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Teoria Geral do Direito Civil II

Exercício Escrito Individual (2 páginas)


22.05.2009 – Duração: 120 minutos

Cotações: [ 6 x 2 (I e II) + 3 x 3 (III, IV ou V) + 2 (p. g.)] = 20

QUESTÕES DE RESPOSTA OBRIGATÓRIA

I
Nuno, especulador imobiliário, compra, em Janeiro de 2006, um terreno
inóspito a Diogo, convencido que em breve ali se construiria um
empreendimento turístico que iria valorizar a região. Na verdade o terreno
não interessaria a Nuno se Isabel, vereadora da Câmara Municipal, não o
tivesse convencido da construção do referido empreendimento turístico.
Diogo, por seu turno, sabe que não se construirá ali empreendimento
algum, mas cala-se, na esperança de obter melhor preço. O negócio fecha-
se assim por 75.000 euros, mas Diogo e Nuno combinam declarar apenas
50.000 “ para efeitos fiscais”.
Hoje, ciente de que foi “enganado”, Nuno invoca a nulidade do negócio
com fundamento na divergência entre o valor real e o valor declarado. Se
assim não se entender, Nuno considera que o negócio nunca seria válido,
pois, se não tivesse sido convencido da construção do empreendimento
turístico, nunca teria comprado o terreno. Além disso, Inês, proprietária de
um terreno vizinho, que tem que atravessar o de Diogo para ter acesso à
via pública, pretende igualmente invalidar o negócio, para exercer o direito
de preferência que considera que lhe assiste.1
Inês é amiga de Diogo, mas desconhecia a “combinação”.
Diogo defende-se afirmando que, tendo Nuno participado do conluio,
invocar agora a invalidade do contrato seria uma “contradição inadmissível
à face do art. 334 do Código Civil”.

II

António, em mudanças para uma casa mais pequena nos arredores de


Lisboa, dia 5 de Janeiro, telefona ao amigo Bruno e a certa altura diz: « por
100 € dou-te a minha mobília de sala. Podes
responder-me até sábado?». « Está feito» - assente aquele. «Até lá vou
pensar e depois respondo-te». Dois dias depois, António é atropelado por
um camião e tem morte imediata. Bruno, que nada sabe do sucedido,
apresenta-se sábado em casa de António para dizer que estava
interessado na mobília e, apesar de estranhar a ausência deste, deixa-lhe
um pequeno bilhete na caixa do correio onde escreve «fico com a tua
mobília». Mas à saída, tropeça numa pilha de caixotes e cai fracturando a
bacia. Mais tarde, vem a saber que o amigo faleceu e que a Zulmira,
mulher de António e sua única herdeira, vendera a mobília a um terceiro.
Bruno vem agora invocar a invalidade dessa venda, afirmando que a
mobília lhe pertence por ter aceitado a proposta oportunamente e exigindo
1
Cf. art. 1555º/1 do Código Civil.
ser indemnizado pelas despesas hospitalares em que incorreu em virtude da
fractura. Zulmira, por seu turno, afirma não ter recebido aceitação alguma,
argumentando que deixou a caixa do correio aberta por lapso, pelo que o
bilhete pode ter caído ou sido tirado por alguém. Alega, além disso, que a
morte do marido desobrigou-a do negócio.
Para resolver esta questão, Bruno contratou, em 2007, o advogado
Edílio, a quem ainda não pagou até hoje e considera que já nem tem que
pagar. Edílio, que esteve um ano em coma no Hospital, quer agora fazer
valer os seus direitos. Quid iuris?

QUESTÕES ALTERNATIVAS
ESCOLHA APENAS DOIS GRUPOS

III

Em Março de 2009, Teresa compra a Vasco, por documento particular


autenticado, uma fracção de um prédio urbano sita no Bombarral.
Posteriormente, ambos acordam, verbalmente, que tal venda fica
automaticamente sem efeito se Lucilene, imigrante brasileira a residir
ilegalmente em Portugal, conseguir regularizar a sua situação (pois, nesse
caso, Vasco pretendia doar a casa a Lucilene, com quem mantinha uma
relação amorosa). A casa estava arrendada a Anita, que não pagava as
rendas há dois meses; por seu turno, Custódio, seu fiador2, tinha acordado
com ela garantir pessoalmente todas as duas dívidas, passadas e futuras,
independentemente da origem ou montante. Alguns meses depois, em
Junho, Teresa, intercedendo junto de amigos no SEF, consegue não só que
Lucilene não regularize a sua situação, como também que seja expulsa do
país. Vasco, furioso, pretende agora reaver a casa a qualquer custo, mas
Teresa acredita que tal não é possível, e que mesmo que assim não fosse,
sempre teria direito às rendas vencidas desde Março3. Neste propósito,
dirige-se a Custódio, a fim de exigir o seu pagamento; porém, este nega-se
invocando a invalidade do acordo celebrado entre ele e Anita. Quid iuris?

