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ALIENAÇÃO, IDEO LOGIA E MITOS NA ATUALIDADE.

TRABALHO DE GRADUAÇ ÃO DA DISCIPLINA DE


TECNOLOGIA E SOCIEDADE

RODRIGO CIRINO DE ANDRADE


CELSO WOLSKI
VA G N E R V E N G U E
B R U N O G U I L H E R M E A N D R E T TA D E M I R A N D A
EMERSON SHIGUEO SUGIMOTO
FERNANDO HIROSHI SUEMITSU

CURITIBA
2009
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 4

2. CAPÍTULO 1: ALIENAÇÃO............................................................................... 5

3. CAPÍTULO 2: IDEOLOGIA................................................................................ 10

4. CAPÍTULO 3: MITOS NA ATUALIDADE........................................................ 12

5. CONCLUSÃO....................................................................................................... 16
INTRODUÇÃO

A alienação possui vários significados, contudo o mais comum é a ausência


de bens: materiais ou espirituais. Na Idade Média a religião alienava as pessoas
com uma doutrina rígida no qual quem detinha um pensamento diferente o da
igreja era amaldiçoado a ficar eternamente no inferno. Com o avanço da técnica e
do cientificismo, a humanidade alienou-se a indústria, cuja classe do proletariado
foi manipulada a ficar horas em serviço e com pouco tempo de lazer para garantir
o bem-estar de seus patrões. Posterior mente, com a tecnologia da mí dia ficou
mais fácil para a classe dominante alienar a “massa”, utilizando agora do rádio,
da televisão e do cinema para produzir entretenimento e conduzir o povo a
construir os desejos dos dominantes.
Ideologia é um conjunto de idéias de um indivíduo ou grupo, que tem
relação com a política. Ela também é um método de controle usado pela classe
dominante. Na história da humanidade houve ideologias que mudaram conceitos
que perduraram por séculos e outros que duram até hoje.
Antigamente, os mitos tinha como significado a explicação dos fenômenos
naturais, hoje utiliza da palavra mito para referir-se, de for ma pejorativa, às
crenças comuns. Mas ainda há um pouco do pri meiro significado nas histórias
infantis e em revistas em quadrinhos, que visam ter uma função pedagógica e de
implantar desde criança as idéias de sua sociedade e a conduta ao qual elas devem
s e g u i r.
A L I E N A Ç Ã O , I D E O L O G I A E M I T O S N A AT U A L I D A D E .

A ALIENAÇÃO

A definição da palavra alienação é ampla: podendo significar ausência de


bens, transferência de propriedade, desligamento da realidade, ou ainda perda de
personalidade. Ou seja, significa a perda de bens sejam eles materiais, físicos,
mentais, emocionais, culturais, sociais, políticos ou econômicos.

