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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQAO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


■ - Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
J] controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
i dissipem e a vivencia católica se fortalega no
Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar
' este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xxxk Novembro 1998 438
"Ó Morte, onde está a tua Vitoria?" (1 Cor 15,54)

"O Dia do Senhor"

"Para a tutela da fé"

A salvagáo fora da Igreja visível

Religiáo: Fator de prosperidade material?

"Brida" de Paulo Coelho

"Na margem do Rio Piedra eu sentei e chorei" de


Paulo Coelho

Sexo seguro?

Um fato real

Pius wasn't silent (Pió nao se calou)


PERGUNTE E RESPONDEREMOS NOVEMBRO1998
Publicado Mensal N°438

Diretor Responsável
SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB "Ó Morte, onde está a tua Vitoria?" 481
Autor e Redator de toda a materia Escreve Joáo Paulo II:
publicada neste periódico "O Dia do Senhor" 482

Diretor-Administrador: Ainda a Palavra do Papa:


"Para a tutela da fé" 492
O. Hildebrando P. Martins OSB
Delicada questáo:
Admlnistracáo e Distribuicao: A salvacáo fora da Igreja visível 499
Edicóes 'Lumen Christi"
Na Ordem do Dia:
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar-sala 501 Religiáo: Fator de
Tel.: (021) 291-7122 prosperidade material? 504
Fax (021) 263-5679
Obra de grande Sucesso:
"Brida" de Paulo Coelho 509
Endereco para Correspondencia:
Ed. "Lumen Christi" Ecleticismo irreverente:
"Na margem do Rio Piedra eu sentei e
Caixa Postal 2666
chorei" de Paulo Coelho 515
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Diz-se:
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO Sexo seguro? 523
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Um fato real 526
na INTERNET: http://www.osb.org.br
Pius wasn't silent (Pió nao se calou).. 528
e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET

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COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA


"MA R QUES SARAIVA"
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Tels.:(021> 502-9498

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Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ >
"O MORTE, ONDE ESTÁ A TUA VITÓRIA?"
(1 Cor 15,54)

Á primeira vista, a morte é um espantalho, pois parece por termo vio


lento á vida, que é o que todo ser humano mais espontáneamente deseja.
Já o notavam os antigos com certa tristeza. Assim em época remota, um
sabio escritor comparava a morte á sangue-suga, que tem duas filhas: Tra-
ze! Traze!" (Pr 30,15); é insaciável, pois nunca diz: "Basta!". Os gregos pré-
cristáos tinham inveja dos deuses, pois estes praticavam as orgias e os
bacanais que os homens praticam, mas, á diferenca dos homens, nao su-
cumbiam a morte; possuiam a athanasía, a imortalidade, que os homens
nao tinham. O morrerfazia a grande diferenca entre os deuses e os homens.

Ora sobre este paño de fundo Sao Paulo proclama a ressurreicáo de


Cristo, penhor da ressurreicáo de todos os homens. E exclama: "A morte foi
absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o
teu aguilháo?" (1 Cor 15,54s). A ressurreicáo de Cristo vem a ser a garantia
da ressurreicáo de todos e conseqüente vitória sobre o imperio da morte. Tal
proposicáo é fundamental na mensagem crista, a tal ponto que sem ela nao
há Cristianismo (cf. 1Cor 15,13.17).
Os primeiros cristáos se compraziam em recorrer a ¡magens ofereci-
das pela própria natureza para ilustrar tal verdade: assim a crisálida, que,
encerrada em seu casulo, se apresta a irromper sob a forma de urna borbo-
leta multicolorida..., o ovo donde nova ave deve surgir... Também se valiam
da lenda de um pretenso pássaro muito caro aos antigos; com efeito, dizia a
tradicáo que a fénix, sendo o único individuo da sua especie, durava 500
anos. Estando na iminéncia de se extinguir, deixava a india, onde vivía, ia ao
Líbano, onde arrecadava substancias aromáticas e, carregando a estas, pas-
sava para Heliópolis no Egito; sobre o altar dos sacrificios desta cidade fazia
para si um túmulo de incensó, mirra e outras esséncias; vinda a hora, moma.
De seus restos moríais, porém, no dia seguinte nascia um verme, que, nu-
trindo-se da substancia do pássaro morto, tomava asas e, após tres dias,
voltava para a india; era a fénix ressuscitada!
Percorrendo a Sagrada Escritura do Novo Testamento encontramos
ai a afirmacáo de que a morte é Páscoa, é passagem... Passagem da habi-
tacáo de peregrino no estrangeiro para a entrada na patria (2Cor 5,6s), da
posse velada para a posse revelada (Cl 3,3s), da sementeira para a messe
{Gl 6,8s; 2Cor 9,6), da visáo em espelho e enigma para a visáo face-a-face
(1Cor 13,12s). A consciéncia destas verdades fazia muitos Santos nao so-
mente nao temer a morte, mas até mesmo desejá-la ardentemente, como
fazia Sta. Teresa de Ávila ao exclamar: "Senhor, é tempo de nos vermos! É
tempo de acabar esta noite de má pousada!".
E.B.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXIX - NQ 438 - Novembro de 1998

Escreve Joáo Paulo II:

"O DÍA DO SENHOR"

Em síntese: O S. Padre Joáo Paulo II lembra ao clero e aos fiéis o


valor perene da observancia do domingo, apresentando-o como o Dia do
Senhor, o Dia de Cristo, o Dia da Igreja, o Dia do Homem, o Dia dos Dias.
O domingo é o ponto de convergencia de grandes verdades da fé católi
ca, pois está relacionado com a criagáo, a Redengáo e a consumagao da
humanidade na gloria definitiva. Erecordagao dopassado, celebragao do
presente e expectativa do futuro.

Aos 31/5/1998 o S. Padre Joáo Paulo II assinou a Carta Apostólica


Dies Domini (O Dia do Senhor); trata do domingo, explanando o seu
sentido teológico e as normas litúrgicas e moráis que caracterizam sua
observancia.

O documento é de grande profundidade e riqueza espiritual. Divi-


de-se em cinco capítulos, que se seguem a breve Introducáo: 1) O Día
do Senhor (a celebracáo da obra do Criador); 2) O Dia de Cristo (o dia
de Jesús Ressuscitado e do dom do Espirito); 3) O Dia da Igreja (a as-
sembléia eucarística, alma do domingo); 4) O Dia do Homem (o domin
go, dia de alegría, repouso e solidariedade); 5) O Día dos Dias (o domin
go, festa primordial, reveladora do sentido do tempo). Ao que se segué
urna Conclusáo.

Ñas páginas subseqüentes seráo postos em relevo os principáis


tópicos deste ampio documento.

1. Día do Senhor (n9 8-18)

O texto corneja lembrando o fundamento bíblico da santificacáo


do domingo, que é o hexaémeron (Gn 1,1 -2,4a), relato da criacáo em

482
"O DÍA DO SENHOR"

seis dias, após os quais, no sétimo dia, Oeus descansa de toda a sua
obra (cf. Gn 2,2). Evidentemente é este um relato antropomórfico, em
que Deus faz as vezes de um trabalhador que se cansa e repousa de
sete em sete dias. O autor sagrado assim concebe a obra da criacáo
precisamente para dar um sólido fundamento ao repouso do sétimo dia:
Deus o terá observado, deixando um exemplo e um ensinamento para os
homens.

«11. Se, na primeira página do Génesis, o 'trabalho' de Deus é


exemplo para o homem, é igualmente o seu 'repouso': 'Deus repousou,
no sétimo dia, do trabalho por Ele realizado' (Gn 2,2). Também aqui nos
encontramos diante de um antropomorfismo, denso de urna mensagem
sugestiva».

Os dizeres centráis deste capítulo 1 da Carta Apostólica estáo em


seus §§ 15 e 16, que expóem claramente o sentido do dia do Senhor a
partir dos elementos fornecidos pelo Antigo Testamento:

«15. Na verdade, a vida inteira do homem e todo o seu tempo de-


vem ser vividos como louvor e agradecimento ao seu Criador. Mas a rela
gáo do homem com Deus necessita também de momentos explícitamen
te de oragáo, nos quais a relagáo se toma diálogo intenso, envolvendo
toda a dimensáo da pessoa. O dia do Senhor é, por excelencia, o dia
desta relagáo, no qual o homem eleva a Deus o seu canto, tornándose
eco da inteira criagáo.

Porisso mesmo, é também o dia do repouso: a interrupgáo do ritmo


muitas vezes oprimente das ocupagóes exprime, com a linguagem figu
rada da novidade e do desprendimento, o reconhecimento da dependen
cia de nos mesmos e do universo de Deus. Tudo é de Deus!

16. O mandamento do Decálogo, pelo qual Deus impóe a obser


vancia do sábado, tem, no livro do Éxodo, urna formulagáo característica:
'Recorda-te do dia de sábado, para o santificares' (20,8). E, mais adiante,
o texto inspirado dá a razáo disso mesmo, referindo-se á obra de Deus:
'Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a térra, o mar e tudo quanto
contém, e descansou no sétimo; por isso o Senhor abengoou o dia de
sábado e santificou-o' (v. 11). Antes de impor qualquer coisa a serprati-
cada, o mandamento indica algo a recordar. Convida a avivara memoria
daquela grande e fundamental obra de Deus que é a criagáo. É urna
memoria que deve animar toda a vida religiosa do homem, para depois
confluir no dia em que ele é chamado a repousar».

Sao merecedores de nota ainda os seguintes pontos:

A criacáo que o Antigo Testamento atribuí a Deus (Elohim), o Novo

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

Testamento a relaciona com Jesús Cristo, que realizou urna nova cria-
cáo. "Se é verdade que o Verbo se fez carne na plenitude dos tempos (Gl
4,4), também é certo que, em virtude precisamente do seu misterio de
Filho eterno do Pai, Ele é origem e fim do universo. Afirma-o S. Joáo no
prólogo do seu Evangelho: Tudo comecou a existir por meio dele, e sem
ele nada foi criado' (Jo 1,3)" (n9 8).

Em suma, já no Antigo Testamento os fiéis sao chamados a recor


dar o sábado para o santificar (Ex 20,8), ou seja, para o consagrar ao
Senhor Deus, separando-se de seus afazeres cotidianos a fim de louvar
a Deus e prestar-lhe acáo de gracas.

2. Dia de Cristo (n219-30)

Os cristáos tomaram consciéncia de que a criacáo recordada no


sétimo dia ou no shabbat judaico foi refeita por Cristo ao ressuscitar
após o sábado ou no primeiro dia da semana judaica. Daf o deslocamen-
to do dia do Senhor para o dia da ressurreicáo ou para o primeiro dia da
semana judaica. É o que atestam os dizeres do Novo Testamento segun
do os quais o primeiro dia da semana passou a ser o dia da assembléia
litúrgica ou da celebracáo da Eucaristía. Tal dia é chamado kyriaké
heméra, dia do Senhor, em Ap 1,10. Assim o domingo cristáo já se esbo
za nos escritos do Novo Testamento:

1Cor 16,2: "No primeiro dia da semana cada um de vos ponha de


lado o que conseguir poupar".

At20,7: "No primeiro dia da semana, estando nos reunidos para


a fragáo do pao..."

Ap 1,10: "No dia do Senhor fui movido pelo Espirito".

Oito dias após a ressurreicáo, ou seja, em outro dia do Senhor,


Jesús apareceu a Tomé; cf. Jo 20,26.

Cinqüenta dias após a ressurreicáo o Espirito Santo foi dado aos


Apostólos em Pentecostés; cf. At 2,1.

O tato de que o sábado é o sétimo dia da semana judaica proporci


ona aos cristáos a consideracáo de novo aspecto do domingo. Este nao
é somente o primeiro dia da semana judaica; é também o oitavo dia,
aquele que prolonga a semana da criacáo acrescentando-lhe mais um
dia..., dia sem ocaso, que é o antegozo da vida sem fim.

Para os pagaos, o dia do Senhor dos cristáos era o dia do Sol (o


que até hoje é expresso pelos vocábulos Sunday, Sonntag). A Igreja
aceitou esta designacáo transferindo-a para Cristo, que é o verdadeiro

484
"O DÍA DO SENHOR"

Sol da humanidade. Cristo é realmente a luz do mundo (cf. Jo 8,12; 9,5)


e o dia comemorativo da sua ressurreicáo é o reflexo perene da revela-
cáo de sua gloria.

Dia de luz, o domingo poderia chamar-se também Dia de Fogo,


Sim, a luz de Cristo se associa intimamente ao fogo do Espirito; as duas
imagens indicam o sentido do domingo cristáo, pois foi em domingo que
Jesús comunicou o Espirito Santo aos Apostólos; cf. Jo 20,22s; At 2,1. A
efusáo do Espirito foi o grande dom do Ressuscitado aos seus discípulos
no domingo de Páscoa e no de Pentecostés.

Em conseqüéncia o domingo é, para os cristáos, um dia inesquecí-


vel e indelével apesar das dificuldades de observá-lo na sociedade con
temporánea. A Igreja sente-se chamada a novo esforco catequético e
pastoral para que nenhum cristáo ñas condicóes normáis da vida fique
privado do abundante fluxo de graca que a celebracáo do domingo traz
consigo.

3. O Dia da Igreja (ns 31-54)

A assembléia eucarística vem a ser a alma do domingo.

Nao é suficiente que os discípulos de Cristo rezem individualmente


e recordem no silencio a morte e a ressurreicáo de Cristo. Sao chamados
a se tornar membros do Corpo Místico de Cristo ou da ekklesía (convo-
cacáo). Esta possui na Eucaristía a sua fonte e a sua densidade máxima.
A dimensáo eclesial da Eucaristía realiza-se todas as vezes que esta é
celebrada, mas com maior razáo exprime-se no dia em que toda a comu
nidade é convocada para relembrar a ressurreicáo do Senhor. Daí a obriga-
cáo que toca aos cristáos de participar da Eucaristía todos os domingos.

Desta forma o dia do Senhor é também o dia da Igreja. Neste dia


convém que toda a comunidade de cada paroquia se reúna em torno da
Eucaristía, tome consciéncia da necessidade de viver na unidade de um
só pao e um só corpo, como povo peregrino a caminho do domingo sem fim:

«47. ...O Código de Direito Canónico, de 1917, compilou pela pri-


meira vez a tradigáo numa leí universa!. O Código atual confirma-a, di-
zendo que 'no domingo e nos outros días festivos de preceito, os fiéis tém
obrigagáo de participar da Missa'. Essa lei foi normalmente entendida
como implicando obrigagáo grave; assim o ensina o Catecismo da Igreja
Católica, sendo fácil compreender o motivo, quando se considera a im
portancia que o domingo tem para a vida crista.

48. Hoje, como nos heroicos tempos iniciáis, em muitas regióes do


mundo, a situagáo apresenta-se difícil para muitos que desejam viver

485
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

coerentemente a sua fé. Algumas vezes, o ambiente é abertamente hos


til, outras vezes e com mais freqüéncia, é indiferente e refratário á men-
sagem do Evangelho. O crente, para nao ser vencido, deve poder contar
com o apoto da comunidade crista. Por isso, é necessário que ele se
convenga da importancia decisiva que tem, para a sua vida de fé, o fato
de se reunir ao domingo com os outros irmáos, para celebrar a Páscoa
do Senhor no sacramento da Nova Manga».

Os fiéis que se ausentam da sua residencia habitual no domingo,


devem procurar participar da Missa no lugar onde se encontram, enri-
quecendo assim a comunidade local com o seu testemunho pessoal.

A Missa dominical há de ser preparada com especial cuidado. É


importante o canto da assembléia como expressáo da alegría do cora-
cáo. O S. Padre explícita a necessidade de que os textos e as melodías
sejam fiéis á tradicáo da Igreja:

«50. Dado o caráter próprio da Missa dominical e a importancia


que ela tem para a vida dos fiéis, é necessário prepará-la com especial
cuidado. Com as formas sugeridas pela sabedoria pastoral e pelos usos
locáis que estejam em harmonía com as normas litúrgicas, é preciso ga
rantirá celebragáo aquele caráter festivo que convém ao dia comemora-
tivo da Ressurreigáo do Senhor. Com este objetivo, é importante dar a
devida atengáo ao canto da assembléia, já que este é particularmente
apto para exprimirá alegría do coragáo, faz ressaltara solenidade e favo
rece a partilha da única fé e do mesmo amor. Por isso, é preciso ter a
preocupagáo da sua qualidade, tanto no referente aos textos como as
melodías, para que tudo aquilo que de criativo e original hoje se propóe,
esteja de acordó com as disposigóes litúrgicas e seja digno daquela tra-
digáo eclesial que, em materia de música sacra, se gloria de um patrimo
nio de valor ¡nestimável».