IV

Marco, solteiro, recorreu aos serviços da Limpezas, SA. uma sociedade


de prestação de serviços de limpezas domésticas. Do contrato, um extenso
clausulado que lhe foi dado para aceitar ou recusar na sua globalidade,
constam cláusulas que i) excluem a responsabilidade da Limpezas por
danos causados pelos seus funcionários na residência dos clientes, ii)
impõem um período mínimo de vigência do contrato de 15 anos e
estabelecem uma cláusula penal de 10.000 € em caso de denúncia do
cliente e iii) conferem à Limpezas a possibilidade exclusiva de interpretar
pontos omissos no contrato. Marco pretende saber se o contrato é válido e
ainda se está vinculado a um “anexo ao contrato” que não consta da folha
que assinou e lhe foi enviado para casa alguns dias depois. Quid iuris?

2
Cf. os arts. 627º ss Código Civil
3
Cf., entre outros, o art. 1270 do Código Civil.
V

Juan, basco residente em Portugal, foi acusado de envolvimento num


atentado da ETA contra o primeiro-ministro de Espanha. Detectado e
perseguido pela polícia e precisando de arranjar dinheiro para escapar
rapidamente, vende o Monet que tinha na sala a Ana, a qual, aproveitando-
se da sua situação e ameaçando denunciá-lo à polícia, apenas lhe paga 100
euros pelo quadro. Juan gasta rapidamente o dinheiro da venda do quadro.
Desesperado e sem mais recursos, pensa em cometer suicídio, o que a
prima Consuelo consegue evitar, dizendo-lhe que lhe daria o colar que
herdou da mãe, para que o vendesse e fizesse algum dinheiro. Na verdade,
Consuelo nunca pretendeu doar colar algum, apesar de estar
verdadeiramente interessada em que Juan acreditasse no contrário; mesmo
assim entregou-lho. Onze meses mais tarde, já provada a sua inocência,
Juan pretende invalidar o negócio, mas Ana está agora disposta a pagar o
preço “justo”; pretende ainda ficar com o referido colar (que acabou por não
vender), que considera que lhe foi doado validamente, o que Consuelo
nega. Quid iuris?

Tópicos de Correcção do Exercício Escrito nº 2


TGDC II , 22 de Maio de 2009 (*)

(*) Sempre que não se refira expressamente o contrário, o enquadramento


teórico das questões tratadas seguirá as orientações do Prof. Menezes
Cordeiro, in Tratado de Direito Civil Português, v. I, t.I. Coimbra, Almedina,
2005.

(**) Todos os artigos citados sem indicação da correspondente fonte são do


Código Civil de 1966.

(***) Trata-se apenas de uma mera grelha de referência, eminentemente


sucinta, que não inclui alguns elementos suplementares que podem ser
apreciados e valorizados.

1.Qualificação do contrato: contrato de compra e venda, arts. 874 ss de bem


imóvel (art. 204/1 a)), com as exigências formais dos arts. 875 e 80 CN.
Erro qualificado por dolo de terceiro, art. 253; dolus malus. Tem as
consequências do art. 254/2: o negócio é anulável se o declaratório conhecer ou
dever o dolo, sendo que no caso conhecia.
Porém, a anulação já não seria possível porque transcorreu o prazo de 1 a que
alude o art. 287.

2. Simulação. Identificação dos pressupostos e dos três acordos por referência


ao art. 240/1. Classificações: fraudulenta, objectiva de valor, relativa.
O negócio simulado é nulo (art. 240/2), mas essa nulidade não atinge
necessariamente o negócio dissimulado que poderia ser aproveitável, desde que
o negócio simulado revestisse a forma exigida para o dissimulado (art. 241/2).
Fundamento legal para o aproveitamento:
- art. 241/2 apenas, sendo a falta de forma do negócio dissimulado
compensada pela forma pleníssima da sentença que decreta a nulidade do
negócio simulado (PEDRO PAIS DE VASCONCELOS);
- art. 241/2 em articulação com o art. 238/2, pressupondo-se que, muito
embora a vontade real das partes (a venda por 75.000) não tivesse o mínimo de
correspondência com o texto da escritura (onde consta um preço de 50.000), tal
valor de 75.000 corresponde à vontade real das partes e as razões justificativas
da forma legal não se opõem ao aproveitamento do negócio (MENEZES
CORDEIRO).

