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Terminal de Alcântara perde 50% de tráfego

Actual, págs.4e 5
Contentores. 0 Terminal de Alcântara está cada vez mais
longe da sua capacidade máxima. Depois de perder as duas
principais linhas, o cais ficará, em 2009, ocupado pela metade

Terminal de
Alcântara fica
a 50% em 2009
Ocupação em 2008
foi inferior à
registada em 2002
MARIA JOÃO ESPADINHA portes e Comunicações (MOPTC) Comparativamente com anos anterio-
O Terminal de Contentores de Alcân- como uma das conquistas consegui- res, o movimento global está em níveis
tara vai perder, neste mês e no próxi- das pela Administração do Porto de registados em 2003-

mo, as duas principais linhas de nave- Lisboa devido ao anunciado alarga-


mento de Alcântara (ver caixa). Já o Crise já chegou aos portos
gação que serviam o porto. Esta saída
"A tendência é que haja uma redução
vai implicar uma queda estimada de 15 segundo serviço fazia parte dos clien-
tes de Alcântara há cerca de cinco no nível de ocupação do porto. Esta-
a 20% do movimento total do terminal,
mos num ano de crise e, além disso, as
explicou fonte do sector ao DN. anos.
Se aos números de 2008 - que in- Ainda sem contar com a saída des- companhias estão a reduzir os seus
dicam uma ocupação inferior à regis- tas duas linhas, o Terminal de Conten- serviços, pois as exportações da Eu-
-
tada em 2002 se subtrair esta per- tores de Alcântara, cuja concessioná- ropa para os Estados Unidos têm vin-
ria é a Liscont, terminou 2008 com
do a cair. E é nos tráfegos de importa-
da, o cais ficará apenas com 50% da
sua capacidade ocupada em 2009, o uma carteira de 12 clientes. Estes nú-
que, segundo a mesma fonte, deita meros contrastam com aqueles que
por terra o projecto de alargamento eram registados pela empresa em
do cais, já que estes números provam -
2002 ano em que tinha 23 navios re-
que o terminal está longe da sua ca- gulares.
pacidade máxima. Como se não bas- Situação semelhante ocorre na ca-
tasse, a crise está provocar uma re- pacidade ocupada do terminal: se-
cessão nos principais mercados e gundo documentos a que o DN teve
uma consequente queda nas expor- acesso, o cais registou, em 2008, uma
tações. movimentação de 235 mil TEU (uni-
As duas linhas oceânicas que ago- dade de medida que equivale a 20
-
ra abandonam o porto a C SAV No- pés), inferior aos valores obtidos em
rasia e a CMA-CMG/Evergreen (esta 2002, quando movimentava 239 mil
será substituída por escalas indirec- TEU. ção/exportação
tas) -justificam a sua saída com a fal- Estes números, que até agora não que o porto de Lis-
ta de carga e o excesso de capacidade foram revelados pelo MOPTC, pro- boa centra a sua
no tráfego. vam ainda que o terminal está longe actividade", expli-
Curiosamente, o primeiro serviço,
de atingir a sua ca- cou ao DN fonte

que escalou o terminal durante ape- pacidade máxima do sector portuá-

nas três meses, foi anunciado pelo Mi- -no ano passado rio.
nistério das Obras Públicas, Trans- ficou nos 67%. Mundialmen-
Aliás, nos últimos te, o impacto da
cinco anos, com crise é ainda mais
excepção de 2007, grave. Há navios
o terminal perdeu ancorados por fal-
tráfego todos os ta de procura -em
anos. Janeiro este nú-
Fazendo as con- mero ascendia a
tas aos três termi- 255 barcos, que
nais para a mo- representam 5,5%
vimentação de da frota mundial. Há ainda uma so-
contentores que brecapacidade da oferta, devido à
pertencem ao Por- queda da procura prevista para este
to de Lisboa -
Al- ano, que é de 1,6 milhões de TEU.
cântara, Santa Apolónia e Terminal E quanto às
principais empresas
EsdflfVCllTMfitOa Em Outubro Multiusos, este está ainda longe de es- do sector, anteriormente ferozes con-
de 2008, o Ministério das Obras
gotar a sua capacidade: em 2008 regis- correntes, vêem-se agora obrigadas
Publicas emitiu um comunicado tou 555 mil TEU, quando o seu limite a formar alianças inesperadas em al-
sobre o cais, em que garantia a máximo se encontranos 900 mil TEU. gumas linhas para garantir a sobrevi-
vinda da CSAVNorasia vência.
Tudo isto faz com que os analistas
do sector não tenham dúvidas de que
a crise vai fazer vítimas: estima-se que
nos próximos cinco anos se assista a
mais movimentos de fusão e aquisição
e que o número de linhas de navega-
ção se reduza em um terço, i
Maioria dos navios pode ir para Sta. Apolónia
Portos. Só há um barco que
escala Alcântara e não pode ser
operado em Santa Apolónia