A Missa há de ser catívante e participada. Faz-se mister, porém,


guardar a distincáo entre o sacerdocio comum dos fiéis, conferido aos
leigos pelos sacramentos do Batismo e da Crisma e o sacerdocio minis
terial conferido pelo sacramento da Ordem: é "distincáo bem mais que
disciplinar entre a tarefa própria do celebrante e a que é atribuida aos
diáconos e aos fiéis nao ordenados" (n9 51).

A celebracáo da Eucaristía é o coracáo do domingo, mas a


santificacao do domingo nao se restringe a ela. Outros momentos do dia
hao de ser impregnados da paz e da alegría do Ressuscitado:

«52. Se a partidpagáo na Eucaristía é o coragáo do domingo, seria


contudo restritivo reduzir apenas a isso o dever de santificá-lo. Na verda-

486
"O DÍA DO SENHOR"

de, o dia do Senhor é bem vivido, se todo ele estiver marcado pela lem-
branga agradecida e efetiva das obras de Deus. Ora, isto obriga cada um
dos discípulos de Cristo a conferir, também aos outros momentos do dia
passados tora do contexto litúrgico - vida de familia, relagóes sociais,
horas de diversáo -, um estilo tal que ajude a fazer transparecer a paz e
a alegría do Ressuscitado no tecido ordinario da vida. Por exemplo, o
encontró mais tranquilo dos pais e dos filhos pode dar ocasiáo nao só
para se abrirem a escuta recíproca, mas também para viverem juntos
algum momento de formagáo e de maior recolhimento. Por que nao pro
gramar, inclusive na vida laical, quando forpossível, especiáis iniciativas
de oragáo - de modo particular a celebragáo solene das Vésperas - ou
entáo eventuais momentos de catequese, que, na vigilia do domingo ou
durante a tarde deste, preparem ou completem na alma do cristao o dom
próprio da Eucaristía?».

Vém ao caso ainda as assembléias dominicais na ausencia do sa


cerdote. Ocorrem nao raro em virtude da escassez do clero. Existem nor
mas da Santa Sé e de cada Conferencia Episcopal que as orientam.
Todavía deve permanecer claro na consciéncia do clero e dos fiéis que é
preciso tender a celebrar a S. Missa mesmo em lugares distantes, de tal
modo que as pessoas habitualmente privadas da celebracao eucarística
se possam beneficiar déla o maior número de vezes possível, garantin-
do-se-lhes a presenca periódica de um sacerdote (cf. n9 53).

Por fim, os fiéis que, por motivo de doenca ou outra razáo grave,
estáo impedidos de participar da S. Missa, podem-se unir a urna celebra-
cao eucarística mediante a televisáo e o radio. Verdade é que este géne
ro de transmissáo nao é adequado para se cumprir o preceito dominical,
que requer a participacáo dos fiéis congregados num mesmo lugar. Mas,
para aqueles que estáo impedidos de freqüentar a Eucaristía (e, por isto,
estáo dispensados da mesma), a transmissáo televisiva ou radiofónica é
de grande valor, principalmente se completada pelo generoso servico de
um Ministro Extraordinario da Comunháo Eucarística, que leve o
Santíssimo Sacramento aos doentes e Ihes ofereca a saudacáo e a soli-
dariedade de toda a comunidade (nQ 54).

4. O Dia do Homem (ns 55-73)

O domingo é também o dia do homem, caracterizado por alegría,


repouso e solidariedade.

A ressurreicáo do Senhor e as gracas que déla decorrem, sao motivo


de júbilo para os cristáos desde os primeiros tempos da Igreja. S. Agos-
tinho (t 430), fazendo eco a testemunhos anteriores, escreve:

487
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

"Omitem-se osjejuns e rezase de pé como sinal da ressurreigáo;


poristo também se canta todos os domingos o aleluia" (epístola 55, 28);
cf.ns55.

O cristáo é alegre apesar das dificuldades que a vida de cada dia


Ihe apresenta; sonriente o pecado pode causar auténtica tristeza, porque
separa do Sumo Bem, que nao se pode perder: Deus. O próprio Senhor
rezou para que os discípulos tenham "a plenitude de sua alegría" (Jo
17,13). É claro que tal alegría nao deve ser confundida com sentimentos
espalhafatosos e superficiais, que, passando rápidamente, deixam o co-
racáo ¡nsatisfeito; cf. n9 56s.

O domingo, dia de festa e de alegría, é também dia de descanso. O


repouso é coisa sagrada, constituindo a condicáo necessária para o ho-
mem se subtrair ao ciclo, por vezes excessivamente absorvente, dos afa-
zeres terrenos e retomar consciéncia de que tudo é obra de Deus, do
qual o homem é lugar-tenente subordinado; o poder que a ciencia e a
técnica conferem ao homem nao o tornam um outro Deus; cf. n9 65. A
Igreja tem legislado sobre a necessidade do repouso dominical, incutin-
do-o aos fiéis para que possam elevar a mente ao Senhor e freqüentar a
S. Eucaristía. O atual Código de Direito Canónico prescreve o seguinte:

«Can. 1247 - No domingo e nos outros dias de festa de preceito,


os fiéis tém a obrigagáo de participar da missa; além disso, devem abs-
ter-se das atividades e negocios que impegam o culto a ser prestado a
Deus, a alegría própria do dia do Senhor e o devido descanso da mente
e do corpo.

Can. 1248 - § 1, Satisfaz ao preceito de participar da missa quem


assiste á missa em qualquer lugar onde é celebrada em rito católico, no
próprio dia de festa ou na tarde do dia anterior.

§ 2. Por falta de ministro sagrado ou por outra grave causa, se a


participagáo na celebragáo eucarística se tornar impossível, recomenda
se vivamente que os fiéis participen) da liturgia da Palavra, se houver, na
igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada de acordó com as
prescrígóes do Bispo diocesano; ou entáo se dediquem á oragáoportempo
conveniente, pessoalmente ou em familia, ou em grupo de familias de
acordó com a oportunidade».

É contraria aos principios cristáos a tendencia de alguns regimes a


estabelecer dias de repouso diferentes para os diversos membros da
familia, impedindo assim que pais e filhos se reunam ao domingo e com-
partilhem mutuamente seus interesses (cf. n9 66).

A fim de conservar os valores do repouso dominical, é para desejar

488
"O DIA DO SENHOR"

que os cristáos saibam escolher, dentre as varias propostas de diverti-


mento, aquelas que sao compatíveis com a santificacáo do domingo;
com efeito, verifica-se que certas ocupacoes recreativas sao mais absor-
ventes e exigentes do que repousantes; assim, em vez de contribuir para
o bem espiritual e corporal do cristáo, impossibilitam-no de usufruir das
grapas que o dia do Senhor oferece a todos (cf. ne 67s).

Solidariedade... "O domingo deve dar oportunidade aos fiéis para


se dedicarem também as atividades de misericordia, caridade e aposto
lado" (n9 69).

Essa caridade nao há de se exprimir apenas no óbolo, mas há de


criar a cultura da solidariedade, concretizada tanto entre os membros da
comunidade como em favor da sociedade inteira. Já os Apostólos incuti-
am o dever do amor fraterno decorrente de freqüentar a Eucaristía; cf.
1Cor 16,2; 11,20-22; Tg 2,2-4. Os Padres da Igreja muito o enfatizar'am,
como se depreende, entre outros, dos seguintes dizeres de Sao Joáo
Crisóstomo, bispo de Constantinopla (t 407):

«Queres honrar o Corpo de Cristo? Nao permitas que seja despre-


zado nos seus membros, isto é, nos pobres que nao tém o que vestir,
nem o honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá lora o
abandonas ao frío e a nudez. Aquele que disse: 'Isto é o meu Corpo',
confirmando o fato com a sua palavra, também afirmou: 'Vos me vistes
com fome e nao me destes de comer', e aínda: 'Na medida em que o
recusastes a um destes meus irmáos mais pequeninos, a mim o recu-
sastes. (...): De que serviría, afina!, adornara mesa de Cristo com vasos
de ouro, se Ele morre de fome na pessoa dos pobres? Primeiro dá de comer
a quem tem fome, e depois ornamenta a sua mesa com o que sobra».

«Sao palavras que lembram, eficazmente, á comunidade crista o


deverde fazerda Eucaristía o lugar onde a fraternidade se torne solidarí-
edade concreta, onde os últimos sejam os prímeiros na consideragáo e
na estima dos irmáos, onde o próprío Cristo, através da doagáo generosa
dos ríeos aos pobres, possa de algum modo continuar ao longo dos tem-
pos o milagre da multiplicagáo dos páes».

5. O Dia dos Dias (ns 74-80)

"O domingo, festa primordial, reveladora do sentido do tempo" (sub


título do capítulo).

«75. Sendo o domingo da Páscoa semanal, que evoca e torna pre


sente o dia em que Cristo ressuscitou dos morios, ele é também o dia que
revela o sentido do tempo. Nao tem qualquer afinidade com os ciclos
cósmicos que, segundo a religiáo natural e a cultura humana, poderiam
489
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

ritmar o tempo, fazendo crer talvez ao mito do eterno retorno. O domingo


cristáo é diferente! Nascendo da Ressurreigáo, ele sulca os tempos do
homem, os meses, os anos, os séculos como urna seta ¡angada que os
atravessa, oríentando-os para a meta da segunda vinda de Cristo. O do
mingo prefigura o dia final, o da Parusia, já antecipada de algum modo
pela gloria de Cristo no acontecimento da Ressurreigáo.

Com efeito, tudo aquilo que suceder até ao fim do mundo será ape
nas urna expansáo e expiicitagáo do que aconteceu no dia em que o
corpo martirizado do Crucificado ressuscitou pela forga do Espirito e se
tornou, por sua vez, a fonte do Espirito para a humanidade. Por isso, o
cristáo sabe que nao deve esperar outro tempo de salvagao, visto que o
mundo, qualquer que seja a sua duragáo cronológica, já vive no último
tempo. Nao só a Igreja, mas o próprio universo e a historia sao continua
mente dominados e guiados por Cristo glorificado. É esta energía de vida
que impele a criagáo - esta 'tem gemido e sofrido as dores do parto, até
ao presente' (Rm 8,22) - para a meta do seu pleno resgate. Deste cami-
nho, o homem pode ter apenas urna vaga percepgáo; mas os cristáos
possuem a chave de interpretagáo e a certeza dele, constituindo a
santificagáo do domingo um testemunho significativo que eles sao cha
mados a dar, para que os tempos do homem sejam sempre sustentados
pela esperanga».

A celebrado do domingo de Páscoa - a solenidade das solenida-


des - foi aos poucos inspirando á Igreja a estruturacáo do ano litúrgico: a
Quaresma preparatoria da Páscoa e o cinqüentenário que prolonga de
modo especial a celebracáo da Páscoa até Pentecostés. Segue-se o ci
clo de Natal, que comemora o misterio da Encarnacao do Senhor (ns
76s).

"Na celebracáo do ciclo anual dos misterios de Cristo, a Santa Igre


ja venera, com especial amor, porque indissoluvelmente unida á obra de
salvacáo de seu Filho, a bem-aventurada Virgem María, Máe de Deus"
(na 78). Dilatando ainda seus horizontes, a liturgia da Igreja venera tam-
bém a memoria dos mártires e de outros Santos; esta nao empalidece a
figura de Cristo, mas, ao contrario, a exalta, mostrando a eficacia da
Redencáo efetuada pelo Senhor.

A necessidade de solenizar certas datas do ano litúrgico levou a


Igreja a estipular días santos de guarda, nos quais sao obrigatórios a
freqüentacáo da S. Missa e o repouso. Visto, porém, que tais datas, cain-
do em dias de semana, nao podem ser devidamente celebradas pelo
povo fiel, a Igreja permite que sua solenizacáo seja transferida para o
domingo mais próximo; é o que acontece no Brasil com as festas da
Epifanía, da Ascensáo do Senhor, da Assuncáo de María, dos SS. Apósto-

490
"O DÍA DO SENHOR"

los Pedro e Paulo e de todos os Santos. É para desejar, porém, que a


celebracáo do domingo nao perca o caráter próprio do día do Senhor,
cedendo freqüentemente a festividades dos Santos (n9 78-80).
6. Conclusáo (n9 81-87)

Na Conclusáo, o S. Padre retoma as linhas doutrinárias anteriores


e acrescenta em síntese o seguinte:

«84. Instituido para amparo da vida crista, o domingo adquire natu


ralmente também um valor de testemunho e anuncio. Día de oragao, de
comunháo, de alegría, ele repercútese sobre a sociedade, irradiando
sobre ela energías de vida e motivos de esperanga. O domingo é o anun
cio de que o tempo, habitado porAquele que é o Ressuscitado e o Se
nhor da historia, nao é o túmulo das nossas ilusóes, mas o bergo de um
futuro sempre novo, a oportunidade que nos é dada de transformar os
momentos fugazes desta vida em sementes de eternidade. O domingo é
convite a olhar para frente, é o dia em que a comunidade crista eleva
para Cristo o seu grito: "Maranatha: Vinde, Senhor!" (1Cor 16,22). Com
este grito de esperanga e expectativa, ela faz-se companheira e susten
táculo da esperanga dos homens. De domingo a domingo, iluminada por
Cristo, caminha para o domingo, sem fim, da Jerusalém celeste, quando
estiver completa em todas as suas feigdes a mística Cidade de Deus, que
'nao necessita de Sol nem de Luz para a iluminar, porque é iluminada
pela gloria de Deus, e a sua luz é o Cordeiro' (Ap 21,23)».

Nesta tensao para a meta, a Igreja é sustentada e animada pelo


Espirito:

"O Espirito está presente ininterruptamente em cada dia da Igreja,


irrompendo, imprevisível e generoso, com a riqueza dos seus dons; mas,
na assembléia dominical congregada para a celebragáo semanal da Pás-
coa, a Igreja colocase especialmente á escuta dele e com Ele tende
para Cristo, no desejo ardente de seu regresso glorioso: 'O Espirito e a
Esposa dizem: Veml' (Ap 22,17)" (n3 85).

O texto aqui apresentado sintéticamente merece ser lido na ínte


gra por todos os fiéis católicos, pois ultrapassa os limites da Teología
Moral e do Direito Canónico, oferecendo urna apresentacáo sumaria das
verdades da fé.

491
Ainda a Palavra do Papa:

"PARA A TUTELA DA FÉ"

Em síntese: O Motu Proprío Ad tuendam Fidem foi promulgado


pelo S. Padre a fim de atualizar o Código de Direito Canónico em seus
cánones 750 e 1371. Tais cánones foram formulados em 1983, anterior
mente ao texto da Profissáo de Fé Católica editado em 1989 pela Con-
gregagáopara a Doutrina da Fé. O documento pontificio trata de enfatizar
as verdades que a respeito da fé e da Moral sao propostas pela Igreja em
termos definitivos, ... definitivos porque tém nexo histórico e lógico com
os dogmas de fé revelados pelo próprío Deus. Entre essas verdades
"conectadas", estáo a condenagáo da eutanasia direta, a canonizagáo
dos Santos, a legitimidade da eleigáo papal, a reserva da ordenagáo sa
cerdotal aos homens.
* * *

Aos 18/5/1998 o S. Padre Joáo Paulo II assinou a Carta Apostólica


Motu Proprio" que corneja com as palavras Ad tuendam Fidem (Para a
Tutela da Fé). Visto que, para muitos crlstáos, nao ficaram claros o con-
teúdo desse documento e a própria atitude do S. Padre, vamos dedicar-
Ihe as páginas seguintes.

1. Profissio de Fé e Juramento

Todo fiel católico que assume um encargo de importancia na Igreja


(clérigo, professor de Teología, Superior Religioso...), é obligado a profe
rir urna Profissáo de Fé e a prestar juramento de fidelidade á S. Igreja2.
Tal prescricáo se deve á necessidade de coeréncia: quem ó chamado a
falar em nome da Igreja, tem o dever de transmitir o que a Igreja ensina
ou, ao menos, nada transmitir que contrarié o ensinamento da Igreja; é

1 De própria iniciativa. _
2 Tal ó o teor do canon 833, que especifica os cargos aos quais Profissáo de Fe e
Juramento estáo anexos:
Canon 833 - Tém obrigagáo de fazer pessoalmente a Profissáo de fé, segundo a
fórmula aprovada pela Sé Apostólica:
1S diante do presidente ou de seu delegado, todos os que participem de um Conci
lio Ecuménico ou particular, do Sínodo dos bispos ou do Sínodo diocesano, com voto
deliberativo ou consultivo; o presidente, porsua vez, diante do Concilio ou do Sínodo;
2a os promovidos á dignidade cardinalícia, segundo os estatutos do Sacro Colegio;
3S diante do delegado da Sé Apostólica, todos os promovidos ao episcopado, e os
que se equiparam ao Bispo diocesano;

492
"PARA A TUTELA DA FÉ" 13

este um dever de honestidade, pois o povo de Deus quer ouvir dos minis
tros da Igreja o que a Igreja pensa e professa, e nao o que tal ou tal
pessoa, por conta própria, pensa e professa. Se o bispo, o teólogo ou
outro oficial toma a liberdade de ensinar algo que destoe do magisterio
da Igreja, está traindo a Igreja, iludindo os fiéis, além de ceder ao pecado
de infidelidade as suas funcóes.

