSorme Jo 9 25^7 Te
sus Cristo, que déla nasceu, é Cabeca de um gS?Corpo°de^'qual
gS?Corpode^'qual todos
todos
Sa SaíímSade5'" * ° qU6 ** qU° ° "A^"- S-'»^ - es«n.
Veneramo-la na qualidade de MSe, especialmente neste mes de maio
e ped.mos-lhe que nos ajude a ser incondicional discfpulos de Jesús
i^tislo»

E.B.

193
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXXVI - N? 396 - Maio de 1995

Falaa revista TIME:

O HOMEM DO ANO DE 1994

Em símese: O presente artigo transcreve, em portugués, trechos da


revista TIME (26/12/94 a 2/1/95,. pp. 12-31), queapresentam a figurado
Papa Joao Paulo como a do HOMEM DO ANO DE 1994. A projecao mun
dial desse personagem, cuja única forca é de ordem moral, a ninguém esca
pa. O observador, mesmo que nSo compartilhe a fé, percebe nesse vulto
alguém que vive abnegadamente para um ideal nobre e se interessa nSo só
pela Religiao, mas por todas as questdes relativas á dignidade do ser huma
no; daf as campanhas contra as ditaduras opressoras, contra o aborto, con
tra a degradacao dos costumes... Em suas 63 viagens apostólicas ao estran-
geiro, Joao Paulo II visitou países de populagSo católica, protestante, mu-
culmana, budista, entrevistándose com chefes de Governo crentes e nao
crentes. Inegavelmente ninguém participou mais do que JoSo Paulo II no
desenrolar da historia destes últimos dezesseis anos. Daí o ¡usto reconhe-
cimento que TIME, eco de outras instituicoes, tributa á obra e á pessoa
do Papa.

* * *

A revista TIME, independente em materia de religiao, publicou em


seu número de 26/12/94 a 2/1/95, longa reportagem (pp. 12-31) sobre o
Rapa Joao Paulo II. Declara-o "O HOMEM DO ANO DE 1994 (Man of
the Year 1994)" e justifica a escolha. O artigo é particularmente interes-
sante porque provém da pena de repórteres que nao tém compromisso ex-
pl frito com os valores da fé, mas falam a partir da perspicacia de pessoas
que costumam observar e analisar os fatos fríamente.

Tais páginas sao de tanta importancia que extrairemos das mesmas


alguns trechos mais salientes traduzidos para o portugués.

194
O HOMEM DO ANO DE 1994

1. TÓPICOS SIGNIFICATIVOS

1.1. Conspecto Introdutório

"As pessoas que o véem — e sao milhoes sem conta — nao o esque-
cem. Seu aspecto é capaz de produzir urna sensacao eletrizante, que nin-
guém mais na térra pode igualar. Isto explica, por exempio, por que ñas
aldeias rurais de Quénia (África) milhares de enancas, muito maior núme
ro de gatos e galos e até hotéis trazem o nome de Joao Paulo. O carisma é
a única razao concebi'vel para que um disco compacto que apresenta o Pa
pa rezando o rosario — em latim — sobre o fundo musical de Bach e Man
de! esteja em cotacao ascendente na Europa. O carisma também explica a
reacao de urna jovem mulher que se encontrava em Denver (Colorado,
U.S.A.) num estadio esportivo, cercada de milhares de jovens que aclama-
vam e aplaudiam o Papa, e exclamou: 'Eu nao respondo assim aos grupos
de rock. Que é que esse homem tem?' ,

Entre muitas outras coisas, o Papa Joao Paulo II tem o melhor pul
pito do mundo. Poucos de seus predecessores nos últimos 2.000 anos fala-
ram desse pulpito tao freqüente e calorosamente. Quando ele fala, nao é
somente ao seu rebanho de quase um bilhao de pessoas; ele julga ter o
mundo inteiro como ouvinte. E tanto o rebanho quanto o mundo escu-
tam, nem sempre concordando com o que ouvem. Neste ano ele alargou
o raio de sua mensagem mais do que nunca: Cruzando o Limiar da Espe-
ranea; suas meditacoes sobre temas que vao desde a existencia de Deus até
o menosprezo de mulheres, tornaram-se, de ¡mediato, best-seller em doze
países, é este um caso, sem precedentes, de pregacao de massa, por parte
de um Pontífice — misterioso, mas pessoal; expansivo, mas enérgico no to
cante á sua mensagem moral.

Joao Paulo II pode também impor seu ponto de vista. Nao houve dis
to um exempio mais espetacular e controvertido do que a intervencSo do
Vaticano na Conferencia Internacional da Organizacao das Nacoes Unidas
a respeito de Desenvolvimento e Demografía no Cairo em setembro pp.
Ai os emissários do Papa derrubaram urna proposicao apoiada pelos Esta
dos Unidos, que Joao Paulo receava fosse favorecer o aborto no mundo in
teiro. As conseqüéncias desta proposicao poderiam atingir todos os conti
nentes e, como previam os críticos, seriam catastróficas, principalmente
no borbulhante Terceiro Mundo, onde Joao Paulo é tao admirado.

0 Pontífice ficou intrépido diante da contestacao mundial. Seu livro


popular e sua diplomacia impopular, explicou ele a TIME duas semanas
atrás, sao a expressao de urna verdade filosófica: 'Trata-se, em última aná-
lise, da santidade do ser humano'. Acrescentou: 'O Papa tem que ser urna

195
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

forca moral'. Num ano em que tanta gente lamenta o decli'nio de valores
moráis ou procura justificativas para comportamentos desregrados, o Papa
Joao Paulo II enfatiza sua proposta de reta conduta e exorta o mundo a
que a siga. Por causa de urna tal retidao — ou imprudencia, como diriam
os detratores - ele é, para o TIME, o HOMEM DO ANO".

Paúl Grayfpp. 15s)

1.2. Em particular

"Ele se coloca firmemente contra muitas coisas que o mundo julga


ligadas ao progresso, como, por exemplo, a nocao de que o ser humano
compartilha com Deus o direito de determinar quem deve ou nao deve
nascer. Ele também se pronuncia contra muitas coisas que o mundo julga
inevitáveis: as desigualdades abismáis entre os ricos e os miseráveis da tér
ra, o sofrimento daqueles que sao condenados a viver na imundície, na po
breza e na opressao. Disse o Dalai-l_ama:'Ele realmente tem a vontade e o
propósito firme de ajudar a humanidade mediante recursos espirituais. Isto
é maravilhoso. Isto é bom. Eu sei como é difícil para dirigentes de tal
porte'.

O impacto de Joao Paulo II sobre o mundo já tem sido enorme, tan


to no plano global como no individual. Ele percorreu mais que 800.000km
em suas viagens. Muitos julgam que o seu apoio ao Sindicato Solidariedade
em sua patria polonesa foi algo que precipitou o colapso do bloco soviéti
co. Depois que ele foi quase assassinado em 1981, ele visitou e perdoou a
seu quáse-assassino no cárcere... Mesmo aqueles que contestam as palavras
de Joao Paulo II, nao questionam a sua integridade — ou a sua capacidade
de perdoar a quem o ofende.

O seu poder reside na palavra, nao na espada. Como ele demonstrou


durante os dezesseis anos de seu pontificado, Joao Paulo nao precisa de es-
tabelecer divisoes. Ele é uno, e seu imperio é tao etéreo e universal quanto
a alma. Num cortico de Nairobi, Mary Kamati estava morrendo de Aids.
Em seu barraco de lodo pendia um retrato de Joáo Paulo II: 'Este é o úni
co Papa que veio a esta parte do mundo', disse ela. Durante a sua última
visita, ele a aspergiu com agua bentai'Este é o caminho para o céu', disse
ela com o olhar trémulo.

Em 1994 a saúde do Papa se deteriorou visivelmente. A sua mao es-


querda treme, ele se apoia numa bengala, resultado de urna cirurgia de pró-
tese. Interrogado a respeito da sua saúde, ele respondeu a TIME: 'Oh,
assim... assim:'

196
O HOMEM DO ANO DE 1994

Ele se apresenta como o defensor da doutrina católica, como um re


ferencia! moral para católicos e nao católicos. Ele propaga, através de to
dos os meios á sua disposicao, urna mensagem nao de conveniencia ou
compromisso, mas o anuncio do que é certo e errado; em meio a tanto me-
do relativo ao futuro, Joao Paulo ousa falar'de esperanca. Ele nao diz o
que todos querem ouvir, de modo que muitos dentro e fora da sua Igreja
se sentem ofendidos. Todavía a sua fidelidade áquilo que ele julga que as
pessoas devem ouvir, permanece firme e ¡nabalável. Diz o Rev. Billy Gra-
ham: 'Ele vai passar para a historia como o maior dos Papas modernos.
Ele tem sido a consciéncia forte de todo o mundo cristao'.

O Catecismo da Igreja Católica apareceu em traducao inglesa como o


primeiro compendio publicado após o século XVI; sintetiza claramente as
verdades essenciais e as linhas da Moral da Igreja. Alguns católicos julgam
que será o mais duradouro marco do Papado de Joao Paulo II. Em junho
de 1994 Joao Paulo promoveu o estabeleci mentó de relacoes diplomáticas
entre a Santa Sé e Israel, pondo fim a um estado de tensao que existía des
de 1948".

Thomas Sanción e Greg Burk (Roma), Joseph Ngala (Nairobi) e John


Moody e Richard N. Ostting (Nova lorque), pp. 16-18.

1.3. Dados biográficos

"Em 1938, Karl Wojtyla era um estudante — e um ator muito pro-


missor — numa escola de segundo grau na poluida cidade industrial de Wa-
dowice. Como orador premiado em sua escola, foi solicitado para proferir
urnas palavras de boas-vindas a um grande visitante, Mons. Adam Sapieha,
descendente de nobre linhagem e, mais importante, arcebispo da vizinha
cidade de Cracovia. Sapieha ficou muito impressionado, tanto que chamou
Wojtyla e Ihe perguntou o que ele esperava fazer da sua vida. A resposta
foi: continuar a estudar Filología ou tornar-se ator. "É penal", disse o
arcebispo. Este, porém, resolveu acompanhar o jovem carismático para a
maior-glória da Igreja.

Todavía, quando o Espirito chamou Wojtyla, nao mostrou o caminho


que Sapieha desejava. O jovem se enamorara dos escritos místicos do gran
de carmelita Sao Joáo da Cruz e quería tornar-se um frade contemplativo.
Wojtyla pediu licenca a Sapieha, por tres vezes, para entrar num mosteiro;
de cada vez o arcebispo nao Ihe quis dar ouvidos. Nao quería ver Wojtyla
fechado numa clausura mística. Nao podia o jovem discernir o que Deus
realmente quería que ele fizesse? Wojtyla compreendeu a mensagem. Havía
de tornar-se um sacerdote diocesano, servindo diretamente ao povo; seria

197
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

um pastor entregue ao servico das necessidades ¡mediatas dos fiéis na Polo


nia. Sapieha ordenou-o em 1946...

Agora já se vao dezesseis anos que Karol Wojtyla — outrora ator, de-
pois presbítero, depois arcebispo e Cardeal - se tornou o Papa Joao Paulo
II, o Sumo Pontífice, Bispo de Roma, Chefe de uma Igreja de quase um
bilhao de fiéis. Dizia, há tempos, um arcebispo italiano: 'É curioso... Dir-
se-ia que ele sempre foi Papa!' E, para entender o homem e seu Papado, é
preciso olhar nao somente para o Vaticano, donde ele transmite suas dire-
trizes espi.rituais, mas também para a quase mística Polonia, que ele guarda
em seu coraca'o. Com efeito; embora o quarto do Papa, no terceiro andar
do Palacio Apostólico do Vaticano, dé sobre a magnífica Praga de Sao Pe
dro, é quase tao sobrio como o de um monge. O quarto contém uma cama
simples, duas cadeiras estofadas, uma escrevaninha. Há um pequeño tapete
junto á cama; o resto do chao é liso. As paredes carecem de ornamentos,
excetuando-se uns poucos objetos, em maioria icones, eloqüéntes por sua
presenca mesma, provenientes da Polonia...

O dia do Papa comeca quando Roma ainda dorme, ás 5h 30m¡n, e


nao termina antes de 23h 30min. As 6h 15min, está na sua cápela particu
lar, rezando e meditando diante do altar, sobre o qual pende um grande
crucifixo de bronze. Aparece também uma copia da mui cara imagem da
Virgem Preta de Cestochowa, imagem da qual os poloneses hauriram for-
cas quando no passado tiveram que lutar contra os seus opressores.

Todos dáo testemunho de que a oracao, mais do que alimento e bebi


da, é a forca que sustenta a vida desse Papa. Ele toma decisoes 'sobre os
seus joelhos', diz Mons. Diarmuid Martín, Secretario da Comissao do Vati
cano para a Justica e a Paz. Algumas vezes Joao Paulo II se prostra perante
o altar. Outras vezes ele se senta ou ajoelha com os olhos fechados, com a
testa em sua mao esquerda e a face intensamente tensa, como se estivesse
sofrendo. é entao que ele leva a Deus os pedidos de oracoes que Ihe sao
feitos. O seu genuflexório no centro da cápela tem a frente estofada, sobre
a qual os bracos pousam; por baixo se encontra uma caixa na qual estao al-
guns livros de oracao e um grande bloco de folhas amarelas, sobre as quais
estao escritas as intencSes pelas quais o Papa reza. Já houve um bloco de
duzentas folhas, sendo que a de cima trazia nove diferentes nomes, como o
de um jovem italiano de dezessete anos, canceroso, o de uma italiana, mae
de tres filhos, muito doente, e o de uma enanca norte-americana.

Atualmente as oracoes devem ter por objeto odeclínio da saúde do


Papa, resultado da idade e dos efeitos dos ferimentos sofridos em 1981,
por ocasiao da tentativa de assassinato cometida por Mehmet Ali Agca.
Joao Paulo escreveu uma Carta Apostólica sobre o valor sobrenatural do

198
OHOMEMDO ANO DE 1994

sofrimento humano, na qual ele ensina: 'Todo ser humano, ao sofrer, pode
participar daPaixao Redentora de Cristo'. Embora o Papa nao mortifique
a sua carne com urna camisa de cilicio — como Paulo VI fazia algurnas
vezes —, ele considera claramente as suas dores físicas á luz da Paixao de
Cristo.

Diz o porta-voz e íntimo consultor do Papa, Joaquín Navarro-Valls,


que o objetivo de Joao Paulo II é nada menos do que estabelecer urna al
ternativa plenamente crista as filosofías humanistas do século XX: marxis
mo, estruturalismo, ateísmo pós-iluminista... Afirma Wojtyla: 'Temos algo
de novo, nao precisamos de copiar. Construamos humildemente urna nova
sociología, urna nova antropología, baseada em principios genuinamente
cristáos' ...

Em vista disto, o Papa escreve e pensa como também discute e de


bate até durante as refeicoes.

