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Políticas de Informação, Incentivos e Efeitos No Mercado Verde
Políticas de Informação, Incentivos e Efeitos No Mercado Verde
Brasília,
Outubro de 2007
Pedro Gasparinetti Vasconcellos
Matrícula: 07/51227
Brasília,
Outubro de 2007
2
AGRADECIMENTOS
3
SUMÁRIO
RESUMO 6
ABSTRACT 7
I – INTRODUÇÃO 8
4
4.3 Incentivos de diferenciação devido a mudanças na demanda causadas
por diferenças na: 49
V – O PAPEL DO GOVERNO 68
VI – CONCLUSÃO 87
REFERÊNCIAS 89
5
RESUMO
6
ABSTRACT
This piece of work intends to present the main characteristics of the use of
environmental information disclosure policies in a market where agents are aware of the
production and consumption effects upon the environment. In this context, we discuss
the incentives that drive agents to form preferences and make decisions, as well as their
effects on the market and on environmental quality. On the consumers’ side, we analyse
the incentives in a market where there is asymmetric information and which presents the
provision of a public good, environmental quality. On the firms’ side, we analyse their
incentives to differentiate themselves and reduce their emission level because of
changes on demand and government intervention. As a result, the importance of this sort
of environmental policy is shown, owed to its capacity to minimize, with relatively low
costs, the asymmetric information problem, which in turn allows agents to internalise
their environmental preferences, contributing for the reduction of negative externalities
and for firms’ technological change.
7
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
8
Para que seja possível que as firmas mudem seu padrão tecnológico devido a
uma mudança no padrão de consumo, em que bens de alta qualidade ambiental são
demandados, é necessário que o consumidor possa ter acesso às informações necessárias
para sua tomada de decisão. Se produtos de baixa qualidade, também chamados de
‘lemons’, são difíceis de serem distinguidos de bens de alta qualidade, não haverá
incentivo para que o consumidor compre bens com maior qualidade devido à incerteza
de que o bem mais caro seja realmente melhor. A dificuldade de distinção dos produtos
pode levar a um equilíbrio indesejado em que apenas produtos de baixa qualidade são
comercializados.
11
CAPÍTULO II - O PROBLEMA DA INFORMAÇÃO ASSIMÉTRICA E A IMPORTÂNCIA DA PROVISÃO DE
INFORMAÇÃO
12
A informação imperfeita e custosa dá às firmas poder de mercado, prejudicando
a resposta do mercado às variações na qualidade e nos preços. Ela faz com que a curva
de demanda se torne menos do que infinitamente elástica, dando poder às firmas de
aumentar seus preços marginalmente, porém, sem perder todos os seus consumidores
(Stiglitz, 1989).
Existem alguns mecanismos que podem ser utilizados pelas próprias firmas para
diminuir o problema dos consumidores não conseguirem observar as qualidades dos
produtos que adquirem. Firmas podem desenvolver reputação ao manter um alto padrão
de qualidade de bens ao longo do tempo. Isso é feito para tentar sinalizar aos
consumidores a maior qualidade de seus produtos, tendo assim uma demanda mais
elevada por eles. Esse comportamento é mantido pelo temor que a perda de reputação
produza maiores prejuízos do que a vantagem de fraudar esse padrão, obtendo maiores
lucros temporariamente, mas perdendo a demanda mais disposta a pagar posteriormente.
14
têm incentivos de se diferenciarem para obterem preços mais altos para seus produtos.
As firmas que não fornecerem informação sobre a qualidade seriam consideradas de
baixa qualidade e, assim, receberiam preços menores. “Se não houver custos para o
fornecimento de informação e houver penas severas para fraude, valeria a pena para
cada firma fornecer informação correta sobre a qualidade de seu produto” (Stiglitz,
1989). A firma de pior qualidade ainda assim não teria incentivo para fornecer
informação, mas como todas as outras a fornece, a qualidade desta última firma seria
revelada de qualquer maneira por eliminação.
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social por levar a uma alocação em um nível sub-ótimo do bem “meio-ambiente” ou
“qualidade ambiental” pela sociedade.
Toda a sociedade está sujeita aos efeitos indiretos da falta de informação sobre o
meio ambiente e sobre os danos causados a ele pela produção e consumo humano.
Devido a esse fato e aos ganhos de escala que existem ao se informar um grande
número de pessoas, a provisão de informação tem características públicas, sendo
decisiva para a percepção do risco e resolução de problemas sobre o meio-ambiente, um
bem público. Por isso, sua falta é caracterizada como uma falha de mercado. A falha na
provisão de informação, que leva a um problema de informação assimétrica entre os
agentes, por diminuir a qualidade ambiental devido ao aumento na quantidade de
poluição, é considerada por si só, uma externalidade. Além disso, “informação
imprecisa ou parcial pode ser pior do que a falta completa de informação por poder
gerar um falso sentimento de segurança ou prover medos injustificados” (Tietenberg,
1998).
Existem bens que carregam características tanto de bem privado como de bem
público, que são os chamados bens públicos impuros. Esses bens apresentam
característica privada, que é comum todos os produtos semelhantes e o que
primeiramente gera a utilidade, e ao mesmo tempo apresentam uma característica
pública, por exemplo, provendo qualidade ambiental por meio de um processo de
produção sustentável. Como a qualidade ambiental não é apropriada direta e
exclusivamente pelo consumidor, sendo um bem público, o consumo de um bem ‘verde’
gera efeitos indiretos benéficos ao poupar o meio-ambiente. Assim como apresentado
acima, caso haja um problema de sinalização entre produtor e consumidor e assim,
informação assimétrica, o consumidor pode não conseguir identificar as externalidades,
positivas ou negativas, geradas pelo produto, sendo impedido de usufruir das
características escolhidas, e afetando assim a alocação de ‘qualidade ambiental’ na
sociedade.
17
em evitar perdas de bem-estar do que a própria remediação do problema ambiental em
si (Leggett, 2002). Esse fenômeno pode ocorrer porque, mesmo que os consumidores
venham a se beneficiar de um melhoramento na qualidade ambiental, esse benefício
dependerá da informação dada aos agentes para que esses tomem suas decisões de
acordo com a situação real do ambiente.
