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DIREITO DAS

COISAS

extinguem tais direitos, o poder que seu titular exercia sobre a coi- Historicamente, várias foram as teorias apresentadas para
GENERALIDADES sa retornará, em regra, ao proprietário (princípio da consolidação). tentar explicar suas características e conceituá-las. No en-
tanto, tais teorias podem facilmente ser agrupadas em dois
1. Direito Real e Direito Pessoal 3. Classificação dos direitos reais grandes grupos, quais sejam o das teorias subjetivas da pos-
Os direitos reais apresentam características próprias que De maneira geral, há várias formas de classificar os direitos reais, se e o das teorias objetivas da posse. Vejamos cada uma
os distinguem dos direitos pessoais. Para compreendermos previstas na doutrina, no entanto aquelas que apresentam maior delas:
isso, precisamos entender a idéia de direito pessoal e a de relevância, sendo mais frequentemente mencionadas, são as se- 2.1. Teoria subjetiva (savigny)
direito real. guintes: Segundo essa teoria, a posse seria formada por dois ele-
1.1. Direito pessoal: pode ser considerado como resultante 3.1. Direitos reais sobre coisa própria: são aqueles que apre- mentos, sendo um objetivo corpus, que é a relação material
de uma relação jurídica existente entre duas (ou mais) pes- sentam um único titular com poder sobre a coisa. O direito real estabelecida com a coisa e um outro de natureza subjetiva
soas, em função da qual uma das partes (chamada credor) sobre coisa própria por excelência é a propriedade. animus, que é a vontade de ter a coisa como sua. Desse
pode exigir da outra parte (chamada devedor) o cumprimen- 3.2. Direitos reais sobre coisa alheia: são aqueles que possuem modo, para os defensores dessa teoria, deveria ser consi-
to de uma prestação. Assim, somente quem é parte nessa dois titulares distintos com poder sobre a coisa. É o caso, por derado possuidor da coisa aquele que tivesse o poder físico
relação jurídica estabelecida é que pode exigir a prestação exemplo, do usufruto, em que temos um titular do domínio sobre a sobre ela e simultaneamente tivesse a intenção de perma-
da outra parte. coisa e outro que detém os direitos de uso e gozo sobre a mesma necer com a coisa em seu poder. O núcleo da posse, para
1.2. Direitos reais: por sua vez, podem ser exercitados por coisa. O usufrutuário, portanto, detém direito sobre bem que não essa teoria, é a intenção do indivíduo em permanecer com
seu titular em face de qualquer pessoa da sociedade, inde- lhe pertence. a coisa.
pendentemente da existência de uma relação jurídica prévia 3.3. Direitos reais de gozo ou fruição: são os direitos que permi- 2.2. Teoria objetiva (ihering)
entre eles. tem ao seu titular que utilize a coisa, podendo fruir dela, enquanto Segundo essa teoria, a posse seria composta por apenas
Desse modo, podemos caracterizar direito pessoal como remanesce o proprietário com o domínio sobre ela. Nessa catego- um elemento, o objetivo corpus. O animus estaria inserido no
uma relação jurídica de pessoa a pessoa, tendo como ele- ria, podemos incluir o usufruto, o uso, a habitação, as servidões, “corpus”, tornando o elemento subjetivo dispensável. A idéia
mentos o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. O di- dentre outros. de “corpus”, portanto, não é igual àquela da teoria subjetiva.
reito real, por sua vez, estabelece uma relação entre o titular 3.4. Direitos reais de aquisição: são aqueles que garantem ao Aqui o “corpus” será representado pelo poder físico sobre a
do direito e toda a sociedade, ou seja, um sujeito determi- seu titular o direito de vir a adquirir a coisa, de forma absoluta, coisa, com a exteriorização da intenção de permanecer com
nado e outro indeterminado, numa relação de exclusividade não interessando sob o poder de quem esta possa se encontrar. ela. Difere da teoria subjetiva porque, em momento algum,
de poder sobre uma determinada coisa. Assim, os direitos Nessa categoria, encontramos o direito do promitente comprador preocupa-se com a intenção do indivíduo, mas sim com a
pessoais podem ser exigidos apenas de quem é parte na re- do imóvel. exteriorização representada por seus atos.
lação jurídica que os originou, enquanto que os direitos reais 3.5. Direitos reais de garantia: são aqueles em que o titular Esta é a teoria adotada pelo Código Civil Brasileiro, conforme
podem ser exigidos contra todos (“erga omnes”). passa a ter o poder de executar a coisa, levando-a à penhora e se percebe da redação do art. 1196. Resumidamente, pode-
posterior hasta pública ou a fruir dela como forma de garantir o mos dizer, então, que, para o nosso direito, posse é conduta
2. Princípios dos Direitos Reais cumprimento da obrigação contraída pelo proprietário. Nessa ca- de dono. Será considerado possuidor aquele que agir como
As diferenças entre os direitos reais e os direitos pessoais tegoria, incluem-se a hipoteca, o penhor e a anticrese. se dono fosse.
ficam mais evidenciadas ao observarmos os princípios que LINK ACADÊMICO 1 2.3. Classificação da posse
regem os direitos reais. São eles: Uma vez verificados os elementos essenciais da posse,
2.1. Princípio do absolutismo ou oponibilidade “erga POSSE faz-se necessário tratar da classificação da posse, tendo em
omnes”: os direitos reais podem ser exercitados contra vista que essa classificação poderá trazer uma série de con-
todos, que devem abster-se de molestar o titular. Em conse- Como um dos elementos típicos dos direitos reais, derivada do seqüências para o tratamento destinado à posse. Assim, são
qüência, surge o direito de seqüela ou “jus persequendi”, ou exercício de poder sobre a coisa, encontramos a idéia de posse. as seguintes as hipóteses de classificação da posse:
seja, o titular do direito real tem o direito de perseguir a coisa Nosso direito, no entanto, não protege apenas a posse como ele- 2.4. Posse direta e posse indireta
e reivindicá-la de quem quer que a detenha indevidamente. mento dos direitos reais, mas reconhece e protege a posse auto- A posse direta decorre da efetiva relação material entre a pes-
2.2. Princípio da publicidade: tendo em vista que os direitos nomamente constituída, independente de qualquer direito real. soa e a coisa. Segundo o art. 1197 do CC, será considerado
reais devem ser respeitados por todos, é necessário que sua A posse autônoma, desvinculada de qualquer direito real, que possuidor direto aquele que tem a posse temporariamente
constituição seja feita de forma pública, em especial no que surge por seu próprio exercício (por exemplo, uma pessoa que em seu poder. Assim, podemos entender que a posse direta
tange aos bens imóveis. Assim, os direitos reais sobre bens encontra um imóvel vazio e nele se instala por período razoável) e sempre será temporária. A posse indireta, por sua vez, no
imóveis só se adquirem depois da transcrição do respectivo merece proteção da lei, é chamada de “jus possessioni”, indepen- dizer do mesmo artigo, é aquela que originou a posse direta.
título no cartório do registro de imóveis; sobre móveis, por de de qualquer título. Trata-se de direito derivado do próprio fato da Trata-se, portanto, de mera ficção e ocorrerá nas situações
sua vez, adquirem-se somente após a tradição. posse, ou seja, que surge tão somente de seu efetivo exercício. em que o titular da coisa afasta-se dela, transferindo tempo-
2.3. Princípio da aderência: também chamado princípio da De outro lado, o direito de posse, derivado do direito de proprie- rariamente o exercício direto da coisa para terceiro, porém
especialização ou da inerência. Prevê a existência de um dade ou de outros direitos reais, devidamente representados por permanece exercitando a posse mediata. Quando a posse
vínculo entre o sujeito (titular do direito) e a coisa, indepen- título legal, é chamado de “jus possidendi” ou posse causal. Nesse tem ânimo definitivo, ou seja, não tem caráter temporário, ela
dentemente da colaboração ou concordância de qualquer caso, a posse será um elemento do direito real, não tendo qual- será denominada posse plena.
sujeito passivo. quer autonomia. 2.5. Posse justa e posse injusta
2.4. Princípio da taxatividade: os direitos reais são previs- Posse justa é aquela que está em conformidade com o
tos em número expressamente determinado por lei (“nume- 1. Conceito de posse ordenamento jurídico. A posse injusta é aquela contrária
rus clausus”). Só são considerados direitos reais aqueles Ante as idéias gerais de posse, acima expostas, bem como as ao ordenamento jurídico, podendo ser: a) violenta: obtida
expressamente referidos no art. 1225 do Código Civil. disposições a esse respeito no Código Civil, podemos conceituar mediante força física injustificada; b) clandestina: obtida às
2.5. Princípio da perpetuidade: em regra, os direitos reais como o exercício de fato de qualquer um dos poderes inerentes escondidas; c) precária: obtida por meio de uma relação de
não se perdem pelo não uso, mas pelos meios e formas à propriedade (art. 1196 do CC). A posse é uma situação de fato confiança entre as partes, mas retida indevidamente. O art.
expressamente referidas em lei. Esse princípio aplica-se em protegida pela lei, ou seja, caracteriza-se pelo próprio exercício. 1200 do CC estabelece o conceito de posse justa a contrario
especial ao direito de propriedade, havendo algumas exce- O possuidor exerce efetivo poder sobre a coisa, agindo como se sensu, determinando que a posse justa é aquela que não for
ções no que tange a outros direitos reais, como será referido dono fosse. violenta, clandestina ou precária. A distinção entre a posse
adiante. Não se confunde, portanto, a idéia de posse com a idéia de deten- justa e a injusta leva em conta um elemento objetivo, qual
2.6. Princípio da exclusividade: sobre uma mesma coisa ção (art. 1198 do CC). Nesse caso, a pessoa exerce poder sobre seja, a existência do vício. Não se trata, no caso, de saber
só pode recair um único direito real, de mesma natureza, a coisa, porém não em nome próprio, mas sim em nome de outra se o titular da posse tem ciência do vício, mas apenas de
ao mesmo tempo. Isso não impede que haja mais de um pessoa. O detentor apenas detém fisicamente a coisa, em nome considerar se o vício existe ou não existe. Existindo o vício, a
titular desse mesmo direito real, mas cada um desses titu- de outrem, mas em razão de uma relação de submissão (em regra posse será considerada injusta.