Para o Papa, as refeicoes sao ocasiao de ouvir as idéias de amigos pro


venientes da Polonia, idéias de burócratas e de teólogos, que querem de-
bater política e liturgia, de jovens seminaristas e de pessoas diversas convi
dadas para a sua Missa das 7 horas da man ha e o café subseqüente. Há urna
especie de hierarquia das refeicoes. Diz Marek Skwarnicki, um jornal¡sta
polonés aposentado e amigo do Papa: 'O al mogo é para bispos, o jantar é
para amigos"...

O cardápio é italiano: pasta ou antipasta, um prato de carne com ve


getáis e salada, e frutas ou queijo ou um bolo polonés como sobremesa.
Certa vez perguntaram a um Cardeal francés se a cozinha do Papa era boa;
ao que respondeu: 'Para mim, que vim de Liáo, é difícil dizer — mas há
nela um suficiente número de calorías'.

Todavia, observa Navarro, o porta-voz e confidente do Papa: 'Se vocé


perguntar: Santo Padre, gostou do seu almoco?, ele dirá Sim. Mas se Ihe
perguntar o que ele comeu precisamente, ele ná*o o saberá dizer'. JoSo
Paulo é muitas vezes tSo absorvido pela conversa e pelo raciocinio que é
capaz de nao prestar atencSo á comida. Durante urna conversa muito in
tensiva, ele pode deixar b prato de lado e pór-se a brincar com os talheres,
de olhos fechados; enquanto se concentra sobre as palavras do interlocutor,
ele escuta e responde. Certo día no almoco um dos conselheiros do Papa
comecou a falar sobre a violencia dos servios na Bosnia. O Pontífice replí-
cou: 'E os croatas, acredita que sejam anjos?' "

Greg Burke, Thomas Sancton e Wilton Wynn (Roma)


com Johr\ Moody (Cracovia)

199
'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

2. REFLETINDO...
Como dito, os depoimentos tém grande valor, pois provém da pena
de quem escreve para urna revista aconfessional, pronta a criticar o que se
ja, desde que isto Ihe pareca oportuno. Ná*o há dúvida, o Papa Joao Pau
lo II é urna figura singular, carismática no sentido pleno desta palavra.
Basta recordar que as viagens por ele realizadas ao estrangeiro devem sem-
pre receber previamente o beneplácito do Governo visitado (seja católico,
seja protestante, seja muculmano, seja budista, seja ateu); mesmo os Che-
fes de Estado das nacoes mais fechadas á fé católica tém recebido o Papa,
porque.sabem que o seu discurso é conciliador, sem concessoes traicoeiras.
Ninguém pode ignorar a projecáo mundial .desse eminente pastor, preocu
pado nao somente com.a fé, mas também com os assuntos temporais rela
cionados com a Ética, onde quer e como quer que ela esteja ameacada. O
mundo talvez fosse outro em nossos días se nao existisse tal homem, des
tituido de armas, Chefe religioso de um rebanho de fiéis e nao de urna na
pao; nao usa as estrategias dos poderosos governantes deste mundo, mas
apoia-se únicamente no poder moral da Palavra da Verdade proferida com
honestidade e coeréncia de vida. — O Papa pensa muito no terceiro mile
nio, que se aproxima; deseja reunirse no ano 2000 com os representantes
dos Credos monoteístas do mundo no Monté Sinai, onde ele celebraría
urna Missa com o Patriarca Alexis II de Moscou (significando o firn do cis
ma russo). Será esta a vontade de Deus? Por que nao sonhar com este belo
quadro e pedir instantemente a Deus que o torne realidade?

Já que o número de TIME citado data de 26/12/94 a 2/1/95, tornase


oportuno atualizar as noticias, referíndo a importante viagem deS. Santi-
dade ás Filipinas. Aos 15/1/95 Joao Paulo II celebrou a S. Missa em Mani
la (capital do arquipélago) perante um público de cinco milhoes de pes-
soas, considerado o mais numeroso de quantos já participaram de alguma
Missa Papal. O S. Padre chegou ao local da Missa (Parque Rizal) no centro
de Manila, de helicóptero, visto que as estradas por onde devia passar o
"papamóvel" foram totalmente ocupadas pela multidao. A recepcao ñas
Filipinas superou, em calor humano, a que o Pontífice teve na sua própria
térra natal. O Papa exortou os jovens a construir e defender a familia. Po-
de-se dizer que nenhum h'der deste mundo reuniría tao grande multidao.

* * *

CARO(A) LEITOR(A), PARA SEU APROFUNDAMENTO DOUTRINÁRIO E


ESPIRITUAL, VOCÉ TEM Á SUA DISPOSICÁO 12 CURSOS POR CORRESPON
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200
A verdade nem sempre é verossímil:

'OS LADROES DE DEUS'

por María Winowska

Em síntese: A escritora María Winowska colecionou um conjunto de


episodios ocorridos nos pafses dominados pelo comunismo, que perseguía
a Igreja nos decenios após a segunda guerra mundial (1939-45). Sao faca-
nhas heroicas e talvez inimagináveis, a tal ponto que a autora repete em
seu Uvro: "A verdade nem sempre é verossímil". A obra apareceu em 1958
com o título "Les Voleurs de Dieu" (Os Ladroes de Deus); mostra como
a fé católica se preservou, reafirmou e propagou de forma portentosa, nio
raro com a conivéncia mesma dos que haviam sido encarregados de a su
focar.

* * *

A escritora polonesa María Winowska colecionou uma serie de episo


dios ocorridos nos países dominados pelo comunismo, que perseguía a
Igreja nos decenios após a segunda guerra mundial (1939-45). Sao faca-
nhas heroicas e talvez inimagináveis, a tal ponto que a autora repete em
seu livro: "A verdade nem sempre é verossímil". A obra apareceu em 1958
com o título "Les Voleurs de Dieu" (Os Ladroes de Deus).'María Winows
ka professa logo na Apresentacao do seu livro:

"Os relatos que constam desta coletánea, referem fatos estrítamente


auténticos e devidamente averiguados. A autora reservou a si apenas o di-
reito de encobrir os personagens, empalidecer os fundos de cena e evitar
as pistas de identificacSo. Em varios casos, os diálogos puderam ser subme-
tidos ao controle das testemunhas. Os protagonistas sao apresentados com
pseudónimos, com excecSo feita para aqueles que ¡á nao correm risco, co
mo o Padre Alexandre" (p.7; a autora escrevia durante os anos de regime
comunista no Leste Europeu).

Maria Winowska parece ter estado em prisao nazista alema, pois con-
ta um episodio que bem ilustra o choque de ideologías totalitarias que
moveram os povos na primeira metade do século XX. Eis o que narra:

' Editions Saint-Paul, 6 Rué Cassette, París 1958, 168 pp. 140 x 185 mm.

201
JO "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

"Tinha como companheira de prísao urna militante comunista, da


qual guarde/' as melhores lembrancas... Era urna moga de sentimentos deli
cados que repartía com as colegas de cela todos os pacotes que recebia,
pronta a prestar servico e a rea/izar as tarefas das companheiras mais fra-
cas. Ora, num cárcere em que as pessoas morriam de fome, isto era heroi
co. Um día discutíamos sobre Marx e Engels. Apelei para as feis inscritas
na natureza do homem (tratava-se do senso de propriedade particular). En-
tao disse-me e/a tranquilamente: 'Vocé tem razio por ora. Eis por que re
solvemos mudar a natureza humanal' Nunca algum livro me deu a conhe-
cer melhor o mito de Prometeu do que essas simples palavras; resumiam
um programa cu/o poder de seducao nao poden'amos minimizar. Mas nao
é somente a partir de ontem que o homem é tentado a imitar Deus" {obra
citada p. 10).

A leitura de tal livro tem quase o sabor de relatos policiais, dado o


suspense que provoca no leitor. Evidencia a coragem, ignorada pelo grande
público, nao só de adultos, mas também de criancas, que arriscaram seus
interesses e sua vida para ser fiéis a Cristo sob a perseguicao comunista.
Realmente o livro surpreende e reconforta o leitor, pois mostra que, sob
os véus do silencio e da aparente estagnacao da fé, um sopro de vida forte
— mais forte do que a dos que faziam estardalhaco — animava muitos cris-
tíos nos anos maus pp.

A seguir, serio apresentados em sintese fiel alguns dos mais signifi


cativos desses episodios.

1. OS CRUCIFIXOS

"Eu nao sei, dizia Petronilha, em tom altivo. Que é que me ¡mportam
os crucifixos? Ontem estavam em seus lugares. Hoje as paredes estao des
nudas. Alguém os retirou. Nao fui eu, que eu saiba!"

No Preventorio, Petronilha gozava de.respeito por parte de todos, até


mesmo do Diretor. Petronilha era tida como urna das vanguardeiras da
classe operaría promovida pela revolucao comunista e arauto da mensagem
da Polonia popular.

O Diretor do Preventorio, Sr. Sarnecki, certo dia de manha, insistía


em que Petronilha Ihe dissesse como haviam desaparecido os crucifixos das
paredes da casa, quando bateu á porta da sala a Sta. Olga, enfermeira, co
mo um ciclonei

"Estao em revolta! As criancas nao querem levantar-se da cama' ".

202
"OS LADRÓES DE DEUS" 11

Petronilha triunfava, dizendo: "Veja, camarada Diretor! Aposto que


por tras disso tudo há um dos imperialistas americanos. Ouvi no radio..."

A situacao se tornava grave, pois o Inspetor do Governo estava para


chegar de Varsóvia. A fim de homenageá-lo, haviam decidido na véspera li
quidar, urna vez por todas, as reliquias das supersticoes deixadas pelas frei
rás, ás quais outrora pertencia o Preventorio. Todas as imagens sagradas
haviam sido retiradas; so faltavam os crucifixos, dos quais havia um em
cada sala. Ora estes haviam desaparecido. Além disto, as enancas faziam
greve...

O Diretor foi ao dormitorio mais próximo; lá encontrou oito camas


ocupadas por enancas imóveis, cobertas até o pescoco. Perguntou-lhes
com voz de trovao:

"Entao que é que voces querem?"

Ninguém respondeu, mas todas o olhavam com olhos curiosos. Vol-


tou á carga em tom mais conciliador:

"A agua está quente; por que nao querem ir aos lavatorios?".

Ninguém respondeu. De repente, a porta do dormitorio se abriu e


Petronilha anunciou: "Chegou o Sr. Inspetor!"

Ingrata noticia, pois o Inspetor era esperado ao meio-dia. 0 Sr. Sar-


necki agarrou um menino de oito anos, que se pos a berrar, e Ihe mordeu
a mao. Logo urna voz perguntou atrás do Sr. Sarnecki: "Que está aconte-
cendo?"

Sarnecki respondeu: "Os meninos nao se querem levantar nem res-


pondem ás perguntas. Eis aonde leva urna educacao retrógrada. Se os
pais..."

O Inspetor entao aproximou-se do menino que gritara e sentou-se á


beira da cama. Disse o menino: "Nao me toque; decidimos nos, meninos e
meninas, nao nos mexer até que nos concedam o que pedimos. Estamos
num regime democrático, e nos somos a maioria. Entao...?"

Perguntou o Inspetor ao Diretor o que as criancas queriam. Sarnecki,


furioso, agarrou o menino com lencóis e cobertas, enquanto este Ihe diri
gía urna tempestade de ponta-pés. Oito gargantas entao lancaram um grito
de horror, enquanto apareceu um ¡menso crucifixo sobre o ladrilho... Sar
necki e o Inspetor, perplexos, nao sabiam o que pensar. O menino corajo
so, que Sarnecki havia largado, voltou para a sua cama, levantou o colchao
e colocou o crucifixo debaixo deste. A seguir, deitou-se e recobriu-se com
seus lencóis.

203
J2 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

O Diretor fulminou: "Agora sei como desapareceram os crucifixos.


Voces, idiotas, vao pagar caro!"

O Inspetor fez gesto a Sarnecki para que se calasse; colocou a máo so


bre a cabeca do menino e perguntou-lhe comovido: "Como te chamas?".
"Yourek (Jorge)". "Dize-me por que esconderte este objeto debaixo do
teu colchao!"

O menino baixou a cabeca. Do outro lado da sala, uma voz fina gri-
tou: "Fala!" Era a voz de Petronilha, que acabara de entrar com uma vas-
soura na mao. Yourek correu para ela com um olhar cúmplice e disse em
tom destemido, voltado para o Diretor:

"Nao queremos que nos retire os crucifixos".

Seguiu-se um crepitar de aplausos, que partiam das criancas sentadas


em seus leitos. Prosseguiu Yourek:

"Somos cristaos nos. Conhecemos o nosso Catecismo. Rezamos. E


somos maioria. Por conseguinte, resolvemos guardar os nossos crucifixos
em todas as salas. E, já que nó-los queriam tirar hoje, nos os escondemos
debaixo dos nossos colchoes. Se o Sr. quer que nos levantemos, tem de
nos prometer que todos os crucifixos seráo recolocados no seu lugar. Se
nao, nao nos moveremos".

Desta vez os aplausos foram-se propagando de sala em sala. O Preven


torio parecía unánime. Disse o Inspetor retorcendo o bigode:

"Está bem, Yourek! Seráo recolocados os crucifixos. Voces sao pe


queños demais para compreender. Mais tarde compreenderao".

Gritou entáo uma voz do outro lado da sala: "Amanhá como hoje, o
Crucifixo será o Crucifixo. Que é que nos vamos compreender?"

O Inspetor já nao sabia o que dizer:

"Calma, criancas! Os crucifixos serao recolocados. Agora levantem-se.


Adeus!".

O Inspetor e o Diretor sairam do dormitorio, f¡cando lá Petronilha,


que fechara cuidadosamente a porta. Ela voltou-se para Yourek, pergun-
tando:

"Será que eu te instruí direitinho?"

204
"OS LADRÚES DE DEUS" 13

Yourek pulou-lhe ao pescoco e disse:

"Petronilha, és urna pérola!"

"Silencio, disse ela, vocé é capaz de me comprometer".

Entrementes, no escritorio do Diretor, a discussao se desenrolava dra


máticamente. Dizia o Inspetor:

"Veja, camarada, se vocé os contraria, só faz excitar as supersticoes


das enancas; termina rao mais depressa, se vocé nao Ihes der atencao. Seria
errado, da nossa parte, fabricar mártires".

"Mas entao, exclamou o Diretor, será preciso conceder-lhes nao so-


mente os crucifixos, mas tudo mais! Padre, Missa, Confissoes, Comunhoes
e todo o bazar que eles reivindicam. Aonde vamos parar? A menos que
vocé me mande ir á Missa também a mim!"

"Quem sabe? disse o Inspetor. Para conquistá-los, é preciso atraí-los.


Os métodos violentos sao de curta duracao. Quanto mais secretas forem
nossas manobras, mais éxito poderao ter. Estamos para aplicar um progra
ma mais aperfeicoado. E, de resto, vocé está seguro do pessoal que colabo
ra aquí?"

"Estou seguro deles como de mim mesmo".

"Perfeito! O tempo trabalha em nosso favor".

O Inspetor sorriu e tomou nota. O camarada Sarnecki Ihe parecía


derrotista.

