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E Nt R E V I S T A
O australiano Peter
Weill, diretor do Center
for Information Systems
Research (CISR) do
O SEGREDO DA
MIT há quatro anos,
é pesquisador e
consultor de empresas
BOA GOVERNANÇA
e instituições
governamentais. Em Diretor de centro de estudos do MIT destaca a
seu mais recente livro,
IT Governance: How importância do planejamento e do controle dos
Top Performers Manage
IT Decision Rights
projetos de TI e diz que as empresas devem
for Superior Results, ousar em suas decisões – mas com método
lançado em maio, Weill
apresenta o resultado
de um estudo com 250
J
empresas de todo o
mundo e mostra como á há alguns anos, o termo “governança” se tornou familiar para os executivos
construir um sistema das grandes empresas. Diz respeito a métodos para tornar mais transparentes,
de governança em TI organizadas e legítimas as práticas de direção e monitoramento do desempe-
que leve às decisões nho das empresas. Mais recentemente, a expressão passou também a ser adotada
corretas e impulsione em tecnologia da informação, para se referir a critérios de definição, gestão e
os negócios. Seus livros
acompanhamento de resultados dos investimentos em TI. Essa é uma discussão
anteriores – Place to
crucial no Center for Information Systems Research, criado há 30 anos na Sloan
Space: Migrating to
School of Management do Massachusetts Institute of Technology (MIT) com o ob-
Ebusiness Models
jetivo de conduzir pesquisas e estudos que mostrem como as empresas podem
(2001) e Leveraging
the New Infrastructure: gerar vantagens competitivas por meio do uso eficiente de TI. Seu diretor, Peter
How Market Leaders Weill, é um dos palestrantes e pesquisadores mais prestigiados, tanto no universo
Capitalize on de tecnologia quanto no de negócios. Nesta entrevista a Microsoft Business, ele
Information Technology comenta o que os executivos devem fazer para colocar suas áreas de TI a serviço
(1998) – também se dos objetivos estratégicos das corporações.
tornaram literatura de
referência. Weill esteve No último ano, tivemos muita discussão a respeito da importância de TI para as com-
recentemente no Chile panhias, a partir da publicação do artigo Does IT Matter, de Nicholas Carr na Har-
para apresentar-se
vard Business Magazine. Depois de todo esse debate, o senhor acredita que as em-
no Microsoft Fórum
presas de fato entenderam qual a importância de TI?
de Soluções 2004,
Peter Weill – Com certeza. O debate colocou a atenção dos executivos em quanto
que contou com
eles estão gastando em TI e, mais importante do que isso, se estão transformando
a participação de
cerca de 200 Chief esses gastos em ganhos de produtividade. Descobrimos que empresas com políti-
Information Officers cas de governança em TI mais efetivas têm lucros mais altos do que as outras –
(CIOs) brasileiros. mais de 20% superiores. É uma prova muito boa para sustentar não apenas que TI
é importante, mas que o gerenciamento de TI também é.
É possível estabelecer regras que podem ser adotadas por todas as companhias em
termos de governança de TI? Ou isso é algo específico de cada empresa?
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A qualidade de uma estrutura de TI está diretamen-
te ligada à quantidade de investimentos realizados?
Weill – Há empresas que têm desempenho alto e
freqüentemente gastam menos em TI do que a
média de suas indústrias. Isso acontece no setor
de serviços financeiros, por exemplo. Essas em-
presas têm muito boa governança em TI, um
bom gerenciamento de projetos e um ótimo
acompanhamento de resultados. No entanto, no
segmento de manufatura, percebemos que as em-
presas que investem mais em TI têm lucros mais
altos, porque é mais fácil se diferenciar nesse
setor usando tecnologia. Na verdade, é possível
ter boa governança gastando menos ou gastando
mais do que a média da sua indústria. Depende
de quais são os objetivos que você tenta alcançar.
