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Isenção de IMI no Centro Histórico

Dr. Vitor Tomás, advogado

Isenção de IMI no Centro Histórico

I – Benefícios Fiscais e Direito Processual

Na análise desta questão há que ter em primeiro lugar, em atenção o disposto


no Decreto Lei 215/89, de 1 de Julho, que aprovou o Estatuto dos Benefícios Fiscais,
com as alterações introduzidas por posterior Lei do Orçamento de Estado, já que está
em causa um benefício fiscal.

Por isso há de ter em conta que, de acordo com o Artº 2º, os benefícios são
medidas de carácter excepcional.

Em segundo lugar, há a considerar que nos termos do Artº 5º nº 1 os benefícios


fiscais são automáticos ou dependentes e reconhecimento.

Em terceiro lugar, há que ter em conta que o procedimento de reconhecimento


dos benefícios fiscais regula-se pelo disposto na Lei Geral Tributária e no Código de
Procedimento Tributário.

Atento o disposto no Artº 101º alínea j) da Lei Geral Tributária constitui meio
processual tributário o recurso contencioso de actos denegadores de isenções
tributárias.

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Nos termos do Artº 97º nº 1 alínea p) e nº 2 do Código de Procedimento e
Processo Tributário, cabe recurso contencioso de indeferimento total ou parcial ou de
revogação de isenções ou outros benefícios fiscais, quando dependentes de
reconhecimento da administração tributária, que é regulada pelas normas sobre o
processo nos Tribunais Administrativos.

Este pois o quadro em matéria de Direito Processual Tributário que regula a


matéria relativa à isenção do IMI no Centro Histórico.

II – Declaração de Património Mundial – Consequências Ilegais

Resulta desta declaração que o conjunto de imóveis que constitui o Centro


Histórico foi classificado como de interesse nacional.

Deste reconhecimento, resulta que nos termos da alínea g) do Artº 6º do


respectivo Código – aprovado pelo DL 287/2003, de 12 de Novembro – as transmissões
onerosas de prédios situados dentro do Centro Histórico se encontram isentos de
Imposto Municipal sobre as transacções onerosas de Imóveis, vulgo IMT.

Na verdade, dispõe esta norma que ficam isentos de IMT «as aquisições de
prédios classificados como de interesse nacional, de interesse público ou de interesse
municipal, ao abrigo da Lei 107/2001, de 8 de Setembro».

Ora o Artº 15º da Lei 107/2001, veio definir no seu nº 1 que os bens imóveis
podem pertencer às categorias de monumento, conjunto ou sítio, nos termos em que
se encontram definidos no direito internacional.

Por seu lado, o nº 2 estabelece que os bens …. Imóveis podem ser classificados
de interesse nacional, de interesse público ou de interesse municipal.

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No nº 3 estabelece-se que: «Para os bens imóveis classificados de interesse
nacional, sejam eles monumentos, conjuntos ou sítios, adoptar-se-á a designação de
«monumento nacional» …

No nº 4 estabelece-se que «um bem se considera de interesse nacional quando


a respectiva protecção e valorização, no todo ou em parte, represente um valor
cultural de significado para a Nação»

Finalmente o nº 7 dispõe que: «os bens culturais imóveis incluídos na lista de


património mundial integram, para todos os efeitos e na respectiva categoria, a lista
de bens classificados como de interesse nacional».

Daqui resulta, salvo melhor opinião, que o conjunto de imóveis que compõem o
Centro Histórico de Évora integram a lista de bens classificados como de interesse
nacional.

O que resulta ainda, da recomendação respeitante à protecção, no plano


nacional do património cultural e natural, adoptado pela Conferência Geral da
UNESCO, na sua décima sétima sessão (Paris, 16 de Novembro de 1972) em que se
definiram os conjuntos: «grupos de construções, isoladas ou reunidas que pela sua
arquitectura, unidade ou integração na paisagem, têm um valor especial do ponto de
vista da história da arte ou ciência».

