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Luís Lobo
luis.lobo@sprc.pt
e o estilo de governação!
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E
luis.lobo@sprc.pt
6 12
Carta Reivindicativa dos Professores Educação
Defender a Escola Pública Democrática Partidos com representação parlamentar
é uma tarefa central respondem a inquérito da FENPROF
O
Perto do fecho desta Ministério da Educação não tem medidas A concluir, a tomada de posição sindical re-
concretas e positivas para apresentar aos feria: “Sabe-se já, porque tornaram pública essa
edição, em pleno professores em período de campanha elei- posição, que CDS-PP, PSD, PEV, PCP e BE assu-
mês de Agosto, toral. Como tal, procura criar expectativas miram o compromisso de acabar com a fractura
o Secretariado que nunca passarão disso mesmo, para introduzida na carreira docente. Sendo apenas o
Nacional da fazer crer que está a corrigir distorções que impôs PS a defender a existência de categorias hierarqui-
à carreira docente... mas não está! Nesse sentido, zadas na carreira dos professores, tudo indica que,
FENPROF divulgou ordenou aos directores das escolas e agrupamen- brevemente, estas deixarão de existir. Quando tal
tomadas de posição tos que informassem os docentes que se encontra acontecer, estaremos perante uma extraordinária
sobre o “concurso” disponível, no site da direcção geral responsável vitória dos professores que muito têm lutado
pelos aspectos burocráticos, o formulário de can- contra essa injusta e inaceitável divisão”.
a professor-titular didatura e upload do trabalho para apresentação
e a promulgação do da prova de acesso a professor-titular, destacava Promulgação não surpreende...
“Simplex” avaliativo a nota de imprensa divulgada pela FENPROF no
“A promulgação, pelo Presidente da República,
pelo Presidente passado dia 18 de Agosto.
do decreto que prolonga a aplicação do modelo
Referindo “desde logo” que “é uma vergonha
da República. que o ME torne pública esta informação em pleno “simplex” de avaliação não surpreende”, comentava
Aqui deixamos à período de férias dos professores e educadores”, o a Direcção da FENPROF em comunicado divulgado
apreciação dos Secretariado Nacional da FENPROF sublinhava: “É no passado dia 19 de Agosto.
necessário perceber que, ainda que fosse possível “É de recordar que o Presidente da República
nossos leitores as os professores submeterem-se a tal prova, ela de já havia promulgado este mesmo modelo simplifi-
passagens mais nada serviria, pois não abrirá qualquer concurso para cado quando, pela primeira vez, o Governo decidiu
significativas acesso à categoria de professor titular, única forma aplicá-lo; promulgou o próprio regime completo de
avaliação que, como se sabe, nunca conseguiu ser
desses recentes de aceder à mesma. Recorda-se que responsáveis do
aplicado; mas, mais grave do que tudo isso, o Presi-
ME tinham anunciado a realização de um concurso
comunicados da extraordinário, ainda durante a actual Legislatura, dente da República promulgou o execrável estatuto
FENPROF. mas, confirma-se agora, não falavam verdade”. da carreira docente que dividiu os professores em
“Para os professores será completamente indi- profissionais de primeira e de segunda, entre outros
ferente que se realizem, ou não, provas de acesso atentados à sua dignidade profissional”, esclarece
a professor titular, pois sabem que, independen- a nota da FENPROF, que acrescenta:
temente do resultado que nelas obtiverem, o que “Não é esta promulgação que confere quali-
contará será a existência de concurso, sabendo-se, dade ao “simplex” avaliativo ou o coloca acima
à partida, que o mesmo deixará de fora a esmaga- de qualquer suspeita no que concerne a eventuais
dora maioria dos docentes, pois será o Ministério ilegalidades ou mesmo inconstitucionalidades que
das Finanças a autorizar a abertura desse concurso poderá conter. Recorda-se que o próprio Gabi-
que, no mínimo, impedirá 2/3 dos professores de nete do Primeiro-Ministro admitiu a existência
chegarem ao topo da carreira”, menciona a nota de “diferenças” ou “discrepâncias” entre este
que a FENPROF divulgou à comuni- regime simplificado, argumentando, contudo,
cação social, e na qual se pode que se tratava de um regime transitório que se
ler ainda: aplicaria apenas uma vez, o que, com esta pror-
“Perante este quadro, bem rogação, deixou de ser verdade. No que respeita
pode o ME desdobrar-se em à constitucionalidade o Tribunal Constitucional,
iniciativas e informações que, simplesmente, decidiu não se pronunciar”.
