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CONHECE-TE A TI MESMO

( inscrição na entrada do
templo de Apollo em Delfos )
Nota Introdutória

Não posso chamar essa obra de


livro; vejo-a como um livreto,
pois pequeno é o seu tamanho,
mas vasto em idéias é o seu con-
teúdo.
A premissa que levou-me à es-
crita desse quase folhetim foi
a constatação de que nosso
mundo “tecnolotizado”,
“ansiotizado” e banalizado, caiu
definitivamente no péssimo ha-
bito das coisas instantâneas.
Vivemos hoje de macarrão ins-
tantâneo, amores imediatistas
e procuras vãs. Queremos o ago-
ra fácil, superficial e sem con-
sistência; portanto, perdemos o
instinto primordial do viver,
mas o viver ao que me refiro, é
o viver livre, pleno e poderoso;
é o viver evolutivo, de conquis-
tas e descobertas.
Nós, humanos, não fomos cria-
dos para a apatia, medo e inse-
gurança; somos criaturas que
naturalmente procuram a luz
e o progresso, que genética e
espiritualmente desejam sem-
pre crescer e mudar; ao contrá-
rio do momento atual, onde
tudo é receio, desconfiança e
falta de ânimo.
Estamos reduzidos a um povo
doente, decadente e fraco.
Abraçamos a futilidade, o
consumismo e o materialismo
barato. O que permeia as socie-
dades contemporâneas é a inde-
cência, posto que o amor, natu-
ral e espontâneo que era, foi
relegado à vergonha de vivê-
lo abertamente e, sem amor,
somente a indecência pode im-
perar.
Portanto, se não amamos, con-
quistamos, crescemos e evoluí-
mos, somente podemos chafur-
dar na mediocridade, solidão e
tristeza; características estas,
visíveis nos que estão mortos em
vida e, naqueles que estão à es-
pera das migalhas que quiçá
possam cair-lhes no colo.
Isso é o ser humano? Creio que
não!
Vejo atualmente infindas
técnicas, livros e terapias de
auto... auto tudo: auto-ajuda,
auto-conhecimento, auto-cura
e auto-procura (não falo mais
“autos”, pois corro o risco de
tornar-me prolixo desnecessa-
riamente.), e ao mesmo tempo,
não vejo mais os Homens exer-
cendo a sua capacidade santa de
progredir através das suas ex-
periências e vivências, con-
quanto, todos os nossos ances-
trais, cresceram enfrentando
as dificuldades e superando
cada barreira posta em seus
caminhos.
Dominamos a natureza, a
tecnologia e o planeta, porém,
a cada passo que demos em dire-
ção a modernidade, nos alijamos
em nossas individualidades e
interiores. Perdemos a coragem,
a paixão e o ímpeto; ficamos ór-
fãos da ousadia, da
engenhosidade e do romantismo;
precisando por isso, de instru-
tores e orientadores para
aprendermos a viver, sendo esse
nosso mais gritante problema
atual, pois, viver é dom incon-
dicional de todos nós e, que Deus,
em Seu plano divino, prevendo
essa nossa necessidade, nos in-
dicou como mestres de vida os
nossos pais, mães e familiares;
no que após a formação dada por
estes instrutores naturais,
basta a própria existência a
servir-nos de mestra.
Fico surpreso ao ver a huma-
nidade em plena Era de Aquá-
rio, a era do mestre interior,
divulgada tão amplamente pe-
los místicos, esotéricos, religi-
osos e terapeutas alternati-
vos; e que são esses mesmos
holísticos a transformar a sa-
bedoria oculta em “mercardo
Persa”, como fosse o saber uma
mercadoria qualquer, em que os
incautos “endinheirados” pos-
sam adquirir sem o devido esfor-
ço e mérito, sem os quais, o cami-
nho do conhecimento é fechado
e inacessível.
Como você bem pode notar, esse
livro não é de auto-conheci-
mento, pois quem lhe pode ensi-
nar a ser você mesmo? Também
não é de auto-ajuda, porquê,
auto-ajuda é você mesmo se aju-
dar; muito menos um manual
qualquer de “regrinhas” de vida
e prosperidade; essa obra tem a
intenção de ser um arpão a fus-
tigar o guerreiro dormente
__em você__, que sabe o que é
preciso para a vitória do viver.
Portanto, o Ressuscitando de
Si Mesmo não é de forma alguma
um livro para mudar a sua vida,
no que ele nada irá ensiná-lo
também; ressuscitando de Si
Mesmo, o próprio nome o diz:
acorde!
Não lhe posso ou quero ensi-
nar-lhe a ser você mesmo. Por
sinal, em nada eu acredito nos
que dizem poder instruir uma
criatura a ser ela própria, isso
me soa muito a adestramento,
pois, aprender sobre si mesmo
significa viver e, com isso (as
experiências), desvendar-se... e
oxalá, possa você ascensionar...
Aqui você encontrará unica-
mente um convite: cresça viven-
do sua vida; havendo apenas
uma simples fórmula: coma bem,
durma bem, trabalhe muito e
ame sempre; e com isso um desa-
fio: você pode acordar e ser seu
próprio mestre?
Bem-vindo! Aqui é o lugar cer-
to! Saia da tumba do ostracismo
e do medo, e como Lázaro, cami-
nhe de novo pela vida.
Mas lembre-se, nas próximas
páginas você será provocado,
instigado, cobrado e, se insisti-
res em continuar morto, até
massacrado você será... pela
vida!