Aos 9/1/1989 a Congregacáo para a Doutrina da Fé, encarregada


dos assuntos atinentes á fé, publicou novas fórmulas de Profissáo de Fé
e de juramento anexo a serem observadas nos casos ácima indicados.
Esses textos substituíam as fórmulas anteriores datadas de 1967; cf. PR
326/1989, pp. 316-319. Eis o teor do texto promulgado em 1989:

I. PROFISSÁO DE FÉ

A Profissáo de Fé consta do Símbolo Niceno-constantinopolitano,


ao qual sao acrescentadas tres proposicóes:

"Eu, N.N., creio e professo todas e cada qual das proposigoes que
estáo coñudas no Símbolo da Fé, a saber:
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso.
Criador do céu e da térra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor Jesús Cristo, Filho Unigénito de Deus, nas-
cido do Pai antes de todos os séculos;
Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, nao criado, consubstancial ao Pai.
Por ele todas as coisas foram feitas.
Epor nos, homens, e para a nossa salvagáo, desceu dos céus;
e se encarnou pelo Espirito Santo no seio da Virgem María e se fez
homem.

4a diante do colegio dos consultores, o Administrador diocesano;


5a diante do Bispo diocesano ou de seu delegado, os Vigários gerais, os Vigários
episcopais e os Vigários judiciais;
69 diante do Ordinario local ou de seu delegado, os párocos, o reitor, os professo-
res de teología e filosofía nos Seminarios, no inicio do exercício do cargo; e os pro
movidos á ordem do diaconato;
7a diante do Gráo-chanceler e, na sua falta, diante do Ordinario local ou dos res
pectivos delegados, o reitor de Universidade Eclesiástica ou Católica no inicio do
exercício do seu cargo; diante do reitor, que seja sacerdote, ou diante do Ordinario
local ou dos respectivos delegados, os professores que lecionam disciplinas refe
rentes áfée aos costumes em qualquer Universidade, no inicio do desempenho do
cargo;

8a os Superiores nos Institutos Religiosos e ñas Sociedades Clericais de vida apos


tólica, segundo a norma das Constituicoes".
Além da Profíssáo de Fé, devem emitir Juramento de Fidelidade aquelas pessoas
mencionadas nos nas 5-8 do referido canon.

493
t4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

Também por nos foi crucificado sob Pondo Pilatos; padeceu e foi
sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras,
e subiu aos céus, onde está sentado á direita do Pal
E de novo há de vir em sua gloría para julgar os vivos e os morios.
E o seu reino nao terá fim.
Creio no Espirito Santo,
Senhorque dá a vida, e procede do Pai e do Filho,
e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado;
Ele que falou pelos Profetas.
Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.
Professo um só batismo para a remissáo dos pecados.
E espero a ressurreigáo da carne
e a vida do mundo que há de vir. Amém.

Com fé firme creio também tudo aquilo que na Palavra de Deus,


escrita ou oral, está contido e pela Igreja é proposto, ou mediante solene
sentenga ou mediante o seu ordinario e universal magisterio, como ver
dades reveladas por Deus que se impoem a fé.
Também abrago e retenho firmemente todas e cada qual das pro-
posigoes que a respeito da doutrina da fé e dos costumes sao propostas
pela Igreja em termos definitivos.

Além disto, com religioso obsequio da inteligencia e da vontade


dou minha adesáo as doutrinas que o Pontífice Romano ou o Colegio dos
Bispos enunciam ao exercerem seu auténtico magisterio, embora nao
intencionem proclamá-las em termos definitivos".

Segue-se o

II. JURAMENTO DE FIDELIDADE

Tal é a fórmula a ser usada pelos fiéis cristáos mencionados no


eánon 833, ne 5-8:

"Eu, N.N., ao recebera fungáo de , prometo guardar


sempre a comunháo com a Igreja Católica tanto pelas palavras que pro
ferir como por meu modo de agir.

Com grande diligencia e fidelidade, cumprirei os encargos a que


estou obrigado em relagáo seja á Igreja universal, seja a diocese na qual
sou chamado a prestar servigo, segundo as prescrigóes do Direito.

No exercfcio de minhas fungóes, que em nome da Igreja me foram


confiadas, conservare!'íntegro, transmitiré'! e ilustrare'! fielmente o depósi
to da fé; por conseguinte evitare! qualquer doutrina a ela contraria.

494
"PARA A TUTELA DA FÉ" 15

Seguirei e fomentarei a disciplina comum da Igreja e guardarei a


observancia de todas as leis eclesiásticas, principalmente daquelas que
estáo contidas no Código de Direito Canónico.

Com obediencia crista, executarei o que for estabelecido pelos sa


grados Pastores, como auténticos doutores e mestres da fé ou como
governantes da Igreja, e fielmente prestare'! auxilio aos Bispos diocesanos,
a fim de que a atividade apostólica a serexercida em nome e por manda
to da Igreja se desenvolva dentro da comunháo da mesma Igreja.

Assim me ajudem Deus e estes santos Evangelhos de Deus, que


toco com as minhas máos".

Eis as variantes dos parágrafos 4 e 5 da Fórmula de Juramento


válidas para os fiéis dos quais trata o canon 833, ns 8:

"Fomentarei a disciplina comum da Igreja e urgirei a observancia


de todas as leis eclesiásticas, principalmente das que estáo contidas no
Código de Direito Canónico.

Com obediencia crista, executarei o que os sagrados Pastores como


auténticos doutores e mestres da fé declaram ou como governantes da
Igreja estabelecem, e com os Bispos diocesanos colaborare! de boa von-
tade para que a atividade apostólica, a ser exercida em nome e por man
dato da Igreja, se desenvolva na comunháo da mesma Igreja, ressalva-
das a índole e a finalidade do meu Instituto Religioso".

Como se vé, a Profissáo de Fé versa sobre tres tipos de verdade:

1) os artigos de fé que o magisterio da Igreja (extraordinario ou


solene e ordinario ou universal) propóe como verdades reveladas por
Deus;

O magisterio extraordinario é o do Papa ou o de um Concilio Geral


quando definem alguma proposicáo como artigo de fé; tal foi a definicáo
do dogma da SS. Trindade por parte dos Concilios de Nicéia I (325) e
Constantinopla I (381); tal foi a definicáo referente a Jesús Deus e Ho-
mem em Éfeso (431) e Calcedonia (451). Tal foi a definicáo do dogma da
Imaculada Conceicáo por parte de Pió IX em 1854, a da Assuncáo Cor
poral de María SS. por Pió XII em 1950.

O magisterio ordinario é o dos Bispos unidos ao S. Padre em con


senso unánime. Tal é o ensinamento referente á existencia do demonio e
do seu pecado.

2) As proposicóes que a respeito da fé e da Moral sao formuladas


pela Igreja em termos definitivos; sao os ensinamentos dogmáticos e

495
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

moráis "necessários para preservar fielmente e expor o depósito da fé,


mesmo que nao tenham sido propostas pelo magisterio da Igreja como
formalmente revelados". Seriam, por exemplo, a doutrina da Igreja con
traria á eutanasia direta, a canonizado dos Santos, a legitimidade da
eleicáo de um Papa, a reserva do sacerdocio ministerial aos homens.

3) Os ensinamentos da Igreja emanados do Papa ou dos Bispos


em uniáo com o Papa, aínda que nao tenham sido solenemente defini
dos pela Igreja. Tal é o caso da encíclica Humanae Vitae (1968), que
rejeita todo método artificial de limitacáo da natalidade.

2. O Código de Direito Canónico complementado

Ocorre que o Código de Direito Canónico vigente foi promulgado


aos 25/1/1983, ou seja, antes da publicacáo das novas fórmulas da Pro-
fissáo de Fé e do Juramento. Por isto em seus cánones nao menciona a
segunda categoría de verdades contidas na Profissáo de Fé, como se
pode depreender dos cánones 750 e 1371, que váo aqui reproduzidos:

"Can. 750 - Deve-se crer com fé divina e católica em tudo o que


está contido na palavra de Deus escrita ou transmitida, a saber, no único
depósito da fé confiado a Igreja, e que, ao mesmo tempo, é proposto
como divinamente revelado pelo magisterio soiene da Igreja ou pelo seu
magisterio ordinario e universal; isto se manifesta pela adesáo comum
dos fiéis sob a guia do magisterio sagrado; por ¡sso, todos estáo obriga-
dos a evitar quaisquer doutrinas contrarias.

Can. 1371 - Seja punido com justa pena:

1gaquele que, além do caso mencionado no can. 1364, § 1, ensina


doutrina condenada pelo Romano Pontífice ou pelo Concilio Ecuménico
ou com pertinacia rejeita a doutrina mencionada no can. 752, e, advertido
pela Sé Apostólica ou pelo Ordinario, nao se retrata;

2S aquele que, de outro modo, nao obedece a legítima ordem ou


proibigáo da Sé Apostólica, do Ordinario ou do Superior e, depois de
advertencia, persiste na desobediencia".

A inadequacáo do Código de 1983 ao texto da Profissáo de Fé


datado de 1989 levou o S. Padre a escrever o Motu Proprio Ad tuendam
Fidem. Neste documento Joao Paulo II chama a atencáo para a necessi-
dade do ajuste e determina que sejam complementados os cánones 750
e 1371 do Código de Direito Canónico e o canon 598 do Código dos
Cánones das Igrejas Orientáis.

No Código de Direito Canónico, o canon 750 passa a ter dois pa-

496
"PARA A TUTELA DA FÉ" 17

rágrafos: o primeiro é o texto de 1983; o segundo, acrescentado, tem a


seguinte redacáo:

"2a. Todos e cada um dos artigos propostos em termos definitivos


pelo magisterio da Igreja referentes afee a Moral, isto é, aqueles que se
fazem necessários para salvaguardar piedosamente e expor fielmente o
depósito da fé, devem ser firmemente aceitos e sustentados; por isto quem
negar as proposigoes que devem ser professadas definitivamente, opóe-
se a doutrina da Igreja Católica".

O canon 1371 seja doravante lido com referencia ao canon 750


nos seguintes termos:

"Canon 1371. - Seja punido com justa pena:

1g. aquele que, além do caso mencionado no canon 1364 § 1S,


ensina doutrina condenada pelo Romano Pontífice ou por um Concilio
Ecuménico ou com pertinacia rejeita a doutrina mencionada no canon
750 § 2B ou no canon 752, e, advertido pela Sé Apostólica ou pelo Ordi
nario, nao se retrata...".

Á guisa de esclarecimento, seja dito:


- o canon 752 reza o seguinte:

"Nao assentimento de fé, mas religioso obsequio da inteligencia e


da vontade deve ser prestado á doutrina que o Sumo Pontífice ou o cole
gio dos Bispos, ao exercerem o magisterio auténtico, anunciam sobre a
fé e a Moral, mesmo quando nao tenham a intengáo de proclamá-la por
ato definitivo; portanto procurem os fiéis evitar tudo o que nao esteja de
acordó com ela".

Como exemplo de tal doutrina nao ensinada em termos definitivos,


mas merecedora de religioso obsequio, está o teor das encíclicas pa
páis, das Exortacóes Apostólicas, das Cartas Apostólicas.

Foi precisamente para tutelar a segunda categoría de verdades


atrás enunciadas que o S. Padre quis promulgar o Motu Proprio Ad
tuendam Fidem. Tal documento comeca exatamente com as seguintes
palavras:

"Para a tutela da fé da Igreja Católica contra erros que se levantam


da parte de alguns fiéis, principalmente daqueles que se dedicam ao es-
tudo das disciplinas da Sagrada Teología, pareceu-nos sumamente ne-
cessário... que no texto do Código de Direito Canónico e no Código dos
Cánones das Igrejas Orientáis sejam acrescentadas normas...".

A propósito impde-se breve reflexáo.

497
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

3. Ponderando...

O S. Padre, ao introduzir o seu Motu Proprio, lembra que Ihe foi


confiado o encargo de confirmar seus irmaos na fé (Le 22,32). O Senhor
Jesús fez de Pedro e seus sucessores os tutores das verdades revela
das, a fim de que nao fossem ao leu ou nao se desvirtuassem ao passar
de geracao em geracáo. Daí o dever que incumbe ao Papa Joáo Paulo II,
de se pronunciar com autoridade sempre que esteja em perigo algum
artigo da mensagem da fé crista. No caso em foco, alias, o Papa nada de
novo afirmou; apenas atualizou o Código de Direito Canónico, dando-lhe
a redacao necessária para que correspondesse a um documento da Igreja
promulgado após a publicacao do Código em 1983. Esta revisáo dos
cánones 750 e 1371 impunha-se nao somente por urna questáo de coe-
réncia jurídica, mas também por causa de contestacoes que alguns teó
logos tém levantado contra o magisterio do Sumo Pontífice; sao despro
positadas e também prejudiciais ao povo de Deus, frente ao qual preten-
dem lancar o descrédito sobre o que S. Santidade promulga no pleno
exercício de seus direitos e deveres.

O Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregacáo para a Dou-


trina da Fé, redigiu um Esclarecimento ao Motu Proprio Ad tuendam
Fídem. Observa bem que tal documento tem em mira principalmente
defender as verdades da segunda categoría e acrescenta:

Todo fiel deve prestar um firme e definitivo assentimento a tais


verdades, baseando-se sobre a fé na assisténcia do Espirito Santo ao
magisterio e sobre a doutrína católica referente á infalibilidade do magis
terio no tocante a tais proposigóes".

A seguir, compara entre si as verdades da primeira e da segunda


categorías e afirma que "é importante enfatizar que nao há diferenca en
tre urnas e outras no concernente ao caráter pleno e irrevogável do as
sentimento que Ihes é devido". A diferenca existe no tocante á virtude da
fé, pois na primeira categoria o assentimento se baseia diretamente so
bre a fé na autoridade da Palavra de Deus, "ao passo que na segunda
categoria ele se baseia sobre a fé no Espirito Santo e na infalibilidade da
autoridade do magisterio da Igreja".

No tocante á ordenacáo de mulheres, o Cardeal ñatzinger lembra


que o S. Padre a rejeitou em Carta de 1994, lomando por base a Palavra
de Deus escrita, constantemente preservada e aplicada na Tradicáo da
Igreja".

Eis, em poucas consideracoes, o sentido do Motu Proprio Ad


tuendam Fidem, que alguns repórteres nao puderam transmitir adequa-
damente, visto tratar-se de assunto eminentemente teológico.

498
Delicada Questáo:

A SALVAQÁO FORA DA IGREJA VISÍVEL

Em sfntese: Todos os homens, pormais diferentes que sejam, tém


em comum: 1) tersido criados todos á imagem e semelhanga de Deus; 2)
remidos todos pelo sangue de Cristo; 3) chamados todos á mesma bem-
aventuranga final. Sendo assim, Deus nao pode deixar de se fazer pre
sente a todos e a qualquer um no decorrer desta vida. Ele interpela cada
qual pela voz do Evangelho ou pela voz da consciéncia. Aqueles que,
sem culpa própria, ignoram Cristo e sua Igreja, mas de boa fé e candida
mente procuram seguir os ditames de sua consciéncia reta e bem forma
da, sacrificándose para seguir o que elesjulgam sera Verdade e o Bem,
estáo seguindo a Deus e poderáo chegará patria celeste preparada para
todos os homens sinceros e retos. Deus nao pede contas a ninguém
daquilo que o próprio Deus nao Ihe confiou.
* * *

O presente artigo se voltará para a delicada questáo da salvacáo


fora da Igreja visível, considerando, de modo especial, a acáo do Espirito
Santo em tal caso. Imp5e-se logo urna observacáo básica.
1. Todos iguais em tres planos

É forcoso reconhecer que todos os homens, por mais diferentes


que sejam pela cultura e por suas crencas religiosas, sao iguais entre si
em tres planos:

1) Todos trazem em si a imagem e semelhanga de Deus, pois


todos sao dotados de inteligencia e vontade e, por isto, aspiram á Verda
de, ao Bem, ao Absoluto, ao Infinito... Sabiamente registrava S. Agosti-
nho: "Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coragáo en-
quanto nao repousa em Ti" (Confissóes). O sinete do Criador está assim
gravado no íntimo de todo ser humano.
2) Todos foram remidos pelo sangue de Cristo, embora muitos
nao conhecam Jesús Cristo. O Sínodo dos Bispos da Asia, realizado em
Roma nos meses de abril e maio de 1998, reconheceu a dificuldade de o
anunciar aos povos de tradicóes religiosas muito antigás, como sao os
hinduístas, os brámanes, os budistas, os confucionistas, os xintoístas...;
verificaram os Bispos que mesmo na Asia se pode apregoar o Evangelho
desde que se mostré que o Cristianismo nao é urna religiáo meramente
ocidental, mas responde aos anseios mais espontáneos do ser humano:
Jesús na Asia é o Compassivo, o Iluminado, o Purificador, o Mestre da

499
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

Sabedoria, o Amigo dos Pobres.

