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DUAS PALAVRAS

Luís Lobo
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Edição, Propriedade, Redacção e Administração


Federação Nacional dos Professores

É necessária uma ruptura com as políticas


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e o estilo de governação!
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Director: Mário Nogueira

Chefe de Redacção: Luís Lobo

E
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Conselho de Redacção: Abel Macedo (SPN), António


Baldaia (SPN), Fernando Vicente (SPRA), Luís Lobo
stá prestes a arrancar o novo ano escolar preços, ao mesmo tempo que se depreciavam
(SPRC), Manuel Grilo (SPGL), Manuel Nobre (SPZS), com uma particularidade. A de que, com os salários, ou de um criterioso e intencional
Nélio de Sousa (SPM)
o início da actividade lectiva em todas as crescimento do desemprego, nomeadamente
Coordenação técnica e apoio à Redacção:
José Paulo Oliveira (jornalista) | jpgo@sapo.pt
escolas, os portugueses estarão a viver, na Administração Pública. Sabem o que são as
sem dúvida, um dos momentos mais mar- políticas de restrição dos direitos contratuais que
Paginação e Grafismo: Tiago Madeira
cantes da política portuguesa do pós-25 de Abril, agravaram as condições de trabalho e agrava-
Revisão: Inês Carvalho e Luís Lobo pois perante a malograda experiência de vários ram a precariedade dos vínculos de emprego, o
Impressão: Rafael, Valente & Mota, S.A. governos de maioria absoluta (PSD, PSD/PP e PS) que é aliás inquestionável no quadro global dos
MULTIPONTO
Tiragem média: 62.000 ex. que se transmutaram em formas “absolutistas” trabalhadores do Estado. Foram criados meca-
Depósito Legal: 3062/88
ICS 109940
de exercer o poder, é nismos de controlo sobre
NIPC: 501646060 para todos claro que uma profissão fracturada,
O “JF” está aberto à colaboração dos professores, os erros do passado só pondo a avaliação do
mesmo quando não solicitada. A Redacção reserva-
-se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicar
poderão ser corrigidos desempenho ao serviço
quaisquer artigos, em função do espaço disponível. com a intervenção di- de uma visão meramente
Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade
dos seus autores. recta da Assembleia economicista da planifi-
da República — espaço cação do trabalho.
Sindicatos membros
da FENPROF de legitimação demo- É, pois, no mundo do
SINDICATO DOS PROFESSORES crática do voto dos trabalho, com particular
DA GRANDE LISBOA portugueses. referência para os tra-
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os Sindicatos serão or- (professores, formadores
ganizações políticas e investigadores) que as
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DO NORTE democráticas essen- alterações das leis labo-
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ciais ao país se não se rais mais acentuaram a
Tel.: 226070500 - Fax: 226070595 escudarem na ambi- sua desvalorização.
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Home page: www.spn.pt guidade e se se assu- Urge, por isso, não
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mirem como garantia perder esta oportunida-
DA REGIÃO CENTRO dos direitos essenciais de de exigência de uma
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3000-250 Coimbra conquistados com a governação democrática,
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Revolução. A FENPROF, A FENPROF, nessa qualidade, não de rigor e de qualidade,
Home page: www.sprc.pt nessa qualidade, não se escusou de intervir neste mo- de forma a devolver ao
SINDICATO DOS PROFESSORES se escusou de intervir mento de centralidade inquestioná- Povo o que ao Povo se
DA ZONA SUL
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neste momento de cen- vel, por entender que é necessária tirou. E é por esta que
7000-868 Évora tralidade inquestioná- uma ruptura com as políticas e com a FENPROF traçou a sua
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Home page: www.spzs.pt vel, por entender que é o estilo de governação. estratégia, materializada
E-mail: spzs.evora@gmail.com necessária uma ruptura nos últimos 4 anos em
SINDICATO DOS PROFESSORES com as políticas e com o estilo de governação. crescentes adesões à luta nas ruas e nos locais de
DA REGIÃO AÇORES
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Os trabalhadores portugueses, em geral, trabalho, corajosamente, mas que agora deverá
9500-310 Ponta Delgada e os professores e educadores, em particular, chegar até ao voto.
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amplitude destas palavras. Eles e as suas famílias que é para todos, num fazer colectivo que nos
SINDICATO DOS PROFESSORES sentiram o agravamento das suas condições de compromete, enquanto indivíduos, com o futuro
DA MADEIRA
Edifício Elias Garcia, R. Elias Garcia, vida, designadamente através do aumento de de todo o País.
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2 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
4 5
A fechar Editorial
SUMÁRIO

“Concurso” a professor-titular Num quadro de esperança, construir


e promulgação do “Simplex” avaliativo o futuro também está nas nossas mãos…

6 12
Carta Reivindicativa dos Professores Educação
Defender a Escola Pública Democrática Partidos com representação parlamentar
é uma tarefa central respondem a inquérito da FENPROF

Alterações ao ECD, aprovadas pelo Governo, só servem


para consolidar algumas das soluções mais negativas
O que a Ministra da Educação afirmou, recentemente, a propósito
das alterações ao Estatuto da Carreira Docente (ECD) aprovadas em
Conselho de Ministros, serve, sobretudo, para disfarçar a realidade:
não houve, de facto, revisão do ECD; não teve lugar, na verdade,
qualquer processo negocial. Apenas se realizaram algumas reuniões,
em que o ME informou os Sindicatos sobre o que pretendia retocar
no ECD e... retocou!

Exemplos: que necessárias nas escolas, ditará um


• Foi dito que a duração dos três primei- salário mensal que poderá atingir os 800
ros escalões da carreira seriam reduzidos, euros de diferença;
cada um, em um ano; não se disse que a • Foi dito que os professores poderiam
partir do 5.º escalão (sensivelmente a meio fazer a prova de acesso a professor-titular
da carreira) a esmagadora maioria dos do- mais cedo do que antes se previa; não se
centes está impedida de progredir; disse que isso de pouco vale, pois não ha-
• Foi dito que a duração do 5.º escalão vendo concurso (e este Governo já informou
era reduzida em dois anos (de 4 para 2); não que não o abrirá) não há acesso a essa
se disse que, para a esmagadora maioria categoria, nem sequer aos novos escalões
dos docentes, isso é indiferente, pois não da categoria de professor;
passará desse escalão; • Foi dito que no topo da categoria de sentido de ser aprovado um ECD que valorize
• Foi dito que eram criados dois novos professor-titular haverá um novo escalão; e dignifique a profissão e os profissionais
escalões no topo da categoria de professor; não se disse que as regras de acesso a esse docentes.
não se disse que o acesso a esses escalões escalão são tão fechadas que mesmo entre Estamos, pois, perante alterações que
não depende do mérito revelado pelos os professores titulares será residual o nú- servem, essencialmente, para enganar quem
docentes no seu desempenho, ou da sua mero dos que a ele acederão. estiver muito distraído e não se aperceba
aprovação em prova de acesso a professor- Por estas razões, as alterações aprova- que esta é uma estratégia de consolidação
-titular, mas da autorização do Ministério das pelo Governo não mereceram o acordo do chamado “ECD do ME” e dos princípios
das Finanças para que se abra o concurso da FENPROF. São alterações que visam con- em que assenta.
àquela categoria superior; solidar as piores soluções que o ME impôs É de recordar, contudo, que em relação a
• Foi dito que os professores que não no âmbito da carreira docente: a divisão um dos seus aspectos mais negativos - a ca-
obtiverem vaga em concurso a professor- em categorias, a espúria prova de ingresso tegorização dos professores -, com excepção
-titular progredirão aos, agora criados, 6.º na profissão, o desqualificado modelo de do PS, já todos os partidos políticos assumiram
e 7.º escalões da categoria inferior; não se avaliação e as suas quotas, só para dar o compromisso de eliminar essa repugnante
disse que esses docentes revelaram, não alguns exemplos... divisão, o que reforça a confiança dos docen-
apenas no seu desempenho, mas em prova Para a FENPROF e os professores, o im- tes em conseguirem, em breve, alcançar esse
a que se submeteram, o mesmo ou mérito portante será mesmo continuar a combater importante objectivo da sua luta.
superior ao dos que acederão a professor- este estatuto e colocar como prioridade, ao O Secretariado Nacional da FENPROF
-titular. Só a não abertura de vagas, ainda próximo Governo, a sua efectiva revisão, no 5/08/2009

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 3


A FECHAR

“Concurso” a professor-titular e promulgação


do “Simplex” avaliativo: FENPROF toma posição

O
Perto do fecho desta Ministério da Educação não tem medidas A concluir, a tomada de posição sindical re-
concretas e positivas para apresentar aos feria: “Sabe-se já, porque tornaram pública essa
edição, em pleno professores em período de campanha elei- posição, que CDS-PP, PSD, PEV, PCP e BE assu-
mês de Agosto, toral. Como tal, procura criar expectativas miram o compromisso de acabar com a fractura
o Secretariado que nunca passarão disso mesmo, para introduzida na carreira docente. Sendo apenas o
Nacional da fazer crer que está a corrigir distorções que impôs PS a defender a existência de categorias hierarqui-
à carreira docente... mas não está! Nesse sentido, zadas na carreira dos professores, tudo indica que,
FENPROF divulgou ordenou aos directores das escolas e agrupamen- brevemente, estas deixarão de existir. Quando tal
tomadas de posição tos que informassem os docentes que se encontra acontecer, estaremos perante uma extraordinária
sobre o “concurso” disponível, no site da direcção geral responsável vitória dos professores que muito têm lutado
pelos aspectos burocráticos, o formulário de can- contra essa injusta e inaceitável divisão”.
a professor-titular didatura e upload do trabalho para apresentação
e a promulgação do da prova de acesso a professor-titular, destacava Promulgação não surpreende...
“Simplex” avaliativo a nota de imprensa divulgada pela FENPROF no
“A promulgação, pelo Presidente da República,
pelo Presidente passado dia 18 de Agosto.
do decreto que prolonga a aplicação do modelo
Referindo “desde logo” que “é uma vergonha
da República. que o ME torne pública esta informação em pleno “simplex” de avaliação não surpreende”, comentava
Aqui deixamos à período de férias dos professores e educadores”, o a Direcção da FENPROF em comunicado divulgado
apreciação dos Secretariado Nacional da FENPROF sublinhava: “É no passado dia 19 de Agosto.
necessário perceber que, ainda que fosse possível “É de recordar que o Presidente da República
nossos leitores as os professores submeterem-se a tal prova, ela de já havia promulgado este mesmo modelo simplifi-
passagens mais nada serviria, pois não abrirá qualquer concurso para cado quando, pela primeira vez, o Governo decidiu
significativas acesso à categoria de professor titular, única forma aplicá-lo; promulgou o próprio regime completo de
avaliação que, como se sabe, nunca conseguiu ser
desses recentes de aceder à mesma. Recorda-se que responsáveis do
aplicado; mas, mais grave do que tudo isso, o Presi-
ME tinham anunciado a realização de um concurso
comunicados da extraordinário, ainda durante a actual Legislatura, dente da República promulgou o execrável estatuto
FENPROF. mas, confirma-se agora, não falavam verdade”. da carreira docente que dividiu os professores em
“Para os professores será completamente indi- profissionais de primeira e de segunda, entre outros
ferente que se realizem, ou não, provas de acesso atentados à sua dignidade profissional”, esclarece
a professor titular, pois sabem que, independen- a nota da FENPROF, que acrescenta:
temente do resultado que nelas obtiverem, o que “Não é esta promulgação que confere quali-
contará será a existência de concurso, sabendo-se, dade ao “simplex” avaliativo ou o coloca acima
à partida, que o mesmo deixará de fora a esmaga- de qualquer suspeita no que concerne a eventuais
dora maioria dos docentes, pois será o Ministério ilegalidades ou mesmo inconstitucionalidades que
das Finanças a autorizar a abertura desse concurso poderá conter. Recorda-se que o próprio Gabi-
que, no mínimo, impedirá 2/3 dos professores de nete do Primeiro-Ministro admitiu a existência
chegarem ao topo da carreira”, menciona a nota de “diferenças” ou “discrepâncias” entre este
que a FENPROF divulgou à comuni- regime simplificado, argumentando, contudo,
cação social, e na qual se pode que se tratava de um regime transitório que se
ler ainda: aplicaria apenas uma vez, o que, com esta pror-
“Perante este quadro, bem rogação, deixou de ser verdade. No que respeita
pode o ME desdobrar-se em à constitucionalidade o Tribunal Constitucional,
iniciativas e informações que, simplesmente, decidiu não se pronunciar”.
pensará, irão enganar os pro- “Não é esta promulgação que fará com que
fessores em vésperas de elei- os professores, com a FENPROF, deixem de lutar
ções. Não o conseguirá, pois os contra este regime de avaliação e retomem a luta
professores reservarão as suas já a partir de Setembro, independentemente de
forças para o que é mais se aplicar na totalidade ou apenas parcialmente.
importante: eliminar esta Isto independentemente da opinião do Senhor
inaceitável divisão Presidente da República e da sua identificação
dos docentes em com as políticas educativas de um Governo que
professores de colocou, sempre, os professores e educadores no
primeira e de centro dos seus ataques mais violentos”, conclui
segunda!” o comunicado.

SETEMBRO 2009
EDITORIAL
Mário Nogueira (Secretário-Geral da FENPROF)

Num quadro de esperança, construir


o futuro também está nas nossas mãos…

A
proxima-se uma nova Legislatura, pelo que o legitimamente, representa as condições para reflectir e
tempo futuro não pode deixar de ser de espe- decidir conscientemente o sentido do seu voto.
rança… Um futuro, contudo, que, por termos os Com esse objectivo, elaborou este número do Jornal
pés assentes na terra, sabemos que não cairá do da FENPROF que será profusamente divulgado e se esgota
céu… será necessário que façamos por ele. em apenas dois assuntos:
De facto, e isso já todos aprendemos, ficar sentado à • Divulgação da Carta Reivindicativa dos Professores
espera que as coisas se resolvam ou sejam determinadas e Educadores Portugueses, que contém as propostas
pela vontade dos outros não é solução. Teremos de intervir que a FENPROF apresentou a todos os partidos, como
e de, com o nosso contributo, ajudar a decidir, não nos prioritárias, para a próxima Legislatura, surgindo, à
abstendo de participar num momento tão importante cabeça, a substituição do “ECD do ME”. Será, também,
como aquele que determinará quem serão os políticos este o primeiro documento a colocar em cima da mesa
que nos governarão e quais as suas políticas para os das negociações logo que tome posse a próxima equipa
próximos quatro anos. governativa para a Educação;
Da Legislatura que agora termina, ficamos com uma • Respostas dos partidos políticos com representa-
pesada e má herança de que teremos de nos desfazer: o ção parlamentar a um conjunto de perguntas que lhes
código de trabalho que tornou o emprego mais precário; foi colocado. Perguntas que pretendemos que fossem
o desemprego que já atinge mais de meio milhão de directas para merecerem respostas objectivas e, assim,
pessoas; no âmbito da Administração Pública, o SIA- permitissem compreender as suas posições e compromis-
DAP, o PRACE, a aplicação da mobilidade especial e a sos em relação a aspectos concretos que correspondem
aposentação aos 65 anos; o salário que, realmente, se a problemas que se pretendem ver resolvidos.
desvalorizou; o estatuto da carreira docente imposto Todos os partidos políticos responderam, o que per-
pelo ME e ratificado pela maioria absoluta, que veio di- mite que conheçamos as medidas que se propõem tomar
vidir os professores e dificultar ou impedir a progressão para que a Educação possa, finalmente, sair da crise em
na carreira; o desqualificado modelo de avaliação que que mergulhou, por acção de sucessivos governos e em
foi, entretanto, mantido em vigor; as regras de concurso consequência das suas políticas, e para que a Profissão
que resvalam cada vez mais para a discricionariedade; a de Professor seja, como merece, devidamente dignificada
gestão das escolas hoje submetida a interesses quantas e valorizada.
vezes alheios aos da Educação; o enxovalho e apouca- Aos professores e educadores é, assim, dada a possi-
mento dos docentes, assumidos por governantes que, em bilidade de conhecerem o que pensam e querem diversas
muitos momentos, mentiram, para além de ameaçarem, e diferentes forças partidárias, para a Educação, antes de
insultarem, denegrirem e injuriarem os professores e edu- decidirem a qual delas irão confiar o seu voto. Um voto
cadores, sempre na tentativa – felizmente frustrada – de que, num quadro que se antevê de maioria relativa, ganha
os desvalorizarem aos olhos da sociedade… maior importância, pois as coisas deixarão de ser deci-
Quatro duríssimos anos passados, será tempo de os didas apenas por quem governa, ganhando importância
professores e educadores avaliarem, com o seu voto, as e tendo consequência as iniciativas parlamentares que,
políticas desenvolvidas e aquelas que são propostas, o que nestes quatro anos, foram simplesmente esmagadas.
obriga, em relação ao futuro, a conhecer os compromissos A FENPROF assumiu as suas responsabilidades neste
que assumem os que se apresentam às eleições legislati- momento que é importante para a vida nacional pela
vas. A FENPROF, assumindo as responsabilidades próprias forma como irá influenciar o futuro. Cabe agora, a cada
da maior e mais representativa organização sindical de um de nós, assumir a sua responsabilidade individual e
docentes, tomou a iniciativa de proporcionar a quem, dar o seu indispensável contributo.

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 5


Carta Reivindicativa

6 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES

dos/as Professores/as e Educadores/as


A Federação Nacional dos Professores – FENPROF sempre projectou a sua acção e reflexão para a
construção de uma sociedade mais justa e democrática, de que a Escola Pública é um dos seus mais
importantes pilares. Defender uma Escola Pública Democrática é, pois, uma das suas tarefas centrais,
tendo em conta que, por essa via, contribui para o bem-estar da população e para o desenvolvimento
dos níveis de escolarização, qualificação e de sucesso escolar e educativo dos/as portugueses/as.