Com carinho..
Roberto Caldeira
Este livro foi escrito em prol
da evolução dos Homens

Dedico este livro as almas de


quem em vida foram Florêncio e
Euclydes Caldeira da Silva, res-
pectivamente, avô e pai . Que a
descendência deles seja tão
honrada quanto eles o foram .
Prólogo

Ao defrontar-me com o axioma


“ conhece-te a ti mesmo “, imedia-
tamente senti ser essa a hora de
empreender esta obra . Mas como
começá-la de forma eficiente,
atingindo o vêio a que foi inten-
tada? Como falar aos meus seme-
lhantes sobre um processo de
ressurgimento de si mesmo? E se
caso eu descubra uma boa fórmu-
la, como não parecer um guru com
receitas milagreiras de como se
deve viver?
Após varias digressões, notei
ser necessário abordar inicial-
mente não o renascer, e sim o con-
trário, onde dorme esse gigante
que é você. Resolvi penetrar nas
catacumbas da mente do Homem;
na morada da morte em vida .
Qual não é minha surpresa ao
descobrir um mundo de mortos que
andam, comem, falam e, o pior...
iludem-se, sobrevivendo acredi-
tando que seja isso a vida. Não sou
ou estou apto a dizer a ninguém
o que venha a ser certo ou erra-
do, mas reconheço o que não é vi-
ver. Viver é realizar-se; para

1
tal, pergunto-lhe: __ o que tens
realizado? Esse é o nosso ponto
de partida: no que estamos
imersos, o que impede-nos de res-
surgimos em divindade e graça, o
que em verdade nos ancora na
mais baixa ansiedade, inseguran-
ça e medo?
O Medo, esse é o nosso primei-
ro inimigo. Inimigo sórdido e co-
varde que nos assola no exato
instante que adquirimos o senso
de racionalidade. Digo isso, por-
que as crianças até os três ou
quatro anos não são medrosas,
mas com a ajuda de papai e ma-
mãe, vovô e Vovó e toda a socie-
dade, esmeramos-nos em incutir
o medo em nossos pequenos .
Nos dias atuais, é estranho
e destoante alguém que não viva
assolado pelo medo. Temos pavor
de tudo, principalmente do que
não tem razão de se o ter. É como
que se precisássemos do medo como
uma questão de etiqueta social .
Muitos dirão: __ os tempos são
perigosos! E quando não o foram?
Na bíblia se relata estórias de
bandoleiros e assassinos,
estupradores e prostitutas; por-
que seria o nosso tempo mais pe-

2
rigoso?
A covardia se apoia nas descul-
pas e no desconhecido. A moça que
quando solteira estudava e che-
gava tarde da noite em casa, uma
vez casada, tudo é desculpa de
perigo para transitar as
dezenove horas sozinha. Achas
isso normal?
Quantos exemplos podería-
mos narrar a guisa de impedimen-
tos proporcionados pelos inúme-
ros e diferentes pavores das pes-
soas. Estou, até agora, falando de
medos externos; e os internos,
que são em número e variedades
tais, que precisaríamos de um li-
vro só para narrá-los .
A situação é caótica. Estamos
sitiados entre medos exteriores
e pavores mentais. Os mentais são
mais perigosos, são irreais, abs-
tratos e sem nexo . Sabemos que
estamos a fabricá-los, e mesmo
assim, continuamos resolutos e
incontinentes, abraçados a esse
parasita das realizações.
Temos receios que vão desde
amar, ser feliz e, até o desplante
de recusarmo-nos a viver em tro-
ca de seguranças falsas .

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Se o amor é sublime e sagrado,
porque o tememos? Se o amor pro-
vém de Deus, qual a razão de nos
recusarmos a entregarmo-nos a
este sentimento?
Isso é a síntese do pânico:
saber que amar é preciso e recu-
sar-se com mirongas de sofrimen-
tos passados, amores inacabados
e dores ainda vivas .
É o amor ou o medo essencial
que norteia sua vida? Pergunta
difícil não é? Isso torna claro o
quão desesperadora é nossa situ-
ação. Descambamos subitamente à
contradição explícita e insana
do receio que suplanta o Divino.
“ Não há felicidade que dure
sempre “; o pior é que dizemos isso
pensando na nossa realidade:
“Não há felicidade que perdure
por mais de alguns instantes “.
Acredita você ser isto correto?
Se você concorda com a frase base
desse parágrafo, não há mais ra-
zão de continuar lendo esse li-
vro; foi um prazer tê-lo comigo.
Para sermos felizes, geral-
mente precisamos do amor, o amor
demanda em risco, e se esse é o
requisito básico, caímos inevita-

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velmente nas malhas do nosso
paralizador inimigo... o medo!
O medo tolhe, impede,
desestimula e destrói todo o em-
preendimento humano; sabemos
disso, mas sentimo-nos tão segu-
ros com ele que parece impossí-
vel viver sem o tal .
É verdade, somos os melhores
amigos dos nossos queridos medos.
Nós os alimentamos, protegemos,
explicamos e aceitamos esses ver-
mes como companheiros diários em
nossas vidas. Com certeza have-
rá alguns que dirão: __ é muito
demorado vencermos os medos, é
complicado, precisaremos de anos
de terapias e tratamentos, pois
ele não apareceu de um dia para
o outro .
Se isso fosse verdade, porque
você não reagiu no momento em
que ele surgiu? Você o deseja, não
é? Afinal, que desculpa usarás
para não arriscar-se, se não hou-
ver o tal “impedidor”? O medo é
que não permite nada, não é? Tudo
é o medo. Até quando iremos nos
sabotar nas teias desse predador
mundano e atrós, até que dia te-
remos que conviver com esse fan-
tasma que damos força para que

