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dagom (Janus SW)

Por ter os cabelos tão dourados como o trigo foi chamado por sua
Dona de dagom, nome latino que designava tudo o que se referia aos
trigais. Tratava-se de uma figura na qual nada indicava ser um homem
completamente entrege aos disíginios de uma mulher poderosa, Aquela
que o tinha.
Aaminah jamais dizia com antecedência que viria, afinal, dúvida
alguma há que tudo seria feito comforme Sua vontade. Bastava algo assim,
simples, uma mensagem no móvel precedido por um tom especialmente
feito por dagom para a Dona e um texto curto que não deixaria de ser

Os Escritos de Janus
entendido e que não exigia resposta: HOJE.
Ela bem sabia de todos os horários e compromissos de dagom de
forma que , ao respeitar sua vida privada, jamais lhe exigia algo que não
poderia cumprir. Ele, por sua vez, sabia que à um comando não resta
nenhuma hipótese senão obedecer.
Despertava cedo, exatamente quando a mensagem chegava, nunca
depois das seis horas da manhã. Ao mesmo tempo que instruia a pessoa
que faria a limpeza naquela casa à ponto de se transformar em templo,
dirigia-se ao mercado onde comprava as frutas que convinham ser
consumidas antes de uma sessão, principalmente as de gosto de sua
Senhora, pêssego, tâmaras e damascos secos, além de uvas rubi e verdes e
grandes quantidades de água mineral de certa marca a qual Ela não
dispensava.
A coleira de passeio transformava-se no símbolo pulsante do
compromisso que carregava, da lembrança detalhada de cada coisa que a
Dona gostava ou desgostava e todos os detalhes que deveria cuidar para
que jamais saísse daqueles lábios idolatrados qualquer crítica ou reparo.
Voltando, supervisionava cada detalhe da limpeza que era feita com
esmero, exceto por um cômodo cujo acesso era proibido a qualquer pessoa,
exceto Aaminah e dagom, o Seu sagrado templo, mais que uma simples
masmorra, o local onde se consumava o mando e a submissão, lugar que
deveria estar absolutamente imaculado, insensado e corretamente
iluminado quando tudo acontecesse.
Tudo limpou com as próprias mãos, organizou cada acessório da
forma e na sequência prescrita, higienizou todos os que demandavam tal
providência, deixou à mão suas novas aquisições que vieram de um
talentoso artesão, ele mesmo mestre nas artes do BDSM.
Depois de horas de trabalho, inspecionou cada pequeno detalhe da
habitação, agora uma reles casa sem importância já que apenas ele ali
estava.
Qual não seria a transformação que sucederia quando a Dona
chegasse? Tudo estava pronto e respirava profundamente cada vez que
lembrava do que haveria de ocorrer. Lembrava-se das ordens: alimente-se
frugalmente, nada de alimentos pesados e gordurosos, nada que possa
interferir com as práticas e fazer a peça de Aaminah tivesse qualquer
problema que A impedisse de realizar todos os seus desejos.
Assim foi: dieta rica em frutas, pequenas porções de proteína através
de queijos e iogurtes e saladas de folhas verdes. Acostumara-se àquela
frugalidade durante os 4 anos que servia Aaminah e sentia-se mais pleno e
cheio de vitalidade do que nunca estivera.
Descansou mal já que a ansiedade falava mais alto e enchia de
expectativa e desejos.
Atento a não agredir a pele sensível e delicada da sua dona com as
mãos ásperas de um dia de trabalho e também para estar perfeitamente de
acordo com os altos padrões estabelecidos por Ela e inspecionados a cada
sessão, aparou os pelos pubianos que cresceram, ainda que pouco, da
última vez que estiveram juntos.
Também visitou uma manicure para que as unhas das mãos fossem
cuidadosamente tratadas e aparadas e uma pedicure para deixar os pés de
acordo com os requisitos que lhes eram exigidos e que transformaram-se
nos dele próprios já que agradava Aquela que era tudo o que mais desejara