Por exemplo, um acidente ambiental ocorre em uma praia, que é a melhor opção
de lazer para um determinado indivíduo, e a qualidade da água do local é caracterizada
como imprópria para banho. Por essa razão, agora ele decide ir para um parque, que é
sua segunda opção de lazer, pois não lhe dá o mesmo benefício, ou utilidade. Mesmo
depois da área ser recuperada, e por tanto tornar-se própria para banho, se não houver a
divulgação dessa melhoria, o agente econômico continuará incorrendo perdas em seu
bem-estar caso se mantenha sua segunda opção, ainda evitando a praia. O mesmo ocorre
no caso inverso, em que a área sofre um acidente ambiental, mas a informação sobre o
acontecimento não é devidamente repassado à população. Nesse caso, o banhista estaria
exposto aos perigos de nadar em uma área contaminada, apesar de que, se devidamente
informado, preferiria ir ao parque. Por isso, o poluidor deveria ser responsável, além da
reconstituição da área degradada, da divulgação de informação sobre a real condição do
local para evitar perdas de bem-estar devido a escolhas viesadas de consumidores pelo
fato de haver informação incompleta (Leggett, 2002).
18
2.3 Políticas de Provisão de Informação
Do ponto de vista de políticas públicas, uma meta dos selos ambientais é educar
consumidores sobre os impactos ambientais da produção, uso e descarte de produtos,
levando a uma mudança no padrão de consumo e, finalmente, a redução nos impactos
negativos gerados pelo consumo. Para que selos ambientais possam atingir seus
objetivos de política ambiental, consumidores devem possuir preferências por melhorias
ambientais e responder à informação contida no selo, mudando seu consumo para
produtos certificados. (Teisl et al, 2002).
Por exemplo, um consumidor tem uma demanda D por bens com características
privadas idênticas. Porém, após ser devidamente informado, passa a ter consciência de
que existe uma variedade desse bem (o bem marrom) que polui o meio ambiente em seu
processo de produção, e outra variedade (o bem verde) que não o polui, e que sua firma
produtora incorre custos maiores na sua produção. Essa informação pode fazer com que
haja um aumento na disposição a pagar por bens verdes, ao mesmo tempo em que há
uma diminuição na disposição a pagar por bens marrons. Caso outros os consumidores
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tenham essa mesma reação, haverá um deslocamento no equilíbrio de ambos os
mercados, como mostrado na figura abaixo.
23
Segundo Greaker (2006), “o governo ou uma firma, ao adotar uma política de
informação do tipo ‘selo’, deve levar em consideração para a escolha do critério de
certificação a relação entre eficiência de despoluição e o aumento da disposição a pagar
pelos consumidores”. O aumento na disposição a pagar deve ser suficiente para cobrir
os custos adicionais da firma de informar e prover um bem que possua característica
pública ou que simplesmente possua uma qualidade superior aos demais. Isso será
discutido mais detalhadamente nos próximos capítulos, mas por enquanto é importante
ter a noção de que a informação deve ser provida de maneira eficiente e que o sucesso
desse tipo de política depende em última instância da viabilidade econômica da
produção e consumo de bens de alta qualidade.
O sucesso desses selos pode ser medido pelo grau de uso, pela porção do
mercado atingida e pela popularidade pública obtida. Por exemplo, os selos ambientais
suecos Environmental Choice e Nordic Swan atingiram 100% do mercado papel-
higienico, entre 50% e 70% do mercado de detergentes e 10% do mercado de sabão e
24
xampu. Entretanto, não é claro como essas fatias do mercado devem ser vistas, pois se
for próxima de zero, significa que não foi feito progresso, e por outro lado, se for muito
alta, o critério pode ter sido muito frouxo ou mesmo o selo não teria sido necessário. A
razão citada o sucesso dos selos ambientais na Suécia é a presença de ONGs fortes e
assim, forte demanda por produtos verdes (Sterner, 2003a) .
25
Adicionalmente, a política de provisão de informação utilizada no caso
praticamente não gerou custos adicionais, pois foi apenas preciso publicar as
informações que já eram coletadas pela agencia ambiental. Ao invés de permanecer nas
mãos do regulador, a informação é divulgada, criando fortes incentivos adicionais para
o controle da poluição. (Foulon et al, 2002)
26
informações já disponíveis no mercado ou mesmo de outras campanhas de divulgação
de informação. O consumo é uma função do risco esperado, assim como do preço e de
outros fatores relacionados. Mudanças no risco esperado devido à atuação de
campanhas de conscientização e educação podem ajudar na valorização das decisões de
consumo na presença de novas informações (Shimshack et al, 2007).
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Outro resultado interessante é o de que essas políticas têm conseqüências
distributivas, pois alguns grupos ficam mais expostos ao mercúrio simplesmente porque
as campanhas não os ‘alcançaram’. Esses grupos colocados em risco são principalmente
os menos educados, que não responderam às campanhas. Além disso, as campanhas de
informação que tenham um público alvo definido podem produzir efeitos não
programados em que consumidores reduzem o consumo mesmo não estando no grupo
de risco da campanha (Shimshack et al, 2007).
28
CAPÍTULO III – MOTIVAÇÃO DOS CONSUMIDORES
Por exemplo, o leite pode conter uma característica que alguns consumidores
podem considerar relevante, mas que não pode ser observada por eles, mesmo após sua
compra. Se um alimento puder ter sido produzido com dois tipos de métodos de
produção, com a utilização de hormônios ou não, ele terá uma característica referente à
presença ou não de hormônio na criação dos animais produtores, sendo ela temida
devido à incerteza dos possíveis danos causados à saúde pelo seu consumo. Desse
modo, por dar diferentes valores aos diferentes tipos de leite, o consumidor terá
incentivos para tentar diferenciá-los. Além disso, como o consumo de leite produzido
com complementos hormonais gera, para esse tipo de consumidor, uma utilidade
esperada negativa, este estará disposto a pagar um valor adicional para evitar os riscos
associados a essa característica. É o chamado ‘preço-prêmio’, pago pela presença de um
atributo adicional contido em um bem ou serviço.
Como dito no capítulo anterior, existem bens que, além de terem características
privadas, como sabor, potência ou durabilidade, têm também uma característica pública.
As características privadas são aquelas que normalmente são levadas em consideração
para se atribuir uma qualidade que irá beneficiar e gerar utilidade para seu comprador.
