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Peregrinar é rezar com os pés


Iniciativa
.
Peregrinos de Aveiro propõem percurso alternativo para Fátima. Um caminho mais
bonito, saudável e seguro

Aveiro, 9 de Maio de 2009. 7h30 da manhã. Um grupo de trinta peregrinos sai do largo
da Sé em direcção a Fátima. Deverá ter chegado ao santuário ontem à tarde, dia 12.
Destes, mais de uma dezena repete o percurso. Outros percorrem-no pela primeira vez,
geralmente “arrastados” por “repetentes”. A maioria é de Aveiro. Mas entre os que pela
primeira vez se põem a caminho do santuário mariano estão dois jovens de Viana do
Castelo e uma família de Lamego, emigrante na Alemanha, que conheceu a
peregrinação e o seu mentor através do blogue Meia Bota Bota e Meia
(http://meiabotabotaemeia.blogspot.com).
José Cruz, 48 anos, casado, pais de dois rapazes, é o mais velho do grupo e principal
organizador da peregrinação. “Só por saber que uma família na Alemanha conheceu o
blogue e agora pode cumprir a ida a Fátima, já valeu a pena”, afirma.
A peregrinação deste grupo não será muito diferente das de outros, embora tenha
algumas regras mínimas. A principal é “O peregrino não exige; agradece”, como
escreveu José Cruz num e-mail que dirigiu aos colegas de percurso dias antes da
partida. “O peregrino agradece os locais onde fica, mesmo que as condições não sejam
as melhores. Não vamos para comer bem ou descansar. Já estivemos para mudar um
local de estadia, mas fomos tão bem acolhidos que agora repetimos esse local.
Peregrinar é aceitar o que se nos dá”, afirma. Mas num aspecto esta peregrinação é
diferente: o percurso.
Certa ocasião, após uma ida a Compostela, querendo um percurso semelhante que
evitasse as congestionadas e perigosas EN 1 e EN 109, José Cruz pegou no mapa e
reparou que para chegar a pé a Fátima seria possível seguir um terceiro caminho.
Tentou uma vez e teve que fazer 10 km na EN 1, perto de Pombal. Na segunda
tentativa encontrou caminhos agrícolas de modo a nunca ser necessário andar pela EN
1. O percurso está agora assim definido (ver destaque).
A parte inicial segue a EN 335. Caminha-se depois nas margens do Mondego. De
Alfarelos a Pombal segue-se por caminhos agrícolas e pelas margens do Arunca. O
percurso é seguro, bonito e saudável. A partir de Pombal o caminho pela serra é feito
com todos os outros peregrinos que chegam do litoral norte.
Com José Cruz seguem outros peregrinos mais dados à definição de percursos, como é o
caso do João Paulo, que já assinalou o percurso em sítios de mapas na Internet
(indicados no blogue).
José Cruz considera que agora seria benéfico que as autoridades sinalizassem no
terreno o percurso, à maneira dos sinais que existem no caminho de Compostela: “Não
era preciso muito. Não queremos marcos de granito. Bastariam setas azuis, algumas nas
estradas principais e principalmente nos caminhos agrícolas. Numa das peregrinações,
pintei umas setas azuis no pavimento, com spray, que desapareceram logo. Mas nos
caminhos de terra batida não é possível pintar. E não é correcto pintar as árvores. Penso
que as autoridades, com a colaboração das dioceses deviam sinalizar este caminho com
pequenas placas de madeira ou de metal”. O percurso implica apenas com duas
dioceses, a de Aveiro e a de Coimbra e seis concelhos: Aveiro, Oliveira do Bairro,
Cantanhede, Montemor-o-Velho, Soure e Pombal. Depois de Pombal (que é diocese de
Coimbra), entra-se na diocese de Leiria-Fátima e o percurso está bem definido.
Outra sugestão deixada pelo peregrino: “Com pouco dinheiro e alguma boa vontade,
acho que seria possível fazer pequenos albergues de apoio ao peregrino. As paróquias
podiam assumir esse serviço. Não é preciso muito: só um duche para poder tomar um
banho ou lavar os pés, um fogão para aquecer um leite ou umas papas, porque o
peregrino não está lá para provar a gastronomia, e um canto onde passar a noite. Até
poderia ser uma fonte de rendimento para a paróquia ou para a junta de freguesia”. O
grupo que saiu de Aveiro passou a primeira noite nos Bombeiros de Cantanhede e as
outras duas em espaços cedidos por restaurantes, gastando 25 euros/pessoa pelas três
dormidas.

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José Cruz dá sentido espiritual às peregrinações. Geralmente oferece-as por alguém que
sabe estar a passar dificuldades. Mas há pessoas que caminham consigo que não
partilham da mesma fé. Só que… “Muda sempre algo”, afirma. “As pessoas vêm
modificadas”. Por último deixa um alerta para os que peregrinam como se fosse uma
corrida: “Há pessoas que fazem o percurso em dois dias. Andam 50 km por dia e
dormem 4 horas. Penso que assim não têm tempo para comungar das pessoas e das
coisas. Peregrinar é rezar com os pés”. Se a peregrinação for preparada, dividida em
etapas razoáveis e equilibradas, por lugares seguros e bonitos, melhor se caminha. Mais
e melhor se reza. J.P.F.

Compostela ou Fátima?

Conhecedor dos caminhos para Santiago, aonde costuma ir todos os anos, nos últimos
três José Cruz tem ido a Fátima e a Compostela. “É diferente. Ir a Santiago é como ir ter
com um amigo. Conhecemos gente de todos os cantos do mundo. Chegamos lá com
alegria exterior, mas o que valeu foi o esforço, o caminho até lá chegar. Com Fátima é
diferente. É como ir ter com a mãe. Com o amigo a gente bebe uns copos. Com a mãe a
gente dá um abraço. E fica lá. E chora. A alegria é interior”, afirma, adiantando que nas
duas peregrinações anteriores o grupo desfez-se em lágrimas ao entrar no santuário.

Novo caminho proposto

De Aveiro a Fátima são 134 km assim repartidos:


• Primeiro dia - 37 km (20+17)
07h30 - Aveiro (Sé ) - Aradas - Palhaça - Mamarrosa (Almoço) - Pocariça - Cantanhede
(jantar e dormida).
• Segundo dia - 38 km (19+19)
07h30 - Cantanhede - Arazede - Carapinheira (almoço) - Campos do Mondego - Pista
Olimpica de Montemor - Alfarelos - (pela margem do rio Arunca) – Soure (janter e
dormida).
• Terceiro dia - 33 km (16+17)
07h00 - Soure - Casal da Venda - Simões - Venda da Cruz - Pombal (almoço) - Flandres
- Barracão (jantar e dormida).
Quarto dia - 06h00 - 26 Km
Barracão - Caranguejeira - Santa Catarina da Serra (almoço) - Fátima.
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Destaque | | 13/05/2009 | 09:48 | 6040 Caracteres

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