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O nosso artigo da semana passada foi “profético”, para não dizer, simplesmente,
desvelador. Enquanto nós afirmávamos nesta coluna que “o Direito nada mais é do que um
conjunto de palavras, de dizeres bonitos e muitas vezes incompreensíveis a olho nu, que são
aplicados e interpretados, para a “resolução” dos litígios, de acordo com a conveniência
individual ou institucional de quem tem o poder de o dizer ou de afirmá-lo, isto é, um
instrumento de legitimação das mazelas do ser humano (e das suas instituições) que tem o
poder de decidir”, o Ministério Público Federal em São Paulo, através da sua Procuradoria
Regional dos Direitos do Cidadão, praticava, exatamente, isso. E a pergunta ressoou, mais uma
vez, em meus ouvidos: “O que é mesmo o Direito?”.
O MPF-SP ajuizou uma Ação Civil Pública para obrigar a retirada de todos os
símbolos religiosos ostentados em locais de ampla visibilidade e de atendimento ao público
em repartições públicas federais no Estado de São Paulo. Em outras palavras, o MPF em São
Paulo, mais uma vez, interpretou a Constituição Federal a seu bel-prazer, ao seu sentir e,
muito mais que isso, desconsiderou que o Sistema Jurídico existe para o Povo e não o Povo
para o Sistema Jurídico. No entender do Procurador Regional da República Jefferson Aparecido
Dias – mentor intelectual da ação – que, segundo ele, é católico praticante, dos que “comunga
e confessa”, é inconstitucional existir afixado, ou em destaque, num prédio oficial, uma Bíblia
ou a imagem de uma cruz ou crucifixo.
Na verdade, o que está por trás de tudo isso é mais um engodo terminológico da
interpretação do direito, contaminada pelos valores da esquerda totalitária. O pano de fundo
desta Ação é o denominado conceito de “Estado Laico”, forjado a partir do final do século XIX,
com a doutrina filosófica do Laicismo. Tal doutrina defende e promove a separação total entre
o Estado e as igrejas e comunidades religiosas, assim como também a neutralidade do Estado
em matéria religiosa.