29
As características públicas de um bem não são diretamente apropriáveis pelo
consumidor, mas geram um efeito indireto à sociedade, e por isso pode afetar
marginalmente o indivíduo. Os bens que contém essas duas qualidades são chamados de
bens públicos impuros, pois uma parte de suas características oferece algum bem
público, como por exemplo, qualidade ambiental.
Um consumidor não ciente das características ambientais dos bens irá escolher
as quantidades Qp1 e Qp2 para seu consumo segundo sua curva de indiferença “Up” em
relação à qualidade privada. Porém, ao internalizar as características ambientais de
30
ambos em suas preferências, levando em conta “Up” e “Ua”, o consumidor passará a ter
uma nova curva de indiferença (U*).
31
Para que as características públicas sejam demandadas voluntariamente, é
necessário que exista uma consciência individual ou mecanismos sociais capazes de
superar o problema do free rider. O problema do free rider, ou caroneiro, ocorre
quando, devido à presença de um bem não-excludente, seja extremamente custoso para
agentes privados definirem direitos de propriedade de modo que todas as partes
envolvidas na produção e consumo sejam incluídas. Desse modo, os custos de transação
se tornam maiores do que os possíveis ganhos de produção ou troca, o que anula os
incentivos para a participação dos agentes no mercado. O resultado disso é que, para um
indivíduo, seu esforço não altera seu benefício, pois o resultado de seu esforço não é
apropriável, porém, o benefício que ele irá usufruir não depende do seu esforço. O
resultado dessa falha nos incentivos individuais é que o nível de bem-estar social
alcançado fica em um nível sub-ótimo, ou seja, caso não houvesse o problema de free
rider a sociedade poderia usufruir um maior nível de bem-estar social.
Ao se analisar um bem verde, percebe-se um trade off entre a utilidade vinda das
características normalmente preferidas de um bem e o comportamento moral esperado
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por parte da sociedade. Segundo Conrad (2005), existem pelo menos três justificativas
para esse fato: Primeiro, pode se assumir que os consumidores agem com certo grau de
idealismo, internalizando parte das externalidades negativas da produção de bens que
compram. Segundo, o desvio do comportamento social ambiental padrão é punido com
a perda de reputação ambiental, coagindo os indivíduos de má reputação ambiental.
Terceiro, o consumidor pode ter um efeito de warm glow, ou seja, o indivíduo busca
utilidade ao fornecer uma pequena quantidade de bem público à sociedade. A percepção
ambiental dá utilidade por si só, mesmo que não leve a melhoras ambientais. Esses
fatores levam a mudanças na disposição a pagar por qualidade ambiental, assim como
por bens que a provém indiretamente.
33
Fonte: Pindyck, Rubinfeld, 1999.
Por exemplo: a poluição de uma indústria infere custos aos moradores que
vivem próximos a ela. Internalizar essa externalidade significa incluir os custos
causados pela poluição para que se usufrua dos resultados de sua produção. Mas quem
paga por isso? Caso a indústria tenha os direitos legais de poluir o rio, a própria
comunidade pode estar disposta a pagar pela instalação de um filtro que diminua as
34
emissões. Entretanto, o princípio usualmente adotado é o do “poluidor pagador”, ou
seja, quem polui paga pelos custos externos causados a terceiros.
Por exemplo, caso existam duas firmas idênticas que sejam potenciais
poluidoras. A firma ‘A’ instala um filtro, e por isso tem um processo de produção limpo
e ambientalmente amigável, e a outra, ‘B’, não o instala, gerando custos sociais externos
para a sociedade. Ao instalar um filtro para internalizar os custos da poluição, a firma
‘A’ faz com que seu processo de produção se torne mais caro do que o de ‘B’, pois o
preço médio de cada bem produzido se torna maior com o custo fixo do filtro sendo
incluído. Nesse caso, as firmas diferenciaram a qualidade de bem público (qualidade
ambiental) de seus produtos. A firma ‘A’ oferta um produto mais caro, porém de
qualidade superior, enquanto a firma ‘B’ oferta um bem mais barato, pois não teve de
arcar com os custos do filtro, não oferecendo nenhuma qualidade ambiental.
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Organizações ambientais sem fins lucrativos ou o próprio governo podem fazer
o papel de direcionar doações com fins de prover serviços ambientais, por exemplo, por
meio de subsídios a produtores que atinjam alguma meta ambiental. Esses tipos de
pagamentos diretos costumam ser mais eficientes do que pagamentos indiretos,
entretanto, para indivíduos com baixa valoração do meio ambiente, fazer doações
diretamente para grupos ambientais pode ter um grande custo de transação, enquanto
fazê-las por meio do mercado verde pelo de pagamento de preço-prêmio de um bem
privado pode diminuir os custos de transação, tornando o processo menos custoso
(Ferraro et al, 2005).
36
A mudança na disposição a pagar do consumidor por bens ou serviços
ambientais pode ser influenciada tanto por motivações morais individuais, quanto por
sanções sociais. Essas sanções, uma forma de punição informal, seriam aplicadas
devido a um desvio em alguma conduta socialmente aceita, por exemplo, consumo de
bens causadores de externalidades negativas. Elas fazem com que um indivíduo que
infrinja certos padrões socialmente aceitos sofra uma desutilidade devido à punição,
gerando incentivos para que não atue como um caroneiro.
Como o benefício moral para o consumidor depende das externalidades que seu
consumo gera para os outros membros da sociedade e da participação dos demais no
mercado verde, quanto mais rígido o nível do padrão moral, maior é a chance de se
superar o problema do free rider. Isso ocorre porque o esforço individual se torna mais
próximo do esforço coletivo, que, no caso de ser positivo, facilita a percepção e
apropriação dos resultados ambientais.
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podem ser eficientes em atingir o equilíbrio de demanda desejado, o que contrasta com
a percepção de que a eficiência econômica requer o uso de imposto Pigouviano, igual
aos custos sociais marginais da poluição. No caso, um imposto menor do que o custo
social pode fazer com que os efeitos da imagem individual gerem os incentivos para a
mudança de comportamento da população e levem a internalização de parte das
externalidades negativas (Nyborg et al, 2006).