A maioria dos navios que fazem escala no


Terminal de Contentores de Alcântara po-
dem ser operados no cais de Santa Apoló-
nia. Isto porque, com a saída das duas prin-
cipais linhas do terminal, só resta um ser-
viço que não pode entrar em Santa
Apolónia -
a linha MACS, que faz 26 esca-
las por ano em Lisboa e que movimenta
cinco mil TEU. Todos os restantes navios
têm um calado (profundidade do barco)
igual ou inferior a 10 metros, podendo en-
trar em ambos os terminais, sem qualquer
problema.
Quanto aos serviços que agora deixam
Lisboa, o da CSVANorasia apenas fez es-
cala durante três meses. Com um calado
deUmetros, esta linha semanal tinhauma dois navios mais pequenos, um para cada
capacidade média de seis mil TEU. Já o da empresa, já que a CMA-CMG e a O que é um TEU?
CMA-CGM/Evergreen, que escala o por- Evergreen partilham esta rota. Assim sen-
to há cerca de cinco anos, tinha um calado do, passará a haver no cais um barco de Um TEU (twenty-foot equivalent unit, em
de 12 metros e uma capacidade média de transbordo de contentores da primeira inglês) é uma unidade equivalente a 20 pés
2800 TEU. companhia com destino a Algeciras, em e serve para medir o espaço ocupado por
Este serviço, única ligação do terminal Espanha. Já o navio da Evergreen terá co- contentores. Um contentor tem 20 pés ou
de Alcântara aos Estados Unidos e consi- mo destino Roterdão, na Holanda, onde a 40 pés, pelo que equivale a um TEU ou dois
derado vital para as exportações de empre- companhia tem o seu terminal próprio ins- TEU, respectivamente.
sas nacionais, passará a ser assegurado por talado. 1

PRINCIPAIS OPERADORES DE TRANSPORTES MARÍTIMOS


Avaliação ambiental
determinará futuro
do polémico projecto
A polémica estalou com força a partir da publicação de um artigo O executivo municipal de
dejornal. Miguel Sousa Tavares, que há anos encabeçara um mo- Lisboa, que faz depender a sua
vimento de cidadãos contra o Plano de Ordenamento da Zona Ri- posição da Declaração de Im-
beirinha de Lisboa, o célebre POZOR, de iniciativa da Adminis- pacto Ambiental relativa ao
tração do Porto de Lisboa, voltou à carga. Desta vez, o jornalista e desnivelamento e ligação da Li-
comentador insurgiu-se contra a expansão do terminal de conten- nha de Cascais à Linha de Cin-
tores de Alcântara. tura, impôs condições para dar
Nos últimos três meses do ano passado, a discussão centrou-se parecer favorável. Assegurar
à volta de uma "muralha de aço de contentores" e de um "contrato que o escoamento dos conten-
de concessão sem concurso adjudicado a uma empresa por 40 tores não se faça por via rodo-
anos". Pelo meio, lançaram-se viária e que o desenho da solu-
petições contra e a favor, organi- ção do terminal (edificado e es-
zaram-se manifestações aporta tacionamento de contentores)
da Câmara de Lisboa e até Mi- salvaguarde o sistema de vistas
guel Sousa Tavares foi alvo de É altura de sobre o rio Tejo são as princi-
ameaças. Foi também criado dizermos basta! O pais exigências.
um movimento de cidadãos, O futuro do projecto está
Tejo tem um dono
"Lisboa e Tejo e Tudo" que re- agora dependente dos estudos
que é Lisboa e a de impacte ambiental, a ser
quer eu a suspensão da conces-
são do terminal. Mas tal preten- frente do rio não é desenvolvidos pela REFER e
são, materializadaem projectos terra de ninguém pela APL e vão ser acompanha-
de resolução de vários partidos dos pelo Laboratório Nacional
da oposição, acabou rejeitada de Engenharia Civil (LNEC) para haver um acréscimo de "isen-
Os trabalhadores
no Parlamento, chumbada pelo ção", conformesublinhou o vereador José Sá Fernandes.
do porto foram
PS. Na votação, o deputado Ma- Aquele responsável anunciou, entretanto, que a área dos es-
nuel Alegre votou contra. Mi- manipulados. Os tudos de impacte ambiental da ligação da Linha de Cascais à de
guel Sousa Tavares, uma vez postos de trabalhe Cintura e das obras no Porto de Lisboa foi alargada para abran-
mais, garantiu que o movimen- deles não estão ger todo o sistema ecológico do Vale de Alcântara. Resta agora es-
to de cidadãos contra a amplia- ameaçados perar para ver. i
LUÍSA BOTINAS
ção do terminal de contentores
de Alcântara avançaria com um
acção popular se o decreto-lei A triplicação
que permite a obra não fosse re- da capacidade
vogado pelo Parlamento. do terminal é
incompreensível,
desnecessária
e inaceitável
Miguel Sousa Tavares
Jornalista e escritor
Continuaremos
até às 40 mil
assinaturas para
pôr uma acção
popular contra o
Governo

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