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Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Cesnors/UFSM. Julho de 2009.

Ano 1, N o 1

O som
da arte
Irineu Francisco Frozza
transforma madeira
bruta em arte
Meio Mundo.
Editorial
aconteciam on line por meio do ambiente Moodle aulas.pro.br
As mãos de Irineu Francisco Frozza moldam a madeira bruta em (http://aulas.pro.br/cursos/) , que deu suporte para a disciplina.
formas especiais para produzir música. Com Imbuia faz o corpo, o braço Hoje, o resultado está aí para Meio Mundo ver, sentir, apreciar. A
de Mogno e as escalas de Guajuvira. Destas três espécies de árvores, primeira edição da revista apresenta uma série de boas histórias,
ele esculpe suas violas e violões na periferia de Frederico Westphalen, muitos personagens interessantes, acontecimentos inusitados, enfim,
na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Seu ambiente de trabalho é tudo que o bom jornalismo tem como característica única e
um pequeno galpão com muita serragem pelo chão. Ali ele aprendeu insubstituível. Contando boas histórias, descrevendo ambientes,
por conta própria a fazer seu ofício. E sua arte espalha pelo mundo mostrando como o homem se relaciona com o mundo à sua volta, os
instrumentos que vão reger a vida de sabe lá quantas pessoas. De alunos do Curso de Jornalismo oferecem para os leitores a possibilidade
meio mundo de gente. de viajar para locais desconhecidos. Este olhar diferenciado sobre os
A história de Seu Irineu, levantada pelo estudante de jornalismo fatos da vida, mescla de teoria e prática, é um dos maiores
Daniel Spina e fotografada por André Piovezan, ilustra bem o espírito legados que um Curso de Jornalismo pode oferecer. Não são
jornalístico desta revista. Batizada de Meio Mundo , este projeto do as máquinas nem os prédios que farão um bom profissional.
Curso de Jornalismo do Cesnors/UFSM, executado pelos alunos do sexto É o ambiente de troca de idéias, de debate, de disseminação do
semestre, busca apresentar reportagens centradas em pessoas e sua conhecimento que prepara o estudante para um contato diferenciado
relação com o ambiente onde vivem. Esta foi a proposta e o desafio. com o social, com as pessoas, com as histórias que serão o seu
E, com satisfação, sei que o leitor vai poder verificar, após a leitura, meio de trabalho.
que a meta foi alcançada. Jornalista trabalha com e para gente. Não com e para máquinas.
São 36 páginas de reportagens executadas de forma integrada O conceito de produção de conteúdo, muito em moda nas grandes
entre repórteres, fotógrafos e diagramadores. Todas atividades típicas redações como uma grande novidade de gestão de uma empresa
da profissão de jornalista. Em menos de dois meses, a revista Meio jornalística, ignora a essência mais básica do fazer jornalístico: o contar
Mundo foi elaborada com o máximo de proximidade das exigências da boas histórias. E para serem bem aceitas, obrigatoriamente necessitam
profissão. A redação era a sala 12, o Laboratório de Informação de boas fotos e uma bela disposição dos elementos em uma página.
Convergida (LIC, para os íntimos) . Neste espaço, foram discutidos o Ai estão algumas delas. Quem sabe disso? Meio mundo .
projeto gráfico, projeto editorial, pautas, apurações, imagens, Boa leitura!
infográficos, diagramações, textos e capa. As atividades também Carlos Dominguez, jornalista

Poncio, Janini Schmitz, Juarez Braga Zanberlan, Karen Kohn, Letícia

Expediente Cunha da Costa, Nilson Rosa Lopes, Roselaine Caratti, Thais Garcia.
Fotos: Ângelo Lorini, André Piovezan, Eliane de Souza, Gustavo Farezin,
Diagramação: André Rosa Lopes, Phelipe Portela Pires Felipe Zibbel,
Franciele Vitali.
Meio Mundo - Revista Laboratório do Curso de Jornalismo Capa: Foto de André Piovezan com design de Felipe Zibell.
do Cesnors/UFSM - campus em Frederico Westphalen, RS, Brasil. Impressão: Imprensa Universitária.
Ano 1 – Número 1 - Julho de 2009 Tiragem: 500 exemplares.
Publicação produzida pelos alunos do 6 o semestre na disciplina de Versão On Line em http://www.cesnors.ufsm.br/dahora .
Laboratório de Jornalismo Impresso II – 1 o semestre de 2009.
Professores responsáveis, edição: prof. MS. Carlos Dominguez
e prof. MS. José Antonio Meira da Rocha. Ministério da Educação do Brasil
Textos : Aline Schuster, Bruna Wandscheer, Daniela Polla, Deyse Calegari, Universidade Federal de Santa Maria
Diego dos Santos, Eledinéia Luza, Gianini da Silva, Gustavo Menegusso, Centro de Educação Superior Norte-RS
Heliose Santi, Josiane Canterle, Juliana Pedroso, Morgana Fischer, Departamento de Ciências da Comunicação
Priscila Devens, Roscéli Kochhann, Daniel Spiña, Duane Löblein, Eveline Curso de Jornalismo
3
Índice
Julho de 2009

Página 4 Construção sustentável

Será que chove, compadre? Página 6

Página 8 Um luxo de lixo

O que era lixo vira diversão Página 10

Página 12 Preservar não dói

Qual é a do eucalipto? Página 14

Página 16 O adeus das florestas

A porta que nunca fecha Página 18

Página 20 A arte de talhar o som

Como é que eu vou? Página 22

Página 24 Vou morar sozinho!

E numa folha qualquer... Página 26

Página 28 Cidadão de três pátrias

O punk não morreu Página 30

Página 32 Água tratada escorre pelo ralo

Boa caminhada Página 33

Página 34 A sombra da Hora do planeta

Yoga Página 35

Página 36 Proteja seus olhos


Foto Ângelo Lorini
4 Julho de 2009

Construção sustentável
Com algumas medidas simples podemos diminuir significativamente o impacto da
construção civil ao meio ambiente
Camila Tomazoni do técnicas simples e complexas, de maneira gens de automóveis tiveram que parar de fun-
camilatomazoni@gmail.com ambientalmente amigável. cionar, mas, não a do Posto do Nego, pois uti-
partir da década de 1970, com a pri- O maior problema ambiental que podemos liza a água da chuva para a atividade. Segundo

A
meira crise do petróleo, a construção identificar é o que se relaciona com a água. a proprietária do posto, Maria Elizabete Mall-
sustentável começou a ser pensada. Nos meses de abril e maio, principalmente a mann, foi registrada economia de R$400 reais
Os países perceberam a necessidade região norte do Rio Grande do Sul, foi atingi- nas contas de água e luz, pois a maior parte
de buscar outras fontes de energia devido aos da por uma forte estiagem, característica do da água era bombeada de uma vertente, fa-
altos preços que o petróleo alcançou nessa uso irresponsável da água. Um dos grandes zendo uso da energia elétrica. Estima-se que,
época. A construção civil também agride dire- desperdícios é a quantidade de água das des- em dois anos, o custo da implantação seja res-
tamente o meio ambiente. Com algumas mu- cargas dos vasos sanitários. As descargas an- sarcido pela economia.
danças, que podem ser implantadas mesmo tigas podem chegar a utilizar 12 litros de A professora de educação física Cleomara
durante a obra, o impacto pode ser diminuído. água. Modelos mais novos, com sistema de du- Gonzatto implantou um sistema de aquecimen-
O meio ambiente é muito danificado pela plo fluxo de 3 e 6 litros, já estão sendo co- to solar da água da piscina em que ministra
construção civil, pois ela altera as áreas urba- mercializados, mas, a maioria das residências aulas de hidroginástica. Desde 2004 o siste-
nas e rurais, consome recursos naturais e ge- possui o modelo antigo. ma funciona e, segundo a professora, mesmo
ra muitos resíduos. Para que esse impacto se- Outro grave problema, nos lembra o Enge- no inverno a incidência de sol torna desneces-
ja amenizado pratica-se a construção e nheiro Valdenir Cadore, é a diminuição das áre- sário o aquecimento a gás. Segundo ela, a eco-
arquitetura sustentável. Segundo o arquiteto as de escoamento da água que, juntamente nomia anual chega a 40%.
Diego Rocha, arquitetura sustentável resume- com o acúmulo de lixo, gera enchentes.
se em uma forma de planejar e construir usan- Soluções simples podem ser adotadas pa-
ra diminuir o problema da água. Como a que
encontramos em um posto de combustível na

FOTO ANDRÉ PIOVESAN


cidade de Três Passos. Para a lavagem dos car-
ros, foram reutilizados tanques de combustí-
veis antigos que armazenam a água da chuva.
Durante o período de estiagem, algumas lava-

Aquecimento
Os Teletubbies e sua casa coberta
de grama: o programa infantil já com garrafas PET
trabalhava de uma forma lúdica e
Uma solução caseira é a placa de ASBC
educativa a questão da preservação
(Aquecimento solar de baixo custo) acima,
do ambiente.
que está implantada no Colégio Agrícola de
Frederico Westphalen. Tem fabricação sim-
ples: garrafas PET, canos PVC, um suporte e
caixa d'água. A água sai da caixa e passa pe-
los canos aquecidos pela exposição ao sol.
Após percorrer o circuito, a água vai para
uma torneira para ser usada. As garrafas PET
funcionam como uma espécie de estufa, pois
a luz solar penetra e não é liberada. A cor
preta do suporte e da caixa d'água também
auxiliam no aquecimento, pois o preto absor-
ve mais calor que as outras cores. Ela não
está sendo usada atualmente, pois, para seu
funcionamento eficaz, deveria ser maior.
Mas, é uma experiência que comprova que
podemos economizar energia gastando pou-
co. Para mais informações, veja www.socie-
dadedosol.org.br.
Julho de 2009 5

Desenho da casa ecológica


Algumas soluções simples podem ser adaptadas à construção para que o
impacto ambiental seja menor. Aparentemente, podem parecer caras, mas os
profissionais garantem que o retorno é satisfatório

1 Captação de água
Este estudo (como é chamado este desenho na arquitetura) é de uma casa que será construída
na cidade de Frederico Westphalen. A águ a é captada por calhas qu e são instaladas no telhado.
Das calhas, a água passa por um cano que a leva para uma cisterna, um reservatório de água que
geralmente fica enterrado. Para a água ser utilizada, pode-se usar uma caixa d'água que a distribua.
Neste caso, há uma bomba que impulsiona a água para a caixa especialmente instalada. Essa água
pod e u sar u sad a para a l impeza d e cal çad as ou áreas comu ns, nas torneiras
externas e, principalmente, nas descargas dos vasos sanitários. Com este
sistema d e captação d e águ a, contribu ímos para a sol u ção d e d ois
problemas: evitamos o desperdício, reaproveitando a água e evitamos que

3 Eco telhado
ela se acu mu le no concreto, criando uma “válvula de escape”.

2 Aquecimento solar A casa possu i u m eco telhado. O espaço


do telhado é aproveitado para plantação de
As pl acas d e aq u ecimento sol ar captam a grama. Neste caso, a opção se deu pelo fato
energia d o sol e a transformam em energia de a casa ter pou ca área verde. Assim, u m
el étrica. Esta energia, q u e é chamad a espaço que seria perdido vira jardim e auxilia
energia limpa, é transferida para u ma na captação d a águ a pel o sistema q u e
bateria para então ser utilizada. Há um equ ipa a casa. O eco telhado possu i a
ou tro tipo d e aq u ecimento d ireto d e fu nção d e d iminu ir a refl exão d os
água, como nos mostra a foto da página raios U V. Qu and o expostos ao
ao lado. A água é bombeada através de concreto, esses raios refl etem e
canos e passa por tod os os peq u enos vol tam para o ambiente. Mas, nos
canos espal had os pel a pl aca e vol ta telhados que possuem grama, isso é
aqu ecida. diminu ído.

ARTE: PHILIPE PORTELA

EG O RO CH A
ETO DI
AR QU IT
AÇ ÃO :
IL US TR
6 Julho de 2009

FOTO: JUAREZ ZAMBERLAN


Será que
chove ,
compadre?
Seca no sul. Enchente
no nordeste. Nem todos
ficam esperando ações
governamentais

Juarez Braga Zamberlan


zamberlan.braga@gmail.com
liando tecnologias modernas e anti-

A
gas, a implantação de sistemas de
captação de água da chuva e energia
solar vem crescendo na região do
Médio Alto Uruguai, no Rio Grande do Sul. An-
tes do surgimento das empresas de captação,
tratamento e distribuição de água, as pesso- Na indústria, o tanque vertical de dez mil litros abastece outro reservatório de cinco mil
as se preocupavam em construir suas residên-
cias em lugares com água abundante, detec- Por sua vez, aumenta a conscientização filtrar a água é utilizado o bedin, também usa-
tada por alguém com poderes especiais e uma deque chuva não depende de São Pedro. An- do em refrigeração. A economia gira em torno
forquilha de pessegueiro. Poço com rolo de cor- tecipando-se à medidas governamentais, a de RS$ 200,00 por mês.
da e balde (bomba era luxo) , cisterna para ar- construção ou instalação de cisternas vem sen- Sobre a expansão destas experiências pa-
mazenagem da água da chuva faziam parte do do utilizada pelos mais conscientes. Em Três ra os produtores rurais, Adelar Franke afirma
planejamento na hora de construir ou refor- Passos, o empresário Adelar Franke (18 em- que seria necessário um vigoroso programa de
mar. Os tempos mudaram, mas cada vez mais pregados) , possui capacidade de armazena- estímulo por parte dos governos.
há quem defenda a volta de práticas abando- mento para 30 mil litros de água da chuva, Se depender do investimento dos agricul-
nadas. distribuída nos prédios residencial e industri- tores, isso infelizmente não acontece, pela
A região do semi-árido nordestino sempre al. atual descapitalização e falta de consciência
sofreu com a seca. No momento é a enchente Filho de agricultores, Adelar ainda cultiva com o ambiente, conclui o industrial.
que assusta a todos. O Governo Federal, atra- frutas e verduras nos terrenos da casa e em- O projeto da casa da família de Alexandre
vés do Ministério do Desenvolvimento Social – presa. Na fábrica de equipamentos para res- Grolli, formada por quatro pessoas, prevê cap-
MDS, programa Fome Zero, recebeu recente- friamento e conservação de leite, a água que tação de água de chuva e energia solar. Será
mente um prêmio da ONU pela ação de cons- cai nos telhados é aproveitada também para um gasto adicional de R$ 6 mil, recuperáveis
trução de cisternas para armazenamento de testes dos produtos e lavagem de peças. Cri- gradativamente com a economia em água e
água. O Governo planeja estender o programa ativo, ele mesmo desenvolveu o sistema de energia adquiridas das concessionárias. A idéia
para a região sul. captação utilizado em suas atividades. Para é apoiada pela filha Carolina, de 14 anos.
Julho de 2009 7
Energia Solar Esgoto doméstico

