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Epicuro
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ÍNDICE
Apresentação ................................................................................................................ p. 04
Tempo livre e imaginário: os mitos na formação de recursos humanos para o lazer ... p. 42
O autor .......................................................................................................................... p. 58
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APRESENTAÇÃO
Este livro reúne uma série de artigos escritos entre os anos de 2001 e 2003.
Alguns, nem sempre os melhores, foram publicados em revistas de circulação restrita e
também no Jornal Primeira Página, de São Carlos. Outros alçaram vôos maiores e foram
publicados em revistas de alcance nacional. E por fim, há artigos que ganharam um teor
“acadêmico”, sendo apresentados em eventos científicos e publicados em anais.
Em suma, Hermes não parece ser um mito que faz questão de "marcar posição",
conquistar os territórios do "inimigo" ou assumir novas missões. Ao contrário, é um mito
que serve incondicionalmente, que aceitou a de-missão ou a de-posição das armas para
acolher o outro, o diferente e o estranho. Enfim, re-ligar o céu e a terra.
Os artigos aqui publicados são como as hermas. Indicam caminhos. Mas não são
caminhos de espinhos ou de pedras, ao contrário, são caminhos numinosos que nos
levam suavemente para os castelos da anima-ação cultural, onde encontraremos os
jardins do (re)envolvimento humano, em temas tão díspares como os Jogos Cooperativos,
o Turismo, o Ócio, o Corpo, a Espiritualidade etc.
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flamejantes ou no prazer em consumir desenfreadamente. Encontram-se, ainda,
instituindo a corpolatria nas academias de ginástica e são frementes no reino das drogas
e da moda.
Assim é Hermes, um mito fraternal, brincalhão e meio infantil. Mas como já disse
WINNICOTT (1975), o brincar não é uma “regressão defensiva” como pensava a
psicanálise patriarcal e heróica, mas sim uma relação criativa e inventiva com o mundo
criado por Deus. Portanto, Hermes não é autoritário e fascinado pelo poder como Apolo e
Prometeu, nem belicoso ou determinado como Ares e Héracles, mas, nem por isso,
adepto do “irracionalismo” narcisista.
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As chaves mythodológicas dos Jogos Cooperativos:
Esta sutura nos leva, no plano arquetipológico, para novos mythos diretores, entre
eles Dioniso e Hermes. O arquétipo Dioniso, como sugeriu James Hillman (1997),
corresponde à consciência arquetípica do corpo e do vivido - que só pode ocorrer quando
a razão "solta as amarras". Em relação ao espaço, uma nova "consciência" se expande e
aquele deixa de ser apenas o espaço organizado ou produzido racionalmente para se
transformar em espaço vivido onde os contatos dos corpos, da sensibilidade, das
contradições se manifestam.
O dionisíaco costuma ser interpretado como algo inferior, efeminado, perigoso etc.
Esta é uma explicação unilateral que ganhou destaque com a dicotomia proposta por
Nietzsche entre as forças apolíneas e as dionisíacas. Porém, ela é a dimensão do estar-
junto ou da espontaneidade vital, importante para se criar vínculos comunitários, cooperar
e porque não, iniciar um processo de (re)envolvimento, após séculos de
(des)envolvimento e isolamento humano.
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Comunicação apresentada no II Festival de Jogos Cooperativos (SESC Taubaté - 04 a 09 de
setembro/2001).
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Por sua vez, Hermes, o deus da Comunicação entre o Céu e a Terra, possui
complexos atributos, entre eles o de facilitar as trocas e os relacionamentos. A vivência
arquetípica de Hermes se dá quando aceitamos dividir nosso conhecimento com os
demais, quando aprendemos a ouvir o que pensam os outros e, com eles, também
aprender.
A abertura ao outro é o que nos permite uma vivência dialógica capaz de resolver
os constantes desentendimentos e contrariedades que enfrentamos na vida cotidiana.
Não é à toa que o dialogar é uma arte. Assim, a vivência arquetípica de Hermes nos
possibilita expandir nossa versatilidade e capacidade de adaptação ao mundo fenomênico
com mais tolerância. Em outras palavras, ao incorporar as imagens noturnas hermesianas
em nossas vidas, os nossos interesses sociais aumentam, assim como o desejo de
encontrar pessoas e de participar do que ocorre no mundo.
Estas são algumas das características desse mytho versátil, inteligente, polêmico
e inquieto que, em suma, são valorizados quando jogamos cooperativamente.
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A dimensão hermesiana da cooperação2
Voltando, porém, ao tema da cooperação, podemos dizer que ela também possui
uma dimensão mais suave que transcende os planos materiais, abarcando metas mais
sublimes. A cooperação permite, por exemplo, o despertar de uma luz espiritual, ou seja,
manifestar o numinoso que se revela aos homens como dádiva suprema, pois, quando
alicerçada no mundo interior, a cooperação permite realinhar nossas vidas para metas
mais profundas.
2
Artigo inédito, escrito em São Carlos no dia 15 de setembro de 2002.
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A cooperação, quando transcende a ótica economicista e materialista, se faz
perceptível através de uma vibração sagrada que permeia todo o nosso ser. E isso
acontece porque além dos grupos externos e visíveis, passa a existir também os grupos
invisíveis com os quais também cooperamos.
Vou chamar esse ócio, provisoriamente, de sacerdÓcio. Esse ócio recolhedor que
permite uma comunhão com a realidade inefável, com o sentimento do sagrado que se
manifesta em nosso íntimo e que nos permite a harmonia que transcende aquela vivida
apenas pela via do trabalho e do materialismo ativo. É a libertação pelo silêncio.
Mas como o trabalho cooperativo pressupõe o grupo, temos que afirmar que este
também possui uma fonte interior que o sustenta. E é através da dimensão hermesiana
da cooperação que cada indivíduo (como elo importante, pois sem sua existência
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individual a corrente se parte) entrará em sintonia com o centro do grupo, despertando o
sentido de unidade do grupo e a capacidade de inter-ação de seus membros.
E aqui entra a lei do dar e receber que salientei anteriormente. O dar e o receber
pressupõem a troca, um saudável intercâmbio de energia. Porém, alguém poderia
perguntar: Hermes não é um mito servil? Sim. Ele é um mito que serve de forma
desinteressada. Outra pergunta: mas se ele serve de forma desinteressada, onde está a
troca?
A resposta está na sublime frase da oração de São Francisco: “... é dando que se
recebe”. A caridade, ou seja, o amor incondicional, é uma prática essencialmente
hermesiana que não podemos compreender por uma ótica materialista. De um ponto de
vista mais amplo, iremos nos aperceber que esse princípio numinoso possui uma
ressonância no qual, o dar e o receber, formam um só corpo.
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Hermes e o ambientalismo3
Em linhas gerais, todos esses autores pensam Prometeu como uma figura
mitológica que deve ser associada ao racionalismo exacerbado, ao gigantismo, à
imposição de valores e normas (as verdades absolutas). É sim um mito laborioso, mas
para explorar a natureza, para a criação de gigantescos complexos industriais etc. Nesse
sentido, é correto relacioná-lo à Modernidade, ao Iluminismo e ao Positivismo. Podemos
até identificá-lo em certas correntes marxistas, mas entre os ecologistas parece muito
difícil.