O mito é uma das fontes da alienação. A religião, por exemplo, causa


a li e n a ç ã o de v i d a a “v e r d a d e ” q ue a c i ê nc i a n ã o p o de r e s p o n d er, o u t r or a , n o
p a s s a d o a i n s t i t u i ç ã o r e l i g i o s a , d e t e n t o r a d o s a b e r, o g u a r d a p a r a s i , n a f o r m a d e
textos em Lati m, língua secreta para a maioria (exceto para os “iniciados”), como
for ma de dominação sobre a massa, que alienada segue “religiosamente” sobre o
cabresto e domínio da instituição, contestá-la seria o mesmo que contestar ao
próprio Deus, Criador Onipresente, que tudo sabe e tudo vê (aqui sem referências
à fé de cada um, mais à i magem que a instituição tomou para si), mito criado pela
instituição, não segui-la significa ser “exco mungado” e passar uma eternidade
num lugar terrível e com os mais terríveis pesadelos.
Quando o mito torna-se esclareci mento, a natureza (e a i magem de Deus)
perde força, e o poder do esclareci mento concedido ao home m causa a alienação
do próprio. Afinal o esclareci mento é uma ferramenta de manipulação que
transfor ma o ser (por incorporá-la) em uma i magem dessa mes ma ferramenta. O
dominante acaba sendo dominado por seu próprio instrumento, perdendo assi m sua
personalidade, alienando-se. U ma vez que a ciência, dona de toda verdade, não se
per mite estar errada. E sendo verdade não pode ser contestada, assi m mes mo a
distorção revestida de preceitos da ciência, é tida como verdade, tornando-se
assim um instrumento de manipulação, molda-se à medida da necessidade da
manipulação.
Q u a n d o a l g o p a r e c e c e r t o , o u t r a s c o i s a s p e r d e m o v a l o r. U m e x e m p l o d i s s o
é a produção: U ma pessoa produz vegetais de certa maneira e, com isso, obtém um
ótimo resultado, outras pessoas ao perceberem isto, acabam copiando o processo
sem levar em conta as suas diferenças. Isso causou que certas pessoas
acreditassem que ser diferente é rui m. Padronizando também o individuo,
tornando-o um ser que não pensa por si mesmo, por estar preso por conceitos pré-
definidos.
E quando a admiração passa a ser alienação, isso começa a afetar os
sistemas produtivos, que deixam de fabricar produtos personalizados, para a
produção de produtos padronizados com a “vantagem” de serem baratos.
O ideal burguês trouxe essa linha de pensamento com ele. Uma vez que
q u a n t o m e n o r o c u s t o , m a i o r o l u c r o e a s v e n d a s : “ To d o s v ã o q u e r e r u m ( p r o d u t o )
igual”. Causando assim a alienação do trabalhador: que vive em uma rotina faz
t u d o s e m p r e i g u a l e q u a s e n u n c a t e m u m m o m e n t o d e l a z e r, s o b a d o m i n a ç ã o
f a b r i l , m u i t a s v e z e s o t r a b a l h a d o r d e s c o n h e c e o q u e é l a z e r, c o n h e c e a p e n a s o
entreteni mento i mposto pelo sistema, até o mo mento que ele deveria dedicar ao
l a z e r é d e d i c a d o a o e n t r e t e n i m e n t o , m e s m o e m b u s c a d o l a z e r, o q u e e l e e n c o n t r a
é apenas o entretenimento, manipulado torna-se um momento espelhado no
trabalho, acondiciona-se o ser humano à apenas um objetivo, à produção, à
e f i c i ê n c i a n o p r o d u z i r, a i n d i v i d u a l i d a d e s e d e t u r p a e s e t o r n a e m u m a p s e u d o -
individualidade, o homem unidi mensional, instrumentalizado pela razão incapaz