P
ara a FENPROF, uma inversão do 9.º Congresso Nacional dos Professores, Da mesma forma, a garantia de respeito
rumo da actual política educativa Lisboa, 2007). pelos direitos sindicais, importante conquis-
passa por uma profunda alteração Em ano eleitoral, em que os partidos ta democrática de todos os trabalhadores,
das opções que este governo fez em políticos assumem compromissos de gover- deverá ser garantido desde logo. Desta
relação ao estatuto sócio-profissio- nação ou que se destinam a influenciá-la, é forma, estará dado o sinal para um rela-
nal dos/as docentes, designadamente em com acrescida expectativa que os profes- cionamento diferente com os professores,
matérias fundamentais como a estabilidade sores aguardam conhecer as propostas que capaz de os ganhar, com vista a uma maior
profissional e direito ao emprego, con- estes têm para apresentar, sendo que, como e melhor envolvimento na construção das
cursos e colocações, horários de trabalho é natural, não podem deixar de apresentar mudanças que se impõem e urgem.
e regime de faltas e licenças, formação o seu “caderno reivindicativo” que a seguir Será impossível pensar o futuro educati-
inicial, contínua e especializada, conteúdo se apresenta. vo do país se não se concretizar uma mudan-
funcional da profissão e a própria carreira, Sendo necessário voltar a ganhar os ça política significativa que estabeleça uma
incluindo a sua estruturação. Assume uma professores e educadores, depois de 4 anos ruptura com o passado recente, que avalie
particular relevância neste contexto a terríveis em que estes foram, como nunca, as insuficiências que permanecem, fruto de
distorção introduzida através de um caó- injustiçados, desvalorizados e, mesmo, políticas antigas e de erros de carácter es-
tico e burocrático modelo de avaliação do injuriados, o sinal será dado se, logo de trutural, ou que, entretanto, surgiram, fruto
desempenho que visa exercer um controlo início, o futuro governo se comprometer a da política desenvolvida na actual legislatura
externo e funcionarizador sobre a profis- rever os Estatutos de Carreira, sendo que e que a FENPROF denuncia no Livro Negro
são docente, limitando a sua autonomia no caso do ensino superior tal implicará das Políticas Educativas do XVII Governo
e ferindo o seu exercício livre e criativo. a revisão do processo transitório imposto Constitucional (2005 – 2009).
É neste quadro que a Carta Reivindicativa pelo MCTES. É necessário que se inicie o indispen-
dos Professores e Educadores Portugueses sável percurso de correcção e alteração de
assume um papel fundamental, porque situações negativas, através da promoção
clarifica e coloca no plano do conhecimento dos indispensáveis processos negociais, per-
público as suas exigências e constitui um mitindo que se encontrem soluções justas,
documento orientador da sua intervenção adequadas e exequíveis para o sistema edu-
político-sindical. cativo português e que resolvam, também,
Será impossível pensar o
No plano global e de defesa dos direi- problemas que foram criados ao longo da
futuro educativo do país
tos dos cidadãos residentes em Portugal, se não se concretizar uma Legislatura e que, em muitos casos, levaram
no âmbito da Educação e do Ensino, “A mudança política significativa a que os docentes tivessem sido obrigados
FENPROF empenhar-se-á no combate ao que estabeleça uma ruptura a recorrer aos tribunais.
insucesso e abandono escolar e de uma com o passado recente, que Assim, a FENPROF, interpretando o pen-
forma geral lutará pela democratização avalie as insuficiências que samento e a vontade dos/as educadores/as e
da Escola Pública. Defenderá o incremento permanecem, fruto de políticas professores/as portugueses/as, reivindica:
de medidas que promovam a real inclusão antigas e de erros de carácter
e o acesso de todos à sociedade do co- estrutural No campo dos recursos humanos
nhecimento, independentemente da sua
proveniência social ou das necessidades • A revisão profunda do Decreto-Lei
especiais que apresentem. Lutará por uma n.º 15/2007, Estatuto da Carreira Docente,
escola em que se respeite a diferença e o que passa pela supressão da fractura da
em que todos possam ser considerados em carreira em duas categorias, pela substitui-
função das suas necessidades específicas.” ção do modelo de avaliação do desempenho
Lutará para que “a Escola contribua para dos docentes, pela extinção da prova de
eliminar a exclusão, focos de delinquência, ingresso na profissão e pela contagem in-
o racismo e a xenofobia, garantindo uma tegral do tempo de serviço, bem como por
verdadeira democratização do ensino” uma regulamentação do horário de trabalho
(Resolução sobre Acção Reivindicativa do pedagógica e cientificamente correcta e

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 7


por condições particulares que respondam avaliação do desempenho, inadequado, na profissão, factor importante para a
à especificidade da profissão docente, burocrático, injusto e dirigido ao controlo qualidade pedagógica da actividade dos
designadamente quanto às condições de administrativo do exercício profissional professores e educadores;
aposentação. Esta concretização deverá docente e ao controlo sobre a progressão • A abertura de um amplo debate con-
traduzir-se pela aprovação de um novo na carreira dos professores e educadores, ducente à melhoria da formação inicial dos
estatuto da carreira docente que valorize e a sua substituição por outro, científica docentes e a uma profunda reformulação da
efectivamente a profissão e garanta as e pedagogicamente correcto, dirigido ao formação contínua, que responda à dupla
condições de trabalho e de exercício da desempenho profissional, promotor de boas necessidade de melhoria da qualidade da
profissão que contribuam para o melhor práticas e aferidor das insuficiências do sis- escola pública e do desempenho profissio-
desempenho profissional e para a obten- tema educativo, com vista à sua correcção e nal docente, no respeito pela autonomia
ção dos melhores resultados educativos e à melhoria das condições de aprendizagem da profissão e dirigida para responder às
formativos dos alunos; e de exercício da profissão docente; necessidades do docente, da escola e do
• A revogação do modelo em vigor de • A alteração do actual quadro legal sistema educativo. Impõe-se, por outro
de concursos e coloca- lado, uma aposta determinada do governo
ções de professores para na criação de condições para a formação
devolver, aos docentes especializada de docentes para as diversas
e às escolas, uma esta- funções educativas presentes na escola pú-
bilidade profissional que blica, designadamente, para o trabalho com
assente na definição das alunos com necessidades educativas espe-
suas necessidades reais, ciais, num contexto de escola inclusiva;
nas quais terão de ser • A revisão do processo de transição
incluídas as decorrentes consagrado nos textos de ECDU e ECPDESP
das novas ofertas curri- designadamente quanto aos leitores e a
culares, em matéria de milhares de docentes do ensino superior
recursos humanos, de- politécnico a exercer funções permanentes
signadamente de pessoal em regime de dedicação exclusiva ou em
docente. Uma mudança tempo integral, de forma a ser consagrada
que passa por: uma efectiva e necessária estabilidade de
- abertura de novo emprego e a serem combatidos os elevados
concurso externo e in- níveis de precariedade que colocam ainda em
terno para o ano lectivo risco profissional milhares de docentes;
de 2010/2011 que corrija • A efectivação sem mais atrasos do
a grave situação que foi desbloqueamento das progressões nos es-
criada com os desas- calões das categorias e a concretização de
trosos resultados das uma regulação da avaliação do desempenho
colocações dos recentes a ser respeitada por todas as instituições,
concursos, de onde se destaca o ingresso combatendo, dessa forma, riscos de arbi-
de menos de 400 docentes em lugares de trariedades e de clientelismos;
quadro e um comprometedor crescendo • A negociação com o MCTES do diplo-
O sinal será dado se, logo da instabilidade profissional e pessoal de ma previsto no RJIES (Lei nº 62/2007) que
de início, o futuro governo milhares de professores e educadores; regule a situação contratual e a carreira
se comprometer a rever - recolocar na esfera da administração dos docentes do ensino superior particular
os Estatutos de Carreira, central de todo o processo de concurso, se- e cooperativo, com vista à consolidação em
sendo que no caso do ensino lecção e recrutamento do pessoal docente todas as instituições de corpos docentes
superior tal implicará a revisão que não pode estar mais sujeito a novos próprios, estáveis, adequadamente qualifi-
do processo transitório crivos de validação profissional, subjacente cados e com o direito a uma carreira;
imposto pelo MCTES a uma lógica pulverizadora, pelas escolas, • A concretização do princípio da
do processo de selecção; paridade, estabelecido no artigo 18º da
- corrigir o caminho de arbitrariedades Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar (Lei nº
e injustiças que tem vindo a ser traçado, 5/97, de 10 de Fevereiro), que se traduz na
quer no que se refere à pretensão de usar as progressiva equiparação do estatuto socio
classificações da avaliação do desempenho -profissional dos educadores da rede priva-
para aquele efeito, quer quanto à entrega da da (Ensino Particular e Cooperativo, IPSS’s e
definição de critérios de selecção de pes- Misericórdias) aos colegas do público;
soal às escolas, a pretexto de um exercício • O reconhecimento efectivo do tempo
de alegada autonomia, quer ainda quanto de serviço prestado por educadores de
ao próprio funcionamento da recém-criada infância em creches e ATL, por decisão das
“bolsa de recrutamento”; direcções das instituições a que se encon-
- aprovar um regime de vinculação que tram vinculados, para todos os efeitos de
crie condições de estabilidade do corpo carreira profissional e concursos;
docente e reduza a precariedade existente • A eliminação da desregulação laboral

8 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
e o fim dos recibos verdes, ilegais e incom- de credibilização destes modelos; corrigível avulso como se não se tratasse
patíveis com a função docente, que afectam • Conduzir as entidades promotoras à de uma Lei Quadro;
muito negativamente os docentes e for- promoção, acompanhamento e monitori- • A aprovação de uma lei de finan-
madores das escolas profissionais privadas, zação assíduas e rigorosas dos processos ciamento da Educação Pré-Escolar e dos
o que passa pela negociação e aprovação RVCC, de modo a garantir-se a uniformidade Ensinos Básico e Secundário, que permita
de um Contrato Colectivo de Trabalho que de critérios na sua implementação; clarificar critérios, competências e demais
regulamente, entre outros aspectos de • Garantir, através dos processos de regras de financiamento público desta im-
âmbito sócio-profissional, regras relativas RVCC, que à certificação dos adultos cor- portante vertente do sistema educativo;
a horários de trabalho adequados, a orga- responde uma efectiva qualificação • A assunção pelos partidos políticos das
nização, de forma equilibrada, das diversas • Avaliar, de forma contínua, a imple- medidas que irão adoptar para garantir a
componentes das funções docentes, tabelas mentação dos processos RVCC com base passagem da escolaridade básica, universal,
salariais dignas e as condições de progressão em resultados alicerçados em valores sig- obrigatória e gratuita, para doze anos e até
na carreira. Só assim será possível criar reais nificativos de qualificação, como forma de aos 18 anos de idade, que criem as condições
condições para a estabilidade profissional de regulação da qualidade destes modelos. e derrubem as barreiras que impedem uma
docentes e formadores que têm sido o ga- • A revisão justa e adequada dos salários efectiva frequência, de qualidade e geradora
rante desta resposta educativa e formativa dos trabalhadores da administração pública de expectativas positivas na população
ao longo de 20 anos; e a recuperação do tempo de serviço supri- quanto ao papel da escola, não só no desen-
• O respeito pela opinião dos educadores mido entre 29 de Agosto de 2005 e 31 de volvimento do país, mas, particularmente,
e professores, expressa, designadamente, Dezembro de 2007;    na melhoria das condições de vida das
pelas suas organizações sin-
dicais, na definição de polí-
ticas educativas e na tomada
de medidas de natureza pe-
dagógica ou organizacional,
porque eles são quem, no
terreno, as concretizam: A FENPROF reivindica a
• O reconhecimento do eliminação da desregulação
direito de negociação e a sua laboral e o fim dos
efectivação, relativamente a recibos verdes, ilegais e
todos os aspectos que digam incompatíveis com a função
respeito aos professores e ao docente, que afectam muito
sistema educativo.. negativamente os docentes
    e formadores das escolas
 No quadro profissionais privadas
da intervenção geral
dos trabalhadores

• A revisão das maté-


• O respeito e consolidação dos direitos famílias. Tais medidas exigem, entre outros
rias mais gravosas do Código de Trabalho,
de exercício da actividade sindical, quer dos aspectos, o reforço efectivo da acção social
bem como dos novos regimes de vínculos,
trabalhadores em geral, quer das organiza- escolar, o financiamento de projectos edu-
carreiras e remunerações e de contrato de
ções sindicais e dos seus corpos dirigentes; cativos específicos, criados para promover
trabalho em funções públicas na área da
• A melhoria das condições de vida da o sucesso e combater o abandono escolar,
administração pública, que constituem, sem
população portuguesa, designadamente a construção de mais escolas e a melhoria
dúvida, uma das mais poderosas armas do
através da melhoria dos salários e pensões, das condições em que nelas se trabalha,
neoliberalismo no que esta concepção da
da subida do salário mínimo nacional e do ou o reforço dos recursos humanos, tanto
sociedade tem de mais grave ao nível da
combate ao desajustamento dos preços no docentes, como não docentes;
fragilização da relação jurídica de emprego
consumidor, incompatível com o cada vez • A abertura de um amplo debate, sob
e dos vínculos de emprego para o traba-
menor número de portugueses que benefi- forma de consulta pública, conduzido pela
lhador;
ciam da imoralidade de fortunas crescentes Assembleia da República, privilegiando a
• A efectiva implementação de um sistema
à custa dos rendimentos dos que mais pa- participação dos docentes, sobre forma-
de promoção e acompanhamento das várias
decem socialmente. ção inicial e contínua, designadamente a
ofertas educativas que possibilite avaliar as
formação de docentes generalistas para os
dificuldades, corrigir estratégias, verificar os
No âmbito do sistema educativo primeiros seis anos de escolaridade. Reco-
resultados, no sentido de ser conferida inegá-
nhecendo debilidades no sistema de forma-
vel qualidade a todo o sistema de educação e
• A necessária e indispensável inversão ção inicial de professores, o governo deverá
formação de segunda oportunidade.
de uma linha de revisão a retalho da actual comprometer-se com o estabelecimento
• O acompanhamento crítico do desen-
Lei de Bases do Sistema Educativo nunca de um sistema permanente de validação
volvimento do Programa Novas Oportuni-
olhada por este governo como quadro de e controlo das formações. Por outro lado,
dades, no sentido de:
referência para as orientações políticas que deve ser restituída à formação contínua
• Implementar os Referenciais de Com-
entendeu desenvolver e, como tal, muitas a sua importante vertente reflexiva sobre
petências com rigor e exigência como forma
vezes adulterada, ignorada, adaptada e o próprio desempenho profissional, numa

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 9


ção mais bem qualificada e
simultaneamente apetrechar
os alunos com vista a uma
frequência bem sucedida no
ensino superior. A reorganiza-
ção de diversas vias de ensino
deverá passar pela dignificação
dos cursos para a vida activa,
das vias técnicas, tecnológicas
e profissionalizantes, nomea-
damente quanto à possibilida-
de real do prosseguimento de
estudos;
• A redefinição das políticas
de educação especial e de apoios
educativos, compatíveis e inte-
gradas na organização escolar,
de modo a que as crianças e os
jovens, em particular os alunos
com necessidades educativas
especiais, tenham os apoios
pedagógicos e/ou os serviços de
perspectiva de melhoria da qualidade da que necessitam ao longo do seu percurso
escola pública e de valorização e aperfeiço- escolar, respeitando a inserção destes
amento do exercício profissional docente e alunos nas suas comunidades. Tal exige a
de reconhecimento da sua autonomia; A FENPROF reivindica a revogação do Decreto-Lei nº 3/2008, de
• A universalização da educação universalização da educação 7 de Janeiro, e a sua substituição por um
pré-escolar, concretizada até 2013 com pré-escolar, concretizada até novo Regime Jurídico de Educação Especial
a obrigatoriedade de frequência no ano 2013 com a obrigatoriedade orientado para a construção de uma escola
imediatamente anterior ao ingresso no 1.º de frequência no ano verdadeiramente inclusiva, que responda às
CEB e a generalização para as crianças de 3 imediatamente anterior necessidades específicas e gerais de todos
e 4 anos, garantida através de uma efectiva ao ingresso no 1.º CEB e os alunos. Esta resposta de qualidade não
a generalização para as se compagina com a manutenção da CIF
expansão da rede pública, de modo a que
crianças de 3 e 4 anos,
Portugal se aproxime, inequivocamente, como instrumento exclusivo para a de-
garantida através de uma
dos níveis mais elevados da União Euro- terminação das necessidades educativas
efectiva expansão da rede
peia. Para esse efeito deverá ser definido e pública especiais, pois, a ser assim, milhares de
concretizado um plano estratégico que es- alunos serão excluídos de terem acesso às
tabeleça as formas de concretização de um medidas adequadas;
apoio mais efectivo à sua função educativa • A transição para um único sistema
e um combate prioritário às necessidades de ensino superior integrado e diversifi-
educativas específicas resultantes de situa- cado, com respeito pela autonomia e pela
ções de desvantagem e exclusão social; dignidade de todas as instituições, e que
• Uma reflexão ampla e participada seja capaz de responder às necessidades da
sobre: elevação da qualificação dos portugueses,
- O ensino básico, desde a reforma cur- aproximando-a da média da União Euro-
ricular ao modelo de avaliação dos alunos peia, como forma de conferir ao sistema
passando pelas condições de trabalho nas de ensino um papel determinante no de-
escolas, visando o sucesso educativo dos senvolvimento do país;
alunos e o combate eficaz ao abandono • Um financiamento do ensino supe-
escolar precoce. Esta reorganização deverá rior que permita a extinção/redução das
implicar uma reorganização curricular despesas das famílias com as propinas,
que contribua para a sequencialidade e não a sua fixação em custos cada vez
das aprendizagens e a sua gradação har- mais altos, e o aumento do investimento
moniosa, mas, ao mesmo tempo, seja a por aluno ao nível da média dos países da
garantia de cumprimento absoluto de toda OCDE. Ao mesmo tempo, o financiamento
a escolaridade; do ensino superior deverá suportar uma
- A estruturação curricular do ensino acção social escolar capaz que fomente
secundário e respectivo modelo de avalia- a frequência do ensino superior e não o
ção dos alunos, bem como acerca da sua seu abandono;
organização, objectivos e funcionamento, • A alteração do RJIES (Lei nº 62/2007)
de modo a dotar o país de uma popula- por forma a garantir que todas as ins-