Nesse artigo, vou defender a idéia de que Hermes é quem mais se manifesta na
alma dos ecologistas. Apesar de ser mais conhecido como o mensageiro de Zeus e deus
dos ladrões e dos comerciantes, é um mito muito mais complexo e cheio de atributos,
como demonstrou Kerényi em um de seus profundos estudos sobre o mito. Um dos
atributos de Hermes e que para os ecologistas é fundamental, é o de criador de vínculos.
Podemos dizer que Prometeu é um mito (des)envolvimentista, aqui no sentido literal da
palavra, ou seja, que rompe, que separa ou dissocia o homem de tudo aquilo que o
envolve: a natureza, as emoções, a família, em suma, os elementos que compõem a
polaridade yin ou feminina da filosofia taoísta.
3
Artigo publicado na revista Ecologia e Desenvolvimento, número 96.
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emocionadamente "é preciso pensar no todo, pensar holisticamente"). É curioso notar que
ao mesmo tempo em que o cristianismo nascia na Judéia, Plutarco escrevia sobre a
morte do grande Pã e, na modernidade, enquanto o pensamento analítico cartesiano
(des)envolvia a ciência da religião e da filosofia, a obra de Plutarco era resgatada pela
cultura humanista. Assim, não seria similar o movimento de contracultura da década de
1960, no qual o ambientalismo foi germinado? Não estaríamos diante do renascimento
contemporâneo de Pã, o filho de Hermes?
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que é a cor do chakra 4, ou o chakra do coração para os tibetanos e budistas. Para os
adeptos da cromoterapia, o verde é uma cor relacionada à cura e não é por acaso que os
médicos adotaram o caduceu de Hermes como emblema, apesar de o mito estar muito
mais próximo das medicinas alternativas – ou complementares como se diz hoje em dia.
Aliás, há quem diga que o mito pessoal de Jesus Cristo, Buda, São Francisco de Assis,
entre outras figuras religiosas que mantiveram uma relação de equilíbrio com a natureza,
com as plantas e os animais foi Hermes. Em suma, podemos dizer que o mensageiro de
Zeus e amigo dos mortais é um mito fraternal, por isso preserva uma relação saudável
com a natureza e com a diversidade cultural.
Assim, não é um mito autoritário ou vingativo como Apolo, seu irmão. E também
não é um mito apologista do progresso a qualquer custo como o titã Prometeu. Podemos
dizer que Hermes é o mito daqueles que seguem a hermesiana frase de Schumacher:
"small is beautiful", ou "o negócio é ser pequeno" como foi traduzido em português.
Mas além do elemento Terra, Hermes está relacionado também ao elemento Ar,
por isso ele voa levemente e assim podemos afirmar que é um mito inventivo também, e
estará sempre se manifestando naqueles engenheiros que conseguem criar em escala
humana, projetando equipamentos e tecnologias de baixo impacto ambiental, que
consomem pouca energia, que utilizam material reciclável, que não poluem os rios etc.
Mas alguém pode me questionar sobre a mentira e o roubo, pois Hermes também
ficou conhecido como o deus dos mentirosos e dos ladrões. É verdade, mas essa é uma
faceta do Hermes infantil ou pueril, que, se pensarmos em termos psicológicos e no
processo de individuação junguiano, é algo que precisa realmente ser metamorfoseado
para a pessoa se adaptar, ou melhor, na linguagem acadêmica contemporânea, ser
incluída na sociedade; mas não precisa ser necessariamente superada, ela pode ser
canalizada para a criação artística e literária, onde ser um grande "mentiroso" torna-se
uma virtude. É por isso que normalmente as pessoas imaginativas em algum momento da
vida foram também grandes mentirosas. Um escritor que não saiba mentir saberá criar
narrativas e dramas maravilhosos?
Para encerrar, acredito que Prometeu é um mito que se encontra na UTI depois de
alimentar a imaginação do homem ocidental por tantos séculos, mas, no fundo, quem
mais orienta os passos e o coração daqueles que se envolvem com os quatro elementos
e com os segredos da natureza e da cultura, felizmente, é Hermes.
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Os atributos hermesianos podem ser encontrados em diferentes culturas, por
exemplo, nas figuras mitológicas de Mercúrio entre os romanos; de Merlin, na
mentalidade medieval; de Thot e de Osíris, entre os egípcios, e, por que não, em nosso
brincalhão e fecundador Boto, já levado às telas de forma tão encantadora.
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Fórum Mundial Social: evocando Hermes4
Neste artigo vou ficar ao lado do "Bem" e pensar Tífon como o "Mal" que deve ser
combatido. Assim, nesse contexto, os adversários de Tífon, todos os deuses do Olimpo
reunidos (já que Zeus não era capaz de enfrentá-lo sozinho) encarnam o "Bem".
Esses atributos aparecem em vários deuses, mas, Hermes, o filho mais inventivo
de Zeus e que este escolheu para ser o seu mensageiro junto aos mortais (justamente por
ser o deus mais fratriarcal), é aquele que parece reuni-los contraditoriamente em si. E é
justamente Hermes quem consegue iludir o monstro e salvar Zeus, recuperando os
nervos do pai.
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Texto inédito, escrito no encerramento do II Fórum Mundial Social, na cidade de Porto Alegre.
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Alegre com um único objetivo: encontrar formas e caminhos diversificados, porém,
entrecruzados, para ludibriar o monstro poderoso que se apoderou da Terra e re-construir
a ordem, com mais solidariedade e cooperação.
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O que é Animação cultural?5
Essa mudança de rumo, porém, tem uma forte "razão sensível" de ser. Ao ler a
mensagem, lembrei-me que, dois meses antes, no dia 21 de abril, durante o enterro de
meu pai no cemitério da Vila Alpina, em São Paulo, um primo que mora em Tupã/SP me
fez a mesma pergunta. Eu acho que não nos víamos havia 4 anos pelo menos.
Ao lhe dizer que estava lecionando no curso de "animação cultural" do Senac, ele
quis logo saber o que era isso. Quando eu lhe falei que animador cultural é o nome que
se dá para a pessoa que trabalha com grupos humanos, desde crianças a idosos,
organizando atividades sócio-culturais, espetáculos de teatro, exposições, shows,
gincanas e festas, entre outras, ele me disse com espanto: "então eu sou um animador
cultural?"
Ele está certíssimo. Desde que me conheço por gente, eu o via envolvido com
seus amigos imaginários fazendo caricaturas e quadrinhos, montando exposições (de
borboletas e outros bichos) dentro de sua casa; alguns anos depois, (des)envolvendo-se
na escola oficial, ele ainda organizava suas mostras de quadrinhos, torneios e outros
projetos que deixavam todos de cabelo em pé. Mais alguns anos se passaram e ele
conseguiu entrar no tão esperado e competitivo ensino superior. Além dos
importantíssimos trabalhos escolares, ele organizava toda a programação cultural e
recreativa de vários clubes na cidade, inclusive de clubes rivais.