de realizar qualquer pensamento crítico, segundo Marcuse. Diferente do escravo,
o trabalhador proletário é confinado no seu trabalho, é escravizado no mais
í n t i m o d o s e u s e r, r o b o t i z a d o , n ã o c o m g r i l h õ e s m a i s d e f o r m a à r e t i r a r s u a
reflexão, seu pensamento crítico. Pois se ficar desempregado deixará de ter a
p o u c a a u t o n o m i a q u e p o s s u í . To r n a - s e u m o u t r o t i p o d e e s c r a v o : e s c r a v o d o
tempo, do rit mo de trabalho, do estudo e do dinheiro. Acaba trabalhando para o
dinheiro e não o contrário torna-se instrumento do sistema. Alienando o
trabalhador de sua humanidade. Fazendo com que o ócio (antes visto pelos
romanos com uma necessidade humana) se tornasse algo prejudicial mal visto pela
sociedade, enquanto o trabalho (que era considerado um castigo) algo positivo,
gravam- se os valores de dominação de diversas for mas no home m
instrumentalizando-o. Segundo Marx, surgiu então à alienação da sociedade
burguesa: fetichismo, ou seja, idolatrar certos objetos. O importante não é mais
ser e também não é o senti mento, a consciência, o pensamento. Sendo o dinheiro
o maior fetiche desta cultura, que acredita que com dinheiro se tem tudo.
S e g u i n d o Ho r k h e i me r, e s s a i n v er s ã o de v al o r e s ( o h o me m de i x a d e se r fi m p ar a
ser meio do processo de produção, perdendo seu espaço para o dinheiro e para as
maquinas: mais vale uma máquina funcionando do que um empregado contratado),
p r o d u ç ã o e m s é r i e , e f i c i ê n c i a , p r o d u z i r, p r o d u z i r e p r o d u z i r, s ã o o s o b j e t i v o s d o
sistema, o home m torna-se máquina.
Deturpa-se a cultura, onde o ser não possui importância, apenas o ter é
valorizado, sociedade de cultura moldada e forjada ao consumismo, “ter é poder”,
nos meios de entreteni mento o que se vê são bens materiais, carros, mansões e
diversos bens de consumo, o trabalhador diante desta universalidade manipulada
se vê marginalizado, excluí-se o trabalhador e se magnífica o sistema, as
sociedades dominantes, a idéia passada é de que por um acaso do destino ou pela
sorte alguns são privilegiados e acertaram na loteria, estes sim são os escolhidos
a ter uma vida farta e de prazeres, o trabalhador acostuma-se com o sistema e com
a vida que lhe é i mposta, as idéias passadas pelos dominantes acondicionam o
trabalhador a “abaixar a cabeça” e aceitar sua vida miserável, a cumprir com o
seu “dever” e “obrigação” de servir aos interesses da sociedade dominante,
exatamente como quer o sistema, exi mir-se de toda a culpa, mascarar a verdade,
q u e s e u s u c e s s o e s e u s f r u t o s c o l h i d o s v e m d o s u o r d o t r a b a l h a d o r.
O processo industrial causa uma alienação do trabalhador que (após o
fordismo) só conhece sua parte do serviço. E deixa de ter o conheci mento
necessário para fazer seu próprio negócio, não conhece o todo, não sabe o que
esta fazendo (alienado), produz para o dono da empresa, mais nunca terá acesso
a o p r o d u t o f e i t o p e l o s e u s u o r, t o r n a n d o - s e a i n d a m a i s d e p e n d e n t e e f a c i l m e n t e
dominado: Alienado do saber técnico. “Robotizado” e “automatizado”,
desempenha a mes ma função repetidamente, não sabe o que sua tarefa isolada esta
