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Introdução
(Autor)
Notas Explicativas
Ao encontrar os originais deste livro uns 3 anos atrás, compreendi que ali se
encontrava o produto de anos de dedicação e pesquisa históricas de Bolívar Bordallo da Silva,
meu tio.
Primeiramente digitei o livro, para ter um registro mais moderno e seguro dos
originais. Tarefa não muito fácil. Parte do livro, estava datilografada e parte manuscrita.
Algumas notas estavam soltas no meio das páginas e, nós usamos a data da página onde se
encontrava a nota. Ao conferir os índices, descobrimos que algumas datas e nomes faltavam
na cronologia. O critério que usamos nesse caso, foi o de adotar o que estava indicado no
texto. Por isso, peço desculpas se algum erro tiver sido causado pelas nossas correções.
Assim como lamento profundamente não ter encontrado as fotos que ele menciona no índice
dos clichês, nem os croquis feitos por Bolívar da antiga cidade de Bragança. Isso infelizmente
se perdeu. Foram muitas noites de trabalho árduo, mas que valeram a pena, pelo prazer de se
ter uma obra como esta trazida à vida.
O trabalho de Bolívar é muito mais que uma cronologia, é um indicador
bibliográfico para aqueles que desejam pesquisar e aprofundar seus conhecimentos sobre a
história de Bragança. Cada fato é seguida pela indicação bibliográfica e documental.
Pouquíssimos dados estão como informação oral. Bolívar não apenas registra, mas, comenta,
acrescenta novos fatos ligados ao principal e dá informações extras de toda natureza, como no
caso da cidade do Urumajó, em que ele apresenta a origem popular e a origem
“lingüisticamente provável” desse nome.
Eu gostaria apenas de acrescentar algo sobre a construção da igreja de São
Miguel no Urumajó. Um dos responsáveis pela construção, meu bisavô, Miguel Cardoso de
Athayde, fazendeiro e comerciante da região, dono da casa onde hoje funciona a prefeitura -
segundo minha mãe, Marilda, neta de Miguel – recebeu este nome em homenagem a Dom
Miguel de Portugal, porque seu pai era um dos portugueses miguelistas que se instalaram em
Bragança, quando da briga entre Dom Miguel e Dom Pedro I pela sucessão do trono
português. Daí ele ter doado a imagem de São Miguel para que fosse o padroeiro da igreja por
eles construída. Eu não sei se há algum registro desse fato, imagino que não. E para que essa
informação não se perca – das pessoas que poderiam saber disso, minha mãe é uma das
poucas que ainda está viva - estou repassando a razão histórica do padroeiro da igreja do
Urumajó.
Bolívar, mais que um historiador, foi uma testemunha dos fatos de sua época. Ele
revela o espírito do seu tempo nos registros escolhidos, e em suas notas apaixonadas,
principalmente quando ele fala do Grêmio Estudantil Bragantino. Eu diria mesmo que há um
certo ar de “crônica social”, pois nos faz reviver o nacionalismo, a preocupação com a cultura,
com a alfabetização, com a saúde, com o comércio e o progresso que motivaram os jovens
estudantes dos anos 20 e 30. Ele reflete a ânsia de ver sua querida cidade mais próspera, mas
saudável, mais culta: tema de uma geração.
Hoje, depois de ter lido este livro confesso que começo a compreender melhor a
paixão que eles sentiam por Bragança, que já foi uma cidade muito “rica”. Rica de pessoas com
uma visão, eu diria, futurista, que pensavam grande, que queriam muito para sua cidade e seu
povo. Não foi sem razão que, do final do século XIX ao início do século XX, Bragança possuía
centenas de jornais. Foi quando chegou a estrada de ferro Belém-Bragança e eles sonhavam
um dia vê-la estendida até o Maranhão, através de Vizeu.
Eu gostaria de poder estar contribuindo de alguma forma, ao trabalhar pela edição
do livro de Bolívar, para que os bragantinos de hoje, possam conhecer um pouco mais da
Bragança de ontem e mirando-se nos esforços de “gente tão valorosa”, possam tentar retomar
o espírito de luta e de esperança nessa “futurosa região paraense” e fazer de Bragança não
mais um sonho de jovens do início do século, mas de hoje e de todos aqueles que ali vivem.
Bragança tem uma história, tem uma cultura que precisa e deve ser mais
estudada, pesquisada, valorizada para que aquele sonho passado possa então, tornar-se uma
realidade presente.
Belém, 22 de Junho de 2000
Mariana Bordallo