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Mestrado em Saúde e Sociedade

Instituto das Ciências Sociais


Universidade do Minho

Acidente Vascular Cerebral e a sua Reabilitação

Trabalho realizado pelas alunas: Ana Garcia Pg: 11309


Ângela Oliveira Pg: 10930
Nancy Pereira Pg: 11131
Índice
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 3
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL..................................................................................................... 4
DEFICIÊNCIA.............................................................................................................................................. 7
REABILITAÇÃO ........................................................................................................................................... 9
CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 11
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................................... 12

2
Introdução

O tema do nosso trabalho, no âmbito da disciplina Sociologia da Deficiência e


Reabilitação, é Acidente Vascular Cerebral (AVC) e a sua Reabilitação. Por tal para
podermos mostrar que tipo de sequelas pode causar um AVC, em primeiro lugar,
começaremos por definir, então, Acidente Vascular Cerebral, bem como as suas causas
e, em jeito, de informação, mostraremos algum tipo de prevenção. Posto isto,
prosseguiremos com a identificação das limitações ou “deficiências”, onde é pertinente
desenvolver aqui o conceito de deficiência, assim como as limitações sociais, pessoais e
profissionais que esta acarreta. Finalmente, concluiremos o trabalho com o tipo de
reabilitação que lhe está associada assim como a inclusão destes, quer na sociedade quer
a nível profissional, evidenciando os travões que estas pessoas encontram depois de
sofrerem um AVC.

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Acidente Vascular Cerebral

O Acidente Vascular Cerebral dá-se quando ocorre um défice neurológico focal,


que resulta numa interrupção na circulação cerebral ou numa ruptura do vaso
sanguíneo. A interrupção da corrente sanguínea priva o cérebro de nutrientes e
oxigénio, provocando uma lesão das células na zona do cérebro afectada.
Existem dois tipos de AVC’s, os Isquémicos e os Hemorrágicos. O isquémico dá-
se quando ocorre um bloqueio nos vasos que conduzem a irrigação sanguínea ao
cérebro e os hemorrágicos ocorrem quando há uma ruptura de um vaso
provocando uma hemorragia cerebral.
Segundo um estudo apresentado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia
(FPC), em 2007, o AVC afectava 3 pessoas por hora, 54 pessoas por dia e 20 mil
por ano. A estatística aponta que 13 em cada 100 homens e 8 para 100 mulheres,
com idades até aos 54 anos sofrerão AVC nos próximos 10 anos.1 Os sintomas
que mais identificam a ocorrência de um AVC são a dificuldade em pronunciar
palavras bem como a sua articulação com o pensamento; a boca torta e a falta
de força em levantar um braço ou mexer metade do corpo. Quando estes
sintomas surgem é necessário ligar para o 112, solicitando a Via Verde do AVC.
Mesmo que estes sintomas durem apenas alguns minutos, é conveniente
encaminhar o doente para o serviço de urgência, uma vez que pode tratar-se de
um Acidente Isquémico Transitório (AIT – que é considerado um pequeno AVC
isquémico porque tem as mesmas características que este mas dura apenas alguns
minutos ou horas, desaparecendo em menos de 24 horas) provocando,
provavelmente, sequelas graves. Em Portugal, os AVC’s são a primeira causa de
morte. Os agentes que podem desencadear um AVC são a hipertensão arterial, o
colesterol, o tabagismo, doenças cardíacas, consumo excessivo de álcool,
diabetes, obesidade o sexo e a idade.
Os aspectos que mais influenciam o risco de sofrer um AVC são os factores não
modificáveis, como:

1
Este estudo envolveu mais de 70 centros de saúde e cerca de 9 mil pessoas.

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Idade
Os efeitos cumulativos do envelhecimento, associados ao carácter progressivo e
aumento do número de factores de risco com a idade acrescem substancialmente
o risco de enfarte e hemorragia cerebral. Estima-se que em cada 10 anos depois
dos 55 anos, o risco de AVC duplique.
Sexo
Em geral os homens apresentam maior incidência de AVC do que as mulheres,
para a mesma idade. Entre os 35 e os 44 anos as mulheres têm maior incidência
de AVC, provavelmente relacionada com a gravidez e o uso de contraceptivos
orais.
Raça.
Existe uma maior incidência de AVC na raça negra3 e nos hispano-americanos4.
São difíceis de diferenciar factores como a maior prevalência de hipertensão,
obesidade, diabetes e diferenças no acesso aos cuidados, medicação e educação
para a saúde.
Hipertensão
A hipertensão é um dos principais factores de risco de AVC, especialmente em
associação com a aterosclerose. O aperfeiçoamento do diagnóstico e do
tratamento da hipertensão veio reduzir a incidência e a mortalidade por AVC,
nas últimas décadas.
Origem geográfica.
A população portuguesa em geral apresenta uma maior incidência de AVC do
que algumas populações europeias.1,6 É possível que a diferença de incidência de
AVC entre populações não seja totalmente explicada pela prevalência de factores
de risco vascular importantes como a hipertensão, diabetes, dislipidemia,
tabagismo, fibrilhação auricular e acidente isquémico transitório.
Baixo peso ao nascer.
O risco de AVC antes dos 50 anos de idade é duas vezes superior nas pessoas
com peso à nascença inferior a 2500 g.
Factores genéticos
A existência de história familiar nos pais e irmãos está associada a um maior risco
de AVC. Isto pode acontecer pela transmissão mendeliana (único gene) de

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doenças hereditárias raras ou pela transmissão de factores poligénicos como a
facilidade de desenvolver determinados factores de risco vascular (e.g.
hipertensão, diabetes, dislipidemia) ou a susceptibilidade aos seus efeitos.
Doenças monogénicas associadas a AVC afectam sobretudo pessoas mais novas,
são raras, associam-se a um risco muito elevado de AVC e têm diagnóstico
molecular.
É uma sociopatia, ou seja, são doenças desencadeadas pelos comportamentos e
pelos estilos de vida. Queremos com isto dizer que a prevenção desta doença
passa por bons comportamentos tais como uma alimentação equilibrada aliada à
abstinência do tabaco e ao controlo do álcool ingerido. Se conseguirmos ou
adoptarmos estilos de vida saudáveis temos uma menor probabilidade de sofrer
esta doença. Ela está mais ligada aos homens porque, à partida, são, eles, os
maiores consumidores de álcool e tabaco, em simultâneo. No entanto, a nossa
conclusão é que, provavelmente, daqui a uns anos esta situação se repita nas das
mulheres porque, curiosamente, cada vez mais, elas fumam e bebem e ainda por
cima, ao mesmo tempo tomam comprimidos anticonceptivos. O que pode, na
nossa opinião, alterar a sociedade de certa forma.
Posto isto, os AVC’s podem provocar a morte (o que, em Portugal, ocorre com
grande incidência); a paralisia; afectar o raciocínio; a fala; a dependência das
pessoas; as emoções e proibi-las, então, de ter uma vida social e profissional
normal. Originando, em muitos casos, a perda de trabalho que pode provocar,
para o indivíduo afectado, a sua morte social, uma vez que no seu pensamento
ocorre-lhes a ideia de que não são úteis e já não fazem parte do contexto social.
Como refere Bourdieu2para os indivíduos que estão privados da vida social, o
tempo livre é, para eles, um tempo morto. Assim, o processo da reabilitação do
AVC pode ser mais ou menos longo, dependendo das características da própria
doença, da região que foi afectada e do apoio que o doente tiver quer seja a
nível da família, quer seja a nível da reabilitação física ou psicológica. O primeiro
nível de reabilitação deve começar logo no hospital. Depois reabilitação faz-se
através da fisioterapia cujo objectivo é voltar a ensinar, ao paciente com AVC, as
capacidades motoras como andar, sentar, estar de pé, deitar e também o
2
Prefácio de Pierre Bourdieu, em 1981, numa obra de Lazzarsfeld, sobre um estudo da morte social em
relação ao desemprego.

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processo de mudar várias vezes o tipo de movimento. A terapia ocupacional é
muito importante porque tem como objectivo ajudar o paciente a ficar semi ou
completamente independente. Mas, a reabilitação é possível e com mais êxito
graças à enorme capacidade que o cérebro tem de aprender e mudar. Hoje em
dia, sabe-se que as células de outras partes do cérebro, que não foram afectadas
pela doença, podem assumir determinadas funções realizadas pelas partes do
cérebro afectadas. Este fenómeno chama-se Neuroplasticidade. Pois o doente que
sofreu um AVC não pode ficar preso numa cama ou numa cadeira, mas deve ser
estimulado para a reintegração na vida familiar, social e profissional, mesmo que
esteja limitado. Estas “tribos” (como designa Maffesoli), enquanto possuidores de
uma ética grupal devem estar atentas e possibilitar a reabilitação destes doentes.
Ainda que para isso seja preciso adaptarem alguns comportamentos e disposições
estruturais que, de certa forma, possibilitem o tratamento e a integração. Pode,
em muitos casos, ser necessário adaptar a casa de banho, comprar camisas de
molas em vez de botões, bem como sapatilhas de velcro para estimular o doente
a concretizar, pouco a pouco, pequenas tarefas.
Um dos aspectos fundamentais é informar o doente das suas incapacidades,
deficiências e ajudá-lo a adaptar-se, favorecendo a sua recuperação funcional,
motora e neuropsicológica a fim de promover a sua auto-estima e integração.
Surge aqui o conceito de Deficiência.