Outra decisão que colabora na pre-


servação ambiental é a utilização de
Notícia para Empresa da região de Três Passos de-
senvolve tecnologia e equipamentos para
energia do sol em residências, hotéis, tratamento de esgoto cloacal em residên-
hospitais e em empreendimentos agro- inglês ver cias. Consiste na colocação de dois filtros
pecuários. É necessária a instalação de — um com água e outro com pedra brita
placas coletoras da energia solar e um otícia divulgada em 18 de junho — nos quais são diluídos e filtrados os

N
reservatório térmico, também chama- de 2006, no site do Governo do dejetos humanos, destinando ao sumidou-
do boiler. A quantidade de placas e a Rio Grande do Sul (http://www- ro. Esgoto praticamente ecológico, sem
capacidade do reservatório variam do .estado.rs.gov.br) , divulgava o prejudicar a natureza e sem a necessida-
número de pessoas a serem benefici- Programa Estadual de Captação e Manejo de de limpeza futura.
adas ou do uso da água aquecida no de Água da Chuva – PECMAC, lançado ofi-
sistema. Hotéis e hospitais modernos cialmente pelo governador Germano Ri-
Legislação
utilizam essa tecnologia na lavanderia, gotto, em dezembro de 2005. Tinha o ob- Tanto a captação de água da chuva,
cozinha e banheiros. jetivo de buscar alternativas usando a quanto à utilização de energia solar ou
água da chuva em diversos projetos de tratamento doméstico do esgoto cloacal
Piscinas captação e armazenamento, com a parti- têm sido, na maioria das vezes, iniciativa
Ultimamente cresce o número de cipação de entidades como Defesa Civil do dos proprietários dos imóveis, aconselha-
residências que aquecem a água da Estado, Crea, Farsul, Fiergs, Famurs, Fe- dos ou não por responsáveis técnicos. São
piscina com energia solar. Existe no pam, Fetag, Irga, Secretarias de Estado raras as cidades brasileiras que possuem
mercado um tipo de placa mais econô- (da Agricultura, de Obras, do Meio Ambi- leis que obriguem ou incentivem tais prá-
mico para este tipo de demanda. ente) , além de pequenos agricultores, en- ticas. São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e
Engenheiros e arquitetos preocupa- tre outros. Curitiba se destacam.
dos com a questão ambiental recomen- Orientava os agricultores a se dirigi- Em Três Passos, a Câmara de Vereado-
dam aos clientes a implantação de rem ao escritório da Emater local para res aprovou indicação da vereadora Marli
projetos com previsão ou imediata elaboração de projetos para construção Franke, sugerindo ao Poder Executivo a
aplicação de tecnologias de captação de cisternas, a serem financiadas pelo concessão de beneficio fiscal – redução do
de energia solar e reuso da água das Banrisul. A funcionária do escritório da IPTU – aos proprietários que instalarem,
chuvas. A decisão final é sempre do Emater de Três Passos não soube infor- nas construções ou reformas, sistema de
cliente, uma vez que o custo da obra mar se alguma cisterna foi construída aproveitamento da água da chuva ou ener-
aumenta, afirma o arquiteto Cássio Lo- com base nesse programa. gia solar. A sugestão encontra-se em es-
rensini. tudos pelo Poder Executivo.
Projeto do deputado Miguel Martini, do
PHS-MG, tramitando na Câmara Federal pre-

Gente que não espera, faz


vê a obrigação de retenção de águas das
chuvas nas edificações e estacionamentos
em municípios com mais de 100 mil habi-
FOTOS ELIANA DE SOUZA

tantes.
No programa habitacional “Minha Casa,
Minha Vida”, lançado recentemente pelo
Governo Federal, será induzida a utiliza-
ção de Sistema de Aquecimento Solar-Tér-
mico, possibilitando a redução do consu-
mo de energia elétrica e da emissão de
dióxido de carbono (CO 2 ) .

O agricultor Erno de Souza


calha nos telhados da casa e canos que dire-
construiu uma cisterna
cionam a água da chuva para a cisterna fixa no
com recursos próprios
solo. Uma bomba abastece outro reservatório
m Pinheirinho do Vale, na linha Quilômetro menor, que distribui o precioso liquido, uma vez

E
10, o agricultor Erno de Souza, 56 anos, que não existe rede pública de água na co-
sempre se preocupou com o abaste- munidade em que vive.
cimento de água da propriedade, para uso Salientando a importância do armazenamento
doméstico e para os animais. Vivendo em terreno de água das chuvas, Souza pretende instalar uma
alto e seco, a solução foi instalar uma cisterna, cisterna maior, com capacidade para dez mil
de fibra de vidro, com capacidade para armazenar litros, porque a atual enche rapidamente e muita
5.000 litros. O processo é bastante simples: água acaba sendo desperdiçada.
8 Julho de 2009

Um luxo
de lixo
Quando o lixo vira arte O lixo vira bolsas, cortinas, vasos de flor e pinheirinhos nas mãos de Dona Ida

Eveline Poncio e Bruna Wandscheer por dona Ida e seu Alfredo foi fazer artesana- uma bolsa de garrafa PET, precisa-se de 18
eveponcio@gmail.com to com materiais simples e recicláveis que eles garrafas. Vai bastante material”.
brujornalismo@hotmail.com tinham em casa. Assim surgiu a paixão pelo Na casa de dona Ida e seu Alfredo, nada se
ara muitas pessoas, aquilo que não tem artesanato. A primeira peça, feita há mais de perde, tudo se transforma. As peças que o ca-

P
mais utilidade se resume a “LIXO”. E quinze anos, permanece intacta na casa do ca- sal produz, sempre que possível, são comerci-
ponto final. Toda dia, milhares de to- sal: cortinas feitas com anéis de plástico de alizadas, principalmente em épocas de Natal e
neladas de lixo são postos fora sem a garrafas PET. na Páscoa, onde a procura por arranjos, guir-
menor culpa ou peso na consciência. Depois de alguns cursos para se especiali- landas e pinheirinhos cresce. Tudo produzido,
No Brasil, cada habitante produz, em mé- zar, hoje eles trabalham com todo material que é claro, com materiais recicláveis. O valor das
dia, 500 gramas de lixo por dia, um número encontram: garrafas PET, peças varia entre R$ 10,
que já é bastante elevado para um país com tampinhas, papéis, latas para pequenos arranjos,
180 milhões de pessoas. Agora imagine como de tinta, tudo vira arte até R$ 60, para vasos
é a situação em países como os Estados Uni- na mão do casal. As
Cata de flores artificiais fei-
dos, onde a produção de lixo diário por habi- idéias e os trabalhos papel ão tas com papel EVA, lata
tante chega a 1,8 quilogramas! delicados como finaliza- Latinha, su j eira, de tinta usada e acaba-
Em Frederico Westphalen, Ida e Alfredo Pit- ções em costura, tricô e cata l ixo, emoção. mento em crochê. “Às
ton, 78 e 81 anos, fazem desse lixo sem ser- crochê vêm de dona Ida, vezes, tem peças que
A vid a q u e escapa d a
ventia uma arte linda de se ver. enquanto seu Alfredo se demoram até dois dias
O casal morou boa parte de suas vidas no encarrega da parte pe-
m ão, para ficar prontas. É
interior do município e há quinze anos decidiu sada da confecção, como A vid a é u m ped aço bastante trabalho. Tem
trocar a vida dura da granja pela comodidade corte dos litros e tudo no chão. meses que a gente ven-
da cidade. Seu Alfredo, agricultor aposentado, que envolva força física. de mais e tem meses
Catador de lixo e rapper
estava ficando velho demais para a lida no cam- Como a idade não os que vende menos, sem-
po. Dona Ida tinha a preocupação de que algo deixa sair pelas ruas Guerreiro Silva pre depende da época,
ruim acontecesse à saúde do marido, já que a procurando materiais mas a procura é grande,
principal produção da família no campo era o para trabalharem, dona Ida conta que eles cha- as pessoas vêm aqui em casa conhecer nosso
fumo, e assim o casal optou por passar a mo- mam as crianças de rua e trocam balas e do- trabalho”, diz o agricultor aposentado.
rar na cidade. ces por litros descartáveis. “Eles vêm aqui e O casal, que trabalha unido, sabe muito
Com a mudança, a maior preocupação do nos trazem os litros que acham pela rua. Em bem da importância de reciclar. Eles lembram
casal era como se ocupar na cidade, já que es- troca, a gente dá a eles doces e balas. Eles fi- que os litros PET, em vez de estar entupindo
tavam acostumados com uma vida movimen- cam bem felizes com isso e a gente junta ma- bueiros e sujando os rios, se tornam artigos
tada e de muito trabalho. A saída encontrada téria prima, porque para fazer, por exemplo, de decoração e ocupação para eles.

O que vira o quê? Puff quadrado


Decoração para árvore de natal
ci p n t e s

vasos de flores Imitação de renda Sofá tipo puff bolsas de praia


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para decoração
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Julho de 2009 9

FOTOS ANDRÉ PIOVESAN


A artesã mostra com orgulho o lixo que transforma em arte. Outro exemplo pode ser visto na ONG "Esquina da Solidariedade" (acima)

“Posso dizer que o artesanato mudou minha decorador Altemir Bisolin, que utiliza a arte
vida. Se estou sem fazer nada, estou pensando como possibilidade para materiais recicláveis.
no que poderia fazer de diferente e criar novas
peças”, diz Dona Ida, que espalha na cama, com
Na sede da ONG, é possível encontrar vári-
as peças produzidas na oficina de artesanato,
Um
orgulho, suas últimas peças produzidas. mas também encontramos histórias de pesso-
Mas, não são apenas de ações isoladas que as que tiveram sua vida transformada pelo incentivador
vive o mundo da arte feita com matérias reci- projeto. Como Venilda Anselmo, 41 anos, que
Altemir Antônio Bisolin é decorador e
cláveis em Frederico Westphalen. A ONG “É pre- há 6 anos começou a participar das oficinas.
dono de uma empresa de decoração de
ciso repartir meu saber com todos”, mais co- Quando chegou até a ONG, estava com depres-
eventos. Ele oferece as oficinas na ONG
nhecida como Esquina da Solidariedade, são. Mas, ela conta que depois mudou tudo em
Esquina da Solidariedade e em outros
promove a oficina de artesanato “Luxo de Li- sua vida. Ali naquela esquina, ela conseguiu
projetos sociais. O grande incentivo a
xo”, onde mulheres de comunidades carentes superar a doença. “Gostei e não consigo ficar
participar de projetos como este é o
aprendem a fazer artigos de artesanato com um dia sem estar aqui”. Venilda trabalha vo- aprendizado. Segundo Altemir, ele
materiais reciclados e materiais encontrados luntariamente na sede do projeto cinco dias aprende com as pessoas mais do que
na natureza, como fibra de bananeira, semen- por semana. Já participou de tudo o que é ofe- ensina, e se sente gratificado por
tes, cipós e folhas secas que caem das árvores. recido ali, desde oficinas de alimentação até cumprir seu compromisso como
Segundo a coordenadora do projeto, Idoli do próprio artesanato. Sua renda mensal vem cidadão. O artista não apenas ensina a
Crespan, 59 anos, a idéia principal da ONG é da venda de sabão que ela aprendeu a confec- arte de transformar produtos
qualificar a mão de obra dessas mulheres e cionar ali mesmo no projeto. recicláveis, como também os utiliza em
passar a elas conhecimentos para que possam Iniciativas como esta da ONG Esquina da seu trabalho. O decorador diz: “você
depois, sozinhas, se incluir no mercado e se Solidariedade e do casal Pitton reciclam muito colabora com o meio ambiente e
sustentar a partir do artesanato. As peças são mais do que materiais sem utilidade. Reciclam também utiliza coisas que não teriam
vendidas e os lucros são remetidos às comu- também histórias de vida, transmitindo idéias valor, transformando-as em beleza”. Ele
ainda sustenta que o
nidades e pessoas envolvidas, em forma de in- como cidadania e cuidado com o meio por on-
artesanato feito desta
vestimentos e produtos. de passam. O benefício não é apenas para
forma gera uma
Todo o trabalho realizado no projeto é vo- quem aprende, mas também para quem ensi-
admiração
luntário. São pessoas que oferecem um pouco na e quem adquire peças produzidas com ma-
especial pela
do seu tempo para transformar a vida de ou- teriais recicláveis. Leva-se para casa ensina-
criatividade
tras. Idoli Crespan diz que cerca de 200 famí- mentos básicos como solidariedade, cidadania
do artista.
lias estão envolvidas na ONG, entre beneficia- e consciência ambiental juntamente com um
dos e colaboradores. Uma destas pessoas é o artigo de lixo luxuoso.
FOTO ANDRÉ PIOVESAN

Vasos, Fibra para


a t a ck

porta revistas acolchoados Artigos decorativos


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10 Julho de 2009

O que era lixo vira diversão


Escolas de Frederico Westphalen inserem a educação ambiental na didática escolar

FOTO ANDRÉ PIOVESAN


Na escola Sepé Tiaraju, os estudantes recolhem e armazenam os jornais e garrafas PET

Janini Letícia Schmitz cesso educativo. Algumas escolas de Frederico se tipo são usados na confecção dos brinque-
janinischmitz@yahoo.com.br Westphalen implantaram a educação ambien- dos que as crianças fabricam e depois se
iariamente, três milhões de toneladas tal e a cada ano surgem novas ideias para me- divertem. Essas atividade são levadas a sério

D
de lixo são geradas no mundo. Só no lhorar e aperfeiçoar os projetos. pelas crianças e professores. Todo ano são fei-
Brasil, são cerca de 120 mil toneladas A Escola Estadual Afonso Pena é adepta a tos novos brinquedos, e o recolhimento das
de lixo domiciliar. No Rio Grande do educação ambiental. Ela trabalha com os alu- garrafas PET só termina quando termina o ano
Sul, cerca de 7 mil toneladas por dia. Em mé- nos a questão da reciclagem, a separação do letivo.
dia, cada pessoa produz um quilo de lixo por lixo e o uso dos recursos naturais com cons- Já a Escola Estadual de Educação Básica Se-
dia, no mundo. Este número pode variar de ciência. A professora e coordenadora da esco- pé Tiaraju, de Frederico Westphalen, utiliza
acordo com a classe social e a região em que la Lurdes Cavali é responsável pelas ativida- outra abordagem para combater o desperdí-
cada pessoa habita. des dos alunos. “A gente tem um projeto junto cio e ensinar as crianças que reciclar é neces-
Esta quantidade assusta a qualquer pes- com os pais para recolher garrafas PET. Os alu- sário. No colégio, eles participam da campa-
soa que esteja preocupada com o futuro do nos trazem para escola, daí a gente lava e en- nha “Preserve a natureza e ganhe prêmios”.
mundo. E o que estamos fazendo para nos pro- saca as garrafas para vender”, explica a coor- Segundo a coordenadora Claudia Maria Bizel-
teger e proteger o mundo? denadora. lo, os alunos levam para a escola garrafas PET
A educação ambiental é uma das soluções As garrafas são vendidas aos produtores e jornal. Toda quarta-feira e no final do ano,
para combater o desperdício de produtos e evi- de vinho da região. Com o dinheiro arrecada- a turma que tiver juntado mais material ga-
tar problemas maiores. Tem como objetivo en- do, a escola adquire novos livros para a bibli- nha um prêmio.
sinar que o homem é parte da natureza e não oteca. A escola uniu o útil ao agradável. As- A campanha começou em abril e termina
dono dela. A saída para os problemas do mun- sim, as crianças levam as garrafas para a em novembro. “Essas campanhas são muito
do não estão somente nas crianças, mas prin- escola e consequentemente adquirem novos boas, pois os alunos aprendem a cuidar do
cipalmente nelas. livros que serão usados por elas. Existe outro meio ambiente”, explica a coordenadora.
Desde 1999, a educação ambiental virou projeto na escola onde os alunos fazem brin- Não são só os professores que gostam
lei, afirmando que ela é componente essenci- quedos com materiais que antes iriam para o dessas campanhas. Os alunos também gostam,
al da educação nacional e deve estar presen- lixo. Latas de leite em pó, caixinha de remé- pois, segundo eles, é uma competição saudá-
te em todos os níveis e modalidades do pro- dio, embalagem de amaciante. Materiais des- vel para eles e para o mundo. “Eu acho muito
Julho de 2009 11

FOTO ANDRÉ PIOVESAN


Quanto lixo!