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e que jamais gostaria de magoar.
Voltando, cumpria o período de repouso indicado, acordava e
tomava o banho com essências e perfumes escolhidos e colocava a roupa
totalmente em algodão puro e imaculado, apenas variando o
comprimento da manga da camisa dependendo do frio ou do calor que
reinasse.
Voltando, cumpria o período de repouso indicado, acordava e
tomava o banho com essências e perfumes escolhidos e colocava a roupa
totalmente em algodão puro e imaculado, apenas variando o
comprimento da manga da camisa dependendo do frio ou do calor que
reinasse.
Ia ao Templo, acendia os incensos, mais uma vez verificando todos os
cuidados e, logo, o móvel tocava novamente:
- dagom! - uma voz firme e levemente grave vibrava em força e poder.
- Senhora, meus respeitos! - repetia abaixando a cabeça mesmo que
Ela não visse.
- Retire-se para o lugar de costume que estou próxima do Templo.
Quando estiver pronta, o chamarei.
- Sim,Senhora - disse e logo a ligação fora interrompida.
Ansiava, como ansiava! Ouvia a chave ser girada e as batidas
ritimadas dos saltos das botas (sim, sabia qual era, exatamente qual) a
indicar que a Dona estava presente e que estavam breves os momentos de
ausência que tanto o torturavam.
Conseguia, mentalmente, saber onde exatamente a Dona estava pela
proximidade ou distanciamento dos sons dos saltos que lhe permitiam
intuir os gostos e desgostos Daquela a quem servia.
Sim, chegar ao Templo e lembrava-se quando, pela primeira e única
vez, presenciara aquela inspeção e também sabia que seria naquele
momento que a mulher transformar-se-ia na Dona, a pessoa em Aaminah:
uma vestimenta em latex negro que marcaria perfeitamente as formas que
considerava perfeitas de sua Dona e os cabelos longos a ponto de chegar no
meio das costas, também negros, perfeitamente brilhantes e lisos e sobre
essa vestimenta básica, um manto da Sua realeza , botas e um anel com um
"A" encarnado, símbolo de Seu poder.
Móvel:
- Pode apresentar-se, dagom.
Respirou profundamente e caminhou em passos lentos em direção ao
Templo, na verdade querendo correr em direção Àquela que idolatrava.
No entanto, sabia muito bem que a bela e digna Senhora não gostava de
pressas, de coisas feitas sem cuidado, ao contrário, comprazia-se com a
lentidão e a qualidade, a devoção explícita em cada ato.
Jamais lhe fora exigido isso mas não ousava dirigir o olhar a Aaminah
quando chegava ao Templo. De cabeça baixa, aproximava-se e colocava-se
de joelhos, ambos no chão, frente a sua Dona.
- Senhora Aaminah! Bem vinda seja ao Seu Templo. Eu , seu humilde
servidor, dagom, te saúdo!
- Bem vindo seja em meu Templo, dagom. Vejo que tudo foi feito
perfeitamente conforme minhas instruções. Sinto-Me lisongeada com seu
cuidado.
Uma profunda emoção sempre lhe alcançava nesses momentos já que
agradar a Dona não era apenas apenas uma obrigação mas um
contentamento de sua humilde alma. Sentia que era apenas através Dela

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que alcançava plenitude que nem todo o dinheiro e posses poderiam dar a
quem quer que fosse.
Aaminah era seu mundo e não importava o quanto, como e o porquê
de tudo o que fizesse, sempre pensava no bem estar e na felicidade de sua
Dona.
- dagom, podemos continuar.
Era a permissão para que procedesse ao ritual de oferta das primícias
que serviriam à satisfação de sua Dona e para que sentisse nutrida de corpo
e, porque não dizer, também de alma.
Retirou-se sem jamais dar as costas à Aaminah e foi até a cozinha onde
trouxe as frutas frescas, dispostas cuidadosamente para que o colorido
fosse harmônico e o damasco em calda, uma velha receita judaica que
preparara uma vez e caira no gosto de sua Dona.
Ritualisticamente, colocou a travessa em um apoiador próximo à
Aaminah:
- Senhora Aaminah! Ofereço-lhe humildemente as primícias da terra
para Sua satisfação. Tudo fiz para que A sua vontade e gosto tenham sido
contemplados e espero que seja de Seu agrado.
Permaneceu ajoelhado enquanto a Dona alimentava-se das frutas e do
damasco.
- dagom, você não me cansa de surpreender. Os damascos estão
melhores do que nunca. Gostaria de provar?
- Não, Senhora. Sei que não sou digno sequer de tocar a comida
destinada à Deusa do Templo!
- Prove! - comandou.
- Senhora! Por favor! Não posso provar a comida da Deusa do
Templo!
- Desafia uma ordem direta Dela, dagom??? Como ousa!!!
- Jamais , Senhora! Jamais
- Então coma! Jamais recuse algo que a própria Deusa concedeu-lhe e
lembre-se de quem lhe provém toda a graça e o todo o benefício superior
que você possa receber.
Desejou pedir-lhe perdão mas sabia que Aaminah não conhecia o
perdão, apenas a justa e indispensável retribuição da ofensa que lhe fora
feita. Portanto, dagom a obedeceu prontamente mas logo lágrimas
brotaram-lhe na face ao saber que estava comendo algo que não lhe era
destinado.
Profanação, assim sentia estar cometendo, tornando impuro algo que
a Deusa do Templo , e apenas ela, deveria ser Digna de consumir. Pegou a
fruta mais cítrica que, apesar de agradar à Aaminah, também lhe sugeria a
lembrança da profundidade do sentido de obediência da ordem.
- Porque chora, dagom? - perguntou-lhe.
- Senhora! Sinto-me tão indigno de compartilhar qualquer coisa que
seja destinada à Senhora que meus olhos acusam o sentido de profanação
que eu tenha cometido mesmo sabendo que é uma concessão Sua.
Aaminah , por sua vez, compreendera a profundidade desse
sentimento. Quem seria aquele ser tão forte, fortaleza que conhecia bem
desde o princípio, que lhe dedicava tanta devoção como ninguém nunca
antes o fizera? Porque aquela estranha atitude, desde que o encoleirara,
dele jamais lhe dirigir o olhar? Qual era a dimensão que tinha na vida de
dagom a ponto de sentir e ver, cada vez mais, que o seu esmero em
providenciar-lhe tudo crescia sem cessar? O que, mesmo em seu poder,
fizera para merecer uma entrega tão completa daquela forma?