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nos impeça de quase tudo?
Você não nasceu impregna-
do pelos pavores sociais, sequer
conhecia o amedrontamento
quando tinha tenra idade. Em
compensação, hoje, você especi-
aliza-se na confecção de novos e
mais eficientes receios, para que
possa sentir-se seguro na seara
da inoperância, afinal, quem não
faz, não erra (filosofia do bom
medroso).
O pânico ( medo com outro
nome ), é igual a uma prostituta
que carregamos inadvertidamen-
te para casa todos os dias, dei-
xando a cargo dela __a
usurpadora__ todos os nossos ide-
ais e sonhos. Pobre daquele que
quiser pagar esse preço, morre-
rá imerso no pântano da apatia
e bradará: __ O medo foi o culpa-
do! E mesmo vivendo seu calvário
pessoal, continuará a acreditar
que não houve culpa alguma sua.
Há preço mais medonho a se pa-
gar que esse: a ignorância eter-
na?
Tratamos de algo tão sério
que desenvolvemos uma ciência
própria para o medo __ o trauma.
Esse desequilíbrio humano já é

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tão corriqueiro em nosso cotidi-
ano que, por vezes, almoçamos ou
participamos de uma festa, ilus-
trando os nossos assuntos com
verdadeiros campeonatos de blo-
queios, desgraças e traumas. Será
isso normal? Haverá a sociedade
se desenvolvido e alcançado tan-
tos avanços à base do receio e
covardia?
Dizia Leonardo Da Vinci: __ A
necessidade é a mãe da invenção.
Para que precisamos dessa
deslavada síndrome de receios?
Qual vem a ser a necessidade des-
se amontoado de temores?
Não confunda prudência com
medo ou qualquer dos seus capan-
gas. O que realmente necessita-
mos é o cuidado natural com que
devemos tratar nossos assuntos;
creia, você precisa estirpar esse
conceito errôneo de vida, despo-
jar-se das máscaras do auto-im-
pedimento e, solenemente, en-
frentar-se na busca da sua ver-
dade.
Como toda doença, o medo
traz efeitos colaterais do tipo:
queixa. Os medrosos adoram quei-
xar-se, assim como os queixosos
são grandes apavorados com tudo

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.
Quando nos queixamos, for-
mulamos as regras dos futuros
receios, como se planejássemos
com antecedência os próximos
terrores da nossa câmara parti-
cular de tortura. Temos atual-
mente uma nova forma de condu-
ta: reclamar-mos de tudo e todos
.
Em todos os ambientes o que
mais se ouve? Reclamações é cla-
ro! Do que vivem os nossos meios
de comunicação? De fatos que pro-
piciem queixas abundantes e
inextinguíveis .
A carne sobe, o dólar cai, o
Presidente governa, o político
rouba, o marido trai, o dinheiro
é pouco; não tenho sorte __ tudo
é ruim __ e assim seguimos adian-
te, chafurdando no queixume in-
fernal .
Duas pessoas se encontram, o
que fazem? Vociferar incansavel-
mente contra tudo, todos e eles
próprios, como fossem os mesmos,
as vítimas únicas de todos os in-
fortúnios da existência. Falar de
coisas boas deve ser entediante,
pois, ninguém mais gosta de falar

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coisas boas.
O que é terrível, é que a re-
clamação não anda sozinha. Sem-
pre ela está atrelada a um ví-
rus chamado pessimismo; vírus dos
mais abomináveis, posto que, uma
vez em contato com outras bac-
térias existenciais, contamina,
destrói e inutiliza o infectado .
Queixar-se sem pessimismo é
como feijão sem arroz. Como exis-
tirá uma seção de murmúrios e
lamentações sem o respaldo
eficientíssimo do mais negro
negativismo? É dificílimo recla-
mar sem uma dose maciça de vi-
sões e opiniões malíssimas.
Estamos ou não na idade das tre-
vas do medo pessimista?
Ficou óbvio que somos gran-
des e imbatíveis destruidores __
em especial __ , de nós mesmos; e
se conseguimos fazer isso conosco,
imagine com o próximo?
Da química perfeita entre
medo/queixa/pessimismo, extraí-
mos o elixir da mediocridade. Em
princípio ela é individual, mas
posta em contato com outros de
iguais talentos, torna-se gene-
ralizada e incontrolável na sua

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abrangência, visto que, para ser
medíocre não se assume nenhuma
responsabilidade, basta ter-se os
cúmplices e o resto será uma re-
ação em cadeia .
Você vai continuar aceitan-
do isso? Caso sim, pare já de ler
esse livro, ele é contra você !
Que bom que ainda está co-
migo; sei agora que não discurso
às paredes. Minha voz encontrou
eco em ti, e juntos,
arregimentaremos muitos mais
para essa batalha titânica: res-
suscitar dos infernos dos medos,
queixas e pessimismo aos nossos
irmãos .
Para que isso torne-se viá-
vel, temos que sair a caça do se-
gundo inimigo: a culpa; um opo-
nente tão perigoso que os ordi-
nários rendem-se a ela sem a mí-
nima resistência .
Ter culpa já figura como
cultura mundial. Inúmeras pes-
soas cultivam processos de cul-
pa como a uma planta de jardim.
Note como a culpa é fator pre-
sente na nossa vida adulta. Fos-
se ela natural, não deveríamos
senti-la desde a mais precoce ida-

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de? O remorso parece video-game
para adultos. Oxalá ele fosse
proibido .
O remorso desarma, fere e
aleija o seu hospedeiro, imputan-
do comumente, doenças e
desequilíbrios aos que dele se
valem. Todos sabemos (por exem-
plo) que o câncer é uma forma
eficientíssima de
armazenamento de culpas. Pre-
cisa-se falar mais alguma coisa
sobre isso?
As culpas nos trazem feridas
purulentamente terríveis, essas
feridas nos aparecem como dúvi-
das. Essas sim, monstros cruéis,
como estupradores sádicos insta-
lados em nossa alma a devassar,
invadir e dirimir incansável e
continuamente nossos atos,
ações e palavras .
Pensamos ser a dúvida ape-
nas um questionamento, e qual
não é a nossa surpresa quando
notamos ser o questionamento
um guerreiro de extrema cora-
gem, enquanto a dúvida, um sal-
teador traiçoeiro, que além de
atacar-nos inclementemente,
fazê-o sempre por trás.

