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Fernando Pessoa
1. Vida e obra
Fernando Pessoa (1888 – 1935) fica órfão de pai aos cinco anos e a sua
mãe casa com o cônsul de Portugal em Durban, razão pela que viajam a África do Sul,
onde recebe uma educação britânica. Posteriormente voltará a Lisboa, onde exerce
como tradutor.
Ideologicamente temos de dizer que foi liberal dentro do
conservadorismo, um cristão gnóstico oposto à Igreja de Roma e partidário dum
nacionalismo mítico, de criar um sebastianismo novo (“Tudo pela Humanidade; nada
contra a nação”).
2. Os ismos de vanguarda
2.1. Paulismo
É uma invenção de Pessoa cujo nome deriva do poema “Impressões do
crepúsculo”. O Paulismo é um refinamento dos processos simbolistas, um estilo que
se define pela voluntária confusão do subjectivo e o objectivo por:
a) A associação de ideias desconexas.
b) Frases nominais e exclamativas.
c) Aberração da sintaxe.
d) Vocabulário que expressa aborrecimento de viver (“Tão sempre a mesma, a
Hora!”), o vazio da alma, um vago além (uso de maiúsculas nas palavras de
mais importância).
e) Perante o tédio de viver há uma ânsia de ideal e de alienação de si mesmo nos
limites (“horizonte”, “portões”) do mundo de sonho criado por ele próprio.
O poema que inicia o Paulismo, “Impressões do crepúsculo”, é o
precedente da poesia modernista em Portugal. O Paulismo conjuga duas tendências
opostas:
1) Saudosismo (Teixeira de Pascoaes).
2) Simbolismo – decadentista, que segue as tendências estéticas europeias.
2.2. Interseccionismo
O Interseccionismo deriva do Paulismo, supõe a adaptação deste às novas
correntes estéticas:
a) Futurismo: sobreposições dinâmicas, técnica procedente da pintura que se
aplica à poesia modernista.
b) Cubismo: sobreposição dos planos dos objectos (presente e passado, real e
onírico), que reflecte a superposição das sensações.
O poema “Chuva oblíqua” (publicado na revista Orpheu) é considerado o
exemplo mais significativo do Interseccionismo.
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2.3. Sensacionismo
O Sensacionismo (Walt Whitman) é criado por Pessoa e Mário de Sá-
Carneiro e supõe uma arte sem regras que tenha como base a sensação. O mesmo
Pessoa explica em diversos textos em que consiste, assim diz-nos que os três
princípios da arte são:
1) O da sensação: as sensações devem ser plenamente expressas.
2) O da sugestão: a expressão das sensações deve evocar o maior número
possível de outras sensações.
3) O da construção: o assim produzido deve parecer-se a um ser organizado.
2.4. Simultaneismo
O termo Simultaneismo foi cunhado por Robert Delaunay, embora tome
o nome de Michel-Eugène Chevreul.
a) Em 1913 os futuristas dizem ser os primeiros em introduzir nas suas obras a
ideia de simultaneidade. Deste jeito, a sua pintura quer expressar uma
sensação dinâmica com a decomposição do movimento.
b) É Apollinaire quem adapta e generaliza o termo, já que o usa para designar
um princípio artístico que consiste em que os elementos sem relação se
justapõem de jeito arbitrário, dando lugar ao contraste entre eles.
A simultaneidade foi um dos conceitos mais discutidos nos anos anteriores
à I Guerra Mundial.
2.5. Futurismo
O Futurismo aparece de forma oficial em 1909 com o Manifesto
Futurista de Marinetti e as suas principais características são:
1) Rejeitamento do passado e do moralismo.
2) Evocação dos avances tecnológicos.
3) Os primeiros futuristas também exaltavam a guerra e a violência.
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3. Os heterónimos
3.1. Origem
Os heterónimos, a diferença dos pseudónimos, são personalidades
poéticas completas (mesmo têm data de nascimento e de morte). Pessoa dá duas
explicações para a origem dos heterónimos:
1) Num primeiro momento diz que são consequência da anormalidade
histérico-neurasténica do seu psiquismo, que facilita despersonalização e a
simulação.
2) Numa carta a Adolfo Casais Monteiro explica que surgem com os poemas de
que são autores, não são ideados previamente à escrita dos poemas.
3.2. Significação
Os heterónimos são considerados a grande criação estética de Pessoa e,
ademais, conduzem a Pessoa a uma profunda reflexão sobre a relação entre verdade
e realidade e entre existência e identidade.
Os heterónimos mais importantes são Alberto Caeiro, Ricardo Reis e
Álvaro de Campos, embora também podemos citar o semi-heterónimo Bernaldo
Soares, autor do Livro do Desassossego. Entre pseudónimos, heterónimos e semi-
heterónimos contam-se 72 nomes.