pensará, irão enganar os pro- “Não é esta promulgação que fará com que
fessores em vésperas de elei- os professores, com a FENPROF, deixem de lutar
ções. Não o conseguirá, pois os contra este regime de avaliação e retomem a luta
professores reservarão as suas já a partir de Setembro, independentemente de
forças para o que é mais se aplicar na totalidade ou apenas parcialmente.
importante: eliminar esta Isto independentemente da opinião do Senhor
inaceitável divisão Presidente da República e da sua identificação
dos docentes em com as políticas educativas de um Governo que
professores de colocou, sempre, os professores e educadores no
primeira e de centro dos seus ataques mais violentos”, conclui
segunda!” o comunicado.
SETEMBRO 2009
EDITORIAL
Mário Nogueira (Secretário-Geral da FENPROF)
A
proxima-se uma nova Legislatura, pelo que o legitimamente, representa as condições para reflectir e
tempo futuro não pode deixar de ser de espe- decidir conscientemente o sentido do seu voto.
rança… Um futuro, contudo, que, por termos os Com esse objectivo, elaborou este número do Jornal
pés assentes na terra, sabemos que não cairá do da FENPROF que será profusamente divulgado e se esgota
céu… será necessário que façamos por ele. em apenas dois assuntos:
De facto, e isso já todos aprendemos, ficar sentado à • Divulgação da Carta Reivindicativa dos Professores
espera que as coisas se resolvam ou sejam determinadas e Educadores Portugueses, que contém as propostas
pela vontade dos outros não é solução. Teremos de intervir que a FENPROF apresentou a todos os partidos, como
e de, com o nosso contributo, ajudar a decidir, não nos prioritárias, para a próxima Legislatura, surgindo, à
abstendo de participar num momento tão importante cabeça, a substituição do “ECD do ME”. Será, também,
como aquele que determinará quem serão os políticos este o primeiro documento a colocar em cima da mesa
que nos governarão e quais as suas políticas para os das negociações logo que tome posse a próxima equipa
próximos quatro anos. governativa para a Educação;
Da Legislatura que agora termina, ficamos com uma • Respostas dos partidos políticos com representa-
pesada e má herança de que teremos de nos desfazer: o ção parlamentar a um conjunto de perguntas que lhes
código de trabalho que tornou o emprego mais precário; foi colocado. Perguntas que pretendemos que fossem
o desemprego que já atinge mais de meio milhão de directas para merecerem respostas objectivas e, assim,
pessoas; no âmbito da Administração Pública, o SIA- permitissem compreender as suas posições e compromis-
DAP, o PRACE, a aplicação da mobilidade especial e a sos em relação a aspectos concretos que correspondem
aposentação aos 65 anos; o salário que, realmente, se a problemas que se pretendem ver resolvidos.
desvalorizou; o estatuto da carreira docente imposto Todos os partidos políticos responderam, o que per-
pelo ME e ratificado pela maioria absoluta, que veio di- mite que conheçamos as medidas que se propõem tomar
vidir os professores e dificultar ou impedir a progressão para que a Educação possa, finalmente, sair da crise em
na carreira; o desqualificado modelo de avaliação que que mergulhou, por acção de sucessivos governos e em
foi, entretanto, mantido em vigor; as regras de concurso consequência das suas políticas, e para que a Profissão
que resvalam cada vez mais para a discricionariedade; a de Professor seja, como merece, devidamente dignificada
gestão das escolas hoje submetida a interesses quantas e valorizada.