2. A DAMA MILITAR

Aos 29/09/1939, o Sr. Arcebispo de Lwow, Mons. Twardowski, aca


bara de celebrar a S. Missa e rezava em sua cápela, acabrunhado pelos trá-
gidos acontecimentos que se haviam abatido sobre a Polonia. Esta fora
ocupada por tropas estrangeiras, que ameacavam perseguir a fé católica da
populacao. Estaría a Polonia preparada para resistir aos desafios que se Ihe
apresentavam no campo da religiao?

Entrou o Pe. Estévao, Secretario, na cápela e, aproximando-se do pre


lado, comunicou-lhe a chegada de alguém que o procurava. "Quem él",
perguntou o Arcebispo. — "é urna miliciana russa. Esta é a terceira vez que

205
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

ela chama V. Excia; tentei despedi-la, mas ela insiste, dizendo que tem al
go a Ihe confiar pessoalmente. É urna velha louca. Aposto que ela bebeu
um gole demais".

O Arcebispo deixou a cápela sem responder. Perguntou-lhe o Secre


tario: "V. Excia. fará sua breve refeicao primeiro?" Após hesitar, o prela
do mandou introduzir a visitante; urna gota de fel a mais no seu cálice de
dor nao faria grande diferenca.

Na sala de visitas, aguardava urna mulher em uniforme militar, com


altas botinas. 0 Arcebispo se horrorizou e pensou: "Como esses russos es-
tao longe da distincao e dignidade de nossas mulheres polonesas... Pode al-
guém vestir-se mais ridiculamente?".

A visitante esperou que o Pe. Secretario se retirasse, e logo se atirou


aos pés do Arcebispo: "Batiouchka!", dizia ela em prantos. "Batiouchka!"

O Arcebispo esperava tudo, menos essa acolhida por parte da mulher,


que Ihe ficou agarrada aos joelhos com o rosto adérente á batina do pre
lado.

"Será realmente urna louca?", pensou ele.

Depois disse em língua rutena: "Queira levantar-se", revelando certo


mal-estar por demonstracoes de afeto desse tipo.

A mulher levantou-se com esforco, pois era corpulenta. Exalava o


cheiro de suor, couro e sujeira, mas nao de álcool. O seu olhar azul parecía
estran ha mente jovem. Vendo a reserva do Arcebispo, exclamou:

"Era preciso que eu me alistasse no exército para chegar até V.


Excia!"

Muito intrigado e afastando-se para evitar outras efusoes de afeto, o


prelado perguntou:

"E quem é a Sra.?"

Em pé, olhos nos olhos, declarou a mulher:

"Quem sou eu? É urna longa historia. Segundo o meu passaporte, sou
Anna Nikolaiewna N. Na realidade, ..., mas para que dizer-lhe o meu no-
me, que aumentaría o risco de V. Excia.? Meu nome nada acrescenta á
historia".

206
"OS LADRÓES DE DEUS" 15

Parou como se aguardasse nova pergunta. Diante do silencio do Arce-


bispo, continuou:

"Nasci na Rússia Branca, até mesmo num castelo. Mas a Revoluqao


Soviética matou meu pai, minha mae, meus irrnaos e irmas. O guarda da
floresta salvou-me escondendo-me no bosque. Eu tinha entao seis anos. F¡-
camos aquém da fronteira da Polonia. Vendo-me só, eu quis matar-me.
Mas o velho Dymitrí me levou á casa do Pe. Sergio, que vivia camuflado
como operario agrícola. Éste tomou-me sob a sua protecao, e á noite ensi-
nava-me o Catecismo. Era bom para mim como um pai. Certa vez disse-
me: 'Ania, quando eu tiver desaparecido, tu continuarás o meu trabalho.
Nao é bom guardarmos para nos o que recebemos gratuitamente. Tens a
fé, con heces a religiao. Será o momento de a transmitir a outros. As almas
nao tém fome de alimento perecível, mas de fé. Os bolchevistas expulsa
ra m Deus; em toda parte fecham-lhe a porta, a porta de recepcao. Mas Ele
se contenta com a entrada de sen/ico. Deus é humilde, minha filha; Ele en
tra apesar de tudo. Mas é preciso ajudá-Lo a entrar. Tu o ajudarás, nao él'

Chorando, prometi-o. Mais tarde, prenderam-no e deportaram-no nao


sei para onde. Mas eu tinha urna estrela ñas minhas trevas: a promessa que
eu fizera e que me obriga em consciéncia. Desde entao, há mais de vinte
anos, percorro a Rússia, e ensino o Catecismo. Batizo tambóm; a Missa,
nao a posso celebrar. Mas, batizar, eu posso e aproveito. Apenas..."

De repente o semblante se Ihe tornou vermelho:

"Apenas há tantos anos que eu nao vejo um padre. Quem sabe? Tai-
vez eu tenha esquecido a doutrina?"

Parou por um instante e acrescentou:

"Eu vim, Batiouchka, para que V. Excia, me examine. Prefiro que seja
um Bispo; é mais seguro".

Ania baixou a cabeca e calou-se. A porta se entreabriu:

"V. Excia. me chamou?", perguntou o Pe. Estévao.

O Arcebispo imaginou que o padre estivesse montando guarda diante


da porta, já um tanto preocupado. E respondeu: "Deixe-nos ficar tranqui
los. Ninguém nos perturbe".

"E sua refeicao?"

"Tenho mais que fazer. Nesta manha nao receberei ninguém".

207
H3 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

Surpreso, o Pe. Estévao fechou a porta: "Contanto que nada aconte-


ca ao Sr. Arcebispo", pensou, disposto a montar guarda até acabar o mis
terioso encontró, tal era a estima de que gozava o prelado por parte de pe
queños e grandes.

Tendo permanecido a sos com a muiher, o Arcebispo Ihe disse:

"Vamos primeiramente saudar o Senhor da casa, que a trouxe até


aqui".

Entrando na cápela, a muiher ajoelhou-se e depois prostrou-se por


térra, desfazendo-se em lágrimas.

"Senhor, rezava o Arcebispo, Senhor, perdoai-me a pouca fé. Vossos


pensamentos nao sao os nossos pensamentos, nem vossas vias safo nossas
vías. Para a trazer até aqui, vos violastes as nossas fronteiras. Estávamos
na defensiva e eis que nos promovestes a missionários. Nao será com bar
ricadas que venceremos o atei'smo. Essa muiher, sem o saber, me traz vos-
sa resposta". •

Ela rezava com ardor que transfigurava o seu semblante. 0 prelado


tocou-a noombrodizendo-lhe:"Vamos! Nao percamos tempo!"

Urna alegría incoercível emanava de suas t revas; o céu se entreabría.


Com ansia, naquele momento, por comunicar aquilo que ele também rece
bera de graca. Por essa infeliz muiher a plenitude de seu misterio atingiria
almas, para as quais já sentía as entranhas de pai. Urna grande visao o ilu-
minava. Sim! A fome de Deus é tao forte que, se nos recusarmos satisfa-
zer-lhe, os famintos arrombarao nossas portas.

"Sou eu que a interrogarei, pensou o Arcebispo. Mas, na verdade, por


essa pobre muiher Deus me interroga. Senhor Jesús, sede Vos mesmo nos-
sa resposta viva!"

3. UM BATIZADO EM 1944

"Ela terá engolido urna caixa inteira de Gardenal", disse Irma" Olga
ao'homem que trabalhava no jardim. "Encontraram-na desmaiada hoje de
manha ao pé da escada. A Irma Inés logo tomou as providencias necessá-
rías: lavar o estómago e o mais. Ela está respirando, mas... Pense, padre,
ñas represalias que nos ameacam. Ninguém acreditará numa tentativa
de suicidio. Urna miliciana, e miliciana graduada! Vao acusar-nos de
cumplicidade com a Resistencia. O Sr. sabe muito bem como sao trama
das as incursoes do terrorismo".

208
"OS LADROES DE DEUS" 17

A Irma Olga estava visivelmente alarmada,... ela tao ponderada e táo


senhora de si mesma. 0 homem no jardim enxugou as maos no seu avental
azul:"Vou vé-la", disse ele a meia-voz.

A Irma Olga pulou e ¡nterceptou-lhe a passagem:

"O Sr. está louco, padre! Isto implica caminhar para a sua morte.
Ninguém o conhece aqui. Ademáis o Sr. nada pode fazer por essa pobre
mulher, que ignora o a-b-c da religiao. A Irma Wanda, que conhece a Ifn-
gua russa, conversou longamente com ela no outro día. Ela parecia curiosa
acerca do nosso modo de viver e colocou urna porcao de perguntas infan-
tis: por que usamos véus e aliancas? Jesús Cristo existiu realmente? Que é
o Batismo? A Irma Sofia encontrou-a, há días, parada diante de Nossa Se
nhora de Lourdes. Interpelada, a mulher disse: 'Esta mulher se parece com
a Sra.; seria um mausoléu?' Creia, padre: o Sr. vai perder seu tempo. O que
devemos fazer, é salvá-la para que ela se vá embora, e vá embora mesmo..."

O homem arrumava seus instrumentos de trabalho e finalmente disse:

"é isto mesmo. £ preciso salvá-la. Vamos!".

Com grandes passos entrou na casa, acompanhado pela Irma Olga,


que nao podia conter as lágrimas.

O Pe. Joao só podia exercer o seu ministerio clandestinamente, vesti


do como jardineiro. Os alemÉSes haviam prometido premiar quem Ihe cor-
tasse a cabeca, ao passo que os russos estavam liquidando sem piedade sa
cerdotes e Religiosos. Por conseguinte, as monjas que o hospedavam com
alegría, corriam um grande risco em troca do valor inestimável da Missa que
ele diariamente celebrava. Todavía a IrmS Olga acabou pensando que seria
inútil multiplicar as complicacSes. O padre, com seus passos acelerados, es
tava correndo para dentro da goela do lobo! As milicianas eram piores do
que os soldados soviéticos: despudoradas, brutais, movidas por instintos
perversos, as vezes sádicos. A Irma Olga, encarregada da portaría, sabia-o
por experiencia. Já havia muito, oferecera o sacrificio de sua vida, mas jul-
gava que nao se devia provocar o martirio.

O Pe. Joao entrou precipitadamente na cozinha, onde a Irma Edviges


descascava as batatas. "Onde está ela?", perguntou o padre.

A velha Irma indicou a direcao com a sua faca, dizendo:

"Agora e na hora da nossa morte... Amém. A Irma Inés a colocou na


Enfermaría, padre. Coitada! Que Deus tenha pena déla!" .

209
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

No corredor a Irma Inés parecía aguardar o padre:

"Eu o vi pela janela, padre. O Sr. fez bem vindo aquí. Ela acaba de re
cuperar os sentidos. Nao consigo acalmá-la. Ela chora como uma Madale-
na. Venha!".

Entrando na Enfermaría escura, ele viu apenas um vulto branco que


se agitava em solucos. Debaixo dos cobertores toda encolhida, ela parecía
um animal ferido. Pensou o padre consigo: "Que monte de desgracas!" E,
aproximando-se do leito, colocou suavemente a má*c sobre a cabeca da
muiher. Ela teve um sobressalto e olhou espantada:

"Nao tenha medo!", disse o padre em russo. "Eu venho para te sal
var. E, para comecar, como te chamas?".

Ela o fitou com o olhar desconfiado e disse:

"Katia... Eu me chamo Katia, Katiouchka. Mas que é que o Sr. tem


a ver com isto?"

"Conversamos melhor com quem conhecemos. Eu sou o Pe. JoSo.


um batiouchka".

Os olhos da muiher se encolheram e ela disse:

"O Sr. sabe que eu posso colocá-lo no cárcere?".

"Sim; eu o sei".

A Irma Inés tomou o pulso da enferma e disse: "Está melhor. Eu os


deixo".

A porta fechou-se sem ruido. De pé, junto ao leito, o Pe. JoSo olha-
va. Apesar do seu olhar marcial e seus traeos rudes, a muiher era jovem,
loura e rosada. Os seus olhos plenamente abertos fervilhavam de febre.
Perguntou-lhe o padre: "Por que fizeste isso, Katíenka?"

Ela cobriu o rosto com uma ponta do lencol e respondeu:

"Porque tenho vergonha. Tenho nojo de mim mesma".

Juntou as maos. Esperava. Surpreendida com o silencio do padre,


levantou a cabeca e olhou-o na face.

■ "Sabes quem eu sou? Uma prostituta. Miliciana, sim, para divertir


nossos soldados. Dia e noite! Dia e noite! Quando eu tinha dez anos, so-

210
"OS LADROES DE DEUS" 19

nhava com um lar, com filhos... Tudo isso acabou. Eles me contamina
ra m. Até eu chegar aquí, eu pensava que a vida era isso. Eu nao acreditava
que existissem virgens. Estou encarregada de vos vigiar e eu olho, olho...
Esses véus. Essa paz. Esses semblantes em que nada é sujo. Deram'-me ex
plicares sobre a estatua da Pretchistaia (Imaculada). Estive na vossa cape-
la, nos dormitorios, em toda parte. Este é um mundo que eu ignorava; eu
nao sabia que isso é possfvel. Entao tive vontade de me vomitar. Agora tu
sabes!".

"Deus seja louvado", disse o padre com voz clara. "Sim, eu sei que
nada está perdido, Katienka. Se queres, depende de ti tornar-te tafo pura
e táo bela quanto as nossas monachki (monjas). Tu quiseste matar-te, por
que tens desdém de ti mesma. Mas sabes o que é o Batismo? Já foste batí-
zada?"

Acenou negativamente com a cabeca. Os seus olhos estavam molha-


dos de lágrimas.

"O Batismo, Katienka, também é urna morte. A morte ao pecado.


Tudo o que é sujo em nos, é afundado nagua. E esta agua nos purifica,
porque Cristo morreu por nos. Ele morreu para dar-nos a vida. Só depende
de ti ser libertada do peso que te enoja. Mas será que compreendes o que
te digo?"

Lenta e pausadamente, ela juntou as máos:

"Gospody pomylom! Gospody pomylom! (Senhor, tem piedade de


nos!). Minha avó rezava sempre a oracao de Jesús, mas nos julgávamos que
era louca. Disseram-nos que Deus estava morto. Entao isto nao é verdade?"

Sentou-se na cama, e, sófrega, perguntou:

"Dize, pois, Batiouchka: Deus existe?"

"Se Ele nao existisse, por que haveria Religiosas?. ... Sacerdotes?
Julgas, Katia, que a pureza seria possfvel se Deus nao existisse?"

Ela franziu a testa e pareceu refletir profundamente:

"Creio que tens razao, Batiouchka! Mas entá*o que devo fazer?"

Fixava-o com um olhar suplicante, e acrescentou:

"Farei o que me disseres!"

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20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

Dísse o padre, após ter agradecido em silencio á Virgem María:

"Trata de ficar aqui, Katienka. Faze-te de doente. Hao de te tratar


no carpo e na alma. Dentro de oito dias, celebraremos a Páscoa. Sabes o
que significa Páscoa?"

"Christos woskres (Cristo ressuscitou), disse ela suavemente. Minha


avó dizia: Christos woskres e eu com meu irmao zombávamos déla como
de urna boba."

"Pois bem, Katia, vamos batizar-te na noite de Páscoa. Toda a lama


de que te envergonhas, sairá com a agua do Batismo. Mas é preciso que,
antes, eu te ensine a conhecer a Deus e a rezar. Pois, nao me leves a mal,
tu és a bobalhona. Depois veremos!"