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Geralmente, esses ataques de
insegurança nos arremetem ao
lado oposto do que pretendemos,
sempre inquirindo se podemos
conseguir ou não, sempre mos-
trando-nos o contrário, sempre
matando nossas esperanças.
Dúvida significa a exclusão
voluntária dos créditos que de-
vemos a nós mesmos. A ”tinhosa”
nunca permite a livre expressão
dos nossos mais sagrados poten-
ciais; maculando, invariavelmen-
te, todo o sopro de progresso que
alguém deva e possa ter .
Os defensores da esfoliadora
de sonhos dizem ser ela uma for-
ma de realizar com segurança; e
quando você sentiu qualquer
apoio nessa inóspita situação?
Outrossim, lembro-lhes que a dú-
vida se fortalece quando volta-
da contra você, depois volta-se
para os próximos e finalmente,
estende-se interminável e incon-
tinente para o restante do uni-
verso .
Ela não merece confiança,
ela não tem escrúpulos, ela não
tem vida própria, precisando di-
ariamente vampirizá-lo para
suster-se. Ela não merece existir!

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Decida-se: ou ela morre ou
você sucumbe. A quem amas mais,
você ou ela? Morte às
esquartejadoras de verdades,
morte às dúvidas .
Dirão uns poucos
negativistas de plantão que
para sanar o problema da dúvi-
da, há imperiosamente a necessi-
dade da segurança. Descobrimos
então o nosso terceiro inimigo
mortal: a segurança. Essa preva-
ricadora só faz negociar com as
nossas descobertas. A pretexto
de proteger-nos, ela nos tirani-
za ao ponto de transformar-nos
em marionetes ocas e isentas de
vontade, isolados constantemen-
te da razão.
Como haveremos de ter segu-
rança se não conseguimos prever
o que há de acontecer? Jesus ao
saber nas Oliveiras que iria mor-
rer não sentiu-se inseguro? Não
foi ele quem pediu ao Pai que, se
possível, afastasse dele aquele
cálice repleto de fel? Mesmo to-
mado pelas forças da segurança
( convertidas agora em insegu-
rança, sua irmã gêmea ), não en-
frentou ele seus algozes?
Basta! Se esperares certeza

14
para conseguir algo, já morres-
te e não tomas-te ciência ainda.
Abandona a insanidade da paixão
pela certeza e confia pela pri-
meira vez em ti. Custa algo ten-
tar?
A confiança é o antídoto
para essa febre massacrante.
Confia, da mesma forma que um dia
você confiou em seus pais para
cuidarem de você. Observa, o
negativista mais próximo falará:
__ Havia outro jeito? Não há so-
lução a não ser na confiança que
engrandece cada ato, pensamen-
to ou palavra; libere-se dessa
amarra escrota.
Reflita: quantas vezes aban-
donaste os seus potenciais __ da-
dos por Deus __ em troca de uma
segurança desprovida totalmen-
te de felicidade? Em quantos mo-
mentos você afundou na lama da
autocomiseração dizendo: __ Sou
obrigado a fazer isso e aquilo ...
por causa disso e daquilo... se eu
pudesse...
Quando criança você falava:
__ Quando eu crescer ... já forma-
do afirmava: __ quando eu me ca-
sar ... casado diz: __ Ao me aposen-
tar ... pobre coitado a ver a vida

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passar ante seus olhos, moribun-
do de sonhos e órfão de realiza-
ções.
Você se lembra quando usa-
va a sua família como desculpa
para a não progressão? Não era
você aquele que falava cons-
tantemente que tinha esposa e
filhos a sustentar, portanto,
não podia arriscar. Findando a
vida, que legado ficará a seus
filhos. Não serão eles que excla-
marão:__ Papai nos ensinou que
é errado tentar para melhorar,
e mamãe sempre nos disse que
arriscar era ruim.
Tolo é aquele que possuin-
do as armas, morre sem ao menos
utilizá-las. Imbecil é aquele que
em seus instantes finais arre-
pender-se-a de nada ter feito.
O ousado terá seu prêmio se
competente o for; o seguro ob-
terá sua sombra de ostracismo
se covarde for. Há maior desgra-
ça que esta? Que purgatório fará
frente a inferno tão funesto?
Você que é passivo és o próprio
Demônio em forma de covarde.
Isso certamente lhe será
cobrado no juízo final__ se não

16
o for antes __ : o quê fizeste de
tua vida meu filho? Que fim le-
vou os talentos que lhe dei? Fos-
te para a inoperância que o criei?
Deus há de perguntar-lhe isto no
dia-dos-dias.
E o pesar assolará céus e
terra, e os Anjos, que não possu-
em o privilégio da escolha ou do
erro, chorarão por sua alma.
Medo+queixa+culpa+segurança
formam o primeiro dos casulos de
esconderijo em que os seres fur-
tam-se da felicidade .
É hora de parar e pensar,
fazendo com isto, um vasto e
abrangente balanço de sua vida.
Eu não indico caminhos, questio-
no sim a sua falta.
Dar-lhe-ei uma página de
descanso, se valer a pena, após
breve reflexão sobre o que você
deseja ser, continue a sua leitu-
ra ( principalmente, de si mesmo
).

17
Página de descanso: muito útil
para rascunhos, reflexões e
afins.

18
Pit Stop

Para que esse livro não se tor-


ne um misto de chatice e livro de
receitas, resolvi faze-lo de for-
ma interativa, onde você parti-
cipará no enredo da obra sendo
um fator de expansão na idéia
exposta... explicando melhor: as
idéias propostas nessa obra são
sementes, você é um terreno fér-
til, essa atividade o semear; en-
tão, na próxima página haverá
uma proposta para a fertilização
do nosso conhecimento.
Quando crianças todos adorá-
vamos desenhar, era nos ingênu-
os desenhos infantis uma grande
forma de comunicação. Com o tem-
po, conforme fomos aprendendo
que se não completássemos as
expectativas alheias seriamos
más crianças, deixamos de nos
expormos em nossos puros dese-
nhos. Quem não desenhava mara-
vilhosamente foi incentivado a
parar de faze-lo e, com isso, co-
meçamos a fazer apenas o que os
outros gostam.