vezes alheios aos da Educação; o enxovalho e apouca- Aos professores e educadores é, assim, dada a possi-
mento dos docentes, assumidos por governantes que, em bilidade de conhecerem o que pensam e querem diversas
muitos momentos, mentiram, para além de ameaçarem, e diferentes forças partidárias, para a Educação, antes de
insultarem, denegrirem e injuriarem os professores e edu- decidirem a qual delas irão confiar o seu voto. Um voto
cadores, sempre na tentativa – felizmente frustrada – de que, num quadro que se antevê de maioria relativa, ganha
os desvalorizarem aos olhos da sociedade… maior importância, pois as coisas deixarão de ser deci-
Quatro duríssimos anos passados, será tempo de os didas apenas por quem governa, ganhando importância
professores e educadores avaliarem, com o seu voto, as e tendo consequência as iniciativas parlamentares que,
políticas desenvolvidas e aquelas que são propostas, o que nestes quatro anos, foram simplesmente esmagadas.
obriga, em relação ao futuro, a conhecer os compromissos A FENPROF assumiu as suas responsabilidades neste
que assumem os que se apresentam às eleições legislati- momento que é importante para a vida nacional pela
vas. A FENPROF, assumindo as responsabilidades próprias forma como irá influenciar o futuro. Cabe agora, a cada
da maior e mais representativa organização sindical de um de nós, assumir a sua responsabilidade individual e
docentes, tomou a iniciativa de proporcionar a quem, dar o seu indispensável contributo.
P
ara a FENPROF, uma inversão do 9.º Congresso Nacional dos Professores, Da mesma forma, a garantia de respeito
rumo da actual política educativa Lisboa, 2007). pelos direitos sindicais, importante conquis-
passa por uma profunda alteração Em ano eleitoral, em que os partidos ta democrática de todos os trabalhadores,
das opções que este governo fez em políticos assumem compromissos de gover- deverá ser garantido desde logo. Desta
relação ao estatuto sócio-profissio- nação ou que se destinam a influenciá-la, é forma, estará dado o sinal para um rela-
nal dos/as docentes, designadamente em com acrescida expectativa que os profes- cionamento diferente com os professores,
matérias fundamentais como a estabilidade sores aguardam conhecer as propostas que capaz de os ganhar, com vista a uma maior
profissional e direito ao emprego, con- estes têm para apresentar, sendo que, como e melhor envolvimento na construção das
cursos e colocações, horários de trabalho é natural, não podem deixar de apresentar mudanças que se impõem e urgem.
e regime de faltas e licenças, formação o seu “caderno reivindicativo” que a seguir Será impossível pensar o futuro educati-
inicial, contínua e especializada, conteúdo se apresenta. vo do país se não se concretizar uma mudan-
funcional da profissão e a própria carreira, Sendo necessário voltar a ganhar os ça política significativa que estabeleça uma
incluindo a sua estruturação. Assume uma professores e educadores, depois de 4 anos ruptura com o passado recente, que avalie
particular relevância neste contexto a terríveis em que estes foram, como nunca, as insuficiências que permanecem, fruto de
distorção introduzida através de um caó- injustiçados, desvalorizados e, mesmo, políticas antigas e de erros de carácter es-
tico e burocrático modelo de avaliação do injuriados, o sinal será dado se, logo de trutural, ou que, entretanto, surgiram, fruto
desempenho que visa exercer um controlo início, o futuro governo se comprometer a da política desenvolvida na actual legislatura
externo e funcionarizador sobre a profis- rever os Estatutos de Carreira, sendo que e que a FENPROF denuncia no Livro Negro
são docente, limitando a sua autonomia no caso do ensino superior tal implicará das Políticas Educativas do XVII Governo
e ferindo o seu exercício livre e criativo. a revisão do processo transitório imposto Constitucional (2005 – 2009).
É neste quadro que a Carta Reivindicativa pelo MCTES. É necessário que se inicie o indispen-
dos Professores e Educadores Portugueses sável percurso de correcção e alteração de
assume um papel fundamental, porque situações negativas, através da promoção
clarifica e coloca no plano do conhecimento dos indispensáveis processos negociais, per-
público as suas exigências e constitui um mitindo que se encontrem soluções justas,
documento orientador da sua intervenção adequadas e exequíveis para o sistema edu-
político-sindical. cativo português e que resolvam, também,
Será impossível pensar o
No plano global e de defesa dos direi- problemas que foram criados ao longo da
futuro educativo do país
tos dos cidadãos residentes em Portugal, se não se concretizar uma Legislatura e que, em muitos casos, levaram
no âmbito da Educação e do Ensino, “A mudança política significativa a que os docentes tivessem sido obrigados
FENPROF empenhar-se-á no combate ao que estabeleça uma ruptura a recorrer aos tribunais.
