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1

Bioquímica

TRADUÇÃO DE
PROTEÍNAS
PROCESSAMENT
O PÓS-
TRADUCIONAL
CÓDIGO
GENÉTICO
2

Maria Carolina F. da S. Sousa

Universidade Federal do Maranhão


Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Departamento de Ciências Fisiológicas
Disciplina de Bioquímica
Curso de Medicina, primeiro período
Aluna: Maria Carolina Ferreira da Silva Sousa
Código: ME02127-03
Professor José Raimundo Lindoso

Tradução de
Proteínas,
Processamento Pós –
Traducional e
Código Genético
3

Maria Carolina Ferreira da Silva Sousa


ME02127-03

São Luís
2002
4
Universidade Federal do Maranhão
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Departamento de Ciências Fisiológicas
Disciplina de Bioquímica
Curso de Medicina, primeiro período
Aluna: Maria Carolina Ferreira da Silva Sousa
Código: ME02127-03
Professor José Raimundo Lindoso

Tradução de
Proteínas,
Processamento Pós –
Traducional e
Código Genético

Maria Carolina Ferreira da Silva Sousa


ME02127-03

Trabalho apresentado junto à


disciplina de Bioquímica, ministrada
pelo professor Raimundo Lindoso
5
como pré-requisito para obtenção
da terceira nota.

São Luís
2002
6

Aos meus pais, cujo contínuo


encorajamento tornou possível a
conclusão deste trabalho.

“Não há emoção no fácil velejar


quando os céus estão claros e azuis.
Não há alegria em, meramente,
fazer coisas que qualquer um pode
fazer.
7
Mas existe satisfação, que é muito
doce, quando você aporta num
destino onde você pensou que não
chegaria”

Spirella

Agradecimentos

Se este texto tiver algum sucesso, muitas pessoas o tornaram


possível.
Gostaria de expressar meu reconhecimento ao professor
Raimundo Lindoso por todo conteúdo de informações transmitido
durante o período.
Agradeço aos meus colegas cujo aconselhamento contribuiu de
forma significativa para a elaboração desta obra.
E aos meus pais que, como sempre fazem, me apoiaram e
incentivaram de forma a proporcionar condições ótimas durante a
conclusão desse belíssimo trabalho.
8

Apresentação

Este trabalho trata dos processos envolvidos na tradução


protéica tanto procarionte como eucarionte. Esclarece de forma
objetiva todas as etapas compreendidas no processo e fornece
informações sofre como se chegou a tais conclusões, descreve
experiências e trabalhos científicos que possam trazer alguma
contribuição para o entendimento.
Foi acrescentado ao trabalho o destino das proteínas, seu
endereçamento, processamento pós-tradução, etapas envolvidas e
agentes inibidores da síntese.
Cada passo descrito foi detalhado de forma a proporcionar alto
nível de entendimento, todos os processos aqui tratados apresentam
figuras ilustrativas para atingir esse mesmo objetivo.
9

Sumário

BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS 9

CÓDIGO GENÉTICO 12
Porque uma trinca de nucleotídeos? 13
O significado dos códons 14
Seqüência de nucleotídeos 14
Códon de início 16
Códons de Término 16
Características do Código Genético 16
Mutações 18
Universalidade do Código 20
Evolução do Código de Aminoácidos 20
Pareamento Códon-Anticódon 21

COMPONENTES DA SÍNTESE PROTÉICA 22


tRNA 22
Aminoacil-tRNA-Sintetase 25
rRNA 26
Polissomo 27
mRNA 27
Aminoácido 28
Fatores Protéicos 29
Energia 29

MECANISMO DE TRADUÇÃO 30
10
Direção da síntese protéica 30
Etapas Sucessivas da Síntese Protéica 30
Ativação 32
Iniciação 34
Elongação 37
Término 40
Inibidores 41

PROCESSAMENTO PÓS-TRADUCIONAL 42
Endereçamento 42
Translocação 43
Enovelamento 43
Glicosilação do Cerne 44
Glicosilação Terminal 45
Degradação 45

BIBLIOGRAFIA 46
11

Biossíntese de Proteínas

As proteínas são codificadas pela seqüência de aminoácidos do


RNA mensageiro, que carrega a informação contida nas bases do DNA,
em outras palavras, a seqüência de desoxirribonucleotídeos do DNA é
transcrita para uma seqüência análoga de nucleotídeos no RNA
mensageiro que vai trazer essa informação de dentro do núcleo para o
citoplasma celular onde vai se dar a tradução em proteínas.
É bem fácil entender porque esse processo é chamado tradução,
a informação
genética é expressa
predominantemente
na forma de
proteínas, a
informação que indica
toda a composição
das proteínas está
guardada nos ácidos
nucléicos numa
seqüência linear
formada por um
alfabeto de quatro caracteres: os quatro tipos de nucleotídeos. Os
aminoácidos, constituintes das proteínas, representam um outro
alfabeto constituído de vinte caracteres e a informação genética deve
fluir do primeiro para o segundo, esse processo também é chamado
biossíntese de proteínas.
12
Agora surge uma importante questão: como a informação
genética contida na seqüência de nucleotídeos do RNA mensageiro é
traduzida para a estrutura protéica? Trataremos dos mecanismos
pelos quais a cadeia polipeptídica é construída e através dos quais os
ribossomos tornam possível a transferência da informação genética
para a seqüência apropriada dos aminoácidos na cadeia polipeptídica.
O estudo do mecanismo da biossíntese de proteínas já elucidou
muitas dúvidas a respeito de doenças genéticas, aumentando a
qualidade de vida de portadores e abrindo possibilidades para a
prevenção. Além dessas doenças, está se tornando possível o combate
a alguns vírus e bactérias.
Este sempre foi um campo que atraiu a curiosidade de muitos
pesquisadores. Um ponto de vista inicial foi de que as peptidases e as
enzimas proteolíticas funcionam não somente na degradação, mas
também na síntese de proteínas. Contudo, com a descoberta do papel
fundamental do ATP nas reações biossintéticas, assim como o
estabelecimento do conceito de que reações biossintéticas e
catabólicas possuem vias diferentes, a reversão da atividade
hidrolítica pareceu um mecanismo improvável para a biossíntese
protéica.
Os avanços nessa área foram significativos quando surgiram
experimentos que aplicavam a técnica de isótopos marcados.
Aminoácidos radioativos eram incorporados a células de animais
intactas e assim era possível acompanhar a biossíntese das proteínas.
A partir dessas experiências surgiu uma noção primária da
síntese protéica, foi comprovado que as proteínas dos tecidos animais
sofrem alteração metabólica, que a síntese de proteína necessita uma
fonte de energia metabólica e que os aminoácidos e não os peptídeos
simples são os precursores imediatos da proteína.
A era moderna de pesquisa sobre o mecanismo da biossíntese de
proteínas começou na década de 50, com as investigacões de P. C.
Zamecnik e seus colegas, em Boston, que através da pesquisa em
sistemas livres de células, foram os primeiros a identificar partículas
ribonucleoproteicas, os ribossomos, como o sítio da biossíntese de
proteína e o RNA transportador.
Este complexo mecanismo exige um número muito grande de
macromoléculas e enzimas. Sendo que cada componente vai realizar
13
uma função específica. Todos os aminoácidos devem estar presentes
para ocorrer a síntese, se houver carência de um aminoácido, a
tradução será interrompida num códon que o codifique. A fita de RNA
mensageiro a ser traduzida, os RNAs transportadores, os ribossomos
funcionais, as fontes de energia, as enzimas e os fatores protéicos
necessários à iniciação, ao alongamento e à terminação da cadeia
polipeptídica.