3) Todos sao chamados á mesma bem-aventuranca final ou á


visáo de Deus face-a-face, pois todo ser humano é capax Dei, capaz de
apreender a Deus (Catecismo da Igreja Católica n9 27); ver Gaudium et
SpesnB19§ 1.

2. Deus presente a todos os homens

Se todos os homens sao tao marcados por Deus, compreende-se


que Deus se Ihes torna presente, de modo que o possam de algum modo
perceber.

O Papa Paulo VI, numa alocucáo de 17/05/1972, o insinúa. Cita


Sócrates, que se dizia inspirado por um genio (daimon), e Gandhi, que
afirmava obedecer a urna still small voice, e acrescenta:

"Sem recorrer aos exemplos extraordinarios, cada homem verda-


deiro tem, dentro de si, urna fonte própria, intuitiva e normativa".

A afirmacio é um tanto vaga. Importante, porém, é que ela se refe


re a todos os homens, cristáos e nao cristáos.

O Concilio do Vaticano II explícita tal pensamento, afirmando:

"Na intimidade da consciéncia, o homem descobre urna lei. Ele nao


a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar
e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta leí ¡he
soa nos ouvidos do coragáo: faze isto, evita aquilo. De fato o homem tem
urna lei escrita por Deus em seu coragáo. Obedecer a ela é a própria
dignidade do homem, que serájulgado de acordó com esta lei. A consci
éncia é o núcleo secretfssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozi-
nho com Deus e onde ressoa sua voz. Pela consciéncia se descobre, de
modo admirável, aquela lei que se cumpre no amor de Deus e do próxi
mo" (Const. Gaudium et Spes nQ 16).

É digna de especial atencáo a referencia á consciéncia como


sacrário em que o homem se encontra nao com um genio do além, mas
com o próprio Deus, que indica á criatura a vía de retorno para o Pai,
insuflando-lhe: "Pratica o bem, evita o mal". No mais íntimo de si todo
homem ouve essa voz delicada do Criador.

É claro que tal realidade, com mais razáo ainda, se verifica no cris-
táo, que é feito templo da Ssma. Trindade desde o seu Batismo; cf. Rm
8,15; Gl 4,4. O Cristianismo é a resposta, por excelencia, ás aspiracoes
de todo homem, como insinúa Tertuliano (f 220 aproximadamente) ao
exclamar: "Ó testemunho da alma naturalmente crista!" (Apologeticum 17).
Por ser templo do Espirito Santo (1 Cor 6,19), o cristáo tem mais do

500
A SALVAQÁO FORA DA IGREJA VISÍVEL

que urna titile small voice a Ihe falar; tem o Mestre interior, que é o próprio
Espirito Santo, o qual Ihe ensina o sentido profundo das palavras de Deus
que ele capta com os ouvidos. É Santo Agostinho quem o diz:
"Vede já, irmáos, este grande misterio: o som de nossas palavras
fere o ouvido: o Mestre, porém, está dentro. Nao penséis que alguém
aprenda alguma coisa do homem. Podemos chamar a atengáo com o
ruido de nossa voz; mas, se no nosso interior nao estiver aquele que nos
ensina, será vá nossa pregagáo. Irmáos, queréis dar-vos conta do que
vos digo? Por acaso nao escutais todos este sermáo? Mas quantos sai-
rao daquisem se instruir! Pelo que toca a mim, faleia todos; mas aqueles
a quem nao fala aqueta Ungáo [Agostinho se referia a Uo 2,20.27], a
quem o Espirito Santo nao ensina interiormente, saem daqui sem instru-
gáo. O magisterio externo consiste em certas ajudas e avisos. Mas quem
instruí os coragdes, tem sua cátedra no céu. Logo, é o Mestre interior
quem ensina. Onde nao estiver sua inspiragáo nem sua ungáo, inútilmen
te soaráo no exterioras palavras".

Visto que Deus se faz presente a todo ser humano, abordemos


agora a questáo:

3. A salvacáo fora da Igreja Católica

O Concilio do Vaticano II considerou o problema, recolhendo os


dados da teologia dos últimos séculos. Assim se exprime a Constituicáo
Lumen Gentium n916:

"O Salvador quer que todos os homens se salvem (cf. 1Tm 2,4).
Portanto aqueles que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua
Igreja, mas buscam Deus de coragáo sincero e tentam, sob o influxo da
graga, cumprirpor obras a sua vontade conhecida através dos difames
da consciéncia, podem conseguir a salvagáo eterna. E a Providencia Di
vina nao nega os subsidios necessários a salvagáo aqueles que sem
culpa aínda nao chegaram ao conhecimento expresso de Deus e se es-
forgam, nao sem a divina graga, por levar urna vida reta".

A Constituicáo Gaudium et Spes n9 22 volta ao assunto:

"Isto (a participagáo no misterio pasca!) vale nao somente para os


cristáos, mas também para todos os homens de boa vontade, em cujos
coragdes a graga opera de maneira invisível. Com efeito, tendo Cristo
morrído por todos e sendo urna só a vocagáo última do homem, isto é,
divina, devemos admitir que o Espirito Santo oferece a todos a possibi-
lidade de se associarem, de modo conhecido por Deus, a este misterio pascar

Como se vé, o Concilio deixa claro que nao é o esforco do "bom


pagáo" que Ihe vale a salvacáo, mas é a graca de Deus oferecida a todos
que os leva a mobilizar-se em demanda do Bem. Nenhum ser humano é

501
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

privado dos subsidios necessários á salvacáo, sendo que Deus nao pede
a um nao cristao contas da fidelidade ao Evangelho, que ele ignora.

Aínda mais recentemente, na encíclica sobre a Missáo do Reden


tor, o Papa Joáo Paulo II professou e desenvolveu essa concepcáo oti-
mista:

"A universalidade da salvagáo em Cristo nao significa que eia se


destina apenas aqueles que, de maneira explícita, créem em Cristo e
entraram na Igreja. Se é destinada a todos, a salvagáo deve ser posta
concretamente á disposicáo de todos. É evidente, porém, que, hoje como
no passado, muitos homens nao tém a possibilidade de conhecer ou acei
tara revelagáo do Evangelho, e de entrama Igreja. Vivem em condigóes
socioculturais que o nao permitem, e freqüentemente foram educados
noutras tradigóes religiosas. Para eles, a salvagáo de Cristo tornase aces-
sívelem virtue de urna graga que, embora dotada de urna misteriosa reía-
gao com a Igreja, todavía nao os introduz formalmente nela, mas ilumina
convenientemente a sua situagáo interior e ambiental. Esta graga pro-
vém de Cristo, é fruto do seu sacrificio e é comunicada pelo Espirito San
to: ela permite a cada um alcangara salvagáo, com a sua livre colaboragáo.

"Por isso o Concilio, após afirmar a dimensáo central do Misterio


Pascal, diz: 'Isto nao vale apenas para aqueles que créem em Cristo,
mas para todos os homens de boa vontade, no coragáo dos quais opera
invisivelmente a graga. Na verdade, se Cristo morreu por todos e a voca-
gáo última do homem é realmente urna só, isto é, a divina, nos devemos
acreditar que o Espirito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus
conhece, a possibilidade de serem associados ao Misterio Pascal" (nB 10).

Tal concepcáo está longe de induzir ao relativismo, pois o Concilio


afirma a singularidade da Igreja Católica fundada por Cristo e entregue
ao pastoreio de Pedro e seus sucessores; cf. Lumen Gentium na 8; Unitatis
Redintegratio nB 8.

A encíclica Ut unum sint de Joáo Paulo II aplica estas idéias ás


comunidades cristas nao católicas, reconhecendo nelas valores que de-
vem ser levados á sua plenitude:

"10. O Concilio diz que 'a Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católi
ca, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunháo com
ele', e contemporáneamente reconhece que fora da sua comunidade vi-
sível, se encontram muitos elementos de santificagáo e de verdade, os
quais, por serem dons pertencentes á Igreja de Cristo, impelem para a
unidade católica'.

" 'Por isso, as Igrejas e Comunidades separadas, embora creíamos


que tenham defeitos, de forma alguma estáo despojadas de sentido e de
significagáo no misterio da salvagáo. Pois o Espirito de Cristo nao recusa

502
A SALVAgÁO FORA DA IGREJA VISÍVEL 23

servirse délas como de meios de salvagáo cuja virtude deriva da própria


plenitude de graga e verdade confiada á Igreja Católica'.

"11. Desse modo, a Igreja Católica afirma que, ao longo dos dois
mil anos da sua historia, foi conservada na unidade com todos os bens
que Deus quer doar a sua Igreja, e isso apesar das crises, por vezes
graves, que a abalaram, as faltas de fidelidade de alguns dos seus minis
tros, e os erros que diariamente investem os seus membros. A Igreja
Católica sabe que, gragas ao apoio que Ihe vem do Espirito Santo, as
fraquezas, as mediocridades, os pecados, e ás vezes as traigóes de al
guns dos seus filhos, nao podem destruir aquilo que Deus nela infundiu
tendo em vista o seu designio de graga. E até 'as portas do inferno nada
poderáo contra ela' (Mt 16,18). Contudo, a Igreja Católica nao esquece
que, no seu seio, muitos eclipsam o designio de Deus. Ao evocar a divi-
sáo dos cristaos, o Decreto sobre o ecumenismo nao ignora 'a culpa dos
homens dum e doutro lado', reconhecendo que a responsabilidade nao pode
seratribuida somente aos 'outros'. Porgraga de Deus, porém, nao foi destruido
o que pertence á estrutura da Igreja de Cristo e nem mesmo aquela comu
nháo que permanece com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais.

"Com efeito, os elementos de santificagáo e de verdade presentes


ñas outras Comunidades cristas, em grau variável duma para outra, cons-
tituem a base objetiva da comunháo, aínda imperíeita, que existe entre
elas e a Igreja Católica.

"Na medida em que tais elementos se encontram ñas outras Comu


nidades cristas, a única Igreja de Cristo tem nelas urna presenga operante.
Poresse motivo, o Concilio do Vaticano II fala de certa comunháo, embo-
ra imperíeita. A Constituigao Lumen Gentium ressalta que a Igreja Cató
lica 'vé-se unida por muitos títulos'a estas Comunidades, por certa uniao
verdadeira no Espirito Santo".

No Brasil (como em outros países latino-americanos) o protestan


tismo se acha assaz matizado: ao lado de denominacoes tradicionais,
encontra-se o pentecostalismo, muito marcado pelas emocóes subjeti
vas. Pode-se crer que muitos membros de tais comunidades estejam de
boa fé ou candidamente fora da Igreja Católica; estao compreendidos na
categoría de nao católicos de que tratam Lumen Gentium 16 e Gaudium
et Spes 22. Verifica-se, porém, que algumas recentes denominares
pentecostais sao ferrenhamente agressívas á Igreja Católica no intuito
de a destruir (caso isto fosse possível); recorrem a falsas alegacoes ins
piradas por preconceitos cegos. Isto suscita a pergunta: o Espirito Santo
opera também naqueles que asslm procedem? Nao se vé como dar res-
posta positiva a esta questáo; diz o Senhor Jesús que a mentira tem por
pai o próprio Satanás (cf. Jo 8,44). Queira o Espirito Santo ilumínar-lhes
a mente e converté-los á Verdade e ao Amor!

503
Na Ordem do Día:

RELIGIAO: FATOR DE PROSPERIDADE MATERIAL?

Em síntese: Os dois artigos seguintes analisam a tendencia de


aigumas correntes contemporáneas a apresentara religiao como fatorde
enriquecimento e solugáo de problemas temporais. Os respectivos auto
res sao protestantes, que, por isto mesmo, gozam de autoridade especi
al, visto que alguns grupos protestantes atraem os crentes com promes-
sas gratuitas de milagres e prosperidade.

A revista protestante ULTIMATO, em seu número de julho 1998,


pp. 3 e 4, publicou dois artigos relativos á alegacáo de que religiao traz
prosperidade material e solucáo de problemas temporais. As pondera-
coes apresentadas sao muito sabias e pertinentes; revestem-se de parti
cular autoridade pelo fato de que, principalmente em ambientes protes
tantes, se apregoa tal concepcáo de religiao. Váo, a seguir, reproduzidas
as duas páginas, cujos autores ficaram no anonimato.

«O CASAMENTO DA RELIGIAO COM O CIFRÁO

Cresce cada vez mais o casamento da religiao com a prosperida


de. O ter continua atraindo mais que o ser. O fim principal do homem nao
é glorificar a Deus nem gozá-lo para sempre, como queriam os teólogos
da Assembléia de Westminster na metade do século XVII. O fim principal
do homem é a seguranca financeira, sao os bens de consumo, é o con
forto proporcionado pela máquina, é a beleza do corpo, a bejeza da rou-
pa, a beleza das jóias, a beleza da casa, a beleza do carro. O que se
valoriza, é a criatura e nao o Criador, a saúde do corpo e nao a saúde da
alma, o tempo presente e nao a eternidade.

A religiao está em alta. A explicacáo dada pela escritora Walnice


Nogueira Galváo, professora aposentada de Teoría Literaria da USP, é
que "o mundo está ficando táo insatisfeito que as pessoas estáo se vol-
tando para a religiao". Nao importa qual a religiao. Pode ser o cristianis
mo, pode ser o esoterismo, pode ser a mistura do cristianismo com o
esoterismo (ai está Paulo Coelho). Nao há pureza doutrinária. Nao há
necessariamente mudanca de caráter, mudanca de vida. Em muitos ca
sos a religiao nao tem provocado renuncia, nao tem provocado despren-
dimento, nao tem provocado humildade.

504
RELIGIÁO: FATOR DE PROSPERIDADE MATERIAL? 25

Parece que algumas mulheres convertidas ao rebanho evangélico


continuam sexy, como a cantora Gretchen e a modelo Monique Evans. É
o que diz a Folha de Sao Paulo (12/4/98). Parece que algumas mulhres
convertidas á Renovagáo Carismática Católica continuam fúteis, como a
socialite Gisella Amaral, que tem mais de cinqüenta tercinhos para com
binar com a roupa. É o que ela mesma diz. A élite carismática usa colar
de pérola e ouro de 1.344 reais, terco de pérola e ouro de 672 reais,
medalha de 600 reais e anéis de ouro de 345 reais. Todas as jóias tém a
imagem de Nossa Senhora Milagrosa (Veja, 8/4/98).

Boa parte do movimento neopentecostal, tanto protestante como


católico, está comprometido com a chamada Teología da Prosperidade,
o oposto da Teologia da Libertacao. O casamento da religiao com a pros
peridade é sólido, mais consolidado que muitos matrimonios entre ho
mem e mulher. Nao há sinais de ruptura á vista. A fé religiosa é conside
rada um trampolim para a obtencáo e manutengáo da qualidade de vida.
Zilda Couto, esposa do dono da construtora Emig, testemunha: 'Há um
ano, muitos dos meus imóveis estavam desalugados. Orei para que a
situacáo melhorasse e foi incrível: dois meses depois, eles estavam to
dos ocupados'. As béncáos recebidas por meio da oracáo sao quase
sempre ligadas á prosperidade. Como, por exemplo, no caso de Cristina
Simonsen e Cristina Cabrera, ambas vítimas de ladróes milagrosamente
salvas, a primeira de perder um relógio avaliado em 30.000 dólares, e a
segunda de perder suas jóias.

O Jesús atual parece proteger a riqueza dos ricos e o Jesús dos


velhos tempos mandava ajuntar tesouros no céu, 'onde os ladróes nao
arrombam nem furtam' (Mt 6,19). O Jesús de hoje parece encorajar a
riqueza e o Jesús de ontem explicava que 'mais bem-aventurado é dar
do que receber' (At 20,35). O Jesús deste final de século parece nao
esvaziar os bens de ninguém e o Jesús do Evangelho encorajava o esva-
ziamento das riquezas, em beneficio da própria pessoa, em beneficio
alheio e em beneficio do reino de Deus (Le 18,18-30; 19,1-10).