5
Artigo publicado originalmente na revista do Sarau, Julho de 2001.
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(concretizando seus devaneios). Assim, cria, trabalha e se diverte ao mesmo tempo.
Semelhante a um sábio zen, não sabe e não pretende distinguir Trabalho e Tempo Livre.
Em suma, a sua vida é o alimento de seu daimon que está relacionado com a missão de
fazer a comunicação e a cultura circularem aqui na terra.
Voltando, porém, ao dia 21 de abril, ele ainda me disse: "...mas eu nunca precisei
fazer um curso, eu sempre fui assim, você se lembra..."
Mas como Cronos é impiedoso e os fios das Moiras foram tecidos para que nos
(des)envolvessemos em cidades diferentes, os nossos laços só foram reatados em um
momento de dor, em um momento que, por hábito, pede silêncio e introspecção. Mas
assim é a vida...
Acho que já falei demais e está na hora de responder a pergunta, não é mesmo?
Em suma, minha amiga, há pessoas que já nascem com o Dom do envolvimento e já são,
espontaneamente, animadoras culturais. É o chamado de seu daimon e não há como
fugir. É claro que um curso pode ajudar, e muito, a dominar os meandros burocráticos, já
que até o ócio hoje em dia é um campo para negócios, tanto que cresce
assustadoramente o número de "produtores culturais" atrás de patrocínio.
Para encerrar, vou dar uma dica para você que quer ser uma animadora cultural:
em primeiro lugar, nunca perca a espontaneidade que já nasceu com você. Se isso um
dia acontecer, o máximo que conseguirá ser é uma agenciadora de cultura e você ficará o
dia inteiro, 40 horas por semana, atrás de uma mesa cheia de papeis, contratos e projetos
ligando para grupos de teatro ou para produtores de shows musicais agendando data e
horário para um espetáculo.
Infelizmente, isso é muito pouco para quem pretende ser animador(a) cultural.
Você não acha?
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Turismo Fático: o prazer de estar junto6
É patente nesse tipo de passeio a importância que os grupos de amigos dão para
o encontro em si, deixando o local a ser visitado em segundo plano.
A noção de fático
6
Comunicação apresentada no I Workshop de Turismo Urbano, no Departamento de Geografia da
USP, em maio de 2001.
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Para maior compreensão do que estou chamando de fático, vou apresentar duas
pequenas histórias. A primeira eu a ouvi na década de 1980 e, desde então, eu não parei
de reproduzi-la. A segunda foi fruto de uma conversa entre uma mãe e sua filha que eu
tive a sorte de escutar e de me encantar.
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montaram essa fabricona, deram emprego para todos nós. Isso tudo foi muito bom, sabe.
Depois vocês ainda deram um aumento de 100% para a peãozada e ficou melhor ainda
porque o primeiro salário já era muito bom para a gente tocar a vida. Por isso, quando
veio o aumento, nós pensamos o seguinte... veja bem... para ganhar o mesmo que antes,
agora a gente só vai precisar trabalhar quinze dias no mês e vai sobrar tempo para a
gente nadar, pescar, ficar com a família, brincar com os filhos ..."
É preciso esclarecer que a pessoa que originalmente me contou esta estória tinha
outro interesse, ou uma outra interpretação para a mesma. Ela queria demonstrar como o
brasileiro era um tipo "preguiçoso", "desinteressado", "hedonista" etc. e que não adiantava
investir no país porque com este tipo de gente nada "iria para frente". Eu, ao contrário,
sempre que a narro é para valorizar essa alma meio dionisíaca e meio hermesiana
brasileira, que não vive para o trabalho, ao contrário, trabalha para viver. E, aliás, que
trabalha demais e ganha muito mal, conforme demonstram várias pesquisas.
Um outra história muito elucidativa, e está é real, foi vivida por uma menina de sete
anos, na cidade de São Paulo. Filha de uma família de classe média, a menina ia para a
escola todas as manhãs e, no período da tarde, tinha a hora certa para a aula de inglês,
para a natação, para o balé etc. Um dia ela se virou para a mãe e falou: "mãe! quando eu
vou ter tempo para brincar?"
Porém, o "fático" nem sempre foi pensado de forma positiva. O lingüista Roman
Jakobson, por exemplo, denominava com um ar jocoso a conversa sobre banalidades que
acontece, por exemplo, entre o motorista de taxi e o seu passageiro durante o percurso
da corrida como um exemplo de "comunicação fática". Habermas, um dos pais da Teoria
Crítica, escreveu um livro para discutir a necessidade de superação do fático para a
construção de uma "consciência crítica".
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Este último sentido aparece também na filosofia de Nietzsche e de Heidegger,
como os encontros motivados pelo prazer de estar-junto. O fático, assim, caracteriza a
reunião, o agrupamento que independe da necessidade de discutir um assunto pré-
determinado ou sério, ou mesmo a necessidade de resolver um problema profissional
e/ou escolar.
Dentro dessa perspectiva, é que vou pensar, então, o turismo fático. E sua
vivência pode ser pensada em três dimensões singulares que podem ou não aparecer
relacionadas durante um passeio turístico: a motivação, os locais freqüentados e a
organização de alguns equipamentos para lazer.
A maior parte destes passeios possui uma dimensão fática bem caracterizada,
pois, normalmente, são grupos de amigos, particularmente de idosos, que viajam pelo
prazer de estar-junto. É o grupo reunido no final de semana o que realmente importa. O
resto será sempre lucro: visitar cavernas, centros históricos, áreas verdes, passear de
"Maria Fumaça" etc.
Até por esta dimensão fática ser importante, é comum em viagens de Turismo
Social o grupo visitar freqüentemente os mesmos locais. Assim, a viagem pode ser para
as "Serras Gaúchas", para a praia, para as "Cidades Históricas" ou para qualquer outro
local escolhido pelo agente de viagens ou pelo animador cultural.
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É preciso aqui fazer um pequeno esclarecimento. Não é minha intenção defender
que os profissionais do Turismo receptivo não devem se preocupar com o que vão
oferecer aos turistas. É claro que mesmo aquele que faz um turismo fático está também
disposto a observar os pássaros "mais bonitos do Brasil", passear nas "cavernas mais
maravilhosas" do estado, visitar o museu "mais antigo do país", tomar o "melhor chopp da
região", visitar e sentir a ambiência do local "onde a primeira missa foi rezada", entre as
miríades de atrações e simulacros que podem ser descobertos, inventados e vendidos
como "o acontecimento" que não pode deixar de ser visto em nossa curta existência e
passagem por aquele local.
O que apenas quero salientar é que nada disso substitui o valor da amizade para
quem faz turismo fático. Conheço histórias de pessoas que viajaram para o exterior
sozinhas e passaram praticamente toda a temporada de férias dentro do hotel onde se
hospedaram, apesar de saberem que "lá fora havia lugares maravilhosos" para se
conhecer. Mas faltava o essencial: o grupo de amigos capaz de motivar o passeio para
fora do "refúgio" em que se transformava o hotel.