Os investidores, que buscam maximizar o valor dos retornos de suas ações, têm,
assim como os consumidores, incentivos de natureza puramente privada e incentivos
que refletem benefícios sociais. Eles podem aplicar em empresas ‘verdes’, com posturas
sociais e ambientais mais responsáveis, devido aos motivos apresentados acima, estando
dispostos a abrir mão de parte dos retornos em favor dos benefícios sociais gerados por
uma empresa ‘verde’. Por outro lado, existem motivos mais convencionais que podem
dar preferência a investimentos em firmas ‘verdes’.
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firmas e reagir negativamente àquelas que piorarem em relação às demais firmas
(Khanna et al, 1998).
É argumentado que, para fazer reduções nos custos, firmas que focam
diretamente descobrem oportunidades para economias de energia, redução nos
desperdícios e na produção de lixo, reciclagem e diminuição nos custos de transporte.
Também é argumentado que melhoras no desempenho ambiental aumentam a lealdade
dos trabalhadores, melhorando a capacidade de contratar e reter mão-de-obra
qualificada, especialmente os trabalhadores com maior consciência ambiental.
40
Considere o caso em que o único substituto para o bem verde é um bem
convencional, que tenha apenas características privadas. Como a qualidade ambiental é
considerada um bem normal, e não um inferior, um aumento na renda fará com que sua
demanda também aumente, logo, a quantidade demanda ou a proporção de atributo
ambiental no produto aumentará. Pelo mesmo motivo, um aumento no preço do bem
verde irá diminuir sua quantidade demandada, assim como se o preço do bem substituto
diminuir, há um redirecionamento da demanda, substituindo o bem verde pelo comum.
Como as demandas dos consumidores são diferentes nos dois casos, uma sendo
relativa a bens verdes, que contém atributos ambientais, e a outra, a qualidade ambiental
de forma pura, é possível analisar como mudanças tecnológicas e os preços de bens
substitutos afetam ambos os tipos de demanda.
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pois ela se torna mais barata em relação à qualidade ambiental pura. Se esse efeito
substituição for mais forte do que o efeito renda da diminuição do preço do bem verde,
isso fará com que haja uma redução na demanda por qualidade ambiental. Desse modo,
a demanda pelo bem público impuro aumenta, porém a demanda direta pela qualidade
ambiental pode diminuir, fazendo com que um aumento na demanda por um bem verde
não aumente necessariamente a demanda total por qualidade ambiental, devido ao efeito
de dispersão nas doações diretas (Kotchen, 2005).
Todos os efeitos descritos acima podem ocorrer também no caso da mudança dos
preços relativos serem causadas por mudanças tecnológicas que interfiram nos custos
tanto do bem verde como das doações diretas. Uma mudança no padrão tecnológico de
um bem verde muda a quantidade de qualidade ambiental gerada pela produção de uma
unidade do bem, o que muda o preço implícito de se obter esse atributo ambiental.
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percepção ambiental dos consumidores, maior será a proporção de característica
ambiental demandada nos produtos.
43
CAPÍTULO IV – INCENTIVOS DAS FIRMAS NO MERCADO VERDE
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resulte em reduções de custos no longo prazo, mesmo que no curto prazo pareça ser
apenas um adiantamento em relação ao regulador; As firmas podem também tentar
influenciar a formação de regulação. Se algumas firmas alcançarem níveis maiores do
que os padrões estabelecidos, os formuladores de política podem considerar isto um
sinal de que estes podem enrijecer os padrões para a indústria como um todo. Uma
firma pode desejar que esses padrões sejam enrijecidos caso isso vá inferir maiores
custos a seus rivais; As firmas podem ir além das metas para ganharem reputação de
empresas ambientalmente amigáveis. Entretanto, pode haver falta de incentivos para
que isso ocorra devido à imperfeições na capacidade de diferenciar qualidades das
empresas, o que deixa de acontecer em casos em que a agencia reguladora torna essas
informações disponíveis ao público.
O incentivo para que uma firma alcance as metas de forma voluntária vem da
demanda verde e o marketing verde na indústria. Firmas podem agir responsavelmente
para internalizar as externalidades da poluição, respondendo à demanda por despoluição
dos consumidores. Dado que os consumidores estão informados sobre o desempenho
ambiental das firmas, haverá uma maior disposição a pagar por bens que gerem menores
níveis de poluição, incentivando sua produção. Entretanto, o fato do desempenho
ambiental em vários setores industriais pode ser visto como um indicativo de um efeito
negativo na lucratividade de bom desempenho ambiental negativo ao invés de positivo.
Se pudesse ser claramente documentado que realmente vale a pena ser verde, parece
razoável que expansões de regulações ambientais tradicionais e monitoramento seriam
desnecessários. Ao invés disso, um regulador pode atingir melhorias no desempenho
ambiental ao utilizar políticas que informam e guiam as firmas sobre o melhor
desempenho ambiental para que se aumentem os lucros. Porém, nem sempre essas
situações favoráveis à adoção de políticas de informação são possíveis, fazendo com
que seja inviável essa substituição de políticas tradicionais como meio de melhorar o
desempenho ambiental das firmas (Telle, 2006).
45
esforço para reduzir a poluição, reduzindo suas externalidades. O segundo efeito ocorre
quando a diferenciação diminui a competição, aumentando o poder de mercado das
firmas (Lombardini-Riipinen, 2005).
46
Nos modelos de diferenciação entre firmas, é usualmente assumida a hipótese da
existência de algum esquema ou política de certificação ou provisão de informação que
seja capaz de sinalizar perfeitamente aos consumidores as diferentes qualidades de
produtos. A partir daí, os efeitos das reações das firmas a diferentes incentivos são
analisados considerando que a qualidade ambiental, ou o nível de emissões das firmas,
que antes não era eficientemente sinalizado, é agora percebido pela sociedade.
49
Rodriguez-Ibeas (2007) analisa os efeitos de mudanças na percepção ambiental
dos consumidores sobre o meio ambiente. É considerado um modelo de diferenciação
vertical em um duopólio, ou seja, um mercado com duas firmas que diferem na
qualidade ambiental de seus produtos. Ambas as firmas produzem a mesma
característica física, mas apenas a firma verde oferece um atributo adicional ambiental.