10 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
tituições públicas de ensino superior se estabelecimentos de ensino especializado com as crianças, prolongando-a em cerca
manterão no regime de direito público e a e o financiamento adequado das escolas de mais 30 dias, inviabilizando a necessá-
aprovação de medidas com vista à agiliza- privadas sempre que a oferta pública não ria articulação com o 1º CEB prevista na
ção e desburocratização da gestão pública, se verifique; legislação e impedindo a participação dos
sem prejuízo da observância dos princípios • O combate a todas as manifestações educadores de infância em idênticos espa-
da responsabilidade social e da prestação de sexismo ou de qualquer discriminação ços discussão, avaliação e reflexão de que
de contas; de género, através de uma efectiva política dispõem os restantes docentes de outros
• A atribuição às instituições públicas de promoção da igualdade e através da sectores de educação;
de ensino superior da compensação relativa consagração de uma efectiva educação para • O reforço do corpo de trabalhadores
à obrigação imposta nos últimos anos do a sexualidade. não docentes das Escolas/Jardins de in-
pagamento à Caixa Geral de Aposentações • Defesa dos direitos de maternidade e fância, nomeadamente de técnicos espe-
de 11% da massa salarial daqueles que paternidade, ao mesmo tempo que se exige cializados e auxiliares de acção educativa,
descontam para essa entidade; que sejam efectivadas a fiscalização e as de acordo com as suas necessidades reais,
• A reorganização da rede escolar no penas sempre que estes são violados; por serem factor indispensável à seguran-
respeito pelas cartas educativas aprovadas • A premente necessidade de fiscaliza- ça dos alunos e ao bom funcionamento
nos municípios e homologadas pelo ME, ção por parte do Estado às IPSS’s e Miseri- dos estabelecimentos de educação e de
designadamente através da disponibilização córdias no âmbito do financiamento público ensino. Existência de um plano nacional
de financiamento adequado à adaptação, que estes usufruem; de formação contínua profissional destes
requalificação ou construção de novas es- • O respeito pelo carácter supletivo do trabalhadores, de forma a fazer face às
colas do 1.º ciclo, as quais poderão integrar, ensino privado, designadamente através da exigências educativas que se lhes colo-
designadamente, equipamentos públicos revisão dos contratos de associação com as cam;
de elevado interesse educativo e cultural, instituições do ensino privado, sempre que • A definição de estratégias e de meios
de forma a que estejam salvaguardadas os mesmos não se justifiquem e o ensino para que, quanto às escolas e jardins de
preocupações no plano pedagógico mas público reunir as condições de oferta para as infância, haja o compromisso de não alar-
também sócio-educativo, bem como de populações. Não podendo ser estigmatizado gar o seu horário de funcionamento, mas
reforço de recursos humanos, financeiros e no quadro global do sistema de educação e sim de serem promovidas iniciativas de
pedagógico-didácticos; ensino, a sua intervenção e a sua resposta integração comunitária, as quais deverão
• A c ons agr aç ão de uma Ac ç ão educativa e formativa não deve, contudo, ir passar pela construção integrada de edifí-
Social Escolar que seja um dos pilares além do que a lei consagra. cios que suportem as diversas variáveis de
fundamentais do cumprimento de toda interesse social, cultural, lúdico, desportivo
a escolaridade obrigatória, que atenue Na área da organização e de recreio;
as assimetrias sociais e económicas das e funcionamento das escolas • Uma profunda transformação das
famílias, garantindo a gratuitidade de chamadas Actividades de Enriquecimento
frequência escolar, designadamente ao • A revogação do Decreto-Lei 75/2008, Curricular por forma a: (i) pôr fim à sobre-
nível de transportes escolares, serviço de que estabelece o novo modelo de autonomia posição de componentes do currículo do
refeições, alojamento, manuais escolares e gestão das escolas, imposto pelo Governo, primeiro ciclo do ensino básico e daquelas
e restantes actividades que impliquem e consagração do reforço dos poderes dos actividades, (ii) garantir que a iniciação a
despesa para as famílias decorrentes do órgãos pedagógicos e do papel dos docentes uma língua estrangeira integre o currículo,
cumprimento do projecto educativo das na direcção estratégica de cada Escola/Agru- (iii) assegurar no 1.º CEB uma resposta
escolas/agrupamentos de escolas. Reforço pamento. Isso passa por um novo modelo de social de ocupação dos tempos livres que
da acção social escolar, também no ensino direcção e gestão das escolas que reponha a inclua uma forte componente lúdica e (iv)
superior, do acesso a bolsas por parte dos elegibilidade dos órgãos e a colegialidade do determinar que a selecção, colocação e
estudantes, bem como da implementação seu funcionamento e que garanta condições remuneração dos docentes em exercício
de medidas de apoio especializado aos efectivas de participação dos actores esco- nesta resposta social respeite regras
alunos com necessidades educativas es- lares na tomada de decisões, aprofundando universais semelhantes a todos os outros
peciais que o frequentam; a democracia nas escolas; docentes;
• A abolição de quaisquer restrições • Uma maior estabilidade do corpo • A criação de uma verdadeira resposta
administrativas do acesso ao ensino docente, contrária à supressão do vínculo social por parte da Escola Pública, de forma
superior. Esta é uma medida estratégica de nomeação na Administração Pública, a que a mesma seja, em primeiro lugar, uma
central de desenvolvimento do ensino imposta pelo actual governo, o que pas- forma saudável e interessante de ocupar
superior e de qualificação da população sa pela adopção de políticas activas de os tempos livres das crianças e dos jovens,
portuguesa, pelo que deve ser considerada emprego, diversificando a qualidade de depois, que constitua uma resposta de qua-
como uma prioridade governativa neste oferta, ampliando a capacidade de apoiar lidade às necessidades das crianças e das
subsistema; com recursos humanos as dificuldades de famílias que nela reconhecem uma forma
• O desenvolvimento do ensino artístico, aprendizagem, combatendo analfabetismo segura de acompanhamento dos seus filhos
através de políticas de formação curricula- e as baixas qualificações dos portugueses, durante os períodos em que estão impedidas
res que o fomentem em todo o sistema e de designadamente da população trabalha- de permanecerem com eles.
medidas de gestão do sistema educativo que dora;
sejam compatíveis com a procura existente • A abolição do calendário escolar es- Lisboa, 1 de Setembro
de especialização em áreas específicas das pecífico para a educação pré-escolar que de 2009
artes. O alargamento da rede pública de penaliza a actividade lectiva desenvolvida

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 11


No momento da decisão
Partidos com representação parlamentar
respondem a inquérito da FENPROF
A forte luta desencadeada ao longo dos últimos quatro anos justifica
respostas inequívocas quanto ao futuro da profissão, pelo que as
escolhas dos portugueses, particularmente dos professores, no
período pré-eleitoral e no próximo dia 27 de Setembro só poderão
ser feitas em consciência conhecendo algumas respostas. No âm-
bito da Educação e da Profissão Docente, o Secretariado Nacional
colocou aos seis partidos com assento parlamentar 27 questões
do mais elevado interesse de cujas respostas dependerá a escolha
eleitoral de milhares de professores e educadores.

ESTATUTO DA CARREIRA às novas realidades. Porém, neste momento,


DOCENTE não consideramos que seja uma prioridade.

FENPROF - O vosso partido considera Para o PSD, a valorização do


necessária uma profunda revisão do papel do professor (e,
ECD em vigor? Em caso afirmativo, consequentemente, da sua carreira) é uma
quais as matérias que entendem priori-
tárias nessa revisão? condição imprescindível para a qualidade
de ensino que ambicionamos para a
escola pública. Jamais haverá um ensino
As políticas educativas, tal de qualidade sem professores motivados e
como a sociedade de que emergem e à valorizados.
qual se destinam, nunca são um assunto O PSD sempre manifestou a sua oposição
acabado. Os professores, e o seu estatuto às alterações introduzidas no ECD pelo
de carreira, são parte integrante e indis- Governo socialista, tendo alertado, desde
pensável do sistema educativo, e por isso a primeira hora, para as consequências
as políticas para o sector não os podem, nefastas que as mesmas teriam na vida
naturalmente, ignorar. das escolas.
Assim sendo, o ECD deve ser revisto todas Defendemos uma revisão do ECD em
as vezes e com a profundidade que forem vigor, designadamente, em dois pontos:
necessárias; de resto, aquele que actual- • Revogação da divisão da carreira em
mente se encontra em vigor resultou de duas categorias;
uma desses situações, após um longo pro- • Fim do regime de quotas.
cesso de avaliação da situação anterior, e
de discussão e de negociação, no terre-
no, com os professores e seus legítimos Sim, consideramos necessá-
representantes. ria uma profunda revisão do Estatuto da
Não sendo um documento perfeito, é pre- Carreira Docente em vigor. Consideramos
ciso ter em conta o contexto histórico em como matérias prioritárias: a) a revisão
que foi feito, e os objectivos que com ele se da estrutura da carreira docente repondo
pretendia atingir. a existência de apenas uma categoria
Provavelmente, a curto prazo, e tendo em de professores e revendo as regras de
conta a natural evolução da nossa socie- progressão; b) a eliminação da prova de
dade e da nossa escola, em parte também acesso à carreira docente; c) a profun-
resultado da aplicação do ECD, será neces- da alteração das normas respeitantes à
sário rever este instrumento para o adaptar avaliação de desempenho; d) o respeito

12 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
pelos direitos sindicais e pela negociação categorias ordenadas, ou seja, de etapas
Sim, defendemos a elimi-
colectiva; e) a garantia de estabilidade de progressão individual. Assim acontece
nação da divisão da carreira docente em
do corpo docente; e f) eliminação da na carreira universitária, por exemplo,
duas categorias e a reposição de uma
possibilidade de aplicação do regime de onde é pacífica a existência, em pirâmi-
categoria única.
mobilidade especial. de, das categorias de professor Auxiliar,
Associado e Catedrático, a que se acede
mediante a obtenção do grau de doutor
Como o CDS já afirmou estamos
A carreira dos educadores de (Auxiliar, que é a base da pirâmide) e
certos que é necessário consoli-
infância e dos professores dos do título de agregado (Catedrático), e
dar uma estrutura de carreira que
ensinos básico e secundário deverá mediante concurso sujeito a um júri de
permita o desenvolvimento pessoal e
ser o mais transparente possível, dando a catedráticos (Associado e Catedrático).
profissional de todos os professores,
todos os professores as mesmas oportunida- O mesmo acontece em todas as carrei-
clarificando percursos diferenciados a
des de construírem a sua carreira, valorizan- ras profissionais, onde a progressão não
partir da assunção, por parte de cada
do as suas competências e capacidades, é uma consequência da passagem do
professor, de responsabilidades no
quer no exercício das suas funções docentes, tempo, mas o resultado de uma evolução
exercício de funções não lectivas, de
quer no exercício de funções de coordena- pessoal e profissional, avaliada e confir-
acordo com a sua formação especializa-
ção, de gestão intermédia ou de supervisão. mada por júris e de acordo com regras
da.
É, exactamente por isso, que importa alterar previamente definidas.
os aspectos que constituem obstáculos Esta divisão da carreira tem por objectivo
na construção de uma carreira docente dar nome e estatuto diferenciado a profis-
Sim, claro. O Bloco de Esquerda
que dignifique e que constitua um pilar sionais que, dados os respectivos percur-
defende uma categoria única, e
fundamental no percurso profissional dos sos profissionais e a manifestação da sua
uma progressão da carreira
professores. vontade pessoal, são de facto diferentes:
organizada em torno de vários escalões.
O CDS-PP já oportunamente apresentou à pela experiência, pela formação ao longo
opinião pública e para consulta pública a da vida profissional, pelos interesses, ou
sua proposta de carreira para os docentes. pelo tempo de serviço.
“Os Verdes” são favoráveis á
Nesta proposta está explicita a carreira Acho estranho que os professores tenham
eliminação da divisão artificial
única, - prevendo-se a hipótese de por elegido esta matéria, manifestando-se
e completamente injustificada
opção voluntária se seguir uma segunda contra o modelo de avaliação e, em
da carreira docente, que se criou apenas
- pois não se compreende a criação de certos casos, contra o próprio princípio da
por razões financeiras e economicistas.
duas categorias quando o percurso dos avaliação, como uma prioridade na defesa
É total o nosso desacordo face a este
professores é o mesmo. dos seus interesses profissionais, mas
modelo de avaliação de desempenho,
essa é naturalmente uma questão a ser
assente numa divisão de carreira
dirimida no interior da classe. Aos olhos
artificial, arbitrária e injusta.
Consideramos fundamental fazer da população em geral, para mais sabendo
Discordamos igualmente de um mo-
essa revisão. E, nesse contexto, que os professores portugueses, na fase
delo que se fundamenta num sistema
proceder à eliminação da partição final das suas carreiras, são os mais bem
atribuição por quotas das menções
da carreira entre professores titulares e pagos da União Europeia em termos re-
qualitativas de Muito Bom e Excelente
não titulares, e rever também toda a parte lativos, é difícil entender tal recusa à acei-
(que por acaso, e só por acaso, são as
relativa à avaliação de desempenho dos tação formal de uma diferença real, que
que permitem progredir na carreira, por
docentes. pretende, por um lado, valorizar o mérito
forma a estagnar/matar a carreira de
profissional do professor competente, e,
quatro quintos dos docentes), compro-
por outro, impor a qualidade do desempe-
vadamente penalizador, injusto, comple-
Sim, entendemos que se impõe nho como uma condição para se atingir o
xo e gerador de discriminação entre os
uma revisão ao ECD em vigor topo da carreira.
profissionais da educação. Somos contra
com vista a corrigir os muitos
um modelo que divide a carreira em
erros e, fundamentalmente, a concepção
duas categorias, a de professor e a de
errada de carreira e profissão docente que O PSD considera esta divisão
professor titular, um modelo que desvia
o mesmo passou a conter. artificial, injusta e injustificá-
os professores e educadores do essen-
Prioritário seria o fim da divisão da car- vel. Esta opção do Governo socialista já
cial da sua função – trabalhar e investir
reira em duas categorias, o fim das quotas provou ser causa de divisão entre profes
nos seus alunos.
na avaliação, a priorização das questões sores, de instabilidade nas escolas e de
Defendemos um modelo de carrei-
pedagógicas no trabalho docente. profundas injustiças relativas (com a
ra única, onde todos os professores
consequente desmotivação profissional).
tenham possibilidade de atingir o topo
Sem prejuízo de uma gradação assente no
É favorável à eliminação da divisão da da mesma (tal como sucedia antes do
carreira em categorias? Em caso afirma-
mérito, o caminho terá, necessariamente,
Estatuto da Carreira Docente que entrou
tivo, que alternativa defende? de passar por uma solução que reconheça
em vigor em Janeiro de 2007) ao fim de
o desempenho histórico (ao longo de toda
28 anos de serviço, desde que apresen-
a carreira e não de uma parte) e que
tem uma avaliação de desempenho igual
É difícil entender, numa incentive melhorias no desempenho dos
ou superior a satisfaz.
carreira profissional, a não existência de professores.

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 13


Que modelo de avaliação (linhas ge- dos docentes. e estratégias pedagógicas, identificando e
rais) propõe para substituição do que O PSD considera, com efeito, fundamental corrigindo erros mas também valorizando
actualmente vigora? Nele têm lugar as que os professores sejam avaliados para boas práticas.
quotas que, na verdade, condicionam o
reconhecimento e distinção do mérito que, assim, se promova a qualidade do A concepção que assumimos relativamen-
absoluto? ensino. Infelizmente, fruto de uma teimo- te ao modelo de avaliação exclui de forma
sia obsessiva e autoritária, este Governo incontornável a existência de quotas. Tal
insiste num modelo que não é justo, nem como sempre temos vindo a afirmar desde
O modelo de avaliação exequível. A este respeito, impõe-se uma que foram impostas aos trabalhadores da
tem que ser adequado aos fins a que se ruptura com este modelo para que se con- Administração Pública quotas na avalia-
destina, ou seja, para a progressão na cretize uma avaliação externa, transpa- ção de desempenho, essa é uma conse-
carreira. Rigoroso quanto baste, versátil rente e justa, que não desvie os docentes quência de modelos de avaliação que têm
quando necessário. E justo, natural- da sua principal função – ensinar – e que como objectivo central fazer repercutir os
mente, de modo a que nenhum docente seja um factor de exigência, de motivação seus efeitos na carreira dos trabalhadores,
seja prejudicado ou beneficiado por se e de qualidade no ensino. Ou seja, o opos- impedindo a sua progressão.
encontrar, por exemplo, numa dada escola to do que este modelo tem sido.
e não noutra. Para acautelar tal rigor e tal
justiça, é necessário que existam crité- Um modelo que vise o desenvolvi-
rios nacionais comuns a todos, ainda que O modelo de avaliação que mento profissional e organizacio-
adaptados às características da escola de defendemos baseia-se numa concepção nal, assente nos objectivos
cada um, sendo desejável que a inspecção formativa da avaliação que tenha como individuais de cada professor (ponto de
escolar desempenhe um papel importante objectivo a melhoria de desempenho dos partida), formulados na componente
em todo o processo. Quanto às quotas, docentes e não a sua penalização em funcional a ser avaliada pela Direcção, e
trata-se de um instrumento que a curto termos de progressão na carreira ou em na componente científico-pedagógica a
prazo, eventualmente, se tornará des- qualquer outra dimensão da sua condição ser avaliada pelo Conselho Pedagógico e
necessário, quando o sistema estabilizar laboral. no relatório de auto-avaliação (ponto de
em matéria de carreiras profissionais. No Entendemos que a avaliação dos docen- chegada).
ensino superior, não havendo quotas, há tes deve estar subordinada ao objectivo Aumento da temporalidade dos ciclos
lugares de quadro que se vão apertando central de garantir a qualidade da Escola avaliativos, fazendo-o coincidir com os
à medida que se sobe na categoria e que, Pública e o cumprimento da missão que mandatos da Direcção.
geralmente, se encontram preenchidos, lhe está acometida. Previsão de estabelecer quotas supranu-
condicionando assim o acesso dos mais O modelo de avaliação deve ter a capa- merárias, no ciclo avaliativo seguinte, para
novos que têm que aguardar a abertura de cidade de identificar os obstáculos e as os detentores de desempenhos de nível
vagas por morte ou por aposentação dos insuficiências com que se deparam os superior a Bom, sem produção de efeitos.
anteriores titulares, em muitos casos não docentes na sua actividade como condi- Avançamos como base de conversa sobre
tendo oportunidade de lá chegar. Mas não ção indispensável para garantir a efectiva esta matéria com o modelo de avaliação
se vê como possa ser de maneira diferen- melhoria das condições de ensino e o aplicado no ensino particular e cooperati-
te: em nenhuma outra carreira profissio- aperfeiçoamento do sistema educativo. vo que não tem gerado problemas.
nal todos aqueles que nela entram têm Entendemos que só é possível que o
acesso garantido ao respectivo topo… processo de avaliação cumpra os seus
objectivos se ele mesmo tiver em conta as Defendemos a conciliação das
condições específicas em que é desenvol- vertentes interna e externa na
Defendemos o fim do “regime vida a actividade docente. A avaliação da avaliação e damos prioridade à
de quotas”. Um sistema de docência deve ter em conta a realidade avaliação das escolas em contexto. É nela
avaliação deve, na óptica do PSD, ser um que resulta, por exemplo, de diferentes que perspectivamos a avaliação do
instrumento de melhoria do desempenho. projectos educativos, do meio sócio- desempenho docente, sempre balizado
Nesse sentido, a promoção do mérito é -económico em que se insere cada escola pela componente colectiva matricial à
uma peça imprescindível de incentivo a e dos seus diferentes critérios e opções profissão. Apostamos, assim, no cruza-
essa melhoria. Ora, o sistema de quotas pedagógicas, sob pena de tomar por iguais mento entre uma avaliação externa,
imposto por este Governo desvirtua este situações que são radicalmente distintas. independente e não subordinada a
objectivo e não tem em consideração a Entendemos ainda que a eficácia do sis- poderes e lógicas locais, e uma auto-
especificidade própria da carreira docente. tema de avaliação da actividade docente -avaliação que assuma todas as vertentes
O PSD sempre defendeu que as caracterís- impõe a participação alargada dos docen- do trabalho docente. Defendemos que a
ticas singulares da função, exercida por tes, avaliados e avaliadores, em moldes avaliação se deve centrar em torno da
um professor, devem ser distinguidas no que permitam a análise séria dos proble- escola enquanto unidade organizativa,
âmbito da administração pública. Assim, mas existentes e a discussão aprofundada mediada por uma contextualização do
advoga-se o fim da actual divisão da das soluções exigidas. É fundamental meio social onde está inserida, e de uma
carreira (e, em consequência, das quotas que o processo de avaliação não exclua identificação dos recursos necessários à
de acesso à categoria de professor titular) mecanismos de auto-avaliação nem esteja prossecução dos objectivos definidos pelo
e uma progressão na carreira assente condicionado por preocupações exclusi- Projecto de Escola.
numa avaliação justa que reconheça o vas de classificação ou resultado, antes
percurso profissional e o mérito individual permitindo a análise de métodos, opções