A resposta é óbvia também. É claro que sim, e normalmente estes grupos também
se reúnem com freqüência na cidade onde residem. Mas, no caso particular de grupos de
idosos, o Tempo Livre proporcionado pela aposentadoria, eventualmente viver uma
situação sócio-econômica mais estável, entre outros fatores, permite ao grupo fazer estas
pequenas viagens com poucos pernoites ou os "passeios de um dia".
Uma outra questão que parece incomodar as pessoas é a seguinte: e por que
visitar a mesma localidade várias vezes? Falta de opção?
A resposta desta vez é não! E o segredo é o seguinte: como não são as atrações
locais o que motiva o grupo, mas o prazer de estar-junto, passa a valer muito a
hospitalidade, a forma como eles são tratados e recebidos na cidade. Ou seja, se no hotel
ou pousada onde os turistas "fáticos" ficarão hospedados e se na cidade visitada houver
uma ambiência afetual e fraterna, se eles forem tratados com respeito e dignidade, como
amigos e não como potenciais consumidores de quinquilharias, com certeza aquele lugar
ficará marcado no coração do grupo e novas viagens para lá eles farão. Caso o
tratamento seja frio, racionalista e o grupo perceber que todos ali estão apenas querendo
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sugar seus reais, então, podem esquecer. Não será lá que o grupo irá se reunir
novamente para comemorar o aniversário de um dos membros, o casamento do outro, o
namoro de "fulano" e "ciclana" e outros motivos, aparentemente banais, que escolhem
para enriquecer a viagem e apertar os laços de amizade ou os vínculos dentro do grupo,
sempre sob a benção de Hermes, o Deus amigo dos mortais.
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O direito ao son(h)o: abraçando a cidadania neg-ativa7
Um poema asteco, cujo autor se desconhece, diz o seguinte: "que vimos a esta
terra para viver é uma inverdade: nós vimos apenas para dormir, para sonhar..." Por sua
vez, o respeitado mitólogo J. Campbell falava que "o sonho é uma pequena ponte
escondida nos recantos mais íntimos e secretos da alma(...) toda consciência separa,
mas, nos sonhos, assumimos a aparência daquele homem universal, mais verdadeiro e
mais eterno, que vive na escuridão da noite primordial. Lá, ele ainda é o todo, e o todo
está nele, indistinguível da natureza e despido de toda condição do ego".
7
Artigo divulgado em várias listas de discussão na internet em 2002.
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Eu, particularmente, como apreciador da obra de Gaston Bachelard, acredito que a
nossa duração (ou a nossa vida corporal, do nascimento à morte) não é feita apenas pela
vigília. Em seu clássico estudo, "A dialética da duração", Bachelard tece com a sua
elegância poética uma apologia do repouso e da descontinuidade (os momentos de
vazios). Eu acrescentaria também o devaneio, o lazer desinteressado e o ócio como
importantes em nossa vivência fenomênica e como direito do "cidadão", pois, para mim,
cidadania é importante quando está relacionada com qualidade de vida e eu não consigo
rimá-la com o estresse e com a paranóia.
Assim, apesar do respeito pelo trabalho realizado por Betinho e pelas campanhas
que organizou, gostaria de exercer o meu direito de discordar de sua noção de cidadania
ativa e propor uma outra para o debate: a de cidadania neg-ativa (leia-se negueativa) que
abraça o ócio, o sonho e a contemplação também como um direito essencial. E vou
pensar essa questão a partir do mito de Prometeu.
Quando Prometeu tentou enganar Zeus pela primeira vez, ardilosamente preparou
dois pacotes: no primeiro, envolveu os ossos descarnados de um bovídeo com uma fina
camada de gordura branca; no segundo, embrulhou as carnes no estômago do bicho,
formando um pacote asqueroso.
Zeus teve que escolher qual seria a parte destinada aos deuses e qual as partes
destinadas aos homens (criados a partir do barro por Prometeu e animados por Atena).
Sem saber o que continha os pacotes, Zeus escolheu o primeiro, ou seja, o mais bonito
na aparência, mas que apenas continha ossos. Resumindo a história, a parte destinada
aos homens passou a indicar que eles são mortais, que a sua vitalidade em suma, é
diferente daquela dos deuses, é uma sub-vitalidade como afirmou Vernant, pois precisa
sempre ser re-alimentada. Ao contrário dos ossos, que não se decompõem, a carne é
putrescível e assim, o caráter do homem, após essa divisão, é o de ser mortal e de se
esgotar após fazer esforços, sejam eles físicos ou mentais. A história de Prometeu, o
previdente, é mais complexa, mas para a nossa discussão podemos parar por aqui.
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Felizmente ou infelizmente, não somos como os deuses e nem como os heróis,
normalmente filhos de deuses com alguma mortal. Nós também não tomamos o leite de
Hera, como Hércules. Assim, não nos resta outra opção a não ser aceitar o ócio, o
repouso, e a desconcentração como fenômenos importantes e necessários para o homem
poder viver. Se a escolha de Zeus fosse outra, talvez a história seria diferente e, aí sim,
poderíamos mergulhar fundo na cidadania ativa.
27
“HERMES E A “PARTICIPAÇÃO MÍSTICA” DA COOPERAÇÃO8
Uma das questões que intrigaram os antropólogos por muito tempo foi a
adaptação das tribos primitivas às circunstâncias ambientais. Sem precisarem, por
exemplo, de livros, autoridades universitárias, escolas burocratizadas ou alta tecnologia
médica, os "primitivos" enfrentavam as doenças e a morte, encontravam alimentos,
abrigos e sobreviveram por milhões de anos. E, pelo que tudo indica, a chave dessa
habilidade para enfrentar a vida estava nos seus estranhos padrões de consciência que,
para o homem moderno, são praticamente incompreensíveis.
Esse "paradigma" primitivo, felizmente, nunca se perdeu. Pode ser que foi jogado
para o fundo de algum baú pelo pensamento analítico ou pela progressão da consciência
humana, que des-envolveu o mundo interior e o exterior. Porém, associações simbólicas
que nos remetem ao mundo da participação mística podem ser encontradas no mundo
contemporâneo. E a cooperação é justamente uma delas, talvez a principal.
8
Artigo composto em 03 de março de 2002, na cidade de São Carlos/SP e difundido pela internet.
28
Ou seja, a cooperação é como uma sinfonia explicada que nos ajuda a compreendê-la,
mas a música que dela resulta não é mais a música original. É por isso que ainda
precisamos escrever, pensar e viver muito a cooperação, apesar de sabermos que toda
tentativa de explicação destrói aquilo que se pretende explicar.
Da mesma forma que as doenças não passam de símbolos (a febre, por exemplo,
comunica-nos que chegou a hora de descansar enquanto os distúrbios na garganta nos
dizem que há algo que não conseguimos engolir), a cooperação nos comunica que o
pensamento analítico apolíneo precisa ser refreado para que possamos reencontrar
Hermes dentro de nós, ou seja, o nosso caminho para a participação mística.