Esquema geral da síntese protéica

Todos esses componentes vão se reunir, vão apresentar


afinidades uns pelos outros e vão reagir de maneira específica, com
gasto energético, para formar as proteínas.
A tradução acontece em células eucariontes tanto no citosol
como nas mitocôndrias, sendo que o mecanismo nas mitocôndrias está
mais parecido com o que ocorre nos procariontes. Na verdade, o
processo nos eucariontes se apresenta mais complexo e contém maior
número de enzimas e fatores protéicos, mas tem uma base em comum
com o processo procarionte.
14

Código Genético

Antes de entender a tradução de proteínas, se faz necessário o


conhecimento do código genético que consiste na relação existente
entre a seqüência de bases do RNA mensageiro e a seqüência de
nucleotídeos da proteína por ele formada.
Consideraremos agora como a linguagem de quatro letras dos
ácidos nucléicos é traduzida na linguagem de vinte letras das proteínas.
Por convenção, seqüências de ácidos nucléicos são escritas na direção
5’  3’ e a seqüência de proteínas, amino – terminal  carboxi –
terminal. Essas direções no RNA mensageiro e na proteína
correspondem a seus sentidos de leitura e biossíntese.
Tabela do Código Genético
1a 3a
2a posição
posição posição
U C A G
UUU UCU UAU UGU U
Phe(F) Tyr(Y) Cys(C)
UUC UCC UAC UGC C
U Ser(S)
UUA UCA UAA UGA TERM A
Leu(L) TERM
UUG UCG UAG UGG Trp(W) G
CUU CCU CAU CGU U
His(H)
CUC CCC CAC CGC C
C Leu(L) Pro(P) Arg(R)
CUA CCA CAA CGA A
Gln(Q)
CUG CCG CAG CGG G
15

AUU ACU AAU AGU U


Asn(N) Ser(S)
AUC Ile(I) ACC AAC AGC C
A Thr(T)
AUA ACA AAA AGA A
Lys(K) Arg(R)
AUG Met(M) ACG AAG AGG G
GUU GCU GAU GGU U
Asp(D)
GUC GCC GAC GGC C
G Val(V) Ala(A) Gly(G)
GUA GCA GAA GGA A
Glu(E)
GUG GCG GAG GGG G

PORQUE UMA TRINCA DE NUCLEOTÍDEOS?

A partir de considerações puramente matemáticas é razoável


afirmar que mais de um nucleotídeo é necessário para codificar cada
aminoácido, uma vez que há apenas quatro bases diferentes no DNA e
vinte aminoácidos nas proteínas. Outrossim, uma vez que as quatro
letras do código do DNA (A, G, C e T), arranjadas em grupos de duas,
podem originar somente 42 = 16 pares diferentes, as palavras do código
para os aminoácidos devem conter mais de duas letras. As quatro
bases, tomadas três de cada vez, teoricamente especificam 43 = 64
aminoácidos. Um código tríplice é portanto, o menor necessário para a
codificação de aminoácidos.
Estudos gênicos em mutantes com mudança de estrutura de
bacteriófagos T4, dos quais um, dois ou três resíduos de nucleotídeos
são retirados (ou inseridos) comprovaram essa idéia inicial de trinca.
Deleções unitárias ou duplas resultam na síntese de proteínas de
envoltório defeituosas, com muitos aminoácidos errados, mas deleções
triplas (ou inserções triplas) originam proteína de envoltório, nas quais
somente um resíduo de aminoácido era perdido ou ganho, sendo todos
os outros normais. Além desses, outros tipos de experimentos gênicos
também apoiaram um código triplo sem vírgulas.
16

Essa ilustração mostra que dependendo do ponto escolhido para


começar a leitura do RNAm, podem existir 3 quadros de leitura.
Por isso que é importante um sinal de início que vai direcionar a
leitura correta.

O SIGNIFICADO DOS CÓDONS

Importantes experimentos foram realizados para desvendar o


código genético. M. Nirenberg e H. Matthaei incubaram polímeros de
RNA com composição de bases conhecidas, preparados sinteticamente
pela ação da polinucleotídeo – fosforilase em misturas apropriadas de
substratos de nucleotídeos – 5’ - difosfatos, numa série de tubos
contendo ribossomos de E. coli sem mensageiro, suplementados com os
ingredientes usuais necessários para realizar síntese de polipeptídeo,
incluindo todos os aminoácidos. Em cada tubo, era marcado um
aminoácido (radioativo) diferente. A análise da fração polipeptídica
insolúvel em ácido, recuperada dos tubos no final da incubação,
mostrou que esses polímeros serviriam como RNA mensageiro, sua
proporção de bases era conhecida, mas não a seqüência de
nucleotídeos, sendo assim, através de cálculos de probabilidade era
possível delinear a provável composição em bases de alguns
aminoácidos. Através de tais experiências, os laboratórios de
Nirenberg e Ochoa conseguiram rapidamente identificar a composição
em nucleotídeos de cerca de 50 palavras do código para os vários
aminoácidos.
17

Alguns polinucleotídeos usados


para decodificar as trincas dos
RNAs mensageiros.
Quando é atingido um códon de
terminação, nenhum nucleotídeo
se liga e a síntese para. Como não
existe sinal de início, a síntese
começa em qualquer ponto.

SEQÜÊNCIA DE NUCLEOTÍDEOS

Embora a abordagem experimental descrita tenha dado a


composição em nucleotídeos das palavras do código, ela forneceu muito
pouca informação sobre a seqüência de nucleotídeos nas trincas.
Nirenbeg e P. Leder descobriram que ribossomos de E. coli isolados,
incubados em MgCl2 0,02 M, na ausência de GTP, ligam preparações de
RNA mensageiro sintético, tal como poli U (filamento de RNA formado
só de uridinas). Eles também ligaram uma molécula do aminoacil-tRNA
que é especificado pelo mensageiro. Não há formação de ligações
peptídicas em tais sistemas porque o GTP está ausente. Esse teste é
chamado de ensaio de ligação. Descobriu-se que trinucletídeos simples
funcionam como mensageiros de ligação; assim, o trinucleotídeo UUU é
suficiente como mensageiro para realizar a ligação de fenilalanil-
tRNAPhe. Igualmente, a adição de AAA aos ribossomos promovia a
ligação de lisil-tRNALys, mas não outro aminoacil-tRNA.

Aqui está representada a


experiência onde o RNAt
ligado ao trinucleotídeo
(através do seu anticódon), não
vai passar pelo filtro e poderá
ser identificado. Experiências
desse tipo ajudaram a
desvendar o código genético.
18
0 ensaio de ligação foi usado para determinar a seqüência de
bases nas palavras do código. Isso se tornou possível porque muitos
trinucleotídeos de seqüência de bases conhecida podiam ser
fabricados, quer enzimaticamente, quer por métodos sintéticos. Por
determinação de qual aminoacil-tRNA estava especificamente ligado
pelos ribossomos, na presença de um dado trinucleotídeo de seqüência
conhecida, Nirenberg e Leder rapidamente estabeleceram a soletração
das palavras do código para muitos dos aminoácidos.
As palavras do código para aminoácidos têm sido extensivamente
confirmadas por outros tipos de observações feitas sobre a
correspondência entre a seqüência de nucleotídeos de RNAs
mensageiros naturais e a seqüência de aminoácidos de proteínas
formadas biologicamente.