Fabricação de brinquedos dentro de sala de aula na Escola Afonso Pena


120 mil
importante porque a gente ajuda a reciclar e
também pode ganhar prêmios. Eu explico o que
da de todos. Para que as futuras gerações pos-
sam usar esses recursos naturais com a mesma toneladas de
aprendi na aula em casa. Assim, aprendo a cui- consciência que nós.
dar do meio ambiente na escola e em casa”,
conta Lucas Resarim Vanzim, de 10 anos, alu-
A educação ambiental é uma das melhores
soluções para esse problema, a conscientiza-
lixo no Brasil.
a
no da 4 série. ção das crianças por meio da escola atinge to-
Mesmo as escolas ensinando e incentivando da a comunidade, pois as crianças aprendem
os alunos sobre a educação ambiental, é neces- em aula e ensinam em casa para suas famíli-
sário mudar o comportamento das pessoas em as. Cada atitude tomada por qualquer pessoa
relação a natureza. É preciso que se promova um é um incentivo para as outras começarem a
modelo de vida sustentável, que se concilie as tomar atitudes também. A palavra certa para
práticas econômicas e ambientais para que pos- tentarmos mudar esse cenário de devastação,
samos ter reflexos positivos na qualidade de vi- com certeza é conscientização.
FOTO ANDRÉ PIOVESAN

7 mil toneladas
no Rio Grande
do Sul.

Cada pessoa produz


diariamente
um kg
de lixo
no mundo.
As crianças desenvolvem habilidades com a fabricação dos brinquedos
12 Julho de 2009

Preservar não dói!


É hora de colocar em
prática a velha lição de
que devemos cuidar do
meio ambiente

Jogar lixo no lixo,


é a regra básica
da preservação

Letícia Costa cuido para que todo lixo produzido


lecdacosta@gmail.com por mim seja depositado em lixei-
reserve o ambiente! Já faz ras. Senão, eu guardo o lixo para

P
um bom tempo que essa fra- depositar numa lixeira posterior-
se circula pelas nossas cabeças. mente. Além disso, no meu prédio
A questão é: como preservar? há coleta seletiva do lixo seco e or-
FOTO GUSTAVO FAREZIN, ARTE ANDRÉ LOPES

O primeiro passo para mudar hábitos é sa- gânico então no dia-a-dia eu separo
ber o que o excesso de lixo pode causar ao o lixo.
meio ambiente, ou seja, saber a parte ruim da Manter o ambiente iluminado com luz
história. O exemplo do uso exacerbado de sa- natural e cuidar para não deixar as luzes
colas plásticas ilustra bem o problema. No acessas sem estar nos ambientes é uma ati-
mundo todo são consumidos cerca de um mi- tude simples de ser tomada. Além de você es-
lhão de sacolas plásticas por minuto, resultan- tar preservando o meio ambiente, estará eco-
do em mais de 500 bilhões por ano! Só no Bra- nomizando na conta de luz!
sil, são 12 bilhões anualmente. Além de se Existe lixo de todos os tipos. Alguns al-
acumularem nos aterros sanitários, as sacolas guns trazem riscos à saúde.
são feitas de um material que emite gases po- “Tomo cuidado para descartar o lixo da for-
luentes. Cada família brasileira descarta em ma mais correta possível, faço a separação e
média 40 quilos de plástico por ano. Por es- quanto as pilhas e baterias levo aos pontos
sas e outras, surgiram as ecobags, as sacolas de coleta”, ressalta a estudante de jornalismo
ecológicas. Elas são feitas de materiais durá- florestal e professora universitária. Eliana de Souza.
veis – como tecido – trazem um ar de moder- – Em casa, eu procuro separar o lixo seco, Para se ter uma noção do perigo, as pilhas
nidade e agradam aos mais variados estilos. do restante. Sei que aqui na minha cidade, San- e baterias possuem componentes tóxicos que
Nas grandes cidades, surgem novas formas ta Maria, não existe coleta seletiva de lixo, são cancerígenos, podem provocar anemia, de-
de ajudar o ambiente. Atualmente, estão sen- mas independente disto, eu faço a minha par- bilidade, mutações genéticas e outros danos
do inaugurados supermercados com uma idéia te. Sempre que posso, levo materiais tipo plás- no seu corpo e para o planeta. Aqui vai a di-
totalmente ecológica, desde a sua construção tico e papel, até um lugar de recebimento de ca: separe, guarde e devolva aos pontos de co-
até o seu atendimento. Um exemplo disso são lixo reciclável – conta leta e de preferência
os depósitos para embalagens de produtos co- Liane. use as pilhas recarre-
mo caixas de pasta de dentes, cereais e ou- Em cidades como gáveis que podem du-
O
tros produtos. Na construção, mudanças co- Florianópolis, em Santa rar até cinco anos,
mo o uso de lâmpadas funcionais e econômicas, Catarina, existe a cole- m omento enquanto a alcalina
o aproveitamento da luz natural, a reutiliza- ta seletiva. A profes- dura por 90 dias.
m ais fácil d e esq u ecer o
ção de água da chuva e a implementação de sora Andressa Farias, Alguns hábitos
descarga a vácuo nos banheiros resultam em além de seguir a regra com prom isso d e preservar são difíceis de mudar.
um consumo 25% menor de energia e 40% básica de nunca jogar Liane, Andressa e Eli-
é q u and o a gente age d e
menor de água. lixo no chão, acostu- ana confessam que
Nossa reportagem procurou conhecer pes- mou a separar os li- form a ind ivid u al ista pecam ao demorar no
soas que colocaram na sua rotina atitudes eco- xos. banho. Liane traz uma
lógicas, independente da cidade em que mo- – No cotidiano, em Liane Weber consideração impor-
ra. É o caso de Liane Weber, engenheira vias públicas, sempre tantecom relação aos
Julho de 2009 13
deslizes cometidos por todos. “O Andressa Farias, mãe de Gisella, o papel dos atitudes que não tenho. Então, sempre que
momento mais fácil de esquecer pais como exemplo é de extrema importância. posso, coloco a questão de como é importan-
o compromisso de preservar é “Há atitudes simples do dia-a-dia que, creio, te pensar e questionar as atitudes, dentro do
quando a gente age de forma in- a Gisella, que tem 6 anos, já está incorporan- tema da aula, mas de uma forma que valha pa-
dividualista, como se ninguém do. Como jogar o lixo no lixo, desligar a tor- ra a vida como um todo”, disse Liane. “Enquan-
fosse saber o que se está fa- neira na hora que escova os dentes, apagar as to professora, geralmente estas questões am-
zendo. Vivemos em grupo so- luzes das peças da casa que não está ocupan- bientais são abordadas em sala de aula no
cial, a atitude de um interfe- do. Isso ela já vem fazendo quase que auto- formato de seminário. A participação sempre
re sempre na de outra pessoa, maticamente por influência minha”, conta An- foi excelente, resta saber se de fato possuem
mas muitas vezes esquece- dressa. atitudes ecologicamente corretas”, explica An-
mos disto, é triste, mas é in- Assim como os pais, os professores tam- dressa.
trínseco do ser humano”, refletiu Liane. bém deixam marcas no comportamento dos Você pode começar com pequenas mu-
Falando em coletividade, outra dica rele- seus alunos. Liane e Andressa, ambas pro- danças. Se for usar sacolas plásticas, tente
vante é deixar o carro em casa. Você esta- fessoras, inserem o tema preservação am- reutilizá-las ao máximo. Use nos cestos de
rá deixando de emitir 700 quilos de polu- biental nos conteúdos das aulas e cum- lixo, dentro dos automóveis, para guardar
entes por ano! Para substituir ou diminuir prem o papel de bom exemplo. “O roupas e utensílios pouco usados, embalan-
o uso do carro, as alternativas são: dar professor é um referencial para a forma- do sapatos, roupas sujas, molha-
ou pegar carona com alguém, ir cami- ção do futuro profissional! Parece conver- das e ao transportar líquidos.
nhando ou usar o transporte público. sa de senso comum, mas é exatamente São pequenas atitudes que
Temos que lembrar que nossas atitu- assim que costumo agir dentro da sala de quando somadas fazem a
des são reflexos de nossa criação. Para aula. Não posso cobrar de meus alunos, diferença!

Recicle certo
Lembre-se das cores de separação e conheça símbolos de reciclagem

Plásticos como Vidros como Papéis como papel Metais como latas
garrafas PET, frascos em geral, cartão, de produtos
sacos plásticos, garrafas de embalagens de alimentícios, latas
cds e disquetes, bebidas, copos, presente, caixas de alumínio,
tubos e canos e pratos, jarras e de papelão, embalagens
embalagens de potes de produtos jornais e revistas, metálicas, tampas
produtos de alimentícios. cadernos, de garrafas.
limpeza . cartolinas, livros.

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14 Julho de 2009

Qual é a do eucalipto?
Em Frederico Westphalen, a árvore divide opiniões: herói ou vilão

FOTO GUSTAVO FAREZIN


Juliana Pedroso secar rios e outras fontes hídricas existentes Dona Judite mora com o marido e os filhos
juddy_pedroso@hotmail.com no entorno dessas grandes plantações. em uma casinha cercada por um pequeno lago
m assunto bastante inusitado em re- Vale lembrar que várias são os produtos e alguns animais no interior de Frederico

U
lação ao eucalipto discute-se em Fre- oriundas do eucalipto e ele tem suas vanta- Westphalen. Ela utiliza fogão à lenha desde
derico Westphalen. A discussão atin- gens. O professor e Engenheiro Florestal Edi- pequena. Segundo ela, “a maior vantagem é
ge os extremos pois, por um lado, a son Cantarelli, do Cesnors/Universidade Fede- não precisar ficar cuidando direto a comida,
árvore é considerada vilã; por outro, heroína. ral de Santa Maria, analisa não como uma como o fogão à gás”. Ela aponta a necessida-
Na região, planta-se muitos eucaliptos, prin- vantagem, mas sim uma necessidade, pois des- de pelo o uso do fogão à lenha, uma vez que
cipalmente em frigorífiros e abatedouros. A de os primórdios, os seres humanos utilizam nem sempre se tem condições de comprar gás.
árvore está presente cotidianamente na vida a madeira para a sobrevivência. Dona Judite possui uma pequena plantação de
das pessoas, seja como um adereço nas resi- “Todo mundo pensa se falta o arroz em ca- eucalipto nos fundos de sua casa, que almeja
dências, seja como necessidade. sa, mas e se faltar o papel, o jornal? A vanta- vender futuramente.
Um dos mais importantes pesquisadores gem estaria em cultivar uma planta de cresci- Na região de Frederico Westphalen, o tipo
da espécie eucalyptus do Brasil é o engenhei- mento rápido, como Eucalyptus, Pinus, de eucalipto mais cultivado é o eucalyptus
ro Agrônomo Edmundo Navarro de Andrade. Acácia-negra, plantas que vem substituindo o grandis, devido ao fato de ter um valor como
Ele realizou grandes plantações no estado do consumo de plantas nativas”, aponta Edison. lenha para o consumo em geral, que é o que
Rio de Janeiro, frisando, além da importância O eucalipto figura cotidianamente na vida frigoríferos e abatedouros necessitam para as
do eucalipto para ferrovias, sua utilidade pa- das pessoas, uma vez que se utiliza o papel, fornalhas. Esta é a espécie que teria maior ro-
ra postes de eletricidade e celulose. por exemplo, que vem da planta. Além disso, bustez. Por outro lado, ambientalistas acusam
Grande parte da discussão em torno do também está presente muitas vezes nas resi- o eucalipto de “vilão” ecológico, pelo fato da
plantio de eucaliptos se deve ao fato de as dências, em fogões à lenha, o que é lembrado planta retirar muita água do ambiente, tornan-
terras utilizadas para o cultivo de monocul- muito no inverno. Pessoas que moram na ci- do o balanço hídrico negativo, além de causar
turas em larga escala não atingirem um gran- dade, mas principalmente as que residem no o empobrecimento de solo e desertificação de
de contingente de mão-de-obra humana, já que interior, utilizam-se bastante de fogões à le- áreas, promovendo a extinção da fauna.
grande parte destas propriedades são alta- nha. No inverno, a fim de manter a casa aque- Segundo o engenheiro licenciador ambien-
mente mecanizadas. Outro fator, é o caso des- cida, ou então por necessidade, economia. Com tal Alcides Felipe Canolla, um dos problemas
sas culturas serem capazes de absorver enor- a agricultora Judite Botezini Piovezan, 43 anos, provocados pelo plantio do eucalipto é o fato
mes quantidades de água, podendo até mesmo não é diferente. de que vai ser plantado por grandes empre-
Julho de 2009 15