14 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
Do ponto de vista de “Os não a partir de classificações atribuídas ser feita através de uma prova de avalia-
Verdes”, a avaliação na educação pelas instituições académicas, dadas de ção de índole pedagógica e didáctica na
é fundamental para se despistar acordo com um projecto pedagógico e respectiva área de docência, a fim de
problemas, detectar dificuldades e corrigir científico próprio e concebido no âmbito aferir das competências relacionais e
insuficiências. Assim, defendemos em da autonomia científica e pedagógicas das metodológicas necessárias às funções a
primeiro lugar um Modelo de avaliação universidades e politécnicos. Quanto ao desempenhar.
sistémico e global do sistema educativo período probatório, entendemos que a lei O período probatório, correspondente ao
nacional, que inclua momentos de deve ser cumprida também no que a ele primeiro ano escolar no exercício efectivo
avaliação dos agrupamentos de escolas ou diz respeito, desde que existam condições de funções na carreira docente, deve ter
de escolas não agrupadas, bem como do para que o trabalho entretanto realizado como objectivo o enquadramento profis-
desempenho do pessoal docente, partindo pelo docente seja avaliado com justiça sional do docente, devendo para o efeito
de auto-avaliação, onde não há lugar a e rigor. E aqui continuamos sem sair do ser acompanhado no seu percurso, nome-
quotas ou outro tipo de descriminações, tema “avaliação”… adamente em termos de orientação e defi-
dando privilégio aos critérios pedagógicos nição de um plano de formação que possa
e à formação. Somos a favor da imple- minimizar os constrangimentos inerentes
mentação de um sistema de avaliação, Na medida em que o PSD ao início da sua prática profissional.
conduzido sempre como um processo acredita que o ECD deve ser
formativo de desenvolvimento profissio- um instrumento de valorização e dignifi-
nal, que funcione como uma indispensável cação de uma carreira que tem sido, Consideramos que a chamada
ferramenta trabalho para a melhoria de erraticamente, fustigada pelo Governo, “prova de ingresso” não faz
competências e práticas pedagógicas e não se deve rejeitar, a priori, a introdução sentido, e que denuncia uma
científicas, para que assim se garanta a de mecanismos (designadamente, provas desconfiança em relação à formação
qualidade da escola pública e das aprendi- de ingresso ou períodos probatórios) que inicial de professores ministrada ao nível
zagens que nela se fazem. Embora não decorram da exigência de qualidade que do ensino superior. É certo que deve ser
acreditemos que a avaliação dos professo- deve nortear o acesso a uma função desta feita uma discussão alargada sobre a
res se consiga repercutir necessariamente natureza e responsabilidade. qualidade dessa formação, bem como a
em melhores resultados dos alunos, se for Contudo, também neste ponto, exige- centralidade da formação contínua – tão
conduzida como processo formativo de -se razoabilidade e sensatez para que prejudicada por este governo.
desenvolvimento profissional, entendemos um bom princípio (exigência) não sirva
que necessariamente terá consequências de álibi para filtros artificiais baseados
positivas no exercício da profissão em critérios meramente economicistas. Do ponto de vista de “Os Verdes”
docente. Assim, a principal aposta deve centrar-se é errado exigir uma prova de
na avaliação e exigência nas formações ingresso no acesso à profissão
iniciais no ensino superior que, recorde-se, docente.
Deverá a entrada na profissão sujeitar- são certificadas pelo executivo governa- Esta prova desvaloriza a formação dos
-se a uma prova de ingresso? Que pa- mental. professores, bem como as instituições
pel reserva para o período probatório
formadoras e seus docentes. Dissimula-
que já se encontra previsto no ECD,
mas, na verdade, nunca teve aplicação damente procura anular a experiência
efectiva? Não consideramos que a acumulada dos professores nos seus anos
entrada na profissão possa estar depen- de serviço lectivo, do mesmo modo que
dente de uma prova de ingresso. Enten- desvaloriza a avaliação anual de que os
Deverá, sim. Como acon- demos sim que as condições necessárias professores contratados são alvo.
tece com os médicos, os enfermeiros, ou para o desempenho de funções docentes Em nossa opinião nenhuma prova de
os advogados, que não podem exercer a (científicas, pedagógicas, culturais e ingresso ou período probatório contribuirá
profissão sem que antes tenham sido sub- sociais) devem ser asseguradas no âmbito positivamente para aumentar a qualida-
metidos a um exame realizado pela res- da formação inicial, em que se inclui já a de do ensino ou para suprir as eventuais
pectiva ordem profissional com delegação realização de um estágio profissional. insuficiências na formação inicial de
do Estado… E coisa idêntica se passa nas Quanto ao período probatório, consi- professores. Esta só se pode resolver por
empresas privadas, incluindo as escolas: deramos que o mesmo é desnecessário via da garantia de qualidade na formação
nenhum profissional é contratado sem enquanto instrumento de comprovação da inicial e continuada.
que seja submetido a um qualquer tipo de existência das condições necessárias ao
exame, feito segundo os critérios da em- exercício de funções docentes. Conside-
presa ou da instituição, com o objectivo ramos ainda que a concretização deste HORÁRIOS
de proceder à selecção dos candidatos ao período probatório tal como hoje se en- DE TRABALHO
lugar. Porque uma coisa é ser-se portador contra regulado constitui um mecanismo
de uma licenciatura ou mestrado, que são de precarização acrescida dos docentes.
graus académicos, outra é ter-se a com- O ECD em vigor, a par dos despachos
anuais que regulam a organização das
petência para o exercício de uma dada escolas e a elaboração dos horários
profissão, e esta só pode ser avaliada me- O acesso à carreira docente aos dos docentes, têm vindo a agravar os
diante um exame específico, de entrada, candidatos com as habilitações horários de trabalho dos professores e
desenhado pela entidade empregadora, e profissionais para a docência, deve educadores, que hoje são verdadeira-

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 15


mente absurdos, em especial do ponto condições e meios para o desenvolvimento regulamento interno, tendo um limite
de vista pedagógico. Para além do do trabalho individual na escola, o actual máximo de horas, não ultrapassável,
aumento das horas lectivas no Ensino Governo criou uma situação em que os fixado a nível nacional. O horário dos
Secundário e na Educação Especial, a
designada componente não lectiva de docentes têm que concretizar essa tarefa professores não pode ser igual para todos,
estabelecimento impôs um efectivo au- fora do espaço escolar, levando, na tendo em atenção a sua área disciplinar e
mento do horário de trabalho, retirando prática, a um alargamento do horário sem de um modo muito especial o Ensino
disponibilidade aos docentes para uma contrapartida remuneratória e, em muitos Especial. Não se deve igualar o que deve
das componentes mais importantes da casos, sem incremento na qualidade das ser diferenciado.
sua actividade: a de trabalho individual,
aprendizagem ministradas aos alunos.
que apenas tem condições de ser cabal-
mente realizada para além das 35 horas As alterações introduzidas pelo executivo
semanais legalmente estabelecidas, o em matéria de distribuição dos horários O Bloco de Esquerda condena
que tem óbvios prejuízos para toda a conduziram a uma situação contrária todas as medidas que desvaloriza-
sua actividade. Que propostas tem o à que seria desejável, não definindo ram a componente intelectual do
vosso partido para resolver este grave adequadamente os tempos destinados ao trabalho docente e a prioridade pedagógi-
e muito sentido problema?
trabalho do professor fora da sala de aula. ca que deveria sustentar o trabalho destes
Ao contrário do que seria expectável, profissionais. Mais condena o hiper-tare-
num tempo em que a flexibilidade e fismo em que se têm visto envolvidos,
Se me permitem, ponho
adaptabilidade são conceitos essenciais, desvalorizando o núcleo da profissionali-
em causa o carácter opinativo e tenden-
a organização dos tempos é matéria de dade: o trabalho de qualidade com os
cioso, talvez até factualmente incorrecto,
decisão central e obriga à permanência alunos.
dos considerandos que condicionam a
dos professores na escola ainda que a Se bem que a normalização imposta pelo
pergunta.
mesma não reúna as mínimas condições ME tenha, também, permitido regular
É preciso ter em conta que, num grande
para a realização do trabalho individual algumas situações de horários mal articu-
número de escolas, muitos professores
do professor. lados com as necessidades das escolas, no
auferiam salários completos e bons – e
O PSD defende que esta matéria deve, à essencial, elas desvalorizaram o trabalho
aqui volto a referir o facto de os nossos
semelhança do que já sucedeu noutros em equipa, o que é inadmissível, e torna-
professores no topo da carreira serem, em
países europeus, dar lugar a um com- ram invisível (porque efectuado a expensas
termos relativos, os mais bem pagos de
promisso entre o futuro Governo e os do trabalho feito à noite e aos fins-de-
todos os países da União Europeia –, sem
parceiros sociais com vista à definição, em -semana) todo o trabalho de preparação de
cumprirem o número de horas que são
conjunto, de uma solução que permita aos aulas, correcção e preparação de trabalhos,
exigidos nas outras carreiras profissionais.
professores uma melhor preparação das testes, etc.
Mesmo tendo em conta a especificidade
suas aulas, numa articulação que garanta Por outro, no que concerne aos professores
da profissão docente. Por outro lado, o
igualmente a existência de aulas de subs- sem monodocência, as desigualdades de
princípio da escola a tempo inteiro, que
tituição nas escolas. prestação de serviço continuam a ser mui-
é programático para o PS, e que tem por
to marcantes, não sendo possível ponderar
objectivo garantir o acesso de todas as
justamente o número de alunos por turma,
crianças e jovens à escola e à educação, e
Relativamente ao horário de o número de níveis atribuídos, os cargos
contribuir para a diminuição das diferen-
trabalho entendemos ser essencial a sua exercidos, os contextos de inserção das es-
ças decorrentes das desigualdades sociais
reformulação, nomeadamente reduzindo a colas, o número de turmas a leccionar, etc.
e económicas, é indiscutível.
componente lectiva actualmente prevista O Bloco de Esquerda defende: a ponde-
Ora, para que tal princípio seja uma
nos vários ciclos e níveis de ensino, bem ração efectiva de todas estas variáveis
realidade, é necessário que todos sejam
como revendo as regras actualmente e a bonificação em horas de trabalho de
responsabilizados, incluindo os profes-
definidas para a redução em função da professores que exercem actividade em
sores enquanto agentes fundamentais e
antiguidade. contextos particularmente complexos, ou
estruturais ao sistema. Cabe, no entanto,
Consideramos que estas medidas se im- que leccionam turmas particularmente
às escolas – e aqui está a proposta que
põem pela consideração que deve merecer exigentes, mormente nos 2.º e 3.º ciclos;
nos é solicitada - uma grande margem
o trabalho desenvolvido pelos docentes defende a aumento da carga horária de
de manobra na gestão do seu pessoal, no
de natureza não lectiva e que não pode cargos, como o da direcção de turma, que
âmbito do respectivo projecto pedagógico,
traduzir-se no aumento do horário sema- têm sido desprezados pela política do ac-
de modo a que fiquem salvaguardados,
nal para além do limite das 35 horas. tual Ministério, e que são determinantes na
ao mesmo tempo, os direitos laborais
relação escola-comunidade, e na constru-
dos professores, próprios de um estado
ção do projecto do grupo-turma.
de direito, e os direitos dos alunos a uma
A componente de trabalho O Bloco de Esquerda defende, ainda, que
educação de qualidade numa escola que,
individual é absolutamente seja aberto um amplo debate sobre as
antes de tudo, tem que ser desenhada
indispensável na profissão vantagens e desvantagens e, sobretudo,
para eles.
docente, para que o desenvolvimento da sobre as condições tendentes à efectiva
acção dos professores, ao longo dos anos, realização do horário de 35 horas na escola
seja dinâmica. Como tal a componente de - o que, sabemos, presume uma escola
Ao optar pela imposição de
trabalho de escola, essencial como com meios e equipamentos, que não existe.
normas, sem a prévia negocia-
referencial no trabalho individual, deve ser Este debate deve estar condicionado pelas
ção com os docentes e sem garantir
fixada em todas as escolas no seu seguintes questões: a imagem que lastra

16 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
na opinião pública de que os professores os concursos. Os concursos não são nem
trabalham menos que as demais profissões; podem continuar a ser meros rituais admi- Perante um modelo de avaliação
a necessidade de ultrapassar a crescente nistrativos, mas instrumentos de selecção claramente injusto, enviesado,
invisibilidade e desvalorização de grande efectiva de profissionais, concebidos de economicista e que secundari-
parte do trabalho docente, e amortizar acordo com as necessidades do sistema zou os critérios pedagógicos, seria
o inquestionável aumento da exploração devidamente interpretadas pelo Estado, claramente alargar o âmbito da iniquidade
destes profissionais e degradação das suas para o exercício de uma função que tem ao universo dos concursos, com o que não
condições de trabalho. por objectivo garantir um direito cons- podemos concordar.
titucional dos cidadãos. Ora, quando se
apresentam a concurso cidadãos que já
Apostando no desconhecimento exerceram ou estão a exercer a profissão, Deverá ou não a ordenação dos pro-
da população em geral face é lógico e natural, e para mais aconselhá- fessores, para efeitos de concurso,
continuar a obedecer a critérios claros,
àquelas que são, de facto, as vel, que a avaliação do seu desempenho objectivos e universais?
tarefas e responsabilidades da função profissional anterior seja devidamente
docente e em relação ao muito trabalho considerada, com peso e medida.
que sempre desenvolveram e desenvolvem Obviamente que sim. Sendo
em casa, durante noites, feriados ou que tal clareza e tais objectivos devem
fins-de-semana, preparando aulas, Como já foi sublinhado, o PSD levar na devida conta as características
materiais pedagógicos, corrigindo provas, defende uma avaliação justa e específicas – geográficas, demográficas,
preenchendo fichas de avaliação, etc., etc., consequente do desempenho dos profes- sociais – das escolas ou agrupamentos
o Governo impôs um conjunto de regras sores. A relevância social da função em particular. A universalidade não pode
de “reorganização” dos tempos de escola docente impõe o máximo rigor e exigência nem deve abafar a particularidade: não há
e dos horários, e o aumento insano da nessa avaliação e impõe que a mesma universais sem particulares.
burocracia, levando, na prática ao tenha, naturalmente, efeitos ao nível da
aumento em muito dos tempos de organização da escola e, muito particular-
trabalho efectivo. mente, dos seus professores. Tendo em consideração o
A obrigação de permanência dos profes- O PSD acredita que uma avaliação com referido na resposta anterior,
sores dentro do espaço da escola, onde um forte pendor qualitativo trará benefí- os critérios de ordenação têm de ser
não têm, na esmagadora maioria das cios relevantes para a desejada qualidade rigorosamente transparentes, claros,
situações, condições de trabalho míni- de ensino. Contudo, não se negligencia objectivos e universais.
mas (uma secretária e um computador que, num sistema assente em concursos, a
disponível num local adequado a trabalho avaliação de cariz quantitativo é igual-
intelectual), não faz qualquer sentido, mente essencial. A ordenação dos professores
pelo que deve ser corrigida. em listas gerais, de acordo com critérios
Os professores não podem, além disso, objectivos e universais estabelecidos
com prejuízo do seu tempo de traba- Quanto à consideração das legalmente e respeitando as preferências
lho individual, do tempo de formação e classificações obtidas na avaliação de e opções dos candidatos, são condições
informação pessoal essencial a qualquer desempenho no âmbito dos concursos de indispensáveis para que a selecção e
docente e do tempo de descanso neces- professores entendemos que a mesma não recrutamento dos professores possa ser
sário, ser chamados a realizar cada vez deve ocorrer. Aliás, essa é uma solução concretizada sem dar lugar a injustiças.
mais tarefas (administrativas ou de apoio incompatível com o modelo de avaliação
pedagógico) dentro do espaço escola as que propomos.
quais devem ser cumpridas com o recurso Sim, para manter equidade. Um
a profissionais em número suficiente, com verdadeiro concurso tem de ter
a formação adequada e com direitos labo- A classificação não deve ter um por base critérios objectivos.
rais e não exigindo tudo aos mesmos. duplo efeito, apenas se deve
reflectir na carreira docente.
A avaliação deve ser considerada para Claro.
CONCURSOS efeitos de contabilização dos escalões e
DE PROFESSORES consideração do período de permanência
nos mesmos.
Considera que, nos concursos de pro- Claro que sim.
fessores e educadores, as classificações
obtidas na avaliação de desempenho Não. Aliás os deputados do BE
também deverão ser consideradas? apresentaram uma apreciação Qual o âmbito que defendem para os
parlamentar sobre o decreto-lei concursos de professores (nacional,
que regulou o último concurso, propondo regional, local…)?
Sempre foi entendido que a exactamente a eliminação dos resultados
avaliação é necessária para a progressão do actual modelo de avaliação na
na carreira dos professores e educadores, ordenação dos candidatos. Em Portugal já existem
o que naturalmente vale também para âmbitos regionais muito bem definidos

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em matéria de concursos de professores, contratados, os concursos devem ser devidamente aproveitada e valorizada. E a
e que funcionam muito bem: nas regiões nacionais apenas na fase inicial, podendo melhor maneira de a aproveitar e valori-
autónomas dos Açores e da Madeira. E a na fase das colocações cíclicas ser, feito zar não é mandar os profissionais para a
tendência deve ser, cada vez mais, para pela própria escola, tendo em conta a aposentação antes do tempo, mas pô-los
o âmbito regional e, finalmente, local. A agilização do processo. ao serviço da escola, de acordo com as
função dos Estado é garantir que todas características e competências de cada
as escolas tenham todos os professores um: dando apoio aos colegas mais jovens,
e educadores necessários para o cum- Entendemos que esse concurso colaborando na avaliação do desempenho
primento da grande obrigação que é o deve ser de âmbito nacional. dos colegas da mesma escola e de outras
acesso de todos os cidadãos à escola e à escolas, enfim, potencializando ao máxi-
educação. Mas o exercício dessa obriga- mo um capital de competência pessoal,
ção deve ser, progressiva e efectivamente, “Os Verdes” sempre têm defendi- que em grande parte é fruto também do
atribuído às escolas, que devem dispor do o âmbito nacional dos investimento da sociedade e do Estado. É
de todas condições e meios necessá- concursos de professores como bom que não se esqueça isto. Por princí-
rios, porque são elas que estão melhor meio de garantir que a escolha dos pio, somos contra o tipo de regimes espe-
colocadas para entenderem o meio em docentes é feita segundo critérios claros e ciais sugeridos na pergunta, porque somos
que se inserem, avaliarem as respectivas com transparência pública. Como base a favor da inclusão e, nunca, da exclusão.
necessidades, e decidirem qual a melhor para a clareza de processos, deve ser Para os alunos e, naturalmente, para os
maneira de proceder. Mas, esse processo elaborada uma lista de graduação de professores e educadores. O que não im-
não deverá ser totalmente concretizado âmbito nacional dos professores oposito- pede que casos especiais sejam tratados
enquanto não estiver completo o processo res aos concursos, para a qual devem de um modo particular, nos termos da lei.
de avaliação das escolas, actualmente contar as habilitações profissionais e o
em curso. Porque é necessário garantir, tempo de serviço prestado em estabeleci-
repita-se, os direitos de todos: professores mentos de ensino oficial ou equiparados. O PSD considera que só faz
e alunos. A colocação através de concursos locais sentido abordar as questões
ou de escola (como a experiência havida da aposentação – pela sua natureza e
nesta legislatura com o encurtamento do complexidade - num cenário de concerta-
Sem pôr em causa direitos prazo das colocações cíclicas com base na ção social. Na presente legislatura, no
adquiridos, a estabilidade lista nacional) não garantem do mesmo Parlamento, o PSD dedicou-se intensa-
necessária à carreira e critérios objectivos modo a transparência neste processo mente a tentar encontrar uma solução
de avaliação e seriação, PSD defende que, público que deve estar acima de qualquer para determinados constrangimentos
gradualmente, as escolas, no exercício da suspeita. criados pela abrupta alteração do regime
sua autonomia, poderão ter um papel mais de aposentação dos docentes. O facto de
determinante na organização dos seus a legislação ter sido aprovada de forma
recursos humanos. APOSENTAÇÃO precipitada e sem o acordo dos parceiros
contribuiu para situações indesejáveis que
só agora começam a ser parcialmente
O exercício continuado da docência pro-
Consideramos que os con- voca, como de há muito é reconhecido, resolvidas, como foi o caso dos professo-
cursos de professores devem ter carácter um acentuado desgaste físico e psico- res em regime de monodocência que
nacional, ainda que salvaguardando as lógico nos profissionais. Consideram terminaram os seus cursos em 1975 e
preferências e opções dos candidatos e que, por esse motivo, deverão ser esta- 1976.
sem prejuízo de, para efeitos de supri- belecidos requisitos específicos para a Entendemos que existem aspectos do
aposentação dos docentes, permitindo
mento de necessidades residuais, possam a sua antecipação, sem perda do regime
actual regime legal da aposentação que
ser encontradas soluções de concursos de completo, relativamente ao regime geral devem ser revistos, acautelando a especi-
âmbito regional. da Administração Pública? ficidade da carreira docente.
Quanto aos concursos de natureza local,
consideramos que os mesmos não devem
existir pelas injustiças e desigualdades que Mas esse tipo de desgaste, Relativamente à aposen-
geram mas também pela falta de trans- característico da profissão docente nos tação, consideramos que é necessário
parência e pela fragilização da situação níveis do ensino básico e secundário, é rever as regras de aposentação dos
laboral que acarretam. Também por isso um dos aspectos que foram devidamen- trabalhadores da Administração Pública
nos temos oposto à contratação por te considerados, por exemplo, na tão com os objectivos de corrigir as medidas
oferta de escola e à municipalização das contestada divisão da carreira… O facto que impuseram o aumento da idade de
competências na área da educação. de ao professor titular, que num processo aposentação (promovendo a sua redução)
normal já conta com mais anos de serviço, e eliminar os mecanismos de penalização
serem preferencialmente atribuídas fun- das pensões de reforma.
Esta resposta é dada de acordo ções de tutela, de orientação pedagógica, Não entendemos, no entanto, ser de
com as actuais formas de organi- de avaliação de desempenho, e mesmo considerar a consagração de regimes
zação do sistema educativo. de gestão, já resulta do entendimento especiais de aposentação. Para atender
Assim, para os professores dos quadros, de que a mais-valia que é o exercício às condições específicas do desempenho
concursos nacionais. Para os professores continuado da profissão docente deve ser de funções docentes e ao desgaste físico

