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PROTOCOLO TÉCNICO-OPERACIONAL PARA REALIZAÇÃO DE

CURATIVOS EM FERIDAS

A pele é a principal barreira de proteção do organismo e tem como


funções básicas impedir a perda excessiva de líquidos, proteger da ação de agentes
externos (inclusive microbianos), manter a temperatura corpórea, sintetizar vitamina
D com a exposição aos raios solares, agir como órgão do sentido e participar da
termoregulação.

Ferida é definida como qualquer lesão no tecido epitelial, mucosas ou


órgãos com prejuízo de suas funções básicas. As feridas podem ser causadas por
fatores extrínsecos como a incisão cirúrgica e as lesões acidentais por corte ou
trauma, ou por fatores intrínsecos, como as feridas produzidas por infecção, as
úlceras crônicas, as causadas por alterações vasculares, defeitos metabólicos ou
neoplasias.

Historicamente o tratamento de feridas tem como filosofia, a proteção


das lesões contra a ação de agentes externos físicos, mecânicos ou biológicos. A
preocupação com a contaminação exógena por microrganismos fez com que fossem
instituídas técnicas de curativo, onde o princípio básico era a manutenção do
curativo limpo e seco.

Nos últimos anos, diversos estudos têm contestado o princípio de


manutenção do curativo seco, demonstrando que a manutenção do meio úmido
entre o leito da ferida aberta e a cobertura da mesma, favorece e aumenta a
velocidade de cicatrização. Para incisões cirúrgicas, a oclusão deverá ser por 24 a
48 horas, mantendo o curativo seco e realizando a troca quando necessário.

A cicatrização do meio úmido tem as seguintes vantagens quando


comparadas ao meio seco:

• estimula a epitelização, a formação do tecido de granulação e maior


vascularização na área da ferida;
• facilita a remoção de tecido necrótico e impede a formação de
espessamentos de fibrina;
• serve como barreira protetora contra microrganismos;
• promove a diminuição da dor;
• mantém a temperatura corpórea;
• evita a perda excessiva de líquidos;
• evita traumas na troca do curativo.
NORMAS BÁSICAS DE ASSEPSIA PARA CURATIVOS

A realização de um curativo deve obedecer aos princípios básicos de


assepsia onde preconiza-se:
• Lavar as mãos antes e após a realização do curativo.
• Obedecer aos princípios de assepsia.
• Remover assepticamente tecidos desvitalizados ou necrosados.
• Obedecer ao princípio de realização do procedimento do local menos para o
mais contaminado.
• Utilizar luvas não estéreis na possibilidade do contato com sangue ou demais
fluidos corporais.
• Utilizar luvas estéreis em substituição ao material de curativo estéril ou em
procedimentos cirúrgicos (por exemplo: debridamento).
• Curativos removidos para inspeção da lesão devem ser trocados imediatamente.

IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE ETIOLÓGICO DE UMA INFECÇÃO DE FERIDA

Para a identificação do agente etiológico de uma infecção de ferida, deve-se,


preferencialmente, coletar cultura de material através de biópsia ou punção e,
eventualmente, através de swabb da lesão, pois, o swabb é de baixa especificidade
para o diagnóstico etiológico e os microrganismos que crescem neste tipo de cultura,
podem ser apenas contaminantes e não os agentes causadores do processo
infeccioso.

Em feridas abertas de qualquer etiologia ou suturas com exsudação


purulenta, o material deve ser coletado por biópsia ou aspiração, mas, na
impossibilidade, a lesão deverá ser abundantemente lavada com SF 0,9% para
remoção do exsudato superficial e ser coletado swabb estéril do plano mais
profundo.

Lesões bolhosas e abcessos fechados devem ser puncionados com técnica


asséptica.

Para coleta de material em casos de suspeita de infecção por anaeróbios, é


recomendado a punção asséptica do local e o envio do material ao laboratório em
condições de anaerobiose (seringa com agulha protegida ou frasco coletor
específico para este material).

TÉNICAS DE CURATIVO

A técnica e os materiais para execução dos curativos são fatores que devem
ser observados tanto quanto a escolha adequada do produto de tratamento. As
orientações a seguir propõem materiais e procedimentos técnicos para curativos em
feridas abertas que podem ser:

• Traumáticas
• Ulcerativas
• Inflamatórias
CURATIVOS EM FERIDAS
MATERIAIS

Bandeja contendo
- 1 pacote de curativo estéril
- gazes estéreis
- esparadrapo ou micropore
- soro fisiológico 0,9%
- 1 seringa 20 ml
- 1 agulha 40x12
- luvas de procedimento
- cuba-rim estéril
- 1 saco plástico
Acrescentar, se necessário:
- 1 lâmina de bisturi nº 23 com cabo, estéril
- 1 bacia estéril
- atadura de crepe estéril
- chumaço de algodão ou compressa estéril
- luvas estéreis
PROCEDIMENTOS
1 – Lavar as mãos com solução anti-séptica.
2 – Reunir o material e levá-lo próximo ao leito do paciente.
3 – Explicar ao paciente o que será feito.
4 – Fechar a porta para privacidade do paciente.
5 – Proteger o paciente com biombos, se necessário.
6 – Colocar o paciente em posição adequada, expondo apenas a área a ser tratada.
7 – Proteger a roupa de cama com impermeável ou forro sob o local do curativo.
8 – Colocar a cuba-rim próxima ao local do curativo, com saco plástico aberto.
9 – Abrir o pacote de curativo com técnica asséptica.
10 – Colocar as pinças com os cabos voltados para a borda do campo.
11 – Colocar gazes em quantidade suficiente sobre o campo estéril.
12 – Abrir a embalagem do SF 0,9%.
13 – Abrir a embalagem da seringa e da agulha e colocá-las sobre o campo estéril.
14 – Calçar a luvas de procedimento.
15 – Umedecer o micropore ou esparadrapo com SF 0,9% para falicitar a retirada.
16 – Remover o curativo sujo com as mãos enluvadas.
17 – Desprezar o curativo sujo juntamente com as luvas no saquinho de lixo.
18 – Calçar luvas.
19 – Colher amostra de secreção presente em qualquer ferida em que haja suspeita
de infecção, enviando ao laboratório de bacteriologia para cultura e antibiogra-
ma. (Anotar no prontuário que foi colhido o material para cultura).
20 – Montar a pinça “Kelly” com gaze, auxiliada pela pinça anatômica ou dente de
rato e umedecê-la com soro fisiológico.
21 – Limpar ao redor da ferida.
22 – Colocar lençol, compressas ou gazes próximos à ferida para reter solução
drenada.
23 – Lavar o leito da ferida com grande quantidade de SF 0,9%, através de
pequenos jatos com seringa de 20ml e agulha 40x12.
24 – Se necessário, remover os resíduos de fibrina ou tecido desvitalizado utilizando
remoção mecânica com gaze embebida em SF 0,9%, com o cuidado de
executar o procedimento com movimentos leves e lentos para não prejudicar
o processo cicatricial. (Em caso de necessidade de debridamento cirúrgico,
comunicar ao médico assistente).
25 – Aplicar no local a solução prescrita.
26 – Embeber a gaze com SF 0,9% e cobrir todo o leito da ferida (cobertura prima-
ria), em quantidade suficiente para manter o leito da ferida úmida ou utilizar
um curativo apropriado para o tipo da ferida.
27 – Ocluir a ferida com gaze estéril, chumaço ou compressa (cobertura secundária)
e fixar com esparadrapo, micropore ou atadura de crepe, quando necessário.
28 – Colocar o nome, data e horário sobre o curativo.
29 – Deixar o paciente confortável e a unidade em ordem.
30 – Devolver o material do pacote de curativo ao Setor de Esterilização.
31 – Desprezar o saquinho no lixo hospitalar.
32 – Lavar as mãos.
33 – Anotar na ficha de enfermagem, as características da ferida.

OBSERVAÇÕES
1 – Lavagem e anti-sepsia das mãos antes e após a realização de cada curativo,
mesmo que seja num mesmo paciente.
2 – Não falar e orientar o paciente que faça o mesmo, próximo à ferida e ao material
estelirizado.
3 – As trocas de curativo na unidade ou num mesmo paciente devem ser feitas de
acordo com o potencial de contaminação da ferida, independentemente de ser em
vários pacientes ou num mesmo paciente. O princípio básico é a seqüência do local
menos contaminado para o mais contaminado.
4 – Nunca colocar material contaminado na cama, mesa de cabeceira ou no
recipiente de lixo da enfermaria.
5 – Ao remover o curativo, deve-se inspecionar a ferida quanto a sinais de infecção
(hiperemia, edema, secreção purulenta, calor local, dor).
6 – Gorro e máscara devem ser utilizados para confecção de curativos de grandes
lesões como eviscerações e grandes queimados, com objetivo de proteger a área
lesada da contaminação por gotículas de saliva e/ou possível queda de cabelos na
ferida.
7 – Para curativos contaminados com muita secreção, especialmente tratando-se de
membros inferiores ou superiores, colocar uma bacia sob a área a ser tratada,
lavando-a com SF 0,9%.
8 – Fazer a limpeza com jatos de SF 0,9% sempre que a lesão estiver com tecido de
granulação vermelho vivo (para evitar o atrito da gaze).
9 – Cobertura primária é a que permanece em contato direto com a ferida.
10 – Cobertura secundária é a cobertura seca colocada sobre a cobertura primária.
11 – Proceder a desinfecção da bandeja ou da mesa auxiliar após a execução de
cada curativo, com solução de álcool a 70%.

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