19
Desde a pré história todos de-
senham porque gostam, mas quan-
do crescemos, só os grandes dese-
nhistas podem desenvolver tal
atividade, mesmo que a vontade
de pegar o papel e o lápis conti-
nue.
Chega de fazer as coisas bem,
faça-as porque são-lhes agradá-
veis. Você não tem que ser admi-
rado pelos seus feitos, devemos
fazer somente o que nos faz bem...
difícil isso, né?!?
Vamos desenhar por prazer?...
Faça isso na próxima página...
pode riscar o livro... ele foi feito
para isso... vamos lá...

20
PÁGINA DE DESENHO PARA O SEU
PRAZER
( espaço reservado para que
você exercite sua espontaneida-
de desenhando algo despretensi-
oso, criativo e verdadeiro. )

21
Gostou de desenhar sem a
obrigação de faze-lo bem? É
bom, não é? Então me faça um
outro favor: escreva num
papel à parte uma carta de
amor. Mesmo que você não
tenha para quem mandá-la,
invente alguém imaginário
ou pense num amor do passa-
do.
Você se lembra que na ado-
lescência o romantismo fa-
zia parte integrante e fun-
damental da sua vida? Você
não sente falta disso?
A vida, por si só, é român-
tica, doce e pura... que tal
sermos um pouco mais român-
ticos para um viver melhor?
Vamos a nossa carta ro-
mântica...

22
Gostou? Te fez bem? En-
tão vamos volta r a
narratória do nosso li-
vro...

23
__ O racional não me deixa
acreditar em minha intuição, eu
sei que os meus sentimentos es-
tão certos, mas quando chega na
razão eu fico inseguro(a). Será
verdade ou não?
Quantas vezes esse tipo de
pensamento o assolou doentia-
mente? Qual o número de
chances que você perdeu
endeusando esse tal racional?
Isso é grave, deveras grave.
Nosso inimigo atual é o raci-
onal, um oponente poderoso e
bem armado com as armas ter-
ríveis da falta de decisão. A
racionalidade nos intimida e
reduz a um monte de
conjecturas, geralmente, in-
frutíferas e estéreis na sua
conclusão .
No que tange aos domínios
bárbaros das complicações men-
tais, somos mestres na constru-
ção das tais, e vassalos na
serviência de suas abominações.
O racional nos quer dependen-
tes e frágeis, como se estivésse-
mos entorpecidos pôr uma dose
c ava l a r d e u m p s i c o t r ó p i c o

24
qualquer, nos causando, via de
regra, uma overdose de discus-
sões internas de continuidade
interminável.
Somos como náufragos nesse
oceano de atribulações infun-
dadas, posto que a razão sempre
impede e barra a ação, levan-
do-nos a crer, existir um medo
hediondo da liberdade; que por
diversas oportunidades nós
também, unimo-nos a ela nesse
espetáculo de destruição do
nosso bem mais fecundo __ nossa
liberdade!
A nossa razão assemelha-se
com uma certa espécie não
aprovável de políticos, que so-
mente faz o quê lhes provem.
Ela __ como eles __ trama às
sombras juntamente com nossas
mais débeis limitações, para que,
subornando e subvertendo nos-
sas estruturas em formação ou
fracas, possa prender-nos num
limbo atormentante de pergun-
tas e respostas internas, sem-
pre no afã da derrota de nossa
ação.
Sei que muitos discordarão
desse meu ponto de vista, “vis-
to”, obviamente, pelos olhos

25
nublados da razão absolutis-
ta e adulterada; cúmplice di-
reta do nosso primeiro inimigo:
o medo.
Lembrem-se: raramente sob
o julgo da razão, arredamos pé
de nossa imobilidade. O corre-
to é que a racionalidade
costumeiramente diz não aos
nossos intentos. Você já notou
isso?
Perguntarão: __ Como pode-
mos viver sem a razão? Pergun-
to-lhe: __ E quem falou em per-
der a razão?
O racional tem função de
gestor do nosso cotidiano, sem
nunca ter a deliberação final
ou o comando geral. Há uma di-
ferença enorme entre
gerenciar e presidenciar. Sen-
do assim, os nossos pequeninos
nasceriam dotados de profun-
do senso racional. Em que fase
um ser humano desenvolve a
sua racionalidade? Ao achar a
resposta, você entenderá o que
digo .
Só quando adultos, sufoca-
mos nas raias da loucura de en-
tregarmos o restinho do nosso

26
arbítrio às mãos profanas des-
sa tirana madrasta (a Dna. Ra-
zão). Imponha às suas faculda-
des a obrigação dela gerir sem
nunca decidir. De que serve o seu
coração? Não é ele seu ponto de
maior confiabilidade?
Um servo maravilhoso ( se
dominado ), um senhor vil ( se
liberado ); esse é o racional, uma
faceta avançadíssima da hipo-
crisia, enfeitado pelo medo e
custeado pelo nosso sofrimen-
to.
Mil pestes nunca impediram
o homem de crescer, mas umas
poucas razões cerceantes fo-
ram suficientes para destruir
milhões de almas. Será que essa
gama de argumentos não o con-
vidam a repensar os seus mol-
des racionais? Torço que sim!
Não abomine a sua capacida-
de de raciocinar, muito menos
acredite ser essa a sua diretriz
básica, há outros instrumentos
a servi-lo na vida, a razão é
apenas um dentre muitos ou-
tros.
Entre os primitivos quase
não existia casos de loucura; se