18 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
e psicológico que as mesmas implicam de bom gosto. E nem sequer seria justo… ção, bem como o acompanhamento e
devem encontrar-se outros mecanismos Resta perceber o que é que tem motiva- gestão de carreiras no ensino profissional.
no âmbito da carreira, como é o caso da do um grande número de professores a Por outro lado, com o actual sistema
redução da componente lectiva. atirarem a toalha ao chão e a solicitarem de ensino e com as políticas que este
aposentação antes do tempo. governo veio executando, o desgaste é por
demais agravado. Os professores viram-se
O Bloco de Esquerda é favorável à inundados de tarefas administrativas e
antecipação no quadro legal em Como já foi referido, existem burocráticas o que em muito fez aumentar
vigor, considerando que a alteração aspectos do regime da o seu esforço e ocupação de horas extra.
das condições de aposentação impostas à aposentação que devem ser revistos. Neste capítulo, o CDS vai avançar com um
classe pelo governo socialista foi uma Significa isto que os docentes devem ter a modelo de avaliação justo e sem burocra-
regressão inqualificável. possibilidade de se aposentar mais cedo, cias iria retirar muitas horas de trabalho
abdicando de uma parte do valor da sua desnecessário aos docentes. Entre outras
reforma, mas devem, de igual modo, poder medidas que permitiriam a redução do
É sabido que o trabalho docente continuar na escola até aos últimos anos número de horas de burocracia está o
constitui não só uma actividade da sua carreira, caso o possam e queiram reforço das equipas de apoio administra-
de acentuado desgaste (tal fazer, ainda que menos pressionados pelas tivo das escolas, o que hoje infelizmente
como se entendia antes do Estatuto da funções lectivas. não acontece.
Carreira Docente que entrou em vigor em Deve assim, preferencialmente no âmbito
Janeiro de 2007), mas também muito de cada escola, adequar-se as caracterís-
exigente, física e intelectualmente. Pelo ticas do docente às exigências pedagógi- Defendemos a necessidade de fazer
que entendemos que foi um erro a fixação cas. das licenças sabáticas, e outras
da idade de aposentação nos 65 anos para Mas esta é uma matéria em que, até pelas figuras legais destinadas a cobrir
a actividade docente, pelo menos se normas legais que obrigam à concertação necessidades de formação e de aquisição
queremos garantir a qualidade na escola social, o PSD não deverá assumir uma po- de outras competências e/ou graus
pública, mormente porque, não foi tido sição de princípio intransigente. Ao invés, académicos, um direito incontornável, e
em conta, o desgaste referido, nem qualquer alteração a propor ao regime de não um capricho dos poderes, e alargando
algumas especificidades dentro do aposentação deve ser previamente tra- a sua periodicidade. Mais consideramos
universo docente (designadamente a balhada com os sindicatos e associações que uma estratégia de horários radical-
questão da monodocência) como nem profissionais. mente distinta poderá atenuar parte do
sequer foi garantida, em muitos casos, desgaste intrínseco à profissão.
uma efectiva transitoriedade de regimes O Bloco de Esquerda defende, ainda, que
de aposentação com a violação brutal de A compensação do desgaste uma política de formação consistente e
expectativas legítimas criadas ao longo de físico e psicológico imposto pelo desem- destinada aos aspectos mais complexos
carreiras de vinte, trinta e mais anos de penho de funções docentes deve passar será um poderoso auxiliar, nomeadamen-
serviço. Com o assumir deste estatuto, por medidas como a redução da compo- te, gestão de conflitos e gestão de grupos,
passaremos a ter professores que leccio- nente lectiva ao longo da carreira, a di- política de língua e estratégias contra a
narão por períodos que chegam a ultra- minuição do número de alunos por turma, discriminação.
passar os 45 anos de actividade docente, a melhoria das condições de trabalho e Como a escola pública que defendemos se
ou seja, quase passando duas gerações. de ensino nas escolas ou a eliminação de perspectiva em rede e com equipas mul-
processos burocráticos e administrativos tidisciplinares, consideramos esta aposta
cuja responsabilidade é hoje atribuída aos decisiva no combate ao stress profissional,
Que outras medidas defende (de ho- professores. advindo da multiplicação de papéis e do
rário, de carreira…) para atenuar este vazio sobre o centro da profissionalidade.
desgaste que se verifica nos profissio-
nais docentes?
Os professores devem trabalhar em equipa
No actual contexto, tendo em e contar com a intervenção de uma rede
conta o saber acumulado dos de profissionais que os ajude a lidar quoti-
Reduções de horário, já es- professores que se aproximam da dianamente com todos os problemas.
tão previstas e em aplicação. Valorização aposentação e o desgaste que a profissão
da experiência, também, como já referi. provoca nesses docentes, é necessário que
Tudo aquilo que seja aproveitar, de um em sede de revisão do Estatuto da A redução de carga horária
modo inteligente e sensato, a experiência Carreira Docente, sejam introduzidas lectiva por via da idade e dos
e o conhecimento acumulados, no âmbito alterações que contemplem que esses anos de desgaste de serviço é
dos projectos educativos da escola e da professores, por sua opção, tenham fundamental (bem como a sua compensa-
comunidade em que ela se insere, será funções especiais nas escolas, nomeada- ção nos casos em que tal não é possível).
sempre bem vindo e bem visto. Mandar mente de integração dos novos professo- Da mesma forma, os horários devem
pessoas embora numa fase da carreira res, de apoio aos órgãos de gestão e permitir, com equilíbrio, a sua compatibili-
activa em que ainda – e por isso mesmo - pedagógicos, de apoio aos projectos de zação com o trabalho não lectivo, com o
podem ser úteis à sociedade, não será, em combate ao insucesso e abandono, de descanso e com a formação (formal e
nenhum lugar, coisa de bom senso. Nem apoio aos serviços de psicologia e informal) do docente. As poupanças e cor-
orientação escolar no âmbito da orienta- tes orçamentais na educação não podem

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justificar a sobrecarga dos docentes, cuja desenfreada e generalizada, que a Valorizar a Carreira Docente.
importância e qualidade científica, governação socialista empreendeu contra Desburocratizar a função docente.
cultural, cívica e pedagógica, como toda a classe profissional docente é, em Valorizar o papel do professor na
profissionais altamente qualificados, é última instância, um verdadeiro ataque ao aprendizagem. Credibilizar a Avaliação de
fundamental e exige tempo, condições e ensino e à formação dos portugueses. Desempenho Docente. Alterar o Estatuto
disponibilidade financeira. Já referimos anteriormente que, na pers- do Aluno. Defender publicamente a
pectiva do PSD, a valorização da função imagem dos professores. Acentuar a
do professor é um factor absolutamente autoridade dos professores dentro das
IMAGEM SOCIAL decisivo na melhoria dos nossos (ver- salas de aulas.
DOS PROFESSORES dadeiros, não meramente estatísticos)
resultados escolares.
A tese socialista de centrar a escola na O Bloco de Esquerda acredita que
Que medidas e iniciativas defende o
partido no sentido de reforçar a imagem “figura do aluno” trouxe igualmente este os professores e professoras são
social dos professores, num momento efeito perverso de desvalorização dos parte decisiva, como o demonstra-
em que o sentimento de desvalorização, professores. Isso é inaceitável. ram nos últimos dois anos, de fiabilização
provocado pelos ataques a que os pro- Esta deverá, assim, ser uma das primeiras da sua imagem social. Desconfiamos, por
fissionais têm sido sujeitos, se encontra prioridades de um futuro Governo na área isso, da inflação discursiva em torno da
instalado?
educativa. Com medidas concretas como, autoridade, porque ela é uma construção
por exemplo, a alteração profunda da em contexto, não é fruto de decreto.
filosofia do «estatuto do aluno», reforçan- Confiamos que todas as propostas que
Volto a salientar o carácter fizemos, e faremos, pela defesa da escola
do a autoridade e os meios ao dispor dos
opinativo da pergunta… Mas não tenho pública são condição de recredibilização
professores na sala de aula. Mas também
problema em responder, perguntando: não da imagem dos professores.
com o reconhecimento público da sua
será desvalorização da profissão e dos
importância social na qualificação das
profissionais, garantir a todos, sem fazer
populações e na preparação das novas
qualquer distinção entre competentes, A mudança de forma como se
gerações para os nossos desafios colecti-
menos competentes e incompetentes, o dialoga, negoceia e se fala ao
vos. A valorização da carreira, como já se
acesso ao topo da carreira? Não será des- país dos professores, quando se
enunciou, é com efeito, uma necessidade
valorização mandá-los antecipadamente é Governo, é determinante nesta matéria.
premente.
para casa, quando ainda se encontram Transmitir a imagem que os professores
Urge devolver aos professores a motiva-
no pleno das suas capacidades profissio- são preguiçosos, culpados pelo insucesso
ção, o brio profissional e as condições ne-
nais, que não se devem resumir à sala de escolar, corporativistas e incompetentes,
cessárias para que o seu empenho pessoal
aula, como se fossem inúteis? Não será como fez este Governo, é não só mentira,
volte a ser o melhor garante da qualidade
desvalorizar os professores, admitindo-os como desastroso para a sua imagem e
do nosso ensino.
na carreira sem antes se verificar se têm missão de interesse público que prosse-
ou não as competências pedagógicas, e guem, levando, compreensivelmente à
outras que não apenas as académicas, desmotivação dos muitos e muito bons
A imagem social do profes-
necessárias para o exercício da profissão? profissionais que temos. É fundamental
Não será desvalorizá-los não os envolver sor depende essencialmente da ima-
gem social da escola pública, enquanto dar condições às escolas e aos professores
na formação dos novos profissionais, a antes de se lhes exigir o papel de autori-
quem podem transmitir experiências e instituição da república. O PCP entende
que, pesem embora os ataques brutais que dade (pedagógica e educativa) que se lhes
conhecimentos adquiridos ao longo da pede. Investir e dignificar a escola pública,
carreira? Enfim, não será desvalorizar os o Governo PS tem dirigido a esta classe
profissional, a imagem social dos profes- respeitar os seus representantes nas
professores considerá-los como meros negociações, é dignificar os professores e
funcionários públicos, e não como deten- sores não está tão deteriorada quanto o
Ministério da Educação e o Governo pre- a sua profissão.
tores e transmissores de saberes de que a
sociedade não pode nem deve prescindir? tenderiam e gostariam. Na verdade, existe
E porque não envolver os professores mais um sentimento de confiança nos profes-
sores, fruto da relação que estes têm com GESTÃO DAS ESCOLAS
experientes na coordenação da produção
de manuais e de outros instrumentos as comunidades em que se inserem, que
pedagógicos, incentivando-os ainda a sis- ultrapassa em muitos casos, o simples É favorável à existência de um órgão de
tematizar, “ad usum delphini”, os saberes ensino na sala de aula. Ainda assim, não direcção unipessoal?
acumulados e que não se podem perder? é insignificante o ataque político, labo-
Ou será mesmo aconselhável mandá-los ral e social dirigido aos professores e à
sua imagem social e é urgente, de facto, Sou. A escola, mesmo
para a reforma, e pronto?
encetar um caminho de dignificação do democrática como se pretende, necessita
corpo docente e do papel do professor, de uma autoridade interna, e de um rosto
dotando a escola de mais meios materiais e de uma voz para o exterior.
Esta é uma questão que, pela
sua imaterialidade, raramente e humanos e respeitando as característi-
é enfatizada. Contudo, o PSD atribui-lhe cas próprias do trabalho de ensinar.
O PSD advoga um diferente
uma enorme importância. A investida,
paradigma assente na

20 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
autonomia das escolas e que se baseie também da quase totalidade das esco- representantes dos conselhos de docentes
numa maior participação dos encarrega- las e agrupamentos que durante muitos do pré-escolar e do 1º ciclo; o docente
dos de educação e das comunidades anos poderiam ter optado por um órgão responsável pelo pelouro dos alunos no
locais. Evidentemente, sem nunca ferir as unipessoal e nunca o fizeram!) não há ne- conselho de gestão; um representante
irrenunciáveis competências científicas e nhuma vantagem neste modelo. Este novo dos serviços de psicologia e orientação da
pedagógicas dos professores. modelo impõe soluções únicas a todas as escola.
Este princípio de autonomia – com a cor- escolas, retirando-lhes a pouca autonomia
respondente prestação de contas – deverá de que ainda dispunham. A concentra-
permitir às escolas uma gestão flexível, ção dos poderes de decisão na figura de O Conselho Pedagógico deve ter
aberta a parcerias e com lideranças fortes um director, que passa a fazer parte de um papel de reflexão e apoio à
e profissionais (eventualmente de cariz uma cadeia de comando, que começa Escola no domínio pedagógico e
unipessoal). no Ministério da Educação (pelo qual é educativo, perseguindo nas suas acções a
Contudo, para que tenha sucesso, esta avaliado) e acaba nos coordenadores das concretização do Projecto Educativo da
mudança preconizada tem necessaria- estruturas pedagógicas intermédias (estes Escola. O Conselho Pedagógico, como
mente de ser complementada com uma designados pelo director), tem como único órgão consultivo de natureza técnica,
aposta na valorização do professor, objectivo, estabelecer um poder contro- deverá ser constituído exclusivamente por
enquanto factor decisivo para o suces- lador que esmagará qualquer tentativa de professores.
so educativo e com o reforço do papel autonomia.
regulador e avaliador do Estado, enquan- As dificuldades que existem na gestão
to garante da qualidade de ensino e de das escolas devem-se a muitos facto- Defendemos o modelo definido no
equidade no acesso de todos ao conheci- res, a começar pela exiguidade de meios anterior decreto de gestão – pode-
mento. financeiros e humanos, mas não se devem ria ser alvo de algumas melhorias,
certamente à existência de um órgão mas parecia-nos funcional e adequado.
colectivo de direcção das escolas ou agru-
O Partido Comunista Portu- pamentos, antes pelo contrário.
guês opôs-se sempre à gestão e direcção O Conselho Pedagógico deve ter
unipessoal das escolas e apresentou na o papel determinante e decisivo
Assembleia da República o único Projecto Que papel entende que deverá ser no que toca ao projecto
alternativo ao do PS sobre gestão escolar. atribuído ao Conselho Pedagógico e educativo e pedagógico da escola, na
qual a composição que propõe para a
Esse projecto, o Projecto de Lei nº 458/X, sua constituição?
lógica do primado do pedagógico sobre o
propõe a existência de um órgão colegial administrativo, posto, infelizmente, em
de direcção executiva. causa pelas reformas desta legislatura.
O que vem na lei, e que Deve ser composto maioritariamente por
deriva do bom senso: definir e zelar pelo profissionais docentes e discentes da
Sim. Com prestação de contas à cumprimento do projecto pedagógico da escola ou agrupamento, que são os
comunidade educativa. A respon- escola. E deve ser composto por professo- responsáveis competentes, com formação
sabilização crescente da gestão res e outros profissionais da educação. e com conhecimento e os envolvidos no
das escolas é o melhor caminho para processo aprendizagem/ensino, sem
estas. descurar a participação importante de
O Conselho Pedagógico deverá pais e encarregados de educação.
reflectir, essencialmente, a
A figura do “director” não conta composição e as competências previstas
com a nossa simpatia – acredita- É favorável à revogação do Decreto-Lei
no revogado Decreto-Lei n.º 115-A/98.
mos que um modelo de gestão que n.º 75-A/2008 (actual modelo de direcção
e gestão) e sua substituição por um mo-
assente numa equipa é mais funcional. delo de direcção e gestão democrático?
Mas consideramos que o anterior modelo O PCP defende um Conselho Em caso afirmativo, quais as traves
de gestão, do decreto-lei nº. 115/A Pedagógico de carácter eminentemente mestras desse modelo?
permitia que a escolas fizessem essa científico-pedagógico, que não confun-
escolha, e que portanto o novo modelo da as suas competências com órgãos
imposto pelo actual Governo veio limitar a deliberativos de gestão administrativa ou Não sou. Porque a gestão
escolha autónoma das escolas. outra. Por isso mesmo, no Projecto de Lei democrática não é sempre sinónimo de
apresentado pelo PCP na X Legislatura, eleição directa. De resto, se avaliarmos
Este modelo que acaba com a propõe a composição seguinte: os resultados de quase três décadas da
tradição de colegialidade do pós o presidente do conselho de gestão (órgão chamada “gestão democrática” das esco-
25 de Abril, passa a impor a proposto pelo PCP para a orientação las, verificaremos a responsabilidade que
todas as escolas um órgão de gestão executiva da escola); o presidente do ela teve no estado a que a escola pública
unipessoal, um director. O processo de conselho de direcção (órgão proposto chegou em Portugal… Órgãos de gestão
selecção, concurso e eleição é tudo menos para a orientação estratégica da escola); dependentes de contabilidades eleitorais,
democrático e afigura-se-nos de legalida- os coordenadores dos directores de turma, autoridade diluída e portanto desrespon-
de duvidosa. por ciclo de escolaridade; os coordenado- sabilizada… Em muitas escolas, felizmen-
Do ponto de vista de “Os Verdes” (e res de departamento curriculares; quatro te, tal não aconteceu, ou nem sempre