CÓDONS DE INÍCIO

Embora não seja requerida pontuação entre palavras separadas


do código de aminoácidos, são necessários sinais específicos para
iniciar a cadeia polipeptídica no ponto exato, de forma que a conexão
correta da estrutura de leitura seja estabelecida, N-formilmetionina é
o aminoácido de iniciação em procariontes e a metionina em
eucariontes; GUG é um códon de iniciação alternativo para a metionina,
em procariontes. Entretanto, há dois RNAs de transferência para
metionina, mas somente um deles é comumente usado como o tRNA de
iniciação.

CÓDONS DE TÉRMINO

Quando a síntese de proteínas é codificada por um RNA


mensageiro natural, a cadeia polipeptídica completa é liberada na
forma livre, depois de sua remoção hidrolítica do terminal carboxílico
do tRNA. Entretanto, quando a síntese de polipeptídeo é codificada
por mensageiros sintéticos, tais como poli U, a cadeia recém-formada
permanece ligada aos ribosomos, como polifenilalanil-tRNAPhe,
presumivelmente porque poli U não contem sinal de terminação.
19
Durante a pesquisa sobre a atribuição das palavras do código
para os diferentes aminoácidos, descobriu-se que três códons, UAG,
UAA e UGA, não especificavam para qualquer dos vinte aminoácidos.
Estabeleceu-se que eles eram sinais de terminação.
Os três códons de terminação não são, provavelmente, usados
com igual freqüência; na realidade, pesquisas recentes sugerem que
UAA é o sinal de terminação mais comum.

CARACTERÍSTICAS DO CÓDIGO GENÉTICO

Há quatro características particularmente notáveis do código


genético. Primeiro é que não é necessária qualquer pontuação ou sinal
para indicar o final de um códon e o começo do próximo, o código é
"sem vírgulas". A estrutura de leitura deve ser, portanto,
corretamente estabelecida no início da leitura de uma molécula de
mRNA e, então, dirigida seqüencialmente de uma trinca à próxima, ou
então todos os códons ficarão fora de registro, resultando na
formação de uma proteína com seqüência de aminoácidos deturpada.
Esse fato enfatiza a necessidade de alguma forma de sinal único, no
mRNA, para indicar o ponto correto no qual a leitura pelo ribosoma
deve começar; esses sinais de iniciação serão discutidos mais tarde.
A segunda característica importante é que o código de
aminoácidos é degenerado, isto é, há mais de uma palavra do código
para a maioria dos aminoácidos. Degenerado não significa imperfeito,
pois não há palavra do código que especifique mais de um aminoácido.
A degenerescência do código genético é uma característica que
dá sua contribuição para a sobrevivência. Se houvesse somente uma
palavra do código para cada aminoácido, somente 20 dos 64 códons
possíveis seriam usados, e a maioria das mutações pontuais das trincas
de codificação resultaria em trincas que não codificam para qualquer
aminoácido. Por outro lado, devido à degenerescência do código, uma
mutação, na maior parte dos casos, resulta na formação de uma trinca-
sinônimo ou substituição de um aminoácido por outro, geralmente
produzindo uma mutação silenciosa, isto é, um produto gênico com
função inalterada. A degenerescência do código, assim, permite
formação de uma proteína mutante, que é freqüentemente ainda
funcional e, na realidade, poderia mesmo ser uma proteína melhor que a
20
do organismo do tipo selvagem. A degenerescência do código pode
então levar a um "melhoramento" gradual do genoma e de seus
produtos gênicos; ela permite que ocorra uma variedade de
substituições de aminoácidos por mutação, a partir das quais a
substituição com um melhor valor de sobrevivência pode ser
selecionada. Uma vez que as mutações mais freqüentes envolvem
mudanças A-G ou C-T, que usualmente não tem efeito no aminoácido
codificado, quando elas ocorrem na terceira posição, a
degenerescência do código pode também ser considerada como tendo
um valor protetor, estabilizando o genoma contra mutações.
Uma terceira importante característica é que a terceira base
nos códons é menos específica que as duas primeiras. Note-se que a
degeneração do código envolve somente a terceira base no códon, na
maioria dos casos (exceções são arginina, leucina e serina). A terceira
posição, isto é o nucleotídeo na extremidade 3'-hidroxílica do códon é
de menor importância e não se encaixa perfeitamente; em outras
palavras, é frouxo e tende a “oscilar”.

Pareamentos permitidos na 3a posição


Base 5' - anticódon Base 3' - códon
C G
A U
U A ou G
G U ou C
I U, C ou A

Uma explicação plausível ao fato de o pareamento de bases


entre códon e anticódon ser frouxo ou oscilante na posição 3 do códon
surgiu de considerações cinéticas.
M. Eigen estabeleceu que o anticódon não deve fixar-se muito
fortemente ao códon, pois a velocidade de dissociação das pontes de
hidrogênio que mantêm unido o complexo códon-anticódon pode, então,
ser muito lenta para ser compatível com a conhecida alta velocidade da
síntese de proteínas. As pontes de hidrogênio envolvidas no
pareamento de bases de somente um ou dois nucleotídeos seriam
relativamente frouxas e, assim, teriam baixa especificidade, enquanto
que as pontes de hidrogênio formadas quando muitos resíduos de
21
nucleotídeos sucessivos, pareados pelas bases com uma seqüência
complementar, teriam alta especificidade, mas se dissociariam muito
lentamente para ser útil na codificação da síntese de proteínas.
Aparentemente, uma trinca de nucleotídeos torna ótimas tanto a
especificidade da ligação de hidrogênio coma a velocidade de formação
e dissociação da interação códon-anticódon.
Uma quarta característica do código é que três das 64 trincas
não codificam para qualquer aminoácido. UAG, UAA e UGA. Como já foi
citado, essas trincas são sinais para a terminação das cadeias polipep-
tídicas.

MUTAÇÕES

Uma alteração em um único nucleotídeo, que pode ser uma


deleção, substituição ou mesma adição, é chamada de mutação pontual.
Se o nucleotídeo alterado (substituído) acabar por especificar o
mesmo aminoácido que o códon normal, essa será uma mutação
silenciosa. Se codificar outro aminoácido, será dita missense e se
tornar-se um códon de encerramento, nonsense (sem sentido).
Uma adição ou deleção vai alterar o quadro de leitura e todos os
aminoácidos seguintes vão ser alterados até que um códon de término
seja alcançado.

No primeiro esquema
temos um RNA
mensageiro normal. Logo
abaixo ele sofre adição
de um nucleotídeo (C)
que altera o quadro de
leitura, no último
esquema, o quadro é
recuperado por uma
deleção.
22

Já nessa figura, o mesmo


RNA mensageiro sofre a
adição com alteração no
quadro de leitura.
Logo após, sofre mais
adições sucessivas que vão
recuperar o quadro.

UNIVERSALIDADE DO CÓDIGO

As palavras do código genético consideradas biologicamente


universais. A questão foi testada de várias maneiras, foram realizados
testes cruzados de tRNAs de uma espécie versus códons de outra em
todas as espécies testadas até a presente data, as palavras do código
são idênticas. Entretanto a freqüência de uso das diferentes palavras
do código para um dado aminoácido pode variar de uma espécie para
outra. Esse fato sugeriu que a multiplicidade das palavras do código
para a maioria dos aminoácidos está relacionada com desenvolvimento
evolutivo e diferenciação.
Apesar da universalidade do código genético, a proporção das
quatro bases no DNA varia grandemente com a espécie. Assim, o DNA,
em várias espécies de bactérias, contem sempre de 30 a 70% de par
G-C. As bactérias que têm um alto conteúdo de G-C podem, portanto,
usar mais freqüentemente os códons nos quais a terceira posição é G
ou C, em comparação com uma bactéria com baixo conteúdo de G-C. A
razão para essas variações surpreendentes não é clara, embora DNA
com alto conteúdo de G-C seja mais resistente à mutação por luz
ultravioleta.