lares exercerá seu poder sobre porções ideais diversas e na qualidade de empregado – como é o caso dos caseiros, por 2.6. Posse de boa-fé e posse de má-fé
exclusivas. exemplo), portanto não exerce poder sobre ela em nome próprio, Ao contrário da distinção entre a posse justa e a injusta, o
2.7. Princípio do desmembramento: os direitos reais sobre não tendo direito à proteção possessória. O detentor também pode que será levado em conta aqui é o elemento subjetivo da
coisas alheias desmembram-se do direito de propriedade ser chamado de fâmulo da posse. posse. O ponto fundamental não é a existência do vício, mas
(que os origina), constituindo direitos autônomos. Quando se 2. Teorias sobre a posse a ciência do titular acerca da existência desse vício. Desse

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modo, será considerada posse de boa-fé aquela cujo titular O Código Civil de 2002 não enumerou, ao contrário do que fazia o posse seja ameaçada, turbada ou esbulhada o possuidor
desconhece qualquer vício que macule a posse, nos termos CC de 1916, as formas de aquisição da posse, de forma coerente poderá defendê-la, inclusive por suas próprias forças, desde
do artigo 1201 do Código Civil. A posse de má-fé, por sua com a teoria objetiva da posse, por ele adotada. No entanto, em que o faça logo e mantenha a proporcionalidade entre o ato
vez, dá-se quando o titular tem ciência da existência do ví- razão da “práxis” jurídica, algumas formas são doutrinariamente praticado e a defesa promovida (art. 1210 CC). Caso contrá-
cio. No nosso sistema, prevalece a presunção da posse de relacionadas. De maneira geral, podemos dizer que a aquisição rio, precisará recorrer às formas de defesa judicial da posse,
boa-fé. da posse se dá desde o momento em que se torna possível o por meio das ações possessórias.
Como conseqüências da posse de boa-fé, podemos apontar exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes 2.18. Ações possessórias propriamente ditas: as ações
que o seu titular terá direito à percepção dos frutos, à indeni- à propriedade, conforme artigo 1204 do Código Civil. Podemos possessórias propriamente ditas, ou “sticto sensu”, são aque-
zação pelas benfeitorias necessárias e úteis que realizar no apontar, no entanto, com base na doutrina, as seguintes formas las expressamente previstas em lei como tendo natureza
período da posse, bem como levantar as benfeitorias volup- de aquisição: possessória; são a reintegração de posse, a manutenção de
tuárias, quando isso for possível sem prejuízo para a coisa 2.13. Formas de aquisição da posse (classificação segundo posse e o interdito proibitório. Há, além delas, outras ações
principal. Também poderá o possuidor de boa-fé exercitar o critério da vontade) que podem ser utilizadas para a proteção do bem possuído,
o direito de retenção da coisa, enquanto não for indenizado 2.13.1 Formas de aquisição unilateral mas não da posse propriamente dita.
pelas benfeitorias realizadas (art.1219, CC). Segundo o critério da vontade, a aquisição da posse pode se dar a) Reintegração de posse: é a ação movida por aquele que
O possuidor de má-fé, por sua vez, não terá direito a indeni- de forma unilateral ou bilateral. As formas unilaterais de aquisição sofreu esbulho, com objetivo de recuperar a posse do qual
zação por benfeitorias úteis nem pelas voluptuárias, mas tão da posse são: ficou privado (CC, art.1210, CPC art. 926). Para que possa
somente pelas necessárias e, mesmo assim, sem direito de a) apreensão: ato pelo qual o adquirente toma para si uma certa ser proposta, é preciso que o autor prove que teve a posse
retenção da coisa (art. 1220, CC). coisa e passa a dispor dela livremente. Quando se trata de bens e que sofreu o esbulho, tendo ficado privado da posse em
2.7. Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapionem” móveis, essa apreensão é facilmente perceptível. É o caso, por razão dele. Esbulho é o ato pelo qual o possuidor se vê des-
A posse ad interdicta é aquela que autoriza a utilização dos exemplo, do indivíduo que toma para si coisa que não é de nin- pojado da posse, injustamente, por violência, por clandestini-
interditos possessórios (ações de reintegração de posse, guém (“res nullius”), ou coisa abandonada (“res derelicta”), con- dade e por abuso de confiança. Nessa ação, o pedido pode
manutenção de posse e interdito proibitório) para a sua pro- forme art. 1263 do Código Civil. Nos bens imóveis, é um pouco ser cumulado com a indenização pelos eventuais prejuízos
teção. A posse ad usucapionem é aquela que permite a aqui- mais difícil perceber-se a apreensão, mas também é possível, por sofridos em razão do esbulho.
sição do domínio em razão da posse prolongada da coisa. meio da ocupação com fins de usucapião. O que importa é que, b) Manutenção da posse: é a ação movida por aquele que
2.8. Posse nova e posse velha na apreensão, a coisa está subordinada ao poder do adquirente, sofre turbação com objetivo de manter-se na sua posse, evi-
Posse nova é aquela cujo prazo não excede um ano e um com “animus” de dono. tando um eventual esbulho. (CC, art. 1210, e CPC, arts. 926
dia. A posse velha é aquela superior a um ano e um dia. b) exercício de direito: ocorre quando o adquirente realiza certo a 931). Turbação é todo ato que embaraça o livre exercício
É importante não confundir a idéia de posse nova e posse ato de disposição sobre a coisa e, em decorrência disso, adquire a da posse, haja ou não dano, tenha ou não o turbador melhor
velha, com ação de força nova e ação de força velha. Essa posse. Ex: determinado indivíduo passa um aqueduto por terreno direito sobre a coisa; pode ser de fato (consiste na agressão
distinção tem como finalidade a possibilidade de utilização alheio e o proprietário do outro terreno queda-se inerte. Aquele que material dirigida contra a posse) ou de direito (é a que opera
do procedimento especial nos interditos possessórios, per- passou o aqueduto adquirirá a posse por força desse exercício judicialmente, quando o réu contesta a posse do autor, ou por
mitindo a concessão de liminar. Esta só será permitida caso de direito e poderá, até mesmo, obter o direito de servidão por via administrativa). Aqui, nesta ação, também pode haver a
o possuidor não tenha deixado passar ano e dia do esbulho usucapião (art. 1379 CC). cumulação de pedido de indenização pelos danos sofridos,
ou da turbação, caracterizando ação de força nova (art. 924 2.13.2. Formas de aquisição bilateral além de ser possível obter a cominação da pena para o caso
CPC). Caso contrário, o procedimento a ser adotado será o Ocorre a aquisição bilateral quando o possuidor transfere volun- de reincidência ou, ainda, se de má fé o turbador, remover
ordinário, caracterizando ação de força velha. tariamente sua posse para outrem. A forma de aquisição bilateral, ou demolir construção ou plantação feita em detrimento de
Assim, é possível que o titular de posse nova ingresse com por excelência, é a tradição. Esta pode se dar de três formas: sua posse.
ação de força nova ou de força velha, bem como o titular de a) tradição efetiva, ou material, ou real: decorre da efetiva entre- c) Interdito Proibitório: é a proteção preventiva da posse
posse velha poderá também intentar ação de força nova ou ga de uma certa coisa a outra pessoa. A própria coisa é entregue ante a ameaça de turbação ou esbulho. Assim, o possuidor
de força velha, pois o que interessa, nesse caso, é o tempo e com ela a posse. direto ou indireto, ameaçado de sofrer turbação ou esbulho,
decorrido desde a ocorrência do esbulho ou da turbação. b) tradição simbólica: a entrega não é da coisa em si, mas de previne-os, obtendo mandado judicial para segurar-se da
No entanto, não devemos nos esquecer de que, com a intro- objeto que a representa. Ex: para realizar a tradição de um carro, violência iminente. Ameaça é o conjunto de sinais ou ele-
dução da tutela antecipada (art. 273 do CPC), passou a ser entrega-se sua chave. mentos, suficientes para que o possuidor perceba que pode
possível a concessão da tutela “ab initio” no procedimento c) tradição ficta: não ocorre nenhuma forma de entrega, mas, em sofrer esbulho ou turbação a qualquer momento.
ordinário. razão de uma ficção jurídica, considera-se realizada a entrega. As Características das ações possessórias: as ações pos-
2.9. Posse natural e posse civil hipóteses de tradição ficta forma tratadas no item 3.6. acima (cons- sessórias regem-se por características próprias e específi-
Posse natural é aquela que decorre da relação material entre tituto possessório, “traditio brevi manu” e “traditio longa manu”). cas, quais sejam:
a pessoa e a coisa. Posse civil é aquela que decorre de lei. A 2.14. Formas de aquisição da posse (classificação segundo o a) Duplicidade: as ações possessórias são chamadas de
posse civil pode ser de três tipos: a) constituto possessó- critério do meio de aquisição) ações dúplices, por permitirem cognição plena ao juiz, inde-
rio: forma de aquisição ou perda da posse em que o possui- a) aquisição a título universal pendentemente da reconvenção. O réu poderá contrapor, na
dor pleno passa a ser apenas possuidor direto da coisa (ex.: É aquela em que o bem sobre o qual recai a posse a ser transferi- mesma ação, pedido possessório e, caso estejam presentes
venda de um imóvel em que o vendedor continua no imóvel, da é uma universalidade ou uma cota-parte dessa universalidade. os requisitos, a chamada exceção de usucapião. Não existe
agora na qualidade de locatário). b) “traditio brevi manu”: b) aquisição a título singular reconvenção: a contestação acumula o caráter de reconven-
é a situação em que o possuidor direto passa a ser possui- É aquela em que o bem sobre o qual recai a posse a ser trans- ção. O fundamento dessa regra é a celeridade, bem como do
dor pleno da coisa (ex.: o locatário adquire o imóvel em que ferida é um bem certo e determinado. Essa classificação terá caráter de situação de fato da posse.
