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A Trincheira

Luis Felipe Gomes 23 de junho de 2013


N ao sei em que ano estou. Sei apenas que estou em uma trincheira e faz muito frio de maneira a n ao poder mais urinar sobre minhas botas para amolecer-lhes o couro e mant e-las mais confort aveis. N ao sei ao certo por que vim parar aqui, nem como, ou mesmo, por que causa estou lutando. Sei apenas que um certo arquiduque foi morto em um atentado e decidiu-se por uma guerra. Diziam-me ser injusta a divis ao das fronteiras da Africa, mas, ao meu ver, nem sequer sabia que lhas havia, nem sobre o que falavam. Pensava apenas em um grande deserto que durante o dia era calcinado pelo sol tir anico e cuja noite era t ao fria quanto esta. Os bombardeios haviam passado. Uma pequena tr egua antes do inexor avel retorno. Meu fuzil e m ascara de g as jaziam inermes ao lado. O c eu estava absolutamente claro e as estrelas cintilavam sobre os esqueletos dos escombros no manto negro da noite. Isso lembrava meu av o, homem simples de apar encia, embora culto, dizia ser o c eu innito; j a n ao o podia saber, posto que sentia-me um tanto nito. Dizia tamb em que a alma era eterna; ent ao, a Terra passava-me a ser como uma bela pris ao que antes bela por natureza era cruel como op ca o.

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