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Sentia-se responsável por aquele homem, cada vez mais homem em
sua submissão. Sabia muito bem que qualquer violação, mesmo sendo uma
ordem Sua, causava profunda dor e tristeza em dagom.
- dagom!
- Senhora....
- Olhe em meus olhos! - comandou.
- Por favor, Senhora! Nem que a Senhora me tire o sangue, não exija
que eu contemple o rosto de quem me domina! Não sou digno disso!
- dagom, sente-se aqui, nessa cadeira! - apontou para um movel que
encontrava-se à Sua direita. Ainda de olhos baixos sentou e aí ficou da
mesma forma sob o olhar atento de sua Dona. Sentia cada vibração de seu
corpo e sabia bem o que estava representado ali. Como poderia torturar a
alma servidora dessa forma? No entanto, como demonstrar-lhe que era
digno e que conquistar a dignidade em serviço?
- dagom, sua Senhora deseja falar-lhe!
- E eu ouço, minha Senhora.
- Talvez você não se lembra a última vez que olhou em meus olhos.
Lembra-se?
- Sim, Senhora. Na cerimônia de encoleiramento quatro anos atrás
quando fiz meus votos e consagrei-Lhe esse lugar.
- Bem sei que é religioso, dagom, e na sua fé há símbolos de seus
mestres e das representações do divino, não é verdade?
- Sim, Senhora! Eu oro pela Senhora para que me comande e para
mim mesmo para que não falhe no meu serviço.
- Acredita que sou mais do que aqueles que te conectam com o que há
de vir?
dagom emudeceu e , apesar de não supreender-se com a perspicácia
de sua Dona, não encontrou resposta. Colou o queixo no peito e apertou os
olhos para que nada de luz penetrasse por ali e fosse ao seu coração.
- Como se mostra digno de tudo, dagom! Sua devoção me enche de
alegria! Não poderia encontrar melhor servidor do que esse que me
pertence.
- Senhora! Que ventura encontro em Suas palavras... Nada mais
poderia desejar mais do que isso!
- Sim, poderia e poderá . Contemple-me! Se me chama de Deusa e
Senhora, justo é que me atenda.
A muito custo levantou os olhos e a resplandecente figura de sua
Dona novamente lhe parecia aos olhos depois de tanto tempo.
Em nada se alterara em fulgor e beleza, apenas a maturidade dos 4
anos acrescentou-lhe sabedoria nas palavras e brilho no olhar.
Emocionaram-se ambos: Ela por ter clareza de que acolhera para Si a
melhor submissão que há, aquela que não é conquistada com dureza mas
com sutileza e a força interior que apenas brota dos grandes; ele , por sua
vez, dignificado por poder olhar aos olhos de sua Dona, descobrira ali a
doçura e o poder que apenas os gestos dignos tinham. Sim, era submisso à
Ela sem com isso renunciar à uma vírgula que seja de sua masculinidade e
da força que o fazia mais capaz de bem servir.
À partir daquele momento, tudo transcorreu da melhor forma
possível e encontraram prazer mútuo nas deliciosas práticas da arte do
BDSM. Sabiam bem que ele pertencia à Ela e Ela o tinha. Fora isso, o mundo
não lhes interessava.

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