EVOLUÇÃO DO CÓDIGO DE AMINOÁCIDOS


23

Uma série de idéias interessantes relacionadas com a origem e


evolução do código genético emergiu. Primeiro, a universalidade do
código sugere que ele surgiu apenas uma vez no curso da evolução
biológica. Uma vez que evidências fósseis indicam que procariontes
semelhantes às bactérias atuais existiram há 3,3 milhões de anos,
parece possível que o código genético atual possa ter sido funcional
naquele tempo. 0 fato de as duas primeiras letras das palavras do
código possuírem a maior parte da especificidade foi interpretado
como significando que as palavras do código poderiam uma vez ter sido
duplas, codificando para um grupo de 16 aminoácidos "primordiais" ou
15 aminoácidos mais um códon de terminação. Um código duplo deve ter
empregado todo terceiro nucleotídeo como uma vírgula. Parece possível
que um grupo de "novos" aminoácidos tenha surgido mais tarde,
possivelmente incluindo asparagina, glutamina, metionina, tirosina e
triptofano que, assim, requerem trincas para a sua codificação. 0
terceiro nucleotídeo para as novas trincas deve ter derivado dos
símbolos usados para vírgulas no código duplo original.

PAREAMENTO CÓDON-ANTICÓDON

Muitos anticódons foram identificados pela análise da seqüência de


tRNAs e concluiu-se que códons e seus anticódons correspondentes
pareiam na direção antiparalela. Códons e anticódons são escritos na
direção 5’  3', tal como todos os polinucleotídeos.
24

Componentes da Síntese
Protéica

tRNA

As moléculas de tRNA têm de 73 a 93 nucleotídeos e uma


conformação tridimensional específica. Muitas de suas bases está
pareada (cerca de 60 a 70% de sua estrutura forma dupla hélice), essa
conformação é importante para manter a funcionalidade da molécula,
uma vez que o tRNA desdobrado não é capaz de agir como aceptor de
aminoácidos. Outra observação curiosa é que apesar da enorme
diferença na constituição de bases de diferentes tRNAs, todos eles
podem ser obtidos bidimensionalmente no mesmo arranjo de trevo de
quatro folhas se as cadeias estão arranjadas de maneira a produzir o
máximo pareamento de bases intracadeia.
Os quatro “braços” que são grupos não pareados na estrutura,
têm características próprias que se repetem em todos os tipos de
tRNA:
Braço do aminoácido: seqüência terminal na extremidade 3’ que
corresponde a uma purina seguida de C-C-A. O aminoácido vai se ligar à
adenina nessa extremidade da molécula. Quando o tRNA possui um
aminoácido covalentemente ligado, é dito carregado e o aminoácido,
25
ativado; quando não está ligado a aminoácidos é descrito como
descarregado.
Braço do anticódon: contém uma trinca de nucleotídeos que vai
indicar o aminoácido ao qual o tRNA vai se ligar, é essa trinca que se
liga ao códon no mRNA através de interações de pontes de hidrogênio.
Dessa maneira, o aminoácido necessário é selecionado e posicionado
também corretamente na transferência para a cadeia polipeptídica em
crescimento. Uma das bases do anticódon é a base oscilante que é
menos específica na interação com sua base correspondente do códon
do que as outras duas bases do anticódon. Um resíduo de uracila é
encontrado próximo do terminal 5' do anticódon, e uma purina ou um
derivado da purina é encontrado junto ao terminal 3'. Essas bases
características servem aparentemente como bloqueadores para
delimitar o anticódon.
Braço TψC (ribotimina-pseudo-uridina-citidina): é caracterizado
pela presença dessa base incomum, a pseudo-uridina (ψ). Esta região é
responsável pela ligação do aminoacil-tRNA ao ribossomo no sítio A
Braço DHU (várias diidrouracilas): também é caracterizado pela
presença de uma base incomum. Está relacionado com o
reconhecimento do tRNA pela amnoacil-tRNA-sintetase.
O tRNA pode apresentar ainda uma alça variável que é mais uma
região sem pareamento de bases. Essas regiões que não se pareiam são
importantes pois permitem outros pareamentos na estrutura. Essas
bases não complementares formam outros tipos de interações, pontes
de hidrogênio em interações terciárias e interações hidrofóbicas.
Todos os tRNAs têm que seguir uma estrutura comum para interagir
de modo semelhante, reconhecendo a enzima especifica e o códon do
mRNA.
26

A molécula de tRNA é em forma de “L” formada por dois


segmentos de dupla hélice perpendiculares. Na conformação
tridimensional do tRNA, os braços TψC e DHU formam a quina do “L” e
o terminal CCA-OH 3’ e o anticódon, as duas extremidades. Isso
contribui para que o aminoácido fique bem longe do anticódon não
interferindo nas interações com o códon.
27
As moléculas de tRNA devem conter pelo menos dois sítios
específicos, o sítio de reconhecimento da enzima, no qual o tRNA é
ligado à enzima de ativação correspondente, e o sítio de ligação ao
ribosoma. Os vários resíduos nucleotídeos dos tRNAs diferem não
somente no aminoácido que codificam, mas variam também entre os
órgãos ou entre as espécies.
Uma característica notável da estrutura molecular dos tRNA é a
presença de várias bases raras, além das bases normalmente
encontradas A, U, G e C. Pelo menos 40 nucleosídeos raros diferentes
foram descobertos nos tRNAs, sendo a maioria deles formas metiladas
dos nucleosídeos comuns. As bases raras podem possivelmente
apresentar várias funções. Elas podem impedir o pareamento de bases
intracadeia em determinados pontos, para produzir a estrutura
ramificada característica, impedir o pareamento de uma base
inadequada com o RNA mensageiro e, ainda tornar o tRNA menos
suscetível ao ataque hidrolítico de nucleases.
A esterificação do aminoácido a seu tRNA correspondente não
contribui para a especificidade do aminoacil-tRNA, uma vez que o
grupo aminoacílico não é reconhecido como tal, nem pelo ribosoma nem
pelo mRNA-molde. Isso foi comprovado de maneira conclusiva através
de experimentos nos quais o resíduo de aminoácido de um aminoacil-
tRNA era modificado quimicamente. Esse experimento forneceu
evidências para a hipótese de que o tRNA é um "adaptador" molecular,
no qual o aminoácido é inserido de tal forma que ele possa ser adaptado
à linguagem da trinca nucleotídica do código genético.

AMINOACIL-tRNA-SINTETASE

As enzimas ativadoras devem ter especificidade extremamente


elevada, tanto para seus aminoácidos quanto para seus tRNAs, pois
qualquer erro que surja durante a reação de ativação não poderá ser
corrigido durante a formação da cadeia polipeptídica.
28

Esse esquema demonstra os sítios da aminoacil-tRNA-sintetase:


um para a ligação com o aminoacil-adenilato, outro para ligar ATP
e outro para tRNA. No final ocorre a acilação do tRNA.

Existe mais de um tRNA-específico para cada aminoácido.


Todavia uma aminoacil-tRNA-sintetase determinada não é igualmente
reativa com todos os tRNA homólogos. Além disso, em algumas células,
existe mais de uma aminoacil-tRNA-sintetase para certos aminoácidos,
as quais podem diferir em sua especificidade relativa para os tRNAs
homólogos, uma aminoacil-sintetase para um determinado aminoácido
tem maior atividade quando os tRNAs correspondentes são da mesma
espécie.