FOTO JULIANA PEDROSO


sas, à medida que se usa muito herbicida na
planta. No Rio Grande do Sul, ele salienta que
o cultivo de eucalipto causará a exploração do
bioma do Pampa, uma vez que é trazida uma
espécie exótica num bioma diferente de ou-
tros aonde é criada a cultura do eucalipto e
principalmente por estar integrada à cultura
do arroz, muito produzida na metade sul do
estado. Esta já tem o consumo de água muito
grande comparada a outras espécies.
“Acho que tudo em exagero faz mal”, aler-
ta o estudante do terceiro semestre de Agro-
nomia do Cesnors, Roger Uebel, “O eucalipto
possui o mito de secar os mananciais devido
ao rápido crescimento. Com quinze anos de vi-
da a árvore já é adulta, isso dá a impressão
de que ela absorve bastante água”.
Especialista da área florestal, o professor
Edison diz que a planta em si não traz gran-
des impactos ambientais, que possam torná-
lo assim um vilão, mas o modo como ele é plan-
tado é que pode trazer danos e vir a degradar
o meio ambiente.
De acordo com o professor, na maioria dos
casos é feito o plantio sem uma orientação “No inverno, o eucalipto é muito útil para aquecer a casa”, lembra Dona Judite
técnica em áreas que não são permitidas. “Se
criou uma cultura no Brasil que área que não dade pra plantar eucalipto, nem nós recomenda- Questionamentos à parte, quanto aos be-
presta pra agricultura vai se plantar eucalip- mos isso, mas também tem que entender que já nefícios e prejuízos que o cultivo da planta po-
to”, salienta. existe uma degradação que uma cultura agríco- de trazer, o fato é que tanto a natureza como
Áreas já degradadas recebem um impacto la causou, uma erosão, uma vossoroca, alguma as pessoas necessitam do eucalipto para uso
maior, além de ocorrerem plantios em áreas coisa nesse sentido. A melhor forma de minimi- residencial ou comercial. É uma planta de cres-
de preservação permanente – APP, que são as zar esse impacto da agricultura é fazer com uma cimento rápido comparada a outras espécies,
margens dos rios e banhados, onde a legisla- silvicultura correta, o plantio da forma correta, o que, para o meio ambiente, é positivo. As-
ção não permite nenhum cultivo. São áreas vul- com espécie adequada e respeitando a legislação sim como é importante para as pessoas que
neráveis à degradação ambiental. do código florestal, preservando a APP”, finaliza precisam da utilização da lenha, por necessi-
“Ninguém usa a melhor área de sua proprie- Edison. dade.

Algumas vantagens e implicações no cultivo do eucalipto

Impactos positivos Impactos negativos


• Preservação de espécies nativas; • Modificação do microclima regional e
• Recuperação de áreas degradadas; exploração de nutrientes do solo;
• Uso de agrotóxicos em menor • Perda da biodiversidade;
quantidade; • Redução da diversidade animal;
• É uma planta de crescimento rápido; • Especialização da atividade produtiva:
adquirindo mais biomassa em menos quando o cultivo de grandes áreas são
tempo em relação às espécies nativas; dedicadas somente à monocultura do
• Fácil adaptação a diferentes climas; eucalipto, usando trabalho altamente
• Benefícios ambientais, econômicos e especializado, gerando desemprego;
social, se plantados de forma adequada; algumas regiões, chegam a perder suas
características culturais.
16 Julho de 2009

FOTO KAREN KOHN


As usinas hidrelétricas causam um extremo impacto sob a fauna e flora locais. O ciclo biológico é alterado e pode agravar fenômenos naturais

O adeus das florestas


Matas inteiras são consumidas pela ação do homem em nome do desenvolvimento
Karen Kohn
Florestas: o
casa, depois volta para o campo enterrar os
karenkohn_erechim@yahoo.com.br tocos com a ajuda do trator. Um verdadeiro
serial killer da natureza.
Final da história: o crime aconteceu, nada
adeus das matas
Conto
foi feito e o meio ambiente foi o mais preju-
dicado nessa história. Nos últimos meses de 2008, mais de 60
mil metros quadrados de mata nativa foram

do Vigário
FOTO KAREN KOHN

derrubadas em Frederico Westphalen e região,


segundo dados repassados pelo Comandante
A reportagem da Revista Meio Mundo rece- do Grupo de Policiamento Ambiental de Frede-
beu a denúncia de derrubada ilegal de mata rico Westphalen, João Carlos de Mello. Núme-
nativa na em novembro de 2008. ros que contribuem para agravar os problemas
O local fica às margens da RS-150, que li- ambientais do planeta.
ga Frederico Westphalen a Caiçara. Ao chegar- Segundo o relatório realizado pelo Banco
mos no local, constatamos que muitas árvo- Mundial (Bird) , o Brasil é o país com o maior
res tinham sido derrubadas com motosserra e índice de desmatamento no mundo. As flores-
outras estavam parcialmente cortadas, pron- tas estão dando lugar a pastagens, lagos de
tas para cair. hidrelétricas e principalmente, para as terras
Fizemos a denúncia ao Grupo de Policiamen- agrícolas.
to Ambiental de Frederico Westphalen. Na mes- Os cientistas consideram que o desmata-
ma semana, guardas ambientais visitaram a mento tem efeito real e significativo sobre as
propriedade e constataram a infração. O dono alterações climáticas do planeta e sobre o
foi intimado a comparecer à delegacia para ex- aquecimento global.
plicar o fato. Segundo ele, as árvores foram Desastres naturais, como o ocorrido em
“roubadas” da propriedade por moradores de Santa Catarina, em novembro do ano passado,
uma vila vizinha ao local. Ele foi liberado sem são exemplos de como o clima revida sua fú-
nenhum problema. ria contra o homem. O estado de Santa Cata-
Entrevistamos alguns vizinhos e descobri- rina ocupa o segundo lugar no ranking de des-
mos que eles já haviam denunciado o mesmo matamento, segundo o Instituto Nacional de
proprietário por três outras vezes. Segundo os Pesquisas Espaciais (Inpe) , perdendo apenas
vizinhos, o agricultor derruba as árvores à noi- Qualquer corte de árvores sem autorização para Minas Gerais. O Rio Grande do Sul apare-
te, as corta e leva a lenha para o porão da sua é considerado crime ambiental ce em quinto lugar.
Julho de 2009 17

FOTO KAREN KOHN


Leis Ambientais
No Brasil as leis ambientais estão
descritas na Constituição Federal,
no Código Florestal Brasileiro e na
Lei de Crimes Ambientais.

Frederico Westphalen: mais de 60 mil m2 de mata nativa foram derrubados ao final de 2008
*
A floresta Código
A Constituição Brasileira define
responsabilidades, direitos e deveres
de cada cidadão perante o ambiente.

virou lago anti-ambiental Assim, todos têm o direito de


usufruir dos recursos naturais, bem
No Brasil, as grandes hidrelétricas já des- Ambientalistas e ruralistas travaram um
como têm o dever protegê-los de
locaram mais de 1 milhão de pessoas de suas duro embate pela proposta de reforma do Có-
qualquer ação danosa.
terras e inundaram mais de 34 mil km quadra- d igo Florestal Brasileiro, em abril d este ano.
dos de florestas e campos, destruindo paisa- Os ru ralistas pretend em mu d ar o cód igo
gens únicas, culturas e biodiversidade.
A bacia do Rio Uruguai é um território marca-
para red u zir a faixa d e preservação obriga-
tória. Já os ambientalistas resistem a q u al-
*
do por diversos conflitos sócio-ambientais onde q u er mu d ança e não q u erem perd ão para O Código Florestal considera as
o interesse meramente econômico fala mais alto quem d estrói a floresta. florestas um bem público. Desta
que o respeito à natureza. Paisagens inteiras já Em Santa Catarina, em 2009, um novo có- forma, todos têm o direito de
foram engolidas pelas barragens ao longo do cur- d igo passou a vigorar, d iminuind o d e 30 pa- denunciar desmatamentos, queimadas
so do Rio Uruguai e seus afluentes. Cenários be- ra 5 metros a largura de preservação de ma- ou uso ilegal de áreas florestais.
los e únicos como o Estreito, a cidade de Itá e ta ci l i ar. Para o Comand ante d o Gru po

*
muitas outras belezas estão hoje submersas nos Ambiental de Frederico Westphalen, João Car-
lagos das hidrelétricas. los de Mello, uma lei estadual não pode pas-
Hoje, as companhias hidrelétricas são “as sar por cima d e uma Lei Fed eral. “A med id a
As florestas estão protegidas pelo
donas” dos rios. Interessadas em vender ener- é inconstitucional, contra a coletividade e não
Código Florestal em duas categorias:
gia elétrica para que todos possam tomar ba- tem fund amento. A red ução d e APPs, princi-
as Áreas de Preservação Permanente
nho e assistir à novela no horário de pico, as palmente das matas ciliares, influenciou nos
(APP) e as Áreas de Reserva Legal. As
usinas vão tomando conta da natureza e o im- d esmoronamentos e contribu iu para o fenô-
áreas de Reserva Legal podem ser
pacto disso pode vir ser um verdadeiro apoca- meno que assombrou o Estado”, afirma o co-
exploradas somente com autorização
lipse em poucas décadas. mand ante.
e respeitando a manutenção de 20%
de mata nativa. Nas Áreas de
FOTO KAREN KOHN

Preservação Permanente não é


permitido o corte ou exploração da
floresta ou da vegetação. Essas áreas
abrangem as matas e vegetações ao
redor dos rios e lagos, nos topos das
montanhas e morros e em locais com
mais de 45 graus de declividade.

*
A Lei dos Crimes Ambientais estipula
punições contra danos ao meio
ambiente. As penas podem vir a ser
multas dependendo da área afetada e
do número de árvores derrubadas,
detenção de 3 meses a 5 anos, e
reposição da área desmatada.

Floresta submersa em nome do desenvolvimento urbano


18 Julho de 2009

A porta que
Todos as noite, dezenas de pessoas
à procura de ajuda. Conheça

Diego Oliveira referência na região. O plantão do hospital conta O primeiro personagem dessa história é Gil-
innsolito@gmail.com com um quadro de nove funcionários: um médi- berto Ferreiro, o popular “Giba”, plantonista do
vida em um plantão médico não é na- co, uma enfermeira, seis técnicos de enfermagem hospital Divina Providência há 16 anos. Se diz

A
da fácil, mesmo. Foi o que pude com- e um plantonista. um apaixonado pela sua profissão. Giba, em sua
provar na prática, ficando uma noite entrevista, nos relatou casos de alegrias e tris-
no plantão do hospital Divina Provi- tezas que já enfrentou nesses anos de profis-
dência (HDP) , em Frederico Westphalen. são, mas, também se diz acostumado com es-
Crianças, adolescentes, pessoas de meia ida-
...no verão se ambiente hospitalar. Outra ponto importante
de, idosos. Não há idade nem horário para se ter os casos que lembra é o reconhecimento de seu trabalho
problemas de saúde ou para se precisar da emer- m ais freq u entes são d e por antigos pacientes, pois diz que, sempre
gência de um hospital. Na noite do dia 4 de ju- acid entes quando lhe encontram, vem cumprimentar e
nho, acompanhei a rotina de médicos, de enfer- conversar um pouco. Para ele, isso glorifica e
au tom obil ísticos... tu d o por
meiros, de pacientes e do plantonista do HDP de engrandece seu trabalho e seu esforço pelo hos-
Frederico Westphalen. O hospital conta atual-
cau sa d e u m a cervej inha a pital.
mente com 65 leitos e atende a, aproximadamen- m ais geral m ente (risos) . Elza Rodrigues, enfermeira, há dois anos
te, 150 mil pessoas da região. Mas, não é consi- trabalha no HDP. Falou um pouco sobre os
Elza Rodrigues
derado um hospital regional e sim um ponto de principais casos que ocorrem no plantão: “Ago-
Enfermeira

FOTO ANDRÉ PIOVESAN

Enfermeiras atendendo a criança com convulsão. Trabalho rápido e cuidadoso da equipe médica
Julho de 2009 19

nunca fecha
chegam ao Hospital Divina Providência
como é essa dura rotina

ra no inverno os principais casos que che- mais uma vez, bem sucedido, graças à equi-
gam até nós são principalmente de idosos e pe médica do hospital. Logo em seguida, a
crianças com problemas respiratórios. Já no criança foi encaminhada para a pediatria, on-
verão, os casos mais frequentes são de aci- de ficou sobre os cuidados e observação dos
dentes automobilísticos ou acidentes co- médicos.
muns, como queda nas piscinas dos clubes. Só não tive muito sucesso na tentativa
Tudo por causa de uma cervejinha a mais, de falar com o médico plantonista do dia. Por
geralmente (risos) ”. alguma razão, ele não quis dar entrevista.
A conversa corre boa, o ambiente estava As horas foram passando e mais uma
tranquilo, mas como todo plantão é uma in- noite se foi sem maiores problemas, como
cógnita, não se sabe o que pode acontecer. óbito ou acidentes mais graves. Na bagagem
E acontece: chega o carro da Brigada Militar ficou uma experiência de vida, e o gosto de
trazendo uma criança de nove meses carre- saber que Frederico Westphalen está bem
gada pelo seu pai. A criança estava com prin- servida por sua equipe médica do Hospital
cípios de convulsão. O trabalho foi rápido e, Divina Providência.