Deficiência

A Organização Mundial de Saúde revela que “no domínio da saúde, deficiência


representa qualquer perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica,
fisiológica ou anatómica” (OMS, 1980). A deficiência pode situar-se a nível físico,
mental ou motora, mas sempre implicando um indivíduo. Ela pode ser fruto de
acidentes de viação, do envelhecimento, da idade ou proveniente de doenças,
como por exemplo o AVC. Não tem que nascer necessariamente connosco. “A
percentagem de pessoas deficientes, em idade activa, em situação de desemprego
é muito superior à das restantes pessoas (cerca de 2 a 3 vezes mais)”. Pois para

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elas é muito difícil conseguirem trabalho devido às ideias pré-concebidas que
existem, de que eles não são produtivos e, até mesmo, incapazes. Porém, nota-se
um bloqueio maior aos deficientes mentais, tal como nas mulheres. Grande
contributo para que se desencadeie esta situação de difícil acesso aos deficientes
para com o mundo de trabalho deve-se pela insuficiência dos meios de
reabilitação e pelas dificuldades criadas pelas próprias infra-estruturas
arquitectónicas, tal como, o facto de nos prédios não haver rampas para cadeiras
de rodas, ou rampas muito acentuadas. Só a partir de 1981, graças ao Ano
Internacional do Deficiente da ONU (Organização das Nações Unidas), é que se
procura encarar de frente a deficiência tal como todos os problemas que ela
acarreta e vai surgir um interesse em lutar pelos direitos destas pessoas,
baseando-se na Declaração dos Direitos do Homem. Onde no artigo 1º refere
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados
de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade”, no artigo 5º “ninguém será submetido a tortura nem a penas ou
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes” e no artigo 7º “todos são iguais
perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm
direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação”.3 Assim, são
definidas estratégias para integrar estes indivíduos portadores de deficiência na
vida social, cultural e profissional, porque, até então, a deficiência era alvo de
crítica e submissa de escuridão, uma vez que eram escondidos e postos à parte da
sociedade. Pois não eram considerados normais, pelo contrário, eram aberrações
da natureza. Grande exemplo disso é o que nos revela o filme O Homem
Elefante. Eram ainda considerados crianças e uma das características que o prova
é a forma como os tratamos – utilizando o diminutivo no nome, por exemplo,
chamar a um homem deficiente com 50 anos de Joãozinho. Para integrar estas
pessoas, são criados programas de formação e apoio ao emprego, a integração
nos meios escolares (mesmo que ainda hoje sejam muito limitados e deficientes),
comunicação e igualdade de oportunidades, cujos objectivos principais visavam
melhorar as condições de acesso ao mercado de trabalho, garantir maior

3
Declaração Universal dos Direitos do Homem

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competitividade e a adaptação das infra-estruturas organizacionais de formação
profissional. Todas estas medidas contaram com o apoio de vários fundos
europeus. É notória a preocupação crescente face à deficiência por parte de
políticos, organizações e mesmo a nível da solidariedade social dos indivíduos,
que se traduzem no aumento dos direitos sociais, na formação e no emprego.
Mas, apesar destas iniciativas todas e de boas intenções nem tudo foi cumprido
com muito rigor porque houve, de facto, um investimento elevado a nível
económico, mas um fraco investimento a nível das relações sociais, a falta de
informação estatística sobre os impactos que estas medidas podiam ou não
causar na melhoria das condições e da qualidade de vida destes sujeitos, houve
pouco intercâmbio do conhecimento sobre a matéria e da utilização de boas
práticas desenvolvidas no espaço europeu com base em medidas e programas
comunitários. No entanto, convém sempre lembrar que uma das formas para
que, o processo de inclusão social de pessoas com deficiência no mercado de
trabalho aconteça é por meio da educação e reabilitação. “A integração é um
processo dinâmico de participação das pessoas num contexto relacional,
legitimando a sua interacção nos grupos sociais. A integração implica
reciprocidade. E, sob o enfoque escolar é um processo gradual e dinâmico que
pode tomar distintas formas, de acordo com as necessidades e habilidades do
aluno.”4 É neste sentido que a reabilitação é muito importante para que o
indivíduo possa sentir-se útil à sociedade.