fazendo, qual será o fi m que a sua parte terá, nem a di mensão do seu trabalho.
A humanidade se constrói com a cultura, pois o idealismo norteia os
valores. Mas o que é cultura? Cultura é tudo aquilo que o homem interage,
modifica, é a “liga” o cimento que une as pessoas. A cultura engloba assim
diversas áreas: crenças, costumes, códigos, ferramentas, arte, religião e até
mesmo a ciência. Ou seja, tudo que envolve o ser humano: seus costumes. E é
base para um grupo de pessoas que vivem em grupos, todos são cultos.
E assim com a indústria cultural, nasce assim o entretenimento: mais barato
q u e o l a z e r, o r a o l a z e r n ã o p o d e s e r i n d u s t r i a l i z a d o o e n t r e t e n i m e n t o s i m . A q u i l o
que agradaria um agora tem que agradar todos, a indústria cultural baseia-se no
que agrada a maioria, o entreteni mento é industrializado, padronizado, para gerar
única e exclusivamente o lucro, e quem não concordar está fora de moda, arcaico,
velho, é discri minado, marginalizado. Para não tornar-se um alienado social,
muitos acabam consumindo esse passatempo, segue a moda e a corrente, o
entretenimento não passa de um passatempo. Com isso desenvolve-se a cultura de
massa, que cria uma falsa i mage m de individualidade, uma pseudo-
individualidade, já que é universal. U ma for ma de cultura criada para bitolar o
individuo com conteúdos descontraídos, não comprometedores e não reflexivos,
que não causam o estranhamento. Músicas com ritmo sem conteúdo (“música
ligeira”, Adorno), feitas “sob medida” e que seguem uma receita, filmes que
r o u b a m a i m a g i n a ç ã o . To r n a n d o o h o m e m i n e x p r e s s i v o , s e m o p i n i ã o p r ó p r i a . U m a
cultura desenvolvida para o gosto médio da população, por pessoas diferentes
daquela que a desenvolveu, não é mais cultura, mais produto. Dirigida por
modismos como diversão e passatempo. Com sua “confiabilidade” domina as
pessoas.
A indústria cinematográfica se esforça em criar uma realidade dentro dos
seus fil mes, quanto mais real for fil me, mais fácil o consumidor irá “engolir” os
preceitos passados na película, mesmo que o espectador discorde dos valores
d e t u r p a d o s p a s s a d o s e l e n ã o t e r á c o m o d i s c o r d a r, p o i s e s t a à f r e n t e d e u m a
máquina, um projetor cinematográfico, e não diante de uma pessoa com quem
p o s s a d i s c ut ir e r ef l et i r s o b r e a s i d éi a s p a s s a d as , n ã o te m c o mo re f u t ar, o
processo de reflexão e crítica não existe, não existe um cresci mento pessoal,
mesmo que discorde do que lhe é apresentado se não quiser perder a lógica do
filme, que passa velozmente no rit mo do filme, terá que ignorá-los,
interiorizando-os, assim acostuma-se a massa aceitar tudo que é i mposto,
s u b c o n s c i e n t e m e n t e o s v a l o r e s s ã o p a s s a d o s a o e s p e c t a d o r, s e m e l h a n t e a t e l e v i s ã o
e o rádio, transfor mado à todos em passivos.
Entreteni mento se difere de lazer por visar o prazer e o bem estar humano.
U m resgate a humanidade retirada pelos tipos de alienação. O lazer é um tempo
no qual a pessoa se descobre, produz arte, se expressa, desenvolve um
pensamento crítico e reflexivo sobre as coisas, “visa o prazer pessoal como um
f i m e m s i ” ( A r a n h a , M . L . A . , M a r t i n s , M . H . P. – Te m a s d e F i l o s o f i a ) .
IDEOLOGIA