insucesso e abandono escolar e de uma com o passado recente, que Assim, a FENPROF, interpretando o pen-
forma geral lutará pela democratização avalie as insuficiências que samento e a vontade dos/as educadores/as e
da Escola Pública. Defenderá o incremento permanecem, fruto de políticas professores/as portugueses/as, reivindica:
de medidas que promovam a real inclusão antigas e de erros de carácter
e o acesso de todos à sociedade do co- estrutural No campo dos recursos humanos
nhecimento, independentemente da sua
proveniência social ou das necessidades • A revisão profunda do Decreto-Lei
especiais que apresentem. Lutará por uma n.º 15/2007, Estatuto da Carreira Docente,
escola em que se respeite a diferença e o que passa pela supressão da fractura da
em que todos possam ser considerados em carreira em duas categorias, pela substitui-
função das suas necessidades específicas.” ção do modelo de avaliação do desempenho
Lutará para que “a Escola contribua para dos docentes, pela extinção da prova de
eliminar a exclusão, focos de delinquência, ingresso na profissão e pela contagem in-
o racismo e a xenofobia, garantindo uma tegral do tempo de serviço, bem como por
verdadeira democratização do ensino” uma regulamentação do horário de trabalho
(Resolução sobre Acção Reivindicativa do pedagógica e cientificamente correcta e
Considera a CIF (Classificação Indivi- educativo. Por outro lado sabe-se que
dual de Funcionalidade, Incapacidade e quem tem uma Deficiência pode não ter
Saúde) como o instrumento adequado NEE, e o contrário também é verdadeiro. Bem, esta pergunta faz-me
para identificação de alunos abrangi- Usar um classificador de Funcionalidade lembrar aqueles burocratas jurídicos que
dos pela Educação Especial? Em caso da Saúde para efeitos educacionais falam emocionadamente de decretos e
de discordância com a CIF, quais as
afigura-se-nos ser um erro. É necessário leis como se fossem pessoas, referindo-
alternativas? -os pelos respectivos números como se
que este instrumento seja objecto de
uma análise especializada, por peritos na fossem nomes próprios: o “Sessenta e
área, que deverão obrigatoriamente ouvir Quatro”, o “Trezentos e Vinte”… Enfim:
Opiniões de técnicos não defendo tal revogação, porque o
avalizados dizem-me que sim. Desde que os que diariamente se confrontam nas
escolas com esta área e assim, de forma “Três” constitui um bom avanço relativa-
aplicada por profissionais com forma- mente ao “Trezentos e Dezanove”. Estou
ção adequada, e não pelos professores sustentada possam ser introduzidas as
alterações às categorias que a CIF propõe agora a lembrar-me, de memória, de que
enquanto tais. E deve considerar todos os se acabou, por exemplo, com um vício
tipos de incapacidade, inata ou adquirida. e assim esta possa ser aplicada à
educação. corporativo que era o monopólio que
antes pertencia aos professores surdos no
exercício da actividade de professor de
A aplicação da CIF (Classifica- língua gestual portuguesa, que no novo
ção Internacional de Funcio- Não, a CIF é um instrumento de
aferição médica – como tantos diploma passa a poder ser exercida por
nalidade, Incapacidade e Saúde), da qualquer profissional com a formação e as
Organização Mundial de Saúde, na especialistas apontaram – e não
é portanto adequado ao contexto competências adequadas, e devidamente
educação especial levanta as maiores reconhecidas, independentemente de ser
reservas ao PSD, pelo que se impõe – tal educativo. Por isso mesmo, este novo
instrumento deixa de fora e sem apoio surdo ou ouvinte… Será uma minudência,
como foi proposto no Parlamento – uma é certo, mas contendo um grave atropelo
avaliação global, com base em relatórios todos os alunos que têm dificuldades
especificamente educativas. Nesse aos direitos, liberdades e garantias dos
personalizados junto dos alunos abrangi- cidadãos. O “Três” pode ainda não ser o
dos e excluídos com esta metodologia. sentido, defendemos a estruturação de
um modelo de avaliação adequado ao melhor que se deveria fazer, mas é o que
contexto escolar, que permita dar foi possível. E funciona.