MICROSOFT BUSINESS ■ 13
mumente encontramos empresas em que as deci- O mercado de TI em geral é marcado por grandes
sões de investimento são tomadas pelos líderes ondas de inovação. O senhor acha que ainda tere-
de negócio, mas as decisões de arquitetura e de mos grandes mudanças ou apenas ajustes menores?
infra-estrutura cabem ao pessoal de TI. A boa go- Weill – Podemos garantir que teremos mais e
vernança deve institucionalizar as tensões. Há o mais mudanças marcantes em tecnologia. Serão
líder de negócios que diz “quero fazer isso do outras inovações do porte da Internet. Mas,
meu jeito”; há os CIOs e as equipes de TI que mesmo que o ritmo das mudanças aumente, as
dizem “temos de ter estruturas compartilhadas”; grandes empresas ainda adotam as tecnologias
há os CFOs, que dizem “quero gastar menos”; e de forma relativamente lenta. Pense em uma
os executivos-chefe que dizem “quero ser estraté- grande organização que gaste 1 bilhão de dóla-
gico, inovador e chegar rapidamente ao merca- res em TI. Talvez 3%, 4% ou 5% disso sejam
do”. Em uma boa governança, as tensões são para tecnologias realmente inovadoras.
transparentes e todos têm voz.
Para as empresas, é vantajoso adotar as tecnologias
Toda essa tensão coloca muita pressão sobre os rapidamente ou é melhor esperar?
profissionais de TI. Que tipo de educação, formal e Weill – As empresas devem decidir os riscos que
informal, os profissionais de TI devem ter hoje? elas aceitam ter. Pense nos seus investimentos
Weill – Há dois tipos de profissionais de TI. Os em TI como você pensa nos seus investimentos
que estão no centro das operações técnicas preci- “AS MUDANÇAS pessoais. Quando você é jovem, terá parte de
sam focar o treinamento em suas especialidades, DE PROCESSO seus investimentos em ações, outra porcentagem
como administração de bancos de dados, redes SÃO MAIS em bônus, depósitos a vista, propriedades etc.
etc. Mas há muitos profissionais de TI em contato RELEVANTES Conforme fica mais velho, vai repensar seu port-
com as unidades de negócio. Essas pessoas preci- DO QUE AS DE TI. fólio para que ele seja menos arriscado e mais
sam ter habilidades híbridas. Se você pensar em PENSAR USOS focado em produção de renda, já que você par-
um modelo com um eixo central e raios [como INOVADORES DE tirá para a aposentadoria. Nas companhias é a
em uma roda], o eixo são as pessoas do centro TECNOLOGIA mesma coisa. Cada uma deve ter certa porcenta-
É UMA
de competência técnica da organização, os raios gem de seu portfólio na linha do “alto risco, alto
OPORTUNIDADE
são as pessoas híbridas, de TI e negócios, e o aro retorno”. Quanto é, depende da empresa.
PARA SE
é composto de unidades de negócio. A educação
REDESENHAR
necessária depende se você está no eixo, nos OS PROCESSOS
Apesar de todas as tecnologias, algumas pessoas
raios ou no aro. Pense na Microsoft, por exem- DE NEGÓCIOS” ainda têm as mesmas rotinas que tinham há dez
plo. Quem está na Microsoft Consulting Services ou 20 anos. Mandam um e-mail no lugar de en-
(MCS) deve ter uma educação muito sólida na viar um fax, mas fazem as mesmas coisas. O se-
área de negócios. As pessoas que fazem os códi- nhor pensa que TI pode mudar de uma forma
gos do Longhorn estão no eixo técnico. mais radical o modo como as pessoas se comuni-
cam e trabalham?
Mais de três anos depois do fim da bolha da Inter- Weill – Isso já começou, mas você levantou uma
net, que tipo de lições a economia digital trouxe questão importante: as mudanças de processo são
para as empresas tradicionais? mais relevantes do que as mudanças de TI. Pensar
Weill – A bolha foi um alerta para as empresas tra- usos inovadores de TI, como operações bancárias
dicionais, mostrando que há outros modelos de ne- on-line ou rastreamento de pacotes pela Internet,
gócio. Mas a urgência é de médio termo, não é é uma oportunidade para se redesenhar os pro-
imediata. Hoje, muitas das inovações em tecnologia cessos de negócios. Isso leva tempo.
e negócios on-line vêm de grandes companhias. A
UPS tem cerca de 70% de suas rendas geradas on- Quais são os desafios mais importantes para os
line. A Seven-Eleven no Japão tem o modelo de CIOs no futuro?
negócios mais lucrativo do país graças a uma ca- Weill – Os CIOs precisam ter dois “chapéus”: um
deia de suprimentos muito integrada. Temos visto é o da redução constante de custos e o outro é o
inovações interessantes acontecendo nas grandes do atendimento às demandas dos negócios, para
empresas com o uso de princípios do e-business. encontrar novas maneiras de fazer as coisas.
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