Aceitavam-se outras soluções referidos na doutrina (como a aplicação do art.


221 conjuntamente com o art. 241/2) desde que fosse indicado o nome do autor
que as sustenta.

O negócio seria assim válido pelo valor de 75.000, o que resulta, tanto do
aproveitamento do negócio dissimulado, como da caducidade do direito de
pedir a sua anulação com fundamento em erro.

3. Questão do preferente: invocação da nulidade do negócio simulado contra


terceiros de boa fé (art. 243). Haveria que discutir dois pontos:
- saber se Inês era ou não uma terceira de BF, fazendo referência aos dois
conceitos aplicáveis (BF ética e psicológica). Parece poder concluir-se em
sentido afirmativo, independentemente do sentido que se venha a adoptar;
- saber se a impossibilidade de invocação da nulidade contra terceiros se
reporta a todas as situações (como sustenta alguma doutrina, fazendo uma
interpretação literal e historicista do disposto no art. 243), ou apenas aos casos
em que o terceiro venha a ser prejudicado com essa nulidade (como sustentam,
v.g. MENEZES CORDEIRO, CARVALHO FERNANDES, CASTRO MENDES,
entre outros). Na hipótese apresentada, a invocação da nulidade faria o terceiro
perder um benefício, mas não lhe imporia um prejuízo, pelo que, seguindo estes
últimos autores, a pretensão da preferente seria improcedentes e abusiva,
conduzindo, inclusivamente, a um enriquecimento injustificado da mesma
(MENEZES CORDEIRO).
Porém, PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, tem uma opinião diferente
destes segundos autores: para o Professor, a invocação da simulação pelos
simuladores, contra terceiro de boa fé, é sempre ilícita e inadmissível,
consubstanciando caso de venire contra factum proprium, ainda que numa
hipótese como esta do preferente. O professor refere que, de contrário,
colocar-se-ia o preferente “nas mãos dos simuladores”, os quais, para evitar que
ele viesse a preferir, poderiam invocar uma simulação, mesmo com contornos
que na verdade não tenham sido simulados (ex. invocavam que o preço real era
de 50.000, quando foi de 30.000, para desincentivar o preferente a preferir). A
ideia de PAIS DE VASCONCELOS é a seguinte: como os simuladores
cometeram um acto ilícito, não merecem tutela do Direito.

Resumindo, a resposta à questão dependeria da posição doutrinária seguida:


- para quem seguisse MENEZES CORDEIRO e CARVALHO
FERNANDES, a nulidade da simulação seria oponível ao preferente que, a
querer preferir, teria que fazê-lo pelo preço real;
- para quem seguisse PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, a simulação
seria inoponível ao preferente, que poderia preferir pelo preço-simulado;

4. Quanto à suposta contradição na invocação da nulidade da simulação por um


simulador, poderia estar aqui em causa uma situação de abuso do direito (art.
334) na modalidade de venire contra factum proprium. Porém, a lei habilita os
próprios simuladores a invocarem a invalidade da simulação (art. 242/1) para
facilitar o restabelecimento da verdade na ordem jurídica, pelo que invocação
de venire seria improcedente: só se pode deter uma pretensão com base na BF,
se não houver nenhuma norma de direito estrito que habilite essa pretensão, ou
que permita negá-la. E no caso presente, o art. 241/2 consistia numa expressa
habilitação legal.

TOTAL:………………………………………………………………………………. 6

II

1.Qualificação do contrato como CV (arts. 874 ss), qualificação dos bens em


causa como bens móveis (art. 205).

Proposta contratual de António, cumprindo todos os requisitos exigíveis.


Declaração expressa (art. 217). Acordo entre declarante e declaratório quanto à
duração da proposta (art. 228/1 al. a)). Quanto à forma, aplicação da regra geral
do art. 219 estando em causa um contrato que poderia concluir-se apenas
consensualmente. No momento da conversa telefónica não ficou concluído o
contrato de compra e venda da mobília, pelo que o correspondente direito real
não se transferiu. Apenas se concluiu uma convenção quanto ao prazo que o
destinatário da proposta teria para exercer o seu direito potestativo à aceitação.
A proposta estava pendente, o que sujeita o proponente a todos os deveres que
lhe são impostos ex bona fide, mas não lhe retira a titularidade do direito de
propriedade sobre a coisa objecto do negócio (a mobília).