RNA RIBOSSÔMICO

Subunidades maior e menor do ribossomos,


primeiramente dissociadas e depois juntas.
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O ribossomo é uma estrutura constituída por RNAr associado a
mais de cinqüenta tipos de proteína. Sua função é percorrer a molécula
de RNAm e promover a união dos aminoácidos transportados pelos
RNAt.
As proteínas desempenham função importante na estrutura e na
função do ribossomo, assim como nas interações deste com outros
componentes do sistema de tradução. O ribossomo eucariótico tem
maior quantidade de proteínas e coeficiente de sedimentação mais alto
que os procarióticos.
Cada ribossomo ativo na síntese de proteína se compõe de duas
subunidades, a subunidade maior é a que fica aderida ao RER nos
polissomos e a menor apresenta o sítio decodificador onde mRNA e
tRNA interagem. O ribossomo possui dois sítios, um aminoacil e o outro
peptidil (A e P) que serão efetivamente utilizados no processo de
tradução. É nesses dois sítios que ocorre a interação do tRNA com o
mRNA.
A subunidade 16S do RNA ribossômico de procariontes tem uma
seqüência de pirimidinas que se pareia com a seqüência de Shine-
Dalgarno (purinas) do RNA mensageiro, interação necessária para o
início da síntese em procariontes.

POLISSOMOS

Nas células eucarióticas há tanto ribossomos livres no


citoplasma como ribossomos presos às membranas do retículo
endoplasmático. Ribossomos livres sintetizam proteínas que atuam no
30
líquido citoplasmático ou no interior do núcleo e das mitocôndrias.
Ribossomos presos ao retículo produzem tanto as proteínas que
compõem as estruturas celulares membranosas (membrana plasmática,
aparelho de Golgi, lisossomos, vacúolos etc.) como as proteínas
secretadas pela célula.
A única diferença entre um ribossomo livre e um aderido ao
retículo é o tipo de proteína que ele está sintetizando. Se a proteína
tiver, em seu início, uma determinada seqüência de aminoácidos,
conhecida como seqüência sinal, ela é reconhecida por um complexo
protéico que faz o ribossomo aderir à membrana do retículo. À medida
que a cadeia polipeptídica vai sendo sintetizada, ela penetra no interior
da bolsa do retículo. Quando a síntese termina, a proteína é liberada na
cavidade do retículo e o ribossomo desgruda da membrana,
dissociando-se em suas duas subunidades.
Se a proteína não tiver a seqüência sinal, o ribossomo que a
sintetiza permanece livre no citoplasma.

RNA MENSAGEIRO

Muitas informações significativas estão surgindo com relação às


seqüências de codificação em moléculas de mRNA naturais, os sítios de
ligação do ribosoma, onde as cadeias polipeptídicas são iniciadas, foram
determinados fazendo-se ribosomas ligarem-se ao RNA e, então,
submetendo o complexo ribosoma-RNA a ação de ribonuclease, que
digere todo o RNA, exceto aquele dos segmentos de 25 a 30 resíduos
que estavam ligados aos ribosomas.
Desses e de outros experimentos é possível deduzir que a
localização dos sítios de ligação do ribosoma é interna. 0 primeiro
cístron do RNA mensageiro sempre começa a uma distância de algumas
centenas de nucleotídeos da extremidade 5’, onde o primeiro códon de
iniciação (AUG) está localizado. Além disso, a extremidade 3’ tem um
longo trecho em seguida do último cístron. Nenhuma dessas longas
extremidades do RNA é traduzida por ribosomas de E. coli totalmente
suplementados com todos os cofatores necessários; as extremidades,
portanto, parecem ter outras funções além da codificação das
proteínas.
Todos os cístrons começam com o códon de iniciação AUG,
31
seguido de trincas que codificam para as seqüências aminoterminais
das proteínas. A busca de códons de terminação revela que podem
aparecer mais de um códon de terminação sucessivos, sugerindo um
arranjo à prova de falhas, no caso do primeiro códon de terminação ser
ultrapassado ou não-reconhecido pelo ribosoma.
Muito pouca informação sobre mensageiros não virais é
disponível, tanto para organismos procarióticos como para eucarióticos,
uma vez que eles são muito difíceis de isolar em forma pura.
Entretanto, os RNAs mensageiros para as cadeias de hemoglobinas α e
β foram isolados em forma altamente purificada. Cada um com longas
seqüências de resíduos de nucleotídeos não traduzidas em ambas
extremidades da molécula.

AMINOÁCIDOS

Todos os aminoácidos que posteriormente surgem na proteína


acabada devem estar presentes no momento da síntese protéica.
Se um aminoácido está ausente, por exemplo, se a dieta não
contem um aminoácido essencial, a tradução cessa no códon
especificando aquele aminoácido. Isto demonstra a importância de ter
todos os aminoácidos essenciais e semi-essenciais em quantidades
suficientes na dieta para assegurar a continuação da síntese de
proteínas.
Dez dos vinte aminoácidos necessários para a síntese são
essenciais, isto é, eles não podem ser sintetizados pelo corpo em uma
velocidade adequada. Destes dez, oito são essenciais em qualquer
situação, enquanto dois (arginina e histidina) são requeridos somente
durante períodos de crescimento rápido dos tecidos, característico da
infância e da recuperação de uma doença.

FATORES PROTÉICOS

Os fatores protéicos de iniciação, alongamento e de terminação


são necessários para a síntese de peptídeos. Alguns destes fatores
protéicos realizam uma função catalítica, enquanto outros parecem
estabilizar a maquinaria sintética.
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ENERGIA

A clivagem de quatro ligações de alta energia é necessária para


a adição de um aminoácido à cadeia polipeptídica em crescimento: duas
do ATP na reação da aminoacil-tRNA-sintetase e duas do GTP, uma
para a ligação do aminoacil-tRNA no sítio A e outra para a etapa de
deslocamento. Além disso, moléculas adicionais de ATP e GTP são
requeridas para a iniciação e terminação da síntese da cadeia
polipeptídica.

Mecanismo de Tradução

DIREÇÃO DA SÍNTESE PROTÉICA

Para determinar a direção de crescimento da cadeia


polipeptídica, foi realizada uma experiência onde leucina marcada com
trítio foi adicionada a suspensões de reticulócitos, sintetizando
ativamente as cadeias α e β de hemoglobina, que contêm muitos
resíduos de leucina e cujas seqüências de aminoácidos eram
conhecidas. A incubação era mantida a baixa temperatura para diminuir
a velocidade da síntese protéica. Eram então tomadas amostras dos
reticulócitos a diferentes intervalos, entre 4 e 60 min. A hemoglobina
marcada formada pelos reticulócitos era isolada, as cadeias α e β
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separadas e clivadas em fragmentos peptídicos com tripsina, e os
fragmentos resultantes separados por eletroforese em papel.
Obviamente as cadeias da hemoglobina que se tomaram isotopicamente
marcadas no intervalo de 4 min estavam quase completas no momento
em que foi adicionado o isótopo da leucina. Portanto somente alguns
resíduos de leucina marcada poderiam ter sido acrescentados ao
terminal de tais cadeias antes que elas fossem completadas e
desconectadas do ribosoma. Reciprocamente, nas cadeias que haviam
sido iniciadas quando o isótopo da leucina foi adicionado, todos os
peptídeos que continham leucina eram marcados, exceto aquele da
extremidade amino-terminal. Concluiu-se, portanto, que as cadeias
polipeptídicas são construídas começando com o aminoácido amino-
terminal, cujo grupo carboxílico se combina com o aminogrupo do
aminoácido subseqüente.