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aconteceu. Mas, curiosamente, foi naque- rouba a autonomia às escolas e pretende processo, pouco ponderado e participado,
las em que em dado momento apareceram torná-las uma correia de transmissão do pode conduzir. As Autarquias Locais aca-
responsáveis – presidentes de conselhos Ministério da Educação. baram por receber muitas responsabilida-
directivos, depois executivos – de forte des sem a preparação e as contrapartidas
personalidade, respeitados pelos colegas, que justificavam essa transferência.
alunos e funcionários, e com evidentes MUNICIPALIZAÇÃO
capacidades de gestão, que na prática
então já eram verdadeiros “directores”, ou O PCP é favorável à parti-
seja, órgãos informais, mas efectivos, de Considera que os municípios têm con- cipação das autarquias locais na gestão
direcção unipessoal… dições e recursos para assegurarem e conservação do parque escolar, por
as responsabilidades que, no ensino
motivo de proximidade natural entre a
básico, o Governo lhes atribuiu?
autarquia e as instalações. No entanto, o
O novo modelo de direcção e PCP manifestou-se sempre contra qual-
gestão das escolas, imposto quer tentativa de “municipalização” que
Está em curso o processo
pelo Decreto-Lei n.º 75-A/2008, é um implicasse a transferência de competên-
de transferência de responsabilidades
mero instrumento de controlo político, por cias que envolvessem gestão de recursos
do Estado para a administração local,
parte do Governo, sobre a vida das humanos ou que tivesse implicações
mediante a assinatura de protocolos, onde
escolas. Sem uma alteração profunda do pedagógicas, educativas ou relacionadas
são definidas as condições, distribuídas as
modelo organizacional do sistema, que com a qualidade da Educação. Mais do
obrigações, e acautelados os direitos dos
quebre a dependência funcional e política que considerar que os municípios não
profissionais e dos alunos. Tem que ser um
das orientações da tutela, este modelo só possuem os meios necessários, o PCP
processo gradual, é claro. E há que reco-
agudiza o centralismo. No fundo, o actual entende que não têm e não devem ter a
nhecer que muitos municípios ainda não
regime convida a que os novos directores vocação para a gestão do pessoal não
têm as condições necessárias, e por isso
de escola sejam uma espécie de “comissá- docente nem do pessoal docente, ou
ainda não lhes foi cometida tal responsa-
rios”. Tal é, precisamente, o oposto do de qualquer outra matéria relacionada
bilidade. Mas é entendimento do PS que,
modelo defendido pelo PSD. Acreditamos directamente com o processo de ensino-
em vez de se esperar que todos reúnam
nas escolas e nos agentes que quotidiana- -aprendizagem. As autarquias devem
todas as condições para se avançar – o
mente têm a aptidão e as condições para constituir-se como parceiros na Educa-
que nunca aconteceria… –, se deve avan-
construir um ensino de qualidade. ção e não como governos regionais de
çar com aqueles que estão em condições,
educação.
e estimular os outros a prepararem-se
para receberem as novas competências.
A proposta alternativa
Os meios financeiros são garantidos pelo
do PCP está bem patente no referido Neste momento não há condições
Estado, com o envolvimento colabora-
Projecto de Lei nº 458/X e caracteriza-se para que os municípios possam
tivo da Associação de Municípios. Será,
essencialmente pelo aprofundamento da fazê-lo sem constrangimentos.
no entanto, necessário acautelar-se os
experiência de gestão democrática das Não está feito um levantamento geral do
direitos adquiridos pelos funcionários que,
escolas, envolvendo todos os agentes da estado físico das instalações escolares,
por esta razão, transitam dos quadros da
comunidade educativa. nem dos recursos humanos existentes,
administração central para os da adminis-
sendo que, sem estes elementos não é
tração local.
possível estabelecer contratos programas
O CDS é favorável à alteração, que defendam as melhores condições para
nomeadamente nas condições de o bom funcionamento das escolas. Por
As comunidades locais, os
candidatura e conteúdo do outra via, é preciso elencar e definir as
agentes culturais, o tecido
processo de candidatura à direcção. A funções que, do ponto de vista da
empresarial e as próprias autarquias
modificação que defendemos passa por exequibilidade, venham a ser transferidas
devem assumir um envolvimento crescen-
uma maior autonomia das escolas e fim para os municípios.
te no quotidiano das escolas e na educa-
do centralismo do Ministério da Educação
ção das suas gerações mais jovens.
que tudo quer determinar.
O PSD defende que a transferência de
Não. É nossa opinião que este
mais competências para a comunidade,
modelo de atribuição e compe-
não somente para as autarquias, deve ser
Sim, sem dúvida que é imperativo tências às autarquias vai acentu-
diligentemente incrementada. Natural-
revogar este modelo de gestão. ar as assimetrias regionais que o país
mente, há limites a essa assumpção de
Pensamos que deve ser recuperado tão bem conhece, criando desigualdades
responsabilidades, desde logo, ao nível
o carácter colegial e democrático na orga- inaceitáveis no acesso e frequência da
da regulação e avaliação do sistema, que
nização da gestão escolar. escolaridade. A proximidade e descen-
devem naturalmente assumir um carác-
tralização na tomada de decisões de
ter universal e, portanto, com vocação
gestão devem ser feita em coordenação
central.
Naturalmente que “Os Verdes” com a autonomia das escolas e com a
A experiência recente de “descentrali-
são favoráveis à revogação do disponibilização dos recursos necessá-
zação” promovida pelo actual Governo
actual modelo de gestão, rios ao poder local.
mostra-nos os riscos e prejuízos a que um
perfeitamente anti-democrático, que

22 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
De todo. Em razão da natureza e as de enriquecimento curricular, como de público às populações melhor do que era
olhando para o que tem sido a resto acaba de ser reconhecido pelo go- feita pela Administração Central, o que
experiência histórica de transfe- verno por meio de um diploma específico. neste caso, não acontece.
rência de competências na área da Temos agora uma nova oportunidade para
educação (entre outras) para as autar- se avaliar o modo como as autarquias dão
conta desta nova responsabilidade. É favorável a uma profunda revisão
quias, sem as respectivas transferências
do actual modelo das designadas
financeiras necessárias, verifica-se que AEC (Actividades de Enriquecimento
acaba por ser um logro (inclusivamente Curricular)? Nesse quadro, defende
para as próprias autarquias mas) princi- O PSD defende com convicção a integração da língua estrangeira no
palmente para a qualidade da escola um modelo organizacional currículo do 1.º Ciclo?
pública. A Educação e a igualdade de para o nosso sistema de ensino fortemen-
oportunidades que deve garantir a escola te baseado na liberdade educativa, na
pública é uma tarefa de eminente diversidade pedagógica, na autonomia das Parafraseando o filólo-
interesse público e de responsabilidade do escolas e na consequente responsabiliza- go Benedetto Croce, todos os modelos
Estado Central, inalienável. ção dos agentes que, no terreno (isto é, na são bons quando são bons. O que quer
escola e no seu espaço envolvente) melhor dizer que só servem enquanto se revelam
conhecem a realidade e melhor estão adequados, e devem ser alterados ou
Quais as competências que, em matéria preparados para encontrar as respostas abandonados quando o não são. O actual
de Educação, considera deverem ser adequadas. É nesse sentido que as modelo de AEC é funcional, e encerra em
atribuídas às autarquias? Admite, por autarquias devem desempenhar um papel si uma boa margem de liberdade de actu-
exemplo, a transferência de responsa-
bilidades relativas à colocação e gestão
mais relevante. Contudo, rejeita-se ação. Deverá, no entanto, ser cometida às
de pessoal docente? qualquer hipótese de combater o actual escolas, progressivamente, a capacidade
centralismo com a disseminação de de o adaptarem às suas características
pequenos “centralismos locais” sedeados próprias, incluindo o respectivo projec-
A escola pública deve estar na respectiva autarquia. to pedagógico. Uma escola da cintura
o mais possível próxima da comunidade industrial de Lisboa poderá ter interesse
em que se integra, e as autarquias têm em admitir como AEC uma actividade que
um papel muito importante no processo O PCP não admite a transfe- não interessa a uma escola dos Açores
de desenvolvimento de cada escola. Mas rência de responsabilidades ou competên- ou a outra do nordeste transmontano. E
é preciso não esquecer que todos os cida- cias, do Governo para as autarquias, que vice-versa. Quanto à integração da língua
dãos devem ter igualdade de oportunida- se relacionem com a colocação, contra- estrangeira no 1.º ciclo, venha ela! Quanto
des, e para mais em matéria de educação. tação ou gestão de quaisquer recursos mais cedo se iniciar a aprendizagem de
Por isso, há que se acautelar todos os humanos na área da Educação. uma língua, melhores serão os resultados:
mecanismos que garantam tal igualdade até aos 7 anos de idade, a aprendizagem
de oportunidades, e contornar aqueles de uma língua é um acto natural.
que possam introduzir desigualdades; de Neste momento pelas razões de
certeza que um pequeno e despovoado equidade apontadas anteriormen-
município do interior do país, de carácter te, não nos parece que a gestão do Cremos na necessidade de
rural, não dispõe das mesmas condições pessoal docente não deve ser matéria de uma reformulação do currícu-
próprias que se encontram num município transferência de responsabilidades. Já lo do Ensino Básico que, após uma
grande e populoso, de carácter urbano concordamos totalmente com a gestão rigorosa avaliação científico-pedagógica
e industrial, da faixa do litoral. Caberá dos espaços físicos e do pessoal não (e não fundada em mero impacto orça-
ao Estado garantir que essas diferenças docente pelas autarquias. mental), poderá passar pela integração de
geográficas, sociais e económicas não te- áreas que actualmente têm cariz extra-
nham implicações no acesso das crianças -curricular e que são credoras de outro
a uma escola pública de qualidade. Nesta Defendemos que o modelo de enquadramento, outro rigor e outra
matéria, tem que haver aquilo a que é colocação de professores deve dignidade.
vulgar chamar-se discriminação – que em manter o seu âmbito nacional.
si nunca é um gesto democrático – po-
sitiva. Isso passa pela garantia de que os O PCP defende a reconfi-
professores são colocados, seja em que A transferência de competências guração do regime de AEC, pois entende
escola for, com base na sua competência relativas à colocação de que é urgente a integração das áreas no
profissional e não apenas porque não há professores seria a última e mais próprio currículo escolar, tal como a lei de
concorrência… O que quer dizer que, logo gravosa de todas, pelas razões acima bases do sistema educativo preconiza. Da
que possível, devem ser as escolas a pro- expostas. “Os Verdes” só são favoráveis à mesma forma, as actividades de enrique-
cederem à selecção dos seus professores, transferência de competências para as cimento devem ser afastadas da profunda
de acordo com regras definidas pelo Esta- autarquias no caso de se demonstrar que, “escolarização” que têm vindo a demons-
do. Não creio que as autarquias devam ter em função da natureza dessas competên- trar e afirmarem-se mais como vertentes
uma grande interferência neste processo, cias e das condições práticas em que as de ocupação de tempos livres, destinadas
a não ser naquelas áreas para as quais mesmas se realizam, as autarquias ficarão essencialmente a promover o bem-estar
têm competências e meios próprios, como em condições de prestar esse serviço da criança. A contratação de professores

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 23


para suprir as necessidades colocadas pelo aos alunos e não “encaixotá-los” em salas (nomeadamente das associações de pais)
regime de AEC também carece de profun- de aula 7 horas por dia. A introdução de que possam assegurar o acompanhamen-
da e urgente reconfiguração, recentrando língua estrangeira, não é prioritária, to das crianças nos tempos livres após
no Ministério a responsabilidade sobre podendo ser compatibilizadas outras o horário escolar. No entanto, nenhuma
esses professores e assegurando-lhes o alternativas como por exemplo a educa- solução deste género cobrirá todas as
respeito e a dignidade profissional e la- ção para o ambiente, para a alimentação necessidades enquanto os governos, como
boral, pondo fim à contratação por recibo saudável ou para a cidadania. este, continuarem a apostar no ataque aos
verde, à sub-contratação e à considera- direitos das famílias, dos pais e das mães
ção desses professores como se de uma trabalhadores, enquanto persistir uma
segunda categoria se tratassem. Que modelo de resposta social defende política de desregulação laboral e flexibi-
que a Escola Pública deverá prestar aos
alunos do Ensino Básico, designada-
lização dos horários laborais ou mesmo a
mente no que respeita à ocupação dos constante desvalorização salarial.
As AEC vieram trazer uma seus tempos livres?
profunda transformação no ensino
do 1º Ciclo. Esta foi uma reforma A Escola deve proporcionar um
que não teve propriamente em conta a Por definição, numa escola núcleo de actividades estruturan-
realidade das escolas. Escolas sem pública não pode haver tempos livres. tes relativamente à formação dos
condições para um aumento de horário, Mesmo a brincar no recreio, a criança está alunos. De forma complementar devem
sem condições físicas e recursos humanos na escola, e portanto está em processo surgir outras ofertas de escola o mais
para assegurar o seu funcionamento de formação, que não é apenas curricular. variadas possível para ocupação dos
foram várias. Houve uma confusão entre Daí que seja necessário dotar as escolas tempos livres, nunca esquecendo a
actividades de enriquecimento curricular e de profissionais, docentes e não docentes, necessária articulação entre a vida escolar
curriculum, sobrepondo-se muitas vezes que lhes permitam desempenhar, de modo e profissional.
estas ao curriculum para prejuízo de integral e integrado, a sua função social,
todos. A forma como foram impostas mesmo actuando fora do seu recinto
estas actividades merece do CDS-PP exclusivo. E os alunos têm consciência As escolas necessitam de se
muitos reparos, pois colocou muitas disso: ainda este ano, no programa Parla- organizar no sentido de prestar
instituições e associações de Pais que já mento dos Jovens, que envolveu mais de também uma função social de
tinham este complemento em situação de seiscentas escolas de todo o país, e ainda apoio às famílias. Para tal, devem ser
asfixia, com dificuldades de manter os de Macau, apareceu uma proposta, vinda espaço de organização de actividades de
funcionários e técnicos que tinham ao seu de uma escola dos Açores, no sentido tempos livres, de carácter lúdico e
encargo. Pretendemos a sua alteração, de as escolas organizarem actividades convivial. Mas para tal necessitam
podendo anunciar que propomos que a desportivas na sua região, de acordo com também de novos profissionais que
aprendizagem do Inglês seja obrigatória. as características locais ou regionais: vela assegurem esta componente – animadores
ou surf, nas localidades de beira-mar, sócio-culturais, por exemplo, e mais
canoagem, quando perto de rios ou lagos, auxiliares de acção educativa. O que não
Sim. O Bloco de Esquerda tem montanhismo, nas regiões de montanha, pode continuar é esta carga horária e
vindo há vários anos a defender a e por aí abaixo… Ou seja, as crianças e disciplinar abusiva que se tem acentuado
integração curricular ao nível do 1.º adolescentes têm consciência de que o nos últimos anos.
ciclo das componentes curriculares envolvimento da escola com a comuni-
disponibilizadas hoje nas AECs. O modelo dade e com a região pode determinar a
de “actividades de enriquecimento” é definição do respectivo projecto educati- Reconhecendo as dificuldades
errado, e pedagogicamente prejudicial. vo, incluindo a incorrectamente chamada das famílias, o Estado não se
ocupação dos tempos livres. Trata-se, deve alhear de procurar dar
afinal, de uma boa resposta social que a respostas sociais adequadas. É preciso ter
“Os Verdes” são favoráveis a tal escola pública pode dar aos seus alunos e noção de que não existem respostas
revisão. As Actividades de aos familiares deles. universais, de que nem todas as escolas
Enriquecimento Curricular (e o são de meio urbano e de que nem todas as
próprio modelo de escola a tempo inteiro), respostas podem ou devem vir da escola
não só pela forma como foram introduzi- A organização dos tempos (e muito menos dos docentes), muito
dos e enxertados artificialmente no livres deve ser orientada pelos menos quando nem sequer existem
espaço escola, com prejuízo para o órgãos de gestão da escola, preferencial- condições físicas dentro do espaço
funcionamento das próprias escolas, e mente, em parceria com as autarquias escolar. O envolvimento de outras
sem garantias de direitos aos responsáveis locais. instituições públicas e outros técnicos
por ministrar essas áreas, mas porque (animadores sócio-culturais, psicólogos,
representaram um “roubo” aos currículos etc.) deve ser considerado, sem perder de
que já contêm (há décadas) a previsão, A Escola Pública deve vista o que são tempos livres (e ao ar livre
por exemplo do ensino artístico ou da assumir-se essencialmente como um preferencialmente) fundamentais para um
educação física, sempre negadas por espaço de ensino e de aprendizagem. No crescimento e formação saudável e
condicionamentos financeiros. É funda- entanto, pode e deve articular respostas completa do indivíduo.
mental garantir tempos (realmente) livres com serviços públicos ou associativos

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JF especial
ELEIÇÕES
diferença entre deficiência e necessidade sobre Educação Especial, tendo por
EDUCAÇÃO ESPECIAL educativa especial. As Necessidade referência o anterior diploma, o Decreto-
Educativas Especiais (NEE) são de carácter Lei n.º 319/91?

Considera a CIF (Classificação Indivi- educativo. Por outro lado sabe-se que
dual de Funcionalidade, Incapacidade e quem tem uma Deficiência pode não ter
Saúde) como o instrumento adequado NEE, e o contrário também é verdadeiro. Bem, esta pergunta faz-me
para identificação de alunos abrangi- Usar um classificador de Funcionalidade lembrar aqueles burocratas jurídicos que
dos pela Educação Especial? Em caso da Saúde para efeitos educacionais falam emocionadamente de decretos e
de discordância com a CIF, quais as
afigura-se-nos ser um erro. É necessário leis como se fossem pessoas, referindo-
alternativas? -os pelos respectivos números como se
que este instrumento seja objecto de
uma análise especializada, por peritos na fossem nomes próprios: o “Sessenta e
área, que deverão obrigatoriamente ouvir Quatro”, o “Trezentos e Vinte”… Enfim:
Opiniões de técnicos não defendo tal revogação, porque o
avalizados dizem-me que sim. Desde que os que diariamente se confrontam nas
escolas com esta área e assim, de forma “Três” constitui um bom avanço relativa-
aplicada por profissionais com forma- mente ao “Trezentos e Dezanove”. Estou
ção adequada, e não pelos professores sustentada possam ser introduzidas as
alterações às categorias que a CIF propõe agora a lembrar-me, de memória, de que
enquanto tais. E deve considerar todos os se acabou, por exemplo, com um vício
tipos de incapacidade, inata ou adquirida. e assim esta possa ser aplicada à
educação. corporativo que era o monopólio que
antes pertencia aos professores surdos no
exercício da actividade de professor de
A aplicação da CIF (Classifica- língua gestual portuguesa, que no novo
ção Internacional de Funcio- Não, a CIF é um instrumento de
aferição médica – como tantos diploma passa a poder ser exercida por
nalidade, Incapacidade e Saúde), da qualquer profissional com a formação e as
Organização Mundial de Saúde, na especialistas apontaram – e não
é portanto adequado ao contexto competências adequadas, e devidamente
educação especial levanta as maiores reconhecidas, independentemente de ser
reservas ao PSD, pelo que se impõe – tal educativo. Por isso mesmo, este novo
instrumento deixa de fora e sem apoio surdo ou ouvinte… Será uma minudência,
como foi proposto no Parlamento – uma é certo, mas contendo um grave atropelo
avaliação global, com base em relatórios todos os alunos que têm dificuldades
especificamente educativas. Nesse aos direitos, liberdades e garantias dos
personalizados junto dos alunos abrangi- cidadãos. O “Três” pode ainda não ser o
dos e excluídos com esta metodologia. sentido, defendemos a estruturação de
um modelo de avaliação adequado ao melhor que se deveria fazer, mas é o que
contexto escolar, que permita dar foi possível. E funciona.