Ideologia foi definida por Marx como uma “teoria geral das idéias”,
utilizada com o fi m de defor mar a realidade. Ou seja, um conjunto de idéias
produzida por classes domi nantes para dominar mais ainda o resto da sociedade,
manter os ricos onde no poder e a sociedade sobre seu domínio. Cria uma falsa
consciência, voltada no interesse da classe dominante
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologia).
Existem diversos tipos de ideologias e essas usam como meio de propagação
os meios de comunicação, as instituições de ensino, as igrejas, as entidades
assistencialistas entre outras. A ideologia é uma ordem que quando todos estão de
acordo com ela ninguém a questiona e ela esta lado a lado com os processos de
alienação.
A ideologia suprime uma pessoa de seus conceitos e idéias próprias, segue
dominada pela ideologia do sistema.
A ideologia muitas vezes confunde-se com a religião, mesmo que ambas
tenham como ideal ser um sistema que visa transmitir uma doutrina de conduta e
de verdade a seus seguidores elas se diferem em seus métodos de persuasão.
A religião defende uma idéia de sociedade justa, uma sociedade que convive
em ajuda mút ua, ou seja, viver har moniosamente em comunidade, porém não
possui uma relação com política ou econômica de um país, o método de
convencimento é feito pelo uso da fé e do culto no qual o indivíduo busca na
espiritualidade a redenção do espírito e da sua purificação.
Já a ideologia tem como base o convenci mento de um indivíduo, um grupo,
ou até mes mo uma nação pelo uso legíti mo da razão ( mes mo que de for ma falsa)
para valorizar suas idéias.
No século XV a religião aproximou-se muito da ideologia, quando surgiu a
idéia proferida por Girolamo Savoranola na qual inspirou os movi mentos de
reforma religiosa com o desenvolvimento do calvinismo e as comunidades
puritanas e com a relutância da igreja católica sobre esses novos movi mentos
i mpondo uma rígida doutrina: a Contra-Refor ma.
As ideologias tiveram um grande vigor no século XX destacando-se:
Ideologia anarquista – defende a liberdade e a eliminação do estado e de
s u a s f o r m a s d e p o d e r.
I d e o l o g i a c o n s e r v a d o r a – Vi g o r a a i d é i a d e m a n u t e n ç ã o d e v a l o r e s e
costumes de uma sociedade. No Brasil, essa idéia procura valorizar o
paternalismo herdado na época da colônia.
Ideologia nacionalista – tem a visão de exaltar e valorizar o seu próprio
país, promovendo a cultura nacional e os seus valores, nor mal mente essa
i d e o l o g i a é u t i l i z a d a p a r a u n i f i c a r a n a ç ã o , u m e x e m p l o s e r á c i t a d o a s e g u i r.
Ideologia fascista - Surgida por volta da década de 30 na Alemanha que na
época vivia uma crise econômica e política necessitava de uma ideologia para
evitar um desastroso declínio, adotou essa ideologia que tinha como preceitos um
caráter nacionalista extremista, que utilizou do autoritarismo para unificar a
população. Essas idéias foram adotadas também por outros países europeus como
a Itália e Portugal.
Ideologia comunista – I mplantado na Rússia após a Revolução Russa em
1917, o regi me ideológico baseava-se numa sociedade em que o proletariado
tivesse o controle sobre os meios de produção, tornando-se assim, uma sociedade
com valores igualitários e coletivos.
Ideologia democrática – Surgida em Atenas, na Grécia Antiga, tem como
ideal a participação de cada cidadão na vida política. Atual mente, essa ideologia
é manipulada pela classe dominante que distorce informações para se manter no
poder e de forma enganosa, controlar o povo.
I d e o l o g i a c a p i t a l i s t a – S u r g i u n a E u r o p a n o s é c u l o X V, c o m a a s c e n s ã o d a
b u rg u e si a ao p o d er, t or n o u - s e a p r i nc i p al i de o l o g ia d o mu n d o c o n t e mp o r â ne o .
Va l o r i z a o l u c r o e o a c ú m u l o d e r i q u e z a . P r o p o r c i o n a n d o o s u r g i m e n t o d e n o v o s
valores na sociedade: tornou o capital como fi m do processo de produção, o setor
terciário tornou-se o mais i mportante e o home m busca no trabalho e no dinheiro
a realização pessoal.
O M I T O N A AT U A L I D A D E