29
O imaginário hermesiano da cooperação9
R.C. Barker
Não é à toa que a hipertrofia da estrutura heróica em nossa psique leva a uma
militarização do mundo e, como apontam vários psicólogos de linha junguiana, para uma
naturalização da esquizofrenia como norma de comportamento, uma vez que a
dissociação é sua força motriz. Podemos encontrar também a estrutura heróica do
imaginário manifestando-se fortemente através do chamado paradigma cartesiano, cuja
9
Publicado originalmente na Revista Trans, editada pelo Departamento de Educação da UEBA em
2002 e, em seguida, no Jornal Primeira Página, de São Carlos/SP.
30
característica é a separação dos objetos em diferentes reinos ou dicotomias (corpo e
mente, natureza e cultura, entre outras).
Por outro lado, a estrutura mística do imaginário é aquela que se caracteriza pela
união, pela mistura, pelo envolvimento. Não é à toa também que essa estrutura do
imaginário predomina nas culturas orientais de onde surgem expressões como Yoga
(palavra do idioma sanscrito que significa integração), Reiki (expressão japonesa que
significa união da energia cósmica com a vital) e outras que procuram considerar não
mais a existência de dicotomias, mas a de polaridades dentro de uma única realidade.
Essa estrutura do imaginário também tende a predominar nas culturas não-modernas e foi
fortemente presente nas sociedades matriarcais.
Jung, por sua vez, já salientava que a segunda etapa do processo de individuação
não deixa de ser uma preparação para a morte. Essa mudança de sensibilidade foi
denominada com o nome de metanóia. Experiências de quase morte, segundo alguns
pesquisadores, também costumam provocar uma metanóia. Quando isso ocorre, a
natureza, a fragilidade humana, entre outros assuntos, passam a ser aceitos e vividos
pela pessoa que, com a mudança de sensibilidade, passa a cultivar uma relação mais
compreensiva com o outro e também com o sagrado.
31
sido assinalado por Edgar Morin e outros pensadores aos discutirem o chamado
paradigma holonômico, no qual a Parte é revalorizada por também conter o Todo.
Uma metáfora que poderia ilustrar a diferença entre essas três estruturas é a da
relação entre as árvores e a floresta. A estrutura heróica, que fundamenta nossa visão
militarista, ativa, desenvolvimentista, cartesiana etc., é aquela que, quando polarizada,
nos faz enxergar apenas as árvores isoladamente. Por sua vez, a estrutura mística do
imaginário, fundamentando uma mentalidade holística, quando polarizada nos leva a ver a
floresta ou as relações entre as árvores, porém, desaparecendo com toda a singularidade
de cada espécie. É o que Morin chamou de "redução pelo Todo".
32
As sombras do trabalho voluntário10
Nesse momento, percebi que havia uma dimensão mais profunda por trás daquele
projeto. A impressão que ficou em mim após ler o painel era de que a noção de
volunterapia não seria muito saudável, nem para quem se solidariza, nem para quem
recebe a ajuda.
Como eu não tinha mais dados para continuar minhas reflexões, resolvi deixar o
tema de lado até que, hoje, dia 25 de dezembro, deparei-me novamente com este
assunto na matéria "Trabalho Voluntário cresce em Ribeirão", publicada no jornal A Folha
de São Paulo, em seu caderno regional distribuído na região de Ribeirão Preto.
10
Texto inédito, escrito no dia 25 de dezembro de 2001 (revisado em 3 de fevereiro de 2002).
33
Após ler a matéria, ficou evidente para mim que, em alguns casos, há muitas
sombras no trabalho voluntário. Vejamos alguns trechos que ilustram o que quero dizer:
"A maioria dos voluntários, que de alguma forma ajudam as entidades, dizem
acreditar que na maioria das vezes quem acaba sendo ajudado são eles e não as
pessoas atendidas pelos programas assistenciais."
"Ela diz acreditar que o retorno do trabalho na entidade serve como conforto".
"Acredito que o retorno que recebo pelo trabalho é maior do que a minha
dedicação."
Essas frases pinceladas no artigo trazem novas pistas para entendermos o que
significa a expressão volunterapia, praticada atualmente, e como ela não tem conexão
com a prática da caridade em seu sentido mais profundo e cristão.
34
primeiro lugar, em assumir e comandar sentimentos, decisões, bem-estar, problemas e
destino das pessoas.
Isso me faz crer que, a solidariedade orgânica que Durkheim enxergava nas
sociedades não-modernas e que me parece mais saudável, é uma espécie de “trabalho
involuntário”, uma vez que a cooperação entre os seus membros acontece de forma
desinteressada e sem alarde. A lógica não é mais egocêntrica e, sim, ecocêntrica.
Por ser involuntária, ela também pode se manifestar de forma inconsciente, pois o
sentimento de respeito e amor ao outro está tão interiorizado dentro da pessoa que,
ajudar um outro membro da comunidade, é uma atitude natural e típica de pessoas
saudáveis, portanto, sem a necessidade de se exigir algo em troca, a não ser o bem-estar
de todo o grupo. Em suma, uma percepção sócio-espiritual muito mais próxima das
filosofias orientais que refletem, no plano arquetipológico, o mito de Hermes.
35
É claro que é melhor essa forma de solidariedade mecânica do que nada, mas não
é possível deixar de enxergar que ela contém um lado de sombra que precisa ser
"iluminado" por outros meios se quisermos, num futuro breve, viver relações de
solidariedade saudáveis, orgânicas e involuntárias, similares ao processo de respiração e
de funcionamento de nossos corações.
36
A horizontalidade da cooperação11
Boa parte dos meus artigos nasce dos insights que tenho na hora de responder
aos e-mails que recebo. Acho que isso é o que Buber chamou de vida dialógica, esse
confronto estimulante preferível ao silêncio reconfortante do monólogo.
A idéia que vou discutir nesse artigo surgiu a partir da troca de e-mails com uma
pessoa especializada em Jogos Cooperativos que, coincidentemente, também é
graduada em Geografia. Convivemos durante três anos na mesma faculdade
(1990/1992), mas, como os cursos da USP são muito des-envolvidos, fomos nos
conhecer - virtualmente - apenas agora, na segunda quinzena do mês de setembro de
2001.
Eu vou procurar aprofundar a minha noção de cooperação com base nessa troca
dialógica virtual. Quando eu fiz uma crítica à solidariedade (vide artigo anterior nesse
livro) eu não estava a descartando totalmente, mas tentando demonstrar que ela
apresentava uma face negativa e uma positiva. A primeira é sua relação com a
"caridade", uma forma de ajudar que pode ser resumida no famoso pensamento taoista:
"dar o peixe ao invés de ensinar a pescar". Muitas vezes o que se chama de solidariedade
são práticas que podem gerar, em alguns casos, dependência entre as partes, não se
estimulando a autonomia daquele que recebe a ajuda.
11
Artigo escrito no dia 29 de setembro de 2001 e enviado para a lista de discussão Jogos
Cooperativos.