27
levarmos em conta que a loucu-
ra é a perda da razão, chega-
remos a conclusão que varias
espécies de aborígenes não co-
nheciam a nossa forma de ra-
cional desenfreado. Isso lhe diz
algo?
Creio ser este o melhor ca-
minho para o auto-conhecimen-
to; uma vez crescidos e adultos,
desmontarmos e remodelarmos
nossa realidade a nossa imagem
e semelhança, assim como Deus
fez conosco ao criar-nos.
Sei não ser fácil __ou sim-
ples__ essa tarefa, mas se não
a iniciarmos, como descobrir ser
ela viável?
Uma vez morto esse opositor
deplorável e começarmos a
achar a saída do nosso confor-
tável inferno particular, que
tal investigarmos os Demônios
que habitam essa mansão de
tormentas contínuos?
Para melhor ilustrar o pró-
ximo tópico, transcreverei uma
passagem bíblica, que servirá
não somente de apoio, como de
referencial para nossa mais
nova incursão nesse mar revol-

28
to do nosso interior.
“ Então Jesus foi conduzido
pelo espírito (santo) ao deser-
to, para ser tentado [pelo De-
mônio]. E, tendo jejuado quaren-
ta dias e quarenta noites, de-
pois teve fome. Aproximando-se
(dele) o Tentador, disse-lhe: Se
és filho de Deus, dize que estas
pedras se convertam em pães.
Ele, porém, respondendo-lhe,
disse: Está escrito: “Não Só de
pão vive o Homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de
Deus”. Então o Demônio trans-
portou-o a cidade santa, pô-lo
sobre o pináculo do templo e
disse-lhe: Se és filho de Deus,
lança-te daqui abaixo. Porque
esta escrito: “Porque mandou
aos seus anjos em teu favor, que
te guardem em todos os teus
caminhos. Eles te levarão nas
suas mãos, para que o teu pé não
tropece em alguma pedra”. Je-
sus disse-lhe: Também está es-
crito: “ Não tentarás o Senhor
teu Deus“. De novo o Demônio o
transportou a um monte muito
alto, e lhe mostrou todos os
reinos do mundo e a sua
magnificência, e lhe disse: Tudo
isso te darei, se, prostrado, me

29
adorares . Então Jesus disse-
lhe: Vai-te, Satanás, porque esta
escrito: “ O Senhor teu Deus ado-
rarás e a Ele só servirás “. En-
tão o Demônio deixou-o; e eis que
os Anjos se aproximaram, e o
serviram .”
Jesus enfrentou uma bata-
lha contra o seu Demônio inter-
no e venceu; agora é o momento
de nós também lutarmos pela
nossa liberdade, precisamos
derrotar os nossos delinqüen-
tes internos. Só conseguiremos
isto, fazendo como o próprio
Cristo, indo ao seu encontro e,
verdadeiramente, destruindo
sua influência nefasta em nós .
Para tal, devemos procurá-
los pela sua ordem de importân-
cia. O primeiro que sempre se
manifesta é a sorte. A sorte age
como uma meretriz belíssima, a
dar-lhe eternas esperanças
que nunca se realizarão, salvo
por seu próprio esforço.
Quem não conhece alguém
que passou a vida inteira a es-
perar sua grande chance, e
nunca a obteve? Sorte, real-
mente, somente se a construir
tijolo-a-tijolo, como um caste-

30
lo encantado pela fada da ini-
ciativa.
Você pode aguardá-la paci-
entemente __ ninguém o proibi
disso __ talvez um milagre des-
ses de filme aconteça, mas não
ignore a máxima que diz: “pro-
cura e achará, bata e a porta
se abrirá...”Notou? Para que
exista uma reação e fundamen-
tal uma ação.
Se tudo caísse do céu, obvia-
mente estaria tudo em cima do
telhado, não é? Já não se faz
hora de abandonar essa inér-
cia destrutiva, essa ilusão de
que a sorte invadirá sua casa,
porta a dentro, e o encherá de
graças sem fim?
A espera pela sorte corrom-
pe o espírito audaz, manipula o
senso de iniciativa e desfalece
todas as capacidades. A sorte
deve ser feita, nunca aguarda-
da como uma noiva que virá ao
altar da sua preguiça .
O Homem corajoso não pede,
ele merece. E você, o que espera
para pôr em ação o seu projeto
de vida? Está esperando que al-
guém o principie por você? Ou

31
aguarda o incentivo de uma ou-
tra pessoa? Se for isso, incenti-
vo-o eu:__ Vá e lute!
Existirão aqueles que dirão:
__ E se não der certo? Digo-lhes:
é o máximo que pode acontecer!
Alguém já faleceu de ”não dar
certo”?
Somos poderosos na vontade
e imbatíveis no realizar. Se não
nos rendermos a essas ilusões
melodramáticas de que virá,
algum dia, uma sorte __ sabe-se
lá da onde__, livrando-nos da
miséria exterior, afundando-
nos no pântano da pobreza in-
terior, da pobreza dos inertes,
talvez ainda tenhamos salva-
ção... a isso sim, eu chamo de sor-
te: aquele que descobre a tem-
po onde moram seus erros, e os
expulsa da sua casa da verda-
de.
Acredito que essa capetinha
pode ser domada com facilida-
de, o próximo Íncubo será de
maior dificuldade, mas o prazer
de vencê-lo também é em maior
escala. Nosso duelo será agora
com as fantasias.
A fantasia jamais luta de