A firma marrom, que não produz o atributo ambiental, polui o meio ambiente, enquanto
a firma verde, que produz esse atributo, não polui, o que faz com que seu custo de
produção seja maior do que o da firma marrom. Existem dois tipos de consumidores, os
verdes, que estão dispostos a pagar um preço adicional pelo atributo ambiental, podendo
comprar tanto bens verdes quanto marrons, dependendo da relação entre a valoração do
atributo físico e do ambiental, e os consumidores marrons, que não se importam com o
meio ambiente, comprando sempre da firma marrom, que, por ter menores custos, pode
oferecer o produto por um preço menor. Existem também consumidores que estão fora
do mercado por não estarem dispostos a pagar os preços pelos quais os bens são
ofertados.
50
há uma disputa maior pelos consumidores que estão migrando de um mercado para o
outro (Rodriguez-Ibeas, 2007).
O aumento na competição faz com que as duas empresas baixem seus preços,
fazendo com que ambas vendam uma maior quantidade de bens. Entretanto, enquanto a
diminuição do preço do bem verde faz com que o número de consumidores verdes
aumente, a diminuição do preço do bem marrom atrai tanto alguns consumidores verdes
mais sensíveis a variações de preços, como consumidores marrons que antes estavam
fora do mercado. Essa diminuição pode ser maior do que a da firma verde devido às
diferenças nos custos das empresas, e deve ser mais acentuada para poder tornar seu
produto mais atrativo a consumidores verdes, mesmo não tendo o atributo ambiental.
Esse efeito, causado pelo fortalecimento da competição, faz com a produção total da
firma marrom aumente, aumentando conseqüentemente a poluição ambiental. Porém,
esse efeito é revertido a partir do ponto em que um aumento marginal na proporção
entre consumidores verdes e marrons é suficientemente grande para diminuir a
produção da firma marrom, em que a diferenciação de produtos volta a ser mais
importante para o lucro das firmas do que a competição de preços. De uma perspectiva
de política pública, é necessário alcançar “uma massa crítica de consumidores
ambientalmente conscientes para se atingir os efeitos positivos desejados sobre o meio-
ambiente. De outro modo, o esforço para aumentar a população de consumidores
ambientalmente conscientes pode até mesmo piorar o ambiente” (Rodriguez-Ibeas,
2007).
51
quase o mercado inteiro, o que gera um aumento na poluição devido ao aumento da sua
produção total.
52
incentiva a firma de baixa qualidade a melhorar seus produtos, diminui a diferença entre
os produtos, aumentando a concorrência entre firmas (Conrad, 2005). A diminuição nos
preços dos bens verdes por meio de subsídio faz com que a quantidade de bens verdes
atinja um nível que seria desejado socialmente caso houvesse maior percepção
ambiental. Entretanto, ao invés desse efeito ser causado pelo aumento da demanda, e
assim, dos preços, ele é causado por um aumento na oferta, o que diminui os preços.
Outro trabalho sobre o assunto é o de Nadaï e Morel (2000), que relaciona custos
de inovação, produção e demanda verde para analisar os efeitos da mudança no padrão
de demanda no mercado em um mercado com várias firmas. A proporção entre o ‘peso’
desses dois fatores pode levar a diferentes equilíbrios no mercado. Se os custos de
inovação forem baixos em comparação com os custos de produção, um selo ambiental
capaz de sinalizar eficientemente a qualidade de um bem contribuirá para a geração de
inovações para a produção de bens de alta qualidade. Entretanto, sua eficácia dependerá
do ‘peso’ da demanda verde. Se ela for relevante, a possibilidades de inovação em uma
firma marrom ‘puxará’ produtos marrons para o segmento verde, resultado da
expectativa de altos lucros de produtos verdes.
53
4.3.2 Renda dos Consumidores
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utilidade dos consumidores depende do consumo de uma cesta de produtos,
representada por seu dinheiro, dado por y, e a tecnologia de despoluição da firma da
qual é comprado o bem x.
comprando uma unidade de bem x de uma firma com o nível de despoluição e que cobra
um preço p, sendo que p pode ser positivo apenas se e > 0. Seu ganho de utilidade é
dado por e, enquanto sua perda de utilidade é dada por p vezes a utilidade marginal da
renda. Desse modo, conforme o nível de renda cai, a valoração do preço p aumenta, pois
a utilidade marginal da renda é inversamente relacionada à renda. É assumido que y é
distribuído uniformemente entre [ , ], o que implica que é uniformemente
distribuído entre [ , ], em que = ( )e = ( ).
Nesse modelo, o excedente dos indivíduos varia pelo fato da utilidade marginal
da renda diferir entre eles enquanto a utilidade marginal de uma unidade extra de
despoluição é a mesma para todos. Por isso, mesmo que todos prefiram um ambiente
mais limpo, haverá diferentes disposições a pagar ente os indivíduos.
e1 = .
relação entre os preços e das tecnologia de despoluição de cada firma. Logo, cada firma
decidirá seu nível de controle de poluição e de preço que maximiza seus lucros, o que
influenciará na divisão do mercado. Caso as firmas escolham níveis tecnológicos muito
semelhantes, elas competirão diretamente pelo mesmo mercado, o que diminuirá seus
lucros.
O lucro das firmas é dado pelo preço vezes a quantidade (parcela do mercado
que cada uma atua, função de θ1) menos o custo de despoluição, que também
influenciará no valor de θ1.
1 = P1 - c(e1)
2 = P2 - c(e2)
56
Sendo assim, a decisão do nível de despoluição de cada firma que maximize seu
lucro depende do nível de despoluição escolhido pela outra firma, pois como vimos, o
A disposição a pagar marginal dos consumidores pode ser estudada como uma
função dos investimentos que gerem qualidade ambiental. O investimento pela firma de
baixa qualidade aumenta a competição de preços com a de alta qualidade, pois a
58
disposição a pagar de consumidores por bens de baixa qualidade aumentaria, havendo
assim menores ganhos marginais de se diferenciar ao investir. Similarmente, a
disposição a pagar aumentada por bens de alta qualidade aumenta os incentivos da firma
de alta qualidade de investir, mesmo que seja menos eficiente. Então, quando a
disposição a pagar depende do investimento, isso serve para aumentar os incentivos da
firma de alta qualidade de conseguir o certificado por meio de investimentos que levam
a melhorias na qualidade ambiental.
No caso oposto, em que a marrom é mais eficiente, esta, por ter um retorno
marginal maior do que a verde ao investir em qualidade, irá gerar maior competição de
preços, o que gera incentivos para a firma verde se diferenciar mais para manter uma
diferença de qualidade em relação à concorrente, melhorando a qualidade de seus
produtos além do seu ponto ótimo (Amacher et al, 2004). Essa situação leva a um
resultado agregado de melhoria na qualidade ambiental superior ao do caso anterior, em
que havia uma sub-provisão da qualidade dos produtos.