37
Quem conhece meus artigos sabe que não sou a favor da máxima cristã "comer o
pão com o suor do trabalho". Não é isso o que defendo. Eu acredito que já seria possível
cada cidadão receber uma renda mínima, independentemente de trabalhar ou não, e
gastar seu dinheiro da forma que bem entender. Nossos antepassados (ou melhor, nós
mesmos, se pensarmos em termos de reencarnação) já trabalharam bastante por nós.
Por isso, o que estou criticando é a situação de dependência que esse tipo de “caridade”
é capaz de gerar.
Por sua vez, em um mundo tão des-envolvido como é o nosso, é claro que é
positivo acolher o outro e dar, mesmo por alguns instantes, algum conforto, ajuda
material, emocional, espiritual etc. para alguém que sofre e precisa de calor humano. Por
isso, eu coloquei, em outro artigo, que a cooperação incorpora a solidariedade, mas vai
além.
Por outro lado, a cooperação, dentro de uma ótica libertária, será sempre
horizontal. Ambos ajudam e são ajudados. Ambos ensinam e aprendem. É claro que essa
troca não precisa ser necessariamente igual, mas a relação é sempre dialógica e des-
inter-essada, na linha sugerida por Levinas.
38
como se fosse um super-herói que vai emancipar os pobres "alienados" e "sofredores".
Para se cooperar não é necessário estar "iluminado", "armado" ou "lutar", mas agir des-
inter-essadamente.
39
Cooperando com Hermes: para além do patriarcado e do matriarcado12
Porém, notei que por cooperação muitas vezes eu estava entendendo a total
renúncia do eu para se dedicar exclusivamente ao outro, ou então, cooperar passava a
ser sinônimo de proteger o outro, sobretudo os mais indefesos. Essa visão realmente se
parece com o mito da grande mãe que protege seus filhotes. Ou seja, achando que estes
serão sempre frágeis e indefesos, ela se coloca no papel de protegê-los e assim faz tudo
por eles, tornando-os mimados e, de fato, dependentes. É o famoso não "sair da saia da
mãe".
Esta é uma leitura muito comum em setores da "esquerda" que resolvem fazer
tudo para salvar os oprimidos (atualmente, os excluídos), esquecendo-se muitas vezes de
perguntar aos "oprimidos" e "excluídos" se é realmente isso o que eles querem. Um caso
curioso aconteceu recentemente em uma cidade do interior do estado administrada por
um partido de esquerda onde a prefeitura fez um bonito projeto de transporte para
portadores de deficiência física sem consultar os maiores interessados. Como resultado,
no dia da entrega do serviço, os "deficientes" fizeram um protesto, pois o que a prefeitura
havia feito com tanta boa intenção, não interessava e não servia para eles.
Voltando ao festival, penso que a cooperação deve estar relacionada muito mais a
uma espécie de vivência andrógina para além do patriarcado e do matriarcado. Assim
como é o mito de Hermes. Foi interessante fazer essa discussão em um grupo que estava
12
Artigo escrito durante o II festival de Jogos Cooperativos, no SESC Taubaté, no ano de 2001.
40
sentido o mesmo incomodo com a predominante visão matriarcal presente em diferentes
falas durante o evento.
41
Tempo Livre e imaginário:
Até três ou quatro décadas atrás era uma grande heresia falar em ócio ou em
tempo livre. Os integrados e os apocalípticos, conforme definiu Umberto Eco (1998), só
conseguiam enxergar no trabalho a “esfera produtiva” e/ou a dimensão histórica
importante para a “emancipação da humanidade”. E nem é necessário citarmos a Bíblia,
muitas vezes utilizada para classificar o ócio e a preguiça como pecados no mundo
ocidental. Porém, como em um passe de mágica, a sociedade pós-industrial descobriu
que o ócio poderia, na verdade, ser um grande negócio. Ou seja, uma importante fonte
para acumulação de renda, criando, assim, a indústria do entretenimento.
Dessa forma vão surgindo, ano após ano, parques temáticos, resorts, clusters e
outras alternativas de “enriquecimento” do tempo livre da maioria e, simultaneamente, do
bolso da minoria. Este processo, porém, ajuda a inverter o significado mito-simbólico do
tempo livre e do ócio. Ou seja, o ócio sempre foi o território onde reinavam absolutos
Dioniso, Hermes e Orfeu, entre outros deuses menores. Era o êxtase do deus do vinho
que arregimentava multidões para festivais religiosos e/ou artísticos, para a vivência
“libertária” de praças, parques, montanhas e mares não civilizados; ou então, tínhamos o
deus da comunicação (e que também dá asas ao dragão da imaginação) “encarnando” a
alma dos organizadores de festivais de teatro amador, de música e eventos ecológicos
voltados para a criação de vínculos comunitários e, enfim, Orfeu, capaz de sensibilizar
até os animais extremamente ferozes, intumescia seus dedos em sua cítara e trazia um
13
Painel apresentado na UNICAMP, durante o simpósio Políticas Publicas de Lazer, em 2001.
42
novo brilho à alma dos “animadores culturais” espontâneos que, no meio da massa
urbana, nos bairros, nos centros comunitários, nas igrejas, procuravam (en)cantar a vida
cotidiana local.
Hoje, porém, o ócio virou negócio, e não há mais espaço para amadores - ou seja,
para quem faz com amor. Até a “animação cultural” que até recentemente era muito mais
um “estado de espírito”, uma vivência, uma militância que emergia a partir da alma, hoje
se tornou área apenas para o especialista em entretenimento. Dessa forma, a
espontaneidade de Hermes, Orfeu e Dioniso tende a ser substituída pela aura iluminada,
porém burocrática, vingativa e autoritária do deus-solar Apolo.
Lembremos que na mitologia grega, todas as ilhas temiam que fosse sobre elas
que sua mãe Leto viesse a dar à luz o novo deus. Foi preciso muito esforço para
convencer a pobre ilha de Delfos que Apolo não a destruiria e que, ao contrário, iria
enchê-la de riquezas assim que nascesse. A ilha aceitou, mas sem muita convicção.
Outra narrativa nos conta que, no mesmo dia em que nasceu, Apolo matou a serpente-
dragão Píton (símbolo da imaginação, do inconsciente, do irracionalismo).
Para adentrar no domínio arquetípico das políticas de recursos humanos para o
lazer, enfatizando no momento os cursos superiores de Turismo, procurei fazer um
levantamento preliminar de quais seriam os mitos diretores manifestados em diferentes
documentos, sobretudo nas “diretrizes para a definição dos objetivos e missão do curso
de turismo”, elaborados por diferentes faculdades e centros universitários no interior do
estado de São Paulo, a partir das teorias antropológicas do imaginário formuladas pela
“escola de Grenoble” e utilizando como heurística a mitocrítica durandiana.
A mitocrítica, de forma bastante resumida, consiste em identificar e interpretar os
mitemas (ou seja, a menor unidade significante em um discurso narrativo ou ponto forte e
repetitivo do mesmo) e os ideologemas (unidades significativas mobilizadoras de energias
semânticas em textos “racionais” e que podem ser interpretadas em seus traços míticos).