reside e continua nele, não mais como locatário, mas como importância, em especial, no que tange ao direito das sucessões b) Fungibilidade: as ações possessórias, por serem fungí-
proprietário); c) “traditio longa manu”: a coisa é posta à dis- (art. 1207CC). veis entre si, poderão ser recebidas pelo juiz, caso tenham
posição do adquirente, por impossibilidade da entrega, em 2.15. Formas de perda da posse sido propostas equivocadamente, como se fosse a ação
razão do porte. O possuidor da coisa, apesar de não ter tido Em razão da teoria objetiva adotada pelo CC, podemos considerar própria para o caso. Assim, v.g., caso tenha havido esbulho
disponibilidade material plena, por ficção, passa a tê-la (ex.: que se perde a posse, quando a coisa não estiver mais sob o poder e a parte tenha proposto equivocadamente uma ação de
adquire-se uma fazenda de vários hectares; presume-se do possuidor (perda do ““corpus””) ou quando ele não mais tiver a manutenção de posse, ao invés da reintegração de posse, o
que, se o adquirente tomar posse de apenas uma pequena intenção de exercitar poder sobre a coisa (perda do “animus”), juiz poderá receber a ação como se reintegração fosse e dar
área, estará tomando posse de toda a área, ficticiamente). conforme art. 1223 do Código Civil. Assim, podemos elencar, de continuidade ao feito. Desse modo, essas ações podem ter
2.10. Posse pro diviso e posse pro indiviso forma sucinta, as seguintes formas de perda da posse: seus pedidos alterados no curso da demanda possessória,
Posse pro diviso é aquela exercida sobre parte específica da a) abandono entretanto, somente no que diz respeito à tutela possessó-
coisa, podendo ser especificada a parcela sobre a qual cada No abandono, o possuidor, voluntariamente, renuncia à posse da ria.
um dos possuidores exerce sua posse. Posse pro indiviso é coisa. O abandono pode recair sobre bens móveis ou imóveis. c) Cumulatividade: o pedido não precisa ser exclusivamen-
aquela exercida sobre parte ideal, não havendo como definir b) tradição te possessório. Poderão ser pedidos, também, indenização,
sobre qual parte da coisa cada possuidor exerce seu poder Na tradição, o possuidor transfere sua posse à outra pessoa, fican- perdas e danos e multa. As possessórias têm um caráter pa-
(art. 1201 do CC). do, por conseqüência, privado dela. trimonial, visto que, além da situação possessória, pode-se
2.11. Posse originária e posse derivada c) posse de outrem cumular quanto ao patrimônio.
Posse originária é aquela que não guarda nenhum vínculo Se outra pessoa está exercendo a posse sobre a coisa, claro está d) Rito próprio: promovem-se, em regra, as possessórias,
com a posse anterior; ela surge sem nexo de causalidade que o possuidor original está privado dela. Mesmo que se trate de pelo rito especial previsto nos arts. 926 a 931 do CPC. O
com a posse anteriormente existente (ex.: a posse que nasce posse exercida contra a vontade do possuidor original, como no procedimento especial só será cabível se a ação for proposta
em decorrência de esbulho). A posse derivada, por sua vez, é caso do esbulho. até ano e dia da ofensa à posse (ação de força nova). Caso
aquela que guarda uma relação de causalidade com a posse d) destruição da coisa contrário, já tendo decorrido mais de ano e dia da ofensa, o
anterior (ex: o possuidor anterior vende o bem para o novo Uma vez destruída a coisa, cessa a posse sobre ela, visto não procedimento será o ordinário.
possuidor). Importante lembrar que a posse derivada carrega ser mais possível faticamente a submissão da coisa à vontade do 2.19. Percepção dos frutos: o possuidor de boa-fé terá direi-
consigo todos os vícios da posse que a originou. Assim, se a possuidor. to aos frutos percebidos e colhidos, direito aos frutos penden-
posse tivesse natureza precária, v.g., ao ser transferida para 2.16. Efeitos da posse tes e direito à indenização pela produção e custeio (todos os
outra pessoa, carregaria consigo o vício mencionado. Além Os efeitos jurídicos da posse são exatamente o que lhe dá caráter aparatos da coisa). O possuidor de má-fé tem obrigação de
disso, outra conseqüência desta classificação é a chamada jurídico relevante, distinguindo-a da mera detenção. Podemos divi- devolução dos frutos percebidos e colhidos, perderá os frutos
“acessio temporis” ou “acessio possessionis”. Segundo esse dir os efeitos da posse em cinco categorias: a) proteção da posse; pendentes e tem o direito de ser indenizado pela produção
instituto, será possível somar o tempo da posse atual ao b) percepção dos frutos; c) responsabilidade pela deterioração da e custeio (visa ao não enriquecimento indevido de terceiros).
tempo da posse que a originou, para fins de usucapião, no coisa; d) indenização pelas benfeitorias e direito de retenção; e) 2.20. Responsabilidade pela deterioração da coisa: o
caso de posse derivada. No caso de posse originária, o prazo usucapião. possuidor de boa fé será, em princípio, irresponsável pela
começa a correr a partir de seu início. 2.17. Proteção da posse: o direito de proteger a sua posse é a deterioração natural; tem, portanto, responsabilidade subjeti-
2.12. Aquisição e perda da posse principal conseqüência da posse em favor do possuidor. Caso a va. Por sua vez, o possuidor de má-fé tem responsabilidade

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objetiva. Será responsável por qualquer perecimento, só po- nifica que fica afastada a possibilidade de co-propriedade, mas, possível a qualquer pessoa alegar que desconhecia seu
dendo se eximir se demonstrar que a deterioração ocorreria ainda assim, somente os co-proprietários, em caráter exclusivo, é conteúdo (artigos 1227, 1245 e 1247 do CC). Uma vez re-
em qualquer hipótese. Há a inversão do ônus da prova. que exercerão tais prerrogativas. gistrado junto à matrícula do imóvel, considera-se transferida
2.21. Indenização pelas benfeitorias e direito de reten- 3.3. Perpétua: a perpetuidade do direito nada tem a ver com a a propriedade e, em razão disso, surge a oponibilidade “erga
ção: o possuidor de boa-fé tem direito a indenização plena impossibilidade de transmissão ou com a sua extinguibilidade. A omnes” do direito;
pelas benfeitorias necessárias, úteis e voluptuárias, direito idéia de perpetuidade está ligada à idéia de possibilidade de ser 4.1.2. Acessão: é a incorporação a um objeto principal de
de retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis (poderá transmitido “causa mortis”. Assim, não se extingue o direito com o tudo quanto se lhe adere em volume ou em valor (ex.: a
reter a coisa até que seja indenizado) e direito a levantar as fim da vida do seu titular (como é o caso do usufruto, por exemplo). construção de uma casa em um terreno, antes vazio, faz
benfeitorias voluptuárias se não houver indenização por elas. No direito privado, existem duas exceções ao princípio da perpe- com que a casa passe a estar incorporada ao terreno). As-
O possuidor de má-fé perderá as benfeitorias úteis e volup- tuidade, quais sejam: sim, tudo o que aderir a um determinado bem, passa a fazer
tuárias, terá direito à indenização pelas benfeitorias necessá- a) Propriedade resolúvel (CC, art. 1.359): é uma causa antece- parte dele e, em conseqüência, o proprietário do bem princi-
rias e não poderá reter a coisa, nem levantar, se não houver dente ou concomitante à transmissão da propriedade e que gera, pal passa a ser proprietário da acessão também. A acessão
indenização por elas. por parte do terceiro, o poder de reivindicar a coisa do novo titular. remete à idéia de acessórios da coisa (art. 1248 do CC). O
2.22. Usucapião: também denominada prescrição aquisitiva, É uma limitação ao princípio da perpetuidade. Causa antecedente legislador entendeu que seria, em regra, mais conveniente
é um efeito possessório. Em razão da posse continuada, por ou concomitante é uma causa contratual, pré-conhecida das par- atribuir a propriedade da coisa acessória ao domo da princi-
período específico determinando em lei, o possuidor adquire tes, anterior à tradição (ex.: pacto de retrovenda). pal, para evitar a formação de um condomínio forçado e des-
a propriedade da coisa. Tanto a posse de boa-fé quanto à de b) Propriedade revogável (CC, art. 1.360): é uma causa super- necessário. No entanto, ao mesmo tempo, não pretende a
má-fé podem gerar a usucapião, variando o tempo exigido veniente, não prevista pelas partes, na qual a propriedade se con- lei proteger o locupletamento, o enriquecimento sem causa,
para a aquisição. Tanto os bens imóveis quanto os móveis solida nas mãos de terceiro de boa-fé, não cabendo reivindicação possibilitando, portanto, ao proprietário prejudicado, o recebi-
são suscetíveis de aquisição via usucapião. No caso de bens por parte do legítimo titular, a não ser em caso excepcional. Causa mento de uma indenização. Pode ser dividida em acessão
imóveis, podemos classificar as modalidades de usucapião superveniente é aquela que ocorre após a transmissão efetiva da natural e industrial.
em: a) extraordinária (prazo de 15 anos, em regra); b) or- coisa (exemplos: herdeiro aparente, revogação da doação por a) Acessão natural: deriva da força da natureza, ocorrendo
dinária (prazo de 10 anos, em regra); especial (prazo de 5 ingratidão etc.). sem intervenção humana. Incluem-se nessa categoria: alu-
anos). Entre os bens móveis, podemos dividir em: a) extraor- 3.4. Aderente: aderência é a prerrogativa do titular de trazer para vião; avulsão; formação de ilhas e álveo abandonado.
dinária (5 anos) e b) ordinária 3 anos). Podemos acrescentar, si a coisa, independentemente de onde ela esteja, por meio de a1) Aluvião: na aluvião ocorre o acréscimo paulatino de terra
também, a usucapião coletiva, instituída pelo Estatuto das ação reivindicatória em virtude de seu direito de seqüela. Traz em às margens de um rio ou de uma corrente, com a conse-
Cidades. si a idéia de que o direito de propriedade está ligado à coisa e a qüente aquisição da propriedade por parte do dono do imóvel
LINK ACADÊMICO 2 acompanha onde quer que ela esteja. Têm-se 3 ações decorren- ao qual aderirem estas terras (art. 1250 CC).
tes dessa prerrogativa: a2) Avulsão: a avulsão se dá pelo repentino deslocamento
PROPRIEDADE a) Negatória: é a ação que tutela a propriedade em face à alega- de uma porção de terra, em razão de força natural violen-
ção de um direito real limitado, ou seja, a pessoa vem para negar ta, desprendendo-se de um prédio e indo juntar-se a outro.