Katia baixou a cabeca e cobriu o rosto com as duas má*os.

"Que é que aínda falta?", perguntou o Pe. Joao um tanto inquieto.


Através dos dedos ela o entreolhou, e disse com voz sufocada:

"Julgas, Batiouchka, que um día poderei ser como elas?

"Quem elas?"

"Como as monachki?"

0 padre nao conteve urna grande risada. A Irma Inés, que estava
montando a guarda, abriu a porta e olhou surpresa.

"Minha Irma", disse o Pe. Joao, "eu Ihe apresento urna postulante!
Mas é preciso, primeiro, batizá-la".

4. A POLICÍA E SANTO ANTONIO

O Pe. Miguel acabou de chegar em casa, após visitar os doentes da pa-


róquia; estava molhado pela chuva, quando sua irma abriu bruscamente a
porta da sala onde ele estava, e Ihe disse: "Ele chegou!" O Pe. Miguel
sofreu um choque; imaginou logo que fosse um agente da Policía Secreta,
pois estava sempre de sobreaviso. A irma do padre deixara o homem a sos
na cozinha, onde ela estava preparando os pontchki (iguaria própria da
época de Carnaval na Polonia). O sacerdote dirigíu-se á cozinha, onde o vi
sitante o saudou e Ihe deu a saber que o querisa levar consigo. O padre
olhou para a irma, que Ihe fez sinal de paz, pois em seu íntimo ela tinha
recomendado o caso a S. Antonio.

212
"OS LADRÓES DE DEUS" 21

O policial nao parecía tao agressivo como era costumeiro na sua cate
goría. Mandou o padre acompanhá-lo, levando, porém, as suas alfaias para
exercer üma fungió sacerdotal e agua benta.

O Pe. Miguel conjeturou entao que o homem o queria levar para


administrar os últimos sacramentos a pessoas condenadas á morte; depois
ele mesmo seria assassinado e atirado numa fossa para que ele nSo pudesse
relatar o massacre. Já houvera precedentes desse tipo nos últimos tempos.

O padre procurou protelar a partida perguntando: "É realmente ne-


cessário levar agua benta?" Respondeu-lhe o policial: "Como quer o Sr.
que eu o oriente em suas tarefas? Mais vale levar o equipamento com
pleto".

O Pe. Miguel nao tinha dúvida. Estava de partida para a sua última
viagem. Abriu a porta da cozinha e disse á sua irmS, que estava na sala con
tigua: "Inés, vou sair com este senhor!" Inés respondeu: "E meus pontch-
ki?" O policial retrucou: "O servico que o Sr. Vigário vai prestar, é mais
importante do que os seus pontchki". E Inés: "Santo Antonio de Pádua!
O sr. nao tem coracao?". "Deixa disso, Inés", disse o padre. "Prepara-me
a alva, a estola, o ritual e a agua benta".

O padre interiormente se pos a percorrer o filme de sua vida e fez um


ato de contricao perfeita, como quem se prepara, de emergencia, para
morrer. Perguntou ainda ao policial: "Nao posso ir avisar o meu coadju
tor?" - "So faltava isso", disse o policial, que se dirigiu a Inés, acrescen-
tando: "Minha senhora, se jamáis alguém souber desta minha visita aqui,
eu a mandarei para junto do seu Santo Antonio pelo retorno do Correio".

Inés entao despediu-se de seu irmao, murmurando no seu ouvido:

"Quando voltares, acorda-me!"

Pensou o padre consigo mesmo: "Ela nao desconfia de que eu nao


voltarei". Entrou no carro do policial, que se pOs a acelerar a marcha. En-
trementes rezava o sacerdote: "Senhor Jesús, tem piedade de mim!"

O policial caiu numa gargalhada e Ihe disse: "O Sr. precisa mesmo
da misericordia de Deus. Quer que o ajude a fazer seu exame de cons-
ciéncia?"

O padre agradeceu: "O seu Código de Moral difere do meu!"

O carro corría a toda velocidade, enquanto o padre pensava na mor


te que o esperava e rezava o terco; "... agora e na hora da nossa morte".

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22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

O ve ícu lo atravessou o centro de Varsóvia, sem parar na sede da


Polfcia Central. O padre já previa que o iam executar sumariamente,
lancando-o numa fossa aberta nos bosques dos arredores. De repente, o
carro parou diante de urna casa dos suburbios, em que discretamente
se tocava música. Pensou o Pe. Miguel: "Crer que esses monstros fazem
festa enquanto sacrificam gente honesta!" O policial introduziu-o na
casa. Ao entrar, o sacerdote percebeu logo a ante-cámara, que nada tinha
de urna sala de espera de um Posto de Polícia: a música era acompanhada
pelos vagidos de urna crianca recém-nascida. Abriu-se a porta da sala
principal, donde saiu urna mulher, que, sorridente, convidou o padre a
entrar; ele compreendeu entao por que levava estola, agua benta e o equi-
pamento de pároco. Disse-lhe o policial:

"Se alguma vez o Sr. contar a missao delicada que Ihe confiamos,
será ¡mediatamente transferido para o seio de Abraao (= o além). E agora
vamos! Batize o meu filho".

Os padrinhos aproximaram-se e o Batismo foi administrado á crianca,


que tomou o nome do pai: Antonio.

"Que pedes, Antonio?", perguntou o padre.

Varias vozes responderam: "A fé!". Entre os que responderam, estava


o policial, que passava a fazer as vezes de coroi'nha, trazendo ñas maos a
caldeirinha de agua benta...

Pelas duas horas da madrugada, o Pe. Miguel voltou á casa. A sua ir-
ma Inés, que o confiara a S. Antonio, quase caiu para tras quando viu o
padre e o policial abracados como os melhores amigos. Ná*o sabia o que
acontecerá e insistía com o padre para que comesse os pontchki que ela
preparara horas antes. O sacerdote recusou, afirmando nao estar com fo-
me. Perguntou-lhe ela:

"Santo Antonio te proibe comer meus pontchki?"

O Pe. Miguel sentiu-se fortemente interpelado pela santa curiosidade


feminina e respondeu:

"Minha cara irma, nao esqueca o segredo profissional. Eu posso ter


com S. Antonio meus entendimentos que nSo te digam respeito".

Inés se conformou e compreendeu que ná*o valia a pena insistir.


Apenas pensou: "Desta vez, S. Antonio, vos me atendestes bem demais!"

214
A historia treslida:

'BREVE HISTORIA DOS BATISTAS'

por J. Reís Pereira

Em sfrítese: J. Reis Batista repete as objecoes que o protestantismo


formula contra o Catolicismo, objecoes inconsistentes e já dissipadas mui-
tas vezes em nosso Curso de Diálogo Ecuménico (Escola "Mater Eccle-
siae", Caixa postal 1362, 20001-970, Rio - RJ) e em nosso livro "Diálo
go Ecuménico" (Ed. "Lumen Christi", Caixa postal 2666, 20001-970
Rio — RJ). Pecam todas pela fato de considerarem a Palavra de Deus escri
ta independentemente da Palavra de Deus oral — o que faz que os protes
tantes só tenham criterios subjetivos e pessoais diante dos textos bíblicos,
que assim se prestam a mais de urna interpretacao. Daí resultam o esface-
lamento e a perda de identidade do Cristianismo dilacerado pelas intuí-
coes dos fundadores dé denominacdes protestantes.

0 que o livro de J. Reis Pereira tem de peculiar, é a apresentacao de


pontos ¡solados.da historia do Cristianismo mediante os quais o autor
quer provar que a denominacSo batista é independente do protestantismo
(do qual na verdade, e/a se deriva) e remonta aos tempos do Cristianismo
nascente. Todavía nesses pontos ¡solados nao seencontra o Credo batista,
más urna ou outra heresia; ademáis esses pontos, ¡solados como sao, nao
prevalecen! contra a caudal continua que parte das Escrituras do Novo
Testamento, passa por S. Inácio de Antioquia (f 107), pelo Pastor de
Hermas (meados do século II), por Sao Justino Yt 165), S. Ireneu (i 202
aproximadamente). Tertuliano (í220 aproximadamente)... e chega até nos
no século XX. Para propugnar sua tese, R. Pereira tem de dizer que todos
esses testemunhos concatenados nSo representam o Cristianismo eqúe os
poucos e salpicados momentos de historia por ele elencados é que consti-
tuem a face auténtica (na verdade, esburacada e precaria) do Cristianismo.
* * *

J. Reis Pereira, outrora professor de Historia Eclesiástica no Semina


rio Teológico Batista do Sul do Brasil, publicou urna "Breve Historia dos
Batistas", que em 1994 já estava na sua quarta edicao. E obra de 118 pá
ginas, que tenta mostrar que os batistas sao os auténticos intérpretes dos
escritos do Novo Testamento. Os batistas já terao existido no século I! Te-
rao oferecido resistencia á deten oracao da mensagem evangélica através

215
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

dos sáculos, e no sáculo XVII terao sido oficialmente organizados com o


nome de Batistas (que antes eles nao tinham). Sonriente os batistas enten-
dem devidamente o Novo Testamento, segundo tal modo de ver; nem os
católicos (violentamente agredidos ñas páginas do livro) nem os demais
protestantes nem os ortodoxos interpretam corretamente o Novo Testa
mento. — O Cristianismo pleno e puro estaría apenas ñas comunidades
batistas.

O livro de Reís Pereira é assaz superficial; cita nomes e textos sem


indicar as fontes e a documentado de apoio, generaliza de maneira vaga e
preconcebida.

Visto que o livro distorce a historia e caricatura a Igreja Católica de


maneira pouco crista, faz-se necessário tecer-lhe alguns comentarios.

1. CONSIDERACÓES GERAIS

Na verdade, os batistas tivera m origem no sáculo XVII, por obra de


John Smyth, que nasceu na Inglaterra; professava o anglicanismo; todavía,
tendo abracado idéias mais radicáis do que as da "Alta Igreja Anglicana",
tornou-se "separatista" e caiu sob a perseguicao movida pelo reí Jaime L
Por isto em 1608 emigrou para Amsterdam (Holanda). Nesta cidade, teve
a intuicao de que seu batismo nao fora válido, porque recebido em idade
infantil (na época existia a faccao dos anabatístas, que batizavam de novo
as pessoas batizadas na infancia); para Smyth, o Batismo seria nao um sa
cramento propriamente dito, mas o testemunho de que o crente estava
convertido á fé. Pediu entao a seu amigo Thomas Helwys que o batizasse
novamente; diante da recusa deste, John Smyth batizou a si mesmo e a
cerca de quarenta companheiros, merecendo por isto o cognome de"Re-
baptist". Em conseqüéncia, foi organizada na cidade de Amsterdam em
1609 a primeira igreja batista1. Smyth quis aliar-se aos menonitas, discí
pulos de Meno Simons, holandés anabatista. Mas Thomas Helwys ná*o con-
cordou; Smyth morreu pouco depois em solo holandés e a igreja por ele
dirigida díluiu-se nos menonitas. Helwys regressou á Inglaterra com dez
companheiros e nos arredores de Londres organizou a primeira igreja
batista da Inglaterra em 1612. A igreja fundada por Helwys continuou a
existir até fins do sáculo XIX, quando desapareceu tendo, porém, dado
origem a muitas outras.

| Diz Reís Pereira:"... organizada em 1609... urna igreja batista de Ifngua


inglesa, que é considerada a primeira igreja batista dos tempos modernos.
Nao que tivesse esse nome. Mas porque adotou urna prática que é caracte
rísticamente batista: o batismo após profissSo de fé como condicSo para a
entrada na igreja" (p. 68).

216
"BREVE HISTORIA DOS BATISTAS" 25

Logo nos primeiros decenios do sáculo XVII os Batistas se dividiram


em Batistas Particulares (que seguiam a doutrina calvinista segundo a
qual Cristo nao morreu por todos) e Batistas Gerais (que admitiam a Re-
dencao universal). Haveriam de se dividir e subdividir ulteriormente até
hoje.

Como quer que seja, os Batistas querem justificar suas teses doutri-
nárias (que sao as do calvinismo e dos reformadores do século XVI) como
sendo a própria doutrina do Novo Testamento; daf a violencia infligida as
Escrituras para fazé-las dizer o que Smyth, Helwys, Meno e outros chefes
dos séculos XVI e XVII pregaram. Vejamos de perto tal modo de interpre
tar as Escrituras.

2. A ESCRITURA: PONTOS CONTROVERTIDOS

Examinemos os artigos do Credo batista que Reís Peréira julga poder


encontrar tais quais no Novo Testamento.

2.1. Somente a Escritura

Os batistas, que dizem seguir somente a Escritura, nao podem apon-


tar na Escritura algum texto que delimite o catálogo bíblico ou que diga
que tais e tais livros (e estes só) sao inspirados por Deus. Donde a pergun-
ta: como sabem os batistas que a Escritura por eles utilizada é Palavra de
Deus? - Somente através da Tradicao1 oral; é a Palavra de Deus anterior á
Escritura que identifica a escrita e a abona, suscitando a fé do crente. Se
nao fosse a TradicSo oral, os crentes nao teriam fonte que Ihes recomen-
dasse a Escritura Sagrada. Donde se vé que eles também sao discípulos da
Palavra oral. Ademáis, terído a mesma Biblia, por que dizem uns que Cris
to morreu por todos e outros, que nao morreu por todos? Sendo a Biblia
a mesma, há algo além da Biblia que explica esta e outras divergencias
existentes entre os batistas; e este algo mais é a tradicao oral calvinista
(restrita) para uns, a tradicao arminiana para outros (ampia ou geral) no
caso da Redencao. Assim se percebe que há urna contradicao básica na es-
trutura mesma do Credo batista.

A própria Biblia supoe a Palavra (Tradicao) oral, que I he é anterior e


que a deve iluminar, de modo que, sem a Palavra viva que acompanha a
Escritura, esta se torna sujeita a ser estracalhada em direcoes antitéticas e
subjetivas. O próprio Sao Joao observa que muitos dos feitos de Jesús nao

1 Tradicao tem aqui o sentido etimológico de transmissao. Éxistem na


Igre/a duas maneiras de transmitirá Tradicao oral, que é cronológicamen
te a prímeira, e a Tradicao escrita, que Ihe é posterior e depende da oral.

217
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

foram consignados por escrito no Evangelho (cf. Jo 20,30s; 21,25); fica-


ram portanto na Tradicao oral. Sao Paulo, por sua vez, a recomenda viva
mente, como se depreende de

2Tm 2,2: "O que de mim ouviste na presenta de mu/tas testemunhas,


confia-o a homens fiéis, que sejam idóneos para ensiná-lo a outros". — Te
mos aquí enunciada a transmissSo do depósito da fé (1Tm 6¿0) com qua-
tro e/os sucessivos: Paulo —- Timoteo —• Homens fiéis —► Outros...

2Ts 2,15: "Ficai firmes; guardai as tradicoes que vos ensinamos oral
mente ou por escrito".