Aliás, «a declaração de Valor» apresentada pelo Governo Português em 1986 à


UNESCO, valorizava e realçava o conjunto do Centro Histórico para preenchimento do
critério IV . «Évora é o melhor exemplo da cidade de ouro portuguesa, após a
destruição de Lisboa pelo Terramoto de 1755» e, acessoriamente, pelo critério II, «só a
paisagem urbana de Évora permite actualmente compreender a influência exercida
pela arquitectura portuguesa no Brasil, em sítios como Salvador da Baía».

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III – A Isenção do IMT à luz da Alteração à Alínea n) do Artº 44º d o Estatuto dos
Benefícios Fiscais, na redacção que lhe foi dada pela Lei do Orçamento de Estado
para 2007, Lei 53-A/2006, de 29 de Dezembro

Esta isenção não é nova.

Na verdade já no âmbito da Contribuição Autárquica – ou seja, anteriormente a


2003, - estavam isentos «os prédios classificados como monumentos nacionais ou
imóveis de interesse público e bem assim os classificados de imóveis de valor
municipal ou como património cultural, nos termos da legislação aplicável».

Com a alteração da Lei do Orçamento de 2007, esta alínea passou a isentar de


IMI «os prédios classificados como monumentos nacionais e os prédios
individualmente classificados como de interesse público, de valor municipal ou
património cultural, nos termos da legislação aplicável.

É com base nesta alteração que a Direcção Geral de Imposto entende que os
prédios integrados no Centro Histórico de Évora, deixaram de beneficiar da isenção do
IMI, porquanto não estão individualmente classificados como de interesse público.

Não discordamos desta interpretação da Lei, no que respeita aos prédios de


interesse púbico, valor municipal ou património cultural.

Mas, a nosso ver, a Direcção Geral de Contribuições e Impostos, incorre num


lamentável equívoco, no que respeita aos prédios que integram o Centro Histórico.

É que, como acima se referiu, resulta do citado nº 7 do Artº 15º da Lei


107/2001, que o conjunto do Centro Histórico de Évora, i.e., os bens imóveis que o
integram, por estar incluído na lista de património mundial, «integram, para todos os
efeitos, (sublinhado nosso) a lista dos bens classificados como de interesse nacional».

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Ora, um bem imóvel classificado como de interesse público, não é o mesmo
que um bem de interesse nacional, conforme resulta do disposto nos nºs. 4 e 5 do Artº
15º da citada Lei 107/2001.

Acresce que, também acima se referiu, o nº 3 do citado Artº 15º, a designação


para os bens imóveis classificados como de interesse nacional, é a de «monumento
nacional».

Sendo que essa designação/classificação é aplicável, «sejam eles monumentos,


conjuntos ou sítios».

Nesta conformidade, a nosso ver e sempre salvo melhor opinião, os prédios


que integram o Centro Histórico, são, classificados, para todos os efeitos como
monumentos nacionais, com as consequências legais daí decorrentes.

E, assim sendo, não cabem na previsão da parte referida na alínea n) que se


refere aos prédios classificados como de interesse público ou municipal.

Ou seja: na nossa opinião não existe aqui qualquer lacuna na lei, na medida em
que vêm expressamente previstos os «monumentos nacionais».

Mas mesmo que entenda estar-se perante uma lacuna da lei, a interpretação
extensiva prevista no Artº 9º do Estatuto de Benefícios conduzir-nos-ia ao mesmo
resultado, já que, como se viu, os prédios localizados no Centro Histórico, são de
interesse nacional, pelas razões acima expressas, aplicando-se aqui as regras da boa
Hermenêutica Jurídica que impõe o Artº 9º do Código Civil.

Em Conclusão: O equívoco da Direcção Geral dos Impostos – direcção Distrital


de Finanças de Évora resulta da «confusão» entre bem imóvel de interesse público e

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bem imóvel de interesse nacional, pelo que os imóveis situados no Centro Histórico de
Évora beneficiam de isenção de IMI e de IMT.

Este é, salvo melhor opinião, o meu parecer.

O ADVOGADO

(via email)

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