ESTÁGIOS SUCESSIVOS DA SÍNTESE PROTÉICA

A síntese de cadeias polipeptídicas ocorre em quatro estágios


principais e enzimas específicas e cofatores são necessários em cada
estágio. No primeiro estágio, chamado de passo de ativação e que tem
lugar inteiramente no citoplasma solúvel, aminoácidos são esterificados
enzimaticamente a seus tRNAs correspondentes, às custas de energia
do ATP. No segundo estágio, denominado iniciação o RNA mensageiro,
que carreia a mensagem genética especificando a seqüência de
aminoácidos, e o primeiro aminoacil-tRNA, ou iniciador, são ligados à
menor subunidade do ribosoma, um processo que requer três proteínas
específicas, chamadas fatores de iniciação (FI-1, FI-2, FI-3), assim
como GTP e Mg2+. A grande subunidade ribosomal então se une, para
formar um ribosoma funcional, pronto para a etapa seguinte.
No terceiro estágio, chamado alongamento, a cadeia
polipeptidica é aumentada em seu comprimento, pela adição seqüencial
de novos resíduos aminoacílicos, transferidos enzimaticamente dos
ésteres aminoacil-tRNA, cada um dos quais ligado ao ribosoma em
resposta a um códon específico, ou trinca básica no mRNA. Para
aumentar o comprimento da cadeia, são necessários dois fatores de
alongamento, 0 FA-T e 0 FA-G, que também são proteínas. Após a
formação de cada nova ligação peptídica, o ribosoma se move ao longo
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do mRNA para trazer o códon seguinte à posição para alinhamento do
próximo aminoacil-tRNA, um processo que sequer energia armazenada
na forma de GTP.
No último estágio da síntese protéica, a terminação, a cadeia
polipeptídica é completada quando são atingidas marcas apropriadas de
terminação no mRNA; o produto é então liberado do ribosoma, um
processo que necessita de proteínas específicas chamadas fatores de
liberação.

ATIVAÇÃO
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No primeiro estágio da síntese de proteínas, que ocorre no
citossol, os vinte diferentes aminoácidos que funcionam como blocos
construtivos de proteínas são esterificados com seus tRNAs
correspondentes, pela ação de uma classe de enzimas conhecida como
de ativação de aminoácido, ou mais especificamente, aminoacil-tRNA-
sintetase, sendo cada enzima altamente específica para um aminoácido
e para seu tRNA correspondente. A reação catalisada é:

Mg2+

aminoácido + tRNA + ATP aminoacil-tRNA + AMP + PPi

As aminoacil-tRNA-sintetases têm necessidade absoluta de Mg2+


e contêm um ou mais grupamentos de sulfidrila que são essenciais para
que elas apresentem atividade.
Na reação de ativação, ocorre a clivagem do pirofosfato do ATP
produzindo AMP e pirofosfato. A transferência de um aminoácido para
seu tRNA ocorre em duas etapas distintas, no sítio catalítico da
enzima. Na primeira etapa, o ATP reage com o aminoácido, com um
deslocamento de pirofosfato, para formar um intermediário ligado à
enzima, um ácido aminoaciladenílico. Nesse intermediário, o
grupamento carboxílico do aminoácido é inserido por uma ligação de
anidrido com o grupamento 5'-fosfato do AMP; a ligação de anidrido de
alta energia ativa o grupo carboxílico do aminoácido. Na segunda etapa,
0 grupo aminoacílico é transferido do AMP ao terminal 3' de seu tRNA,
o que é seguido pela liberação dos produtos, um aminoacil-tRNA e ácido
adenílico. As duas etapas são:

ATP + aminoácido  [ácido aminoaciladenílico] + pirofosfato

[ácido aminoaciladenílico] + tRNA  aminoacil-tRNA + ácido


adenílico

O grupo aminoacílico torna-se esterificado pelas carboxilas


ativadas com o grupamento livre 2'-hidroxílico do resíduo AMP-
terminal na extremidade 3' da molécula de tRNA, aquela que suporta a
seqüência C-C-A-terminal.
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Observe que a reação de ativação global ocorre com uma
diminuição relativamente pequena na energia livre-padrão. A nova
ligação de éster entre o aminoácido e o tRNA, formada às custas da
hidrólise da ligação de alta energia do ATP, é portanto, uma ligação de
alta energia. Uma vez que o pirofosfato inorgânico formado na reação
de ativação sofre subseqüente hidrólise a ortofosfato, pela
pirofosfatase, duas ligações de fosfato de alta energia podem, em
última análise, ser rompidas para cada molécula de aminoácido ativado.
A reação global para a ativação do aminoácido na célula é portanto,
essencialmente irreversível.
As aminoacil-tRNA-sintetases são altamente específicas para
ambos, o aminoácido e o tRNA correspondente. Esse é um assunto de
extrema importância, já que, uma vez formado o aminoacil-tRNA, ele é
reconhecido somente pela trinca anticódon de seu tRNA, e não pelo
resíduo de aminoácido. Assim, as aminoacil-tRNA-sintetases têm de
possuir dois sítios de ligação muito específicos, um para o substrato
aminoácido e o outro para o tRNA correspondente; existe também um
terceiro sítio para ligar ATP.
Para aumentar a fidelidade dessa reação, o intermediário de
aminoácido ligado à proteína passa por uma etapa de verificação ou
edição onde aminoácidos incorretamente ligados são hidrolisados.

INICIAÇÃO

A síntese de uma proteína começa com o reconhecimento de uma


região específica do RNAm pela subunidade menor do ribossomo. Um
grupo de proteínas, os fatores de iniciação, auxilia esse
reconhecimento e a colocação da subunidade menor sobre a primeira
seqüência AUG encontrada no RNAm. Essa seqüência é chamada códon
de início e marca o começo da tradução da mensagem genética. Uma
vez que o códon AUG corresponde à metionina, esse é o primeiro
aminoácido de qualquer cadeia polipeptídica.
O códon AUG pode ser reconhecido por dois diferentes tipos de
RNAt, ambos portadores do anticódon CAU e que transportam o
aminoácido metionina. Um desses RNAt, entretanto, atua apenas na
iniciação da síntese de proteínas, colocando o primeiro aminoácido na
cadeia polipeptídica.
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Já o outro tipo de RNAt da metionina atua durante a etapa de
elongação, adicionando as demais metioninas que a proteína possua.
Na E. coli e em todos os outros procariotes, a síntese de todas
as proteínas começa com o resíduo de metionina iniciador que não entra
como metionil-tRNA, mas como N-formilmetionil-tRNA (fMet-tRNA). 0
produto de uma transformilação enzimática na qual um grupo de
formila é transferido do N10-formiltetraidrofolato ao aminogrupo do
metionil-tRNA. Existem duas espécies de metionil-tRNAMet; somente
uma delas, designada metionil-tRNAF, é capaz de aceitar o grupo de N-
formil. A reação é:

N10-formiltetraidrofolato + Met-tRNAF tetraidrofolato + fMet-tRNAF

A enzima que catalisa essa reação não formila a metionina livre


ou um resíduo de metionina ligado a outras espécies de tRNAMet.
Provavelmente o fMet-tRNAF inicia a síntese da cadeia peptídica não
somente na bactéria, mas também na mitocôndria de células
eucarióticas. Verificou-se que o resíduo iniciador na síntese de
proteínas citoplasmáticas de células eucarióticas é um resíduo de
metionina não acilado, esterificado a um tRNAMet específico, o tRNA
iniciador.
Durante a síntese protéica há uma dissociação contínua de
ribosomas 70S em subunidades as subunidades constantemente
reassociam-se. 0 ribosoma 70S precisa primeiro dissociar-se em
subunidades 50S e 30S antes que a síntese polipeptídica possa
começar; o mRNA e o aminoacil-tRNA iniciante não podem ligar-se
diretamente aos ribosomas 70S, mas são primeiramente ligados a
subunidades 30S, que então se combinam com as subunidades 5OS.
Entretanto é um processo complexo de várias etapas que requer a
participação de três proteínas específicas, denominadas fatores de
iniciação (FI-1, FI-2 e FI-3).
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A iniciação da síntese em procariontes


envolve a interação de três fatores de
iniciação (IF-1, IF-2 e IF-3) com a
subunidade menor do ribossomo, mais
tRNA iniciador acilado.
Depois a subunidade maior se liga
havendo hidrólise de GTP

