Professional Documents
Culture Documents
RESUMO:
O presente trabalho objetiva identificar e verificar a ocorrência do fenômeno de imediata produção
de sentido a partir da significação de símbolos visuais em interfaces interativas percebendo-se as
influências das relações semióticas dentro do contexto das experiências de uso. Levar-se-á em conta a
criação de hábitos de uso a partir de experiências no novo meio, com a ressignificação intencional de
elementos visuais. Foi escolhido como objeto de estudo o Flickr, site de compartilhamento de arquivos
gráficos (imagens) na Internet, uma vez que representa virtualmente documentos que, por si, são recortes
da realidade, e trabalha com conceitos de organização e categorização com base na associação de termos
aos objetos. A estrutura de navegação da sua interface será abordada, tendo como referenciais as discussões
da decodificação das imagens em Flusser, da convergência da semiótica e da comunicação na interação em
Johnson e Santaella e dos princípios de usabilidade por base na intuição das simples experiências em
Maeda, permeando a Teoria Peirceana, sobretudo quanto ao estudo dos signos e seu caráter como
elementos representativos de objetos, ações, leis e sensações reais.
1. INTRODUÇÃO
Dentro deste novo ambiente, a interface assume papel importante por ser, numa
definição simples, uma forma de representação de uma experiência real em um meio
virtual, de forma amigável, estimulando a participação do usuário. Para Lemos (1997, p
111), a interface gráfica é o terreno comum ou o espaço onde se dá a interatividade, a
arena onde sujeitos e objetos desenvolvem tarefas. Conforme o autor, “a ação se dá na
representação, quer dizer, na possibilidade de participação dos agentes”. Para Santaella
(2004), a interface é um meio de diálogo, na qual se processam as interações, e é regida
por processos que demandam reciprocidade, colaboração e partilha, sendo o processo de
interatividade impossível sem a competência semiótica do usuário para interagir com a
interface virtual.
Deste modo, em vez de tentar localizar em álbuns espalhados todas as fotos onde
aparece uma determinada pessoa, podemos, em uma busca taxonômica, buscar-lhe o
nome, se o mesmo tiver sido cadastrado como etiqueta e associado aos conteúdos
informativos onde há a ocorrência do mesmo e ter acesso imediato a todas as fotos às
quais foram atribuídas este mesmo termo identificador e classificador. Não mais importa
a localização lógica do conteúdo, mas, sim, o que nos faz, em lembrança, remeter àquela
informação. Se a foto de um pôr do Sol em uma viagem de férias me remete à sensação
de felicidade e recebe tal etiqueta em um álbum virtual, será uma das fotos as quais terei
acesso ao buscar por este termo, junto à todas as fotos que a mim transmitiram o mesmo
sentimento no momento de etiquetamento.
Muito embora Ícone seja um termo associado, no estudo das relações entre os
signos, à primeiridade na teoria perciana, à natureza de algo tal como o é, a partir de suas
qualidades inerentes na representação, este também é o nome dado aos elementos
gráficos presentes nas interfaces, que podem sofrer interação dos usuários. Não se faça aí
uma confusão entre os termos. Enquanto a primeira relação de significado se dê no
campo da explanação e contexto da teoria semiótica, o segundo é tão somente uma forma
usual, vernacular, de denominação destes signos visuais, que intencionam a interação
com o propósito de retornar ao usuário algum resultado à ação de clique sobre os
mesmos. Para melhor diferenciação, utilizarei a partir de agora o termo Ícone, quando sob
a terminologia peirciana e ícone quando dos símbolos visuais com vias de interação com
o usuário.
1
“Os consumidores agora estão participando do processo de produção. De uma forma ou outra, nós
recrutamos os consumidores para tornarem-se nossos aliados e, na verdade, co-produtores. Agora os
consumidores são o que nós chamamos de prosumer” (Alvin Toffler in A Terceira Onda)
criam relações de significação em diversos níveis em seus receptores. Tais imagens são
exibidas em estrutura de navegação simples que permite a ressignificação de elementos
como indícios de ações na interface e com possibilidade de organização e categorização
através de termos vernaculares ou sensações pessoais.
2. CENÁRIO
2.1. O FLICKR
O Flickr é uma rede social que permite a seus usuários armazenar e compartilhar
arquivos visuais, tais como fotografias, desenhos e ilustrações. Foi lançado em fevereiro
de 2004, pela canadense Ludicorp, e adquirido um ano depois, em março de 2005, pelo
Yahoo! Inc. O serviço é atualmente o 33º site no ranking mundial de acessos na Internet,
e veículo por onde passam, diariamente, pelo menos 2% dos usuários globais.
2
"Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter
Além de permitir organizar as fotos por critérios semânticos, facilitando as buscas
de imagens no sistema por palavras-chave, a própria estrutura atua como ferramenta de
sociabilização ao divulgar as etiquetas mais populares, permitindo a organização das
imagens em álbuns, o seu agrupamento em coleções e a interação com outros usuários
através de comentários nas fotos e participação em grupos e fóruns de discussão. Tais
ferramentas de sociabilização, apesar de fascinantes, serão desconsideradas na análise
deste trabalho, por se encontrarem fora do escopo do estudo das relações de
ressignificação dos signos visuais presentes na interface do serviço.
sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que
aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas,
3. DISCUSSÃO
Pode-se afirmar, hoje, que, enquanto duas disciplinas particulares, ainda que
debruçadas sobre temas afins, tanto a Semiótica quanto a Comunicação permitem-se
permear e encontrar em muitos pontos, tais como a mídia e os processos
comunicacionais.
Não iremos adentrar muito neste conceito, uma vez que este trabalho pretende ter
seu foco nas relações de significação ocorridas nas interfaces virtuais sob uma ótica ao
mesmo tempo semiótica e comunicacional. A citação foi pelo motivo de não se poder
ignorar que, para que tais relações ocorram, deve haver uma congruência de inúmeras
outras áreas de conhecimento, que ultrapassam a simples fronteira delimitada pelas duas
disciplinas previamente citadas, como o Behaviorismo, a Gestalt, as teorias de uso das
cores, a cognição, entre outras.
Comunicação e Interações. Livro da COMPÓS 2008 / orgs. Alex Primo et al. Porto
Alegre: Sulina, 2008.
FLUSSER, Vílem. A Filosofia da Caixa Preta - Ensaios para uma futura filosofia da
fotografia. São Paulo: Editora Hicitec, 1985.
MAEDA, John. As Leis da Simplicidade: design, tecnologia, negócios, vida. São Paulo:
Novo Conceito Editora, 2007.