FOTO ANDRÉ PIOVESAN

Gilberto Ferreiro, o “Giba”, plantonista há 16 anos


20 Julho de 2009

A arte de talhar o som


A madeira trabalhada torna-se obra de arte nas mãos de um mestre
Daniel Espiña
danieldiscipulo@hotmail.com
m galpão de madeira nos fundos de

U
uma casa de esquina, longe do centro
da cidade. Serragem pelo chão, ferra-
mentas de marcenaria sobre uma me-
sa de serra. O ambiente de um artesão.
A luz do sol invade a sala por entre as fres-
tas das madeiras do galpão. Com o avançar da
tarde, o sol vai perdendo sua força e lenta-
mente o ambiente vai perdendo a luminosida-
de com o crepúsculo.
Mas a luz ainda revela obras raras, não pro-
duzidas em série, manufaturadas com carinho
e cuidados muitos especiais por mãos marca-
das pelo tempo. Tempo que não é visto como
barreira, mas como qualidade e aperfeiçoamen-
to da técnica.
O sorriso e a alegria são passadas ao tra-
balho que lhe rendeu excelentes obras de ar-
te. Algumas destas obras, de tão especiais,
não estão à venda: foram talhadas com uma
história, com precisão e com uma pitada de
acaso do destino.
A luthieria é uma manifestação artística ar-
tesanal que envolve a construção e restaura-
ção de instrumentos de corda com caixa de
ressonância, tais como o violino, a viola, o vi-
oloncelo, o contrabaixo e o violão (ver box na
página ao lado) .
A profissão não morreu. Persevera até ho-
je, mesmo com as dificuldades de encontrar
madeira, da industrialização e robotização dos
processos de produção. Ela está firme e viva
nas mãos de Erineu Franscisco Frozza, 60 anos,
natural de Encantado, Rio Grande do Sul. “Seu
Frozza”, como é popularmente conhecido. Luthi-
er.
Seu Frozza começou trabalhando numa mar-
cenaria, onde surgiu a oportunidade de apren-
der a profissão. Um cliente tinha um violão
FOTOS ANDRÉ PIOVESAN

Erineu Frozza cria arte com as próprias mãos


quebrado na lateral até a parte inferior. Que-
rendo consertá-lo, levou à marcenaria onde seu
Frozza trabalhava: “deixe aqui o violão se eu rinha desde 1990.
conseguir consertar, nunca fiz isto antes, tu Um violão normalmente leva de 15 a 20 di-
me paga o valor do conserto. Se eu não con- as para ficar pronto. O processo é artesanal,
seguir, então, tu pode levar embora”, disse o mas os moldes para um tipo de instrumento
marceneiro. devem ser os mesmos. Cada parte é selecio-
Espantou-se com o resultado. “Eu arrumei nada e colada uma após outra. A cola leva de
o violão a ponto d o d ono não reconhecê-lo”. 18 a 20 horas para secar.
Então pensou: “Se posso arrumar esta parte, Mas o seu primeiro violão levou seis meses
q u e é d ifícil por ter cu rvas e tu d o o mais, para ficar pronto. Instrumento que Seu Froz-
porque não posso fazer um violão?” Foi a par- za mostra com muito orgulho. Todo em mog-
tir d este momento q u e começou na profis- no com o tampo de araucária. Aprendeu pelo
são, conta o luthier, que é artesão de cartei- que padeceu. Autodidata, depois de cortar mui-
Julho de 2009 21
ta madeira errada, conseguiu ótimos resultados. mum no sul d o Pará) , a tampa d o instru-
Além de fabricar, Seu Frozza conserta instru- Luthier mento de marfim imperial (ou figueira
mentos. Mas adianta que não é fácil, pelo fato do norte) e a escala de guajuvira (é
Segundo Antonio Houaiss, o termo chegou
de haver pouca madeira para este tipo de tra- uma árvore encontrada nos estados
à lingua portuguesa por meio da palavra
balho. Quando cortada, ela não pode ficar torta, brasil eiros d e Minas Gerais, Mato
tem que ter seu formato em linhas retas. Ele francesa luthier (fabricante de instrumentos Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do
consegue matéria prima nas madeireiras da ci- de corda). Su l , Santa Catarina e São Pau l o.
dade e as lâminas, por encomenda de outros A melhor referência que se pode dar de Também é conhecid a por gu aj u ra,
estados. “liutaio” é Antonio Giacomo Stradivari guaiabi, pau d’arco, apé branco, guaiu-
Os clientes vão ao ateliê e escolhem peças já (Cremona, 1648-1737), ou Stradivarius, vira, guajubira, entre outros nomes) .
fabricadas, mas ele também produz instrumentos O preço dos violões varia de R$ 180
como era conhecido. Foi um célebre
personalizados conforme encomenda do cliente. à R$ 380 Viol as, d e R$ 320 à
luthier italiano. Ainda muito jovem foi
O primeiro nome — EFIM, Erineu Frozza Ins- R$ 600.
discípulo de Niccolò Amati, com quem aprendeu
trumentos Musicais — foi substituído por Além do talento em produzir
“Violas & Violões Frozza”, que ainda e desenvolveu a arte de fazer instrumentos. instrumentos, Seu Frozza mos-
não é marca registrada. O luthier já Muitas das técnicas utilizadas por ele ainda não foram tra habilidades no instrumen-
criou uma viola “custom”, única, com completamente desvendadas. to e no canto. Integrante
formas e design que pretende pa- Nicolò Amati (Cremona, 1596 - 12 de abril de 1684) foi um do grupo de violeiros Cha-
tentear. luthier da família italiana dos Amati, que se tornou conhecida pela péu de Palha, já gravou
Ele revela o segredo na escolha um CD, de produção inde-
alta qualidade dos intrumentos musicais que fabricava. Ele levou a
da madeira: tem produzido os vio- pendente. O grupo é
técnica da familia à perfeição em torno de 1645, sendo o mais
lões com imbuia (é uma árvore da composto pelos integran-
procurado fabricante de sua geração. Nicolò teve um filho,
família da Lauraceae, que ocorre ti- tes Edson Marcos Frozza
picamente nas florestas da região Girolamo (1649–1740), que também obteve reconhecimento (filho de Seu Frozza), Jack-
d os Campos Gerais d o Paraná) , o por sua habilidade no ofício, sendo o último son, João da Silva (Dandão),
braço de mogno (ou mogno-brasileiro, da linhagem Amati de grandes luthiers. Aloízio Mazzoneto, Edvino, An-
uma árvore nativa da Amazônia, mais co- (http://pt.wikipedia.org/). tonio Cardoso e Sergio Monilari.

Composição
Frozza ensina, passo a passo, como fazer um violão

FOTOS ANDRÉ PIOVESAN

1. Para a lateral: duas lâminas de madeira 2. Com a cola seca, então, o mesmo molde 3. São acrescentados o braço e os trastes
com lascas paralelas. é utilizado para fazer o outro lado que (segmentos no braço do violão, feitos de
formarão o corpo do violão. tiras de metal branco).

4. O tampo é feito com um compensado de 5. Tarrachas – fornecidas por lojas especi- 6. Finalmente, chega a hora do
marfim imperial onde são fixados o alizadas – são montadas na “mão” do vio- acabamento: o luthier lixa o instrumento,
cavalete e o rastilho. lão. Servem para afinar o instrumento. enverniza e põe as cordas.
22 Julho de 2009

Como é que eu vou?


Deslocar-se é sempre uma preocupação, principalmente nas cidades pequenas,
onde os meios de transporte são restritos, de difícil acesso e, muitas vezes, caros

FOTO GUSTAVO FAREZIN


Estudantes de Frederico Westphalen contam com poucas opções de transporte coletivo

Aline Schuster e Daniela Polla tece então? Acontece que quem não possui de motorização do estado, com uma média de
aline.schuster@hotmai.com/ condições financeiras para manter um veículo 2,5 habitantes por veículo. Este índice de veí-
dani.polla@hotmail.com de transporte próprio é obrigado a andar a pé, culo/pessoa revela a necessidade que os fre-
primeira coisa a ser pensada quando mesmo aqueles que moram nos bairros afas- deriquenses têm de possuírem um veículo pró-

A
se resolve ir de um lugar para outro tados do centro da cidade. prio, devido à dificuldade e a falta de opções
é: que meio de transporte será utili- Não é à toa que Frederico possui um índi- de transporte.
zado? Essa preocupação tem propor- ce de motorização considerável. Segundo da- O secretário da administração, Vilnei Luiz
ções maiores quando se trata de cidades dos do Detran, de 1997 até 2007, a frota de Giacomini, diz que a implantação de um trans-
pequenas, nas quais as opções de meios de veículos em circulação cresceu 47,16% no Rio porte público e coletivo requer estudos apro-
locomoção são muito restritas. Grande do Sul. Frederico Westphalen, ocupava fundados e uma infra-estrutura bem funda-
Imagine como é morar a 20 minutos do cen- em 2007 a 123 a posição no ranking do índice mentada para oferecer condições ideais. Porém,
tro e ter que percorrer este trajeto todos os para ele, “hoje, analisando a situação de Fre-
dias para trabalhar ou sempre que precisar ir derico Westphalen não temos definidos itine-
a farmácia? Pense ainda que, em alguns bair- rários nem infra-estrutura, como paradas e
ros, existem problemas de iluminação, o que abrigos. Mesmo assim, sabemos da necessida-
deixa algumas ruas completamente escuras à de de implantarmos o transporte coletivo”.
noite. Há uma bicicleta na garagem, comprada Para além disso, Giacomini revela: “estudos
para facilitar este deslocamento. No entanto, estão sendo realizados e iniciativas serão to-
a cidade não tem ciclovia e muito menos apoi- madas para que o transporte coletivo seja uma
os para deixá-las. Em último caso, tem-se dis- realidade e possa satisfazer os interesses dos
ponível o serviço de táxi. Para tanto, basta li- cidadãos frederiquenses moradores dos bair-
gar para o único ponto de táxi da cidade e ros mais afastados do centro da cidade e que
solicitar uma corrida. Porém, o gasto não bai- “Pego carona porque muitas vezes enfrentam dificuldades de se lo-
xará dos R$ 10. Esta é a realidade dos frede- comover”.
além de agilizar a minha
riquenses. Quem mora nesses bairros mais afastados
Frederico Westphalen, município do interi-
volta pra casa, diminui sabe bem como são essas dificuldades loco-
or do Estado, tem quase trinta mil habitantes. paradas em rodoviárias e moção às quais o secretário da administração
Abriga quatro instituições de ensino superior, tal, ainda me gera alguma de Frederico se refere. Quem precisa andar
tem 4,57 Km 2 de área urbana e não possui cerca de 20 minutos para chegar ao centro da
economia”. (Mauro Rohr)
nem sequer transporte coletivo. O que acon- cidade sente na pele a falta que um transpor-
Julho de 2009 23

FOTO GUSTAVO FAREZIN


Enquete
Você acha que deveria haver
transporte coletivo em Frederico?
Por quê?

Eu acho que deveria ter.


Porque é uma necessidade muito
grande dos estudantes.
Principalmente pro Cesnors, porque
eu também já estudei lá no Colégio
Agrícola, sei que é uma dificuldade
muito grande. Também para os da
cidade. O transporte
é um incentivo ao estudo.
Luiz Henrique Menlak – 19.

Penso que seria bom.


Porque a cidade já está grande,
está se expandindo bastante. E
tem bairros que são bastante
distantes, eu acho que já estaria
na hora de ter transporte coletivo.
Luiz Tressi – 46

Eu acho que sim. A cidade


já comporta. Pelo tamanho, pelos
bairros que ficam longe do centro.
Quem não possui carro utiliza meios de transporte alternativos para se locomover É necessário que já existisse.
Tânia Ribeiro – 36
te coletivo faz no município. d as, q u artas, sextas e sábad os.
É o caso d a estu d ante Heloíse Santi, q u e Devid o à falta d e ônibu s d ireto e ao cu s- Penso que sim, que deveria existir.
mora no bairro Itapagé e reclama: “Nos bair- to d as passagens, a alternativa encontrad a Temos uma questão de ruas,
ros não tem farmácia, não tem mercad o. Pa- pelo chapad ense Mau ro Rohr, 21, estu d ante
talvez não comporte, pela questão
ra tudo é preciso ir até o centro. Eu acho que d e Agronomia, q u e resid e em Fred erico para
do transito. Mas eu acho que seria
em u ma cid ad e d o tamanho d e Fred erico o estu d ar e precisa ir à Chapad a visitar a fa-
transporte pú bl ico é q u ase imprescind ível . mília, foi pegar carona. bom para a sociedade num todo.
Ainda mais com esses morros aí. Como a gen- “Pego carona porque além de agilizar a mi- Marisa Komers – 30
te trabal ha à noite, temos q u e and ar sozi- nha vol ta pra casa, d iminu i parad as em ro-
Dever, deveria. Mas não
nhas nas ru as e isso é perigoso. Nesse sen- d oviárias e tal, aind a me gera alguma econo-
tid o o transporte coletivo pod eria au xiliar”, mia”, comenta Mau ro. ia ter movimento aqui.
d esabafou a estu d ante. Já para a estu d ante d e Jornalismo Gabri- É pouca população para
Ou tro probl ema d as cid ad es peq u enas e el l a Bel l é, não há al ternativa. Para visitar a o transporte coletivo. E o
méd ias é a d ificu l d ad e no d esl ocamento in- família em Âmpere, no Paraná, a única opção pessoal não iria pagar!
termu nicipal. Isto porq u e os horários d e ôni- é o transporte col etivo. Existe apenas u ma
Greice Jacomini - 19
bu s são pou cos, não há l inhas d iretas para empresa d e ônibu s q u e faz a l inha Fred eri-
várias cid ad es e as passagens são caras. co/Âmpere e o cu sto d a passagem é d e R$
Isso acontece com quem precisa d eslocar- 50,00. Dessa forma, a estudante se obriga a
se de Frederico Westphalen à Chapada. A dis- fazer u m caminho al ternativo: ir até Santo o ônibus que vai direto, eu chego em casa às
tância entre as cid ad es é d e cerca d e 100 Antônio d o Su d oeste e d e lá segu ir d e carro 2 d a manhã. Por i sso tu d o, eu acabo i nd o
km e não há linha direta. É preciso pegar um até su a cid ad e d estino. pou co para casa”, completa Gabriella.
ônibu s d e Fred erico para Pal meira d as M is- “Eu acho caro R$ 50, tanto q u e eu prefi- Diante de histórias como estas, é indiscu-
sões, esperar uma hora e meia na rod oviária ro parar em outra cidade e meu pai ir me bus- tível que um transporte coletivo de qualidade
d e Palmeira e pegar o ônibu s para Chapad a. car, porq u e é como se 30 q u il ômetros cu s- e acessível pode facilitar o deslocamento e a
O cu sto d as d u as passagens fi ca em R$ tassem R$ 25, enquanto os 220 quilômetros vida de muitos cidadãos frederiquenses. Cabe
18,50. Além disso, vale lembrar que este per- que eu fiz de Frederico até Santo Antônio do então, às autoridades dispor este serviço pa-
curso só pod e ser feito quatro vezes por se- Sud oeste também custaram R$ 25. Além d is- ra a sua população, e assim promover e pos-
mana. Só há ônibus para Chapad a nas segun- so, assim, eu chego l á às 6 d a tard e e com sibilitar a todos o direito de ir e vir.
24
FOTO GUSTAVO FAREZIN
Julho de 2009

Mairo Trentin Piovesan, 20 anos, estudante do sexto semestre de agronomia, é natural de Jaboticaba, RS