As etapas de formação de um ribosoma completo e funcional é a


seguinte: a subunidade 30S forma primeiramente um complexo com FI-
3, o qual liga então o mRNA; com esse complexo junta-se uma molécula
de F-1. Então Met-tRNA e GTP ligam-se ao FI-2, e o complexo
resultante combina-se com o complexo da subunidade 30S, FI-3,
mRNA e FI-1, para produzir o que é chamado de complexo de iniciação.
0 complexo de iniciação combina-se então com a subunidade 50S para
formar um ribosoma 70S completo e funcional. Para isso, o GTP ligado
é hidrolisado a GDP e Pi e os três fatores de iniciação, FI-1, FI-2 e FI-
3, dissociam-se do ribosoma formando o complexo de início 70S.
Nesse ponto, o anticódon do fMet-tRNA pareia-se com o códon
iniciador AUG no RNAm e a seqüência rica em purinas do RNAm com a
seqüência rica em pirimidinas no RNA 16S do ribossomo. Além disso, o
tRNA está localizado no sítio peptidil do ribossomo. Essas interações
determinam a matriz de leitura.
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Seqüência de Shine-Dalgarno do RNAm pareada com a seqüência 3’ do RNAr.

ELONGAÇÃO

Após a junção das subunidades ribossômicas, o sítio A, até então


vazio, é ocupado por um aminoacil-RNAt correspondente ao segundo
códon do RNAm. A metionina solta-se do RNAt iniciador e une-se ao
aminoácido recém-chegado por uma ligação peptídica.
Enquanto a ligação peptídica se estabelece, o ribossomo move-se
em relação ao RNAm, deslocando-se o equivalente a um códon. O RNAt
iniciador sai do ribossomo, e o segundo RNAt, com dois aminoácidos
presos a sua extremidade, passa a ocupar o sítio P. O sítio A fica vazio
e pronto para receber um novo aminoacil-RNAt. O processo se repete
até que todos os aminoácidos codificados pelo RNAm sejam
adicionados à cadeia polipeptídica.
No alongamento da cadeia polipeptídica ocorrem três etapas.

1 - O aminoácido se liga ao sítio A do ribossomo:

Na primeira etapa, o aminoacil-tRNA que vai entrar é ligado ao


sítio de aminoacil (sitio A) do complexo ribosoma 70S completo, num
processo bastante elaborado.
O fator de alongamento (FA-T) posiciona o aminoacil-tRNA no
ponto A, onde está o códon cognato do RNAm. 0 FA-T contém duas
subunidades, FA-Ts e FA-Tu. 0 FA-Tu contém GTP ligado que quando
40
hidrolisado a GDP sofre alteração de sua afinidade e junta-se ao FA-
Ts. 0 complexo FA-Tu-GTP liga-se ao aminoacil-tRNA. Esse complexo
liga-se então ao ribosoma, simultaneamente, o GTP ligado é hidrolisado
a GDP e Pi; o GDP deixa o ribosoma na forma de um complexo FA-Ts-
GDP. A energia fornecida pela hidrólise do GTP é necessária para pôr o
aminoacil-tRNA na posição correta.
A ligação do FA-Tu com o aminoacil-tRNA recém sintetizado o
protege da hidrólise e o leva para o local correto no ribossomo. É
interessante observar que o FA-Tu-GDP só vai liberar o aminoacil-
tRNA se o pareamento códon-anticódon for correto, caso contrário,
vai ocorrer uma nova fosforilação do GDP e o tRNA é carregado para
fora do ribossomo.

2 – Formação da ligação peptídica:

O ponto A do ribossomo está ocupado por um aminoacil-tRNA e o


ponto P por um fMet-tRNA. O EF-Tu já saiu do ribossomo. A ligação
peptídica consiste de um ataque nucleófilo do aminogrupo do aminoacil-
tRNA ao carbono do éster do fMet-RNA. Essa reação é catalisada pela
peptidil-transferase, que está presente na subunidade 50S do
ribosoma.
0 produto é um dipeptidil-tRNA. Nem ATP nem GTP são
necessários para a formação da nova ligação peptídica, que é feita
presumivelmente às custas da energia de ligação de ésteres que existe
entre a N-formilmetionina e seu tRNA. Ocorre uma mudança nas
interações do tRNA com as subunidades do ribossomo, sendo que o
tRNAF desacilado ocupa o ponto E na subunidade 50S e continua no
ponto P na subunidade 30S. O dipeptidil-tRNA ocupa o ponto P na
subunidade 50S e o ponto A na 30S.
41

peptidil
transferase

Embora essa descrição se refira à formação da primeira ligação


peptídica de uma cadeia polipeptídica, ocorre um processo idêntico em
todo o ciclo de alongamento.

3 - Translocação

Depois que é feita a ligação peptídica, o tRNA desacilado precisa


deixar o ribossomo e o peptidil-tRNA deve desocupar o ponto A para
permitir a chegada de outro aminoácido.
Para essa etapa necessita-se de um fator de alongamento (FA-
G), que assim como o FA-Tu alterna-se entre as formas GTP e GDT.
Algumas proteínas são também necessárias, esses fatores juntos
acionam a translocação do tRNA desacilado do ponto P para o ponto E
na subunidade 30S e do dipetidil-tRNA do ponto A para o ponto P,
assim como do mRNA que se desloca 3 nucleotídeos.
0 GTP liga-se primeiro ao FA-G, e o complexo resultante liga-se
ao ribosoma. 0 GTP sofre então hidrólise a GDP e Pi. A hidrólise do
GTP fornece a energia para a alteração conformacional. Após a etapa
de translocação, o FA-G dissocia-se do ribosoma.
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Esquema do processo de alongamento, aqui estão demonstradas as três


fases (aminoácido entrando no sítio A do ribossomo, ligação peptídica e
translocação).

Os eventos envolvidos no alongamento requerem uma topologia


altamente específica dos sítios para ligar o peptidil-tRNA, o aminoacil-
tRNA, o mRNA, os fatores de alongamento e o GTP. 0 ribosoma sofre
provavelmente alterações complexas e específicas em sua forma
durante cada ciclo para construção de ligações.

TÉRMINO DA TRADUÇÃO

A síntese da cadeia polipeptídica termina quando o sítio A do


ribossomo encontra um dos códons de término (UAG, UAA ou UGA).
Como não há RNAt correspondente a esses códons, o sítio A é ocupado
por proteínas chamadas fatores de terminação. O fator de terminação
43
faz com que a cadeia polipeptídica se solte do último RNAt e induz a
dissociação das subunidades ribossômicas, com liberação do RNAm.
O término da cadeia polipeptídica e seu desligamento do
ribosoma requerem passos especiais, a conclusão de cadeias
polipeptídicas envolve o reconhecimento do códon de terminação por
fatores de liberação (R1, R2, R3) que vão alterar a especificidade da
enzima peptidil-transferase, de modo que é a água e não a amina o
aceptor da fração peptidil ativada, ou seja, ela age como uma hidrolase
e faz uma hidrólise na ligação entre o polipeptídio e o tRNA o ponto P.