1Cor 11,2: "Eu vos louvo... por conservardes as tradicdes tais como
vó-las transmití". Cf. 1Ts3,4;4¿.6;5¿7; ICor 1123-25; 1Ts4,1...

Verifica-se que os batistas nao aceitam nenhum dos Concilios gerais


(o primeiro foi o de Nicéia I em 325); desta maneira julgam que Deus
abandonou a sua Igreja, e presumem seros únicos detentores da pureza
do Evangelho, só plenamente reconhecido a partir do sáculo XVII. Isto,
de um lado, redunda em acusar a Providencia Divina, e, de outro lado,
em presuncao e arrogancia da parte batista.

2.2. Batismo, Fé e Obras

Para os batistas, é a profissao de fé de urna pessoa convertida que


salva. 0 Batismo nao é um sacramento ou um canal de graca, mas é um
rito pelo qual o crente professa ter mudado de vida e aceitado Jesús co
mo único e suficiente Salvador. — Ora a Escritura evidencia a necessidade
do Batismo como meio de salvacao, como se depreende dos textos abaixo:

Jo 3,4: "Em verdade, em verdade te digo: quem ná*o nascer do alto,


nao poderá ver o Reino de Deus". 0 contexto trata do Batismo, tido co
mo condicao para a salvacao, sem restricoes de idade ou sem limitar o sa
cramento á idade do jovem "convertido" á fé. A necessidade do Batismo
atinge também as criancas.1

Rm 6,5s: Sao Paulo fala de "ser enxertados em Cristo" pelo Batismo,


o-que significa que o Batismo nao é apenas um testemunho de conversao
já realizada, mas é a común ¡cacao de nova vida, vida de filhos de Deus, que
tem de ser traduzida num comportamento ético cotidiano correspondente.

A Teología católica admite vías extraordinarias de salvacSo para quem


nao possa receber o Batismo. Mas isto nao anula a verdade de que o Batis
mo é o meio ordinario e universal para a salvacao de todos.

218
"BREVE HISTORIA DOS BATISTAS" 27

Por isto as obras sao necessárias. Como diz Sao Tiago, a fé sem as
obras é morta; o demonio eré, mas estremece, porque tem urna fé morta,
sem obras boas:

"Se alguém disser que tem fé, mas nao tem obras, que Ihe aproveitará
isso? Acaso a fé poderá salvá-lo?... A fé, se nao tiver obras, está morta em
seu ¡so/amento... Lembra-te de que também os demonios créem, mas estre-
mecem"(Tg 2, 14.17.19).

A aparente contradicho entre Safo Paulo e Sao Tiago se resolve com


facilidade: Sao Paulo, afirmando que a fé sem as obras basta, tem em vista
a entrada na amizade com Oeus (ninguém é chamado á graca, porque o
mereceu mediante boas obras). Sao Tiago, afirmando que a fé sem as obras
nao basta, tem em mira a perseverarla na graca; ninguém af permanece, se
nao pela fé, que se traduz em caridade, como diz o próprio S. Paulo (cf.
Gl 5,6.13s). Alias, os batistas sao extremamente atentos á conduta ou as
obras dos seus exentes, a ponto de excomungar das suasjigrejas aqueles
que, embora professem a fé, nao tém as obras correspondentes.

2.3. Eucaristía

Os batistas negam o sacramento da Eucaristía, real presenca de Cris


to, como, alias, fazem os protestantes, violentando as Escrituras Sagradas.
Para tanto alegam que a Santa Ceia é apresentada como "memorial". É,
sim, memorial no sentido bíblico, que atribuí a esta palavra um significado
eficiente, e nao meramente psicológico ou especulativo; zikarón em
hebraico e anamnesis em grego exprimem um recordar-se que efetua ou
realiza... Portanto a anamnesis da Santa Ceia (cf. Le 22,19; 1Cor 11,24s) é
urna cerimónia que recorda e atualiza ou torna presente a Páscoa do Se-
nhor, conforme a linguagem mesma das Escrituras. De resto, para o evi
denciar nada há de mais expressivo do que o capítulo 6 de Sao JoSo (que
os protestantes geralmente contornam), onde Jesús diz:

"O pao que eu darei, é a minha carne para a vida do mundo... Em


verdade, em verdade vos digo: se nSo comercies a carne do Fiiho do Ho-
mem e nSo beberdes o seu sangue, nao tereis a vida em vos... Assim como
o Pai que vive, me enviou e eu vivo peto Pai, também aquele que de mim
se alimenta vivera por mim" (Jo 6,51b. 53.57).

Estas palavras bem provam que o pao dado por Cristo nao é mero
símbolo, mas é o sacramento do seu corpo dado a nos para que vivamos
da vida do Filho e, medíante este, da vida do Pai. De resto, as palavras da
última ceia nao muito claras: "Isto é o meu corpo... Isto é o meu sangue"
(Me 14,22-24; cf. Mt 26,26-29; Le 22,15-20; 1Cor 11,23-25); Jesús nao
terá feito um testamento equívoco no momento final da sua vida ter
restre.

219
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

Ainda outra consideracao se impoe á mente do estudioso: será que


somente no sáculo XVI os cristaos comecaram a entender corretamente os
Evangelhos, atribuindo as palavras de Cristo sentido diferente daquele que
durante quinze séculos Ihes foi atribuido? O Senhor Deus terá permitido
que durante quinze séculos tenha havido erros e erros tSo grosseiros entre
os cristaos e somente no século XVI tenham comecado a entender os
Evangelhos? Tantas geracoes se terao engañado,, caindo na idolatría até Lu-
tero, Calvino, John Smyth e Thomas Helwys aparecerem! Só mediante es
tes terá comecado o Cristianismo auténtico? O sacrificio de Jesús terá sido
malbaratado durante tanto tempo! Onde fica a promessa de assisténcia in-
falível feita por Jesús á sua Igreja quando disse: "Estarei convosco até a
consumacao dos séculos" (Mt 28,20)? ... quando prometeu o Paráclito, que
guiaría os discípulos sempre no caminho da verdade (cf. Jo 14,16s. 26*
16,13)?

Ademáis é de notar que, para manter suas teses, os batistas tém que
dizer que os mais próximos discípulos dos Apostólos já estavam desviados;
assim o autor da Didaqué (séc. I), S. Inácio de Antioquia (t 107), S. Justi
no (t 165), o Pastor de Hermas (meados do século II), Tertuliano (t 220 apro
ximadamente), S. Ireneu (t 202 aproximadamente), como alias todos os
Concilios gerais desde o de Nicéia I (325) sao tidos como transviados,
nessa concepcao batista. Dirá alguém: como Deus abandonou sua Igreja
até o século XVI! Por que ná*o terá suscitado mais cedo um Lutero, um
Calvino, um John Smyth, um Thomas Helwys, um Meno Simons.. ?

— Os batistas respondem: sempre houve resistencia á graude caudal


do Cristianismo, que se pervertía... e citam nomes e fatos que cá ou lá na
historia aparecem contestando a Igreja. A propósito deve-se observar que
se trata de pessoas que contradisseram um ou outro ponto dos ensinamen-
tos da Igreja (a contradicao ou a contestacao é natural entre os homens),
mas nao se trata de representantes do Credo batista como formulado no
século XVII. Os capítulos III e IV da obra de Reis Pereira ("A Resisten
cia...") nao demonstram que os artigos de fé dos batistas eram professados
por Aéreo, Joviniano, Vigiláncio, Claudio de Turim, Berengário de Tours,
Pedro de Bruys e Henrique de Lausanne .... mas apenas indicam que hou
ve heresias no decorrer da historia da Igreja, ... heresias transitorias, que
nSo correspondiam á corrente caudalosa da fé e da vida da Igreja, sendo
ainda de notar que Berengário de Tours morreu em paz com a Igreja após
retratar-se.

2.4. O Sacramento da Reconciliacao

Basta ler Jo 20,22s para perceber que Jesús quis confiar aos seus
Apostólos a faculdade de perdoar os pecados em nome do próprio Deus.
Com efeito; disse Jesús: "Recebei o Espirito Santo. Aqueles aos quais

220
"BREVE HISTORIA DOS BATISTAS" 29

perdoardes os pecados, serao perdoados; aqueles aos quais os retiverdes,


serao retidos". É evidente que, sem a mediacSo do Apostólo (ou do minis
tro), nao há perdió de pecados (desde que essa mediacao seja possfvel).
Um testemunho indireto de que assim foi compreendido o texto de Jo, é
o de Mt 9,8: após o perdió dos pecados do paralítico, "as multidoes glo-
rificaram a Deus, que deu tal poder aos homens";... aos homens, e nao a
Jesus-homem, porque, na época dos Apostólos mesmos, os ministros do
Senhor já praticavam a remissáo dos pecados em nome de Deus.

2.5. A Uncao dos Enfermos

É certo também que, para os doentes molestados por enfermidades


graves,há um canal de grapa, do qual nos dá noticia Sao Tiago como sendo
urna prática sacramental já em uso quando o Apostólo escreve:

"Alguém entre vos está doente? Mande chamar os presbíteros da


Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor.
A oracao da fé salvará o doente e o Senhor o pora de pé; e, se tiver come-
tído pecados, estes /he serao perdoados".

Que implica este texto? — A aplicacao de materia (óleo) associada á


oracao, tendo o efeito de salvar o doente e perdoar-lhe os pecados. Ora
esta é precisamente a estrutura de um sacramento.

2.6. O Sacerdocio ou o Sacramento da Ordem

Embora Cristo seja o único Sacerdote do Novo Testamento, Ele quer


agir por meio de ministros especialmente consagrados para tanto. É o que
atestam nao só o preceito de fazer o que Ele fez na última Ceia, mas tam
bém as epístolas pastorais (1/2 Tm,Tt), que falam da imposicao das mSos me
diante a qual se confere um carisma próprio para o culto e o pastoreio da
Igreja de Deus; cf. 1Tm 4,14:

"NSo te descuides do dom da grapa que há em ti, que te foi conferi


do mediante profecía, ¡unto com a imposicao das maos do presbiterio".
Cf. 1Tm5¿2;2Tm 1,6.

2.7.0 Conceito de Igreja

Para os batistas, nao há urna Igreja única, mas há "comunidades de


crentes batizados, que se reúnem em determinado lugar para cultuar a
Deus e celebrar as ordenancas do batismo e da ceia, para a edificacao mu
tua e a pregacao do Evangelho. SSo I ¡deradas espiritual mente pelos seus
pastores; tém também seus diáconos, que auxiliam os pastores... Os assun-
tos de interesse das comunidades sá*o resolvidos democráticamente pela
comunidade" (p.14). Mais: em Mt 16,18 a Igreja que Jesús funda sobre a

221
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

rocha (= Kepha), nao é a Igreja universal, organizada devidamente e apas-


centada por Pedro e seus sucessores, mas é o Cristianismo. Cada comuni-
dade (= igreja) batista é independente das outras; escolhe e afasta os seus
pastores — o que vem a ser a expressao máxima do subjetivismo e fonte de
divisoes e subdivisoes.

Certamente nao é este o conceito de Igreja do Novo Testamento. —


Há urna so Igreja espalhada por todo o mundo, que Jesús chama "minha
Igreja" e que Ele estabelece sobre o fundamento visi'vel de Pedro e seus su
cessores, garantindo-lhe firmeza inabalável contra as adversidades (cf. Mt
16,16-19)..Essa Igreja tem seus ministerios organizados (ver 1/2Tm, Tt),
tem sua estrutura jurídica, podendo excomungar os membros infléis (cf!
Mt 18,15-17; 1Cor 5,3-5.9; 2Cor 2,6; 1Ts 3,6.14s). É a Igreja como Corpo
de Cristo (cf. Cl 1,24; Ef 1,22s), que se realiza em miniatura em cada igre
ja particular ou em cada comunidade de fiéis. Estas, porém, nao sao inde-
pendentes urnas das outras, mas devem reconhecer que "há um só Corpo
e um só Espirito, urna só esperanca, urna só fé, um só Batismo" (cf. Ef
4,4s). No corpo os membros nao sao desvinculados uns dos outros, nem
sao unidos apenas em uniao moral e afetiva, mas se ligam entre si por urna
uniao orgánica, vital, ontológica; assim as comunidades que constituem
a Igreja, sao interdependentes urnas das outras, pois juntas formam o Cor
po de Cristo, que nao é mera metáfora, mas realidade ontológica. A ima-
gem paulina do Corpo tem seu equivalente na da videira em Jo 15,1-5: ora
entre o tronco e os ramos da videira corre a mesma seiva, a mesma vida;
assim se dá entre Cristo e seus fiéis e entre as comunidades de fiéis.

2.8. O Nao ás Imagens

Os batistas, como os protestantes, sao contrarios ao culto de venera-


cao das imagens. Reis Pereira dedica a este tema o Excurso I do seu livro,
intitulando-o "Como os Cristaos se tornaram idólatras". Como se vé, a
expressao é forte e agressiva: os cristaos, no caso os católicos e os orien
táis ortodoxos, seriam idólatras.

Nesse Excurso o autor nao deixa de registrar o confuto que houve


em torno das imagens nos séculos VIII e IX e a solucao dada ao caso pelos
Concilios de Nicéia II (787, Concilio geral) e de Constantinopla (842,
Concilio local). Julgava, porém, que houve concessao á idolatría — o que
equivale a dizer, mais urna vez, que a Igreja inteira (oriental e ocidental)
se perverteu, apesar da assisténcia infalível prometida pelo próprio Cristo.

De resto, se as imagens sao proibidas pela Lei de Moisés (nSo pelos


Evangelhos), verifica-se que a razio é o fato de Israel outrora estar cercado
de povos politeístas, que podiam induzir os filhos de Israel a adorar ima
gens; é, pois, urna razao circunstanciada, provisoria, que nao pretende des-

222
"BREVE HISTORIA DOS BATISTAS" 31

truir a natureza humana necessitada do sensfvel para se elevar ao I nvisfvel.


Tenha-se em vista o texto de Ex 20,4s:

"NSo farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelha ao


que existe lá em cima nos céus, ou embaixo na térra ou ñas aguas que es-
tao debaixo da térra. Nao te prostrarás diante desses deuses, e nao os
servirás".

Como se vé, a proibicao da Lei tem em mira excluí a adoracao aos


ídolos, nao, porém, o uso de imagens como tal. Por isto o próprio Oeus
mandou fazer urna serpente de bronze em Nm 21,8s, que devia ser con
templada como sinal de salvacao; mandou fabricar querubins no templo
de Jerusalém (cf. 1Rs 6,23-29) e junto ao propriciatório (cf. Ex 25,8-22);
mandou colocar imagens de leoes, touros e querubins na ornamentacao do
Templo (cf. 1 Rs 7,29).

Daí o recurso a imagens entre os cristaos para servirem de estímulo á


elevacao da mente a Deus. Essas imagens nao tém valor em si, mas sao rela
tivas ao Senhor e aos Santos, que elas representam; por isto nSo devem ser
adoradas (adorar é reconhecer á soberanía absoluta), mas veneradas e esti
madas como se estima o retrato de pai, mae ou familiares... O ser humano
é psicossomático, e precisa de objetos materiais para suscitar e alimentar
a sua reflexao e oracao.