No casamento da religiao com o cifráo há coisas muito esquisitas.


Hoje, o perigo é Jesús nos causar um desapontamento, como se pode
ver nestas palavras de Ángela Guerra, esposa do ex-ministro Alceni Guer
ra: 'Nao pego as coisas a Jesús para amanhá. É para hoje. Oro e pego
que Ele nao me desaponte'. Ontem, o perigo era nos desapontarmos a
Jesús.

O lado mau desse novo despertar religioso é que os novos crentes


nao conseguem enxergar o valor das riquezas acumuladas no céu. Sao
como aquele homem muito rico que procurou Jesús e depois desistiu
dele (Le 18,18-23)»».

505
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

«Riqueza e sabedoria

Qual das duas é mais necessária? Qual é a nossa maior necessi-


dade? O que pedimos a Deus com mais freqüéncia?

Parece que está havendo um erro de orientacáo muito grave, que


tem causado nao pequeño maleficio á Igreja e, ao mesmo tempo, urna
afluencia enorme de novos crentes. Esse erro de orientacáo agrada á
massa e atrai discípulos. Ele se propaga rápidamente pelo pulpito, pela
televisáo e pelos livros.

Nunca se orou tanto como hoje em dia. No mundo inteiro. Em to


das as reiigioes. Tanto ñas igrejas históricas como ñas igrejas pentecostais
e carismáticas, talvez mais nestas que naquelas. Além do seu aspecto
devocional, de comunháo com Deus, a oracáo tem sido anunciada e usa
da como instrumento válido e certo de adquirir, preservar e aumentar
tesouros na térra. (Veja O casamento da religiáo com o cifrao ñas pági
nas anteriores).

Por que nao oramos também por outros valores, por outras gracas,
por outras béncáos, certamente muito mais necessárias e valiosas que
as riquezas? Em nossas oracóes nao temos o costume de suplicar a
Deus coisas como amor, compaixáo, desprendimento, humildade, paci
encia, coragem, entusiasmo, alegría, pureza sexual, direcáo, poder para
testemunhar e assim por diante. Será que esses dons valem menos que
as riquezas? Qual desses dois grupos de oracáo contribuí mais para a
implantacáo e expansáo do reino de Deus na térra?

A oracáo é o instrumento adequado para se adquirir sabedoria,


urna das nossas maiores carencias. É Tiago quem explica: "Se algum de
voces tem falta de sabedoria, peca a Deus, que a todos dá livremente, de
boa vontade; e Ihe será concedida" (Tg 1,5 NVI). Foi exatamente isso
que Salomáo rogou a Deus, quando era jovem e tinha acabado de subir
ao trono de Israel, em lugar de seu pai Davi (1 Rs 3,3-15). Ele fez o me-
Ihor uso possível da oracáo e Deus se agradou muito de sua súplica.
Salomáo era um homem encantado com a sabedoria e a ela se refere
quase urna centena de vezes nos livros de Proverbios e Eclesiastes.

Outro escritor bíblico apaixonado por esse tipo de sabedoria que


promana de Deus, é Jó. E é exatamente Jó que faz comparacáo entre a
sabedoria e riqueza. Para ele a sabedoria é muito mais cara que o ouro
fino, o ouro de Ofir, muito mais preciosa que o ónix, a safira, o coral, o
cristal, as pérolas e o topázio da Etiopia (Jó 28,12-28).

A sabedoria a que se refere a Biblia nao é a sabedoria dos sabios


deste mundo. É urna sabedoria sobria, centralizada em Deus, que ensi-

506
RELIGIÁO: FATOR DE PROSPERIDADE MATERIAL? 27

na a viver e a morrer, que tem fortes conotacóes éticas, que sabe distin
guir com acertó a luz das trevas, que promove um bom relacionamento
do ser humano com Deus. O ponto de partida dessa sabedoria dinámica
é o temor do Senhor. Daí o testemunho de Salomáo: "Para ser sabio é
preciso primeiro temer ao Deus Eterno. Se vocé conhece o Deus Santo,
entáo tem compreensáo das coisas" (Pv 9,10 BLH). Esse mesmo concei-
to de sabedoria aparece em Jó (28,28) e nos Salmos (111,10)».

A fim de ilustrar os dizeres de táo sabios artigos, seguem-se urna


poesía e urna estória cheias de significacáo moral, que também é crista.

SEJA!

Se vocé nao puder ser um pinheiro no topo de urna colina,


Seja urna arbusto no vale.
Mas seja o melhor arbusto á margem do regato.
Seja um ramo, se nao puder ser urna árvore.

Se nao puder ser ramo, seja um pouco de relva


e dé alegría a algum caminho.
Se vocé nao puder ser almfscar, seja entáo apenas urna tilia,
mas a tilia mais viva do lago!

Nao podemos ser todos capitáes; temos de ser trípulacáo.


Há alguma coisa para todos nos aquí.
Há grandes obras e outras menores a realizar,
Eéapróxima tarefa que devemos empreender.

Se vocé nao puder ser urna estrada, seja urna senda.


Se nao puder ser o sol, seja urna estrela.
Nao é pelo tamanho que terá éxito ou fracasso,
Mas seja o melhor do que quer que vocé seja!

Sem comentarios...

Segue-se urna estória.

PENSE NISTO

Logo após a Primeira Guerra Mundial, um jovem piloto inglés ex-


perimentava o seu frágil aviáo monomotor numa arrojada aventura ao
redor do mundo.

Pouco depois de levantar vóo de um dos pequeños e improvisados


aeródromos na india, ouviu um estranho ruido que vinha de tras do seu
assento. Percebeu logo que havia um rato a bordo e que poderia, roendo
a cobertura da lona, destruir o seu frágil aviáo. Poderia voltar ao aeropor-
to para se livrar de seu incómodo, perigoso e inesperado companheiro

507
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

de viagem. Lembrou-se, contudo, de que ratos nao resistem a grandes


alturas. Voando cada vez mais alto, percebeu, pouco a pouco, cessarem
os ruidos que quase punham em perigo sua viagem.

Assim é a vida...

Quando "ratos" ameacam destrui-lo por inveja... calúnia... ou male


dicencias...

Se o agridem... voe mais alto...

Se o ofendem... voe mais alto...

Se o acusam... voe mais alto...

Se o criticam... voe mais alto...

Se Ihe fazem injusticas... voe mais alto...

Lembre-se ... os "ratos" nao resistem ás alturas...

Deus Espirito Santo, por Charles Journet. Tradugáo de José


Madureira Beca. Colegio "Obras Básicas74. - Editora Santuario de
Aparecida e Editora Perpetuo Socorro do Porto (Portugal) 1998, 145 x
210 mm, 132 pp.

O Cardeal Charles Journet foi um grande teólogo, professor da


Universidade de Friburgo (Suíga). Além de obras de Teología Dogmática,
deixou escritos de índole ascético-mística correspondentes a retiros que
pregava, associando entre si um profundo saber teológico e urna lingua-
gem simples e compreensível. O presente livro resulta do último retiro
que Ch. Journet pregou, sendo assim o testamento espiritual do mestre.
Compreende duas partes: I. O Espirito Santo no Misterio Trinitario de
Deus e II. Virtudes e Dons do Espirito Santo. Esta segunda parte desen-
volve a riqueza de gragas que o cristáo recebe através dos sacramentos
e explana o significado de cada um dos sete dons do Espirito Santo.

"Existe, por exemplo, a virtude da temperanga crista, que nos ajuda


a usar todas as coisas que estáo a nossa disposigáo como se fossem
apenas emprestadas,... fazendo-nos ver que nao temos um direito abso
luto sobre elas, mas apenas o dever de as usarmos e gerirmos para a
nossa felicidade e para a felicidade do nosso próximo" (pp. 88s).

O livro muito se recomenda a quem deseje aprofundar a sua vida


espiritual.

508
Obra de grande sucesso:

"BRIDA"
de Paulo Coelho

Em síntese: O livro Brida de Paulo Coelho relata as etapas de


iniciagáo de urna jovem irlandesa nos segredos da magia. É obra alta
mente fantasiosa, a ponto de carecer de nexo lógico e incidir em contra-
digóes. O autor se vale de concepgóes panteístas, animistas,
reencarnacionistas..., dando-lhes por vezes um rótulo cristáo e bíblico,
que pode iludir muitos leitores.

O éxito desta e das outras obras de Paulo Coelho se deve, em


grande parte, ao fato de que toca urna fibra neurálgica da sociedade con
temporánea: os homens parecem estar cansados do materialismo e do
tecnicismo; nao véem solugáo para graves problemas que afligem o mun
do; por isto sao propensos a aceitar a proposta de solugóes maravilho-
sas ou mágicas, mesmo que venham apresentadas em discurso ilógico e
incoerente; o emocional prevalece nao raro sobre o racional em nossos
dias.

O cristáo é consciente dos males que afligem a sociedade, mas


nao se desliga da razáo e da fé. Sabe que existe a Providencia Divina e
que esta jamáis abandona "a obra de suas máos"; Deus sabe tirar dos
males que o homem comete, bens aínda maiores (S. Agostinho). Por isto
o cristáo pede a Deus as gragas necessárias para o mundo de hoje, cien-
te de que a oragáo associada a urna conduta de vida fiel e santa é o
tesouro mais valioso de que o mundo precisa.

Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro em 1947. Aos 25 anos de


idade, após certo período vivido ñas funcoes de ator e diretor de teatro,
resolveu dedicar-se inteiramente á música e ao jornalismo. Editou em
1972 a revista 2001, que retratava o estilo de vida e o pensamento da
década de 1970. A partir desta data, iniciou os estudos de Magia e Ocul
tismo, que o levaram a ingressar em diversas "Ordens Místicas" e partici
par de Seminarios no mundo inteiro. Em 1986, depois de percorrer a pé
a rota medieval de Santiago de Compostella, escreveu O Diario de um
Mago; no ano seguinte, lancou o livro O Alquimista; em 1990 Brida.
Estas obras tém tido edicóes sucessivas e enorme divulgacáo, tornando-

509
30 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

se um fenómeno da literatura brasileira contemporánea1.

Deter-nos-emos sobre o volume BRIDA, que narra o caminho de


iniciacáo na magia percorrido ficticiamente por urna jovem irlandesa cha
mada Brida. Trata-se, como dito, de ficcao, mas ficcáo que vem chaman
do a atencáo do grande público, como se estivesse propondo verdades
desconhecidas e extraordinariamente gratificantes.

1. Alguns tragos do livro

A iniciacáo da bruxa Brida O'Fern na magia faz-se na escola de


outra bruxa, chamada Wicca, e na de um mago da montanha de Folk.

As etapas desse processo sao acidentadas; implicam visñes, re-


gressio no tempo, leitura de cartas de Taró, etc. A fantasía se esmera
por descrever cenas de clareira de floresta, de alto de montanha, de pe-
netracáo em catedral, em biblioteca de subsolo, ritos de cristal de quart-
zo, de pequeña ametista, nudez...

As concepcóes filosófico-religiosas subjacentes ao enredo do livro


sao as do panteísmo revestido de alusóes esdrúxulas á Biblia, como se
esta pudesse coadunar-se com aquele.

"Somos eternos" (p. 87).

"Deus se manifesta em tudo, mas a palavra é um dos seus meios


favoritos de agir" (p. 92).

1 Noticia a revista de Domingo do JORNAL DO BRASIL, de 9/08/98, p. 26: «Trata-


mentó de choque. No dia primeiro de junho de 1996, o engenheiro Pedro Coelho
levou seu filho, Paulo, a urna simples consulta na Casa de Saúde Dr. Eiras, em
Botafogo. Chegandolá, foram recebidos por urna freirá que, virando-se para o meni
no, disse: 'Seu quarto é no nono andar'. Comecava assim a primeira das tres
intemacóes sofrídas pelo escritor Paulo Coelho. O prontuario do entáo adolescente
de 17 anos tenta justificar a decisao do pai: 'Segundo o pal, o paciente vem apresen-
tando modificacoes psicológicas... tornou-se agressivo, hostilizando abertamente os
genitores. Ató politicamente mostrase contrario ao pai'. Aos 85 anos, Pedro Coelho
tenta explicar hoje a atitude tomada há 23 anos: 'Havfamos perdido o controle sobre
nosso filho. Eu, que sempre quis vé-lo engenheiro, nao podería deixá-lo fazendo
teatro, andando em más companhias, principalmente naquela época, um período
muito conturbado. Ainda assim, acho que nao deveria té-lo internado. Se o fíz, foipor
recomendagáo módica'.
Paulo Coelho desculpa o pai. Mais: diz que nao há culpa alguma, porque, segundo
ele, nao houve crime algum. 'Papai fez aquilo como forma de me proteger, de se
aproximar mais de mim. Tanto que, em todas as internagdes, ele nunca deixou de
me visitar'. A visita do pai ó urna de suas lembrancas mais constantes. Junto com os
luminosos da Bafa de Guanabara, vistos de sua janela, do violáo e da máquina de
escrever em seu quarto e dos choques elétricos que tomava. Nao achava muito
ruim, os choques. 'É horrível de ver, mas para quem está tomando é até confortável.
Dá urna certa dorméncia. Eso'».

510
"BRIDA" 31

"As palavras eram Deus" (p. 93).

Nao obstante, o autor fala de criacáo (p. 46), conceito que supoe
Deus distinto do mundo e nao identificado com o mundo.

As almas se dividem ou repartem, de modo a explicar o aumento


da populacáo mundial. Por isto cada individuo tem urna Outra Parte ou
Outras Partes, que Ihe correspondem e que se derivaram da mesma alma
inicial. As almas ou as partes de alma se encarnam em sucessivas
encarnacóes (pp. 43s).

Há, porém, criaturas que descendem dos anjos (p. 69). "O resto da
humanidade só conseguirá a uniáo com Deus se, em algum momento,
em algum instante de sua vida, conseguir comungar com a sua Outra
Parte" (p. 69).

As florestas sao regidas por espíritos, que "gostam de gentilezas


ou do pedido de licenca daqueles que desejam penetrar nos seus bos
ques" (p. 7).

Afinal de contas, "tudo no Universo tem vida; procure estar sempre


em contato com esta vida. Ela entende a sua linguagem" (p. 68). - Isto
supóe o animismo ou a animacáo das criaturas irracionais por espíritos
superiores.

Todo esse ecleticismo filosófico-religioso é acompanhado de lin


guagem e conceitos da Biblia e do Cristianismo. Assim o Evangelho (Le
15,8s) é citado em folha de rosto; o salmo 90, á p. 31; o livro do Génesis,
ás pp. 45 e 273. A "Noite Escura" de Sao Joáo da Cruz é constantemente
citada para indicar o processo de iniciacáo na Magia (cf. p. 26.63.279). O
Anjo da Guarda aparece ás pp. 30s.

A Magia é definida como "urna ponte..., urna ponte que permite a


vocé andar do mundo visível para o invisível. E aprender as licóes de
ambos os mundos" (p. 24). Ora é precisamente o contato com o mundo
invisível e seus segredos ou seus misterios que Brida quer conseguir e
que os bruxos Ihe ensinam. Quem é iniciado na Magia, "pode gozar de
poderes extraordinarios, como o de mudar a direcáo do vento, abrir bura
cos em nuvens, utilizando apenas a forca do pensamento. Brida, como
todo o mundo, era fascinada por prodigios dessa natureza" (p. 28).

Nao falta a referencia ao amor, vocábulo escrito com A maiúsculo,


mas em termos confusos:

"A esséncia da Criacáo é urna só...E esta esséncia se chama Amor.


O Amor é a forga que nos reúne de volta, para condensar a experiencia
espalhada em muñas vidas, em muitos lugares do mundo" (p. 46).

511
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

2. Que dizer?

Proporemos tres pontos de reflexáo.

2.1. Fícelo ilógica

1. Paulo Coelho é um artista de teatro e conserva esta sua vocacao


mesmo no exercício da sua obra literaria: gosta de escrever poéticamen
te, recorrendo copiosamente á ficcáo e á imaginacáo.

2. Infelizmente, porém, faltam ao autor os principios da lógica e


nocóes fundamentáis de Filosofía, de modo que ele cai freqüentemente
em contradices e aberracóes. Destinado como é ao grande público, o
livro vem a ser urna escola poderosa de confusáo mental e obscurantis
mo filosófico-religoso.

