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DANTES QUEM MANDA © ”n = PEDRO OOM D> O Oo O «|| Wma Carta para a a Palma Ferreira 2a) Es < Zz. ie) COLECCAO a if “NoLocia < es) bE See IN Wok ®) devin Mlustre Sr. Dr, Jofo Palma Ferreira: Nao tenho 0 gosto de o conhecer pessoalmente, nem sei, tampouco, se na realidade teria algum prazer nisso. . Desculpe-me V. Ex: pee trito, mas acontece que, de ha muito, deixei de ter qualquer eee Gio, ou*sequer respeito, pelos bem encapucades adornc (wives) da oo = ional, sejam eles muito ilustres ou nfo. Nao € este, claro, me iniba de Ihe fazer uns pe as muito respeitosos, reparos is suas criticas a . , In Diério Populars, de 6-8-59 e de 1085 08, respectivament Embora hé cerca de dez anos voluntiri oat rilado dos palcos, arenas, tribunais e circos literdrios, tenho vindo a a lt interes admirativo 0 esforgo que V. Ex tem soca no sentido de compre: ss explicar e historiar certas dejeccSes literdrias ¢ ant nai le si tio dificeis de compreen- der, explicar ou historia Na realidade tao aiticelo gee, apesar do m a erudito cuidado dos seus trabalhos eriticos, a confusio se é ayoluma no espfrito dos que querem por forga saber, dos que nfo compareceram, dos. que estio, € fe até no daqueles que sempre estiveram presentes. Fago a justiga de nfo Ihe atribuir culpas em tal embrdglio do Surrealismo, , Futarismo, Sensacionismo, Orpheu e Presenga e se, acaso, algumas Ihe eabem so to pequenas que me apraz continuar a tirar-Ihe o chapéu (que nfo uso). ‘A titulo de desembroglio vou tentar esclarecer V. Ex.* acerca do que sei do 4 Surrealismo indigena e dos seus proceres, entre os quais fui classificado. Desde jf, apraz-me dizer a V. Ex.* que nunca fui surrealista, nfo o sou, preza jue nunca o venha a ser, ¢ que, nisto de se ser Surrealista CA 56 0 foi,é¢ a deus continua sendo, justica e gloria Ihe seja dada, Luiz Pacheco, morto de um ataque de aaa) eee er, claro). No principio da sua eritiea a , de Cesariny, refere-se V. Ex.* a uma louvavel iniciativa de Pétrus coligindo os manifestos dos Moderaistas Portugueses. Como nao conhecia tal iniciativa, procurei saber dela e 56 depois depor no regaco de V. Ex. estas consideracées. ape Comego por nao concordar com o adjective. Porqué louvavel? Que sabe V. Ex. de e das intengées de Pétrus ao publicar aquela antologia? Eu entéo nao acho _ de modo algum louvével que se misture alhos com baralhos ou que se sirva uma tao apetitosa salada sem tempero. Para n6s (os que foram catalogados de dissidentes) nunca fomos Modernistas € se, porventura, fomos alguma coisa foi precisamente 0 contririo daquele proposito, : isto €, 0 termos sido absolutamente, intransigentemente reaccionarios (vide 0 que efes querem: «A destruigdo da Natureza»). S6 me espanta que o zelo do sr. Pétrus nfo se tenha lembrado de publicar também no referido volume a Declaragao da Republica, a Constituigdo Portu- guesa, 0 Cédigo Penal, eo «Tudo como dantes, Quartel-General em Abrantes>. Entdo sim, seria muito, mesmo muito louvado. Na tal critica de que estamos falando, em certo passo diz V. Ex.* que <€ s6 na Afixacéo Proibida, primeira comunicagio dos Surrealistas Dissidentes, proferida { em conferéncia no J. U, B. A. em 1949, mas s6 publicada em 1953, ¢ suposta- mente assinada por A, Maria Lisboa, Pedro Oom, Risques Pereira e Cesariny, que vamos encontrar a primeira tentativa de definir limites a um grupo.» Ora, Sr. Dr, logo naquele periodo se encontra um érro manifesto e uma supo- sigdo abstrusa: Os signatérios de jamais se intitularam dissi- i dentes ou nio (isto nada tem a ver com V. Ex.*) por isso (isto tem tudo a ver com V. Ex.*) nunca se incomodaram em tentar definir limites a ninguém e muito menos a si proprios. Nunca fomos um grupo (com letra pequena ou com letra grande), quando muito um agrupamento ocasional, muito ocasional mesmo: dai que nao se deve estra- nhar que alguns manifestos ¢ comunicagées s6 tenham sido assinados por um ou dois j dos entio préceres mais activos—os outros nfo estavam de acdrdo com o texto, com a forma, ou, simplesmente, estavam-se marimbando. P Depois, Sr, Doutor, quando supde que «A Afixacio Proibida» nfo foi assinada pelos signatarios quem e o que o levou a supor to grande enormidade? «Luiz Pacheco, editor da Contraponto, que publicara as obras principais > « (esta das principais é, de facto, de V. Ex." ou foi o malandreco do Luiz Pacheco . jue Iha sugeriu?) de A. Maria Lisboa ¢ de Ceshriny, ao dar ao pitblico, em 1953, esse - *xto histérico, quando o' Grupo Surrealista ja ha muito se fragmentara, fez saber que < P. Oom e Risques Pereira haviam renegado o manifesto que, ao cabo, era totalmente : da autoria dos srs. Antonio Maria Lisboa e Mario Cesariny (...). Nesse mesmo aviso se consignou que muitos outros membros do Grupo n&o haviam tomado conhe- cimento da Afixagado Proibida». Nao, Sr. Dr. Palma Ferreira, tenha paciéncia, V. Ex.* nfio leu o tal aviso do ~ supracitado Pacheco, ou nao o fez na devida posic&o, ou ent&o 0 sr. Pacheco nfo 0 escreveu — esta ¢ a suposicio mais légica atendendo a que se admite assinaturas sem signatarios e vice-versa, e a que o tal Fulano, que assina também com varias alias, 7 € useiro e vezeiro em escrever o que nfo se diz e em nfo dizer 0 que se escreve_ Ora, neste caso, 0 tal aviso do sr. Fulano diz até muitas coisas, mas 0 que ele néo diz é 0 que V. Ex.* afirma, ou nao afirma o que V. Ex.* diz: que P. Oome Risques on Pereira tivessem renegado a «A Afixacao Proil , que a mesma era totalmente da ;

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