Os trabalhos de Kraup (2001) e Brau & Carraro (2001) apontam para os trade-
offs que podem ocorrer na implementação de políticas de informação voluntárias.
Segundo a literatura, existe um trade-off entre a eficácia dessas políticas e seus custos
de transação, que ocorre em casos em que o critério fixado para as firmas atingirem
impõe custos altos demais para as firmas, fazendo com que percam o interesse em
participarem voluntariamente, comprometendo a eficiência econômica da política, e
assim, sua principal atratividade, a de ser um instrumento flexível e pouco custoso.
61
O artigo analisa a escolha de um governo entre adotar um selo ambiental ou um
padrão mínimo ambiental em um modelo com duas firmas, uma doméstica e outra
estrangeira. As duas políticas atuam como diferenciadores de qualidade de produtos
para consumidores, entretanto, o padrão mínimo é aplicável apenas para a firma
doméstica, enquanto o selo pode ser adotado por ambas. O artigo esclarece alguns dos
possíveis efeitos da adoção de um selo ambiental no comércio entre países, como seus
efeitos na concorrência entre firmas de diferentes países e o resultado de bem estar para
um país envolvido nessa situação.
Os resultados mostram que pode ser ótimo para o governo introduzir um selo
ambiental e ter as duas firmas participando ao invés de impor um padrão ambiental
mínimo apenas para a firma doméstica. Em particular, caso o aumento da disposição a
pagar por produtos verdes seja maior do que o aumento nos custos de redução de
poluição, o lucro da firma estrangeira irá aumentar, enquanto o da firma doméstica
tende a ser menor se comparado a situação com a adoção do padrão mínimo. Por outro
lado, se a disposição a pagar por produtos verdes for insuficiente para cobrir os custos
de redução de poluição, a firma estrangeira estará melhor no caso da introdução do
padrão mínimo sobre a firma doméstica.
62
A imposição de padrões para importações vindas de firmas estrangeiras pode
gerar custos políticos e conflitos na área de comercio internacional por apresentar
características protecionistas, porém, de forma menos obvia que a utilização de
impostos ou a proibição de determinadas importações. Um selo ambiental voluntário se
mostra menos problemático nesse aspecto por dar oportunidade de ambas as firmas
terem a possibilidade de obter-lo e competir igualmente.
A política de selo ambiental pode ser fortemente prejudicada caso o selo deixe
de cumprir sua função primordial: diferenciar produtos e firmas. Isso ocorre em casos
em que não há credibilidade sobre a real qualidade dos produtos selados, em que existe
incerteza por parte dos consumidores sobre a ‘pureza’ do mercado verde. A pureza,
proporção de produtos realmente verdes em relação a todos os bens comercializados no
mercado verde, inclusive marrons, define a qualidade dos sinais passados aos
consumidores sobre a qualidade dos bens que estão à venda. Quanto menor for o grau
de pureza, maior é a chance de um consumidor comprar um bem marrom pensando que
se trata de um bem verde. Isso ocorre devido a característica de bem de crença em que o
selo geralmente atua, pois o consumidor não tem como observar a real qualidade do
bem que adquire, podendo apenas observar o sinal passado pelo selo. Quanto melhor for
a qualidade e confiabilidade dessa informação, melhor o mercado irá funcionar, e
melhor os preços refletirão as reais qualidades dos bens, tanto verdes quanto marrons.
63
não fraudar, e a reputação se torna um meio ineficiente de se promover a honestidade”
(Stiglitz, 1989).
64
competitivos que se refletem na produção e nos preços. Em mercados com fraude,
entretanto, essas políticas, ao desconcentrarem a indústria, geram efeitos indesejados,
diminuindo a pureza e a produção no mercado verde, produzindo efeitos anti-
competitivos.
Se o número de firmas for grande, o que pode gerar incentivos para um mercado
impuro, pode-se optar pela adoção de taxas de certificação, o que aumenta os custos de
‘disfarce’ de produto, e faz com que o lucro esperado de se conseguir um certificado
diminua. Por outro lado, o custo positivo da certificação, por diminuir a incidência de
fraude, aumenta o lucro das firmas verdes, pois estas podem receber o preço prêmio
dado a um bem verde em um mercado puro. Por tanto, uma taxa de certificação
ambiental pode prover incentivos para a procura voluntária certificação. Por outro lado,
políticas de impostos sobre marrons ou subsídios a verdes, que tentam incentivar a
mudança no padrão tecnológico da indústria, leva a um aumento da incidência de
fraude, pois aumenta os ganhos esperados de firmas marrons atuarem como verdes, pois
assim poderão deixar de pagar impostos, ou passar a ganhar subsídios de forma
indevida (Hamilton e Zilberman, 2006).
Outro artigo que trata sobre o tema é o de Mason (2006), que relaciona os custos
e a incerteza da certificação com o comportamento das firmas na busca pelo selo
ambiental e na escolha de tecnologia. É utilizado um modelo de selo ambiental baseado
na premissa de que é inviável para a agência certificadora identificar com precisão a real
postura ambiental de uma firma. É assumido que podem ocorrer tanto erros de tipo I
como de tipo II em um teste de certificação: Algumas firmas ‘verdes’ podem falhar no
teste e, por sua vez, algumas firmas ‘marrons’ podem passar no teste. Desse modo,
relacionam-se os custos e a incerteza da certificação com o comportamento das firmas
na busca pelo selo ambiental e na escolha de tecnologia. A observação feita pelo autor é
de que os preços e as quantidades de equilíbrio, tanto da produção ‘verde’ quanto da
‘marrom’, não levam em consideração as externalidades dessa produção, principalmente
a dos itens ‘marrons’, mais poluentes. O equilíbrio no modelo é dado apenas pela
interação entre a curva de custos das firmas e a curva de demanda dos consumidores.
