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C – Você já teve casos onde a pessoa chega pra você e diz que está
cansado desta situação que está cansado de viver, a pessoa está naquele
ponto de querer se entregar, não tem mais força, como é?
W- Isso é muito comum, agente chama isso de auto abandono, o
suicídio é o auto abandono, a depressão é ódio de si mesmo, se você alimenta
esse ódio por si mesmo, vamos supor que a pessoa não sai da cama, vai
chegar um momento em que ela não vai melhorar, então tem que entrar com
medicação, nós aqui da psicologia, agente aceita a pessoa, agente pergunta o
que que você está querendo abandonar? Qual é a sua dor? Conta pra mim,
essas perguntas todas costumam abrir o canal da dor, aí a pessoa pode falar,
ela chora bastante, agente também em alguns casos, pede pra pessoa trazer
os familiares para agente orientar os familiares, para não alimentar a
depressão da pessoa, usar aquela técnica que vocês vão usar demais, que é
separar o problema da pessoa, ama o familiar, mas condena o fato dela se
maltratar, condena o fato dela usar drogas, fazer uso de álcool, separar a
pessoa do problema, ataca o problema e acolhe a pessoa, ama a pessoa e aí
faz a pessoa também aceitar isso que ela tem uma doença que precisa ser
tratada, um momento fundamental de melhora do depressivo ou da pessoa que
quer se matar é quando ele aceita que aquele pensamento suicida faz parte da
doença dele, da patologia, quando agente consegue chegar neste ponto de
conscientização, “a nossa, hoje eu estou acordando com mal humor, com
vontade de tomar todos estes remédios, e bem que o psicólogo me falou que
isso é a minha doença em curso, é a minha doença e não sou eu”.
Aí outro passo seria agente não alimentar isso na pessoa, olha o
pensamento se você deixar ele passar, ele vai, tem a técnica também que
agente pede pra pessoa escrever os pensamentos, toda vez que ela pensar em
se matar, ela escrever, e o que que ela acha que se ela concretizar o que irá
acontecer, aí depois de 3 ou 4 dias traz o relatório aqui, aí agente identifica, o
ódio porque o outro não fez o que eu queria, a uma mágoa porque eu fui
abandonada, sempre tem uma coisa muito ruim que ela passou que ela abre,
que ela acha que ela não agüenta sofrer aquela frustração.
A- E quem conta, o médico ou a família? Pra criança, qdo ela esta com o
HIV?
W- O médico conta pros pais
A- E os pais que contam pras crianças?
W- mas aí os pais podem pedir ajuda, porque como a criança, os pais
são os tutores, pra tomar a medicação e se acontecer alguma coisa eles são os
responsáveis, os pais são os responsáveis, a criança vai perguntar, vai saber.
C- Eu imagino assim que uma fase que talvez isso seja um pouco mais
aflorado seja na fase da iniciação escolar, onde de repente ela vai perceber
que é diferente, que ela vai ter que tomar o remédio, porque a quantidade é
bem significativa, e tem os efeitos colaterais, então nossa duvida é assim,
como será que funciona a cabecinha desta criança, deve ter momentos de
resistência e de lidar com tudo isso.
W- Provavelmente sim, você me lembrou agora pacientes diabéticos,
que eu atendi, é, quanto mais imaturo, menos aceitando a condição, e o
tratamento, as vezes o adolescente tem que passar muito mal e estar ali na
hora da morte pra poder aceitar a medicação, aceitar a sua condição enquanto
diabético, e alguns infelizmente não aceitam, e há frustração, eu estou
pegando carona na diabetes ta? Que também é considerada uma doença
crônica,
C- E Walter como você esta hoje voltado a esta área da saúde, você
acaba tendo contato com os outros profissionais, você percebe hoje se existe
algum medo por parte das pessoas em relação a contaminação e até mesmo
preconceitos das pessoas que estão lidando com pessoas infectadas?
W- Existe, existe muito medo, tem gente que acha que ainda pode pegar
beijando, tem ainda muitos mitos, na África, saindo agora do nosso contexto,
tem um país, que eles dizem se você é soropositivo e se você transar com uma
pessoa virgem você fica curado, então vários homens que são, vão procurar
meninas virgens pra ter relação pra curar, então nós estamos no século XXI e
estes mitos, estas informações são disseminadas.