2.A morte do declarante não provoca a extinção da proposta nem desobriga os


seus herdeiros da mesma a não ser que as circunstâncias do caso permitam
concluir o contrário (arts. 226/1 e 231/1) Assim, quando Bruno pretende aceitar
a proposta, a mesma ainda é eficaz sendo a aceitação temporânea. Referência à
problemática da compatibilização destes dois preceitos, que, no caso seria
irrelevante dado que de ambos decorreria o mesmo resultado.

3.O contrato formar-se-ia quando a aceitação chegasse ao conhecimento do


proponente (ou dos seus herdeiros), o que não chega a acontecer porque o
bilhete se perde. Pretendia discutir-se a aplicação do art. 224/2. Podia
discutir-se se a culpa aí referida inclui também negligência ou apenas dolo,
aceitando-se as duas leituras desde que bem fundamentadas (embora a segunda
leitura tenha pouco apoio na letra da lei). Como no caso haveria mera
negligência, a posição aqui adoptada influenciaria a solução final:
- se se concluísse pela aplicação do art. 224/2, o contrato com Bruno
tinha-se concluindo pelo que a venda do mesmo bem a um terceiro seria nula,
por aplicação do art. 892 (venda de bens alheios);
- se se concluísse o contrário – aplicando, v.g. o art. 224/1 1ª parte a
contrario, não se tinha concluído contrato algum com Bruno, pelo que a venda a
um terceiro seria válida (cf. art. 1305). Por haver aqui negligência dos herdeiros
do proponente, parece que, a Bruno, era sempre devida, no mínimo, uma
indemnização a título de culpa in contrahendo (art. 227);

Quem seguisse a primeira orientação, deveria referir que, com a conclusão do


contrato, o direito real sobre a mobília se transferia para Bruno (art. 408).

4.Poderia também discutir-se em que medida deve considerar-se a mobília uma


coisa determinada dado que, não se sabe exactamente o que a compõe.
Referência ainda à possibilidade (discutível) de considerá-la uma
universalidade de facto, nos termos do art. 206.

4.Quanto à pretensão indemnizatória de Bruno pelas despesas hospitalares,


pretendia-se discutir se a mesma deveria ser tratada em sede de culpa in
contrahendo, (art. 227) designadamente por reporte aos deveres de protecção
impostos às partes durante as negociações. É esta a leitura feita pela
jurisprudência alemã, mas não tem sido assim que os tribunais portugueses têm
decidido, porque não se verificam, entre nós, as limitações do sistema delitual
conhecidas no BGB. Assim, a pretensão indemnizatória tinha que ser tratada
nos termos gerais da responsabilidade extracontratual (arts. 483 ss): mesmo
assim, de notar que teria que haver culpa, por parte de Zulmira, o que aqui não
é claro pois não se refere como é que Bruno tropeçou nos caixotes (se por
descuido seu ou se por alguém os ter deixado em local inoportuno, não se
conhecendo, nesta última hipótese, quem o terá feito). PEDRO PAIS DE
VASCONCELOS sublinha essa mesma ideia referindo, como danos a tratar em
sede de violação do dever de protecção, v.g. os resultantes da perda de uma
oportunidade de negócio, de estudos (desaproveitados), entre outros.

5.Finalmente, quanto aos honorários do advogado, os mesmos estão sujeitos a


prazo prescricional de dois anos – art. 317 c). Porém, deveria discutir-se se não
se verificava a causa de suspensão da prescrição do art. 321/1 , o que não pode
saber-se com rigor por inexistência de dados precisos na hipótese.
Era devida uma referência à distinção entre os conceitos de suspensão e
interrupção da prescrição – no primeiro caso, o prazo imobiliza-se voltando a
contar do momento em que parou; no segundo, a contagem começa desde o
início.

TOTAL:………………………………………………………………………………. 6

III

1.Qualificação do contrato: CV, arts. 874 ss; qualificação da fracção do prédio


como bem imóvel (art. 204/1 a)). Referência à existência de forma especial –
forma solene – decorrente dos arts. 875 CC e 80/1 Código do Notariado. No
entanto, em virtude da reforma de 2008, a compra a venda de bens imóveis
passou a poder fazer-se apenas por documento particular autenticado, não
sendo necessária escritura, pelo que o negócio seria válido.