66
CAPÍTULO V – O PAPEL DO GOVERNO
Nesses casos, o governo, por ser uma instituição com poder de coação sobre os
indivíduos, pode ser mais eficiente em prover e regular alguns tipos de bens em casos
em que o mercado falha em fazê-lo eficientemente, os bens públicos. Neste caso, as
externalidades que atuam sobre estes afetam a sociedade como um todo, o que pode
justificar a ação de um órgão regulador público com o objetivo de maximizar o bem-
estar social. Ao formular políticas ambientais, como padrões ambientais, impostos ou
certificação de produtos, o regulador procura minimizar os problemas de incentivo,
vindos, por exemplo, da presença de informação assimétrica, de externalidades e do
problema de free-rider, buscando gerar benefícios tanto aos participantes do mercado
verde, ao aumentar sua eficiência, quanto àqueles afetados pelas externalidades
causadas por ele.
Assim como existem casos em que os agentes privados não são eficientes para
superar falhas de mercado, o governo também pode se mostrar ineficiente em
intervenções no mercado. A burocracia, corrupção e outras formas de rigidez e
ineficiência do governo podem representar custos de transação altos, sendo discutível se
sua atuação pode gerar mais custos do que benefícios sociais. O governo deve
minimizar a relação entre a eficácia da política ambiental e seus custos de transação.
Essa relação aparece quando a demanda institucional para se atingir o nível de eficácia
67
desejado pode impor custos de transação que comprometam a eficiência econômica das
políticas de informação, e assim, sua principal atratividade, a de ser um instrumento
flexível e pouco custoso (Krarup, 2001).
Por exemplo, o governo poderia fazer uma política pública com a finalidade de
desenvolver e fazer com que o mercado funcione mais eficientemente. Entretanto, isto
pode ter um efeito não desejado sobre uma política pública ambiental, assim como o
oposto pode ocorrer, em que uma política pública ambiental pode gerar efeitos
indesejados sobre o funcionamento do mercado. Além disso, devem ser considerados os
efeitos redistributivos que uma ação governamental irá certamente causar. Mesmo no
caso de uma ação como a provisão de informação, podem existir dilemas sobre como as
diversas abordagens podem influenciar na distribuição de bem-estar na sociedade.
68
Existem diversas análises sobre o papel do governo em relação às políticas de
provisão de informação e certificação ambiental. Segundo Stephen (2002), existe uma
relação entre provisão de informação e ação coletiva do governo. O governo, ao usar o
poder coercivo do Estado, é capaz de coletar informações que outras organizações
considerariam custosas demais ou seriam restritas por meios legais, e agir como
facilitador de negociações entre agentes sociais. Por esse motivo, informações
referentes ao desempenho ambiental das empresas, que afetam bens públicos como o
meio ambiente, também são consideradas bens públicos.
A dispersão dos custos de coleta entre a população por meio da ação do governo
torna viável a divulgação pública dos efeitos negativos causados pela produção e
consumo de bens e serviços, ajudando assim a diminuir a assimetria de informação entre
os agentes econômicos. Por isso, uma das principais funções do formulador de políticas
públicas é o de prover uma estrutura eficiente de fluxo de informação de qualidade para
minimizar o problema de informação assimétrica entre firmas e consumidores.
69
A formação de políticas públicas depende, entre outros fatores, da percepção do
governo sobre as preferências coletivas. Uma maneira tradicional de um indivíduo
tentar sinalizar algumas de suas preferências é pelo meio do voto, em que se pode
escolher algum representante que melhor se identifica com seus interesses, revelando
assim algumas de suas preferências. Por outro lado, o padrão de consumo de um
indivíduo pode dizer muito sobre suas preferências, que são sinalizadas por meio do
mercado.
71
gera efeitos diretos para o sucesso de políticas de redução de emissões e de melhorias na
qualidade ambiental.
72
Do ponto de vista de políticas públicas, uma meta dos selos ambientais é educar
consumidores sobre os impactos ambientais da produção, uso e descarte de produtos,
levando a uma mudança no padrão de consumo e, finalmente, a redução nos impactos
negativos gerados pelo consumo. Para que selos ambientais possam atingir os objetivos
da política, consumidores devem possuir preferências por melhorias ambientais e
responder à informação contida no selo, mudando seu consumo para produtos
certificados. (Teisl et al, 2002).
73
continuarem com a prática que gerava a morte de golfinhos. Porém, isto ocorrerá apenas
se o consumidor valorar positivamente a qualidade do meio ambiente.
74
Em um regime em que um padrão mínimo é imposto pela agência reguladora,
cada firma tem o incentivo de alcançar esse padrão fazendo o mínimo de esforço de
despoluição, ou seja, atingindo apenas o padrão demandado pelo regulador. Entretanto,
essa hipótese não leva em consideração os efeitos da publicidade e dos sinais passados
para os consumidores e investidores pelos diferentes níveis de poluição de cada firma. A
segmentação do mercado como maneira das firmas maximizarem seus lucros por meio
do seu poder de mercado, como visto anteriormente no modelo de Arora e
Gangopadhayay (1995), mostra que a adoção de um padrão ambiental pode fazer com
que algumas firmas atinjam voluntariamente níveis de despoluição além da meta
estabelecida pelo regulador.
Como mostrado no gráfico acima, caso a firma 2, mais poluidora, seja obrigada
a aumentar seu nível de despoluição, a firma 1 irá, voluntariamente, reagir a essa
mudança como maneira de manter uma diferenciação de mercado consumidor que
maximize seus lucros, dado o nível exigido sobre a firma 2.
75
Os consumidores e investidores podem valorar a empresa ou o bem que ela
produz segundo seu desempenho ambiental por diversos motivos, já apresentados no
capítulo 2. Isso pode fazer com que, além de alcançar os padrões estabelecidos, que não
deixam de ser importantes para que se atinja o nível ambiental mínimo desejado, as
firmas tenham incentivos para se diferenciarem devido às diferentes disposições a pagar
pela empresa ou pelos seus produtos e serviços, fazendo com que as metas ambientais
sejam superadas voluntariamente pelas firmas.
A análise sugere que, mesmo que úteis, as políticas de informação não podem
necessariamente ser utilizadas no lugar de políticas tradicionais na área de proteção
ambiental. Na verdade, as duas políticas apresentam melhores resultados para melhorar
o desempenho ambiental das firmas quando utilizadas uma em conjunto com a outra
(Foulon et al, 2002). Atuar em várias frentes, financeira, judicial e de reputação,
aumenta a chance das empresas adotarem ações mais concretas.