O Partido Comunista resposta a todos os alunos que de facto


Português foi o único partido que propôs têm necessidades educativas especiais.
A legislação que regulou os
um regime de ensino especial alternativo, apoios no âmbito da Educação
no quadro da Assembleia da República, o Especial entre 1991 e 2008, da responsa-
Projecto de Lei nº 602/X que repunha a O Estado Português foi um dos
signatários da Declaração de bilidade de um Governo do PSD, salva-
aplicação do conceito de “necessidades guardava os direitos das crianças a uma
educativas especiais” especificamente no Salamanca que preconizava
que “todas as crianças têm o direito a educação em igualdade, apesar de alguns
âmbito pedagógico, afastando assim a constrangimentos decorrentes da subjec-
Classificação Internacional de Funcionali- receber o tipo de educação que não as
discrimine seja por que razão for, tal tividade da avaliação das necessidades
dade como a adequada para a sinalização educativas especiais de cada criança.
das necessidades especiais. O PCP opôs-se como casta, etnicidade, religião,
situação económica, estatuto de Na ânsia de perseguir uma redução no
desde o primeiro momento à política número de crianças apoiadas e de reduzir
redutora deste Governo que fez da defi- refugiado, língua, deficiência, etc.”
Assim, a utilização da CIF constitui um o número de professores destacados para
ciência a referência para a sinalização. Os o Ensino Especial, o Governo fez aprovar
critérios médicos terão certamente o seu erro grosseiro do ponto de vista científi-
co, extremamente pernicioso, provocan- um novo regime jurídico desfasado da
espaço e serão úteis para aprofundar e realidade das nossas escolas ao nível das
aperfeiçoar os mecanismos de educação do discriminações inaceitáveis e apenas
explicável pela vontade do Ministério infra-estruturas, equipamentos e recursos
especial. Não podem, de forma alguma humanos. Tendo sido alegadamente cria-
porém, determinar a sinalização dos alu- excluir alunos dos apoios educativos e
do ensino especial com fito economicis- das algumas escolas de referência, a única
nos e servir de critério de exclusão, assim consequência visível, até ao momento, é
resultando num ataque directo aos mais ta.
As NEE’s devem ser regidas por critérios maior distância a ser percorrida na deslo-
elementares princípios da Escola inclusiva cação das crianças.
e da abordagem pedagógica às necessida- pedagógicos, tendo em conta, natural-
mente as especificidades de cada aluno Apenas através de uma iniciativa parla-
des educativas especiais. mentar do PSD, foi possível salvaguardar
e o tipo de apoio que necessita.
os direitos das crianças, dos pais e encar-
regados de educação, que, com o diploma
Desde 1978, data em que é aprovado pelo Governo, eram excluídos
Defende a revogação do Decreto-Lei n.º
publicado o Relatório Warnock que 3/2008 (regime de Educação Especial) de qualquer apoio, por parte da rede de
foi internacionalmente aceite uma e aprovação de um novo quadro legal, escolas do Ensino Especial já existente.

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 25


Temos, desta forma, um enquadramento remetidas para guetos, ou seja, para a para o acompanhamento efectivo destes
que restringe a capacidade de resposta exclusão. alunos.
das escolas e prejudica objectivamente os
alunos.
A reavaliação e consequente A redução do número de alunos
alteração profunda da por turma e principalmente a
O PCP defende a revogação legislação que regula os apoios às crianças dotação nos quadros de profes-
do Decreto-Lei nº 3/2008 e chamou o com Necessidades Educativas Especiais, sores de apoio especializado e multiface-
diploma a Apreciação Parlamentar. Além mais do que um compromisso, é uma tado, seja ele para apoio a deficiências
disso, apresenta um regime de educação urgência. profundas ou apenas a dificuldades de
especial que define bem a perspectiva aprendizagem ou atrasos no desenvolvi-
avançada como o PCP entende o Ensino mento, em número suficiente e afectos a
Especial. Com a sinalização por cri- turmas em concreto e não apenas a
térios pedagógicos no âmbito do conceito agrupamentos.
de “necessidades educativas especiais”,
O Decreto-Lei 319 encontrava-se o número de estudantes ao abrigo dos
desactualizado, entrando em apoios será certamente menos restrito ENSINO SUPERIOR
conflito com os normativos que que o actual. Da mesma forma, urge
desde 1991 foram sendo publicados. abandonar uma perspectiva redutora da
Defendemos que o Decreto-Lei 3/2008 essência do Ensino Especial e, simultane- Considera que os problemas de finan-
ciamento do ensino superior são su-
deverá ser revisto para ser melhorado e amente, reforçar as condições materiais e
peráveis através da opção pelo regime
responder às reais necessidades das humanas de todo o sistema educativo, in- fundacional?
escolas nomeadamente no que diz cluindo o ensino superior, para que tenha
respeito aos alunos com dificuldades a capacidade necessária para, de facto,
específicas de aprendizagem que foram dar a resposta necessária e ajustada a O regime fundacional pode
excluídos. cada aluno, no âmbito das suas necessida- ser o mais adequado para as instituições
des educativas. que, pela sua área científica ou tecnológi-
ca de referência, ou pelo contexto social
Exacto. Foi essa a nossa proposta em que funcionam, reúnem as condições
no momento em que se discutiu o A primeira questão que tem que necessárias para a obtenção de financia-
DL 3/2008. ser levantada é a formação dos mento próprio numa proporção significa-
professores. Os professores tiva. Não será o caso de todas as insti-
deverão, em termos da sua formação, tuições de ensino superior, ou mesmo da
“Os Verdes” estão disponíveis estar preparados para adequadamente, maior parte, até porque temos demasiadas
para tal. numa primeira fase poderem responder às para a nossa dimensão territorial e de-
necessidades educativas especiais dos mográfica, o que corresponde a escassez
alunos. Este é o primeiro passo para de mercado e, logo, a limitações a nível
Nos últimos anos tem diminuído o nú- atacar o problema de fundo. Só depois se
mero de alunos apoiados de acordo com
da competitividade e da criação de massa
poderá colocar a questão dos especialistas crítica. E têm que ser acauteladas áreas
as necessidades educativas especiais
que apresentam. Que medidas defende
e de quantos são necessários e da gestão científicas, como as chamadas humanida-
para que se inverta este caminho? dos recursos. des, que não reunindo, só por si, condições
È nosso entendimento que também se de- para garantir o regime fundacional, são no
vem recuperar as equipas de coordenação entanto fundamentais para o desenvolvi-
Seria conveniente saber- dos apoios educativos/educação especial mento do país. Por isso o Estado tem que
-se a que se deve tal diminuição, e se concelhias ou por grupos de concelhos, agir muito ponderadamente nesta ma-
de antes o conceito de necessidade multidisciplinares, formadas com técnicos téria, e tem sido esse o entendimento do
educativa especial não seria demasiado com formação específica para actuar nes- governo do PS. A existência de uma rede
elástico… Quantos casos de insucesso ta área, que sejam os orientadores de todo de instituições de ensino superior público
escolar, provavelmente resultado mais este processo, que tenham funções de é uma condição constitucional, que deve
de problemas sociais do que de inca- avaliação e intervenção junto das direc- ser respeitada, valorizada e desenvolvi-
pacidades patológicas, não estariam ções das escolas públicas e privadas, dos da. Que venha por bem tudo aquilo que
erroneamente arrolados no pacote do professores, das famílias e da comunidade contribua para o seu aperfeiçoamento,
ensino especial? Provavelmente, o melhor escolar e que possam ser pivots deste sejam os regimes fundacionais ou então,
caminho será aplicação, por profissionais processo. Deste modo teremos a noção da mais prosaicamente, a reestruturação da
devidamente habilitados, de instrumentos realidade podendo adequar o número de rede de universidades e politécnicos que
de detecção e despistagem aferidos para professores necessários em cada situação. actualmente, como é fácil de perceber,
a nossa população escolar, como a CIF é tudo menos sistémica, e é sobretudo
ou outras que venham a ser ponderadas, desadequada às condições, às disponibi-
e criar-se nas escolas as condições para Retomar um modelo de sinalização lidades financeiras, e às necessidades do
que as crianças tenham o devido acom- das NEEs adequado ao contexto nosso país. Em muitos casos, a criação de
panhamento sem que, no entanto, sejam educativo, e criação de condições

26 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
instituições de ensino superior foi mais custos do ensino ao estudante, sempre entende que pode ser ganha aquela
motivada por estratégias e interesses de sob a capa das “receitas próprias”. aposta?
desenvolvimento económico local e re-
gional, e não pelo interesse do desenvol-
Primeiro, pela valorização
vimento nacional e, por alargamento, pelo Independentemente do regime é
e pelo aproveitamento do capital humano
interesse dos cidadãos em geral que são necessário criar um quadro
dos nossos professores e investigado-
os grandes financiadores do sistema. institucional de ensino superior
res, e dos estudantes de pós-graduação
que contemple a agilização e flexibilidade
(mestrado e doutoramento) que devem ser
de gestão, inerentes à sujeição ao direito
estimulados, de acordo com as carac-
Num mundo crescentemente privado. É mais do que evidente que o
terísticas pessoais de cada um, para a
competitivo, Portugal apre- actual Governo asfixiou financeiramente
investigação científica e tecnológica, para
senta níveis relativamente reduzidos de as Instituições do Ensino Superior ao
a produção e aplicação de conhecimento,
investimento no seu ensino superior. longo do seu mandato. Houve uma clara
e para o relacionamento das suas inves-
Contudo, este esforço crescente que é falta de investimento. As instituições
tigações e conhecimentos com o tecido
exigível ao Estado, não deve inibir as Universitárias e Politécnicas esgotaram
social, económico, financeiro e indus-
Instituições de Ensino Superior públicas todos os seus saldos financeiros nestes
trial envolvente. Tanto como o Estado, o
(Universidades e Institutos Politécnicos) anos, havendo cada vez mais casos de
sistema económico privado do país deve
de aperfeiçoarem os seus mecanismos de instituições em sérias dificuldades
assumir as suas responsabilidades em ma-
geração de receitas. Há, assim, um financeiras.
téria de apoio e estímulo à I & D, de quem,
caminho paralelo que deve ser seguido, Acreditamos que as instituições são
em última análise, é beneficiário. Se me
repartindo responsabilidades entre o capazes de obter financiamento próprio,
permitem citar um bom exemplo, temos a
Estado e as próprias instituições. no entanto esta não é uma realidade
Universidade de Aveiro, o seu envolvimen-
O regime fundacional, no que concerne em todas, pois têm um enquadramento
to directo com as empresas da região, e o
à autonomia que concede às Instituições geográfico e social muito diferenciado.
ganho que para todos daí advém. E como
(de gestão plurianual, por exemplo), pode O regime fundacional até pode ser um
ela há outras.
ser um caminho adequado. Contudo, é caminho possível, no entanto isso nunca
inaceitável que o acesso, a estas condi- poderá prejudicar as instituições que não
ções, esteja condicionado pela arbitrarie- façam essa opção. As regras têm que
Quanto à aposta em I & D, o
dade do Governo. Não acreditamos num ser claras para que não existam leituras
PSD sustenta que deverá ser
ensino a duas velocidades, em função da dúbias sobre as vantagens e fragilidades
estimulada a interligação entre as
interferência e das opções conjunturais de do sistema de fundações.
unidades de investigação inseridas no
um determinado governante. As instituições não podem continuar a
ensino superior, as unidades autónomas,
O regime de gestão fundacional só será ser asfixiadas financeiramente por forma
as instituições de interface e as empresas.
positivo se for regido por critérios de a ficarem dependentes do Ministério nas
Esta ligação deve sustentar-se em
transparência e de objectividade, promo- suas opções estratégicas.
consórcios e protocolos entre instituições
vendo oportunidades para todos. Tal não
nacionais e estrangeiras e num forte
acontece presentemente.
incremento da inserção das empresas nas
Não. É um modelo que conduz a
actividades de I & D desenvolvidas no
uma privatização da missão
ensino superior.
A opção fundacional pública das instituições do ensino
Em áreas de menor aplicação, como as
representa precisamente um passo em superior, e não tem qualquer ganho de
humanísticas e sociais, a investigação
frente no curso de privatização da gestão qualidade ou acessibilidade a este nível de
deverá ser apoiada na sua ligação a
do ensino superior. Esse passo surge ensino.
entidades não empresariais, como IPSS’s,
no seguimento de uma política de sub-
colectividades locais ou serviços públicos.
-financiamento crónico e crescente. Como
Em suma, defende-se um Estado regu-
tal, o regime fundacional representa As fundações não são solução
lador e não interventor, mas um Estado
uma reconfiguração para a privatização, onde o problema é falta de
financeiramente responsável e capaz de
sem nenhuma possibilidade objectiva de vontade política para dotar o
incentivar outros actores e parceiros a
resolver os problemas do financiamen- ensino dos meios necessários para
co-assumir responsabilidades nas áreas do
to público do ensino superior. A opção cumprir o princípio constitucional da
Ensino Superior e da I & D.
fundacional traduzir-se-á, isso sim, numa gratuitidade na educação, enquanto
desregulação e numa desarticulação dos garante da igualdade de oportunidades,
direitos dos trabalhadores das instituições, e, acima de tudo, quando falta a compre-
O PCP entende que a políti-
professores, investigadores e funcionários ensão de que a educação é investimento
ca de I & D não pode circunscrever-se a ni-
não docentes, bem como numa objectiva e não despesa.
chos de investigação, nem tampouco pode
entrega da gestão estratégica das insti-
limitar-se ao chorrilho de propaganda que
tuições a entidades privadas. Simultanea-
A aposta na I&D exige um quadro de o actual governo dela tem feito. É urgente
mente, a fundação representará a comple-
financiamento específico e forte. Em criar as condições para a investigação nas
ta distorção do papel da Universidade, linhas gerais e face às dificuldades instituições, mas é também determinan-
tornando-a num prestador de serviços e de financiamento que se colocam às te a aposta nos laboratórios do Estado,
assim encarecendo significativamente os instituições de ensino superior, como

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 27


numa estrutura nacional de investigação que laboram os seus profissionais. A maior
ACÇÃO SOCIAL
e desenvolvimento, que responda às dos investigadores, em particular os que
ESCOLAR
necessidades reais da economia nacional se encontram em exclusividade sediados
e das populações. A carreira de investiga- em unidades de pesquisa, têm contratos
dor carece de uma revisão, e o recurso à precários, não auferem 13ª mês e subsí- Num momento de profunda crise, cujas
figura do bolseiro de investigação cientí- dio de férias, nem tampouco subsídio de consequências para as famílias são
fica deve ser proibido sempre que tal não desemprego. Os bolseiros da FCT não são as mais negativas, provocando o seu
corresponda ao efectivo financiamento da aumentados há seis anos, como denuncia empobrecimento, que medidas mais re-
levantes defende no sentido de a acção
obtenção de um grau académico. a Associação de Bolseiros de Investiga-
social escolar ser, de facto, eficaz?
Da mesma forma, só com uma política ção Científica. Na maior parte dos casos
de financiamento do Ensino Superior que não existe uma carreira e os salários são
satisfaça as mais elementares necessida- pagos com imenso atraso. Nestas con-
Aprofundar e desenvolver
des de funcionamento do sistema, será dições, a investigação científica sofrerá
aquelas que já estão anunciadas e no ter-
possível afectar verdadeiramente à I & D sempre das dificuldades de instituciona-
reno… Como, a talhe de foice, a atribuição
os valores que podem alavancar o sistema lização e da intermitência e circulação
de subsídios de transporte aos alunos dos
científico e tecnológico nacional, na sua de investigadores, em busca de melhores
cursos profissionais do ensino secundário;
componente integrada no Ensino Superior. oportunidades.
a criação de bolsas de estudo para os
Por isso mesmo, o PCP tem defendido uma Segunda prioridade: a I & D deve possuir
alunos com aproveitamento escolar no se-
nova lei de financiamento do Ensino Su- uma agenda própria
cundário e beneficiários dos dois primeiros
perior Público. O PCP também apresentou Actualmente verifica-se uma nítida co-
escalões de abono de família … Os custos
na Assembleia da República o Projecto de lonização das agendas de pesquisa pelas
com a acção social escolar, que englobam
Resolução nº 373/X que propõe um con- necessidades orçamentais das unidades
também os custos com as refeições dos
junto de medidas para a efectiva dinami- de investigação ou das Universidades em
alunos do 1.º ciclo e o apoio às famílias
zação do Sistema Científico e Tecnológico que estas estão inseridas, prejudican-
mais carenciadas, que aumentaram sig-
Nacional. do a autonomia do campo científico e
nificativamente... E ainda a generalização
sujeitando as prioridades de pesquisa à
da 13.ª prestação do abono de família; a
rentabilidade e à quase tirania da investi-
criação do passe escolar generalizado, que
O fortalecimento na I & D não pode gação aplicada. Ora, é sem dúvida pelo
representa uma redução para metade da
ser feito à custa do Ensino impulso na investigação fundamental que
assinatura mensal de transporte público; a
Superior, estes são complementa- se verificam os mais sólidos progressos
acção social integral para as famílias com
res. De facto um não se desenvolve sem o na investigação científica, com repercus-
crianças de 5 anos beneficiárias dos dois
outro, mas tem caminhos diferenciados. sões na internacionalização e mesmo, a
primeiros escalões… Enfim, um conjunto
Entende o CDS que as empresas têm que posteriori, na investigação aplicada.
de medidas concretas, que vão muito para
ser cativadas para esta vertente, pois Terceira prioridade: Criar critérios de
além do discurso político e que calam
neste segmento está o futuro de muitas avaliação amplamente discutidos, parti-
fundo na nossa sociedade, tornando-a
delas. O Estado tem que abrir os seus cipados e consensualizados nas e pelas
mais justa.
centros de investigação ao tecido comunidades científicas, sem hegemonias
empresarial, para que este invista mas redutoras (das ciências ditas «duras» face
possa beneficiar dos resultantes que daí às «moles», por exemplo)
Na situação de emergência
posam advir. Por outro lado, para dar Quarta prioridade: Promover a ligação
social que o País atravessa, a
resposta eficaz e credível ao modelo de entre investigação e políticas públicas,
escola pode assumir um papel preponde-
internacionalização pretendido é impres- condição essencial de uma ciência pú-
rante na atenuação do impacto desta
cindível uma maior autonomia das blica, discutida na e pela sociedade, fora
crise. Se o Estado for capaz de introduzir
instituições na contratação de professores das redomas dos laboratórios e unidades
medidas concretas no âmbito da Acção
e investigadores de qualidade no mercado de pesquisa.
Social Escolar, pode garantir-se a desejá-
global. É também necessária uma maior
vel igualdade de oportunidades para todas
autonomia científico-pedagógica para
as crianças, independentemente do meio
execução de novas iniciativas de ensino e O garrote financeiro às Institui-
social ou familiar de origem.
de investigação, e uma maior autonomia ções de Ensino Superior compro-
Se, ao invés, não se encontrarem as
administrativa, financeira e patrimonial. mete as metas em I & D. Para
respostas adequadas para enfrentar este
Só por essa via se caminhará para uma garanti-las é necessário mudar o actual
contexto, não só estaremos a violar o
maior simplificação de determinados quadro de financiamento e dotar a
princípio de solidariedade que nos deve
processos, e para uma aposta credenciada Fundação para a Ciência e Tecnologia de
nortear, mas estaremos igualmente a se-
nos produtos. condições para desempenhar a sua
mear custos sociais que se sentirão duran-
missão. Os investigadores científicos não
te as próximas décadas, por via do risco
podem continuar bolseiros toda a vida
de abandono escolar por parte de muitas
Primeira prioridade: combater a quando satisfazem necessidades perma-
crianças e do consequente aumento das
precariedade dos investigadores nentes das instituições, devendo ser
assimetrias sociais.
A I & D em Portugal necessita, para integrados com todos os direitos e
Num contexto de escolaridade obrigatória
usufruir de um salto quantitativo e qua- oportunidades de carreira.
de 12 anos, o esforço torna-se ainda mais
litativo, de combater a precariedade em