1. Conceito: é a garantia fundamental do homem, que dá um direito real limitado com o objetivo de fazer prevalecer a pleni- Nesse caso, será lícito ao proprietário do imóvel desfalcado
a esse o poder de usar, gozar e fruir da coisa, bem como tude e a exclusividade do mesmo, eventualmente posto em dúvida pedir indenização no prazo decadencial de um ano (art. 1251
de reavê-la de quem a detenha indevidamente, tendo poder (art. 1231 do CC); CC).
sobre ela, mas também limitações econômicas e sociais b) Divisória: é a tutela do condômino, para fins de extinção do a3) Formação de ilhas: ocorrendo a formação de ilhas em
(CF/88, art. 5º; CC art. 1228). condomínio e divisão da coisa comum. O bem não pode ter cláu- correntes comuns ou particulares, estas pertencerão aos pro-
sula de indivisibilidade (art. 1320 do CC); prietários dos terrenos ribeirinhos fronteiros (art. 1249 CC).
2. Elementos do direito de propriedade: o direito de pro- c) Demarcatória (“actio finium regundorum”): é aquela que a4) Álveo abandonado: ocorre o abandono de álveo quan-
priedade é composto por quatro elementos ou quatro verten- visa restabelecer marcos destruídos, arruinados ou apagados, do um rio seca ou desvia-se em razão de fenômeno da na-
tes, que se complementam, permitindo o exercício pleno do ou seja, visa reconstruir a exata área de um determinado imóvel. tureza, deixando a descoberto o leito por onde antes corria.
direito, quais sejam: a) direito de usar; b) direito de gozar; c) Decorre do direito de vizinhança; O álveo abandonado pertence aos proprietários ribeirinhos
direito de dispor ;e d) direito de reaver. 3.5. Limitada: a propriedade pode ser limitada por duas formas das duas margens, sendo que a divisão se fará com base
2.1. Direito de usar (“jus utendi”): é o direito de utilizar a diversas: em sua linha mediana. Ademais, os proprietários de terrenos
coisa, dentro das restrições legais, tirando dela todos os ser- 3.5.1. Limitações voluntárias: são as que se estabelecem em por onde as águas abrirem novo curso não terão direito à
viços que ela possa prestar, sem que haja modificação em razão de ato de vontade da parte. Podem ser: indenização por tratar-se de motivo de força maior (art. 1252
sua substância, ou seja, sem consumi-la. a) Limitações que se estabelecem no contrato por meio de cláu- do CC).
2.2. Direito de gozar (“jus fruendi”): exterioriza-se na sulas restritivas de inalienabilidade, incomunicabilidade, impenho- b) Acessão industrial: são aquelas feitas pelo homem,
percepção dos frutos e na utilização dos produtos da coisa. rabilidade e indivisibilidade (somente poderão estar dispostas em como as construções e plantações (art. 1253 do CC). Tem
Caracteriza-se, especialmente, pela possibilidade de explo- contratos não onerosos); como fundamento a idéia de que toda plantação ou constru-
rar economicamente a coisa, porém sempre sem que haja b) Propriedade gravada, ou seja, quando existe a imposição de ção existente em um imóvel foi realizada pelo seu proprie-
modificação em sua substância, ou seja, sem consumi-la. um direito real limitado (exemplo: usufruto). tário. Não se trata, no entanto, de uma presunção absoluta,
2.3. Direito de dispor (“jus abutendi” ou “disponendi”): c) Bem de família (artigo 1.715 e ss. do Código Civil), que poderá admitindo prova em contrário.
equivale ao direito de dispor da coisa ou poder de aliená-la a ser compulsório (Lei n. 8009) e voluntário (artigo 1.715 do Código Se o proprietário do imóvel planta ou edifica em seu próprio
título oneroso (venda) ou gratuito (doação), incluindo o direito Civil). A vantagem do bem de família voluntário sobre o compulsó- terreno com sementes, plantas ou materiais alheios, adqui-
de consumi-la e o poder de gravá-la de ônus (penhor, hipo- rio é que, no primeiro, pode-se gravar qualquer bem como sendo re a propriedade deles, em razão de que a regra geral do
teca, etc.) ou de submetê-la ao serviço de outrem. O direito de família. acessório segue o principal. No entanto, pretendendo evitar o
de dispor é o cerne, o elemento central do direito de pro- 3.5.2. Limitações legais: são aquelas que ocorrem indepen- enriquecimento sem causa, o art. 1254 do Código Civil prevê
priedade. Os demais elementos (direito de usar e de gozar) dentemente da vontade da parte, por expressa imposição da lei. que o proprietário terá que reembolsar o valor das sementes
poderão, em determinadas circunstâncias, ser transferidos a Podem ser: e materiais que utilizar, sendo que, se tiver procedido de má-
terceiros (como no caso da constituição de usufruto), mas, a) de direito público (desapropriação, requisição, tombamento, fé, deverá ainda indenizar por perdas e danos.
mesmo nesses casos, o direito de dispor permanece com o tributação); De outro lado, quem planta ou edifica em terreno alheio, per-
titular do direito de propriedade. b) de direito privado (todas as relações jurídicas de vizinhança, que de as sementes, plantas ou construções em favor do proprie-
2.4. Direito de reaver (“rei vindicatio”): é o poder que tem seriam limitações para construir, sossego e saúde dos imóveis vi- tário do imóvel, tendo apenas o direito à indenização pelo va-
o proprietário de mover ação para obter o bem de quem in- zinhos etc.); lor do material utilizado, se estiver de boa-fé (art. 1255, CC).
justamente o detenha, em virtude do seu direito de seqüela, c) de direito social (Lei de Locação, Estatuto da Terra, Código de Se, ao contrário, estiver de má-fé, poderá ser obrigado pelo
que é uma das características do direito real. Assim, o direito Defesa do Consumidor etc.). proprietário a repor as coisas no estado em que se encontra-
de reaver não é exclusividade do titular do direito de proprie- vam, pagando os prejuízos que causou ou, ainda, a deixar
dade, mas assiste a qualquer titular de direito real sobre a 4. Aquisição e perda da propriedade: o Código Civil estabelece ficar a plantação ou construção em benefício do proprietário
coisa. diferenças entre as formas de aquisição da propriedade de bens e sem indenização.
imóveis e da propriedade de bens móveis. Assim, trataremos de Por fim, se a construção ou plantação exceder consideravel-
3. Características do direito de propriedade: a proprie- cada uma delas em separado. Podemos, no entanto, desde já mente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou
dade, por suas condições, pode ser considerada um direito estabelecer que as formas de aquisição da propriedade podem edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamen-
absoluto, exclusivo, perpétuo, aderente e limitado. Apesar da ser divididas em originárias ou derivadas. A aquisição originária é to de indenização a ser fixada judicialmente, se não houver
aparente contradição que é a de um mesmo direito ser abso- aquela em que não existe relação entre o proprietário anterior e o acordo. Esta é a letra do art. 1255, parágrafo único do Código
luto e limitado, não há tal contradição, visto que as limitações novo proprietário (caso da usucapião, por exemplo). Já na aqui- Civil, que estabelece aquilo que alguns autores chamam de
aplicam-se em situações específicas, para dar melhor aten- sição derivada existe uma relação entre a propriedade anterior e “desapropriação de interesse privado”. Assim, o proprietário
dimento a certas necessidades sociais. A limitação abarca a nova propriedade (caso da tradição, por exemplo). Ao mesmo do imóvel ficaria obrigado a vender o terreno àquele que ali
todas as demais características. Pode-se dizer, então, que tempo, acrescente-se que as formas de aquisição e perda da pro- edificou ou plantou, caso essa plantação ou edificação tenha
a propriedade tem cinco características. priedade são basicamente as mesmas, já que sempre que a pro- valor consideravelmente maior do que o do terreno.