O término envolve vários


componentes. Existem três
fatores de terminação que
vão reconhecer o códon e a
peptidil-transferase vai
hidrolisar a ligação do
peptídeo com o último tRNA.
No final todos os
componentes são liberados.

Uma vez liberado o polipeptídio, o último tRNA e o mRNA o


abandonam. 0 ribosoma 70S livre, então dissocia-se nas suas
subunidades 5OS e 30S um processo que requer um dos fatores
específicos de iniciação, e pode ser iniciada uma nova cadeia
polipeptídica.

INIBIDORES DA BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS

Essa tabela resume os principais inibidores da síntese de


proteínas, suas ações, local e efeito.
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Processamento pós-Traducional

Depois que um polipeptídeo é sintetizado por um ribossoma, ele


precisa sofrer urna modificação cavalente para produzir sua forma
45
biologicamente ativa.
O grupamento de N-formila do resíduo fMet não aparece na
proteína já pronta dos procariontes; ele é removido pela ação de uma
deformilase. Além disso, o resíduo iniciante metionílico de alguns
polipeptídeos pode também ser removido por uma metionina-
aminopeptidase. Algumas proteínas são acetiladas no α-aminogrupo
NH2-terminal. Esses grupos de acetila são introduzidos depois de
completada a síntese protéica; eles não estão relacionados com a
iniciação da cadeia durante a biossíntese da proteína.
Depois que a cadeia polipeptídica foi construída, são formadas
enzimaticamente pontes cruzadas intracadeia de dissulfeto. A
informação necessária para o estabelecimento das ligações cruzadas
corretas das proteínas já está inerente na seqüência de aminoácidos da
cadeia polipeptídica.
Outras modificações covalentes que ocorrem após a tradução
incluem as reações de fosforilação, metilação e hidroxilação, assim
como reações que envolvem a união de coenzimas ou grupos
prostéticos.
A informação que indica por qual desses processos a proteína vai
passar para se tornar ativa está contida na seqüência de aminoácidos
da sua própria estrutura. A princípio existem dois caminhos, ou a
proteína permanece sendo sintetizada por polissomos livres no citosol,
ou se tiver a seqüência sinal vai para dentro das cisternas do retículo
endoplasmático.

ENDEREÇAMENTO DE PROTEÍNAS

As proteínas destinadas a sofrerem alguma modificação


covalente tanto no RER como no aparelho de Golgi, devem possuir uma
seqüência amino-terminal que serve de enderaçamento. Essa seqüência
é composta de 13 a 36 aminoácidos, sendo muitos deles hidrófobos.
Assim que a síntese da proteína começa e que essa seqüência
desponta do ribossomo sintetizador, uma partícula reconhecedora de
sinal (PRS) que é uma ribonucleoproteína, e liga ao ribossomo com a
seqüência sinalizadora. Essa ligação impede o alongamento e posterior
enovelamento da proteína, o que dificultaria a sua passagem pelos
canais condutores de proteínas.
46
O complexo PRS-ribossomo se aproxima da membrana do RER e
a PRS se liga ao receptor de PRS (proteína de ancoragem) que é uma
proteína integrante da membrana. Essa ligação dispara a troca de GDT
por GTP ligado à proteína de ancoragem, a proteína na forma GTP se
liga fortemente à PRS e o peptídeo de sinal é liberado e pode então ser
capturado pela maquinaria de translocação. O GTP da proteína
receptora é hidrolisado e a PRS é liberada.

TRANSLOCAÇÃO

Os peptídeos de sinal na maquinaria de translocação


(translócon), formada de várias subunidades de proteínas integrantes
e periféricas da membrana, abrem os canais condutores de proteínas.
A translocação é regulada por seqüências de parada de
transferência (ou de ancoragem na membrana) e seqüências de sinal
numa cadeia que cruza a membrana mais de uma vez.

ENOVELAMENTO

Proteínas acompanhantes (chaperone) mantém as proteínas


nascentes desdobradas até que estejam prontas para se dobrarem,
impedindo as interações heterogêneas, intermoleculares impróprias.
Pertencem à classe das proteínas heat-shock.
O complexo ADP-chaperone tem alta afinidade por cadeias
polipeptídicas não enoveladas, quando ocorre essa ligação, o ADP do
centro catalítico é trocado por ATP que libera a proteína, a hidrólise
subseqüente do ATP ligado possibilita que a acompanhante se ligue
novamente a um segmento não enovelado.
Existem outras proteínas que participam do enovelamento, assim
com a dissulfeto isomerase que acelera o enovelamento catalisando o
pareamento correto de dissulfetos e a peptidil prolil isomerase que
também impulsiona o enovelamento.

GLICOSILAÇÃO DO CERNE
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Muitas proteínas que são destinadas a se tornar parte de uma


membrana plasmática ou serem secretadas pela célula possuem cadeias
de carboidratos ligados a grupos hidroxila da serina ou treonina
(ligação O) ou asparagina (ligação N). A adição por etapas dos açúcares
ocorre no RE e no complexo de Golgi.
A glicosilação do cerne ocorre no RE, os doadores ativados são
derivados de UDP, GDP e dolicol pirofosfato. É necessário um
carreador ativado: o dolicol fosfato que vai acrescentar resíduos de
açúcares em seqüências internas da proteína, a transferase catalisa a
transferência do oligosídeo para a seqüência Asn-X-Ser(Tre).
Vários ciclos de adição e corte de glicose ocorrem enquanto a
48
proteína está no RE até que ela esteja completamente formada e
montada. Enquanto estiver alguma glicose terminal presente no
oligosídeo da proteína, ela será ancorada pela calnexina.

GLICOSILAÇÃO TERMINAL

No golgi os oligosídeos são processados dependendo da


seqüência e conformação da proteína à qual estão ligados e da
composição da glicosil transferase presente o aparelho de Golgi.
São acrescentados alguns resíduos de N-acetil-glicosamina e
retirados outros, assim como são retiradas algumas manoses,
acrescentadas fucose, galactose e ácido siálico para formar um
oligosídeo complexo.

DEGRADAÇÃO DE PROTEÍNAS

Proteases digestivas hidrolisam proteínas da dieta e não


desempenham nenhum papel de reciclagem intracelular de roteínas. A
digestão intracelular de proteínas provenientes do ambiente
extracelular ocorre dentro dos lisossomos, embora essa rota ocorra,
não é a principal de reciclagem de proteínas.
A ubiquitina marca as proteínas para a degradação, a sua ligação
ocorre entre ε-amino grupos de resíduos de lisina da proteína e o
resíduo carboxi-terminal de glicina da ubiquitina.
Proteases dependentes de ATP então degradam a proteína alvo
e liberam a ubiquitina para outros ciclos de degradação
A proteólise dependente de ubiquitina desempenha um papel
importante na regulação de eventos celulares.

Bibliografia Consultada

DEVLIN, THOMAS M; Manual de bioquímica com correlações


clínicas; São Paulo, Editora Edgard Blücher

STRYER, LUBERT, Bioquímica, Editora Guanabara Koogan


49
LEHNINGER, ALBERT L, NELSON, DAVID L., COX, MICAEL
M., Princípios da Bioquímica, São Paulo, Editora Sarvier, 1995

LEHNINGER, ALBERT L., Princípios de Bioquímica, São Paulo,


Editora Sarvier, 1984

BAYNES, JOHN, DOMNICZACK, MARECK; Bioquímica Médica,


São Paulo, Editora Manole, 2000

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