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O escritor (parteII)

Os dez meses passados foram cansativos, tinha muito que pensar e o que criar. Como se
não bastasse o curto prazo de um ano para a entrega do primeiro livro previsto no
contrato, se deparara com vários contratempos. O mais importante com certeza era o
processo que enfrentara nos primeiros meses do lançamento de seu “Best seller”. Usar o
nome da mãe de um estimado vereador e “difamá-lo”, como alegado, lhe trouxera
problemas catastróficos. Não entendia como não pensou em uma coisa simples como,
mudar o nome da “velha”. Expusera aquela família tradicional ao ridículo, desfez as
ilusões criadas pelo pai aos filhos, a fim de, esconder a triste verdade. A família
Valentine vivera um inferno, não mais sabiam o que era paz, e Diego sentira na pele os
incômodos e desagrados de ser seguido vinte e quatro horas, por repórteres que
procuravam respostas para perguntas claras do gênero, “um infeliz engano ou uma
verdade escondida?”. Diego precisou pagar os melhores advogados e comprar vários
promotores e mesmo assim não conseguira se desvincular do problema. Logo o
vereador cedeu, o processo seria retirado em troca de um simples apoio político que
precisaria, pois tinha intenções de se candidatar para prefeito. O inferno se desfizera
com uma breve declaração publica do senhor vereador.
Finalmente estava livre do maior de todos os problemas, e então se deparara com outro
de menor proporção, escrever um livro em dois meses. A maior parte da sua mina de
ouro ainda se encontrava intocada, seria tão fácil quanto da primeira vez, reunir algumas
memórias e mandá-las a seu editor. Passara apenas um mês reunindo mais lembranças
das varias aventuras da “velha prostituta”. Mandou-as para o editor e agora queria gozar
suas férias até o lançamento dentro de seis meses. Viajou, gastou a herança que Rosane
lhe deixara através de suas memórias. Passeou por ruas magníficas, deliciou-se de
cappuccinos nos famosos cafés da cidade luz, e no centro romântico do mundo,
conheceu Adrienne. Uma francesa de olhos cor de mel, cabelos castanho longo,
adoradora de belas artes, filosofia, matérias que ele adorava discutir com base nos livros
que lera enquanto estava no orfanato. O pouco inglês que ele estudara tornava possível
longas tardes de conversa e então finalmente conquistara uma amiga.
Precisava então voltar, pois estava próxima a data de lançamento de seu novo livro,
assim que chegou enviara um convite especial detalhado em ouro à Adrienne, com uma
passagem só de vinda ao Brasil. Recebera em resposta um pedido de um exemplar
autografado! Estava feliz, sentia-se incrivelmente bem, como nunca se sentira antes. Na
véspera do lançamento lá estava ele, no aeroporto, ansioso com um enorme buquê de
rosas salmão e uma caixa de chocolates. Conseguiu impressioná-la. A ida de limusine
até seu belo apartamento, onde esperava uma mesa dotada de velas, flores e o doce
aroma do molho chinês do que ele mesmo preparara para o jantar. Diego via os olhos de
Adrienne brilharem, se deliciava com a idéia de agradá-la. A sobremesa se fazia divina,
mouse de chocolate com morangos que pareciam recém terem sido colhidos, mas para
ele nada foi mais doce que o beijo que ela lhe dera antes de se retirar ao quarto que a
esperava.
Uma incrível cerimônia fora preparada para o lançamento de seu novo livro, o glamour
pairava naquele ambiente incrível de paredes envelhecidas detalhadas em madeira e
prata. Luzes brilhavam, o aroma doce do champagne as conversas e os risos paralelos
enchiam o ambiente de alegria e de um charme intocável. Se faziam presentes inúmeras
celebridades da literatura local, autores de televisão jornalistas fotógrafos e
principalmente Adrienne. Estava completamente apaixonado já não ligava para nada
nem mesmo para os olhares deselegantes que recebia de alguns dos escritores que se
faziam presentes, olhares estes de reprovação e mesmo repudio. Não estava ligando para
mais nada naquele dia, Adrienne era a culpada de sua desatenção com os convidados e
com a imprensa, apenas cumprira a ordem de dar alguns autógrafos, e ao terminar
abandonara tudo e sumira com Adrienne.
As noticias sobre Diego na semana seguinte foram as mais bombásticas possíveis. Seu
livro tinha recebido as piores críticas possíveis o estouro nas vendas parou ainda na
primeira semana, sua obra estava sendo chamada de “reprise”. Mesmo com todas as
críticas a notícia mais bombástica era ainda a chamada para seu casamento com a bela
francesa que lhe roubara o coração. Dentro de dois meses no dia de natal faria a aliança
com a magnífica mulher. Recebera pouco dinheiro da venda de seu livro dessa vez e seu
contrato fora modificado. As críticas não agradaram em nada a editora, que agora não
mais queria as histórias da velha prostituta, mas queria outro livro uma coisa inovadora,
empolgante, e principalmente rentável. O estouro que foi seu primeiro livro tinha lhe
dado uma segurança financeira que não se precisava se preocupar com renda durante o
resto de sua vida e logo, não mediu esforços para sua festa de casamento. Tudo do
melhor era o que havia preparado champagne francês, caviar, canapés dignos do jantar
de um Deus.
Adrienne assim como ele não tinha família a não ser alguns amigos que deixara na
França e ele as freiras que o criaram. Porem ele convidara todos os membros da nobre
sociedade para a maior festa do ano, era o que diziam todos os jornais do país. Na
catedral se encontravam todos os convidados, do lado de fora a população menos
favorecida assistia deslumbrada a festa de casamento do casal. Uma grande produção
fora montada com telões, luzes e flores. Tudo estava perfeito quando entrou na igreja.
Seu fraque branco reluzia em meio a todos os presentes, a freira que o acompanhava até
o altar sorria incansavelmente. A marcha nupcial inicia e todos se levantam para esperar
a noiva que nunca apareceu.

Alex Barcellos Pinto

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