3.1. Absoluta: a propriedade caracteriza-se como um direito priedade surge para alguém, deixa de existir para outra pessoa.
absoluto, visto que é um direito pleno, estabelecendo uma 4.1. Formas de aquisição da propriedade imóvel 5. Usucapião: é uma forma originária de aquisição da pro-
relação de poder, permitindo ao seu titular o direito de usar, 4.1.1. Transcrição (ou registro do título): a transcrição é uma for- priedade móvel (art. 1260 do CC) ou imóvel (art. 1242 do
fruir e dispor livremente da coisa, sem interferências. ma derivada de aquisição da propriedade, por meio da publicidade CC), por meio do exercício da posse, em obediência aos
3.2. Exclusiva: a exclusividade do direito de propriedade do contrato translativo junto ao Registro de Imóveis. Tratando-se pressupostos legais. A usucapião também é chamada de
caracteriza-se em virtude de somente um indivíduo poder ter de imóvel de valor maior do que 30 salários mínimos, o ato trans- “prescrição aquisitiva”, em contraposição à “prescrição ex-
as prerrogativas daquela propriedade. Assim, a cada tempo, lativo deve, necessariamente, ser realizado por meio de escritura tintiva”, regulada pelos arts. 205 e 206 do Código Civil. Nas
somente o titular do direito de propriedade poderá exercitar pública (art. 108, CC). Pelo princípio da publicidade, o registro tem duas hipóteses, temos o tempo como elemento central para
os direitos de uso, gozo e fruição sobre a coisa. Isso não sig- o condão de tornar o ato de conhecimento geral, não sendo mais aquisição ou extinção de direitos.

3
O art. 1244 do Código Civil é claro ao estabelecer um para- a outrem seu direito sobre a coisa; é a transmissão de um direito indivíduos são titulares em comum de um bem, exercendo
lelo entre a prescrição extintiva e a aquisitiva. Estabelece o de um patrimônio a outro; essa transmissão pode ser a título gra- cada qual posse e propriedade sobre parte da coisa. O con-
referido artigo que “estende-se ao possuidor o disposto quan- tuito, como a doação ou oneroso, como a compra e venda, troca, domínio é uma abstração ou uma ficção, visto que os condô-
to ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem dação em pagamento. minos são titulares da mesma coisa em abstrato. É também
ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam 7.2. Renúncia: é um ato unilateral, pelo qual o proprietário declara, instável, podendo ser extinto a qualquer tempo, pois ninguém
à usucapião”. expressamente, o seu intuito de abrir mão de seu direito sobre a é obrigado a remanescer em condomínio.
Assim, entre outras limitações não se verificará usucapião coisa, em favor de terceira pessoa que não precisa manifestar sua
entre cônjuges na constância do casamento, tampouco entre aceitação. 2. Classificação: o condomínio pode ser dividido em condo-
ascendentes e descendentes durante o poder familiar, nem 7.3. Abandono: é o ato unilateral em que o titular do domínio se mínio geral e condomínio edilício.
mesmo contra menor. desfaz, voluntariamente, do seu bem, porque não quer mais conti- 2.1. Condomínio geral: também chamado de condomínio
Importante ainda observar que, nos termos do art. 1243 do nuar sendo, por várias razões, o seu dono; é necessária a intenção puro ou tradicional, diz respeito às relações de propriedade
Código Civil, o possuidor poderá somar à sua posse o tem- abdicativa; simples negligência ou descuido não a caracterizam. em comum sobre uma mesma coisa, de caráter indivisível
po da posse de seus antecessores, desde que todas sejam 7.4. Perecimento do bem: como não há direito sem objeto, com (“pro indiviso”). Pode ser dividido em condomínio voluntário
contínuas e pacíficas e, no caso da usucapião ordinária, de o perecimento deste extingue-se o direito; esse perecimento pode e condomínio especial.
boa-fé. decorrer de ato involuntário, se resultante de acontecimentos na- a) Condomínio voluntário: ao contrário do que se poderia
Trataremos aqui das espécies e requisitos para a usucapião turais, ou de ato voluntário do titular do domínio, como no caso imaginar, não é aquele que nasce por ato de vontade, mas
de bem imóvel e, mais adiante, das hipóteses de usucapião de destruição. sim o que se mantém por ato de vontade, em que cada um
de bem móvel. Assim, no que tange à aquisição de bens 7.5. Desapropriação: é o procedimento pelo qual o Poder Públi- dos titulares tem domínio sobre parte ideal do todo (ex: filhos
imóveis, a usucapião pode ser classificada em ordinária, co, compulsoriamente, por ato unilateral despoja alguém de um que herdam do pai uma propriedade em comum só se man-
extraordinária e especial. certo bem, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou terão condôminos se desejarem.).
a) usucapião ordinária: nos termos do artigo 1242, adquirirá interesse social, adquirindo-o, mediante prévia e justa indeniza- b) Condomínio necessário (ou especial): ocorre nas situ-
a propriedade do imóvel aquele que, por dez anos contínuos ção, pagável em dinheiro ou se o sujeito concordar, em títulos de ações em que os titulares devem, necessariamente, manter-
e ininterruptos, com justo título e boa fé, possuir bem imóvel dívida pública, com cláusula de exata correção monetária, ressal- se condôminos, visto que não é possível a divisão (art. 1327
como o seu. Será, porém, de cinco anos o prazo, se o imóvel vado à União o direito de saldá-la, por este meio nos casos de do CC). É o caso, por exemplo, do condomínio sobre cercas
tiver sido adquirido onerosamente e cujo registro tenha sido certas datas rurais, quando objetivar a realização de justiça social e muros, em que cada um dos condôminos possui a proprie-
cancelado, desde que o possuidor tenha nele sua morada por meio de reforma agrária. dade sobre a parte da cerca ou do muro que estiver voltado
ou nele tenha realizado investimentos de interesse social ou para seu imóvel.
econômico. DIREITOS DE VIZINHANÇA 2.1.1. Alienação da coisa comum: como se trata de uma
b) usucapião extraordinária: adquirirá também a proprie- modalidade de propriedade, a alienação da coisa em condo-
dade do imóvel aquele que possuir como seu um imóvel, 1. Generalidades mínio, segue as mesmas regras da alienação comum. O que
pelo prazo de quinze anos, independentemente de justo Dá-se habitualmente o nome de direitos de vizinhança ao com- merece relevo, nesse caso, é o direito de preferência do con-
título ou boa-fé. Nesse caso, o prazo poderá ser reduzido plexo de direitos e obrigações que se estabelece entre os titulares dômino que tiver o maior quinhão; sendo iguais os quinhões,
para dez anos se o possuidor tiver estabelecido no imóvel de imóveis vizinhos. Não obstante o CC utilize a denominação será a coisa vendida àquele que oferecer o maior lance.
sua moradia habitual ou nele tiver realizado obras de caráter tradicional direitos de vizinhança, trata-se, efetivamente, de um 2.2. Condomínio edilício: é uma espécie de propriedade
produtivo (art. 1238, CC). complexo de obrigações que estabelece limitações à livre utiliza- em que duas ou mais pessoas são proprietárias em comum
c) usucapião especial: divide-se em rural e urbana: ção da propriedade. Conforme já foi apontado, a propriedade é de um imóvel, atribuindo-se a cada uma delas a proprie-
c1) usucapião especial rural: exige posse por cinco anos um direito absoluto, mas sujeito a certas limitações. Entre essas dade exclusiva de uma unidade autônoma, situada em um
ininterruptos, independentemente de boa-fé e justo título, limitações,podemos apontar as relações de vizinhança. condomínio “pro indiviso” (art. 1331 do CC). Assim, teremos
sendo cabível para áreas rurais com no máximo cinqüenta simultaneamente propriedade exclusiva e comum em uma
hectares. 2. Uso anormal (ou nocivo) da propriedade: é o exercício do mesma estrutura jurídica, além das relações de vizinhança
c2) usucapião especial urbana: também exige cinco anos direito de propriedade, porém lesivo, de forma a prejudicar os ti- daí advindas. Pode ser parte em negócios jurídicos e tem
ininterruptos de posse, independentemente de boa-fé e justo tulares de imóveis vizinhos. Esse prejuízo pode se dar em razão legitimidade processual, mas não é dotado de personalidade
título, sendo cabível para áreas urbanas de no máximo, du- de ofensa à segurança, ao sossego ou à saúde (art. 1277 do CC). jurídica, sendo considerado, portanto, um ente desperso-
zentos e cinqüenta metros quadrados. A tutela desse uso nocivo da propriedade é realizada por meio da nalizado. Também é chamado de condomínio horizontal,
Observação: considera-se justo título todo e qualquer ato chamada ação de dano infecto (“actio damni infecti”), conforme ou propriedade horizontal, ou condomínio “sui generis”, ou
jurídico hábil, em tese, a transferir a propriedade, indepen- artigo 1280 do Código Civil. condomínio por unidades autônomas.
dentemente de registro.
3. Árvores Limítrofes: a árvore cujo tronco estiver na linha divi- 3. Constituição do condomínio: o condomínio edilício pode
6. Formas de aquisição da propriedade móvel: sória de dois prédios vizinhos, presume-se pertencente em co- ser instituído por ato “inter vivos” ou por testamento. O meio
6.1 Tradição: a principal forma de transferência da proprie- mum aos proprietários daqueles imóveis. Surge aí, portanto, um mais comum é pelo contrato de incorporação imobiliária.
dade móvel é a tradição, que se perfaz com a entrega da condomínio necessário. Tal presunção, no entanto, é relativa, por Uma vez especificado o condomínio, pela discriminação e
coisa ao novo proprietário (art. 1267). admitir prova em contrário. Ainda sobre as árvores limítrofes, de- individualização das unidades e das partes comuns, é neces-
6.2. Ocupação: trata-se de aquisição originária de proprieda- vemos apontar que o proprietário do prédio invadido pelas raízes sário elaborar a convenção de condomínio, ou seja, a norma
de móvel e consiste na aquisição de coisa móvel ou semo- ou ramos de árvore do seu vizinho poderá cortá-los até o limite que disciplina as relações entre os condôminos.