Heloise Santi e Josiane Canterle


hchsanti@yahoo.com.br

Vou morar
josipjfw@yahoo.com.br
ois estudantes que se multiplicam nos

D
rostos de muitos brasileiros e brasilei-
ras que sonham com dias melhores. Um
único objetivo: mudar o mundo!
Com dezessete anos, Charles Roberto Bel- Primeira etapa: chegar a uma universidade. E não
monte Mafra e Mairo Trentin Piovesan chegaram
a Frederico Westphalen. O primeiro, vindo de Pi- Feito o vestibular, confirmada a vaga, bate aquele frio
rapó (RS), veio cursar Engenharia Florestal. O
segundo, de Jaboticaba (RS), estudar Agrono-
mia. Além de terem a mesma idade, ambos es-
tudam no Cesnors/UFSM, vêm de famílias humil- Diferentemente de Mairo, que foi morar com E morar sozinho lá tem vantagem? Olha o
des e buscam, na universidade pública, a parentes. que dizem os meninos: “as principais vantagens
realização de um sonho. — Primeiro eu morava com os meu tio e a de morar sozinho são: liberdade. Tu conheces a
Já cantava, sabiamente, Dinho Ouro Preto: família dele, depois ele acabou falecendo. Fiquei mentalidade das outras pessoas. Tu vês que
“Dezessete anos e fu- morando com a tia um não é o único. Tu aprendes a lidar com todo
giu de casa/ Levou na tempo, antes de vir para mundo, aprende a aceitar outras opiniões,
bolsa umas mentiras o apartamento morar com aprende a escutar mais”. Esse é o Charles. Ago-
pra contar/ Deixou pra Vanta- os guris. ra é a vez do Mairo: “Vantagem é a liberdade de
trás os pais e namora- gem é a Sair de casa significa não ter a regra seguida do pai e da mãe, mas
do/ Um outro dia, um l iberd ad e d e não ter a novos relacionamentos, no- tu tem um outro tipo de regra – que seria a
outro lugar”. Talvez vas descobertas e muitas desvantagem – que é a questão de que estou
regra segu id a d o pai e d a
não tenham deixado saudades. Ah! Quanta sau- estudando, estou morando aqui, mas eu tenho
mãe, m as tu tem u m
para trás “o namora- dade do “cheiro de casa”, os estudos que me regem, regulam. A vanta-
do”, mas trazem no ou tro tipo d e regra, q u e da convivência com a famí- gem é a liberdade, poder sair, voltar a hora que
peito a vontade de re- seria a d esvantagem . lia, da comida pronta, da quiser, isso as pessoas que moram comigo não
volucionar suas vidas roupa lavada, do descom- tem como controlar. Cada um é dono do seu es-
Mairo Piovesan
para transformar a vida prometimento, do dinheiro paço. Isso lá na casa de meus pais não tinha”.
dos seus. mais fácil vindo dos pais. Pode ser que para muitos, sair de casa, mo-
— Foi na confirma- São tantas mudanças... rar sozinho(a) seja mais uma vontade incontro-
ção de vaga. Eu estava tentando me enturmar — O que mais sinto falta é minha família. Ami- lável de descobrir o mundo e suas possibilida-
e acabei encontrando o pessoal. zades são importantes, mas com o tempo tu aca- des. Contudo, deixar o conforto da casa da
Foi assim que Charles encontrou seus pri- bas perdendo aquele vinculo. Eu acho que as ami- família traz muitas consequências.
meiros companheiros de apartamento, de estu- zades que você faz aqui dentro da faculdade são — Além da minha idade acho que o que mais
dos e, porque não dizer, amigos: Alexandre, Fer- amizades um pouco mais adultas e de repente mudou em mim foi ter crescido como pessoa me
nando e Mauricio. mais duradouras também - argumenta Charles. tornei um pouco mais adulto. Acho que hoje
Julho de 2009 25

FOTO GUSTAVO FAREZIN


Charles Rodrigo Belmonte Mafra , 20 anos, estudante do sexto semestre de engenharia florestal, é natural de Pirapó, RS

Mais segurança teve Charles, apesar de difi-


culdades econômicas e incompreensão de algu-

sozinho!
mas pessoas:
— Nunca pensei em desistir, apesar das di-
ficuldades financeiras, a vontade de seguir em
frente e alcançar os meus objetivos é mais for-
te que os percalços do caminho.
é qualquer uma, tem que ser federal. Hoje, os dois acadêmicos se mantêm com
bolsas de estudo do CNPq.
na barriga... Manhê! Vou morar sozinho! — Se não fossem elas, não estaria aqui. Com
certeza. Até porque não tenho mais tempo, os
horários para o trabalho não batem com os de
estudos. Provavelmente, se eu começar a tra-
meus pensamentos são mais centrados visua- po. Estava precisando, passava por dificuldades balhar, vou ter um déficit nos estudos, no ren-
lizam um único ponto - garante Charles. financeiras. Eu gostava, além de ser um com- dimento na faculdade – diz Charles.
Para Mairo, a mudança foi maior: “o que mudou plemento na minha co- — Graças à minha
em mim? Tudo! O conhecimento muda as pes- mida, pois sempre so- bolsa, tô me mantendo.
soas, muda mesmo. Se aprende a saber o que brava alguma coisa das Sem ela, não estaria fa-
está fazendo e se perguntar por que está fa- festas”. H oj e zendo faculdade. Ela
zendo aquilo, e apesar da liberdade que se tem A realidade financeira me traz, além das vanta-
é preciso saber usar. Eu poderia tá indo lá na da família de Mairo não é sinto u m a pessoa não gens financeiras, o co-
praça fumar maconha se eu quisesse, que o pai muito diferente. Sobrevi- nhecimento - afirma
total m ente real izad a,
nem ia ficar sabendo”. vendo da pequena pro- Mairo.
Mas a mudança de casa não despertou só o priedade rural e com
m as estou segu ind o o Com quase 3 anos
intelecto adormecido: uma família numerosa, o cam inho, na bu sca d o fora de casa, o mundo
— Aprendi a fazer comida sozinho, comprar estudante chegou a pen- q u e eu q u eria e aind a de cada um já é bem di-
ela. Na cidade tem essa diferença. Na casa do sar em desistir: q u ero. ferente. Hoje, eles mo-
pai, grande parte a gente produzia, aqui tem de — Teve semestre aí ram sozinhos.
comprar. Hoje quem tem de comprar as roupas que os colegas me ban- Charles Mafra — Hoje me sinto uma
sou eu, antes não, a mãe comprava. Hoje, se eu caram, no tempo que pessoa não totalmente
sujar, eu vou lavar. Me tornei um cumpridor de não tinha o auxílio ali- realizada, mas estou se-
horários e administrador do meu dinheiro - con- mentação. Eu pensei em desistir mesmo, e olha, guindo o caminho, na busca do que eu queria e
ta Mairo. “andei ali”. As dificuldades pareciam aumentar, ainda quero - argumenta Charles - na parte ma-
Nenhum aprendizado acontece sem dificul- o conteúdo do curso ia dificultando e as dificul- terial, hoje eu tenho um armário e uma cama (ri-
dades. Quando Charles chegou em Frederico, lo- dades financeiras aumentando. Já pensei em sos). É engraçado, mas sei que estou correndo
go foi à procura de emprego, pois a família não desistir sim, e graças a Deus, aos meus colegas atrás, ainda muito longe de alcançar aquilo que
tem como sustentá-lo sozinha. “Aqui, primeiro e a minha família que não me deixaram fazer eu quero. Um pequeno caminho acho que e já
eu trabalhei de garçom. Trabalhei um bom tem- isso, se não eu tinha ido embora. trilhei. Acredito que estou no caminho certo.
26 Julho de 2009

E numa folha qualquer eu


desenho um sol amarelo...
Crianças aprendem técnicas de pintura em tela
FOTO ANGELO LORINI

Gustavo Menegusso e Roscéli Kochhann livros, tintas, pincéis, quadros e tudo o que
FOTO ANGELO LORINI

gmenegusso@yahoo.com uma sala de pintura tiver direito, essas


rosceli.ko@gmail.com meninas dão asas a imaginação e se esforçam
xistem várias maneiras de adquirir o para fazer o melhor trabalho possível.

E
conhecimento. Em casa, na escola, no Sob o olhar atento da professora de Artes
trabalho e até mesmo num bar lendo Plásticas Filomena Sroczynski, a Irmã Filó, as
um jornal aprendemos muitas coisas aulas são intercaladas entre a teoria e a
sobre educação, ciência, política, economia, prática. Primeiro é preciso saber como pintar
entre tantos outros assuntos. No entanto, é para depois sim abusar do pincel.
no espaço escolar que o ser humano encontra - No começo é um pouco difícil, pois a arte
o suporte para aprimorar as suas habilidades exige tempo e dedicação. Toda arte tem uma
de saber ler, escrever, se expressar, desenhar, base assim como um edifício, a matemática e
pintar. Enfim, de se relacionar com as pessoas só se aprende, praticando - coloca a
e o mundo ao seu redor. Com o propósito de professora.
desenvolver essas habilidades por meio da Um pingo de tinta aqui, uma pincelada lá.
arte, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, de Na hora do batente não dá pra se distrair.
Frederico Westphalen, há 20 anos oferece aos Concentradas em suas pinturas, as alunas nem
seus alunos um projeto de pintura em tela. olham para os lados. Parece que a arte as faz
Mais que oferecer um espaço para a arte, viajar pelo mundo da imaginação e faz mesmo,
que muitas vezes é esquecida ou banalizada as suas obras são reveladoras disso. Aos
pela nossa sociedade capitalista, o projeto poucos, o que era apenas um quadro branco
“Pintura em Tela” é um complemento para a Alegria depois do trabalho pronto dá lugar a uma paisagem deslumbrante de uma
formação integral do aluno. natureza belíssima cujo apreço foi esquecido
- A função social da escola é educar a partir se reúnem na escola Auxiliadora com um pelo homem, ou, a um mundo abstrato,
da realidade para que o aluno possa se inserir objetivo em comum: aprender a pintar, mas existente somente no pensamento fértil de
no meio em que vive. A arte, assim como a não uma pintura de desenho que a professora cada criança.
cultura e a dança fazem parte dessa formação da primeirinha dá para os seus aluninhos, A estudante Amanda Bertoletti, de 11
- declara a coordenadora pedagógica da escola estamos falando de pintura de gente grande, anos, participa do projeto há dois anos e adora
Iloni Marangon Dourado. ou seja, obras de arte. Num ambiente todo fazer pinturas abstratas. Para ela a arte é
Todas às quintas-feiras à tarde, 4 colorido como um arco-íris, decorado de anjos como um hobby: “Não vou ser pintora, mas
adolescentes, de 11 anos de idade cada uma, e flores, com prateleiras enormes e cheias de gosto de pintar para relaxar, me divertir”.
Julho de 2009 27
A arte exerce em nós um
fascínio que não sabemos
explicar, a não ser pela
forma, cor e coração.
Filomena Sroczynski

FOTO ANGELO LORINI


Concentração para cuidar dos detalhes

O que é o Pintura em Tela? Quem pode participar?


É um projeto de Artes da Escola Nossa Senhora Estudantes do Ensino Fundamental e Médio que estão
Auxiliadora que oferece oficinas de pintura em tela. matriculados na escola e também alunos de outros colégios
que estiverem interessados.
Onde ele acontece?
As oficinas são realizadas na Sala de Artes do Colégio.
Qual o valor?
Cada participante contribui com uma taxa de R$5,00
Quando? por semana para ajudar na manutenção dos materiais
Todas as quintas-feiras das 14hs30min às 16hs30min. escolares.

Artistas e obras
Integrantes do projeto mostram suas telas
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28 Julho de 2009

Cidadão de três pátrias


Itália, Brasil e Argentina: a trajetória de Roberto Fortini, um eterno guerrilheiro

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Julho de 2009 29

FOTO ELIANA DE SOUZA


Nilson Luiz Rosa Lopes
nilson@pennasat.com.br
oberto Fortini era apenas uma criança

R
quando veio com os pais, em 1949, pa-
ra o Brasil. Mas lembra claramente, ain-
da que com o filtro dos treze anos, os
horrores que a pacata comuna de Sarcedo, no
remoto interior da região de Vêneto, na Itália,
enfrentou com a destruição provocada pela se-
gunda guerra mundial. Mais do que isso, guar-
da com precioso cuidado os efeitos negativos
do fascismo e do nazismo na vida, na cultura
e, principalmente, na alma do povo. Vem daí a
sua inabalável fé na democracia e nos princí-
pios socialistas da esquerda. Por isso, era ape-
nas natural a sua adesão aos movimentos so-
ciais que combateram a ditadura durante os
anos de chumbo, que começaram no Brasil em
1964. Roberto & Nadia na hora do mate. Uma história de amor e lealdade marcada pela guerrilha
Com o advento do AI-5, em 1968, ainda
em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, aderiu à onipotentes autoridades militares da época. ros negociado pelo embaixador suíço seqües-
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) , gru- E assim a vida seguia para o recém forma- trado em setembro de 1970, ele seguiu para
po guerrilheiro de extrema esquerda liderado do casal: enquanto Nadia se esforçava para Santiago do Chile. Ela, já utilizando o codinome
por Carlos Lamarca, e caiu na clandestinida- encantar a distinta clientela frente ao balcão Sonia, alguns meses depois, seguiu para Roma,
de. E aí, passou a enfrentar os sacrifícios exi- da loja, Roberto se esfalfava nas florestas e Itália, onde acabaram se encontrando.
gidos para pavimentar a busca do sonho. rios da região, sempre em contato com os com- Depois, disso, se sucederam, para o casal,
Não havia outro jeito. A eterna busca por um panheiros e seguindo uma rígida agenda que estadias em Paris, Argel, Roma, Buenos Aires,
futuro melhor, afinal, teria mesmo que pas- os preparava e orientava sobre a iminente re- e inúmeras outras grandes e pequenas cida-
sar pela luta armada. Ele nunca vacilou. Nem volução que certamente adviria. Tudo ia bem des mundo afora. E é exatamente aí que aflo-
quando teve que esconder da companheira até que, um dia, a casa caiu. Primeiro na ca- ra o grande ensinamento do velho guerrilhei-
recém seduzida na pequena cidade de Coro- beça da Nadia, é claro. Numa modorrenta tar- ro. Morando há mais de trinta anos em 38
nel Bicaco, no noroeste gaúcho, a verdadeira de de sol claro, sem nuvens, no verão de 1970, belíssimos hectares, no interior da pequena
operação por trás da aparentemente inocen- Nadia se surpreendeu com a inesperada che- Aristobolo Del Valle, na província de Misiones,
te loja de pescados na vizinha Três Passos. gada de um comboio de viaturas militares, li- Argentina, o casal demonstra ter aprendido a
Com a desculpa de abastecer a clientela, eles derada por um de seus maiores clientes, da lição que não se cansa de repetir: o melhor da
passavam os dias em atividades de treina- brigada militar local. vida está em viver com a medida exata da sua
mento militar junto aos E assim então, sem necessidade. Nem mais, nem menos. Apenas o
rios e reservas da re- qualquer tipo de aviso suficiente. A casa simples, sem luxos, ilustra
gião. Nadia, a bela e in- prévio, ela mergulhou o conselho. Os olhos claros de Roberto fulgu-
gênua companheira, se- A natu - num universo que jamais ram com vigor quando é convidado a deixar
mi-alfabetizada, então reza nos imaginara existir. Como uma mensagem às novas gerações. O tom de
com tenros dezessete ensina q u e só se pod e se tivesse caído na toca voz se altera e o carregado sotaque cosmopo-
anos, nem queria imagi- de Alice, ela se viu imer- lita passeia incerto em uma mistura harmoni-
viver em eq u il íbrio. Sem
nar o que mais poderia sa numa realidade que osa de português, italiano e espanhol.
ganância, sem abu sos e
haver por trás daquela parecia não fazer senti- O entusiasmo do eterno guerrilheiro está
mágica realidade. sem excessos. do. Confinada no quartel de volta. Segundo ele, a luta não acabou. Ho-
De origem humilde, Roberto Fortini local da Brigada Militar, je, apenas mudaram as armas, mas os objeti-
ela havia passado por ela foi, lentamente e, é vos permanecem: viver com liberdade, com
uma infância extrema- claro, sem sutilezas, vi- qualidade e, principalmente, tendo consciên-
mente difícil. E agora, olentamente informada cia de nosso papel no mundo. Sem consumis-
repentinamente, sua vida parecia ter tomado das verdadeiras atividades do companheiro. A mo. Sem exageros. A vida integrada ao meio.
um rumo de conto de fadas. Afinal, um italia- essas alturas, Roberto já estava também des- Como prova, ele apresenta um fato: do espa-
no alto, olhos azuis, dinâmico e sedutor, lhe frutando da indesejável hospitalidade dos bri- ço disponível na propriedade em que mora,
oferecia uma ampla casa mobiliada, se mos- gadianos. Nadia lembra, ainda hoje com arre- apenas cinco por cento é ocupado para a pro-
trava apaixonado e ainda lhe oferecia uma pios, o inferno de gritos, urros e terror dução. O resto é pura mata nativa. O verde se
profissão: afinal, era ela quem tinha que to- absoluto em que submergiu naquela noite. multiplica em tonalidades infinitas e nele se
mar conta da empresa de pescados. E a loja A partir de então, o casal se separou. Mas encontra a mais profunda das muitas lições
ia bem: entre a crescente clientela fulgura- apenas fisicamente. Roberto foi levado à llha do vividas, apreendidas e cuidadosamente re-
vam algumas estrelas do firmamento militar Presídio em Porto Alegre. Assim que soube de transmitidas por Roberto: a natureza nos en-
do quartel local. Para estes, sempre havia al- seu paradeiro, Nadia “largou tudo e foi atrás”. sina que só se pode viver em equilíbrio. Sem
guns exemplares de brinde, seguindo a carti- Em boa hora. Roberto já partia para outras pa- ganância, sem abusos e, principalmente, sem
lha habitual do comercio que paparicava as ragens. Integrante do grupo de 70 guerrilhei- os excessos do capitalismo desenfreado.
30 Julho de 2009