Veja-se, por exemplo, o seguinte: no tocante á origem dos homens,


está dito ora que sao eternos (como só Deus), ora que sao descendentes
de anjos (criaturas), ora que resultam de reencarnacao de almas que se
partem para explicar o crescimento demográfico! - Alias, a suposicao de
que as almas humanas se dividem como células para permitir o aumento
da populacao é ilógica; o espirito nao tem partes e, por isto, nao se pode
repartir.

A teoría de que tudo no universo tem vida, é chamada "animismo";


vem a ser urna das formas mais primitivas e imperfeitas de Filosofía Re
ligiosa. Prende-se á concepcáo de que os bosques, os ríos, as monta-
nhas, os mares... tém seus espíritos tutores e governadores.

2.2. A confusáo religiosa

A mistura de concepcoes que Paulo Coelho apresenta, se torna


mais grave desde que se considere que ele envolve elevados valores do
Cristianismo como se fossem condizentes com tais nocoes. Com efeito;
é certo que a Biblia é contraria ao panteísmo, á reencarnacao (cf. Hb
9,27; Jo 1,21), a iniciacáo em segredos reservados a poucos privilegia
dos, á supersticáo das cartas ou do Taró.

A "noite escura" de que fala Sao Joáo da Cruz, nada tem que ver
com as etapas de iniciacáo mágica. Mas é a fase de desprendimento das
coisas sensíveis e das consolares pela qual passa o cristáo que vai
progredindo na vida de oracáo.

Na verdade, embora P. Coelho pareca querer "combater o Bom


Combate e manter a fé", como exorta Sao Paulo em 2Tm 4,7 (ver "Répli
ca" em O GLOBO), ele nao o faz como cristáo; nem pode ser tido pelos
leitores como arauto de urna determinada modalidade do Cristianismo.
As concepcóes de suas obras nao sao cristas; deve-se mesmo dizer que

512
"BRIDA" 33

nao se filiam a nenhuma corrente de pensamento, porque implicam con-


tradicóes e incoeréncias: o que é afirmado em alguma página do livro, é
explícita ou implícitamente negado em outra página.

2.3. Magia

A definicáo de Magia como ponte entre o vísível e o ¡nvisível nao é


específica da Magia. Ela se aplica propriamente á Mística (= ascensáo
do visível ao invisível). Tal processo de ascensáo é altamente cristáo; a
mensagem do Evangelho consiste precisamente em dizer-nos que "Deus
se fez visível aos olhos humanos, para que, a partir da intuicáo de Deus
encarnado, os homens se deixassem levar ao amor dos bens invisíveis"
(cf. Liturgia do Natal).

Magia, segundo o Dicionário de Aurelio, é "arte ou ciencia oculta


com que se pretende produzir, por meio de certos atos e palavras e por
interferencia de espíritos, genios ou demonios, efeitos e fenómenos ex
traordinarios, contrarios as leis naturais". - Com outras palavras: Magia é
a arte, conhecida apenas pelos iniciados, de forcar ou dobrar a Divinda-
de mediante a execucáo de rituais ou receitas secretas. Isto difere bem
da Mística, que supóe sempre humildade e devotamento da criatura a
Deus, que é Pai providente.

A procura de magia ou de solucoes maravilhosas para os proble


mas que a ciencia e a tecnología nao conseguem resolver, está muito em
voga nos nossos dias. A humanidade parece estar cansada do materia
lismo e decepcionada pelo cientificismo; vé-se a bracos com problemas
de fome, doencas, analfabetismo, miseria..., que os peritos e técnicos
nao conseguem resolver. Há exigua confianca nos homens que regem
os destinos dos povos (visto que os problemas sao altamente comple
xos). Por isto surge espontamente no psiquismo dos homens contempo
ráneos a expectativa de solucoes mágicas ou maravilhosas, descobertas
em redutos ainda nao explorados, como seriam as escolas de Ocultismo
e Esoterismo.

É esta sede, muito emocional e pouco racional, que explica o su-


cesso dos escritos de Paulo Coelho. O autor toca em ponto nevrálgico da
sociedade contemporánea, pois apresenta o modelo de alguém que, com
éxito, procura os poderes de "mudar a direcáo do vento, abrir buracos em
nuvens, utilizando apenas a torca do pensamento. Brida, como todo o
mundo, era fascinada por prodigios dessa natureza" (p. 28). Estas pala
vras do autor sao de grande importancia para se entender a repercussáo
de sua obra: "Todo o mundo" gostaria de mudar as realidades adversas
pela simples torca do seu pensamento! A proximidade do ano 2000 con
tribuí para agucar a expectativa de uma irrupcáo do Divino e de um outro
mundo no mundo presente.

513
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

É preciso, porém, que o raciocinio exerca urna crítica serena e sa-


dia sobre tal proposta de Paulo Coelho. A inteligencia deve preponderar
sobre as emocóes, penetrando-as, de modo que nao se tornem ilógicas
ou infantis. - O cristáo, de modo especial, é interpelado pelo livro de
Paulo Coelho: ele reconhece a inclemencia dos tempos atuais, mas eré e
confia na Providencia Divina; sabe que o Senhor nao abandona as cria
turas que Ele fez com tanto carinho. As desgracas que atualmente afli-
gem a humanidade, estáo englobadas num plano sabio e santo de Deus.
Este tira dos próprios males que os homens cometem, bens ainda maio-
res, como diz S. Agostinho. Por conseguinte, é na fé e na fidelidade a
Deus que o ser humano encontra reconforto e esperanca neste momento.

Nao há segredos reservados a poucos privilegiados. Nao há recei-


tas de efeitos maravilhosos, detidas por chefes de grupos iniciáticos. Afir
ma o Senhor Jesús:

"Nada há de encoberto que nao venha a ser descoberto, nem de


oculto que nao venha a ser revelado. O que vos digo ás escuras, dizei-o
á luz do dia; o que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados"
(Mt 10,26b-27).

Os anjos existem, sim, mas nao há como os forcar a exercer acáo


benéfica ou maléfica sobre os homens mediante procedimentos mágicos.

A Magia, portanto, corresponde a um sonho inspirado pela hybris


(arrogancia) do homem, que, no seu íntimo, gostaria de ser como Deus
(cf. Gn 3,4s)l

APROXIMA-SE O NATAL...

CARO(A) LEITOR(A), ÑAS PROXIMIDADES DO NATAL, MUITAS


PESSOAS PENSAM EM DAR PRESENTES. NAO RARO ACABAM
DANDO ALGO DE SUPÉRFLUO OU ALGO QUE O(A) BENEFICIADO(A)
JÁ POSSUI OU AÍNDA ALGO QUE SE CONSOMÉ SEM DEIXAR LEM-
BRANCA DO DOADOR. DAÍ A PERGUNTA: POR QUE NAO PENSAR
EM OFERECER UMA ASSINATURA DA SUA REVISTA PR, QUE DE-
VERÁ CHEGAR TODOS OS MESES DO ANO SEGUINTE Á CASA
DO(A) AMIGO(A), RECORDANDO-LHE A AMIZADE DE QUEM PRE-
SENTEOU? A REVISTA PR PROCURA ACOMPANHAR OS
QUESTIONAMENTOS QUE A VIDA DE CADA DIA SUSCITA AOS Cl-
DADÁOS CONTEMPORÁNEOS, PROPONDO-LHES PARÁMETROS
PARA UMA REFLEXÁO CRISTA EM MEIO ÁS DÚVIDAS E AOS DE
SAFÍOS DE NOSSOS TEMPOS. NAO SERIA O CASO DE PROMOVÉ-
LA E PROPAGÁ-LA?
514
Ecleticismo irreverente:

"NA MARGEM DO RIO PIEDRA


EU SENTEI E CHOREI"
por Paulo Coelho

Em sfntese: Paulo Coelho escreve um romance em que o amor de


dois jovens se estreita em torno de valores religiosos ou "místicos". O
rapaz é iniciado numa religiáo tendente a mitología (venera a Máe Térra,
assemelhada á Virgem Santíssima, que, porsua vez, é tida como deusa
ou como a face feminina de Deus); é seminarista católico, que realiza
milagres, mas renuncia ao Seminario e a faculdade de realizar milagres
para se unir a jovem Pilar, amiga de infancia, que ele reencontra após
onze anos de ausencia, tornando-a adepta de suas crengas religiosas,
"místicas" e ecléticas.

O livro é fantasioso e irreverente, pois joga com conceitos e valo


res da fé católica, misturando-os com elementos de mitología e magia.
* * *

Paulo Coelho apresenta mais um de seus livros, sempre no género


da ficcáo religiosa esotérica; tendo por título "Na Margem do Rio Piedra
eu sentei e chorei"1, propóe urna mistura de conceitos cristáos com no-
coes de ocultismo e magia. Dir-se-ia que deseja sugerir urna nova etapa
do Cristianismo, impregnada de feminismo, ao mesmo tempo que explo
ra o namoro e a uniáo de um homem "mago" com urna jovem estudante
espanhola de familia católica.

Dadas as suas ambigüidades, o livro merece comentarios.

1.0 ENREDO

O livro conta a estória de dois jovens que na Espanha se conhece-


ram durante a infancia. Terminada a adolescencia, o rapaz partiu, dizen-
do que ia conhecer o mundo. A moca, chamada Pilar, depois de terminar
seus estudos de segundo grau, foi para Saragoca, onde entrou numa
Faculdade. Trocavam cartas, cuja freqüéncia foi-se amiudando da parte
do rapaz; ele falava sempre mais de Deus e da Mística, ao passo que ela
ia perdendo a fé. Finalmente ele a convida para assistir a urna conferen
cia que ele faria em Madrid; Pilar vai ao seu encontró, e fica surpresa por
perceber que o jovem é famoso conferencista, realiza milagres e é asse-
diado por muitas pessoas carentes. Ela comeca a se maravilhar pelo
1 Ed. Rocco, Rio de Janeiro 1994, 140 x 236 pp.

515
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

vulto desse homem, que também se volta para ela com amor. Os dois se
póem a viajar juntos, pois ele quer mostrar á sua amiga o mundo mágico,
religioso e místico que ele freqüenta; indica-lhe um Seminario "católico"
ao qual está incorporado. Pilar resiste a essas novas idéias, mas vai sen
do fascinada por esse homem, que ela ama cada vez mais. Após diver
sas peripecias e andancas, que váo de sábado 4 de dezembro a sexta-
feira 10 de dezembro de 1993, os dois resolvem unir-se. A fim de o fazer
com a béncáo da Grande Máe (a Virgem María), o rapaz renuncia ao
dom das curas que ele exerce.

Eis o que diz o jovem:

"Ontem eupedia Virgem um milagro... Pedí que retirasse meu dom...


Tenho um pouco de dinheiro, e toda a experiencia que anos de viagem
me deram. Compraremos urna casa, arranjarei um emprego, e servirei a
Deus como fez Sao José, com a humildade de urna pessoa anónima.
Nao preciso mais de milagres para manter viva a minha fé. Preciso de
vocé"(pp.217s).

Pilar parece nao aceitar a troca. O rapaz desaparece. Ela entáo se


póe as margens do Rio Piedra, onde chora, e escreve seu romance. Fi
nalmente o jovem reaparece: ela se alegra e ele, tomando-a pelas máos,
leva-a consigo. Ela pergunta:

"Vocé acha que seu dom voltará?"Ao que ele responde: "Nao sei.
Mas Deus sempre me deu urna segunda chance na vida. Está me dando
com vocé. E me ajudará a reencontrar o meu caminho" (p. 236).

Assim termina o livro; pode impressionar pela fluencia da narrativa,


pela descricáo vivaz de cenas interessantes de amor entre um jovem e
urna jovem..., cenas ñas quais Pilar aparece hesitante, mas cada vez
mais propensa a aceitar o seu parceiro.

Resta agora analisar os conceitos religiosos que o livro veicula,


pois certamente é obra impregnada de senso místico, embora muito con
fuso. Paulo Coelho joga com nocoes e vocábulos do Catolicismo; talvez
queira passar por católico, mas na verdade é eclético, como se depreende
da análise que se segué.

2. ASPECTOS RELIGIOSOS

2.1. Os conceitos de Deus, Deusa...

1. O que mais chama a atencao, no livro, é a ambigüidade do con-


ceito de Deus. Paulo Coelho fala de Deus, Deusa, Deusa-Máe:
"O artista conhecia a Grande Máe, a Deusa, a face misericordiosa
de Deus" (p. 111).

516
"NA MARGEM DO RIO PIEDRA EU SENTEI E CHOREI" 37

A "Deusa" será a 'lace misericordiosa de Deus"? Trata-se de mera


forca de expressáo?

2. Em outras passagens o autor identifica María e a própria Divin-


dade. Assim, por exemplo, ao falar da definicáo do dogma da Imaculada
Conceicáo por Pió IX (1854), Paulo Coelho se mostra entusiasta do fato
e afirma que é o primeiro passo do caminho... "do caminho que vai levar
Nossa Senhora a ser considerada a encarnacáo da face feminina de Deus.
Afinal já aceitamos que Jesús encarnou sua face masculina" (p. 171). E
continua:

"Quanto tempo vai demorar para que aceitemos urna Santíssima


Trindade onde a mulher aparece? A SS. Trindade do Espirito Santo, da
Máe e do Filho?" (p. 171).

Ora aqui há auténtica deturpacáo de urna verdade da té cara a


todos os cristáos. As afirmacóes sao levianas; fazem jogo de palavras
que nao tém lógica, ou nao resistem ao crivo da razáo. O desejo de agra
dar ao feminismo pode ter inspirado tais dizeres. Alias, o livro inteiro re
vela grande "devocáo" a María SS.; todavía a Santíssima Virgem é enten
dida quase como figura mitológica; o autor usa vocabulario quase católi
co, mas entende-o em sentido nao católico; nunca se poderá equiparar
María a Jesús, sendo ambos (cada qual a seu modo) a encarnacáo de
Deus, como propóe Paulo Coelho. Sao inaceitáveis os dizeres:

"As pessoas rezavam, cantavam, dangavam na chuva, adorando a


Deus e a Virgem María...". Mais adiante:"... abengoado por Deus e pela
Deusa" (p. 142).

3. A confusáo se torna mais grave e explícita na seguinte passa-


gem, em que o jovem conversa com Pilar a respeito de María SS.:

"Ela foi normal. Teve outros filhos. A Biblia nos conta que Jesús
teve mais dois irmáos.

A virgindade na concepgáo de Jesús se deve a outro fato: María


inicia urna nova era de graga. Ali comega outra etapa. Ela é a noiva cós
mica, a Térra, que se abre para o céu, e se deixa fertilizar.

Neste momento, gragas á sua coragem de aceitar o próprio desti


no, ela permite que Deus venha á Térra. Ese transforma na Grande Máe...

Ela é o rosto feminino de Deus. Ela tem sua própria divindade" (p. 86).

O autor deturpa o conceito de virgindade de María. Veja-se:

a) admite que María teve mais de um filho. Ignora o sentido da


palavra irmáo (= adelphós, em grego; 'ah, em hebraico) nos livros sa-

517
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

grados. 'Ah pode significar familiar ou párente em sentido ampio, como


se depreende de Gn 13,8; 29,12.15; 31,23; 1Cr 23,21-23; 2Cr 36,10... É
de notar também que Jesús, ao morrer, entregou sua Máe aos cuidados
de Joao, filho de Zebedeu e Salomé (cf. Jo 19,25-27); por que o teria
feito, se María tinha outros filhos? O assunto já foi amplamente conside
rado em nosso Curso de Diálogo Ecuménico, Módulo 23 (Caixa postal
1362, 20001-970 Rio, RJ);

b) María é dita "a noiva cósmica, a Térra (com maiúscula), que se


abre para o céu e se deixa fertilizar"... Que significa isto? A afirmacáo
tem sabor mitológico; a Terra-Máe sempre fecunda é, sim, urna figura
das mitologías antigás;

c) "María tem a sua própria divindade". A sá razáo pergunta: existe


mais de urna Divindade? Paulo Coelho recua ao politeísmo e á mitolo
gía? Será isto condizente com o século das luzes (como se chama o
século XX)? Vé-se que o próprio autor recusa definir-se; o diálogo do
jovem com Pilar é interrumpido sem que haja esclarecímento.

A confusáo ou a falta de lógica é aínda mais pronunciada no trecho


abaixo:

"Ficamos ali, aos pés da Virgem... Ela nos olhava. A camponesa


adolescente que dissera Sim ao seu destino. A muiherque aceitou levar
no ventre o filho de Deus, e no coragáo o amor da Deusa. Ela era capaz
de compreender" (p. 120).

4. Na passagem seguinte a linguagem aproxima-se do panteísmo


(tudo é Deus ou tudo é a Divindade):

"Quem parte em busca de Deus, está perdendo seu tempo. Pode


percorrer muitos caminhos, filiarse a muitas religióes e seitas - mas,
desta maneira, jamáis irá encontrá-Lo.