vente, sem dono (por não ter sido apropriada ou por ter sido do prédio, sem comunicar ou pedir autorização ao proprietário da
abandonada), desde que não seja essa apropriação defesa árvore. Além disso, os frutos caídos de árvore do terreno vizinho, 4. Administração do condomínio: a administração do con-
em lei (art. 1263 CC). passam a pertencer ao titular do imóvel em que caíram (artigos domínio será realizada pelos próprios condôminos, por meio
6.3. Achado de tesouro: é o encontro casual de coisa es- 1282 a 1284 do CC). de seus órgãos diretivos, quais sejam a) assembléia geral; b)
condida, de cujo proprietário não se tenha notícia. Nesse síndico; c) conselho fiscal.
caso, o achado será dividido por igual entre o proprietário do 4. Passagem Forçada: é uma prerrogativa do titular de um imóvel a) assembléia geral: é o órgão soberano do condomínio e
prédio e o que achar o tesouro casualmente (art. 1264 CC). encravado (aquele que não possui saída para via pública, nascen- tem como função decidir todas as questões que o envolvam,
6.4. Especificação: é o modo de adquirir a propriedade por te ou porto) de exigir que seu vizinho lhe permita a passagem por bem como modificar a convenção de condomínio e o regi-
meio da transformação de coisa móvel em espécie nova, em dentro do imóvel, para alcançar a via pública, nascente ou porto, mento interno, além de eleger o síndico.
razão do trabalho ou da indústria do especificador, desde que mediante pagamento de indenização cabal, nos termos do artigo b) síndico: é o órgão operacional do condomínio, exercendo
não seja possível reduzi-la à sua forma prévia (art. 1269 do 1285 do Código Civil. A passagem forçada não se confunde com a a função administrativa de fato. Pode ser pessoa física ou
CC). servidão de passagem, pois esta surge de acordo entre as partes jurídica, condômino ou não, recebendo remuneração ou não.
6.5. Confusão, comistão e adjunção: são todas as formas ou usucapião, enquanto que aquela surge por imposição da lei e Será eleito pela assembléia geral para um mandato não su-
de aquisição da propriedade derivadas da mistura entre seu titular pode exigi-la em juízo. Além disso, a servidão de passa- perior a dois anos, podendo ser reconduzido (art. 1347).
coisas pertencentes a vários donos, sem que seja possível gem é direito real sobre coisa alheia, enquanto que a passagem c) conselho fiscal: órgão colegiado facultativo do condo-
separá-las depois sem deterioração. A confusão é a mistura forçada é obrigação “propter rem”, obrigação real. mínio, composto por três membros eleitos pela assembléia,
de coisas líquidas; a comistão é a mistura de coisas sólidas; e para um mandato não superior a dois anos. Tem por finali-
a adjunção é a justaposição de uma coisa à outra, tornando- 5. Direito de tapagem: o proprietário tem direito de cercar, murar, dade controlar a administração orçamentária e financeira, a
se impossível a separação ou sendo esta excessivamente valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio urbano ou rural, cargo do síndico (art. 1356 do CC).
onerosa. para que possa proteger, dentro de seus limites, a exclusividade LINK ACADÊMICO 4
6.6. Usucapião: a usucapião de coisa móvel divide-se em de seu domínio, desde que observe as disposições regulamen-
ordinária (art. 1260 do CC) e extraordinária (art. 1261 do tares e não cause dano ao vizinho, nos termos do artigo 1297 do PROPRIEDADE
CC): na ordinária, o prazo necessário para a aquisição da Código Civil. RESOLÚVEL
propriedade é de três anos, exigindo justo título e boa-fé do
possuidor; já, na extraordinária, o prazo será de cinco anos, 6. Direito de construir: constitui prerrogativa inerente da proprie- 1. Conceito: a propriedade resolúvel é uma exceção ao prin-
independentemente de justo título e de boa fé. dade o direito que possui o seu titular de construir em seu terreno cípio da perpetuidade da propriedade, pois apresenta uma
o que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos condição resolutória, ou um termo extintivo, que podem estar
7. Perda da propriedade: a perda da propriedade dá-se, em administrativos (art. 1299 do CC) presentes no próprio título constitutivo, ou ocorre por causa
regra, pelas mesmas formas de sua aquisição, visto que, se LINK ACADÊMICO 3 superveniente (art. 1359 e 1360 do CC)
de um lado alguém adquire a propriedade, de outro alguém
a perde (art. 1275 do CC). Há, no entanto, algumas espe- CONDOMÍNIO 2. Resolução prevista no título (causa antecedente): nes-
cificidades. se caso, a situação que dará ensejo à extinção da proprieda-
7.1. Alienação: é a forma de extinção subjetiva do domínio, 1. Generalidades de já está prevista no ato de constituição ou transferência da
em que o titular desse direito, por vontade própria, transmite Condomínio é uma espécie de propriedade em que dois ou mais propriedade. É o caso, por exemplo, do pacto de retrovenda.

4
Como a causa de extinção da propriedade já está inserida 3. Direito real de servidão (servidão real) – conceito: é o di- usufrutuário se recusar a prestar a caução pelo usufruto);
no título, não havendo qualquer surpresa para o comprador reito real pelo qual se estabelece uma relação entre dois imóveis alienar a coisa (o nu-proprietário poderá alienar a coisa quan-
ou para um eventual terceiro, a extinção do direito opera-se vizinhos (um chamado serviente e o outro dominante) pela qual o do e para quem ele quiser, sem que isso interfira no direito
“ex tunc’ e o reivindicante poderá opor seu direito a qualquer titular do imóvel dominante pode usar e fruir do imóvel serviente real de usufruto); proteger a coisa (o proprietário é possuidor
pessoa, não estando, ainda, submetido a qualquer direito para os fins estabelecidos na relação jurídica. O objetivo princi- indireto da coisa, possui, assim, todos os direitos de proteção
real concedido pelo proprietário resolúvel. pal da servidão é a proteção do titular do imóvel dominante. Tem possessória, caso não exercidos pelo usufrutuário); requerer
por natureza jurídica uma limitação real à propriedade do imóvel a extinção do usufruto por culpa do usufrutuário (quando o
3. Resolução por causa superveniente: nesse caso, serviente. usufrutuário der destino diverso do previsto à coisa), confor-
a causa de extinção não está prevista no título, por isso a me artigo 1401 do Código Civil;
extinção opera-se “ex nunc”. Entre as possíveis hipóteses, 4. Constituição: a servidão poderá ser constituída por ato de von- b) Obrigações do nu-proprietário: o nu-proprietário é
podemos incluir a revogação da doação por ingratidão e a tade (por meio de escritura pública ou testamento – art. 1378 do obrigado a deixar o usufrutuário usar e fruir, sem ser inco-
exclusão do herdeiro por indignidade. CC) ou por usucapião (art. 1379 do CC). O art. 1379 prevê que, modado; arcar com as despesas extraordinárias; assumir a
para que possa ser constituída por usucapião, deve-se tratar de sub-rogação da coisa segurada.
DIREITOS REAIS servidão aparente, ou seja, aquela que deixa vestígios aparentes 3.3. Extinção do Usufruto: o usufruto será extinto nas se-
SOBRE COISA ALHEIA de sua existência.. guintes hipóteses: culpa do usufrutuário, se ele der destino
diverso do previsto à coisa ou não zelar corretamente pela
1. Conceito: direitos reais sobre coisa alheia são aqueles 5. Direitos e deveres dos titulares: o titular do imóvel dominante manutenção e conservação da coisa; termo de sua duração;
em que o titular (ou proprietário) transmite a terceiro, fração tem a obrigação da manutenção da coisa, bem como tem o dever de extinção da pessoa jurídica em favor de quem o usufruto foi
ou prerrogativas do poder que lhe eram atribuídos, ou seja, restringir o uso da coisa ao que foi estabelecido. Ao mesmo tempo, constituído ou decurso de trinta anos de seu exercício; extin-
o titular transfere parcela do direito que tem a um terceiro tem o direito de usar e fruir da coisa, livremente, dentro dos limites ção ou fim da causa de sua constituição; destruição da coisa
(exemplo: usufrutuário). São chamados de direitos reais so- estabelecidos pelo ato de constituição. Tem, ainda, o direito de alienar (no caso de bens não segurados e não caucionados); não
bre coisa alheia porque são observados sob a ótica do tercei- a servidão, o que será feito somente por meio da alienação do imóvel uso ou não fruição da coisa em que o usufruto recai; renúncia
ro, que é o seu titular. Podemos dividir os direitos reais sobre dominante. ou morte do usufrutuário (a morte do nu-proprietário não ex-
coisa alheia em três categorias: a) direitos de gozo e fruição O titular do imóvel serviente, por sua vez, tem a obrigação de sujei- tingue o usufruto – haverá transmissão da nua-propriedade
(superfície, servidões, usufruto, uso, a habitação, concessão ção, ou seja, de tolerar a utilização de seu imóvel pelo proprietário do aos herdeiros, mas a relação de usufruto subsistirá).
de uso especial para fins de moradia, concessão de direito imóvel dominante. Por outro lado, tem o direito de indenização, quan-
real de uso); b) direito real de aquisição (direito do promitente do não houver manutenção da coisa ou quando o uso for indevido. USO
comprador do imóvel) e c) direitos reais de garantia (o pe-
nhor, hipoteca e anticrese). 6. Extinção da servidão: a servidão se extinguirá nos seguintes Uso é o direito real sobre coisa alheia constituído a título gra-
casos: a) se os imóveis se reunirem sob um mesmo titular; b) pela tuito ou oneroso, pelo qual o usuário fica autorizado a usar a
SUPERFÍCIE renúncia do proprietário do imóvel dominante; c) pelo perecimento coisa temporariamente, ou seja, retirar dela, todas as utilida-
do objeto; d) pela desapropriação do bem objeto da servidão; e) des para atender às suas necessidades e às de sua família.