O mito, apesar de há muito não mais possuir um conceito conciso e


unâni me, tradicional mente traduz-se a uma realidade antropológica voltada a
questões cosmogônicas e escatológicas, bem como interpretações da própria
existência coletiva e individual, particulares a cada cultura e sociedade,
referindo-se em seus níveis mais profundos a temas e interesses que transcendem
a experiência imediata.
Utilizando-se das crenças religiosas e sobrenaturais em suas narrativas, que
eram passadas de geração em geração, as culturas arcaicas tinham no mito tanto
um agente esclarecedor quanto pedagógico, em que eram retratados humanos,
deuses e bestas, heróis e vilões, em tempos que iam daqueles anteriores à gênese
do mundo até contemporâneos à existência da própria civilização, ou referentes
ao fi m da humanidade, do mundo e dos tempos.
Assi m, com a finalidade de esclarecer e justificar toda uma civilização, o
mito devia possuir um caráter universal: as personagens humanas e previsíveis
segundo as expectativas de cada cultura, representavam a humanidade como um
todo, tanto quando retratavam- se heróis quando como quando retratavam- se
vilões.
Quando politeísta, a sociedade freqüentemente reduzia os deuses míticos a
p e r s o n i f i c a ç õ e s m a n i q u e í s t a s d o b e m e d o m a l . Ta l v e z u m a d a s ú n i c a s e x c e ç õ e s
seja a mitologia grega antiga, em que os deuses possuíam personalidades que se
aproxi mava m das humanas, sendo suscetíveis a fraquezas, anseios e desvios de
conduta.
Nu ma generalização grosseira, os mitos dos antigos podem ser divididos em
dois temas principais: a origem e o desaparecimento. Sobre este, os mitos tratam
desde a morte individual até o desapareci mento de todo um povo. Na mi tologia, a
morte era raramente citada como fato natural; era um elemento estranho e oposto
à criação, justificado em alguns casos como castigo divino (aqui exemplifica-se o
dilúvio, história presente em religiões cristãs e anteriores a esta), e em outros
como único meio de evitar a superpopulação. Já a respeito daqueles que tratam da
origem (os cosmogônicos), é comu m encontrar em vários mitos a figura de um
a g e n te cr i a d or, e m q u e é me n c i o n a d o u ma ma t é ri a pr e e x i st e n te , c o mo p o r e x e mp l o
os oceanos, o caos (segundo Hesíodo), ou a terra, para algumas mitologias
africanas. Neste mesmo tópico, ainda há alguns mitos que tratam de uma criação
‘ ’ e x n i h i l o ’’ , o u s e j a , a p a r t i r d o n a d a ; c r e n ç a e s t a q u e j á r e q u e r a l g u m t i p o d e
e l a b o r a ç ã o f i l o s ó f i c a o u r a c i o n a l . Te m o s e n t ã o , c o m o e x e m p l o , a c o s m o g o n i a
chinesa, que atribui a origem do universo, da humanidade e dos demais elementos
a combinações das duas forças ou princípios universais: ying e yang.
Hoje, porém, a idéia de mito reduziu-se a mera aliada no estudo de
civilizações primitivas.
Outra parte, entretanto, teve o significado adaptado, ou até “deturpado” à
s o c i e d a d e a t u a l , c o m o s e r á t r a t a d o a s e g u i r.
Nu ma cultura escrava do pensamento cientificista, as crenças míticas,
supersticiosas e até religiosas perderam espaço. Augusto Co mte, filósofo francês
do século XIX e fundador do positivismo (que se aproxi ma do existencialismo,
pregando a compreensão possibilidade apenas pela experiência), define a
maturidade do espírito humano pelo abandono de todas as for mas míticas,
s u p e r s t i c i o s a s e r e l i g i o s a s . Tu d o d e v e s e r c o m p r o v a d o p e l a e x p e r i m e n t a ç ã o ,
transfor mação da Ciência (no caso a grega), de especulativa em empírica
(Alexandre Magno), e as crenças e explicações metafísicas à realidade foram
postas de lado, menosprezadas, tendo sido conservadas apenas às culturas
consideradas menos desenvolvidas, em que a tecnologia e a ciência ainda não
constituíram uma ditadura sobre a mentalidade.
Ao i n v és d e d e s a p ar e c er, t o da v i a, a i d éi a de “ mi t o ” a da p t o u - se a i d éi a s
modernas, tomando outras for mas e tendo sua definição flexibilizada.
Os antigos heróis míticos, como Hércules e Aquiles, foram reduzidos a
personagens infantis, como Super man, X-men, e outros personagens de quadrinhos
e d e s e n h o s a n i m a d o s . To d a s c r i a t u r a s q u e p o s s u e m h a b i l i d a d e s q u e v ã o a l é m d a s
do home m, mostrando-lhe quão li mitado é. E este universo de histórias infantis
talvez tenha sido o único em que os mitos foram admitidos enquanto histórias:
contos de fada, super heróis e fábulas ainda trazem retratos da universalidade da
ação e pensamento humanos, bem como a definição das diferenças entre bem e
mal, certo e errado, e exercem uma função pedagógica, constituindo os valores da
sociedade vigente às gerações mais novas, afirmando ideologias, dogmas e