2.9. María Santfssima e os Santos

2.9.1 María Santfssima

A piedade para com María SS. está fundamentada na própria S. Es


critura. Com efeito,

— o anjo interpela María como sendo "cheia de graca (kecharitomé-


ne, tu que foste e permaneces repleta do favor divino)". Será este apelati
vo vao? O nome María nao é citado por Gabriel, quando diz: "Alegra-te,
cheia de graca" (Le 1,28). Este título indica a grandeza singular que have-
ria de merecer para Maria o louvor de todas as geracoes (cf. Le 1,48);

— Isabel proclama Maria "a mais bendita entre todas as mulheres"


(cf. Le 1,42). De novo observa-se: esta afirmacao significa a importancia
única de María, fundamento da estima que Ihe tributariam todas as ge
racoes;

— Isabel interpela Maria como "a Miedo meu Senhor" (cf. Le 1,43).
Ora "Senhor" é a traducao do grego Kyrios, que, por sua vez, traduz tí
hebraico Yahweh, nome que designa Deus (cf. Ex 3,14). Donde se pode
dizer que María é chamada "Mae de Deus" — o que tem pleno sentido,
pois Maria é a Mae do Filho de Deus, que, como tal, assumiu a natureza
humana em seu seio; a pessoa que nasceu de Maria, é a segunda Pessoa da

223
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

SS. Trindade, que, sem perder a natureza divina, assumiu a natureza huma
na. Isto nao pode deixar de implicar, para os cristáos, um peculiar dever de
venerar María SS.;

— o próprio Jesús, no fim da sua vida, entregou Joao como filho a


María como Mae, e vice-versa (cf. Jo 19,25-27). Isto significa que o género
humano, representado por Joao, é confiado a tutela de María SS., Mae de
Cristo (Cabeca e Corpo Místico). Alias, foi María que, na qualidade de MSe
providente e providente, pediu a seu Divino Filho a realizacao de seu pri-
meiro sinal (a conversao da agua em vinho); ela está no limiar da vida pú
blica de Jesús (cf. Jo 2,3) como está no final da mesma, ao pé da Cruz. Es
tes dados ¡mplicam a solicitude de María pelas necessidades dos homens,
que ela acompanha com carinho materno.

As objecoes levantadas em nome do comporta mentó rude de Jesús


frente a María SS. sao examinadas em nosso Curso de Diálogo Ecuménico.
Nao anulam a significacao e as importantes conseqüéncias dos textos
atrás citados.

2.9.2. Os Santos em geral

Os católicos estao longe de adorar María ou os Santos. Veneram-nos,


pois venerar pessoas heroicas é dever de todo ser humano. Além disto, pe-
dem sua intercessao, pois Deus, que nos fez solidarios entre nos, a tal
ponto que pedimos oracoes. uns aos outros, nao quer que essa común há*o
seja rompida pela morte. Ele revela aos justos no céu as necessidades e as
preces de seus irmaos na térra para que aqueles possam interceder por es
tes. Os próprios judeus, antes de Cristo, já tinham consciéncia deste fato,
de tal modo que em 2Mc 15,12-14 aparecem a Judas Macabeu o Sumo
Sacerdote Onias e o Profeta Jeremías, ambos já falecidos, a interceder pelo
povo de Deus:

"Este foi o espetácu/o que coube a Judas apreciar: Onias, que tinha
sido Sumo Sacerdote, homem honesto e bom, modesto no trato e de cará-
ter manso, expressando-se convenientemente no falar,... estava com as
mSos estendidas, intercedendo por toda a comunidade dos judeus. Apa-
receu, a seguir, da mesma forma, um homem notável pelos cábelos bran-
eos e pela dignidade, sendo maravilhosa e majestosfssima a superíorídade
que o circundava. Tomando entao a palavra, disse Onias: 'Este é o amigo
dos seus irmaos, aquele que muito ora pelo povo e por toda a cidade san
ta. Jeremías, o profeta de Deus'".

é de notar que Onias continuara, depois de passar para a outra vida,


a interceder pelo seu povo, como fazia outrora; ver 2Mc 3,10s; 4,5. Donde
se vé que a crenca na intercessao dos justos do além pelos irmSos militan
tes na térra nao é invencao do Cristianismo, mas algo que já estava contido
no bojo do povo de Deus do Antigo Testamento. Nao se trata de adoracao

224
"BREVE HISTORIA DOS BATISTAS" 33

ou idolatría, mas do exercício da solidariedade e da caridade que unem na


mesma comunhao todos os membros do povo de Deus no aquém e no
além.

3. CONCLUSÁO

Em suma, J. Reis Pereira repete as objecoes que o protestantismo for


mula contra o Catolicismo, objecoes inconsistentes e já refutadas muitas
vezes em nosso Curso de Diálogo Ecuménico (Escola "Mater Ecclesiae",
Caixa postal 1362, 20001-970 Rio - RJ) e em nosso livro "Diálogo Ecu
ménico" (Ed. "Lumen Christi", Caixa postal 2666, 20001-970, Rio -
RJ). Pecam todas pelo fato de considerarem a Palavra de Deus escrita jnde-
pendentemente da Palavra de Deus oral — o que faz que os protestantes só
tenham criterios subjetivos e pessoais diante dos textos bíblicos que se
prestem a mais de urna interpretacSo. Daí resultam o esfacelamento e a
perda de identidade do Cristianismo, dilacerado pelas "intuicoes" dos fun
dadores de denominacoes protestantes e batistas.

O que o livro de Reis Pereira tem de peculiar, é a apresentacao de


pontos isolados da historia do Cristianismo mediante os quais o autor quer
provar que a denominacao batista é independente do protestantismo (do
qual, na verdade, ela se deriva) e remonta aos tempos do Cristianismo nas-
cente. Todavia nesses pontos isolados nao se encontra o Credo batista, mas
urna ou outra heresia; ademáis, esses pontos, isolados como sao, nao preva-
lecem contra a caudal continua que parte das Escrituras do Novo Testa
mento, passando por S. Inácio de Antioquia (t 107), pelo Pastor de Her
mas (meados do século II), por S. Justino (t165), S. Ireneu (+202 aproxi
madamente), Tertuliano (t220 aproximadamente) até nossos dias... Para
propugnar sua tese, Reis Pereira tem de dizer que todos esses testemunhos
concatenados nao representam o Cristianismo e que os poucos e salpica
dos momentos de historia por ele elencados é que constituem a auténtica
face (na verdade, esburacada e precaria) do Cristianismo. O autor batista
violenta a historia; adapta-a a pontos de vista preconcebidos, como faz
com as Escrituras do Novo Testamento, e, ainda por cima, usa linguagem
agressiva, capaz de lancar areia nos olhos do leitor despreparado, mas
insuficiente para fundamentar a sua tese.

Resta pedir a Deus que ilumine o ¡rmao e Ihe dé um olhar mais


objetivo e cristao sobre a Santa Míe Igreja. Bem dizia Sao Joao Crisós-
tomo(t407):

"Nao te afastes da Igreja, pois nada há de mais forte do que a Igreja.


A tua esperanza é a Igreja; o teu refugio é a Igreja. Mais elevada do que o
céu e mais ampia do que a térra é a Igreja. Ela nunca envelhece, mas sem-
pre guarda o seu vigor" (Homilía a respeito de Eutrópio 6, PG 52, 402).

225
Esclarecendo...:

A RENOVAQAO CARÍSMÁTICA
CATÓLICA (RCC)

Em sfntese: A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil publicou


recentemente urna valiosa Instrugao sobre a Renovacao Carísmática Católi
ca (RCC), em que aborda os pontos que possam causar atritos ñas reu-
nioes dos grupos de oracio: celebracao da Liturgia, leitura e interpretacao
da Biblia, comunhSo com a Igreja diocesana e paroquial, carísmas e dons...
Sao apontados, em cada caso, ospossfveis desvíos e o reto modo de viven-
ciar as situacoes.

* * *

A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil tem-se interessado pela


preservacao dos grupos de oracao que constituem a Renovacao Carismáti-
ca Católica, procurando evitar que sigam orientacoes subjetivas, desviadas
do genuino pensamento católico. — Após longos estudos e pesquisas sobre
o assunto, houve por bem publicar, aos 27/11/1994, urna Instrucao intitu
lada "Orientacoes Pastorais sobre a Renovacao Carísmática Católica", em
que sao considerados todos os pontos suscetíveis de má interpretacao;
em cada caso apresenta-se o reto modo de conceber seja o dom das Ifnguas,
seja o das curas, seja o da profecía, seja o poder do Maligno e o exorcismo...

Dada a importancia das diretrizes assim emanadas, publicamos, a se


guir, a Parte II do documento intitulada "Orientapoes Pastorais", omitida
a Parte I, que é de índole mais especulativa, tratando do Espirito Santo no
Misterio e na Vida da Igreja.

I. O TEXTO

ORIENTAQÓES PASTORAIS

"A) A Igreja Particular

16 0 Concilio Vaticano II ensina que a Igreja Particular é urna por-


cao do Povo de Deus, confiada a um Bispo para que a pastoreie com a co-

226
A RENOVApÁO CARISMÁTICA CATÓLICA 35

operacao dos presbíteros e dos diáconos. Nela verdadeiramente reside e


opera a Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja de Cristo (cf. CD 11).

17 "Conforme o próprio Concilio Vaticano II, a comunidade eclesial


é edificada pelo Espirito Santo, mediante o anuncio da Palavra (Evange-
Iho), a celebracao da Eucaristía e dos outros sacramentos, a vida de co
mún hao do Povo de Deus com seus carismas e ministerios, entre os quais
sobressai o ministerio episcopal-presbiteral-diaconal, que tem a responsa-
bilidade de garantir os lapos que unem a comunidade de hoje com a Igreja
apostólica e com o projeto missionário, evangelizador, que Ihe é confiado
até o fim dos tem pos" (CNBB, Doc. 45, n. 196).

18 A liberdade associativa dos fiéis é reconhecida e garantida pelo Di-


reito Canónico e deve ser exercida na comunhao eclesial. O Papa Joao Pau
lo II, na sua Exortacao Apostólica Christif¡deles Laici (n.30), aponta cri
terios fundamentáis para o discernimento de toda e qualquer associacao
dos fiéis leigos na Igreja, que podem ser aplicados a todos os grupos ecle-
siais:

— o primado dado á vocacao de cada cristao á santidade, favorecendo


e encorajando "urna unidade íntima entre a vida prática dos membros e
a própria fé" (AA, 19);

— a responsabilidade em professar a fé católica, no seu conteúdo inte


gral, acolhendo e professando a verdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre
a pessoa humana;

— o testemunho de urna comunhao sólida com o Papa e com o Bispo,


e na "estima recíproca de todas as formas de apostolado da Igreja" (AA,
23);

— a conformidade e a participacao na finalidade apostólica da Igreja,


que é a evangelizaclo e santificacao dos homens... de modo a permear de
espirito evangélico as varias comunidades e os varios ambientes (cf AA 20);

— o empenho de urna presenca na sociedade humana a servico da dig-


nidade integral da pessoa humana, mediante a participacao e solidariedade,
para construir condicoes mais justas e fraternas no seio da sociedade.

19 Reconhecendo-se a presenca da RCC em muitas dioceses e tam-


bém a contribuicao que tem trazido á Igreja no Brasil, é preciso estabele-
cer o diálogo fraterno no seio da comunidade eclesial, apoiando o sadio
pluralismo, acolhendo a diversidade de carismas e corrigindo o que for
necessário.

227
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

20 Nenhum grupo da Igreja deve subestimar outros grupos diferen


tes, julgando-se ser o único auténticamente cristao.

21 A RCC assuma com fidelidade as diretrizes e orientacoes pastorais


da CNBB. A Coordenacao Nacional da RCC terá um Bispo designado pela
CNBB, como seu Assistente Espiritual, que Ihe dará acompanhamento e
ajudará ñas questoes de caráter nacional, zelando pela reta aplicacao destas
orientacoes pastorais, sem prejuízo da autoridade de cada Bispo Dioce
sano.

22 A RCC assuma também as opcSes, diretrizes e orientacoes da Igre


ja Particular onde se faz presente, evitando qualquer paralelismo e inte-
grando-se na pastoral orgánica.

23 Os Bispos e os Párocos procurem dar acompanhamento á RCC di


reta mente ou através de pessoas capacitadas para isso. Por sua vez, a RCC
aceite as orientacoes e colabore com as pessoas encarregadas desse acom
panhamento.

24 Os membros da RCC participem dos Encontros, Cursos, Círculos


Bíblicos e outras atividades pastorais e de formacao promovidos pelas Igre-
jas Particulares, bem como dos momentos fortes que marcam a vida ecle-
sial, tais como Campanha da Fraternidade, Mes da Biblia, Mes Missioná-
rio, Preparacao de Natal e outros.

25 Deve-se também reconhecer a legitimidade de encontros e reu-


nioes específicos da RCC, nos quais seus membros buscam a profundar sua
espiritualidade e métodos próprios, dentro da doutrina da fé e da grande
comunhao da Igreja Católica.

26 As Equipes de coordenacao da RCC integradas as diversas instan


cias pastorais da Igreja Particular, visem urna comunhao plena com as
Comunidades, Associacoes, Pastorais Específicas, Servicos e Organismos
existentes na Diocese, respeitando-os, valorizando-os, reconhecendo-os e
colaborando com elas na busca de urna auténtica articulacao pastoral (cf.
CNBB, Doc. 45,295 e 296).

27 Os Grupos de Oracao alimentem o espirito de comunhao eclesial,


busquem o crescimentó na fé e a perseveranca de seus participantes levan-
do-os a um efetivo compromisso na evangelizacao, engajando-se na Co-
munidade, Paróquia e Diocese.

28 As tarefas de coordenacao, animacao de grupos e de evangeliza-


cao sejam confiadas a pessoas adequadamente preparadas e de comprovada
vivencia crista.

228
A RENOVAgÁO CARISMÁTICA CATÓLICA 37

29 Evite-se na RCC a utilizacáo de termos já consagrados na lingua-


gem comum da Igreja e que na RCC assumem significado diferente, tais
como: pastor, pastoreio, ministerio, evangelizador e outros.

30 O programa recentemente lancado pela RCC no Brasil, intitulado


"Ofensiva Nacional", assuma o Objetivo e as Diretrizes Gerais da Acao
Pastoral da Igreja no Brasil. Seus projetos so poderao ser implantados em
sintonía com os organismos pastorais da Diocese.

31 Os convites a pessoas de outras Dioceses para conferencias, pales


tras, seminarios e outros eventos, sejam feitos com a devida anuencia do
Bispo Diocesano ou de quem for por ele indicado.

32 Os manuais de oracao, livros de estudos bíblicos e de formacao


doutrinal, dada sua importancia pastoral, tenham aprovacap eclesiástica.

B) Leitura e Interpretapao da Biblia

33 A Palavra de Deus é a própria presenca do Oeus que fala: "Escru-


tai as Escrituras... elas dao testemunho de mim" (Jo 5,39). Cristo, Evange-
Iho vivo do Pai, nao so é o centro da Biblia, mas também seu intérprete
(cf. Le 24,13-35). A "Igreja venera as divinas Escrituras como o próprio
Corpo do Senhor" (DV, 21). E nao apenas transmite a Palavra de Deus,
mas também a interpreta (cf. PCB, 127).