É o direito real por meio do qual o proprietário concede a ou- pelo não uso por 10 anos consecutivos extingue a servidão; f) por O uso tem as mesmas características do usufruto, sendo que
trem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por contrato entre as partes, com registro no cartório competente. sua distinção se faz apenas a limitação da fruição, que, no
tempo determinado, mediante escritura pública devidamente uso, fica restrita às suas próprias necessidades e às de sua
registrada no Cartório de Registro de Imóveis. O direito de USUFRUTO família (art. 1412 do CC).
superfície não autoriza obra no subsolo, salvo se for inerente
ao objeto da concessão (artigos 1369 a 1377 do CC). É o direito real sobre coisa alheia que confere a uma pessoa certa HABITAÇÃO
e determinada, durante um certo tempo, o direito de usar e fruir de
1. Constituição: a superfície se constitui tão somente por ato um bem, devendo restituí-lo após o decurso do prazo. Tem como É o direito real sobre bem imóvel, que permite ao beneficiário
de vontade, devendo ser formalizada por meio de escritura objetivo beneficiar pessoa certa e determinada. Diferentemente da usar gratuitamente casa alheia, exclusivamente, para fins de
pública, sob pena de nulidade. servidão, pode recair sobre bens móveis ou imóveis. Estatui o arti- moradia própria e de sua família. É o mais restrito dos direi-
go 1390 do Código Civil que o usufruto pode recair em um ou mais tos reais de fruição. Aplicam-se a ele as mesmas regras do
2. Características: a concessão da superfície será sempre bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro ou parte deste, usufruto, tendo como principais diferenças o fato de somente
por prazo determinado, podendo ser gratuita ou onerosa; abrangendo-lhe no todo ou em parte os frutos e utilidades. recair sobre bens imóveis e o fato de ser sempre gratuito.
se onerosa, estipularão as partes se o pagamento for feito O direito de habitação pode ser estatuído por lei, como é o
de uma só vez, ou parceladamente. A superfície pode ser 1. Características: o usufruto tem as seguintes características caso do direito do cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o
transferida a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus essenciais: regime, independentemente de participação na herança, de
herdeiros. Em caso de alienação do imóvel ou do direito de a) Temporário: o usufruto será sempre instituído por prazo de- continuar residindo no imóvel da família, caso seja o único
superfície, o superficiário ou o proprietário têm direito de pre- terminado. Se for instituído por prazo indeterminado (chamado daquela espécie a inventariar (art. 1414 do CC).
ferência, em igualdade de condições vitalício), será extinto no momento da morte do usufrutuário, ou,
sendo o usufrutuário pessoa jurídica, no máximo trinta anos após Direito do promitente
3. Extinção da superfície: a superfície se extingue em razão a sua instituição. comprador do imóvel
do decurso do prazo ou antes do termo final, se o superficiá- b) Personalíssimo: o usufruto é instituído para beneficiar pessoa
rio der ao terreno destinação diversa daquela para a qual foi certa e determinada, não podendo ter sua titularidade alterada. Mediante promessa de compra e venda, realizada em
concedida. Uma vez extinta a concessão, o proprietário pas- c) Inalienável: por ser personalíssimo, o usufruto não pode ser caráter irretratável, celebrada por instrumento público ou
sará a ter a propriedade plena sobre o terreno, construção ou transferido a terceiros, nem por ato “inter vivos” nem “causa mor- particular e, desde que registrada no Cartório de Registro
plantação, independentemente de indenização, se as partes tis”. O usufrutuário pode ceder seus direitos de uso e gozo sobre a de Imóveis, o promitente comprador adquire direito real à
não houverem estipulado o contrário. Ocorrendo a extinção coisa a terceiros, por meio contratual, sem qualquer eficácia real. aquisição do imóvel, ou seja, atendidos os requisitos da lei,
do direito de superfície, em conseqüência de desapropria- d) Divisível: o usufruto pode ser instituído em favor de mais de um o promitente comprador pode exigir do promitente vendedor
ção, a indenização cabe ao proprietário e ao superficiário, no beneficiário simultaneamente (usufruto simultâneo), estipulando- ou mesmo de terceiros, a quem os direitos deste tenham sido
valor correspondente ao direito real de cada um. se o quinhão de cada um. eventualmente cedidos, a outorga da escritura definitiva de
compra e venda, e ainda, se houver recusa, requerer ao juiz
SERVIDÃO 2. Constituição: o usufruto pode ser legal ou convencional. O a adjudicação do imóvel (art. 1417 do CC).
legal será constituído por imposição da lei, como é o caso do usu- LINK ACADÊMICO 5
Pelo direito real de servidão, o titular confere a um terceiro o fruto dos bens dos filhos menores em favor dos pais (art. 1689,
direito de usar ou o direito de usar e fruir da coisa. A doutrina I do CC). Já o usufruto convencional, instituído por vontade das Direitos reais de
prevê a classificação da servidão em duas modalidades: a partes, pode ser criado por ato unilateral (testamento) ou por ato
servidão real e as servidões pessoais. bilateral (contrato - na forma de escritura pública se recair sobre garantia: penhor,
bem imóvel). O usufruto constituído por ato bilateral pode ser gra- hipoteca e anticrese
1. Servidão real: é a relação pela qual o direito de usar e tuito ou oneroso.
fruir é transmitido independentemente das qualidades pes- Podemos conceituar os direitos reais de garantia como os
soais do sujeito de direito beneficiado. Essa transmissão se 3. Direitos e Obrigações das Partes direitos que conferem ao seu titular o poder de obter o paga-
dá em razão de uma relação de vizinhança. Pode haver ato 3.1. Usufrutuário mento de uma dívida com o valor ou a renda de um bem des-
de vontade na constituição original do direito, mas nas suas a) Direitos do usufrutuário: o usufrutuário tem direito de usar e tinado exclusivamente à sua satisfação. Têm por finalidade
transmissões subseqüentes não. Como a servidão, nesse fruir livremente da coisa, desde que não exista uma causa que garantir ao credor o recebimento do débito, por estabelecer
caso, está ligada ao objeto, e não ao sujeito, a servidão pode limite essa fruição, bem como tem direito sobre as benfeitorias que um vínculo entre o pagamento da dívida e um determinado
ser alienada, bem como a morte do beneficiário não extingue venha a fazer na coisa. bem pertencente ao devedor.
a servidão. Esta modalidade é a servidão propriamente dita. b) Obrigações do usufrutuário: o usufrutuário tem o dever de São sempre acessórios de uma obrigação, ou seja, existem
devolver a coisa no mesmo estado em que se encontrava, ao fim tão somente em função daquela obrigação e com sua even-
2. Servidões pessoais: hipóteses em que o direito de usar e do prazo; conservar a coisa, ou seja, manter o estado em que se tual extinção, estarão também eles extintos.
fruir é transmitido ao beneficiário em razão de suas qualida- encontrava; caucionar a coisa, ou seja, apresentar uma garantia Os direitos reais de garantia previstos pelo Código Civil são o
des pessoais. Estará, portanto, ligada ao sujeito a servidão, e de valor equivalente, se o proprietário assim o exigir; prestar con- penhor, a hipoteca e a anticrese, conforme passaremos a ver.
não ao objeto. Estando ligadas ao sujeito, são inalienáveis e tas ao nu-proprietário; arcar com as despesas próprias da coisa
a morte do beneficiário põe fim à servidão. Essas servidões (impostos, taxas, contribuições de melhoria, despesas condomi- PENHOR
são representadas pelo usufruto, pelo uso e pelo direito de niais), de acordo com o artigo 1400 do Código Civil.
habitação (que são idênticos em sua natureza, mas se dife- 3.2. Nu-proprietário 1. Conceito: é um direito real que consiste na tradição de
renciam pela extensão do uso e da fruição). a) Direitos do nu-proprietário: administrar a coisa (quando o uma coisa móvel ou mobilizável, suscetível de alienação,

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realizada pelo devedor ou por terceiro ao credor, a fim de percebidos à conta de juros (art. 1506 do CC)
garantir o pagamento do débito (art. 1431 do CC). Tem como 4. Extinção da hipoteca
sujeitos o devedor pignoratício (pode ser tanto o sujeito pas- 2. Características: é um direito real de garantia; requer capacida- A hipoteca, como direito de garantia, portanto, acessório da
sivo da obrigação principal como terceiro que ofereça o ônus de das partes; deve ser constituído de maneira formal, por meio de obrigação principal, extingue-se, fundamentalmente, pelo
real) e o credor pignoratício (é o credor que recebe o bem escritura pública; é alienável; para ser constituído requer a tradição desaparecimento da obrigação principal.
empenhado, recebendo pela tradição, a posse deste). real do imóvel; não confere preferência ao anticresista; o credor No entanto, podemos relacionar outras formas de extinção
anticrético só poderá aplicar as rendas que auferir com a retenção desse direito real, como por exemplo a destruição da coisa
2. Modos de constituição: pode constituir-se por convenção do bem de raiz, no pagamento da obrigação garantida; objeto da garantia, visto que, não mais existindo a coisa,
(caso em que credor e devedor estipulam a garantia pignora- impossível será que ela se preste a garantir qualquer obri-
tícia, conforme seus próprios interesses) ou por lei (quando, 3. Constituição: constitui-se o direito real de anticrese, por meio gação.
para proteger certos credores, a própria norma jurídica lhes de inscrição do documento de sua constituição junto à matrícula do Também a resolução do domínio leva à extinção da hipote-
confere o direito de tomar certos bens como garantia, até imóvel, devendo ainda ser realizada a efetiva tradição do bem. ca, pois inútil seria uma garantia concedida por pessoa que
conseguirem obter o total pagamento das quantias que lhes não mais detém o poder sobre a coisa dada em garantia.