comportamentos necessários à sociedade em que se inserem. E, por mais
insignificantes e irrelevantes que pareçam, esses são os que mais se aproxi ma m
da idéia original de “mito”.
Ta m b é m p o d e - s e f a z e r r e f e r ê n c i a a o s m i t o s n a s c r e n ç a s e h i s t ó r i a s r e l i g i o s a s ,
que nada mais são do que as mitologias sobreviventes ao tempo e ao ceticismo
cientificista. Nas maiores religiões da atualidade (cristianismo, hinduísmo,
budismo, judaísmo, islamismo, etc.), encontram-se diversas fábulas e contos
sobre temas bastante familiares aos já citados, como origem, destruição, conduta
e ideologias. Na bíblia cristã, um dos mitos mais conhecidos é o de “Adão e Eva”,
e m q ue s ã o e x p li c a d o s a o r i g e m d a h u ma n i d a de p o r u m en t e cr i a d or, a f a l ha n a
conduta caracterizada pela desobediência deste, e o castigo, a mortalidade, que se
resume à destruição individual, e em algumas interpretações, da humanidade como
um todo. Na crença budista, há, por exemplo, a história da jornada de Sidarta,
que trata da existência momentânea, do tempo em si e de sua evidente
inexistência, bem como das previsões metafísicas do futuro e especulações sobre
o fim da humanidade.
“Mito”, também adaptou-se para designar situações e contextos que soem
inverossí meis, comumente acompanhado de certa ironia. Por exemplo: “o mito da
boa mãe”, ou “o mito do bom velhinho”, ou até mesmo “o mito do casamento
feliz”. Apesar de ser uma utilização um pouco mais afastada, també m adotou o
uso do vocábulo, pois este, em sua concepção original, refere-se a algo fantasioso
e distante.
A últi ma das adaptações da expressão “mito” é utilizada para definir
pessoas reconhecidas, ícones da sociedade atual, heróis populares ou burgueses,
atores, cantores e todo tipo de famosos com quem o povo se identificou e passou
a v e n e r a r.
Heróis, reis, rainhas são expressões que aparecem com freqüência em mitos,
terminologia esta que foi adotada pela mídia (rádio, cinema, televisão, jornais...)
para caracterizar indivíduos de destaque nos meios de comunicação e no
i maginário contemporâneo: “rainhas do rádio”, “rei do futebol”, “estrelas de
cinema”, entre outros títulos que remetem a personagens míticos.
Ainda acima disso tudo, ainda estão personagens célebres da nossa cultura
ocidental que foram promovidos a “mitos” pela mídia e pela população, o que
acabou por si mplificar e alterar ainda ma is o ter mo. Entre eles estão Maril yn
M o n r o e , P e l é , C h e G u e v a r a , Ay r t o n S e n n a e L e i l a D i n i z : c a d a u m , e m s e u m o d o
p a r t i c u l a r, i n f l u e n c i o u g e r a ç õ e s i n t e i r a s .
Alguns teóricos, a respeito de mitos criados pela mídia e consentidos pela
população, afir ma m que a cultura de massa fornece à vida privada as i magens e os
modelos que dão for ma às inspirações e desejos do homem comu m, e usa a
terminologia mítica para referir-se a eles.
Segundo o historiador Mircea Eliade, nas sociedades modernas, os mitos
encontram-se degradados e secularizados, foram obrigados a mudar de “forma” a
fim de assegurar sua sobrevivência.
To d a v i a , n e s t a ú l t i m a d a s i n t e r p r e t a ç õ e s a t u a i s d o t e r m o “ m i t o ” , h á u m a
falha profunda e ao mesmo tempo sutil. Definamos antes, porém, as diferenças
entre a personagem mítica e a personagem romântica: segundo o filósofo e
escritor italiano U mberto Eco, pode-se notar uma diferença fundamental entre os
dois tipos de personagens: a personage m do romance busca asse melhar-se aos
humanos reais, assumindo o que o autor chama “personalidade estética”,
capacidade de tornar-se ter mo de referência para comportamento e senti mentos
que també m pertencem a todos nós, mas que não assume a universalidade e
constância próprias ao personagem mítico.
A personagem romântica caracteriza uma deter minada e bifurcada linha do
pensamento humano. Já a personagem mítica visa deter minar toda a ação humana.
Portanto, essas personalidades célebres definidas atual mente como “mitos”, são
na verdade personagens românticas, representando nada mais que a soma de certas
aspirações coletivas, o que nos leva a concluir que o termo não foi, nessa
ocasião, adaptado, mas sim deturpado.
CONCLUSÃO

Os conceitos transmitidos na síntese desse trabalho têm como função


explanar um pouco sobre os ideais de uma sociedade dividida em classes
extremamente desigual e cujo sistema (domi nado pela classe dominante) promove
uma diferença alar mante entre classe dominante e classe dominada.
O s m i t o s , a s i d e o l o g i a s e a a l i e n a ç ã o s ã o m é t o d o s u t i l i z a d o s p a r a d o m i n a r,
que convém para um grupo pequeno que possui os meios de produção.

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