Reabilitação

Para que o indivíduo integrar a sociedade, tem que passar por uma reabilitação.
Em ralação à doença estudada, o AVC, os primeiros três a seis meses são os mais
importantes no processo de readaptação. Uma vez que a maioria dos
movimentos voluntários recuperam-se nos primeiros seis meses. E a linguagem, o
equilíbrio e capacidades funcionais podem continuar a melhorar até aos dois
anos. As consequências desta doença não envolvem apenas o indivíduo afectado

4
Política nacional de Educação Especial; 1994, MEC. P. 18

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mas também a sua família e os que mantém um contacto próximo com ele. Daí a
importância do programa de reabilitação. Este é, principalmente, importante
para o doente mas também e, na medida do possível, para as pessoas que o
rodeiam. Assim, este será concretizado gradualmente, tendo como primordial o
renascer das actividades físicas. Estas serão de certa forma condicionadas pelo
grau que o indivíduo foi afectado, podendo, mesmo, ser necessário adaptar os
pratos ou os copos a fim de o estimular a comer e beber sozinho (com pratos
seguros por um suporte para facilitar o acesso à comida, ou o copo possuir uma
tampa). Depois seguem-se os níveis de auto estima para que o doente se sinta
capaz de se pentear, escovar os dentes, lavar o rosto e, finalmente, lavar-se. E
para motivar o doente no tratamento e na interacção social a enfrentar o novo
modo de vida, incentivá-lo a fazer compras servir-se dos transportes públicos, a
gerir dinheiro, entre outros. Não devemos deixar nem fazê-los sentirem-se
“coitadinhos” para evitar a morte social. Claro que todos estes avanços surgem
da luta e do empenho do doente. A força dele é a principal causa do êxito dos
programas de reabilitação. O doente deve ser acompanhado por profissionais de
saúde e saúde psicológica que o permitam encarar e aceitar da melhor forma a
sua condição, a fim de nele serem estimuladas práticas físicas e sociais como
contributo, também, para a sua integração na sociedade e vida profissional. Em,
Portugal ainda é muito difícil integrar profissionalmente uma pessoa deficiente
porque o medo do fracasso e da incapacidade está sempre presente nas
entidades empregadoras. Desconhecendo que há muitas pessoas com deficiência
que conseguem ter uma vida independente e normal e que o governo até
oferece benefícios à entidade empregadora por dar oportunidades a estas
pessoas. Nota-se aqui a falta de uma intervenção importante sobre esta matéria.
É igualmente importante não deixar que estas pessoas se sintam “coitadinhas”
para não se acomodarem e estimularem elas próprias o gosto pela vida.
Em suma é neste sentido que a reabilitação, que não é só a nível físico e de
capacidades motoras, que ela é importante, mas a nível das emoções, dos
sentidos e do retorno tanto quanto possível à vida normal.

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Conclusão

No presente trabalho mostramos o que é um acidente vascular cerebral, as suas


causas e consequências, bem como a prevenção e a sua reabilitação. É
importante não esquecer que o AVC é a primeira causa de morte em Portugal e
quando estes doentes sobrevivem ficam com graves incapacidades. E aqui entra
o paradigma médico presente no facto de mostrar ao doente o que é a doença e
como reagir para e com ela. E ainda o paradigma social que revela as
representações sociais da doença e as soluções encontradas. Em suma, é
necessário perceber que qualquer um de nós, a qualquer altura, pode sofrer um
acidente e ficarmos deficientes, ou até pelo próprio envelhecimento podemos
adquirir deficiências ou incapacidades devido ao avançar da idade. Portanto,
livres de qualquer intenção moralista, reivindicamos apenas a diferença que por
vezes fazemos às pessoas diferentes.

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Bibliografia
- MAREK, Phipps Sands, Enfermagem Médico-Cirúrgica, Volume III, Lusociência,
2003.
- DOHME, Merck Sharp &, Manual Merck – Saúde para a Família, Editora
Oceano.
- Saúde e Bem-estar, Saúde em revista, edição 2008.
- http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/livros/idososalem60/Arq_09_Cap_03.pdf
http://acervodigital.esen.pt/conteudos/DeclaracaoUniversalDosDireitosDoHome
m.pdf
- O Tempo das Tribos – o declínio do individualismo nas sociedades de massa,
Forense-Universitária, 1987
- http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0383.pdf

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