2. Aposição de condição no contrato (arts. 270 ss). classificações:


- resolutiva;
- causal;
- de momento incerto;
- automática;

3. A condição não seguiu a forma exigida para o negócio, pois não foi logo
aposta na escritura. Apesar de a lei não o referir, MENEZES CORDEIRO
entende que tal seria necessário por haver uma unidade entre a condição e o
restante negócio. Este entendimento já foi seguido na jurisprudência, vg. no Ac.
RCb 26-Set.-2000 (António Geraldes). A seguir-se esta posição, a condição seria
nula (cf. art. 220). Porém, era defensável que se argumentasse no sentido da
aplicação do art. 221, considerando a condição como uma estipulação acessória
posterior (embora a suposta “acessoriedade” seja muitíssimo discutível).
Deviam retirar-se as consequências devidas da posição adoptada: a condição
era ou não inválida.

4. O adquirente impede a verificação da condição contra a boa fé, pelo que a


mesma se deveria ter por verificada (art. 275/2 1ª parte). Por conseguinte:
produz-se o efeito resolutivo. Esta regra tem um efeito sancionatório segundo
PEDRO PAIS DE VASCONCELOS; MENEZES CORDEIRO, vê nela um aceno à
figura do tu quoque.

5. A questão das rendas reporta-se ao regime dos frutos (in casu, frutos civis cf.
art. 212/2) na pendência da condição. A regra é a da retroactividade da
condição (art. 276), pelo que o efeito resolutivo retroactuaria ao momento da
celebração do contrato. Porém, o art. 277/3 vem afastar esta regra quanto à
aquisição dos frutos referindo que o adquirente a título condicional pode
adquirir os frutos nos mesmos termos do possuidor de boa fé (art. 1270). Como
o regime dos frutos na posse de boa fé é matéria de Direitos reais, deveria
apenas referir-se que a aquisição das rendas vencidas desde Março por parte de
Teresa, estava sujeita ao regime do art. 1270, ex vi art. 277/3.

6. Enquanto negócio jurídico, o acordo que deu origem à fiança era nulo, ou por
indeterminabilidade de objecto, ou por violação da ordem pública (cf. art. 280).
Pelo que Custódio nada tinha a pagar.

TOTAL………………………………………………………………………………… 3

IV

1.Contrato de prestação de serviço sujeito ao regime das Cláusulas Contratuais


Gerais (DL 446/85) – cf. art. 1/1; não se verificava nenhuma das situações de
excepção do art. 3. Referência ao epíteto de usura de massas avançado por
PEDRO PAIS DE VASCONCELOS.

2. Identificação deste contrato como uma relação com o consumidor final,


habilitando a aplicação, tanto dos arts. 18 e 19, como dos arts. 21 e 22.
Apreciação da validade de cada uma das cláusulas:

i) Clausula absolutamente proibida, art. 18 d).


ii) Cláusula relativamente proibida, art. 22/1 a), consideração do quadro
negocial padronizado; cláusula relativamente proibida, art. 19 c),
referência ao quadro negocial padronizado.
iii) Cláusula absolutamente proibida, art. 18 e).

3. Apesar da invalidade destas cláusulas, o contrato não teria que ser


necessariamente inválido atento o regime de redutibilidade automática vertido
no art. 9/1; referência à excepção do art. 9/2, que poderia ser problematizada.

4. Quanto à cláusula-surpresa, a mesma não vinculava Marco por força do


disposto nos arts. 8 d) e 5/1.

TOTAL………………………………………………………………………………… 3

1.Contrato celebrado com coacção moral, art. 255/1, com a consequência do art.
256 (a anulabilidade do negócio). Referência aos pressupostos da anulabilidade:
- ameaça;
- ilicitude da ameaça;
- dupla causalidade da ameaça;
- finalidade de extorquir a declaração negocial;
Neste caso, não parece haver ilicitude da ameaça – não há cominação de um
mal ilícito, isto é, de um mal que a parte ameaçada não esteja juridicamente
obrigada a suportar (a denuncia às autoridades por um crime).

2. Em alternativa, deveria discutir-se a possibilidade aplicação do regime da


usura (art. 282). Esta, permitiria que o lesante se opusesse ao pedido de
anulação do contrato (art. 283/2), que é o que, aparentemente, Ana pretende
fazer.

3. Em relação a Consuelo, reserva mental inocente. O contrato foi celebrado com


os requisitos exigidos (cf. art. 947/2) pelo que, como o declaratário desconhece a
reserva, o negócio seria válido (art. 244/2).

TOTAL: ……………………………………………………………………………….. 3

PONDERAÇÃO GLOBAL:…………………………………………………………. 2
TOTAL FINAL:……………………………………………………………………. 20
Maio de 2009,
Ricardo Bernardes e
Lara Geraldes

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