34 A Biblia manifesta o Plano salvífico de Deus de modo unitario.


Por isso, nao se podem utilizar textos ou palavras sem referencia ao con
texto e ao conjunto da Biblia (cf. PCB, 142).

35 Para nao prejudicar urna reta leitura da Biblia, é preciso estar


atentos para nao cair, entre outros, nosseguintes perigos: 1) O fundamen-
talismo, que é fixar-se apenas no que as palavras dizem "materialmente"
sem respeitar o contexto nem a contribuicao das ciencias bíblicas; 2),O in-
timismo, que é interpretar a Biblia de modo subjetivo, e até mágico, fazen-
do o texto dizer o que nao era ¡ntencao dos autores sagrados. Sobre isso,
sigam-se as orientacoes do Magisterio, especialmente o recente documento
da Pontificia Comissao Bíblica sobre a interpretacao da Biblia na Igreja.

36 É urgente a formacao doutrinal de todos os fiéis, seja para o natu


ral dinamismo da fé, seja para iluminar com criterios evangélicos os graves
e complexos problemas do mundo contemporáneo (ChL, 60). Dése espe
cial importancia á formacao bíblica, que oferece sólidos principios de in
terpretacao.

229
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

37 Estimule-se a prática da leitura orante da Biblia (= lectio divina),


fazendo déla fonte e inspiradlo de nosso encontró com Deus e com os
irmaos.

C) Liturgia

38 "Na Liturgia, especialmente na Eucaristía, celebra-se a realidade


fundamental da Páscoa: morte e ressurreicao de Jesús Cristo, morte e res
surreicao do batizado com Cristo. Na acao litúrgica, devem encontrar es
pago todas as realidades da vida quotidiana do cristao, pois é com todos
os aspectos da sua pessoa que ele tem de passar deste mundo ao Pai. Ao
participar na celebracao, o cristao terá presente suas aspiracoes, alegrías,
sofrimentos, projetos, bem como os de todos os seus irmaos. E colocará
todas estas ¡ntencSes na oracao que sua comunidade, com toda a Igreja,
dirige ao Pai, com Cristo Salvador, na unidade do Espirito Santo" (Joao
Paulo II, Diretrizes aos Bispos do Brasil, Loyola, 1991, p.44).

39 "A dimensao litúrgica exprime, pois, o caráter celebrativo da Igre


ja. Constituí, na térra, a expressáo mais significativa da comunhao ecle-
sial. Na Liturgia o povo de Deus encontra seu maior momento de festa e
de comunhao eclesial" (CNBB, Doc. 45, n.92). Por isso, seja dada especial
atencao á formacao litúrgica de todos os membros da RCC para maior
compreensao e vivencia do misterio e de sua expressáo simbólico-ritual e
ministerial, visando urna auténtica prática celebrativa, que leve em conta
o espaco e o tempo litúrgico.

40; Ñas celebrares, observe-se a legislacao litúrgica que, embora es-


tabeleca normas precisas para certos momentos, abre ampio espaco para a
criatividade. Nao se introduzam elementos estranhos á tradicao litúrgica
da Igreja ou que estejam em desacordó com o que estabelece o Magisterio
ou aquilo que é exigido pela própria índole da celebracao.

41 Na celebracao da Missa,ná"o se devem salientar de modo inadequado


as palavras da Instituicao, nem se ¡nterrompa a Oracao Eucarfstica para
momentos de louvor a Cristo presente na Eucaristía com aplausos, vivas,
procissoes, hinos de louvor eucarístico e outras manifestacoes que exaitem
de tal maneira o sentido da presenca real que acabem esvaziando as varías
dimensoes da Celebracao Eucarfstica.

42 Os cantos e os gestos sejam adequados ao momento celebrativo e


de acordó com os criterios exigidos para a celebracao litúrgica. Sao precio
sas e oportunas as orientacoes do documento n. 43 da CNBB sobre "Ani-
macao da vida litúrgica no Brasil". Procure-se distinguir cantos para uso
litúrgico e cantos para encontros. Vaiorizem-se os Hinários Litúrgicos pu-

230
A RENOVACÁO CARISMÁTICA CATÓLICA 39

blicados pela CNBB, os Livros de Canto das Igrejas Particulares e outros


Hinários difundidos entre o povo.

43 A Celebracao Eucarfstica, a distribuicao da Sagrada Comunhao


fora da Missa e o Culto Eucarfstico realizem-se dentro das normas litúrgi
cas, as diretrizes da CNBB e as orientacoes do Bispc Diocesano.

44 Cuide-se para que nao haja coincidencia de reunioes de grupos ou


outras iniciativas da RCC com a celebracao da Santa Missa ou outras cele-
bracoes da comunidade eclesial.

D) Dimensoes da vivencia da Fé

45 "Pela vivencia do misterio de Cristo na vida quotidiana, o Povo


de Deus aprofunda constantemente o sentido da fé" (CNBB, Doc. 45, 86).
A própria dinámica da fé comporta tanto a dimensao pessoal e subjetiva,
como a comunitaria. "A fé nasce do anuncio e cada comunidade eclesial
consolida-se e vive da resposta pessoal de cada fiel a esse anuncio" (RMi,
44).

46 "A experiencia religioso-crista nao se realiza em mera experien


cia subjetiva, mas no encontró com a Palavra de Deus confiada ao Magis
terio e á Tradicao da Igreja, nos sacramentos e na comunhao eclesial"
(CNBB, Doc. 45, n.175). Isso faz parte do desi'gnio de Deus a quem aprou-
ve "chamar os homens a participar da sua própria vida, nao um a um, mas
constituidos como povo, no qual seus filhos dispersos fossem reconduzi-
dos á unidade" (AG 2).

47 A fé nao pode ser reduzida a urna busca de satisfacao de exigen


cias íntimas e de resposta as necessidades ¡mediatas. Nem se pode propor a
fé crista sem a dimensao da cruz, ¡nerente ao seguimento de Jesús Cristo
(cf. Le 14,25-35), caminho para a vida plena na ressurreicao.

48 é fundamental para a realizacao da vida crista e da acao pasto


ral o sentido comunitario da fé. A formacao de pessoas e de comunidades
vivas e maduras na fé é resposta aos desafios da Nova Evangelizado e da
acao missionária. A Missáo nasce da Fé em Jesús Cristo e fortifica-se quan-
do partilhada (cf. RMi, 4 e 2).

49 A espiritualidade crista integra o social e o espiritual, o humano e


o religioso. Nao está, porém, isenta das ambigüidades e mesmo distorcoés
que podem caracterizar as reacoes do psiquismo humano, seja individual,
seja grupal. Por isso, evite-se alimentar um clima de exaltacao da emocao
e do sentimento, que enfatiza apenas a dimensao subjetiva da experiencia
dafé.

231
40 "PERGUNTEE'RESPONDEREMOS" 396/1995

oi;ui50 iPara;expandir(,orprojeto de Deus, o cristao deve comprometer-se


com a criapüodeumaspciedade justa e solidaria; eliminando o pecado.co
mo gerador de divisao com Deus e os irmaos. A dimensao social da fé, á
Juzrda/iDoutrinarSociahdáilgreja/.requera Juta para debelar as estruturas
de.pecado: pessoal, comunitario, social e estrutural'ie assim estabelecero
Reino de Cristo¿eíde Deusj(cf. LG, 5). Recomenda-se, pois, que membros
dos Grupos de Oracao sejam animados a assumir projetos de promocao
humaría jb social,-especialmente dos pobres e marginalizados.

51¡'A evangélica'opcao preferencial pelos pobres áumdom do Espi


rito Santo ;á-lgreja,4qüe?étambém ¡concedido; como carisma especial, a al-
gunsgruposdeicristaos'leigos; a'certas familias religiosas e a mu ¡tos fiéis.
Segundo a recomendacao'do apostólo: "Aspirai aos carismas melhores"
i(JGorj.1l2r31))jíaivivéncia3da3opcaoíjpelostpobresldeve ser desejada e implo-
rada%ípor3tbcJosftomb1cár¡smalJprecioso/'a -ser-vivido :em -nossos dias como
,sirialidáip"resenca)do>Reinojb Kojr.sir í.^cq,. ,- -jl_.;,.j ••!: ,ri
lr.¡?o!D9 9br.b¡numoo f.bp.3 s oÍDr-.ijí'i; : L on?-- .• ...;■ ■ ;.. • :
, i M ^:52^fffá'lte 'tie;cbeféhciá:entre á'fé'qué se pr'ofessa e a Vida quotidiana
é urna das "varias causas qué geram pobreza emnosso País. Os cristaos nem
sempre souberameri^contrarna/fé^a forca necessária para penetrar os cnté-
nos.e^,decisoesidpsjsetores;responsáveis pela organizacao social, econ6-
;micaepojmcaJaenosso!povoicf, DSD 161). ,

noosi msKoVfoeiaqzib zorliii í¡:ak Inurj o;. ,t.;c,i (;. .. ..,: ! :.


5,3 AJguns}tejnas^necessijtarp_>de maioraprofundamento teológico, diá-
ecJesiaLeorieotacaó^astqralteiscomo:BatÍsmb no Espirito Sat

e o-sacrámentoda

^ugetir.uma especie pe ^sacramento. Poderao


iáp..do .Espirito ^Santo", ''derramamento do
rnpádj.naó^eiütiíize ^b.termo''confirmac3o''
.parajpao^íc^nTungi^cpmjpjsaj^
de.DoimmarComünicadp:Meñsal,,bez.de^ ' '
ü onsmurío ,lBUíiiiq29 o á Isisoa o eiQ3jni i;)sh
sje,^^1
é^Q^daicaridadejcííAspiraitaosidonSimaisaltos. Alias,-:passo a indicar-vos um
<caniinhoJique.,u|trapassaiaí,todos...V {1Cor .12,31-i13,13). "A caridade é o
tPlinjejj^jd.pnj e^Oírnais ¡necessário,, pelo qual amamos a Deus ácima de tu-
doe o próximo por causa dele" (LG, 42).

232
A RENOVACÁO CARISMÁTICA CATÓLICA 41

'""[ 56 "O Espirito Santo unifica a Igreja na comunhao e no ministerio.


Dbtá-á-eídirige-a mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos"
(ITG^I^O-Espfrito opera "pelas múltiplas gragas especiáis, chamadas de
cafismas;;atrávés das qüais torna os fiéis aptos e prontos a tomarém sobre
sí os varios trabalhos e oficios que contribuem para a renbvacao e maior
incremento da Igreja" (Catecismo da Igreja Católica, 798). Os carismas de-
vém s^ rebebidos cbmgratidao e consolacao. E na*o devém ser temeraria
mente pedidos nem se ter a presuncao de possui-los (cf. LG 12).

-^'■_. ?7 H5?.!mu'^° ¿liscernimentó na identificagao de carismas é dons ex


traordinarios.' Diante das pessoasqué teriam carismas especiáis, o ju izo
sobre sua autenticidade e seu ordeñado éxercicio compete aos pastores dá
Igreja. A eles em especial cabe nao extinguir o Espirito, mas provar as coi
sas páráficar ¿om o que é bom (cf.r 1Ts'5fÍ2.19.21). Assim, também no
que se refere aos carismas, a RCC se atenhá rigorosamente ás orientacoes
do Bispo Diocesano. ;
-.'i/.ir-ó>••;,•-■ ■ ■ .-,... .-,,.,., ,, ,; - , x ■ -
í 58 Dom da cura: O Senhor dá a algumaspessoas um carisma especial
de cura, para manifestar a forga da graga do.iRessuscitado, No entanto, as
oragoesmais intensas nao conseguem obter a-cura de todas as doencas
Sao Paulo'aprende do Senhor que "bastaminha graca, poisé na fráqueza
que minhacforga manifesta todo seu poder" (2Cor;12,9), e que.os sofri-
mentos:que temos que superar podem ter como sentido "completar na
mmha carne o que falta as tribulagoes de Cristo pelo seu corpo que é a
lgreja'ft(G1124) '^
-;}?r

: W'-59<AoJmplorar a cura, nos encontros da RCG.ou em/outras'celebra-


goes; >nao jse*adote qualquer atitude que possa resvalan para ;ümrespírito
milagreiro e mágico, estranho á prática da • Igreja • Católica? (cfiEclo -38,

.c¡n&60ifla&eelebrac6es com doentes,'!náo-se.use'mtgestbsiqüéídao:árfalsa


impressao3defumigestosacramental'coletivo.-ou.queajma>Bá;pécie!deiV.fluido
espiritual" viesse a operar curas. '"'""' ■' MftWúmz to>htm :-•

61 O Óleo dos Enfermos nao deve ser usado^orá dá celebracSo do


Sacramento:;Para nao criar confusao na mentedos fiéis, quém nao é sacer
dote nao faca uso do óleo em béníaó dedoentés; mas usé apenas o Ritual
de Béngaos oficial da Igreja.

: ;B2 Orar é'falar em íínguas: O "destinatario da orácao ;erh línguas é ó


próprió üeüs, por ser urna atitude da péssoa absorvida em conversa parti
cular ccimDéus. £■ o destinatario do falar em linguas é a comunidade. O
apostólo Paulo ensina: "Numa assembléia prefiro dizer cinco palavras cóm
233
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

a,minhaiinteligencia para instruir também aos outros, a dizer dez mil pala-
.vras.em.línguas" (1Cor ,14,19). Como é difícil discernir, na prática entre
¡nspiracao do. Espirito Santo e os apelos do animador!do grupo reunido,
n§o se incentive a chamada oracao em línguas e nunca se faleem línguas
sem que haja intérprete.

63 Dom da profecía: Na Biblia, profeta é o que fala em nome de


Deus. Significa, pois, um evangelizador. é a comunicaca*o de assuntos espi-
rituais aos participantes de reunioes comunitarias, aos quais se dirigem
palavras de exortacao e encorajamento. "Aquele que profetiza, fala aos
homens: edifica, consola, exorta'.' (1 Cor 14,3). É um dom para obemda
comunidade e nao tem em vista adivinhacoes futuras. ... ,

,:> 64 Haja grande discernimento quanto ao dom da profecía, eliminan


do qualquer dependencia mágica e até supersticiosa. ......

65 Em Assembléias, grupos de oracao, retiros e outras reunioes evíte


se a prática do assim chamado "repouso no Espirito". Essa prática exige
maíor aprofundamento, estudo e discernimento. .t , r

':■■:■; 66 Poder do mal e exorcismo; Cristo venceu o demonio e todo o es


pirito do mal. Nem tudo se pode atribuir ao demonio, esquecendo-se o jo-
go das causas segundas e outros fatores psicológicos e até patológicos.