28 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
exigente. Exige-se a criação de condições social tem que ser largamente reforçado. consciente da realidade do nosso país, o
que garantam o inevitável aumento do Uns dos mais elevados custos para as governo do PS tem tomado, paulatina-
número de alunos no ensino secundário. famílias são os materiais pedagógicos em mente, as medidas necessárias e rea-
A Acção Social Escolar é um dos factores que se incluem os manuais escolares. listas para que se consiga tal objectivo.
mais relevantes na garantia de oportu- Propusemos e propomos a criação de uma Procedeu, por exemplo, à reorganização
nidades para os mais desfavorecidos. O bolsa de empréstimo de manuais e outros da rede escolar, e sobretudo à beneficia-
seu reforço deve, como tal, ser assumido materiais pedagógicos. Esta bolsa tem ção e melhoria das escolas secundárias,
como prioritário, sem prejuízo de uma como consequência logo no início do ano tornando-as mais funcionais e adequadas
maior selectividade e objectividade, de lectivo uma poupança de centenas de não só à população escolar actual, mas
modo a atingir-se melhores resultados. euros às famílias e a criação de uma àquela que virá, aumentada, com a obri-
Para além da aposta no reforço das bolsas consciência de responsabilidade social das gatoriedade dos doze anos. Serão também
de estudo, em cantinas e residências, deve crianças. lançados programas de formação e actu-
alargar-se o seu âmbito a novas respostas. Propomos também um apoio social valori- alização dos professores. Mas sobretudo
O PSD tem, a este respeito, apresentado zado em função do mérito atingido pelos entende o PS que é necessário trazer a
propostas no Parlamento (por exemplo, ao alunos nos seus desempenhos escolares, sociedade portuguesa para este combate,
nível dos manuais escolares e da frequên- a fim de alicerçar a valorização que as trate-se das famílias ou das empresas e
cia do ensino superior) que visam alcançar famílias devem atribuir ao aumento da empregadores, no sentido de perceber que
este objectivo. escolaridade dos seus educandos. é bom para todos que os jovens estejam
na escola até aos 18 anos, mesmo quando
já têm idade legal para entrar no mercado
O PCP apresentou na As- O Bloco de Esquerda defende que a de trabalho. Para tal, é necessário que a
sembleia da República dois projectos de gratuitidade efectiva da escolari- escolaridade obrigatória considere, por
lei que podem traduzir de alguma forma dade obrigatória é a condição de exemplo, horários pós-laborais, a fim de
as medidas pontuais que o PCP colocou. verificação dos doze anos de escolariza- se poder conciliar o direito ao trabalho
O Projecto de Lei nº 743/X que estabelece ção – nomeadamente, no acesso a a partir dos 16 anos com a escolaridade
um regime de aumento dos apoios a con- refeições escolares e gratuitidade dos obrigatória até aos 18 anos…
ceder da acção social escolar dos ensinos manuais na escolaridade obrigatória.
básico e secundário e o Projecto de Lei nº
698/X que propõe a criação de um regime O PSD, já em 2003, propôs o
alargado de acção social para estudantes A acção social escolar tem que alargamento da escolaridade
do ensino superior. No entanto, do ponto garantir condições efectivas a obrigatória para 12 anos, prevendo, então,
de vista programático, o PCP apresenta superar as enormes desigualdades um prazo razoável para a sua preparação
uma visão política radicalmente distinta que hoje existem e as crescentes dificulda- e implementação. Por responsabilidade do
sobre o papel da acção social no sistema des das famílias causadas pela crise. PS, esse processo hibernou durante seis
educativo. Enquanto que os sucessivos A gratuitidade de manuais escolares, anos (perdidos).
governos e restantes partidos entendem a a garantia de refeições, o aumento de Na nossa óptica, esta alteração da lei de
acção social escolar como a forma de as- residências (no superior), o aumento de bases deveria ser acompanhada de outras
segurar a possibilidade de estudar às ca- bolsas, são fundamentais. medidas enquadradoras.
madas mais empobrecidas da população, Devem-se igualmente criar condições para Este seria o momento adequado para ava-
atribuindo-lhe inclusivamente um carácter que a Acção Social Escolar possa intervir liar, designadamente, a mudança da estru-
muitas vezes assistencialista e caritati- sempre que se verifiquem alterações das tura de ciclos, caminhando-se para uma
vo, o PCP entende que a gratuitidade do condições de sustentabilidade dos agrega- solução de 6+6 (6 anos de ensino básico e
ensino em todos os seus graus deve ser dos familiares. 6 anos de ensino secundário), diluindo as
desligada, tanto quanto possível, do regi- É assaz importante que as bolsas sejam transições, revendo as estruturas curricu-
me de acção social. Ou seja, a gratuitidade pagas a tempo e horas pelo que a dotação lares e encontrando vias diversificadas ao
do ensino deve ser um direito consoli- global deve ser revista e aumentada. nível do ensino secundário (por exemplo,
dado para todos, independentemente da com um ensino profissional qualificador).
camada social em que se integrem. Assim, Paralelamente, este desafio exige que
a acção social perde a sua dimensão OBRIGATORIEDADE se aprofundem os mecanismos de acção
assistencialista e deixa de ser o mecanis- ESCOLAR social, de prevenção do abandono e do
mo de salvaguarda da gratuitidade nunca insucesso e de orientação e apoio voca-
alcançada e passa a ser o mecanismo de cional.
igualdade de direitos, oportunidades e O partido concorda com o alargamento Contudo, importa salvaguardar que a
possibilidades no acesso e na frequência da escolaridade obrigatória para 12 prossecução deste objectivo (alargamento
anos? Se concordar, quais as principais
de todos os graus de ensino. medidas que considera indispensáveis da escolaridade obrigatória) não degenere
e prévias a esse alargamento? num acréscimo de facilidade, tão perver-
sa e prejudicial, nos níveis de exigência
Muitas foram as propostas do e qualidade escolares. Queremos que
CDS-PP neste capítulo. É em Claro que concorda, e já cheguem mais jovens ao final do ensino
tempos de grandes dificuldades tornou em lei tal concordância… Mas, secundário, mas também queremos jovens
económicas das famílias que este apoio mais bem preparados. Depois deste la-

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 29


mentável ciclo político em que se promo- pré-escolar a partir dos 4 anos de idade. A universalização e gratuitidade da fre-
veu o facilitismo, o nosso ensino carece quência da educação para a infância por
do regresso a uma cultura de exigência, crianças de 5 anos significarão, indubita-
disciplina e trabalho. Sim, o alargamento, feito de velmente, um relevante avanço civiliza-
forma sustentável e em cional, desde que acautelados todos os
condições, representará uma riscos de uma indesejável escolarização
O PCP considera absolu- grande vantagem para aumentar o nível precoce e desde que se assegurem as
tamente essencial que a escolaridade de escolarização e de formação no país. medidas adequadas de apoio familiar.
obrigatória seja alargada para o 12º ano. Aumentando também o número de
Para tal, serão estritamente necessários alunos a frequentar, é óbvio que as
mais e melhores recursos materiais e escolas (não se podem colocar mais ovos O PCP defende a expan-
humanos nas escolas. Da mesma forma, num cesto que já está cheio) e o quadro são do sistema público de educação
entendemos como prioritária a gratui- de professores também tem de ser pré-escolar, articulado com a rede
tidade do ensino, independentemente adequado a esta nova realidade. Pensa- escolar do 1º ciclo, dando cumprimento
da idade do estudante – o que este o mos, no entanto, que antes de se fazer à obrigação que a Constituição impõe
PS não aceitou. O PCP não subscreve este alargamento da escolaridade ao Estado, garantindo a frequência
porém a forma como o PS procedeu ao obrigatória deveria ter sido feita a universal, gratuita e obrigatória no ano
alargamento da escolaridade obrigatória reestruturação e consolidação do que anteceda o ingresso das crianças no
sem tomar as necessárias medidas de terceiro ciclo de escolaridade, até porque ensino básico, bem como as condições
infra-estrutura e de criação de condi- irá servir de alicerce a este alargamento para a universalidade da frequência a
ções no sistema de ensino. Uma revisão da escolaridade obrigatória. partir dos 3 anos e garantindo a curto
curricular e de conteúdos e a criação de prazo um resposta de qualidade para a
condições, nas vias de ensino profissio- faixa dos 0 aos 3 anos.
nal e profissionalizante que assegurem É favorável ao alargamento da obriga-
a possibilidade de prosseguimento de toriedade de frequência à Educação
Pré-Escolar, neste caso, ao grupo etário
estudos e a permeabilidade com as vias que antecede a entrada no 1.º Ciclo do
A Educação Pré-Escolar é um
científico-humanísticas. Caso contrá- Ensino Básico?
elemento essencial para o sucesso
rio, o alargamento da escolaridade vai das crianças no 1º ciclo do ensino
apenas traduzir-se no alargamento da básico. Defendemos a universalidade da
idade para frequência obrigatória de um O acesso à Educação Pré- oferta, não discriminando entre oferta
estabelecimento de ensino ou então na -Escolar deve ser universal, em termos pública ou privada. No entanto a obriga-
formação profissional obrigatória. de oferta, mas facultativo em termos de toriedade de frequência não merece a
procura. Ou seja, todas as crianças com 5 nossa anuência. Nesta faixa etária as
anos de idade devem poder ter acesso a famílias devem decidir que tipo de
Sim, o Programa Eleitoral do um estabelecimento deste tipo de educa- educação quer para os seus filhos e qual
CDS-PP já em 2004 era explícito ção, em qualquer local do país e inde- irá trazer mais benefícios para as crianças
no que diz respeito ao alargamen- pendentemente das disponibilidades do a seu cargo.
to da escolaridade obrigatória. Esta é uma agregado familiar, mas não se pode perder
aposta que o nosso país tem que fazer, no de vista o direito das famílias a assumirem
entanto tem que ser preparada e não pode as suas responsabilidades na educação Sim, propusemos que esta obriga-
ser realizada por uma simples determina- não escolar dos seus filhos, e em particu- toriedade fosse definida para os 4
ção de legislação. Há um trabalho lar nestas idades. anos de idade, sendo que em deter-
preparatório necessário a fazer devendo minados contextos sócio-educativos com
as escolas ser dotadas das condições para maiores dificuldades defendemos a
esse alargamento, nomeadamente a nível No que concerne ao ensino universalização da rede aos 3 anos de
das estruturas de orientação profissional, pré-escolar, o PSD considera idade – de modo a combater os efeitos da
da consolidação do ensino profissional e positiva a universalização da frequência desigualdades sociais em contexto
da reorganização dos diferentes ciclos de para crianças com 5 anos de idade. Para educativo.
escolaridade. atingir tal desiderato, torna-se necessá-
rio um alargamento da rede e da oferta
existente, em determinadas regiões do Sim. “Os Verdes defendem há
Sim, temo-nos aliás batido por este País, num esforço participado entre o muitos anos a normalização da
alargamento desde há vários anos. Estado, as autarquias e instituições de frequência do pré-escolar a
Par tal são necessários três eixos solidariedade social e privadas. Um partir dos 4 anos de idade. Reiteramos
de actuação prévios: 1) um forte investi- importante estudo desenvolvido recente- inclusive que essa frequência, nos casos
mento na promoção de inclusão escolar mente pelo Conselho Nacional de de famílias socialmente disfuncionais,
(equipas de combate ao abandono e Educação sobre “A Educação dos 0 aos poderá ser considerada a partir dos três
insucesso escolar); 2) uma reforma 12 anos” pode, a este respeito, ser uma anos de idade, para que assim as crianças
curricular ao nível do básico e secundário, inspiradora ferramenta para as mudanças façam uma integração social através da
de modo a promover a articulação com o necessárias. interacção com os seus pares.
secundário; 3) a universalização do ensino

30 JORNAL DA FENPROF SETEMBRO 2009


JF especial
ELEIÇÕES
governamentalizada de todo o sistema, 1º - Ruptura com o centralismo e
ÚLTIMA QUESTÃO
com funções de avaliação curricular e defesa da ideia de serviço público
de programas, de avaliação externa de de educação; 2º - Mudança de
Refira seis medidas que considere prio- estudantes e de certificação de escolas e conceitos com o aparecimento da
ritárias para ajudar a Educação a sair da professores; verdadeira autonomia das escolas e
crise em que se encontra. 4. Reforço da exigência e qualidade do liberdade de escolha para as famílias;
ensino, com mecanismos de sinalização 3º- Valorização do papel social dos
precoce e respostas personalizadas a situ- professores, revendo a estrutura da
A primeira, é que todos ações de risco de abandono ou insucesso, carreira docente e reformulando a
considerem a Educação como a grande designadamente, com ofertas educativas avaliação do desempenho docente;
prioridade para o desenvolvimento do diversificadas e de cariz profissionalizante; 4º - Uma segunda geração de contratos
nosso país. Depois, (2) que todos – gover- 5. Aposta em novas respostas, ao nível do de associação; 5º - Promover uma avalia-
nantes, professores e pais e encarregados apoio social, que garantam o cumprimen- ção integrada educativa que contemple a
de educação – coloquem os interesses dos to do princípio da igualdade de oportu- avaliação das escolas, dos docentes, dos
alunos à frente das conveniências políticas nidades e combatam o abandono escolar alunos, dos programas e dos manuais.
e pessoais. Que (3) aos professores sejam precoce; 6º - Rever o Estatuto do Aluno.
disponibilizados a formação e os meios 6. Regulação do sistema de ensino supe-
técnicos necessários para o exercício res- rior, com avaliação consequente e reorga-
ponsável da sua profissão, e às escolas as nização da oferta pública de cursos. 1. Pacificar as escolas, com a
condições para se desenvolverem de um revisão do ECD que acabe com a
modo equilibrado, reflectindo as realida- divisão da carreira e refaça o
des locais no todo nacional. Que (4) se 1) Um novo Estatuto da modelo de avaliação. 2. Criar equipas
proceda, uma vez concluídos os processos Carreira Docente que elimine a clivagem multidisciplinares dedicadas de combate
em curso de requalificação da rede esco- entre professores e dignifique a profis- ao abandono e insucesso escolar – com
lar, de definição do modelo de avaliação são, mas que sirva acima de tudo como novos profissionais que acompanhem
dos professores e das escolas, de gestão um impulso para um cada vez melhor directamente os alunos em risco de
das escolas, e de estabilização dos corpos desempenho profissional que possa abandono e insucesso, em trabalho
docentes, a uma reflexão profunda sobre elevar a qualidade do sistema educativo e articulado com outras instituições da
os currículos escolares, com vista a que se da educação da população. 2) O Alarga- comunidade. 3. Reforma curricular, no
decida, de um modo rigoroso e responsá- mento da Escolaridade obrigatória para o sentido de criar grandes áreas curricula-
vel, aquilo que as nossas crianças e jovens 12º ano, independentemente da idade do res, combater a hiper-disciplinarização e
devem aprender na escola e que seja útil estudante e assegurando a gratuitidade o excesso de carga horária. 4. Retomar
a eles e à sociedade. Que (5) se valorize a total do ensino. 3) A criação de um novo o modelo democrático de gestão e
identidade do ensino secundário, passan- regime de ensino especial que assente a administração escolar ao nível do
do a conferir qualificação e certificação sua vigência no conceito de “necessida- pré-escolar, básico e secundário, bem
próprias, e se alargue a oferta dos cursos des educativas especiais” com base em como ao nível do ensino superior.
tecnológicos, artísticos e profissionais. E, critérios eminentemente pedagógicos. 5. Investimento na diversificação de
finalmente (6), que se volte a alimentar, 4) A revogação da Lei do Financiamento profissionais na escola pública, que per-
nas escolas, um clima de exigência de do Ensino Superior e a criação de uma mitam fazer da escola um centro edu-
qualidade, valorizando e estimulando os nova lei de financiamento que garanta cativo de função social alargada – apoio
bons, e apoiando aqueles que por qualquer a gratuitidade, o fim das propinas, taxas às famílias e à formação da comunidade
razão não conseguem atingir, da melhor e emolumentos, e que simultaneamente em que se inserem as escolas. 6. Uni-
maneira, os seus objectivos pessoais. A assegure às instituições uma fórmula de versalização da rede do pré-escolar, a
Educação não é uma benesse do Estado, financiamento estável, transparente e partir dos 4 anos de idade.
é a base do próprio Estado, o que, não adequada, partindo do conceito de um
sendo novidade – já os Gregos o sabiam orçamento padrão e que considere des-
–, tem sido difícil de entrar nas nossas pesas de funcionamento e investimento 1 - Acabar com o estrangula-
cabecinhas… das instituições. 5) O fim do processo mento financeiro e dotar as
de municipalização e a sua reversão, escolas de meios técnicos e
responsabilizando o Estado e o Governo humanos adequados; 2 - Rever o ECD;
Seis medidas prioritárias: pela gestão de recursos humanos e pela 3 - Rever o regime das NEE’s; 4 - Evoluir
1. Alteração do paradigma coordenação estratégica do sistema edu- no sentido da gratuitidade do direito da
organizacional, com aposta na autonomia cativo. 6) A revogação do actual regime educação; 5 - Devolver a Autonomia e
das escolas, que assegure diversidade de autonomia e gestão dos estabeleci- Democraticidade de gestão às escolas;
e responsabilização das comunidades mentos de ensino e a sua substituição 6 - Garantir uma Acção Social abrangen-
educativas; por uma legislação que estabeleça a par- te numa abordagem multisectorial e de
2. Valorização do papel do professor, com ticipação democrática de todos os corpos proximidade eficaz.
reforço da sua autoridade e com novos e dos diversos agentes comunitários, sem
instrumentos de avaliação/certificação do que a escola possa ser transformada num
desempenho; palco de conflitos políticos ou de disputa
3. Monitorização independente e des- de interesses privados.

SETEMBRO 2009 JORNAL DA FENPROF 31

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