Neste sentido, procurei realizar uma leitura mitocrítica destes documentos
pretensamente racionais, escavando sua dimensão simbólica, e a conclusão que se pode
chegar é que a sociedade pós-industrial além de sua capacidade em transformar o ócio –
um fenômeno “improdutivo” e execrado por todos os lados – em um grande negócio,
possui novos mitos diretores.
Ouso afirmar que a mitologia, felizmente, nunca é superada. O que normalmente
se verifica no mundo da racionalidade é a formalização do discurso mítico em um discurso
lógico, mas todos os ingredientes (os atributos mythicos) permanecem e traem este
43
discurso. Dentro dessa perspectiva, podemos notar que a preocupação contemporânea
em formar “recursos humanos” para o lazer não deixa de manifestar o desejo heróico de
super-ação contra o caráter dionisíaco e órfico que sempre permeou o ócio. Em suma, os
planos dos cursos superiores de Turismo foram pensados com o objetivo de destronar
Dioniso e Orfeu, para que Apolo e Hércules possam, respectivamente organizar o caos e
transformar em competidores os novos súditos do Tempo Livre, gerando não mais uma
“anima-ação cultural” (a ação cultural fruto da alma sensível), mas uma nova modalidade:
a “animus-ação cultural” (a ação cultural realizada sobretudo com a vontade e o
pensamento heróicos).
Domenico de Masi e seus colaboradores no célebre estudo “A sociedade pós-
industrial”, apresentam diferentes leituras sobre a sociedade contemporânea, porém,
alguns atributos dela são quase consenso entre os pesquisadores: ela exerce um poder
tutelar “absoluto”, “minucioso”, “metódico” e “previdente”. Em suma, podemos dizer que
estes quatro atributos da sociedade pós-industrial também são todos atributos do deus-
solar Apolo. Portanto, estamos vivendo ou caminhando (no caso dos países em
“desenvolvimento”) para uma sociedade cuja organização é tipicamente apolínea.
E estes autores vão além. Esta sociedade, como afirmam, estimula nos indivíduos
o “instinto de combatividade” e a “competição”. Ou seja, também atributos apolíneos, mas
que também podem ser encontrados em Ares (o deus da guerra) e em Hércules, o herói
determinado. Hércules é famoso por vencer na base da força e da coragem os enormes
desafios propostos por Euristeus, mas, por ser pouco sensível e atordoado por sua
descomunal força, mata sem querer um grande amigo e fere com uma flecha envenenada
o seu pedagogo Quíron. E, em um acesso de loucura, mata também seus filhos.
È importante lembrarmos também que Hércules, em um momento crucial de sua
“individuação” precisou optar entre ouvir a voz de Hedoné e a de Areté, ou seja, entre o
prazer e a virtude. Hércules, como os “heróis”, escolheu o caminho da virtude. Não estaria
nesse caminho de mão única, ou unilateral o seu problema?
E o que isto tem a ver com o nosso assunto. Em primeiro lugar, com a
sensibilização órfica e o ócio extático de Dioniso (comum na alma dos animadores
culturais formados espontaneamente e que não passaram por cursos de especialização)
desaparecendo na medida em que a instrumentalização racionalizante do Tempo Livre se
expande a passos largos e o “perfil desejado do profissional do turismo e do lazer”
assemelha-se aos atributos de Apolo – o deus solar – e de Hércules – o herói
determinado, o prazer e o fático deixam de ser as chaves da animação cultural.
44
Felizmente a resistência a este imaginário excessivamente luminoso ainda existe e
deve ser valorizado em minha opinião, pois foi o que me levou a fazer este estudo
mitocrítico. Não são poucos os professores que transformam os alunos em bodes
expiatórios, os culpados pelo fracasso dos cursos. Ouvindo suas angústias, eu me
perguntava: isso é uma ação ou uma reação? Por que eles (os alunos) se comportam
dessa forma? Não vou nem entrar no mérito da didática do ensino superior, pois os
projetos pedagógicos e as “diretrizes para os objetivos e missão” dos cursos de Turismo
já são mais do que suficientes para obter as respostas que necessitamos.
Vejamos um pouco da dimensão mito-simbólica destes documentos. Em primeiro
lugar é o “imaginário da ordem” e os mitos racionalistas e determinados que são
valorizados. Os objetivos normalmente estão direcionados apenas para a “dimensão
cognitiva” dos alunos. Estes documentos são recheados por imagens diurnas do
imaginário tais como: “capacidade de pensar”, “expressar-se claramente”, “resolver
problemas”, “tomar decisões” etc. São objetivos dignos, se não fossem impostos a
pessoas que na maioria das vezes ainda nem completaram 17 ou 18 anos de idade.
Nestes documentos não se nota uma abertura à dimensão afetiva ou à
sensibilidade. Enfatiza-se sempre e de forma angustiada uma preparação para a
competição e à vida excessivamente vigilante, justamente o oposto do que as pessoas
normais pretendem fazer no Tempo Livre.
Em minha opinião, o comportamento inadequado dos alunos não deixa de
representar também uma resposta com forte carga simbólica e afetiva a este imaginário
solar que nem nos chamados cursos tradicionais é aceito integralmente. O aluno que
procura um curso de Turismo, normalmente é alguém com um intenso espírito de
aventura e envolvimento, que dão valor ao estar-junto e ao prazer hedonista, que mantém
ainda vivos em si as chamas da alma dionisíaca e órfica que aludimos anteriormente.
Como dizem alguns professores, pejorativamente, “o aluno de Turismo vem para a
faculdade para fazer Turismo”. Isso é verdade e é esta a chama que não pode ser
apagada nunca para que, no final do curso, ele possa ser um profissional-amador, ou
seja, alguém que faz Turismo com competência (Apolo), mas também com prazer
(Dioniso).
Vejamos agora o perfil desejado do profissional do turismo que estes documentos
pretendem formar. Podemos observar que são apenas os atributos heróicos de Apolo e
de Hércules que são importantes: “competência”, “eficiência”, “iniciativa”, “determinação”,
“liderança” e “persistência”.
45
Em nenhum momento temos uma preocupação com a alteridade, com a
compreensão e respeito à diversidade cultural. Nestes documentos não há espaço para o
uso da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do próprio corpo para a aquisição de
conhecimento; não se estimula a tolerância, a cooperação e a solidariedade. Não seria
talvez isso o que os alunos reivindicam com sua transgressão em sala de aula?
O sociólogo do lazer e do turismo, Jost Krippendorf, aponta outros valores nos
jovens típicos da sociedade pós-industrial. Como diz, estes se orientam para o “tempo
livre, para a “experiência”, para o “prazer”, para o “presente”, para a “natureza e meio
ambiente”. Em suma, desejam uma “vida em que se tenha tempo de viver e também uma
vida mais humana”. Outros atributos que o autor apresenta em sua esperançosa crença
na juventude são: “criatividade”, “espontaneidade”, “fantasia e desabrochar pessoal”,
“espírito aberto ao imprevisto e à novidade”, “contatos humanos e espírito comunitário”,
“relações intensas com a família, amigos e conhecidos”, “experiência de grupos”,
“descontração e bem-estar”, “liberação de todas as coerções, capacidade de ficar
despreocupado”, “prazer e gozo em vida em vez de tédio e coerção da produção” etc. Em
suma, todos atributos que podemos associar a Dioniso, a Hermes e a Orfeu. Este último,
apenas por curiosidade, também seguiu os argonautas, mas para encantar e tornar
menos penosa aquela missão heróica, nunca para lutar.