76
5.2.1.2 Adoção de tributos e subsídios
O tributo ad valorem tem dois efeitos opostos sobre o bem-estar social. Por um
lado ele reduz a diferença de qualidade entre as firmas, pois ele diminui a diferença
entre os preços do produto marrom e verde, aumentando a competição e, por outro, ele
reduz o nível de qualidade no equilíbrio, pois a firma verde não terá incentivos para
manter o mesmo nível de diferenciação, pois a competição ocorrerá mais em preços do
que na qualidade, aumentando assim as externalidades da poluição.
O tributo sobre emissões, no modelo, não influi nos lucros das empresas, pois
ele é repassado para os consumidores, enquanto a demanda não é afetada por ele. A taxa
ótima sobre emissões deve ser maior do que o dano marginal da externalidade de
poluição, pois, além de ter de corrigir os danos causados pela poluição, a taxa sobre
78
emissões deve contrabalancear o impacto negativo do imposto ad valorem, que reduz o
nível de qualidade das firmas no equilíbrio (Lombardini-Riipinen, 2005).
Nas figuras abaixo, são mostradas duas possibilidades para se alcançar um nível
menor de produção de um bem. X1 é um bem marrom, X2 um bem verde, e a curva de
indiferença do consumidor é originalmente U’. Caso os consumidores mudem suas
preferências para Uv, por exemplo, como reflexo de uma campanha de conscientização,
a quantidade demandada cairá de X’ para X*. Por outro lado, caso isso não ocorra, e o
governo estiver interessado em diminuir a produção de x1 por esta ser geradora de
externalidades negativas, este poderá aplicar um tributo sobre esse produto, que, por
elevar os custos, faz com que sua quantidade demandada diminua. Por sua vez, a curva
de indiferença do consumidor irá se deslocar de U’ para U#.
81
minimizar a ocorrência de custos indiretos que podem comprometer a eficiência da
política e o bem-estar social.
82
O fator limitante mais claro para o desenvolvimento do mercado verde em países
em desenvolvimento é a renda. A renda está diretamente relacionada com a disposição a
pagar por qualidade ambiental, que na maioria das vezes não tem uma utilidade
marginal para essas populações tão alta como, por exemplo, alimentação. Como
apontado por Arora e Gangopadhayay (1995), uma baixa disposição a pagar por
qualidade ambiental não permite que as firmas repassem aos consumidores seus gastos
com diminuição da poluição. Desse modo, mesmo a firma de alta qualidade não terá
tantos incentivos para despoluir como no caso de haver uma forte demanda verde, pois a
qualidade dos bens marrons produzidos tende a ser muito baixa, o que prejudica os
incentivos para que a firma de alta qualidade aumente seus esforços para reduzir
emissões e manter o nível de diferenciação entre firmas. Como o segmento do mercado
de consumidores pobres é muito maior que o de consumidores ricos, a produção será
voltada principalmente para os consumidores com maior utilidade marginal da renda, os
mais pobres, que apresentam menos excedente do consumidor para bens ambientais.
Outro problema que pode atingir países pobres é a falta de percepção ambiental
da população. Nesse caso, campanhas de educação e conscientização têm um papel
crucial, tentando expor e demonstrar os efeitos negativos indiretos causados pela
poluição gerada pela produção e consumo de bens e serviços. A percepção ambiental
afeta diretamente o quanto das externalidades serão internalizadas pelos consumidores.
Quanto menor for a importância dada ao meio ambiente relativamente aos demais bens
de consumo, pior será a qualidade ambiental esperada. Por isso, como para populações
com um padrão de consumo baixo é natural que uma qualidade alta do meio ambiente
não seja essencial, é esperado que essa qualidade não seja igual à de uma com maior
renda. Entretanto, esse fato não isenta o governo da responsabilidade de esclarecer a
importância e os impactos de mudanças no meio ambiente para a população.
83
golfinhos na pesca de atum para ser bem sucedido. Sem essa conscientização, os
consumidores seriam incapazes de utilizar a informação contida nos selos.
Caso não seja possível atingir um público alvo de menor renda com divulgação
de informações devido a problemas de eficiência na assimilação do conteúdo
transmitido, o que leva a uma incapacidade de internalizar completamente as
externalidades do consumo dessa população, o governo pode fazer uso de outras
políticas ambientais, como por exemplo, adoção de tarifas ou padrões ambientais,
citadas anteriormente, como modo de minimizar os efeitos adversos das externalidades
produzidas pelo consumo de produtos e serviços. Dessa maneira, uma política de
provisão de informação nem sempre seria capaz de agir de maneira totalmente eficaz
pelo fato da população não considerar integralmente em sua tomada de decisão fatores
que afetam seu bem-estar. Nesse caso, essa política atuaria como um complemento das
demais políticas ambientais tradicionais necessárias para se minimizar os efeitos
indesejáveis da produção e do consumo da sociedade.
84
capaz de assegurar a credibilidade de, por exemplo, um selo ambiental devido à
existência de fraudes, este não será capaz de atuar como um facilitador de trocas.
85
VI - CONCLUSÃO
86
do governo para se perseguir níveis mais adequados de emissões conforme o desejo da
sociedade.
87
REFERÊNCIAS
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mechanism’ The Quarterly Journal of Economics, 1970.
COASE, R. ‘The problem of social cost’. The Journal of Law and Economics, 1960.
88
COLE, A. HARRIS, J. ‘Rising interest in credence qualities in agricultural products and
the role for government’. 49°Australian Agricultural Economics Society Conference,
2005.
FERRARO, Paul. UCHIDA, Toshihiro. CONRAD, Jon. ‘Price Premiums for Eco-
friendly Commodities: Are ‘Green’ Markets the Best Way to Protect Endangered
Ecosystems?’. Environmental & Resource Economics, Vol 32, 2005.
89
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Economically Efficient?’ CAVA – Concerted Action on Voluntary Approaches.
International Policy Workshop on the Use of Voluntary Approaches. 2001.
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STERNER, Thomas. Property, Legal Instruments & Information. in: Policy
Instruments for Environment and Natural Resource Management, Capítulo 10.
University Presses Marketing, 2003a.
TEISL, Mario. ROE, Brain. HICKS, Robert. ‘Can Eco-Labels Tune a Market? Evidence
from Dolphin-Safe Labeling’. Journal of Environmental Economics and
Management, Vol 43, 2002.
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