32
frente, ela o tenta nas suas
maiores fraquezas; caso ela não
consiga, ela o ilude e o conven-
ce de qualquer coisa que pare-
ça-lhe ser benéfica.
Já de saída, vamos estabele-
cer uma diferença crucial. O
sonho é a ante-sala da reali-
dade, a fantasia é o ponto mais
distante dessa mesma realida-
de. O sonho edifica a futura re-
alização, enquanto nossa mal
fadada em questão, propõe sem-
pre coisas impossíveis de acor-
rer.
Estar imerso num estado
fantasioso é estar num vácuo
infinito de conjecturas sem
solucionabilidade. Fantasiar
nos dá prazer; um prazer falso
que mais tarde tornar-se-á an-
gustia.
Nós precisamos sempre de
uma meta, nossa vida está ba-
seada na procura do cume mais
elevado de tudo. Os fantasistas
__coitados!__, estão a viver uma
vida artificial e ambígua, pare-
cendo robôs ou personagens de
folhetim de segunda ordem.
Mate a fantasia projetan-

33
do o seu futuro, no instante
exato que o sonho começar a
agir, nunca mais iludir-se-á.
Os Homens de visão sempre
foram grandes sonhadores, ar-
risco a dizer que, para ser um
visionário é preciso imensa dose
de sonho. Desafio-o a procurar
na biografia de qualquer per-
sonagem de vulto na história
universal uma única menção
positiva no que se refere as fan-
tasias.
Viver é produzir felicidade,
agir em prol da felicidade, so-
nhar com a felicidade. O gran-
de Homem sufoca suas fantasi-
as porque tem com o que sonhar
e, o medíocre, faz justamente o
contrário, mata o seu sonho
para viver no limbo da fanta-
sia. Qual a sua escolha?
Feita a sua escolha, seguire-
mos a frente indo a caça do
nosso futuro inimigo. Antes da-
rei um breve relato sobre esse
novo Demônio. Alerto-os que ele
é de extrema periculosidade,
pois, não raramente, escraviza
as pessoas, tirando-lhes quase
tudo na vida.

34
Resolvi, subitamente, dar
uma pausa para que pudéssemos
refletir em tudo o que passa-
mos até agora; pense cuidado-
samente e, planeje ardorosa-
mente seus próximos passos, o
que está em risco é o seu futu-
ro. E em breve voltaremos a
análise desse novo adversário.

35
PAGINA DE DESCANÇO nº3
( APROVEITE PARA RABISCAR
ALGUMAS IDÉIAS SUAS NESSA
FOLHA )

36
Passado já todo esse tempo
que estamos aqui a discutir so-
bre os labirintos humanos, tal-
vez seja a hora propícia para
voltarmos a pensar sobre uma
declaração, no mínimo , muito
sábia. Refiro-me a citação que
abre esse livro:

“CONHECE-TE A TI MESMO”

A esta altura, o que você já


descobriu sobre a sua verda-
de? Faça uma lista aqui:
LISTA DE APTIDÕES E TALEN-
TOS DA MINHA VIDA

37
38
Como já dizia, esse oponente
não tem similar; sua ferocida-
de suplanta qualquer
parâmetro que tenhamos vis-
to. Essa fera que veremos ago-
ra é tão devastadora que mui-
tos não sobreviveram a ela.
Ao tratarmos dela é impor-
tantíssimo mantermo-nos
atentos a nossas próprias re-
ações, alertas, impassivel-
mente ao firme propósito de
não retornar à lembranças
doloridas: essa é a sua princi-
pal arma contra essa besta.
Ela nos joga constante-
mente no lodo das lembran-
ças de amores, pessoas e situ-
ações do passado, em que, uma
vez lá, você lamentará e cho-
rará o que não pode mais ser
resgatado.
Quem é esse novo persona-
gem? É claro: a solidão, a mais
brutal perversão dos sofri-
mentos humanos, poucos resis-
tem aos seus potentes golpes.
A radiação de uma bomba
atômica em nada se compara
aos efeitos corrosivos de se
estar só. Uma pessoa assolada

39
por essa aberração, poucas ou
quase nenhuma chance tem
de livrar-se de mergulhar no
vale das lamentações, onde
mora o gnomo do desespero.
Ele vai arrancar-lhe até a
última gota de lágrima que
houver no teu ser, para di-
vertir-se com a falta de amor
próprio que há em ti.
A solidão não pode receber
a sua atenção porque ela vai
enganá-lo pérfida e maldosa-
mente, como fosse você um
coelhinho assustado a espe-
ra do abate inevitável. Igno-
re-a antes que isto ocorra, e
salve-se, amando-se calorosa-
mente.
Nós já sabemos a esta al-
tura que suas vítimas prefe-
ridas são os de pouco ou quase
nenhum amor por si mesmo;
ela (a solidão), se enfronha
nessa cavidade da sua alma, e
como uma lombriga faminta,
destrói todo o seu sistema de
auto-imagem.
O Demônio do estar solitá-
rio nos ilude a tal ponto, que
acreditamos sentir falta até
de quem nos faz mal. Isso é o

40
ápice do patético, um ser hu-
mano reduzido a dejetos por
achar-se em estado de aban-
dono __ e esse é o credo maior
do solitário __, e ver-se sem-
pre em estado de carência
perpétua e incorrigível .
Estar sozinho é uma neces-
sidade nossa em alguns mo-
mentos, o que não podemos
ter, é o medo de nos defron-
tarmos conosco, de conviver-
mos, de falarmos com o nosso
eu interno .
Só é solitário aquele que
não tem a si mesmo, pois, per-
tencendo-se a si mesmo , ado-
rarás conviver no recinto da
sua privacidade e individua-
lidade. Peço-lhes licença
para extrapolar num rom-
pante de expressão chula,
mas , creio, ser a melhor for-
ma de definir o solitário:__ O
solitário é um cagão! Um co-
varde! Um bostinha!
Sabem o porque? Aquele que
se vê o tempo todo sozinho
não reage; culpa a todos por
seu estado de abandono __
nunca a si mesmo __, e mergu-
lha na mais nefanda