devem) – é o chamado penhor legal. 4. Extinção: resolve-se a anticrese pelo pagamento da dívida; Nesse mesmo sentido está a arrematação do imóvel one-
2.1. Penhor legal: é aquele que surge em razão de uma im- pelo término do prazo legal; pelo perecimento do bem anticrético; rado por quem der maior lance ou adjudicação requerida
posição legal, tendo como objetivo assegurar o pagamento pela desapropriação; pela renúncia do anticretista; pela excussão pelo credor hipotecário. Em ambos os casos a titularidade
de certas dívidas de que determinadas pessoas são credo- de outros credores, quando o anticrético não opuser seu direito do bem dado em garantia deixa de ser do devedor, sendo
ras e que, por sua natureza, reclamam tratamento especial; de retenção. que, na segunda hipótese, passou ao próprio credor. Caso
determina a norma jurídica que são credores pignoratícios, o valor do bem hipotecado não seja suficiente para que se
independentemente de convenção, todos aqueles que pre- HIPOTECA extinga a obrigação principal pela adjudicação, o credor
encherem as condições e formalidades legais, podendo poderá prosseguir cobrando o devedor pela diferença, mas
apossar-se dos bens do devedor, retirando-os de sua posse, 1. Conceito: a hipoteca é um direito real de garantia que grava nesse caso sem qualquer garantia, visto que essa já deixou
para sobre eles estabelecer o seu direito real, revestido de coisa imóvel ou bem que a lei entende por hipotecável, perten- de existir.
seqüela, preferência e ação real exercitável “erga omnes”. cente ao devedor ou a terceiro, sem transmissão de posse ao Podemos acrescentar ainda às hipóteses de extinção da
Encontram-se, nessa situação, por força do art. 1467 do CC, credor, conferindo a este o direito de promover a sua venda ju- hipoteca a renúncia do credor; a remição; a sentença pas-
os hospedeiros, ou fornecedores de pousada, ou alimento, dicial, pagando-se, preferentemente, se inadimplente o devedor. sada em julgado; a prescrição; a consolidação; a peremp-
sobre as bagagens, móveis, jóias, ou dinheiro que os seus É, portanto, um direito real sobre o valor da coisa onerada e não ção legal ou usucapião (art. 1499 do CC).
consumidores, ou fregueses tiverem consigo nas respectivas sobre sua substância. LINK ACADÊMICO 6
casas, ou estabelecimentos, pelas despesas, ou consumo A hipoteca recairá, em regra, sobre bens imóveis. No entanto,
que aí tiverem feito; e o dono do prédio rústico ou urbano, poderá também recair sobre outros bens que a lei considera
sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guar- como hipotecáveis, ainda que não sejam tipicamente imóveis,
necendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas. como é o caso de navios e aeronaves, bem como estradas de
2.2. Penhor comum e penhor especial: denominamos pe- ferro.
nhor comum ou regular aquele que se consubstancia da for- Em comparação com o penhor, a hipoteca tem, como caracte-
ma típica ao penhor, ou seja, pela tradição do objeto dado em rística principal, o fato de o bem objeto da garantia permanecer
garantia ao credor, ficando este último na posse do bem pelo em poder do devedor, e não em poder do credor, como naquele
prazo que durar a garantia. No entanto, certas modalidades caso. Assim, se ofereço como garantia de pagamento de uma A coleção Guia Acadêmico é o ponto de partida dos estudos
de penhor tornam impossível a realização da tradição, pela dívida um imóvel, em hipoteca, posso continuar residindo nesse das disciplinas dos cursos de graduação, devendo ser comple-
própria natureza da coisa dada em garantia (caso do penhor imóvel, sem transferir a posse ao credor, como seria próprio do mentada com o material disponível nos Links e com a leitura
rural) ou por sua utilidade para o devedor (caso do penhor in- penhor. de livros didáticos.
dustrial e do mercantil). Assim, nesses casos, denominados
de forma genérica como penhor especial, haverá apenas a 2. Modalidades de hipoteca Direito das Coisas– 2ª edição - 2009
tradição ficta da coisa objeto da garantia, sendo que o deve- A lei e a doutrina prevêem algumas modalidades de hipoteca,
dor permanecerá de fato em poder da coisa. de acordo com as características de sua constituição e sua fina- Coordenador:
2.3. Penhor rural: sob a rubrica “penhor rural” podemos in- lidade específica. Assim, podemos apontar como classificações Carlos Eduardo Brocanella Witter, Professor universitário
cluir tanto o penhor agrícola (arts. 1442 e 1443 do CC) como relevantes da hipoteca as seguintes: e de cursos preparatórios há mais de 10 anos, Especialista
o pecuário (art. 1444 do CC). O penhor agrícola poderá re- 2.1. Hipoteca convencional: é aquela que se constitui por meio em Direito Educacional; Mestre em Educação e Semiótica Ju-
cair sobre máquinas e instrumentos de agricultura; colheitas de um acordo de vontade do credor e do devedor da obrigação rídica; Membro da Associação Brasileira para o Progresso da
pendentes ou em via de formação; frutos acondicionados principal. Deve ser registrada junto à matrícula do bem objeto da Ciência; Palestrante; Advogado e Autor de obras jurídicas.
ou armazenados; lenha cortada e carvão vegetal; animais garantia para gerar efeitos. São suscetíveis de garantia real e, Autor:
do serviço ordinário de estabelecimento agrícola. O penhor por conseqüência de hipoteca, todas as obrigações de caráter Ângelo Rigon Filho, advogado em São Paulo. Mestre e douto-
pecuário, por sua vez, poderá recair sobre os animais que econômico, sejam elas de dar, de fazer, ou de não fazer. rando em Direito Civil pela Faculdade de Direito da Universida-
integram a atividade pastoril, agrícola ou de lacticínios. 2.2. Hipoteca legal: é aquela que a lei confere a certos credo- de de São Paulo (USP). Professor Universitário em cursos de
2.4. Penhor industrial: recai sobre máquinas e aparelhos res, que se encontram em situação especial e pelo fato de seus graduação e pós-graduação, na cadeira do Direito Civil. Pro-
utilizados em indústria, bens da indústria de sal, produtos de bens serem confiados à administração alheia, devendo receber fessor de cursos preparatórios para a OAB e para as carreiras
suinocultura, carnes e derivados além de pescado; caracteri- uma proteção especial (art. 1489 do CC). É o caso, por exemplo, públicas jurídicas.
zando-se pela dispensa da tradição da coisa onerada, o de- das pessoas de direito público interno (art. 41 do CC) sobre os
vedor continua na sua posse, equiparando-se ao depositário imóveis pertencentes aos encarregados da cobrança, guarda A coleção Guia Acadêmico é uma publicação da Memes Tec-
para todos os efeitos (artigos 1447 e 1448 CC). ou administração dos respectivos fundos e rendas; dos filhos, nologia Educacional Ltda. São Paulo-SP.
2.5. Penhor mercantil: essencialmente, não há nenhuma sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias, Endereço eletrônico: www.memesjuridico.com.br
diferença entre o penhor mercantil e o civil. A distinção entre antes de fazer o inventário do casal anterior; do ofendido ou seus Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida
eles se faz apenas pela natureza da obrigação que visa ga- herdeiros, sobre os imóveis do delinqüente, para satisfação do a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer
rantir: a contraída por comerciante ou empresário, no exercí- dano causado pelo delito e pagamento das despesas judiciais; meio ou processo, sem a expressa autorização do autor e da
cio de sua atividade econômica. do co-herdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da parti- editora. A violação dos direitos autorais caracteriza crime, sem
lha, sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente; do credor prejuízo das sanções civis cabíveis.
3. Extinção: extingue-se o penhor: a) com a extinção da dí- sobre o imóvel arrematado, para garantia do pagamento do res-
vida; b) com o perecimento do objeto empenhado; c) com a tante do preço da arrematação. Em todas essas hipóteses será
renúncia do credor; d) com a confusão; e) com a adjudicação necessário realizar a especialização da hipoteca legal, conforme
judicial, a remissão (resgate) ou a venda do bem objeto do procedimento previsto no CPC art. 1205 e seguintes.
penhor autorizada pelo credor; f) com a resolução da pro- 2.3. Hipoteca judicial: é a que resulta de uma sentença judicial,
priedade; g) com a nulidade da obrigação principal; h) com para o fim de assegurar sua execução. Exige especialização e
a prescrição da obrigação principal; i) com o escoamento do registro no Cartório de Registro de Imóveis para que possa ser
prazo; j) com a reivindicação do bem gravado; l) com a re- oposta a terceiros.
missão ou perdão da dívida. Operada a extinção do penhor
por qualquer desses casos, o credor deverá restituir o objeto 3. Características especiais
empenhado. Algumas características da hipoteca a diferenciam dos demais
direitos reais e estabelecem suas peculiaridades. Como é pró-
ANTICRESE prio de qualquer instituto jurídico, há figuras que lhe são próprias www.memesjuridico.com.br
e que merecem destaque, dentre essas podemos mencionar:
1. Conceito: é um direito real estabelecido por ato de vonta- 3.1. Remição hipotecária: é o direito concedido a certas pesso-
de, como garantia de uma obrigação, pelo qual o credor pas- as de liberar o imóvel onerado, mediante pagamento da quantia
sa a ter o direito de perceber os seus frutos, para conseguir devida independentemente do consentimento do credor. Nessa
a soma em dinheiro emprestada, imputando na dívida e até categoria, incluem-se o credor sub-hipotecário, o adquirente do
o seu resgate, as importâncias que for recebendo. É direito imóvel hipotecado, o devedor da hipoteca ou membros de sua
real sobre imóvel alheio, em virtude do qual o credor obtém família e a massa falida.
a posse da coisa a fim de perceber-lhe os frutos e imputá- 3.2. Cédula hipotecária: consiste num título representativo de
los no pagamento da dívida, juros e capital, sendo, porém, crédito com este ônus real, sempre nominativo, mas transferível
permitido estipular que os frutos sejam, na sua totalidade, por endosso e emitido pelo credor (art. 1486 do CC).

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