Caminhe pela cultura punk da Osvaldo Aranha, na Porto Alegre dos anos 80

Priscila Devens e Morgana Fischer

ARTE DE ANA PAULA MEIRA DA ROCHA


pridevens@gmail.com
morgana.fischer@hotmail.com

nquanto meus coturnos fazem baru-

E
lho nas calçadas da Avenida Osvaldo
Aranha, no bairro portoalegrense do
Bom Fim, vou caminhando e perce-
bendo detalhes dos anos 80, conhecidos
como a década perdida devido às crises
econômicas vividas na decadência da dita-
dura. Estou na esquina de uma rua cercada
por bares de diversos públicos e me encon-
tro também no início da década de 80, pe-
ríodo marcado pelo fim da repressão e prin-
cípio de vários movimentos de rebeldia,
entre eles a cultura punk.
Meu cabelo moicano, roupa rasgada re-
pleta de correntes e joaninhas, para muitos
representam meu lado mau. Mas a diferen-
ça é que não somos maus, apenas quere-
mos que os outros nos vejam como maus.
Algumas quadras adiante, encontro adoles-
centes na frente do bar Ocidente bebendo
leite com suco de limão. O objetivo é pro-
vocar o vômito. Outra coisa que adoramos
fazer é queimar jornais e ficar olhando o
fogo crepitar em uma mancha cuspida de
vermelho vivo. Assim vive um punk.
Este nosso estilo de vida nasceu de três
vertentes, vindas de três países diferentes.
Surgiu por meados de 1975 como uma ma-
nifestação cultural juvenil. Nos EUA, o punk
é caracterizado pelo niilismo, sem envolvi-
mento ideológico e partidário, com muitos
aspectos da própria cultura americana. Na
Alemanha, o punk é de extrema direita e,
na Inglaterra, marcado pelo anarquismo es-
querdista. Mas existem todos os tipos de
punks misturados em todos os lugares.
Ao longe, ouço um som de poucos acor-
des, rasgando as esquinas, que vem da Rua
Tomaz Flores. Esse som vem diretamente Volante de um histórico show no Bom Fim, reduto punk na Porto Alegre dos anos 1980
da “fortaleza” dos Replicantes, ou simples-
mente “bunker”, como José Antônio Meira da Rocha prefere chamar. essas duas melodias vão valsando aos ouvidos dos mais atentos.
Meira, que diz ter um estilo diferente dos demais punks, usando rou- Segundo Meira, Os Replicantes injetaram um pouco de profissiona-
pas do tipo militar, no futuro será professor do curso de Jornalismo lismo no pessoal dessa época. Pois o comum do punk rock são pesso-
do Cesnors, e vive e convive com essa cultura punk. “Minha irmã co- as que não sabem tocar nenhum instrumento, mas os compram mes-
meçou a andar com uns punks e eu comecei também”, disse. Bunker mo assim, formando a banda. Meira conta uma história, segundo ele
é o prédio onde Os Replicantes, conhecida banda punk de Porto Ale- antológica, de quando Eron Heinz comprou seu baixo, ele nem sabia
gre, ensaiam, moram e tem a produtora de vídeo Vortex. Misturado que tinha quatro cordas. Meira conhece muito de perto toda essa ga-
ao som dos Replicantes, ouço também um som Krishna, que vem em- lera. A irmã dele chegou a namorar o Cláudio Heinz, guitarra. “O Eron,
balando meus pensamentos, me levando pra longe daqui. baixo, foi o primeiro que me ensinou informática; a primeira vez que
Ao lado do bunker existe um templo de Hare Krishna e pelas ruas comprei um computador tive lições com ele”, falará muitos anos depois.
Julho de 2009 31
Alguns passos, e me esbarro em outro punk. Fones de ouvidos, no uma grande forma de ganhar dinheiro com a cultura eloqüente que sur-
velho walkman toca um De Falla. Lembro-me da capa do LP deles pro- gia, criou a fashion punk. Um visual punk a ser explorado. “Tem que
duzida por Meira. “Uma capa tridimensional. Até hoje tem gente ves- ver o que é genuinamente punk e o que é criado”, criticou.
ga tentando enxergar a capa em 3 dimensões” (risos) , relembrou. Os bares vão fechando, eu sigo andando mais uns passos e os anos
Enquanto pessoas jogam-se das janelas do Ocidente por diversão, 80 estão acabando. As gerações vão crescendo, os anos 90 batendo a
decido seguir meu caminho e chego à metade dos anos 80, mais pre- porta, novas bandas surgindo, como a The Mullets, com Luis Fernando
cisamente em 1985. Fico sabendo de um festival de rock que irá acon- Rabello Borges na guitarra base. Luís veio de Canoas para estudar, e
tecer no Colégio La Salle Santo Antônio. Rock Tonho é o nome. O orga- também passou a freqüentar a Osvaldo Aranha. Ele também seguirá
nizador do evento: Luciano Miranda, 15 anos. Garoto muito envolvido um rumo no futuro: será professor de Jornalismo do Cesnors.
na cultura punk, relacionado mais com o lado político e ideológico do A rua em que caminho já não é mais a mesma. Os bares onde os
movimento. “O rock é só um resultado da cultura, talvez um dos re- punks se encontravam, na maioria, não existem mais. Não se lê mais
sultados mais secundários, porque existe um aspecto muito maior”, O Sombra e nem se vê punk bebendo leite com limão. Mas às vezes, se
comentou Miranda. Luciano Miranda será professor de Jornalismo do fecho meus olhos bem apertados, consigo ouvir Wander Wildner ento-
Cesnors e nos anos 80 utilizava os meios de comunicação para expor ando “Sábado todo, eu chorei de mágoa; Minha garota foi pra Manágua“.
as suas opiniões a respeito do sistema. Na Osvaldo Aranha de Luis, ainda existem shows de bandas punks.
Em uma esquina da Osvaldo Aranha, avisto páginas de um jornal “Bandas amadoras, que não chegaram a lançar disco. Banda de gara-
que o vento acertou em cheio num vôo rasante. “O Sombra” é o nome. gem, mais pra fazer barulho no fim de semana”, lembrou.
Jornal produzido por Miranda como forma de manifestar a negação aos Luis partiu para a área acadêmica, porque segundo ele, a vida ia
sistemas tradicionais de representação. Enquanto o Brasil vive um pe- complicada, pelas arruaças e brigas. “Comecei a estudar para me dis-
ríodo de redemocratização, para a juventude da época o sistema não trair dessa anarquia, me civilizar”, falou.
representava alternativa alguma para uma transição democrática. Isso A palavra liberdade na época não era facilmente entendida pelos
caracterizou o punk da metade dos anos 80, jovens politizados e anar- punks. Se vivia uma rebeldia adolescente. A cultura punk fez sucesso
quistas. porque veio ao encontro do jovem reprimido, que se vestia de preto.
Ao longe, ouço um som estranho, vários pares de sa- “Hoje em dia o cara deprimido vira ‘emo’”(risos) , comen-
patos fazendo tamborilar o chão em uma marcha tou Meira.
compassada. Com um susto avisto duas massas de Atualmente a rebeldia já não é tão comum. Ho-
pessoas, uma em direção à outra. De um lado je os jovens, quando querem se mobilizar usam
punks anarquistas, de outro, metaleiros de di- a Internet, um canal de comunicação mais bara-
reita. A batalha campal estava começando. So- to e de maior repercussão. “Agora, se pode usar
cos, facas, gritos. “Quando aconteciam essas as ferramentas do sistema para fazer o seu
batalhas, existia sim a simples aversão de próprio sistema”, argumentou Meira. Mas olho
grupo, mas tinha a coisa ideológica também”, para trás e vejo que a Osvaldo Aranha conti-
lembrou Miranda. nua lá, porém não com a mesma essência. É
Miranda gosta muito da música punk rock, apenas mais uma rua comum. Mas o punk, es-
mas da boa música, como fala ele. “O que me se sim, continua vivo nas lembranças de três
seduz nas músicas é a ati- professores de Jornalismo
tude política, anarquista, do Cesnors, que passaram
que se percebe nas letras”, por “Osvaldo Aranhas” di-
comentou. Mas a moda, o ferentes, mas que viveram
verniz do punk, segundo o movimento punk com a
Miranda são característi- mesma intensidade.
cas de fachada. Ele conta
a história da mulher de
Malcom McLaren, produtor Meira, autor da capa do
da banda precursora do
primeiro LP do DeFalla,
punk rock no mundo,
mostra como ver a arte
Sex Pistols, que ao
em três dimensões
perce-
ber
32 Julho de 2009

Água tratada escorre pelo ralo


40% da água tratada se perde antes de chegar ao consumidor

FOTO ROSELAINE CARATTI


Roselaine Caratti
lainecaratti@yahoo.com.br
tualmente, há uma grande preocupa-

A
ção com o abastecimento de água pa-
ra a população em geral. Em função
do crescimento demográfico signifi-
cativo e consequentemente de uma demanda
maior de água potável, surge a preocupação
com as perdas do líquido, que geralmente acon-
tecem nos sistemas de abastecimento por meio
de vazamentos, nas estações de tratamento,
nos reservatórios e redes de distribuição, em
ligações domiciliares, nas instalações hidráu-
licas dos imóveis. Essas perdas, juntamente
com a não-utilização de maneira racional, re-
presentam um volume significativo de água
que é desperdiçada diariamente. Resultado:
um enorme percentual de água tratada que
acaba se perdendo, sem atingir o seu objeti-
vo, que é o consumo humano.
Esta também é uma preocupação da COR-
SAN, mais especificamente de uma de suas
unidades, situada em Palmitinho - RS, e que
abastece também os municípios de Taquaruçu
do Sul, Vista Alegre e Pinheirinho do Vale. O
percentual de água tratada que é desperdiça-
da todos os dias por vazamentos, infiltrações
e até mesmo redes clandestinas, (desvios fei-
tos na rede de água) é preocupante. Segundo
dados não oficiais, obtidos durante a reporta-
gem por fontes que não querem ser identifi-
cadas, cerca de 55% da água tratada estava
se perdendo antes de chegar na casa dos con-
sumidores. Esse número já chegou a atingir a
marca de 60% em 2008. Rodrigo Albarello fala sobre a importância de economizar água
Trabalhos recentemente realizados pela em-
presa mostram que esse percentual foi redu- tos – os funcionários da CORSAN eram avisa- taminação através de produtos químicos, ten-
zido a uma margem de 40% de perda, o que dos. Ele afirma também que, assim que acio- do como base o sulfato de alumino, cloro e o
é considerado relativamente normal. nada, a equipe iniciava os trabalhos a fim de flúor. Cerca de 40 coletas por mês são feitas
O consumo diário dos quatro municípios detectar o problema. Algumas vezes, não era nos municípios atendidos pela CORSAN, onde
abastecidos pela CORSAN, que antes era de resolvido na hora, por falta de disponibiliza- são retiradas amostras de água na casa dos
1.800.000 m 3 de água, diminuiu para ção de máquinas pela prefeitura, diz o comer- consumidores e levados para o laboratório pa-
1.400.000 m 3 , depois de encontrados alguns ciante. ra fazer analise e verificar a qualidade da
dos vazamentos. O operador de máquinas Lucenir Negrine, água.
O comerciante Rodrigo Albarello, residente funcionário da prefeitura, relata que, às vezes Para ajudar no controle do consumo e dis-
no Bairro Santa Terezinha, município de Palmi- em que os pedidos não são imediatamente tribuição da água, foram instalados cerca de
tinho, diz que várias vezes já entrou em con- atendidos, é por falta de estrutura, maquiná- seis hidrômetros colocados em pontos estra-
tato com os serviços da empresa, por motivos rios estragados ou realizando trabalhos em lo- tégicos d a cid ad e, ond e tod os os d ias é fei-
de falta de água, devido a vazamentos ou ca- cais distantes, tendo em vista que a prefeitu- ta a leitura dos relógios, e se percentual de
nos entupidos. Acredito que, em decorrência ra local conta com somente duas máquinas água aumentar em uma quantia significante,
da estiagem que a região enfrentou, ficou mais para realizar esses tipos de trabalhos. de um dia para o outro, fica mais fácil encon-
fácil detectar os vazamentos. Quando eram en- A água que vem do Rio Guarita até a esta- trar os vazamentos, pois cad a hid rômetro
contrados vestígios de água – umidade e ção de tratamento da CORSAN, na Linha Piaia, correspond e a u ma d etermi nad a l i nha d e
outros indícios de que poderia haver vazamen- passa por um processo de limpeza e descon- abastecimento.
Julho de 2009 33

