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Resenha: RIBEIRO, MARIA ALEXINA E LOPES, VERA LÚCIA DIAS.

(2004): O
sintoma e sua função no sistema familiar de acordo com a perspectiva
sistêmica. Texto Didático, nº 7, 59-70.

Vera Lúcia Dias Lopes é Psicóloga, Terapeuta Conjugal e Familiar, Mestre


em Psicologia.
Maria Alexina Ribeiro é Psicóloga, Terapeuta Conjugal e Familiar, Doutora
em Psicologia Clínica, Professora da Universidade Católica de Brasília – UCB.

O presente artigo, objeto desta resenha crítica, tem por objetivo apresentar
as principais idéias de pensamento sistêmico no entendimento dos sintomas.
Entende-se por pensamento sistêmico, aquele em que o estudo dos
sintomas ou doença mental está atrelada à idéia da causalidade circular onde
cada elemento é, ao mesmo tempo, causa e efeito, isto é, não está ligada aos
elementos, mas está no próprio círculo.
Em oposição ao pensamento sistêmico, oriundo da revolução
epistemológica advinda da Teoria Geral dos Sistemas e da Cibernética, há o
pensamento linear que busca dar aos sintomas, ou doença mental, explicações
psicopatológicas baseadas em modelos lineares, isto é, se um indivíduo está
doente, o problema está nele e para solucioná-lo, devemos estudar os eventos
anteriores que lhe causaram, no presente, os sintomas atuais.
Haja vista esta mudança de enfoque, do linear para o circular, surgiu uma
nova onda de pensadores e terapeutas, sendo objeto do artigo, ora resenhado,
descrever, de forma sucinta, as principais idéias do pensamento sistêmico para o
entendimento dos sintomas.
A autora cita: - Ackerman (1986) que fala de famílias enfermas e níveis de
adaptação; - Pichon-Rivière (1994) que descreve a doença mental não como
doença de um sujeito; - Gregory Bateson que introduz alguns conceitos da
cibernética e fala de duplo vínculo; - Virgília Satir que trata de diferenciação e
triangulação; - Wyne, que a partir de trabalhos com esquizofrênicos, trata da
mutualidade, pseudo-mutualidade e não-mutualidade; - Minuchin que introduz o
tema de estrutura ou da regularidade padronizada onde a família pode ser
dividida em subsistemas. Para Minuchin, o sintoma, é o modo como os membros
da família se posicionam em relação ao “doente” e a estrutura é mudada por meio
de feedback positivo; - Bergman (1986) que aborda os sintomas leve, grandes e o
conflito matrimonial e que o ciclo de vida familiar se desenvolve ao longo dos
tempos, seguindo estágios do ciclo de vida; - Carneiro (1992), baseia-se em
todos esses conceitos descritos acima e assim estabelece categorias de saude
mental e de doença; - finalmente, fala de uma abordagem mais recente chamada
de construcionismo social: onde desempenha um papel significativo o observador
e que a família reage ampliando o seu contexto familiar.

É notória a preocupação de estudiosos com a temática dos sintomas e da


doença mental que antes, na abordagem linear, era visto apenas como o
problema do indivíduo, somente dele, como que se ele, indivíduo, fosse
defeituoso ou possuisse um problema que o desviava da normalidade.
Na visão sistêmica apresentada em suas diversas correntes de
pensamentos por diversos estudiosos que desenvolveram e e estão procurando
provar suas idéias, o problema já não é somente do indivíduo, mas o indivíduo faz
parte de um contexto que precisa ser compreendido para melhor ser analizado e
assim, poder-se buscar a melhoria daquele que foi vitimado com o sintoma, que
costumeiramente é chamado de PI (Paciente Identificado).
Não há dúvidas de que as autoras são as que, no âmbito e mundo
científico, são referenciais no assunto e em seus trabalhos como terapeutas
familiar tem ajudado muitos dos que tem tais problemas.
No entanto, quero destacar que ainda o homem está apenas começando o
estudo e buscando entender um pouco mais sobre a sua própria natureza e
essência. Já são passados mais de 6.000 anos de civilização e somente agora,
isto é, a partir do século XIX é que se começou a ter um relativo progresso no
campo do estudo e da pesquisa. Na compreensão das doenças mentais e dos
sintomas, estamos muito insipientes. É também de se lamentar que nas
abordagens e estudos buscando entender o homem e as doenças mentais, o
homem tem desprezado o fato de que ele foi criado e não somente isso, mas foi
criado à imagem e à semelhança de seu próprio Criador.
Enquanto o conhecimento científico desprezar a teoria criacionista em favor
da evolucionista, o assunto não poderá ganhar maior agilidade. O homem é um
ser relacional e não somente se relaciona com os da sua própria espécie, mas
também com Deus.
Assim, o homem conhece muito pouco de si mesmo. Na verdade, é capaz
de construir e projetar coisas complexas, ir ao espaço, pousar na lua, construir
edificações gigantescas e desenvolver tecnologias avançadas, mas entende
muito pouco de si mesmo. Quem sabe nos próximos milênios venhamos a nos
desenvolver a ponto de, inclusive, evitarmos tais males.
Não tiro o mérito de quem estuda, nem deixo de reconhecer os avanços
conquistados, não desqualifico os esforços de quem procura estudar e
compreender os problemas mentais, nem substimo a nossa capacidade
intelectual de solucionar problemas, mas me levanto contra o preconceito de nem
ao menos se considerar o fato de que este homem, alvo desses estudos, pode ter
sido criado e isso, na condução dos estudos e na adoção das abordagens, quer
linear, quer circular, faz grande e tremenda diferença.

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