A impressão que eu tenho ao interpretar estes planos é que se busca formar
jovens executivos e carreiristas ambiciosos para explorar o Tempo Livre, ou seja,
enriquecer no campo do ócio como negócio. É claro que existem muitos jovens com tal
mentalidade, mas não parece ser a da maioria que se inscreve nestes cursos.
46
Ação cultural na terceira idade:
Introdução à sociagogia do (re)envolvimento14
O grupo de idoso foi formado por pessoas que iam ao SESC para preencher o
"tempo livre" de uma forma criativa, lúdica e alegre. Mas uma coisa era patente no grupo:
ninguém aceitava ser rejeitado, parcial ou totalmente. O grupo, apesar de heterogêneo do
ponto de vista sócio-cultural, com pessoas que apenas haviam feito o primário e outros
com curso superior, era muito coeso.
14
Comunicação apresentada no simpósio de educação de adultos. UFSCAR, novembro/2003.
47
Confesso que, de certa forma, isso foi uma agradável surpresa para mim. Eu
imaginava encontrar pessoas mórbidas, pessimistas, fragilizadas e que passariam boa
parte do tempo narrando os acontecimentos trágicos de suas vidas. Possivelmente, o
trabalho social que o SESC realiza com os idosos (viagens, interação social e cultural,
participação em atividades esportivas e recreativas) ajuda, e muito, a criar o perfil de
idoso que encontrei em Rio Preto.
Nos meses em que trabalhei com o grupo, foi possível se aperceber das relações
de poder e de decisão nas resoluções internas para a montagem da exposição. Notei que
nunca houve a necessidade de se estabelecer um poder hierarquizado. As relações foram
sempre horizontais e interpessoais e o prazer em conviver de uma forma criativa e
interativa parecia ser mais importante do que as decisões que dali sairiam.
48
Trabalhar com a Terceira Idade exige uma mentalidade não-cartesiana, não
apolínea por parte do animador/agente cultural.
Hoje compreendo que o grupo, ao fazer de cada encontro semanal uma vivência
extremamente lúdica, afetiva e criativa, ajudou a dissolver a mente lúcida, efetiva e
crítica deste que agora escreve.
49
Mapeando os novos templos de Hermes:
Um estudo Mythodológico do Lazer15
15
Comunicação apresentada no I Workshop de Turismo urbano organizado pelo Departamento de
Geografia da USP, em 2001.
50
mútua entre proprietário e clientes que desestimula qualquer tentativa de transgressão de
suas regras básicas.
Esta alma hermesiana presente nos três proprietários apresentados acima pode
ser percebida a partir dos seguintes traços que apresentam fortes indícios de serem
atributos de Hermes:
51
• forte disposição para aceitar e introduzir mudanças, desde que a rotina de
tranqüilidade e apaziguamento não seja destruída ou alterada;
52
Mostra do Redescobrimento:
Um passeio arquetípico16
Vou comentar alguns aspectos que me chamaram a atenção no dia em que fui
exatamente com o objetivo de observar e analisar o comportamento do público. Notei que
várias pessoas assim que chegavam na entrada da exposição e percebiam que teriam
que descer uma rampa em uma forte penumbra e rodeada por flores roxas, logo diziam:
“eu não vou entrar aí não!”. Nas palavras em itálico temos vários elementos tipicamente
noturnos: a descida, a penumbra e a cor roxa, considerada a cor do luto e também da
alma.
O que estava acontecendo? Por que reações tão díspares? A primeira vez que fui
visitar a exposição tive nitidamente a impressão de que estava entrando em um “labirinto”
ou em um grande “intestino”. Sobre a simbologia do labirinto, CHEVALIER (1997) nos diz
que representa um entrecruzamento de caminhos, muitos sem saída. Sua essência está
em retardar o viajante para que não chegue tão rápido ao seu destino (ao centro que
16
Artigo publicado no site sombras inefáveis, em 2001.
53
deseja atingir). Penetrá-lo é como percorrer uma viagem iniciática, daí sua relação
também com a mandala.
A simbologia do intestino é similar. CHEVALIER (op. cit.) nos lembra que no antigo
Egito, nas cerimônias de embalsamento, as vísceras eram retiradas cuidadosamente e
encerradas em uma urna, enquanto os demônios e monstros tentavam se apoderar da
urna e dos poderes mágicos nela encerrada: os excrementos (ou a potência biológica
sagrada que residiria no homem e que mesmo depois de evacuada, poderia ser
aproveitada).
54
Quando trabalhamos, devemos trabalhar. Quando nos
divertimos, devemos nos divertir. De nada serve procurar misturar as
duas coisas. O único objetivo deve ser aquele de executar o trabalho
e ser pago por tê-lo executado. Quando o trabalho termina, então
pode vir a diversão, não antes.
A força e o papel dos schèmes (os elementos energéticos) em nossa psique, além
de unirem as dominantes reflexas às imagens (DURAND, 1997), por serem universais se
tornarão mais robustos e imponentes conforme os rumos de nossa bio-história, valores
culturais da sociedade onde nascemos e até, porque não, de influências cósmicas
relacionadas ao nosso mapa astral, já que temos os signos ativos (ou yang) e signos
passivos (ou yin), relacionados aos elementos Ar, Fogo, Terra e Água (os dois primeiros
como elementos simbólicos diurnos e, os dois últimos, noturnos).
55
Bibliografia básica:
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
56
KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do Turismo: para uma nova compreensão do lazer e
das viagens. São Paulo: ALEPH, 2000.
57
O autor:
Adilson Marques nasceu em São Paulo, capital, em maio de 1966. Taurino (terra) com
ascendência no signo de Aquário (ar), parece viver imerso nas relações antagônicas,
concorrenciais e complementares entre os enigmas do céu e as provações da terra.
Espiritualista, acredita na necessidade de buscar, diariamente, se aprimorar moralmente,
mas sem o sacrifício do corpo físico. Nesse sentido, sente-se mais à vontade diante da
religiosidade oriental do que das tradições religiosas do ocidente, no qual o corpo físico é
sinônimo de pecado e corrupção da alma.
Formado em Geografia pela USP, fez seu mestrado e doutorado em Educação, pela
mesma Universidade, especializando-se em Antropologia das Organizações e do
Imaginário. Trabalhou no SESC, em várias unidades da capital e do interior, além de ter
prestado assessoria para algumas entidades do terceiro setor na área da educação
comunitária e popular. Lecionou em faculdades particulares do interior. Foi professor da
disciplina Lazer e Território, no curso de pós-graduação em Lazer e Animação sócio-
cultural, no SENAC.
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