Deus está aquí, agora, ao nosso lado. Podemos vé-lo nesta bruma,
neste chao, nestas roupas, nestes sapatos. Seus anjos velam enquanto
dormimos, e nos ajudam enquanto trabalhamos. Para encontrar Deus,
basta olhará nossa volta" (p. 160).

5. O texto se prolonga na seguinte afirmacáo:

"Para vocé teruma vida espiritual, nao precisa entrar para um se


minario, nem fazerjejum, abstinencia e castidade.

Basta terfé e aceitar Deus. A partir daf, cada um se transforma no


Seu caminho, passamos a ser o veículo de Seus milagres" (p. 161). '

Tem-se a impressáo de que os milagres sao um sinal normal, qua-


se necessário, da vida espiritual,... sinal independente de ascese (jejum,

518
"NA MARGEM DO RIO PIEDRA EU SENTEI E CHOREI" 39

abstinencia e castidade...). Ora nao há vida mística sem ascese, para o


cristáo. A vida mística supóe a purificacáo do coracáo e a isencáo de
paixóes desregradas; o jejum e a abstinencia sao os meios clássicos
(recomendados também por nao cristáos) para promover a liberdade e a
pureza do coracáo. Ademáis o dom dos milagres é tido pela Teología
comO um carisma, que nao pode ser "institucionalizado" ou nao pode ser
reduzido a urna etapa necessária do desabrochamento espiritual.

6.0 texto do livro chega a apresentar urna Oracao á Lúa, que Pau
lo Coelho coloca nos labios de urna das figuras femininas do seu romance:

"Ela abríu os bragos em forma de cruz, virou as palmas das maos


para cima, e fícou contemplando a lúa.

'Onde fui me meter?, pensei. Vim assistira urna conferencia, termi-


neino Paseo de Castellana com esta louca, e amanhá viajo para Bilbao'.

'Ó espelho da Deusa Térra - disse a moga, com os olhos fechados


- nos ensina nosso poder, faze com que os homens nos compreendam.
Nascendo, brilhando, morrendo e ressuscitando no céu, vocé nos mos-
trou o ciclo da sementé e do fruto'. A moga esticou os bragos para o céu,
e fícou um longo tempo nesta posicáo. As pessoas que passavam olha-
vam e riam, mas ela nem se dava conta; quem morria de vergonha, era
eu, por estar ao seu lado'.

'Euprecisava fazeristo, disse, depois de urna longa reverencia para


a lúa. Para que a Deusa nos proteja'" (p. 31).

Como se vé, o título de deusa passa agora para a Lúa. A Lúa tem
como símbolo a agua (p. 33); tocar a agua com os olhos fixos na Lúa
cheia e ao som de urna flauta é algo que faz a muiher reconhecer um
pouco mais a sua natureza de muiher (p. 33). As muiheres aprendem da
Grande Máe, que parece ser a Térra ou até as cavernas (p. 32), sendo
que Cibele (figura das religides antigás da Grecia) é "urna das manifesta-
cóes da Grande Máe... governa as colheitas.sustenta as cidades, devol-
ve á muiher o seu papel de sacerdotisa" (p. 33). Finalmente a moca que
rezou á Lúa e que venera a Grande Máe, confessa: "Fago parte da reli-
giáo da Térra" (p. 34).

Mesmo quem leia com boa vontade as páginas de Paulo Coelho,


encontra serias dificuldades para concatenar os conceitos do autor, colo-
cando-os em ordem sistemática e lógica. Nao se percebe o que o autor
quer dizer propriamente; é certo, porém, que através de suas afirmacóes
confusas e incoe rentes há nítida tendencia a favorecer a exaltacáo da
muiher; o livro assim está "na crista da onda".1 - Julgamos que Paulo
1 Especialmente a figura de María Santfssima é mal tratada pelo modismo contempo
ráneo. Lé-se na imprensa do Rio de Janeiro urna noticia cuja fonte nao nos foipos-

519
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1996

Coelho poderia ter realizado seu propósito feminista sem recorrer á mito-
logia e a falsas alegajes religiosas; a mitología foge da realidade e re
cua a um estágio ultrapassado da historia da humanidade.
2.2. A Nocáo de Religiáo

Em conseqüéncia de táo confusas concepcoes de Deus, compre-


ende-se que Paulo Coelho tenha urna nocáo muito relativista de religiáo;
todas tém o mesmo valor doutrinário, embora nao convirjam entre si,
como se depreende dos dizeres seguintes:

"A verdade está sempre onde existe fé. Olhei de novo a igreja á
minha volta - as pedras gastas, tantas vezes derrabadas e recolocadas
no lugar. O que fazia o homem insistir tanto, trabalhar tanto para recons
truir aquele pequeño templo - num lugar remoto, encravado em monta-
nhas táo altas?

Afé.

- Os budistas estavam com a razáo, os hindus estavam com a ra-


záo, os indios estavam com a razáo, os mugulmanos estavam com a ra
záo, osjudeus estavam com a razáo. Sempre que o homem seguisse -
com sinceridade - o caminho da fé, ele seria capaz de unirse a Deus, e
operar milagres.

Mas nao adiantava apenas saber isto: era preciso fazer urna esco-
Iha. Escolhi a Igreja Católica porque fui criado nela e minha infancia esta-
va impregnada de seus misterios. Se tivesse nascidojudeu, teña escolhi-
do o judaismo. Deus é o mesmo, embora tenha mil nomes; mas vocé
precisa escolher um nome para chamá-lo" (p. 112)

Paulo Coelho apresenta o herói do livro como seminarista: "Entrei


para um seminario aqui perto. Durante quatro anos estudei tudo o que
podia. Neste período fiz contato com os Esclarecidos, os Carismáticos,
as diversas correntes que procuravam abrir portas fechadas havia muito
tempo... Havia um movimento de retorno á inocencia original do Cristia
nismo" (p. 113).

sível identificar com precisáo:

"A forja de Nossa Senhora

Um dos títulos mais fortes na máo da agente literaria Lucia Riff, Mary's message to
the worid, de Annie Kirkwood (Putnam), historia de urna mulher que se comunica
com Nossa Senhora, foi parar com a Record. Na Bienal, Sergio Machado fez oferta
irrecusável, nao deu nem para Lucia abrir leiláo. Tudo indica que Nossa Senhora é o
novo fíláo esotérico, prestes a deshancara mania dos anjos (o que, alias, só confir
ma o estupendo radar de Paulo Coelho nessa área, urna vez que Na margem do Rio
Piedra é justamente sobre a imagem feminina de Deus)".

520
"NA MARGEM DO RIO PIEDRA EU SENTEI E CHOREI" 41^

O próprio Superior do Seminario (que o autor confunde errónea


mente com mosteiro, pp. 113 e 126, e com convento, p. 157) parece
ceder á visáo "carismática" de Paulo Coelho (pp. 164s).

3. REFLEXÁO FINAL

1. O livro de Paulo Coelho pode exercer atracáo sobre o grande


público, porque toca numa fibra delicada do coracáo humano: o senso do
misterio. Deus é, sem dúvida, transcendente, e essa grandeza misterio
sa de Deus parece falar ao coracáo de todo homem que procure o senti
do da vida: Deus é fascinante, como dizem os historiadores da Religiáo.

Todavía o senso do misterio ou a Mística nao pode estar desligado


da razáo; se nao, perde-se em devaneios fantasiosos, em associacáo de
conceitos que nao se combinam entre si e que redundam em vazio jogo
de palavras. A razáo tem o direito de examinar a credibilidade das propo-
sicoes de fé e de Mística que Ihe ocorrem; embora a razáo nao atinja o
ámago do misterio de Deus, que é transcendental, ela pode e deve pro
curar as credenciais das teorías de fé que Ihe sao propostas. Nao basta
falar "bonito" e piedosamente para falar de maneira correta. O grande
público que nao tenha iniciacáo filosófica e o hábito da Lógica, pode tai-
vez impressionar-se com as ascensóes místicas de Paulo Coelho; estas,
porém, nada significam quando submetidas ao crivo do raciocinio.

2. As incursóes de Paulo Coelho dentro das proposicóes da fé ca


tólica, aludindo á SS. Trindade, á Virgem Maria, as aparicóes de Lourdes,
aos carismas do Espirito Santo... ferem o senso religioso dos cristáos em
geral, pois parecem brincar com valores muito preciosos. Maria nao é
deusa, nem a SS. Trindade pode incluir urna figura humana em seu mis
terio. As verdades da fé nao sao produto da mente humana, mas
correspondem á realidade mesma e objetiva de Deus.

3. Vale a pena, sem dúvida, exaltar a mulher e seus predicados,


como pleiteia o sadio feminismo. Mas, para tanto, nao é necessário, nem
lícito, voltar á mitología grosseira, que admite deuses e deusas (a Máe
Térra, a deusa Lúa, Cibele...).

4. A auténtica Mística implica o conhecimento de Deus, distinto do


homem (porque Criador do homem),... conhecimento que se faz por ex
periencia ou porfamiliaridade com Deus. O cristáo que se entrega ao Pai
no cumprimento cotidiano e fiel da sua santíssima vontade, cultiva assim
urna certa afinidade com Deus; é a afinidade produzida pelo amor, amor
que abre os olhos da mente e proporciona o conhecimento experimental
ou místico. Na verdade, como diz o próprio Jesús, todo cristáo fiel (aque-
le que ama a Deus coerentemente) é templo da SS. Trindade (cf. Jo
14,23); ele pode ignorar este grande dom, vivendo dispersivamente ou

521
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/199B

sempre fora de si; mas pode também tornar-se mais e mais consciente
desta graca, vivendo num diálogo constante com Deus mediante urna
conduta generosa e irrestritamente dedicada. Este tipo de comportamen-
to faz a afinidade da criatura com o Criador e ensina a descobrir o miste
rio de Deus. É o que se chama "vida mística" dentro das concepcóes do
Cristianismo. Nada tem que ver com milagres ou dons extraordinarios;
alias, estes fenómenos háo de ser considerados criteriosamente para
que nao se confundam expressóes (mórbidas?) do psiquismo humano
com a acáo do Espirito Santo.1

6. Paulo Coelho tem-se interessado pela magia. Todos sabem apro


ximadamente o que este conceito significa, mas é necessário esclaréce
lo bem. Com efeito; magia é a arte de dominar as forcas da natureza e da
historia mediante fórmulas ou práticas tidas como capazes de sobrepujar
os próprios deuses; vem a ser urna deturpacáo da religiao, pois pretende
atribuir aos magos ou a pessoas privilegiadas poderes divinos. Os povos
primitivos, na falta de recursos científicos e tecnológicos, procuravam
resolver seus problemas pelo uso da magia. Esta pode lograr éxito se ela
se baseia (inconscientemente talvez) no aproveitamento de forcas da
natureza ou no sugestionamento que ela incute a quem Ihe dá crédito.
Para enfatizarsua autoridade, os magos dos povos primitivos se reuniam
em grupos secretos, que tinham cada qual seu patrono; submetiam-se a
um processo de ¡niciacáo, que sign¡f¡cava a morte ao velho homem e a
ressurreicáo de um novo ser, dotado das faculdades e prerrogativas dos
colegas-magos.

Em conclusáo, pode-se dizer que o livro "Na margem do Rio


Piedra..." joga com valores religiosos muito caros aos cristios e, por isto,
merecedores de respeito, mesmo da parte de um romancista. O fato de
citar o místico cristáo Tomás Merton á p. 11 nao legitima o conteúdo da obra.

1 Os mestres da vida espiritual chamam a atengáo para o caráter ambiguo que po-
dem teros fenómenos extraordinarios, táo almejados pormuitaspessoas religiosas.
Nao raramente (embora nem sempre) provém da fantasía do fiel, instigada talvezpor
alguma tendencia doentía ou pela vaidade, a curíosidade... Efe o que a propósito
escreve Sao JoSo da Cruz:
"Importa saber que, nao obstante poderem ser obra de Deus os efeitos extraordi
narios que se produzem nos sentidos corporais, é necessário que as almas nao os
queiram admitir nem terseguranga nales; antes, é preciso fugir inteiramente de tais
coisas, sem querer examinarse sao boas ou más. Porque quanto mais exteriores e
corporais, menos ceño 6 que sao de Deus. Com efeito, 6 mais próprio de Deus
comunicarse ao espirito - e nisto há para a alma mais seguranga e lucro - do que
aos sentidos, fonte de freqüentes erros e numerosos perigos... Há tanta diferenga
entre a sensibilidade e a razio como entre o corpo e a alma e, na realidade, o senti
do corporal é táo ignorante das coisas espirituais como um jumento o é das coisas
racionáis, e mais aínda" (A Subida do Monte Carmelo, I. II, cap. XI, 2).
"Émelhorpadecerpor Deus do que fazer milagres" (Ditos de Luz e Amor, n. 181).
522
Diz-se...

SEXO SEGURO?

Em síntese: O Dr. Celso de Almeida Kundlatsch, CRM 9.501, em


Sao Paulo, afirma que a camisinha é falha em31% dos casos em que é
aplicada. Para saber se alguém está ou nao contaminado pelo HIV, é
indispensável o exame de sangue antí-HIV, feito sob a orientagáo de um
médico. A abstinencia e a monogamia conjugal mutuamente fiel constitu-
em a grande estrategia no combate a infecgáo aidética.
* * *

Apregoa-se constantemente que os preservativos permitem sexo


seguro. - O Dr. Celso de Almeida Kundlatsch, CRM 9.501, em Sao Paulo
(SP), tem-se dedicado ao estudo de tal assunto - o que Ihe fornece ele
mentos precisos para dissertar a respeito. A seguir, vai publicado um
artigo desse benemérito pesquisador, que dissipa preconceitos e mal
entendidos relativos a tal questáo. - A Direcao de PR agradece a esse
gentil colaborador mais esta valiosa contribuicáo científica.

HIV E PRESERVATIVOS

1. O virus causador da Aids, o HIV, pode ser transmitido por tres


vías principáis: pelo sangue contaminado, pela mae doente para o filho,
e por via sexual.

a) O sangue contaminado pode atingir as pessoas pela transfu-


sáo de sangue total ou seus derivados e por instrumentáis sujos com ele,
que atravessem a nossa pele, com agulha de injecáo, acupuntura, tatua-
gem, alicate de unha etc.

b) A máe doente pode transmitir o HIV através da placenta ou


durante o parto ou pelo aleitamento.

c) O HIV pode ser transmitido pelo sexo oral, vaginal ou anal.

Qualquer pessoa contaminada pelo HIV pode passá-lo para o seu


companheiro ou companheira sexual por qualquer dessas vias. Basta
entrar em situacáo de risco. O virus pode ser transmitido do homem
infectado para a mulher, da mulher infectada para o homem, do homem
infectado para outro homem ou da mulher infectada para outra mulher.
As vezes urna única relacáo sexual já é suficiente para a contaminacao
acontecer. Em outros casos sao necessárias varias relacoes.

523
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

2. Considerando a importancia da transmissáo sexual do HIV na


epidemia de Aids, as estrategias de prevencáo se concentram em identi
ficar e promover práticas sexuais que sejam "de risco menor", como se
diz. Como o nome indica, sao consideradas "de risco menor" que outras
práticas sexuais, pois há a evidencia de que elas reduzem, mas nao ne-
cessariamente eliminam, o risco da transmissáo sexual do HIV de um
parceiro para outro.

"Sexo mais seguro" ou "menos arriscado" ou "de risco menor" sao


os termos para designar práticas sexuais que tém menor probabilidade
de passar HIV (human immunodeficiency virus) de um parceiro sexual
para outro, durante a atividade sexual.

O termo "sexo seguro" foi inicialmente usado para denominar es-


sas práticas, mas as evidencias indicam, já há algum tempo, que poucas
práticas sao completamente livres de risco. Portanto, "sexo mais segu
ro", "sexo menos arriscado" ou "sexo de risco menor" devem substituir o
termo "sexo seguro", que alguns, erróneamente, teimam em usar. Na
literatura internacional o termo "safe sex" foi substituido por "safer sex".

3. Para saber se urna pessoa está ou nao contaminada pelo HIV é


necessário o exame de sangue anti-HIV, feito sob a orientacao de um
médico.

Pela aparéncia nao se pode saber se alguém nao está contamina


do. Só porque o(a) parceiro(a) nao leva jeito de ter HIV. Supergata sofis
ticada, garata de boa familia, amiga de turma, colega de trabalho, nivel
social e cultural altos, porque ele ou ela tem carro importado e boas ma-
neiras etc., nao sao garantías. É indispensável o exame de sangue. Nao
é possível fazer teste de Aids pelo olho.