41
autocomiseração, temperan-
do, as vezes, com grandes por-
ções de auto-piedade desmedi-
da.
O que impede alguém de
procurar as pessoas? Nada!
Enquanto existirem aqueles
que , com desculpas e razões
tolas, justificarem o imenso
poder da solidão, o mundo es-
tará e continuará infestado
de covardes que não se amam .
“ AMA AO PRÓXIMO COMO A TI
MESMO .” Você conhece o autor
dessa frase? Tenho certeza
que sim. De que vale amar aos
outros se você não se ama
antes? Em nenhum momento
Jesus disse para deixarmos de
nos amar para fazermos isso
com os outros, ou falou e eu
não sei? Se assim ele o disse eu
prefiro não mais acreditar
nele; como eu tenho certeza
de que isso não foi proferido
de seus lábios, eu amo ao meu
próximo da mesma forma que
me amo .
Somente assim essa praga
da alma humana pode ser
vencida... amor, muito amor .
Deixando que o amor se apos-

42
se do seu ser, inevitavelmen-
te, ensinará aos demais que
tudo é e sempre será possível
ao amor .
É solitário aquele que não
tem a si mesmo por companhia;
é duplamente solitário os que
não se conhecem; finalmente,
é triplamente só todo aque-
le que sabe de tudo isso e mes-
mo assim se ilude .
Assim terminamos de pas-
sar pela mais magistral e
fantástica batalha que os
Homens empreendem: a luta
por si mesmo, a batalha da
maior descoberta, a luta de
voltar a se pertencer.
Todos esses Demônios vivem
e se reproduzem no seu inti-
mo com a sua indulgência; é
fundamental desmantelar-
mos esse “dinossáurico” esque-
ma de autopunição, precisa-
mos destruir os nossos infer-
nos. Essa é a grande promes-
sa: __ Um dia o Messias volta-
rá. Sim Ele voltará ... dentro
de você!
Ao ressuscitarmos do nos-
so martírio auto-imposto e,

43
simplesmente descermos de
nossa cruz calvárica, ascen-
deremos ao reino do céu in-
terno e Deus recomeçará a
sorrir com a sua criação.
Eu critiquei tão duramen-
te os vendedores de fórmulas
feitas ( e continuo ), que su-
cumbi a uma pequena tenta-
ção: mostrar-lhes uma recei-
ta que acredito ser-lhes útil.
O compilador dessas próximas
letras foi o poeta Renato
Russo, com a ajuda de 1
Corintios:13 e Luís de Camões e
seu Soneto nº11. Atente ao
texto desta poesia; seu nome
é Monte Castelo, encontra-se
no disco As quatro estações do
conjunto Legião Urbana .

“ Ainda que eu falasse


a língua dos Homens
E falasse a língua dos
anjos,
Sem amor eu nada seria
.

44
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é ver-
dade
O amor é bom, não quer
o mal
Não sente inveja ou se
invaidece .

Amor é fogo que arde


sem se ver
É ferida que dói e não se
sente
É um contentamento
descontente
É dor que desatina sem
doer .
Ainda que eu falasse a
língua dos Homens
E falasse a língua dos
anjos,

45
Sem amor eu nada seria
.
É um não querer mais
que bem querer
É solitário andar por
entre a gente
É um não contentar-se
de contente
É cuidar que se ganha
em se perder .
É um estar-se preso por
vontade
É servir a quem vence, o
vencedor;
É um ter com quem nos
mata lealdade ,
Tão contrário a si é o
mesmo amor .
Estou acordado e todos
dormem, todos dormem,
todos dormem

46
Agora vejo em parte
Mas então veremos
face-a-face .
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é ver-
dade .

Ainda que eu falasse a


língua dos Homens
E falasse a língua dos
anjos,
Sem amor eu nada seria
. “
Renato Russo

47
Abençoada letra que engran-
dece o que é da verdade, é só o
amor que pode parir a verdade
que subsiste em você. Eu sei que
as estruturas vigentes nos es-
timulam a abortá-la, sê-de for-
te, sem amor nós nada seríamos...
é só o amor... e só...
Não vou lhe dizer o que seja
ou deixe de ser; termino como
iniciei, homenageando os envi-
ados da Glória para nos enca-
minhar em nosso próprio cami-
nho. Santos, profetas, filósofos,
artistas, cientistas, bruxos,
eruditos, ignorantes e ilumina-
dos todos eles existiram para
provar que, se eles podem, nós
também podemos... mais que isso:
devemos!
Transcreverei agora, parte
da poesia Amor de Vladimir
Maiakovski, e diz ela:

“ Ressuscita-me
ainda que mais não
seja
porque sou poeta

48
e ansiava o futuro .
Ressuscita-me
Lutando contra as
misérias do cotidi-
ano .
Ressuscita-me por
isso .
Ressuscita-me
quero acabar de
viver o que me cabe,
minha vida
Para que não mais
existam amores
servis .
Ressuscita-me
Para que ninguém
mais tenha
Que sacrificar-se
por uma casa, um
buraco .
Ressuscita-me

49
Para que a partir
de hoje
a família
se transforme
E o pai
seja pelo menos o
universo
E a mãe
seja pelo menos a
terra .”

50
Para isso foi concebida essa
obra, chamá-lo a ressuscitar-se
no seu próprio esplendor de
Homem. Faço minhas as palavras
do poeta russo:__ ressuscita-te
a si mesmo e, seja, sempre, feliz!

Com a minha admiração e cari-


nho,

ROBERTO CALDEIRA

51
“EU SOU O CAMINHO, A VERDADE
E A VIDA”
( de uma das maiores alma
que já existiu )

Não será hora de também


o ser-mos?

52
Ressuscitando de Si Mesmo
não é uma obra de auto-aju-
da, mais que isso, é ele um
chamado aos nossos mais no-
bres sentimemntos de pros-
peridade, felicidade e vitó-
ria do que cada um de nós
têm de melhor: nós mesmos!

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