67 Quanto ao "poder do mal", nao se exagere a sua importancia. E


nao se presuma ter o poder de "expulsar" demonios. O exorcismo só pode
ser exercido de acordó com o que estabelece o Código deiDireito Candni-
co (Can, 1172). Por isso, seja afastada a prática, onde houver, do exorcis
mo exercido por conta própría/ . '. • '• .: ■)■;••
. ■•> . y-- . • ■ ." r ' '
68 Procure-se ainda formar adequadamente as liderancas eos mem-
ibrosída^RCC-para superar urna preocupacao exageradaicom;OTdém6nio,
'queíJcrianoúvreforca .urna mentalidade^fetichista; -infelizmenteipresértté
Memñmuitosambientes. ' ■•>■- --^o':'i~:':M\ "]xCf>TÍ~(iib

69 As orientacoes aqui oferecidas sao expressao dasolicitudetpastoral


com que o ¡episcopado brasileiro acompanha a RCC, seu carisma próprio
¡ dentro do .legitimo pluralismo, mas também mostrando sua preocupacao
com,, desvíos; ocorridos, ^ que i sao, prejudiciais -para a -. RCC e. para..toda a
Igreja; i . í¡>< '•

234
A RENOVAgAOCARISMÁTICACATÓLICA 43

70 Seja este um ponto de partida para urna nova e mais fecunda eta
pa em que a RCC há de buscar sua maior integracao ñas Igrejas Particu
lares, em conformidade com as Diretrizes da CNBB na fidelidade á missao
da Igreja.

71 Pedimos a Deus que abencoe os membros da RCC e a todos que se


empenham, nos días de hoje, com humildade e confianca a vivera vocacao
á santidade e o compromisso missionário. María, Mae da Igreja; interceda
para que todos, no seguimento de Jesús Cristo, aspirando aos diversos
dons do Espirito, procurem sempre o amor que permanece (1Cor 14,1)".

II. REFLETINDO ...

Em suma, os Bispos do Brasil.desejam recomendar especialmente os


seguintespontos: V '. ... .y. ,-,.'.., v'.¡r

1) Os grupos de oracao desenvolvam sua yida esuas atividades em co-


munhao com a Igreja Universal e sua hierarquia;tparticipem da realidade
diocesana e paroquial, evitando particularismos fechados e quicá altivos ou
auto-suficientes. ■!; . ; :.-..v-.r,-- , ■ ..i < • i ■

2) Dediquem-se á leitura orante da Biblia, fugindo de orientacSes er


róneas como seriam o fundamentalismo (entendimento literal cegó do
texto sagrado, alheio aos serios estudos bíblicos contemporáneos) e o inti-
mismo ou subjetivismo, .que faz a Bíblja^dizer; o ;que> os autores .sagrados
n5o tinhamia ¡ntencao de dizer. A Bíbliá'chá'de ser;lidajiofcontextóida
Tradicao oral viva, que se faz ouyir. pelo,Magistério;da Igrejas 'sii-í^
x n f
3) Á Liturgia seja .celebrada desacordó,com as normas ida Igreja, évi
tando-se criatividade que possa insinúa?!concepc5es antagónicas á própria'
índole da ^i ^
y

4) A'fé nao se podeTeduzir^^usca?d.e,tesppstás^sinecessidadesiparti-


culares, nem á satisfaca6:dérex¡g§ncíás>Yjitímas,£Jaíiem uma.dimensSo.ico-
munitána^integrao espiritual,sb^humanot%1'o^ocial. 'Evite^seiallmentar
um clima deexaltapSo dá; embqabaBjitiófseritiméritoiquerenfatiza apenas a
{
; . 8fAía!:1
5) Em vez de "Batismo no Espirito Santo';'; (expressao que pode suge
rir-urna especie de sacramento), prefiram^se asiexpressoes "efusao do/ Es
pirito Santo" ou "derramamento do Espirito Santo". , :. "~ .

235
44 "PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 396/1995

6) Quanto aos carismas, nao devem ser temerariamente pedidos nem


se tenha a presuncao de os possuir. O juízo sobre a sua autenticidade com
pete aos pastores da Igreja.

7) Ao implorar a cura, nao se adote qualquer atitude que possa resva-


lar para um espfrito milagreiro e mágico, estranho á prática da Igreja Ca
tólica. Nao se pratiquem gestos que insinuem a presenca de um "fluido
espiritual" que viesse a operar curas. Quem nao é sacerdote, nao faca uso
de óleo em béncao de doentes, para nao criar confusao na mente dos fiéis.

8) Visto que na prática é difícil discernir entre inspiracao do Espiritó


Santo e projecao do psiquismo humano, nao se incentive a chamada "ora-
cao em linguas" e nunca se fale em línguas sem que haja intérprete.

9) O dom da profecía é a faculdade de falar em nome de Deus ou


evangelizar, é dom para o bem da comunidade e nao tem em vista adívi-
nhacoes do futuro. ' • ■ ;V

10) Evite-se a prática do assitn chamado "repouso rio Espirito", pois


esta exigemaior aprofundamento e estudo. • '■ -• -' j -,-.¡:;'.'rn

11) Quanto ao "poder do mal", nao se exagere a sua importancia.


E nao se presuma ter o poder de expulsar demonio. O exorcismo só pode
ser praticado de acordó com as normas do Direito Canónico (canon 1172).

■ Eis o que a sabedoria da Igreja, Mae e Mestra, tem a propor aos mem-
bros da Renovacao Carismática Católica, para que possa;cbntinuar a'desen
volver sua benéfica acao tanto entre os fiéis como entre aqueles que estao
afastados da fé éprecisam de lúcido testemunho de fidelidade a Cristo eá
sua Santa Igreja.

anh^dó^^

^ÓtóR-^ip^
■ - - PEREGRINAQÁO TÉRRA SANTA, EGITO;, ITALIA smiis inu
DE 10 a 26 DE JULHO^bEiSÓS^DIREgÁÓ^SPTmfü^
PEDRO GUIMARAES FERREIRA S.J. INFORMApOES PELO TELE
FONE (021) 221-3735: INSCRICOES ATÉ 31/05/95. i '3 ^«
AiVISITA DA TÉRRA1 SANTA'PODE EQUIVALER>AUM^RETÍR6
ESPIRITUAL. _,;■■-.;.■ ■■t:?.:iníí«1>í:--io

236
Como conceber...?

'O PURGATORIO'

por Doljndo Ruotolo

■mí ;¡Em .sfntese: Dolindo Ruotolo apresenta urna concepcao do purgato


rio dantesca, baseada, em grande parteéem-reve/acdesparticulares ou em
aparicoes de almas do purgatorio. Daf deduz ser o purgatorio um cárcere
•corñ diversos compartimentos, nos quais flagelos ¡ndizíveis atormentam as
almas, estando af presentes os demdnio&O autor imagina as almas do pur
gatorio presentes á ce/ebracio da SJEucaristíaJda qúairecebém grande ali
vio. María SS. desceña ao purgatorio aossábados e nos días de festa maña
na para libertar almas ali sófredoras.' „

■íWTódáfésta-maneira de ver é fantasiosa e destituida de fundamentos


ñas fontes da fé; as revelacoes particulares nao de ser.consideradas com sa
bio, discernimento. Jé o Concilio de Trento adrnoestou os pregadores a
guardaren) sobríedadé no tocante ao purgatorio. '

■* *■■ *

., v, ^.%Pub.licado pela Associacao "Mária Porta do Céu", (Campiñas) o l¡-


Vr° .^Dolindq,^
días". Éljyrb,inspirado por.grandé piedade, más pbuco adequádb á realida-
de teológica do purgatorio, yisto:que,ú^
'jantes, derivados de yisoes particulares serrí fundamento sólido e objetivo,
.^af a convenienciai de.uma análise serená.do.jivrp..

_______ nasceü e^trabálhbú ha Italia,-fajécendo aos


._. ...._._. ^«.^^j%numerosas:bbras'de espiritualidadé é' Moral,'qué
^testernunham vasta cultura. O seu liyro sobre o purgatorio aprésente con-
MPíoK^daíitéscas/'-poucoxohdizerites^ oficial da Igreja,
queBeséiaSer-sóbriá rsobrero assunto para riaa incbrrer emi divágacoes da
fantasía. Examinemos os principáis traeos da obra! '•' ' ■ '

i. LINHAS CARACTERÍSTICAS DO LIVRO ,


v¡•¿■•?O autor-parte da concepcao deque "a imaginacao de Dante está fun
damentada na realidade... Supoe corpos presos por correntes, oprimidos

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46 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

por pesos, gemendo por inercia... As descripoes do poeta, por mais penosas
que sejam, dao somente urna idéia relativa do verdadeiro tormento de
urna alma" (pp. 40s>.

0 purgatorio é imaginado como um lugar ou, melhor, um cárcere


(pp. 28. 46. 59). Os "demonios nauseabundos" atormentam e insultam as
almas (p. 43). Todo tipo de tortura é infligido ás almas: gelo, fogo, trevas,
sofrimentos muito mais dolorosos do que os mais cruéis tormentos da vida
presente...

O autor quer mostrar a possibilidade de fogo no purgatorio, basean-


do-se em dados da Física nuclear:

"De que natureza é esse fogo e como pode atormentar a alma, que é
espirito? — É um grande problema e um grande misterio, que pode ser es
clarecido pelos modernos descobrimentos atómicos..." (p. 19).

"A separacao de Deus, como na divisao do núcleo do átomo, gera um


fogo terrfvel... gradualmente extingufvel... á medida que as culpas da alma
sao purificadas pela amorosa inclinacSo para Deus, que /he produz o mes-
mo tormento" (p. 21).

A duracao do purgatorio é computada pelo tempo: "dez, vinte, cem


anos" (p. 11; ver p.8).

A concepcao que o autor propoe, é a de que a alma no purgatorio


tem urna divida a pagar por pecados graves, já absolvidos, ou por pecados
leves (pp. 80-82). Deus cobra essa di'vida por misericordia, ou seja, para
possibilitar á alma o acesso á bem-aventuranca celeste. María Santi'ssima
pode obter anistia ou perdao da divida, pois o autor diz mais de urna vez
que María liberta almas do purgatorio; assim, por exemplo:

"Lemos ñas revelacoes dos Santos que o sábado, día dedicado á Vir-
gem, é dia de festa no purgatorio, porque a Mae da Misericordia desee
áquele penoso cárcere para visitar e consolar seus fifhos e filhas.

Em virtude do privilegio sabatino, aqueles que usaram o escapulario


da Virgem do Carmo e cumpriram as condiedes requeridas, sSo libertados
do purgatorio no primeiro sábado depois de sua morte.

Ñas testas de María e, em especial, na Assuncao, a Virgem SS. desee


ao purgatorio e liberta urna multidao de almas" (p. 59).

Os sufragios feitos pelos cristaos na térra contribuem para amortizar


essa divida:

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"O PURGATORIO" 47

"Deus, pelo amor que tem és almas, aceita a oracao como reparacSo
das culpas da alma, como pagamento, aínda que parcial, das dividas, como
urna purificagao que a capacita a alcancar a ¡mensa graca da eterna feli-
cidade" (p. 73).

Em suma, a leitura do livro é impressionante c suscita a interrogacao:

2. QUE DIZER? QUE PENSAR A RESPEITO?

Devemos afirmar que as descricoes de Dolindo Ruotolo, por mais


bem intencionadas que sejam, nao correspondem á realidade do purgato
rio. Sao poéticas, dantescas, antropomórficas, imaginando um Deus que
cobra dos homens a expiacao de suas faltas, como se esta fosse o pagamen
to de urna multa, e como a policía cobra faltas dos réus para conceder-lhes
posteriormente a liberdade. A base para tais concepcoes sao historias de
aparicoes de almas do purgatorio: "A constancia dos testemunhos de vida
além-túmulo faz positiva a ciencia que a indaga e estuda" (p.17). Ao longo
do livro, encontram-se numerosos casos de almas que, como se diz, apare-
ceram e testemunharam os tormentos do purgatorio.

A tendencia a imaginar o lugar e o estado das almas do purgatorio


era tao forte no fim da Idade Media que o Concilio de Trento em 1563
recomendou sobriedade a respeito:

"Empenhem-se os Bispos para que os fiéis mantenham e creiam a sa


doutrina sobre o purgatorio... Sejam excluidas das pregac&es populares é
gente simples as questdes dificéis e sutis e as que nao edificam nem au-
mentam a piedade. Igualmente nSo seja permitido divulgar nem discorrer
sobre assuntos duvidosos ou que trazem a aparéncia de falso. Sejam aínda
proibidas como escandalosas e prejudiciais aquelas coisas que tem em vista
provocar a curiosidade ou que tém o sabor de supersticao ou torpe lucro"
f Enquirídio dos Símbolos e Definicoes de Fé, aos cuidados de Denzinger-
Sch'ónmetzer, n. 1820 [983]).

Tais recomendacoes sao plenamente válidas aínda em nossos dias. A


respeito do purgatorio sabemos que:

— é um estado de alma real ou realmente existente; cf. 2Mc 12 39-45-


1 Cor 3,10-15;

— nada tem que ver com local, muito menos com prisao dotada de
compartimentos para os diversos tipos de réus;

— nSo consta de fogo, nem comporta a presenca de demonios, é inú


til procurar ñas explicacoes da ciencia moderna o ente.ndimento de um

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48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 396/1995

pretenso fogo do purgatorio. 0 demonio nao contribuí para a purificacao


das almas, mas somente para a condenacao das mesmas;

— o purgatorio propicia a ocasiao de repudiar os resquicios de pecado


com que alguém morra, sem tormento algum de ordem física (gelo, peso
deprimente, queimaduras, etc.);

— nao se contabiliza em dias e anos a duracao do purgatorio, e sim


em evo. O evo é a duracao de um ser que teve comeco, mas nao terá fim
(como é a alma humana), ao passo que o tempoé a duracao de um ser que
tem comeco e fim (este mundo, por exemplo) e eternidade é a duracao de
quem nao teve comeco nem terá fim (só Deus). O evo consta de urna su-
cessao de atos psicológicos de conhecimento e amor (ou des-amor);

— as almas do purgatorio podem aparecer na Térra, manifestando-se


aos homens. Mas isto só acontece por extraordinaria permissao de Deus,
permissao que nao se deve supor com facilidade. Dai'a necessidade de um
olhar crítico sobre as historias de aparicoes; mesmo que algumas sejam t¡-
das como genuínas, as ¡magens de que Deus se serviu para incutiraos ho
mens a realidade transcendental do purgatorio, nao podem, sem mais, ser
tomadas ao pé da letra; existe um linguajar figurado que tem sentido cate-
quético e que há de ser reconhecido como tal;

— Deus nao é um policial justiceiro, cobrador de taxas ou provocador


de castigos. Embora o Pe. Dolindo queira ressalvar a bondade e o amor de
Deus, nao deixa de transmitir a idéia de um Deus interessado em punicoes.
0 purgatorio nao decorre de um decreto de Deus punitivo (que poderia
"fazer por menos"), mas é conseqüéncia da vocacao da criatura a ver Deus
face-a-face; esta visao facial requer absoluta pureza de coracao, pureza esta
que é urna exigencia da ordem das coisas, e nao urna imposicao jurídica
concebida arbitrariamente;

— as ciencias naturais, como a Física nuclear, nada tém a dizera res-


peito do purgatorio, pois este existe no plano espiritual e na linha da mo
ral ¡dade, nao no da corporeidade.

Ulteriores nocóes sobre o purgatorio podem ser encontradas em


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