Boa caminhada
Frederico Westphalen quer proporcionar um lugar de lazer e tranquilidade

FOTO THAIS GARCIA


Máquinas trabalhando nas obras da Mauricio Cardoso

Thais Garcia am mais planas. O quanto antes isso sair, me- pequena, temos que pensar grande, como Fre-
thais_garcia@hotmail.com lhor! A cidade está precisando”. Carlos ainda derico merece”, argumenta o Vice-Prefeito.
alçadas desniveladas, ruas esburacadas, acrescenta: “Daria mais segurança e tranqüi- Nilva Albarelo caminha durante uma hora,

C
trânsito, falta de iluminação e seguran- lidade pra gente andar, e estimularia as pes- diariamente. Acredita que atividade física é
ça são algumas das dificuldades que soas a fazerem exercícios”. primordial à saúde, mas reclama dos buracos
frederiquenses encontram, hoje, na ho- O “caminhódromo” ganharia uma extensão e desníveis das calçadas e ruas. Diz que sem-
ra de praticar exercícios físicos ao ar livre. Lon- de mais de dois mil metros. Ele iniciaria no cru- pre procura os melhores lugares para a sua
ge das academias, muitas pessoas procuram zamento entre as ruas Maurício Cardoso e 15 caminhada e gostaria de um local com mais in-
encontrar as melhores “rotas” para praticar as de Novembro, seguindo até a BR 386. fra-estrutura e segurança para andar tranqui-
atividades. É uma legião de caminhantes que, Segundo o Vice-Prefeito Luiz Carlos de Oli- la.
nos fins das tardes, ganham as ruas da cida- veira, a Maurício Cardoso já precisava de obras O mesmo problema enfrenta o casal Dirceu
de fazendo perigosos malabarismos entre os de pavimentação asfáltica para facilitar a en- e Maria Liduina de Medeiros. Eles saem todos
carros, as pessoas, os postes e as calçadas trada dos veículos na cidade, diminuindo o trá- os dias de sua casa, em frente ao supermer-
esburacadas. fego pela entrada principal. Aproveitando es- cado Barril, e seguem o trajeto para a univer-
Carlos e Cleuza Trombeta saem todos os di- sas obras, foi idealizado algo maior, como o sidade da URI descendo para a Avenida Mau-
as com sua cadelinha Keiti para se exercita- “caminhódromo”. “Frederico não é mais cidade rício Cardoso e voltando pelo Centro até sua
rem. Eles caminham durante uma hora ou mais, casa. “As calçadas estão em péssimas condi-
FOTO THAIS GARCIA

escolhendo percursos mais planos para a ca- ções, e cheias de buracos e sujeiras” reclama
delinha. “É ruim por causa das calçadas, e tam- o casal. “Com o ‘caminhódromo’ melhoraria a
bém as árvores baixas e mal podadas” expli- qualidade de vida do pessoal e seria um local
ca Carlos. com mais segurança e lazer, a idéia é ótima”.
Porém, parece que até o final deste ano es- As pessoas como Carlos, Cleuza, Nilva, Dir-
ta situação já terá outra “cara”. A prefeitura ceu e Maria Liduina, que praticavam exercíci-
municipal de Frederico Westphalen estaria im- os físicos pelos “sobe e desce” das ruas da
plantando, na Avenida Maurício Cardoso, um cidade, agora contarão com boas condições
local específico para exercícios físicos. A ave- para essas práticas. A avenida terá boa ilumi-
nida, que cruza por quase toda a cidade, ga- nação, academias ao ar livre e pavimentação
nharia um trecho estruturado para proporcio- estruturada para garantir a boa circulação dos
nar a prática da caminhada e corrida para as pedestres. “Pretende-se um local bonito e
pessoas que buscam uma vida mais saudável agradável para as pessoas transitarem. Não
e um corpo em forma. se tem onde caminhar em Frederico e será um
“Adorei essa idéia!”, diz Cleuza. “É bom por- Carlos e Cleuza Trombeta saem todos os dias ponto de lazer para a população”, acrescenta
que seria menos perigoso, e as calçadas seri- com sua cadelinha Keiti para se exercitarem o Vice-Prefeito.
34 Julho de 2009

A sombra da Hora do Planeta


O movimento que vem tomando força pela terceira vez fez o mundo protestar
durante 60 minutos contra a degradação ambiental.

Duane Löblein
duaneloblein@hotmail.com
Brasil participou do movimento pela

O
primeira vez em 2009 e festejou a es-
curidão à moda brasileira. Em Brasília,
as luzes do Palácio do Planalto e da
Esplanada dos Ministérios foram desligadas ao
som de uma orquestra. Em Manaus, aconteceu
uma apresentação do Boi Bumbá e até o Cris-
to Redentor deixou de iluminar o Rio de Janei-
ro para conscientizar a população dos proble-
mas ambientais. Foi assim, do jeitinho
brasileiro, que 113 cidades, além 1500 orga-
nizações e empresas dos quatro cantos do país
fizeram da escuridão um espetáculo.
O Movimento Hora d o Planeta aconteceu
pela primeira vez em 2007, em Sid ney, por
mei o d e u ma i ni ci ati va d a Worl d Wi l d l i fe
Fou nd (WWF) - Áu strália. No ano segu inte,
371 cid ad es d e 35 países ad eriram ao movi-
mento e apagaram seu s interru ptores por
uma hora, totalizando mais de 50 milhões de
pessoas às escu ras pel a natu reza. A Earth
Hou r su perou as expectativas e, no d ia 28
d e março, cid ad es d e 88 países u niram-se
pel a cau sa e d esl igaram su as l u zes por 60
minutos. Para a organização responsável pe-
la realiazação d o evento, a WWF, apagar as
lu zes é u ma maneira simbólica e emblemáti-
ca d e manifestar a preocupação com o aque- Apagar a luz durante uma hora pode ser insignificante em uma casa, mas não para o mundo
cimento d o planeta.
Desligar as lâmpadas pode parecer simples Castro fez a sua parte e desligou as luzes da perdido como sempre, quando termina a luz.”
demais, mas é o início de uma mobilização pa- sua residência por uma hora. E sentiu a dife- O ato simbólico obteve sucesso e mais uma
ra preservar o que ainda resta da nossa bio- rença de uma vida às escuras: “foi como se vez superou as expectativas - a WWF espera-
diversidade. Segundo a organização do movi- estivesse sem luz na minha casa, fiquei meio va que cerca de 1000 cidades aderissem à Ho-
mento, no Brasil o ato de apagar as luzes não ra do Planeta. Mas o verdadeiro resultado do
tem relação com economia de energia, que tem grito de alerta não são números e sim pensa-
como principal fonte a produção proveniente
de usinas hidrelétricas, diferentemente de ou-
Dicas mentos, reflexões.
A Hora do Planeta se propaga e a popula-
Tome banhos rápidos - um banho
tros países participantes da Hora do Planeta, de ducha de 15 minutos gasta ção começa a repensar suas atitudes. “Me fez
que produzem energia elétrica a partir de com- refletir sobre os problemas que temos supor-
135 litros de água.
bustíveis fósseis como carvão, gás e diesel. tado nestes últimos anos, como o aquecimen-
Ao lavar a louça, primeiro limpe
Aqui, a intenção é demonstrar o quanto a po- to global, seus reflexos na minha região, co-
os restos de comida. Só aí abra
pulação valoriza nossas florestas em pé, a sua mo a seca, ou ainda as enchentes trágicas
a torneira para molhá-los.
preservação e uso sustentável e o combate ao ocorridas em outros lugares, e a responsabi-
Economize, porque, para beber
aquecimento global. lidade do ser humano como um todo,” diz An-
um copo de água, são necessários
Em todo o mundo as manifestações foram dré Damo, morador de Frederico Westphalen
pelo menos outros dois copos
‘visíveis’. Cada país apagou alguns de seus prin- que aderiu ao Movimento. Para ele, A Hora do
de água potável para lavá-lo.
cipais monumentos num apelo a suas lideran- Planeta é importante porque mostra que o de-
Adote a boa e velha vassoura
ças para que proponham ações decisivas de ver de cuidar do nosso planeta é um dever de
para limpar a calçada
enfrentamento às mudanças climáticas no âm- todos, e não apenas de alguns.
e o pátio da sua casa.
bito mundial. E você, já pensou em apagar suas luzes e
Em Tenente Portela, o estudante Mauricio acender velas pelas matas e rios devastados?
Julho de 2009 35

FOTO DE GUSTAVO FARENZIN


Saia do turbilhão do cotidiano através de exercícios meditativos

Deyse Calegari que o que você quer, você consegue”, afirma métodos começa a desligar-se do mundo ex-
deyse.jornalismo@gmail.com Giacomini. terno”. Assim “você centraliza-se, e a energia
as sociedades do mundo globalizado, A yoga é uma filosofia de vida, que busca flui”, conclui Marcon.

N
as rotinas produtivas se desenvolvem equilibrar o corpo e a mente. É através da me- Além dos benefícios de relaxamento e con-
com muita rapidez, exigindo de seus ditação, exercícios respiratórios e movimen- centração, a yoga ajuda a manter o corpo to-
trabalhadores velocidade, qualificação tos corporais que as energias são liberadas. nificado. É um método muito procurado pelas
e visão empreendedora, o que gera uma pres- Segundo Janete Marcon, instrutora de yoga, pessoas que não gostam de passar horas na
são para realizar muitas coisas aos mesmo “a yoga trabalha a consciência, é a busca do academia, de forma leve você pode exercitar
tempo. Ufa! autoconhecimento, e quando você conhece os o corpo e a mente.
O cotidiano das pessoas fica sobrecarrega-
FOTO GUSTAVO FARENZIN

do com muitos afazeres, o que leva muitas


pessoas a sofrerem de estresse e depressão.
Hoje, o caos não é problema só das grandes
cidades. Cidades pequenas também são afeta-
das com o trânsito caótico, barulho excessi-
vo, trabalho exaustivo, pouco tempo para dor-
mir e comer. O caos. Assim, as pessoas perdem
em qualidade de vida e, eventualmente, ficam
doentes com maior frequência.
Para mu itas pessoas q u e não pod em au-
sentar-se d o meio u rbano, a opção para re-
laxar é procurar atividades diferenciadas, co-
mo prati car yoga. Para Cati a Gi acomi ni ,
coordenadora administrativa, a yoga foi a es-
col hid a. “Pratico yoga a u m ano, noto d ife-
rença d e concentração e no meu corpo, sin-
to falta quando não venho as aulas, e percebo
que fico mais estressad a d urante a semana.
Principalmente venci meus limites, e percebi Yoga: uma filosofia de vida para equilibrar corpo e mente
36 Julho de 2009

Proteja seus olhos


Eles são fundamentais para enchergar o seu futuro

Eledinéa Luza e Franciele Vitali UVA e UVB, a proteção não se dá pela cor das
lediluza@hotmail.com lentes e sim pelo tratamento. A tecnologia
francielevitali@hotmail.com está tão avançada que até existem lentes
O tamanho dos óculos
s óculos de sol são acessórios de uso fotocromáticas, que mudam adequadamente influencia

O
contínuo pela maioria das pessoas. quando entram em contato com a luz, usadas
Além de personalizar os looks, ajudam para diminuir a fotofobia. Se você pegar um óculos
na proteção contra os raios O estudante Diego de Oliveira, 24 anos, pequeno demais ele vai deixar
ultravioleta (UVA e UVB) que prejudicam a considera que o uso de óculos de sol é penetrar alguns raios, prejudicando
saúde dos olhos. essencial para o seu dia-dia: “já se tornou um a sua visão. É importante que você
Segundo o oftalmologista Dr. Mauri hábito, não só pela estética, mas tenha boa proteção, com um
Niederauer, “os óculos de sol são essenciais principalmente pela proteção dos olhos contra tamanho que se encaixe no seu
para a proteção dos olhos, mas precisam ser os raios ultravioleta”. rosto .
comprados em lugares adequados para ter a A grande maioria da população compra em
total garantia da qualidade das lente”. Não é lojas não-especializadas devido ao baixo preço, Como identificar lentes
indicado usar óculos que não possuem fator já que, geralmente, óculos de sol com
de proteção ultra violeta, pois acabam qualidade custam caro. de boa qualidade
prejudicando ainda mais a íris do olho, Eliu Pereto, autônomo, 26anos, diz que
Sempre comprar óculos em
completa o médico. costuma usar os óculos o dia todo e compra
óticas de confiança. A marca UVA e
Óculos de sol fazem com que a pupila dilate tanto em camelôs quanto em ópticas, levando
UVB nas lentes, não é confiável,
e entrem mais raios solares na íris. UVA e UVB em conta, além de modelos que o agradem, a
pois qualquer um pode escrever.
são raios nocivos ao cristalino e a própria qualidade que é essencial para ele. “É preciso
Existe um aparelho chamado
córnea do olho. Por esse motivo toda vez que ter o fator de proteção UVB e UVA, pois o que
fotóforo, que faz a medição da
você usar óculos de sol tem que ter proteção é prejudicial dos óculos de camelô é quando a
proteção de raios ultravioletas,
UVA e UVB. Segundo Dr. Mauri, se você usar lente é de plástico. Porém, é possível encontrar
geralmente utilizados em
óculos sem essa proteção é pior do que estar óculos bons que não prejudicam a visão sem
sem. Hoje em dia, quase que 99% das lentes serem em ópticas e com valores mais consultórios oftalmológicos.
de grau, que são transparentes, tem proteção acessíveis.

FOTO ANGELO LORINI

Diego diz que óculos de sol são essenciais ao seu dia-a-dia


Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Cesnors/UFSM. Julho de 2009. Ano 1, N o 1

Ida Pitton

A arte que transforma


lixo em

vem do lixo artesanato

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