Urna estrategia ampia de prevencáo usa múltiplos recursos para


proteger o maior número possível de pessoas sob risco.

A abstinencia e a monogamia mutuamente fiel1 sao partes dessa


estrategia.

As camisinhas claramente tém um papel central no "sexo de risco


menor", para aqueles que nao sao mutuamente monógamos. Urna
metanálise de diversos estudos sobre a transmissáo sexual do HIV em
heterossexuais concluiu que a eficacia da camisinha é em torno de 69%,
muito abaixo do suposto. A protecáo oferecida está diretamente relaci
onada com o uso correto do preservativo e a sua qualidade. Em media, em
31% dos casos, a camisinha nao garante contra a Aids. Tres relacoes com a
camisinha tém o risco equivalente a urna relacáo sem camisinha. É muito.

1A Ética natural e a Moral católica entendem a expressáo no sentido de monogamia


conjugal. (Nota da Redagáo)

524
SEXO SEGURO? 45

Pessoas que fazem uso de tóxicos na veía ou tém múltiplos parcei-


ros ou tém relacáo sexual com estas pessoas, sao de alto risco. Cautela.

4. Os exames de sangue normalmente usados detectam os


anticorpos que o organismo produz contra o HIV. Para a producáo dos
anticorpos, sao necessários de dois a tres meses. Em casos raros leva
um pouco mais.

Para ter certeza de que nao estáo contaminados, os namorados,


ambos, devem fazer tres exames de sangue, em épocas diferentes: no
inicio do namoro, no terceiro mes e no sexto mes. Os exames devem ser
feitos sob a orientacáo de um médico porque, as vezes, a interpretacáo
dos resultados pode ser meio confusa; já houve casos de pessoas sadi-
as pensarem estar com Aids, nao estando, e cometerem desatinos.

Durante os seis meses de estudo do sangue, praticando a absti


nencia, os namorados devem dialogar muito e se estudar mutuamente
para ver se o companheiro(a) merece fé.

Até aqui o Dr. Celso de Almeida Kundlatsch.

Acrescentem-se as observacdes de outros dois estudiosos:

"PRESERVATIVOS: FALHAM EM 69% DOS CASOS

Profilaticamente, está provado que os preservativos de melhorqua-


lidade falham em 69% dos casos. É a brincadeira da 'roleta-russa'. Pes
quisa realizada por Richard Smith, um especialista americano na trans-
missáo da Aids, apresenta seis grandes falhas do preservativo, entre as
quais menciona por exemplo, a deterioracáo do látex, ocasionada pelas
condicóes de transporte e armazenagem. Ainda que os preservativos
cheguem em perfeitas condicóes aos usuarios, estes ainda nao seriam
seguros. 'O tamanho do virus HIV da Aids é 450 vezes menor que o
espermatozoide. Estes pequeños virus podem passar entre os poros do
látex táo fácilmente em um bom preservativo como em um defeituoso'
(Richard Smlth, 'The Condom: Is it really safe sex?', Public Education
Commitee, Seattle, EUA, julho de 1991, p. 1-3).

Nao é com preservativos que se debela o mal da Aids, mas com


urna orientacáo condizente com a moral natural. Nenhuma pessoa sen
sata e honesta diz: 'Vamos ensinar os pivetes a roubar, mas sem que
ninguém corra perigo de vida'. O roubo é imoral. Táo imoral como a pro-
miscuidade sexual. Entáo, por que dizer: vamos ensinar a praticar o ato
sexual promiscuo, com os preservativos, para que ninguém corra perigo
de contagio?". (D. Rafael Llano Cifuentes, O GLOBO, 24/02/98)

A linguagem dos profissionais é assaz eloqüente por si mesma.

525
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

UM FATO REAL

Um leitor amigo enviou a PR o seguinte texto, que bem merece


divulgacáo:

Sem desejar afastar-me da familia e nao almejando viverna mono


tonía de urna semi-reclusáo, decidí aliar-me a urna muiher de 42 anos,
quando minha idadejá alcangava os 78.

Tendo saúde relativamente boa, mantinha vigor e invejável virilida-


de, surpreendendo a muitos de meus conhecidos. Viúvo, desposeí a
muiher a quem me retiro; ela é da terceira uniáo.

Morávamos numa cidade serrana, enquanto os filhos residiam no


Rio de Janeiro. Visitávamos e éramos visitados; tudo ia bem. Nunca tive-
mos em mente que algum día pudéssemos esperar filhos de nossa uniáo
conjugal. Além da idade, minha muiher tomava contraceptivos. Nossa
religiao se restringía a conhecimentos e práticas espiritualistas do
Racionalismo Cristáo, e espiritas. Enfim, nao fomos alertados sobre os
horrores que ocorrem quando da extirpagáo de um feto. A concepgáo
evitava-se sempre e sem qualquer escrúpulo.

Tudo caminhava normal, quando, em viagem para urna estagáo de


aguas, minha muiher notou vestigios de menstruagáo. Respeitados os
"seus dias", entramos num clima de namoro como de hábito. Decorridas
poucas semanas, foi constatada gravidez; e gravidez indesejada!... Nem
eu e muito menos minha muiher estávamos preparados para receber tal
noticia: nao ficava bem a dois velhos terem nos bracos urna criancinha,
produto de nossa extemporánea relagáo amorosa. Pessoas fariam co
mentarios desagradáveis e nos levariam á chacota. Perplexos, guarda
mos o segredo para nos, enquanto demandamos solugáo ¡mediata. Um
día, falei com minha muiher para deixarmos vir a crianga, mas ela foi
categóricamente contra; tinha lá suas razóes!...

Consultamos, entáo, os médicos da cidade onde morávamos, e ñas


adjacéncias, para saber como proceder na efetivagáo do aborto. É de
notar que nenhum deles quis submeter-se a tal responsabilidade, em vis
ta mesmo do adiantado estado de gestagáo (tres meses), e por outras
implicagdes que nos negaram esclarecer.

Passados tres meses, já se podia saber tratarse de urna crianga


do sexo feminino. Ceño amigo, urna vez, nos aconselhou a virao Rio de

526
UM FATO REAL 47

Janeiro e procurar a policlínica de determinado bairro, onde o aborto era


praticado sem restricóes e em grande número. Fomos até lá e marcamos
consulta. Isto feito, agendamos a cirurgia. Na data aprazada estávamos
lá, numa sala onde diversas mulheres conversavam sobre assuntos obs
tétricos.

Aguardada a chamada, minha mulher foi conduzida a um recinto,


para onde se dirigiu também o médico obstetra que havíamos contrata
do. Fiquei a espera de noticias. Mais de urna hora depois, surgiu na porta
o tal médico mostrándose nervoso e ensangüentado. Entrou noutra sala,
de onde saiu trazendo consigo um colega que Ihe segurava a máo. Estra-
nhando tal conduta, tive aumentada a expectativa. Mais um tempo após,
sairam os obstetras e chamaram-me de maneira inquietante. Pensei: será
que mataram minha mulher!?... Adentrei o quarto, onde encontrei minha
mulher toda ensangüentada, como também estavam os dois médicos.
Eles tentaram mostrar-me a impossibilidade de executar-se a operacáo.

Com efeito, os médicos primeramente consultados, presúmese,


já haviam percebido a dificuldade só agora conhecida pelos doutores ali
presentes: o feto, ao pressentir que ia ser atingido pelos instrumentos
cirúrgicos, esquivavase impetuosamente, fazendo evolugdes e dando
cambalhotas para defenderse de ser fisgado. Impressionante era sua
luta pela sobrevivencia! Feitas tantas tentativas, concluiram os médicos
que nao se devia prosseguir, afirmando que era fato insólito na sua car-
reirá de 35 anos naquela especialidade!

Voltamos para casa decididos a nao mais pensar em extirpar a


menina que já passava dos tres meses, repito. Nao demorou, contudo,
fomos aconselhados a submetero caso ao diagnóstico de urna vidente, a
qual só nos atendeu por deferencia toda especial. Rondóse ela em esta
do de concentragáo, falou persuadindo os pais a nao permitir o aborto: a
nascitura teña urna missáo a cumprir na térra. (?!...) Deixamos, pois, a
enanca nascer, e hoje tem completos 12 anos. Ela é a nossa maior aie-
grial

Sem comentarios. Nao é o oráculo da vidente que interessa no


caso, mas a verificacáo de que o aborto é a crueldade dos adultos proje-
tada sobre urna enanca inocente.

527
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998

PIUS WASN'T SILENT


PIÓ NAO SE CALOU

O jornal New York Times publicou em margo pp. a seguirte carta do


leitor William A. Donohue a respeito do pretenso silencio do Papa Pió XII
frente á perseguiráo dos judeus movida pelos nazistas:
Pius Wasn't Silent

To the Editor:

Your March 18 editorial on the Vatican document on the Holocaust


chastises Pope John Paúl II for defending "the silence ofPope Pius XII during
theThirdReich".

If Pius was "silent" during the Holocaust, why did this newspaper
congratúlate him on Dec. 25,1941, forbeing "a lonely volee in the silence and
darkness enveloping Europe this Christmas"?

And why did it editoríallze the following year that Pius "is a lonely voice
crying out ofthe silence ota continent"?
William A. Donohue
New York, March 18, 1998
The wríter is president of the Catholic League
for Religious and Civil Rights.
Em traducáo portuguesa:
"Ao Editor,

O seu editorial de 18 de margo a respeito do documento do Vaticano


referente ao Holocausto censura o Papa Joáo Paulo IIpor defender 'o silencio
do Papa Pió XII durante o 39 Reich'.

Se Pió se calou durante o Holocausto, por que é que esse jornal se


congratulou com ele em 25 de dezembro de 1941 por ser ele 'a única voz no
silencio e ñas trevas que envolvem a Europa neste Natal'?
Epor que publicou no ano seguinte outro editorial, dizendo que Pió 'é a
única voz que clama no silencio de um continente'?
William A. Donohue
Nova lorque, 18 de margo de 1998

O missivista é presidente da Liga Católica em prol dos Direitos Religio


sos e Civis".

Esta breve noticia é muito importante, porque evidencia como se faz a


onda de um preconceito, devido este á pega de Rolf Hochhut "Der Stellvertreter"
(O Representante) apresentada em 1963, dezoito anos após o término da
segunda guerra mundial. Durante dezoito anos, judeus e nao judeus reconhe-
ceram em Pió XII o corajoso e prudente defensor dos direitos humanos.
Estéváo Bettencourt O.S.B.

528
Edifóes "Lumen Christi"

DSf* AB EXCELSIS é um CD de música sacra interpretada por D. Félix Ferrá, osb,


contendo arranjos instrumentáis de quatorze composicóes de Palestrina e Lassus, os
dois maiores músicos católicos de todos os tempos R$ 12,00.

- O MOSTEIRO DE SAO BENTO DO RIO DE JANEIRO EM VÍDEO R$ 30,00.


Urna visita á igreja do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, guiada por Dom Marcos
Barbosa, OSB ao som dos sinos, do órgáo e das vozes de seus monges em canto
gregoriano.
Quatrocentos anos de trabalho e louvor em 20 minutos, frutos da paz e paciencia beneditina.
Roteiro e locucáo: Dom Marcos Barbosa, OSB.
Producáo: Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro

ALGUNS LIVROS DE DOM ESTÉVÁO, DISPONÍVEIS EM NOSSA LIVRARIA:


- CRENCAS, RELIGIÓES & SEITAS: QUEM SAO? Um livro indispensável para a familia
católica. (Coletánea de artigos publicados na revista "O Mensageiro de Santo Antonio")
28 edicáo. 165 págs. 1997 R$ 7,00.
- CATÓLICOS PERGUNTAM. Coletánea de artigos publicados na secáo de cartas da
revista "O Mensageiro de Santo Antonio". 1997. 165 págs R$ 7,00.
- PÁGINAS DIFÍCEIS DO EVANGELHO. (O livro oferece-nos um subsidio seguro para
esclarecer as dúvidas mais freqüentes que se levantam ao leitor de boa vontade, trazen-
do-nos criterios claros e levando-nos a compreender que todas as palavras de Cristo sao
de aplicacáo perene e universal), 2- edicáo. 1993, 47 págs R$ 5,00.
- DIÁLOGO ECUMÉNICO, TEMAS CONTROVERTIDOS. Seu autor, D. Estéváo
Bettencourt, considera os principáis pontos da clássica controversia entre católicos e
protestantes, procurando mostrar que a discussáo no plano teológico perdeu muito de
sua razáo de ser, pois, nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou
proposites. 3a edicáo. 1989, 380 págs R$ 18,40.

Pedidos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2a capa.

AOS AMIGOS

CARO(A) LEITOR(A), JÁ QUE SE APROXIMA O NATAL, POR QUE NAO PENSAR EM OFE-
RECER A SEUS AMIGOS UMA ASSINATURA DE PR, QUE TORNE VOCÉ PRESENTE A CADA
UM(A) DELE(A)S TODOS OS MESES DE 1999? A NOSSA REVISTA PRETENDE SER UM INFOR
MATIVO QUE AJUDE A PONDERAR OS PROBLEMAS DE NOSSOS DÍAS. TODOS PRECISAMOS DE
PENSAR PARA MAIS AMAR O NOSSO IDEAL.
FAZENDO O PEDIDO AGORA, O NOVO ASSINANTE RECEBERÁ A REVISTA A PARTIR DO
MES DE NOVEMBRO DE 1998 MAIS O ANO DE 1999, POR APENAS R$ 30,00.
PARA ISTO, MANDE-NOS: NOMES E ENDERECOS COMPLETOS DOS NOVOS ASSI-
NANTES E O RESPECTIVO PAGAMENTO.

RENOVACÁOOU NOVA ASSINATURA 1999: R$30,00.


NÚMEROAVULSO R$ 3,00.
PARA PAGAMENTO, VEJA 2a CAPA.

Pergunte e Responderemos ano 1997:


Encademado em percalina, 590 págs. com índice
(Número limitado de exemplares) R$ 50,00.
N O V I D A D E

Dom BENTO SILVA SANTOS, O.S.B.

A imortalidade da alma no "Fédon" de Platáo. Porto Alegre,


EDIPUCRS (em preparacáo).

Trata-se de um estudo sobre a dímensáo místico-ascética de Platáo, isto é, acerca


da conviccáo da existencia de uma vida para além da morte. "Na morte de Sócrates,
homem justo, Platáo deixa entrever ao leitor um lampejo de imortalidade e simultanea-
mente a sua concepcáo radical da filosofía como 'exercício de morte' (...) Mesmo que
seja afirmada através de raciocinios inseguros e limitados, a imortalidade da alma tra-
duz na obra de Platáo uma ansia profunda de busca de explicacóes acerca do problema
existencial humano de todos os tempos: com a morte termina tudo ou há uma vida para
além da dissolucáo do corpo?" (Conclusáo do lívro).

Outros livros de Dom Bento Silva Santos, O.S.B.:

Teología do $vápgélñqdeSao Jpáo. Aparecida:(SP),M$%infü'á/ib, 1994,


Íé

"Devo parabenizá-lo pelo éxito neste emprendimento. Estou certo de que sua teolo
gía joanina será um instrumento muito útil para o estudo de Sao Joño tanto nos semina
rios e cursos superiores de teología quanto em cursos de teología para leigos" (Padre
Jaldemir Vitório, S. J., Carta, 3.07.1995).

-Fée Sacramentos no Evangelho de Sao Jóaó..Ápáréciáá^SPÍ[iiÉ^Csájfitii^


rio, 1995,134 págs.%:. :.......:.......:,.i.^-.^^^M\2fiO

"Os escritos de Dom Bento demonstram uma ampia e bem organizada leitura das
obras importantes para os estudos que vem fazendo. A questáo que o presente voiume
estuda é o da relacáo entre fé e sacramentos. 'A salvacáo provém de uma confianca
subjetiva {sola fides) ou de uma mediacáo sacramental?"' (Padre Paschoal Rangel,
S.D.N., Atualizacáo 256 [1995] 382).

- A experiencia de Deus no Antigo Testamento. Aparecida (SPj,.EcL ;$anfuá¿:■■■


rio, 1996,144 págs ". ;.........:t..v.;..^.¿^

"Este livro dá continuidade a duas obras precedentes do autor, que versam sobre os
escritos joaninos, adotando sempre a mesma metódica: explanar o sentido religioso ou
teológico do texto sagrado... explanacáo esta que deve sero ponto de partida da exegese
católica. Exorta o Concilio Vaticano II: 'A Sagrada Escritura há de serlida e interpretada
segundo aquele mesmo Espirito por quemfoi escrita'(Const Dei Verbum, ne 12)" (Dom
Estéváo Bettencourt, O.S.B., Apresentagáo da obra).

Pedidos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2a capa.

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